Entre pratos e panelas



Capítulo 4 – Entre pratos e panelas

Hermione olhou para ele e viu uma criança assustada e cheia de medo. Um sentimento de pena invadiu-lhe o peito, mesmo contra a sua vontade.

- Por favor! – pediu ele novamente.

Depois de ponderar durante mais alguns segundos, disse:

- Está bem! Eu durmo aqui contigo! Melhor ainda! Eu ficocontigo até adormeceres. – corrigiu ela. Malfoy afastou os lençóis de novo e colocou-se mais à ponta da cama, para dar espaço para a morena se deitar. – O que pensas que estás a fazer? Eu não vou ficar contigo!

- Não? – indagou o loiro levantando o sobrolho. “Que pena! Eu já estava a imaginá-la aqui deitada, nos meus braços, com a cabeça encostada ao meu ombro, a minha mão entrelaçada na dela e a outra repousada na sua anca...”, pensou ele desanimado.

- Vou conjurar um cadeirão para ficar ao pé de ti. – e com um aceno da sua varinha, fez aparecer um sofá de um lugar e uma pequena manta polar verde-água. Ela deitou-se com as pernas apoiadas num dos ombros do sofá e as costas no outro, encostado a cabeça às costas do sofá. Esperou que Draco se ajeita-se entre os lençóis. - Nox! Boa noite!

- Boa noite, Hermione!

* * *


05h23. Hermione despertou, pois tinha sido levada pelo sono e verificou que Draco dormia profundamente. Um leve ressonar confirmou isso mesmo. Sem fazer barulho, Hermione levantou-se e fez desaparecer o sofá e a manta, para depois se dirigir ao seu novo quarto. Assim que se deitou na cama de Harry, o João Pestana não demorou muito a fazer das suas e os seus olhos fecharam-se rapidamente, mergulhando num sono sem sonhos. O mesmo não podia dizer Draco Malfoy do quarto ao lado.

No seu dormitório, Draco andava de um lado para o outro, nervoso, zangado, irritado. Já tinha partido, rasgado, destruído, estragado tudo o que estava ao seu alcance: livros, lençóis, perfumes, até o próprio smoking. Ia ter muito trabalho a reconstruir o mar de destruição que o furacão Malfoy provocou.

Estava tão irritado consigo mesmo que as suas mãos tremiam involuntariamente e e a sua voz gaguejava enquanto ele ralhava consigo mesmo.

- Porquê com a Sang… a Grang... a Hermione? – ele nem conseguia insultá-la. Aliás, nem chamá-la pelo apelido. – Eu devo ter feito mal a Merlin noutra vida. Isto só pode ser karma! – E continuava a destruir tudo aquilo por onde as suas mãos passavam. Foi até ao quarto de banho, olhou-se no espelho e teve nojo de si mesmo, não só por se ter envolvido com a Hermione-sabe-tudo-Granger, como também por ter gostado. E como gostou… A sua visão ficou nublada ao lembrar-se da visão da morena a passar o véu com a Weasley e a Di-Lua. Assim que a viu, tudo o resto deixou de existir, tudo o resto desapareceu… Ele apenas prestava atenção a uma pessoa: à bela morena de vestido turquesa que tinha entrado no salão. Os seus gestos eram suaves e inconscientes: o andar gracioso, o puxar meia dúzias de fios de cabelo para trás da orelha, o sorrir para… para… Um novo ataque de fúria apoderou-se dele e, instintivamente, cerrou o puno e esmurrou o espelho, partindo em inúmeros fragmentos. Toldado pela raiva, nem sentiu quando se cortou. Fechou os olhos tentando-se acalmar e passou mão pela cara.

- Mas que merda…? – indagou ele ao sentir a face esquerda húmida. Pequenos fios vermelhos escorriam da sua mão. – Igual ao dela… O meu sangue é igual ao dela! – murmurou ele, como se não fosse evidente.

Naquele instante, ele tomou uma decisão: ia pedir-lhe desculpa. Afinal ele não podia negar a felicidade que sentia quando pensava naquela noite. Levantando-se do chão num pulo e com a energia renovada, deu de caras com Luke, um dos seus melhores amigos, que o olhava assombrado.

- Draco? O que se passou? Estás bem? Parece que foste atacado por Dementors.

- Hã? Dementors? Onde? O quê? De que é que estás a falar?

- Esquece! O que se passou aqui? – perguntou o amigo incrédulo perante aquilo que outrora fora um quarto.

