Prólogo;



Os corredores do hospital geral de Easington estavam parcialmente vazios, as paredes brancas apenas constatavam a calma do local. Hermione andava por ali, vagarosamente, enquanto lia com atenção o prontuário que trazia nas mãos. A senhora do quarto 106 tinha uma quadro estável agora; Matilde Potter dera entrada no hospital com uma grave crise de pneumonia.

Na faculdade aprendera a não colocar os sentimentos à frente de seu trabalho, nunca se envolver com o drama da família, não importasse a dor do paciente, mas não conseguia agir assim, e mesmo que o caso do paciente fosse irreversível, lutava até o fim e sentia uma frustração enorme quando não conseguia a cura.

Seus sentimentos na maioria das vezes comandavam suas ações. E fora quase impossível não apegar-se a solitária senhora de sorriso simpático.

Passou por um colega ou outro e postara-se a frente da porta do quarto da paciente. Suspirou fundo, não queria dar uma notícia ruim, poderia piorar o estado da mulher. Mas para quem contar, se ela não possuía nenhum parente por ali?

Se ao menos tivesse tido sorte em contatar o neto da Sra. Potter...

Esperava que Luna tivesse mais sorte que ela. Entrou e sorriu. A senhora de cabelos grisalhos a encarou, e apesar de seu estado adoentado, mantinha-se "feliz".

- Como vai, Sra. Potter? – perguntou, postando-se ao lado da cama da paciente.
- Olá querida - a senhora sorriu. - Me sinto muito bem, estou contente que tenha vindo me ver, me sinto solitária dentro desse quarto! Quando poderei sair?
- Bem, não em breve, mas espero que logo. - começou Hermione, sorrindo fino. - Seu tratamento vai ser um pouco longo, porque a pneumonia no seu caso pode comprometer alguns órgãos, então precisará ficar uns dias em internação. E também, Sra. Potter, gostaria de falar com algum parente seu.
- Não querida, eu já me acostumei a não ter visitas. Desde que meu marido morreu, somos eu e o rancho, meu neto Harry é muito ocupado. - a senhora olhou para a janela sendo absorvida por lembranças de tempos felizes. – Sabe... Eu tenho uma bisneta! Ela tem quatro anos, só vi a menina uma vez, quando ainda era bebê. Eu gostaria de ver o rosto dela mais uma vez...
- Ele deve ser mesmo ocupado, em todas as vezes que liguei, ele não estava. Mas coloquei Luna para tentar encontrá-lo. – explicou, carinhosa. - Não vamos desistir, ele não pode ser tão ingrato assim, para não perder uns minutinhos de seu dia para vir até aqui visitá-la.
- Oh! Mas o meu Harry, não é ingrato! - Matilde explicou, com um sorriso no rosto. - Meu neto sofreu muito, e, além disso, tem de cuidar de minha bisneta, sozinho, é esforçado e trabalhador... Um pouco teimoso, mas nunca ingrato!
- Se você diz então eu vou acreditar. - concordou a moça. - Daqui a pouco a enfermeira virá para verificar se você está bem, e dar-lhe também os antibióticos. E se tudo correr bem, dentro de quatro ou cinco dias poderá voltar para casa.
- Vocês fazem com que me sinta uma criança que precisa de remédios de hora em hora. - a mulher sorriu e voltou a contemplar a janela. – Mas, se é assim que tem que ser, eu aceito.
- Tem que ser desse jeito sim, Matilde, se quiser ficar boa logo. Mas não gosta de ser mimada? Meu pai costumava dizer que todas as mulheres gostam. – comentou, divertida.
- Pois essa aqui já se habituou a fazer tudo sozinha, se bem que seria ótimo ser mimada pelo meu velho mais uma vez, mas o destino quis nos separar...

Hermione sorriu sem jeito, sem perceber tocara num assunto delicado para a mulher.

- Er... Eu já vou indo, mas volto daqui a pouco. - falou a morena. - Tenho ainda outros pacientes para visitar, e meu plantão mal começou.
- Boa sorte, quem sabe você não encontra o amor de sua vida por esses corredores! - profetizou a mulher.
- Quem sabe não é? - indagou sorrindo, corada. - Acho pouco provável...
- Bem... Uma das poucas coisas que essa velha aqui descobriu, é que o amor está mais perto do que pensamos e quando menos se espera ele nos contagia... Foi assim comigo e com o meu velho!
- Tomara que esteja certa, eu já estou cansada de nunca encontrar o cara certo... - murmurou. – Bem, eu já vou indo. O senhor Tyler fica impaciente quando eu não vou visitá-lo.
- Vá... E boa sorte! - a mulher olhou a médica se afastar com os sentidos aflorados.

