A caminho de Hogwarts



As férias haviam acabado. Meu nariz já estava curado a muito tempo, e eu apenas tinha lembranças remotas do que aconteceu naquele dia. Sempre apago as “coisas ruins” do meu passado, como ver um Weasley. O que importava, era que eu ia ter quem humilhar. Quer dizer, ter com quem conversar. Enfim, eu ia ter o que fazer, não ia ficar sozinho numa imensa mansão, rodeado por elfos domésticos.

Eu me levantei cedo naquele dia. Tomei um longo banho quente, como de costume, mas na banheira naquele dia. Após mais de dez minutos, me sequei, já relaxado físico e mentalmente. Parti para o meu guarda-roupa, analizando as minhas roupas. Peguei algumas, dobrei-as, e coloquei cada uma em seu devido lugar, dentro do meu malão. Girei o punho, e vários pacotes de livros voaram até a cama, pousando ao meu lado. Sim, eu não podia executar feitiços, grandes ou pequenos. Mas minha mansão era protegida contra o ministério, e deve-se saber porque.

Coloquei os livros em ordem, ao lado das roupas. Nos últimos, deixei Herbologia e História da Magia, além de TCM, as piores matérias na minha visão. Na outra pilha de livros, o do topo era o de poções. Por fim, peguei um livro diferente: capa preta, inscrições em um prata chamativo, em uma língua estranha. Abri o livro. As páginas tinham um efeito envelhecido. Quando olhei, havia um bilhete. Comecei a lê-lo:

Este ano, você se tornará mais que um Malfoy. Mais que um comensal. Farei de você, um verdadeiro bruxo das trevas. É só querer, meu caro. Confie em mim, sou o único em que podes confiar. . . nem na sua família deves tentar ou pensar em confiar. Por ora, é apenas isso. Precisará desse livro, Draco, para nossas aulas grupais, com poucos alunos: os mais importantes, eu diria.

Severus Snape



Snape? Aulas grupais? Do que ele está falando?” Perguntas e mais perguntas giravam em minha cabeça. Joguei o bilhete no lixo, e passei a folhear o livro.


- Artes das Trevas?



Eu estava boquiaberto. Finalmente iria aprender o que tanto quis. Quando guardei o livro, observei outro, que estava guardado dentro do mesmo. Era um livro de Leglimência. Parecia que Snape estava levando a sério o assunto de transformar alunos em verdadeiros Bruxos. . . das Trevas.

Guardei mais alguns objetos, necessários durante o ano. Segurei uma espécie de gaiola, por fim, colocando-a com cuidado no espaço que restava. Segurei a minha cobra com a mão, e deixei-a em meu pescoço. Para mim, era a mais bela das cobras. Sorri, fechando o malão, e levitando-o. Caminhei pelo quarto, nu. Deixei o malão em um dos cantos, e passei a me vestir. Calça jeans, uma camisa preta, a manta preta. Deixei os meus cabelos bagunçados, e por fim, calcei meus tênis brancos.

O Malão passou a me acompanhar por onde eu andava, e entrou no carro sozinho. Em menos de dez minutos, meu motorista havia me levado a King Cross, a estação de trem de Londres.

Estava lotada; como eu imaginava. Trouxas e mais trouxas rondavam o local, gritando, brigando, xingando. Confusões e mais confusões transformavam aquele local em um verdadeiro inferno. Minha cobra, Lilith, estava agitada. Olhava para todos os trouxas como se fossem seu alimento, e até tentou atacar alguns. Pena que eu não podia autoriza-la. . .

O barulho era ensurdecedor; alguns trens já partiam, elevando a fumaça, deixando a sua marca registrada: o barulho. Desviei de vários bêbados, quase me esbarrei em algumas mulheres. Eu estava ficando com raiva: isto era outra coisa perigosa.

Mas, por fim, eu havia encontrado a porta de entrada para o Expresso de Hogwarts. Empurrei o carrinho, e corri atrás do mesmo, segurando-o. Me choquei contra a parede, e a atravessei. Quando vi, já estava em outro local. O clima ali era mais quente, mas continuava com a fumaça e a gritaria. Desta vez, de alunos entusiasmados, mães corujas que não queriam deixar seus filhos irem. . . Blah, bobagem.

Coloquei minha mão em um dos bolsos da manta, e prendi o símbolo de monitor na capa. Recebi-o com a lista de materiais. Pelo que eu sabia, Pansy era a monitora da Sonserina; Gina e Rony da Grifinória. Os outros eu não sabia, nem queria descobrir.

Subi a bordo do Expresso sem olhar para trás. Ninguém me esperava, manda tchau. Eu fui sozinho. E ficaria. Caminhei pelos corredores, com o malão me acompanhando, flutuando. Abriu uma das portas de uma das cabines, e entrei. Eu era o primeiro garoto a entrar ali. A primeira garota fora Gina. Coloquei o malão no seu devido local, e me sentei na poltrona. Olhei para a janela, enxergando a paisagem. Ainda faltavam de dez a vinte minutos para o trem partir, e eu estava sozinho com a Weasley.