Draco contou-lhe tudo o que se tinha passado desde a festa, ao seu envolvimento com Hermione, a sua rejeição, a sua raiva e os seus novos sentimentos.

- Bem! Só te falta dizer que estás perdidamente apaixonado por ela e amas do fundo do coração… – Draco olhou para o amigo silencioso. – Ok! Não digas mais nada…


Draco acordou sentindo-se a pessoa mais covarde à face da Terra e arredores. Tinha pensado em ir ter com ela, mas seguiu o conselho do amigo: deixar a poeira assentar e só depois falar com ela. Esse foi o seu primeiro erro. Devia ter seguido a sua onda de coragem e inspiração. Quando decidiu que já era altura de o fazer, estavam praticamente de férias. Arriscou e escreveu uma carta. Erro número dois. Enviou a carta esperando que ela a lê-se, o que nunca aconteceu, pois a morena tinha a sua carta pendurada no quadro de cortiça do seu quarto, intacta e ainda fechada. Magoado e rejeitado, Draco tentou, uma vez mais, engolir o orgulho passado um ano, mas quando estava prestes a aparatar em S. Mungos, recebeu o Profeta Diário e mudou de opinião:

Hermione Granger: carreira promissora como curandeira”. Era este o título da reportagem. “Hermione Granger, de 19 anos e formada à 1 na Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts, através do estudo de várias vítimas da guerra, está a desenvolver uma fórmula ultra-revigorante para aqueles que sofreram a maldição imperdoável Cruciatus. “Ainda não está totalmente desevolvida, mas tenho obtido bons resultados”, disse Hermione modestamente. “Pretendo que a poção que vou desenvolver, em conjunto com outros amigos e colegas meus, actue não só a nível físico, como a nível psicológico.”. Draco não acabou de ler a reportagem. Sentia-se perdido.

-Tantas certezas e agora a única que tenho é que ela está bem melhor sem mim… Talvez seja melhor assim mesmo…

Mas quis o destino juntá-los, novamente. E o loiro aproveitou a situação para se aproximar dela. Olhou para o relógio… 5h45. Suspirou e voltou a dormir, desta vez um sono pesado.

* * *


Mais tarde, já de manhã, Hermione acordou. Ainda antes de abrir os olhos e levantar-se da cama, puxou os braços acima da cabeça, arqueou as costas e contraiu as pernas o mais que pôde, numa longa e revigorante espreguiçadela. Num pulo, saltou da cama. Seguiu para a cozinha, onde abriu as cortinas e ligou a máquina do café.

- Abençoada invenção Muggle! – exclamou ela após um bocejo.

Enquanto o café fazia, apressou-se a ir ao quarto de banho lavar os dentes e cara. A água estava tão fria que a morena soltou um gemido de indignação que mais se assemelhava a um grunhido.

Ao voltar para a cozinha, Hermione passou pelo seu quarto onde um loiro de olhos azuis da cor do mar num belo dia de Verão, dormia profundamente. Agarrou no seu mp3 (“Outra relíquia Muggle!”, pensou ela) e foi tratar do pequeno almoço: panquecas, torradas café com leite e sumo de laranja, tudo reforçado não só para ela recuperar as forças dos últimos dias como também para Draco repor energias. Ligou o mp3 e escolheu uma lista de músicas mais mexidas que tinha. Prendeu-o ao elástico dos boxers e pôs os phones num volume exageradamente alto. Instintivamente começou a dançar e cantar. Num movimento automático e ritmado pela música, ligou a torradeira e começou a torrar o pão que tinha cortado. Dois pratos, dois copos, duas chávenas, talheres e guardanapos foram distribuídos pela mesa. O café fresquinho e o sumo de laranja já lá estavam. Estava a aquecer o leite quando as duas ultimas torradas saíram.

- Mel e doce! – pensou em voz alta, indo novamente ao frigorífico.

Hermione movia sedutoramente as ancas e pesava farinha, quando Draco surgiu à porta da cozinha, todo despenteado e ainda a bocejar. Possuida pela música, a morena rebolava para cá e para lá, enquanto preparava os ingredientes para umas belas e quentes panquecas, julgando-se sozinha. Sem se conter, o hóspede aproximou-se dela feito predador e colocou a sua mão firme na cintura fina da moça.

- Aaaaaahhhhh! – gritou ela a plenos pulmões, sentindo o coração pular no seu peito.