Talvez se Hermione fosse capaz de quebrar a barreira que Harry havia posto em sua vida, e se ele tivesse coragem e tempo para ver sua avó mais uma vez e se o destino fosse bom com ela, uma pequena menina de quatro anos teria uma nova mãe e seu neto poderia voltar a ser feliz.

Mas isso só o tempo diria a essa senhora...




A loira e a morena se encontravam na recepção, tentando resolver a papelada sobre uma operação de um paciente, e como tudo dentro daquele hospital, a recepção estava cheia de papéis e nenhum deles era o que queriam.

- Então, encontrou alguma coisa? - perguntou Luna, enquanto se ajoelhava para olhar mais uma pasta.
- Não, e isso já está me aborrecendo! - resmungou Hermione, após um longo suspiro. - Na verdade muitas coisas me aborrecem hoje!
- Quer remédio pra cólica? - brincou a loira.
- Não é isso, bobinha! - rebateu no mesmo tom. - É que um dos meus pacientes não teve melhora alguma, e também porque não conseguimos falar com o neto da Sra. Potter.
- Bem, sobre o paciente, é uma questão de tempo até que ele melhore. Qual é? Você é a doutora raio de sol desse hospital... A otimista! - Hermione sorriu ao ouvir o apelido. - E sobre o lance do neto... Bem, eu mandei uma mensagem para o telefone residencial dele há dois dias atrás, agora é só questão de tempo até que ele venha, mas você tem certeza que não quer o remédio?
- Tenho certeza. - assegurou. - Já olhou nessa pasta verde? Eu espero mesmo que ele venha...
- Já olhei não há nada - puxou mais uma pasta. - Talvez ele não goste da avó...
- Não creio que seja isso. Ela me garantiu que não, talvez ele seja mesmo um homem muito ocupado. Matilde disse que ele cuida da filha sozinho, é pensando nisso que dou um crédito a ele... - comentou e suspirou. - E na pasta amarela?
- Não, essa eu ainda não olhei. - passou a pasta para as mãos da amiga e continuou a procurar em outra pasta. - Bem... Então, temos que esperar que ele apareça. Talvez nós tenhamos que fazer outro tipo de coisa para que ele nos ouça, que tal tentar sinais de fumaça? Sabe de algum grupo indígena próximo ao hospital?

Hermione riu, e abriu a pasta colocando-a em cima do balcão.

- Eu não conheço nenhum grupo indígena... Lamento! – falou, ainda sorrindo.
- Lamentável... Terei que procurar um pajé na internet. - a loira sorriu com o comentário que a própria tinha feito.
- Acho que terá sucesso em sua busca, a internet é um meio rápido de se achar algo. - respondeu Hermione, fechando a pasta amarela. - Quem sabe o pajé não possa dizer onde estão esses malditos papéis!
- Sabe, voltando ao assunto do neto da senhora Potter... Você não fica curiosa sobre a aparência do netinho querido? - Luna perguntou á amiga.
- Sabe que sou muito curiosa, e pra te falar a verdade, eu fiquei sim. - comentou Hermione, apoiando-se no balcão. - Será como ele é?
- Bem, pra mim ele deve ser um gato e eu acho que ele herdou os olhos verdes da senhora Potter... eu acho que ele é loiro, alto, forte e gostosão... E você, o que acha do Potter?

Hermione sorriu.

- Eu acho que ele também tem os olhos claros, mas não sei se poderiam ser verdes. Alto, sim... Alto! E... Moreno? – indagou, e Luna riu. - Ah! Eu prefiro os morenos... Então me deixa imaginar...!
- Bem, essa semana a senhora Potter me mostrou uma foto do falecido e digamos que se o neto puxou ao avô, vai estar em ótimas mãos... Pra mim ele é o tipo de cara que anda de terno quase todo o dia, e é gentil, carismático, boa pinta e com um bumbum no estilo dos atores de TV... Sabe aquele jeito? Ah! Cara, eu to precisando namorar.
- Realmente, mas eu não ligo muito para a anatomia quanto você. E para completar o conjunto ele deve ter uma voz firme, mas doce... E...!

