Capitulo 12



No caminho para casa, Gina foi pensando na ironia das palavras da amiga. Se Hermione soubesse como estava o clima entre a mãe e ela depois da cena no vestíbulo! Claro que a sra. Weasley não sabia nada sobre o incidente, e por isso acusava a filha de grosseira, egoísta, sem consideração para com os sentimentos das outras pessoas...


 


A segunda visita de Harry tinha sido mais curta, mas nem por isso menos memorável. Em vez de chegar de manhã, como tinha prometido, apareceu só a noitinha, depois que Gina e a mãe já estavam convencidas de que não viria mais. E Vivien Sinclair estava com ele. Pelas explicações, o atraso se devia a alguns compromissos de Vivien. A americana mostrou ser uma pessoa amigável, mas Gina fez o possível para evitá-la.


 


Durante a visita, quem falou mais foi a modelo, que só se dirigia quase sempre a sra. Weasley. Gina só abriu a boca quando falavam com ela, o que aconteceu pouquíssimas vezes. Harry quase não conversou. Sentado muito à vontade no sofá, com as pernas estendidas, revelava pelo olhar irônico seu domínio da situação.


 


Ao se aproximar de casa, Gina percebeu aliviada que a Ferrari verde não estava no lugar habitual, mas sua alegria terminou ao avistar o carro esporte estacionado ao lado da casa.


 


Entrando em casa, achou que até a atmosfera estava diferente, e vê-lo falando ao telefone foi a gota d’água. Lembrando que a melhor defesa é sempre o ataque, tomou a iniciativa.


 


— Seu carro está bloqueando a passagem – anunciou, ríspida, sem cumprimentá-lo.


 


— Então tire-o de lá – aconselhou Harry, jogando a chave para ela. — Faça alguma coisa útil.


 


— Não sei dirigir seu carro – respondeu Gina, atrapalhada.


 


— Por que não? Você passou no exame de motorista, não passou?


 


— Passei, mas... – suspirou, impotente. — Você sabe que eu não posso fazer isso.


 


— Assustada?


 


— Com medo de estragar seu carro, só isso.


 


— Eu assumo a responsabilidade. Vá em frente. Vai vê como é fácil.


 


Gina ficou parada, indecisa, outra vez nas mãos dele. Depois, percebendo que uma recusa podia parecer infantilidade ou ignorância, saiu.


 


A Ferrari não estava trancada. Apesar de Gina ser alta, não conseguiu alcançar os pedais, e levou vários minutos para ajustar o banco. Deu a partida com certo receio, mas descobriu maravilhada que o carro era tão suave quanto potente. Um pouco mais a vontade, acelerou. Foi um erro. Sua confiança quase terminou em desastre, mas felizmente conseguiu encontrar o breque antes que a Ferrari batesse no portão da garagem.


 


Ainda tremendo, olhou pelo espelho retrovisor e quase morreu de raiva e vergonha ao ver Harry parado na porta, se contorcendo de tanto rir.


 


Abriu a porta com um empurrão e avançou na direção dele.


 


— Acho que você não ficaria tão histérico se eu me matasse dentro desse carro – explodiu, furiosa.


 


A reação dele foi sacudir a cabeça, reprimindo o riso.


 


—  Admito que passei maus bocados vendo você treinar sua parada de emergência. Mas felizmente estava tudo sobre controle.


 


Gina levantou a cabeça, indignada, quase chorando de raiva. Será que ele estava falando sério? Não, claro que não estava. Queria ele provocá-la outra vez? Mas, de repente, o ridículo da situação foi demais para ela. Quis ficar séria, quis responder à altura, mas a imagem da Ferrari em desabalada carreira, e ela dentro, tentando desesperadamente achar o breque, foi demais. Como no outro dia, explodiu numa gargalhada nervosa.


 


— Está se sentindo bem? – perguntou Harry, enquanto ele lutava para recuperar um mínimo de dignidade.