- Parece que sou perito em pregar-te sustos, hein? – disse gargalhando, ao mesmo tempo que dava um beijo estalado na bochecha de Hermione.

- Bom dia! – respondeu-lhe ela, depois de se recuperar do susto e do inesperado beijo. – Panquecas?

- Hummm… Pode ser. – Draco olhou em volta e viu que a mesa já estava praticamente pronta. – Fizeste tudo sozinha?

- Não. Tenho ali um elfo doméstico escondido dentro de um armário.

- Tens? – perguntou ele, surpreendido.

- Claro que não, tonto. Fiz tudo sozinha!

- Sem magia?

- Sim.

- Porquê?

- Porquê o quê? – perguntou a menina sem entender.

- Porquê sem magia?

Hermione olhou pela janela e contemplou de forma sonhadora o sol que se escondia por detrás das pesadas nuvens que anunciavam chuva a qualquer momento.

- Porquê fazer com magia?

- Para ser mais fácil? – respondeu ironicamente o loiro como se fosse óbvio.

- Não! Fazer este tipo de coisas com magia deixa-nos à sua mercê, porque somos preguiçosos, comodistas. É como se se morresse para a vida. – explicou ela o seu ponto de vista. – Assim qual seria a piada? Ser totalmente dependente de magia? Não! Nunca! Já chega aquilo que realmente necessito. – Hermione encarou-o. – É nestas pequenas coisas, como cozinhar, tratar das minhas plantas, até pentear os cabelos ou arrumar uma estante de livros, que sinto viva e aberta aos pequenos desafios do quotidiano. Assim sinto o sangue a correr-me nas veias. – concluiu ela mostrando a prte interna do braço, deixando à mostra, sem querer, a cicatriz na sua mão, resultante da noite do baile. – Nunca cozinhaste? – O loiro abanou a cabeça em negação, apões ter desviado o olhar da mão de Hermione. Um sentimento de culpa acordou dentro do peito dele. – Aproxima-te que eu te ensino.

- O quê? – perguntou ele levantando os olhos e olhando nos de Hermione. – Ensinas-me? – Ela simplesmente anuiu, com um sorriso nos lábios.

Estavam tão próximos que podiam sentir o calor que cada um dos seus corpos emanava.

- Primeiro pesas a farinha, que eu já fiz. Agora junta o leite até a diluíres. Mas tem que ficar consistente. Isso! – encorajou ela o loiro. – Agora os ovos.

- Inteiros?

- O quê? – perguntou ela arregalando os olhos. – Claro que não! Tu nunca cozinhas-te mesmo na vida pois não? Tens que os partir primeiro. Assim… - Hermione colocou a sua mão sobre a de Draco, que agarrou o ovo, e forçou-o a bater levemente na beira da taça da mistura. Pondo a outra mão por cima da mão esquerda de Draco, fez com ele abrisse o ovo vertendo o seu contudo em cima da farinha e do leite. – Agora bate com o batedor.

- Já chega?

- Claro que não. Ainda agora começaste! A massa não pode ficar com grumos.

- Isto é uma seca!

- Não digas isso! – repreendeu-o. – Bate mais devagar. Sente o atrito da massa… Vence-o. Vou adicionar açúcar.

- Isto não muda de aspecto.

Hermione gargalhou.

- Tem calma. Isso ainda não foi cozinhado. Vou pôr a manteiga na frigideira. Prova a massa se faz favor.

- Provar?

- Sim. Põe lá o dedo e leva-o à boca. – explicou ela como se ele fosse um bebé. – Saboreia.

- Hum… Deixa cá ver. – molhou a pontinha do dedo na massa e lambeu-o rapidamente. – Isto não sabe a nada.

- A nada? Deixa-me provar. – Hermione repetiu o gesto do loiro. – Humm… É preciso mais açúcar.

Draco juntou mais açúcar à mistura, não sem antes perguntar à Hermione qual a quantidade.

- Vou lavar a loiça, para não juntar com o resto, enquanto a manteiga derete.

- Também sem magia?

- Malfoy! Não me vão cair as mãos nem as unhas. – disse ela calçando umas luvas de látex. – Prova a massa de novo, por favor. Como esta de açúcar?

- Continua sem saber a nada.

- Oh coisa insensível! Dá-me a provar. – Draco olhou para ela incrédulo. – Malfoy… – disse ela enquanto abanava as mãos cheias de espuma à frente dele.