- Draco Malfoy, sozinho? Uma imagem perturbadora. Onde está a sua tão adorada capanga? – Gina se referia a Pansy, obviamente.
- Em qualquer lugar menos aqui.
- E que local seria esse?
- Vem cá, Weasleyzinha. Porque está tão interessada na Pansy? Deixe aquela insignificante de lado. . . e FIQUE de lado. Me esqueça, pirralha. – Achei que aquelas palavras iriam afeta-la.


Gina abriu a boca, e até gesticulou algumas palavras. Mas nada saiu. Ela fechou a boca, e pegou um livro, que eu não sabia qual era. Ela o abriu, e começou a ler, tranquilamente. Eu respirei fundo, me controlando. Porque eu, Draco malfoy, estava em uma cabine com ela?

O trem tremeu, e começou a partir. Mesmo assim, nenhum dos outros monitores estava ali.



- A cabine mudou de lugar? – A ruiva me perguntou.
- Se eu soubesse, não estaria aqui.



E foi quando ouvimos um “clack”. Fui tentar abrir a porta da cabine. Estava trancada. Meus olhos se arregalaram. Naquele momento eu estava preso no Expresso de Hogwarts com um Weasley.



- Eu não acredito. Vou ficar preso com essa, com essa. . .
- Pirralha? Pobretona? Chega Draco. É melhor inventar outras formas de humilhar alguém. Essas já não me afetam.
- Não deixarei de humilhar do meu jeito. Te afeto, e sei disso. Você é fraca, Gina, muito fraca.
- E como sabe disso?
- Você está apaixonada por Harry Potter, e ele por Cho Chang. Mesmo assim, insiste em ficar com ele. Você não sabe perder, é óbvio. Um dos sinais de fraqueza.
- O HARRY ME AMA, OK?
- Ama assim como ama a Voldemort. Mas esta não é a questão. Eu duvido, disse, DUVIDO que você consiga derrotar alguém em uma situação de risco. Você é uma fedelha procurando atenção, então, fique calada.



Aquilo funcionou. Ela estava furiosa. Se jogou na poltrona e lá ficou, de cara amarrada, fitando a janela do trem. Eu sorri de canto, e alisei Lilith, enquanto sentava em uma das poltronas confortáveis.

Quando dei por mim, eu havia cochilado. Quando acordei, Gina olhava para mim, apreensiva. Ainda estava com raiva, era fato. Esfreguei meu rosto, bocejando. Fitei-a, por alguns segundos, até me dar conta de que ela era uma Weasley. . . e eu um Malfoy.



- Nunca me viu?
- Já.
- Então porque me olha, Weasley?
- Ora. Porque quero. Você não pode dominar nada, Malfoy. Nada.
- A palavra seria tudo, imbecil. Já controlo muitas coisas, e posso controlar muito mais. Basta eu querer.
- Me cotrole.
- Como?
- Duvido que você consiga me controlar. O único fraco aqui é você. Fraco de espírito, digo. Você nunca teve um verdadeiro amigo, apenas capangas. Nunca teve um verdadeiro amor, nunca teve um pai de verdade. Sempre foi afundado em pensamentos obscuros, para virar um Comensal. Você não tem moral com ninguém, apenas acha que possui. Então. . . o único pirralho que não enxerga a nada, a não ser o seu nariz, é você. Resumindo, você é o egocêntrico rei.



Eu me calei por vários minutos. Pela primeira vez, vi que as humilhações que me fizeram estavam certas. Engoli em seco. O que estava acontecendo comigo? Eu havia deixado ela me tratar daquela maneira?



- Posso ter os piores defeitos, é verdade. Porém, não me importo com o que você diz.
- Então porque se calou?
- Porque estava arquitetando uma resposta perfeita para você.
- Então diga.
- Você é a mimada da sua casa, mimada com migalhas claro. Você não tem força o suficiente para conseguir nada. Tudo o que você consegue é na base da beleza ou da fragilidade angelical de uma pirralha. Cá entre nós, tudo o que você conseguiu foi com sua família. Nada veio de seu esforço. Você já foi fraca o suficiente para se submeter a Voldemort, e obedeceu a ele como nem um comensal faria. Mas não vou perder meu tempo com essa briguinha. Você não merece minha presença, você não merece ninguém.



Soou estranho, a última frase. Mas foi de impacto. Gina estava boquiaberta, e logo virou o rosto. Virei o meu. Neste momento, o trem parou. Vários alunos desciam do trem, e nós estávamos presos. Eu já estava cansado de estar ali, completamente cansado. Fitei Gina uma última vez e girei meu punho. A porta da cabine explodiu. Ouvimos passos rápidos, e o zelador do trem chegou.



- Mas o que diabos vocês fizeram?
- Eu apenas abri a porta. Ela estava trancada, imprestável. Se vão nos transportar, ao menos façam direito.



O zelador gritou palavrões e mais palavrões na minha cara. Apenas me levantei, com o malão me acompanhando, e cruzei a porta – explodida – da cabine. Saí no meio da multidão, e caminhei para uma das carroças. E quem estava lá? Gina, Harry e Hermione.



- Ótimo, dois Weasley's, o Potter e uma sangue-ruim. Hoje é o pior dia da minha vida.



Rony gritou mais e mais, Gina e Hermione tentando acalma-lo, Harry me olhando, raivoso. Revirei os olhos, e passei a fitar o caminho para Hogwarts. O testrálio estava rápido; eu já podia vê-lo.

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