 


— Desculpe – murmurou Gina, enxugando os olhos. — Não tem mesmo a menor graça.


 


— Não? Pois eu juraria que você achou hilariante.


 


— Bom,  eu achei... isto é, você me fez rir! – acusou, fazendo uma careta. — O carro está intacto? Não provoquei nenhum dano, provoquei?


 


Harry foi até o carro, retirou as chaves e fechou a porta que ela tinha deixado aberta. Depois voltou para perto dela, sacudindo a cabeça ao notar sua expressão preocupada.


 


— Já basta por uma noite. Não está mais impedindo a entrada de ninguém, está?


 


Voltaram para dentro em silêncio. Gina ficava perturbada pela poderosa presença física de Harry. No vestíbulo, ele parou outra vez para telefonar e ela hesitou um pouco, sem saber o que fazer. Decidiu subir para seu quarto, vendo que ia ser muito difícil ficar indiferente à presença daquele homem em sua casa.


 


Felizmente, ia sair para jantar; e um bom banho fez voltar seu equilíbrio. Draco viria buscá-la às sete. Teve tempo de se vestir e se maquiar com um capricho todo especial, terminando no momento exato em que ouviu o ruído do carro do noivo. Uma profunda ansiedade obrigou-a a se sentar na cama. Draco queria conhecer Harry Potter, e a perspectiva daquele encontro a perturbava. Ficou ali sentada mais um pouco e depois decidiu descer. Encontrou a mãe no vestíbulo.


 


— Ah, aí está você! – o tom da sra. Weasley ainda era o mesmo tom frio dos últimos dias. — Draco está aí. Eu já ia subir para chamar você.


 


— Desculpe – murmurou Gina, e a mãe suspirou.


 


— Devia ter me dito que já estava em casa. Chegou tarde hoje, não?


 


— Tive que fazer uma verificação nos livros depois de fechar a loja. Eu... ah... eu pensei que o sr. Potter tivesse dito que eu já estava em casa.


 


— É, ele disse... quando eu perguntei. Mas prefiro não ter que fazer perguntas sobre o seu paradeiro, no futuro.


 


— Desculpe – repetiu Gina.


 


A mãe deu outro suspiro impaciente e desapareceu na direção da cozinha.


 


Draco estava sozinho na sala, andando de um lado para o outro na frente da lareira, aborrecido por não ter encontrado Gina à sua espera.


 


— Pensei que tivéssemos combinado que você estaria pronta às sete – disse, irritado, sem retribuir o beijo de Gina. — Já passaram nove minutos das sete, e temos apenas vinte e um minutos para chegar a casa dos Arrowsmiths.


 


Gina reprimiu um protesto, sem querer discutir com ele, e tentou parecer alegre.


 


— Os Arrowsmiths não vão se preocupar com isso, Draco.


 


— Mesmo assim – continuou Draco, ajeitando a gravata-borboleta — espero pontualidade das outras pessoas. O mínimo que posso fazer é retribuir na mesma moeda.


 


— Não seja tão meticuloso – Gina o criticou, arrependendo-se logo em seguida. — Desculpe, querido! Mas isso não é assim tão importante! E depois... – olhou para trás, apreensiva – pensei que quisesse conhecer Harry Potter.


 


— Queria e quero. Só que o sujeito parece não estar por aqui.


 


— Ele deve estar na biblioteca – disse Gina, em dúvida, esperando que Harry aparecesse, o que não aconteceu.


 


Draco achou melhor irem embora.


 


No vestíbulo, quando Draco ajudava Gina com a estola, a porta da biblioteca se abriu e Harry apareceu. Ainda estava com a mesma roupa da tarde.


 


— Desculpe – disse num tom gentil, dirigindo um olhar geral a todos. — Vão sair?


 


Gina fez as apresentações, atenta às reações dos dois homens. Apesar de estar vestido com mais elegância, o noivo parecia o mais inseguro.


 


— Potter! – Draco usou na saudação o tom que costuma reservar aos inferiores. — Já instalado? Tenho certeza de que vai achar a casa um excelente lugar de trabalho.