O loiro meteu o dedo na massa, novamente, e levou-o à boca de Hermione. Por sua vez, ela lambeu-lhe o dedo com calma para saborear a massa. Draco estremeceu e fechou os olhos, ao sentir a língua quente dela, ao mesmo tempo que a sua imaginação voou até à cabeça debaixo dele.

- Está óptima! – disse ela sorrindo e trazendo-o à realidade. – Mas podias ter-me dado a provar com uma colher. – continuou ela ao voltar a sua atenção para a loiça suja, o que o loiro agradeceu mentalmente, pois assim ela não o tinha visto corar. – Eu so te disse para provares com o dedo para sentires a consistência, a textura… Não sentiste prazer nisso?

- Oh sim! – deixou escapar ele ao lembrar-se da boca de Hermione. – Quer dizer… - tentou emendar ele. – Sim. Não… Não sei!

- Então?

- Não sei!

- Vamos pô-las na frigideira.

Hermione descalçou as luvas, lavou as mãos e fez as panquecas rapidamente, com alguns flips à mistura, devido à prática.

Sentaram-se à mesa para comer o mini-banquete que Hermione tinha preparado. Draco estava esfomeado. A morena terminou rapidamente o pequeno almoço e ficou a observar o menino comer com muita vontade.

- Isto está delicioso. – referindo-se ele às panquecas que até pouco tempo não sabiam a nada.

- Obrigada! Mas tu também ajudaste a fazê-las.

Depois de Draco devorar mais de metade da comida que havia em cima da mesa, a menina levantou-se e continuou a arrumar a loiça.

- Eu ajudo-te… Se me ensinares.

- Claro.

À semelhança do que se passou com os ovos, Hermione colocou detergente numa esponja, dando-a a Draco e acompanhado a sua mão a lavar os pratos. A tensão era tanta que Hermione nem deu pela chegada de Snow à cozinha com um pergaminho, que deixou em cima da mesa recém limpa, junto ao mp3 da morena. Draco deliciava-se com a sua actividade, não que ela fosse entusiasmante, porque não era de todo, mas porque Hermione o estava a ajudar. Ela levantou os olhos e viu o loiro a olhar para ela como se a despisse. Sem se controlarem, beijaram-se ardentemente libertando o turbilhão de sentimentos que tinham mantido presos durante mais de quatro anos. A sua língua, tão urgente quanto as mãos, que percorriam as costas da menina, enterrando-se no cabelo encaracolado que ele estrategicamente soltara, explorava a boca da morena do mesmo modo que ela lhe tinha explorado o dedo. Hermione correspondia à altura entregando-se a ele do mesmo modo, ou ainda mais, como naquele mal fadado baile. Lembranças assaltavam a mente de ambos. Lembranças boas, lembranças más. Mas nada, naquele momento, parecia interferir com o sentimento que reacendia dentro dos dois. Para ele era uma conquista, pois sempre quisera pedir desculpa a Hermione, por ter sido infantil, medroso, orgulhos. Para ela era uma doce tortura, ao relembrar aquilo que um dia sentiu por Draco e que a tanto custo tentou esquecer.

Draco levantou a morena ao colo e sentou-a na bancada, sem nunca a para de beijar. Da boca, para a bochecha, em direcção ao pescoço, à nuca, aos ombros, e voltando à boca, como se tivesse insaciável. Para falar a verdade era assim que ele se sentia. Com uma sede de desejo, de luxúria que só aquela morena era capaz de despertar.

Hermione, que desde que o tinha visto no hospital sofria em silêncio pela crueldade de uma noite que lhe mudou a vida amorosa, sentia-se confusa. Não sabia o que se estava a passar entre eles, se Draco estava realmente mudado, ou se ele queria apenas saber que ela ainda gostava dele para lhe massajar o ego.

Á água corria livremente da pia para o chão, mas eles não deram por isso. Draco continuava a explorar o corpo de Hermione e encontrava-se agora, perigosamente, junto às coxas dela, já marcadas pelas mãos dele. Hermione tinha a cabeça pendida para trás numa expressão de prazer indiscutível, enquanto as suas mãos se passeavam nos cabelos loiros platinados. Não se ouviam vozes… Apenas gemidos e água, tanto da torneira como da chuva. O loiro mordia-lhe com avidez a parte interna das coxas, quase junto à virilha e Hermione cerrava os lábios para conter os gemidos que teimavam em escapar da sua boca, quando foram surpreendidos.

- HERMIONE! O que se passa aqui?

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