 


— Também acho, Malfoy – respondeu Harry, amigável. — Principalmente porque todo mundo aqui é muito gentil. A impressão que tenho é de ser realmente bem-vindo.


 


— Claro... bem... – Draco ficou sem saber o que dizer — Excelente lugar para se viver. Já viajei muito, mas você sabe, é sempre bom estar em casa de novo.


 


— Sem dúvida.


 


Harry tinha conseguindo colocar Draco na defensiva, o que deixou Gina admirada.


 


— Bom, precisamos ir – disse Draco, empurrando Gina para a porta. — Prazer em conhecê-lo, Potter. Precisa ir tomar um drinque lá em casa qualquer dia. Gina lhe mostra o caminho. Tenho certeza de que meu irmão vai gostar de ver você outra vez. Gina já contou que ele está de volta?


 


Gina ficou atrapalhada e Harry olhou para ela sem entender.


 


— Seu irmão?


 


— Vincent. Vincent Malfoy – explicou Draco.


 


— Vince Malfoy é seu irmão? – Harry exclamou, surpreso. — Não me diga!


 


— Gina! – a omissão de Gina pareceu aborrecer Draco. — Gina, você não transmitiu o recado de Vincent ao sr. Potter?


 


— Esqueci – ela respondeu, perturbada pelo olhar irônico de Harry. — Eu... o sr Potter chegou hoje, Draco. Eu... eu... ainda não tive tempo.


 


— Você também não me disse que Vincent tinha voltado – comentou a sra. Weasley, que tinha se juntado ao grupo. — Como vai ele, Draco? Ele não estava  fora na ultima vez que conversei com sua mãe?


 


— Estava – Draco começou a explicar a situação, e Gina desviou os olhos para não ver a acusação no olhar de Harry.


 


Para alívio de Gina, a explicação do noivo foi curta, e daí a pouco estavam a caminho da casa dos amigos de Draco.


 


— Que distração, não? – a acusação veio depois de vários minutos de silêncio pesado.


 


Gina não estava com disposição para ser repreendida sem reagir.


 


— Distração por que, Draco? – perguntou, fingindo não entender.


 


— Por não dizer ao sr. Potter que Vincent gostaria de entrar em contato com ele.


 


— Não pensei que você se preocupasse tanto com Vincent ou com os amigos dele – retrucou Gina, tensa. — E depois, como eu já disse lá dentro, o homem chegou hoje.


 


— Mas você não disse que ele já tinha vindo duas vezes antes, para trazer livros e objetos pessoais? Não podia ter dado o recado?


 


— Que importância tem isso? – Gina estava começando a perder a paciência. — Sinceramente, se soubesse que era tão importante para você, teria feito questão de informá-lo.


 


— Claro! – Draco suspirou e tentou se desculpar. — E talvez tenha sido melhor assim. Não gostaria que o sujeito começasse a aparecer em Ketchley dia e noite.


 


— Duvido que isso vá acontecer – observou Gina. — Mas o convite agora partiu de você.


 


— Para um drinque – protestou o noivo. — Um convite que qualquer pessoa com um mínimo de educação teria de fazer.


 


— Está bem. Vamos mudar de assunto, Draco.


 


— Não entendo sua atitude, Gina. Ele me pareceu muito educado.


 


— Educado! – exclamou Gina com desprezo. — Não achou que ele foi insolente?


 


— Insolente? – Draco pensou um pouco. — Não. Não, não se pode dizer que ele tenha sido insolente. Talvez um pouco convencido, mas acho que isso é natural.


 


Gina se virou e olhou pela janela. Harry podia ser tudo, menos convencido. Até pelo contrário. Para um homem de cultura literária tão vasta, era modesto até demais. Mas dizer isso a Draco seria procurar problema, por isso ela fez uma pergunta sobre cavalos e a  conversa voltou a fluir entre eles.


 


 


 


 


Continua...


 


 


 


 


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