- É... Boa tarde eu gostaria de ver a paciente Matilde Potter.

Um moreno apareceu de súbito na recepção, e o susto das duas foi tanto que Luna, outrora apoiada nos joelhos, se desequilibrou e caiu por cima de Hermione. Esta levantou-se rapidamente, ajeitando os cabelos, assim como as roupas brancas, em desalinho. Sorriu sem jeito, ajudando a amiga a levantar-se também.

- Boa tarde...
- Bem, eu já disse boa tarde, mas eu gostaria mesmo de ver a minha avó, será que é pedir muito? – perguntou, impaciente.
- E a educação foi passear no bosque... - Luna falou alto sem perceber, levando uma cotovelada da amiga.
- Oh! Você é neto da senhora Potter... – murmurou, olhando de soslaio para Luna. - Nos desculpe, é que estamos meio enroladas por aqui... – acrescentou, desajeitada.

O moreno olhou para o estado em que se encontrava a recepção e sorriu irônico.

- Nossa, eu nem tinha percebido...
- Além de mal educado, é cego? - perguntou Luna, usando o mesmo tom de voz do moreno.
- Luna! - exclamou Hermione. - Eu sou a Dra. Granger, estou encarregada de cuidar da sua avó.

Ao sair da bancada da recepção, pôde ver que atrás do moreno, bem escondida sobre as pernas do homem, se encontrava uma menina, que a olhava com tanto receio e medo que a deixou comovida e com um pouco de pena.

- Será que podemos ver a minha avó? - perguntou Harry, enquanto via a doutora analisar Madeleine.
- Sim, é claro... - respondeu ela, que sorriu a menina. Esta, porém, se escondeu ainda mais nas pernas do pai. - Eu vou acompanhá-los e você continua procurando os papéis, se o Dr. Lincon ficar sem esses papéis ele me mata, e a você também. - acrescentou para Luna.

Abriu a porta do quarto da senhora, que ao ver o neto sorriu como uma criança. Hermione fechou a porta, hesitando se deveria permanecer ali ou não. Entretanto, sorriu largamente, ao ver os olhos verdes da paciente brilharem intensos.

- Eu disse que voltaria, e desta vez trouxe visitas... - falou a morena.
- Harry, meu pequeno, quanto tempo eu não te vejo! - sorriu e beijou as duas faces do neto, que se aproximara rapidamente dela. - E você deve ser a pequena Made? – perguntou, olhando para a menina que se escondeu mais uma vez nas pernas do pai.
- Querida, não há o que temer! Essa é a sua bisavó Matilde, e ela gosta de você... - o pai tranqüilizou.

A menina o olhou, desconfiada, e em silêncio. Encarou a bisavó, e abraçou com firmeza as pernas de Harry, escondendo a sua face rosada.

- Não gosta nada... – respondeu, com a voz abafada.
- Pois eu gosto sim... – replicou a senhora, com os olhos brilhando. - E eu gosto muito de você, mas gostaria mais se você viesse aqui e me desse um grande beijo e eu abraço bem forte.

Madeleine olhou mais uma vez para o pai, e desenlaçou os pequenos braços das pernas dele. Seus cabelos negros estavam presos em tranças mal feitas, mas eram tão brilhantes e lisos, que pareciam seda pura. Os olhinhos dela passaram a transparecer dúvida.

- Venha, não precisa temer, eu não mordo – encorajou.
- Eu vou deixá-los a sós. - se manifestou Hermione. Talvez fosse sua presença ali que estaria fazendo com que a garotinha ficasse tímida. Lembrou-se de si mesma, sempre ficava intimidada com estranhos.

- Oh não, Hermione,fique - pediu Matilde - Fique conosco.
- Não quero atrapalhar... Volto depois. – falou, envergonhada.
- E desde quando você atrapalha? - a senhora sorriu e apontou a cadeira vazia ao seu lado - Cuidou dessa velha chata durante tanto tempo e não pode aproveitar e sentar em um momento de felicidade de sua paciente?
- Eu não quero mesmo atrapalhar, vou ver se Luna já encontrou os papéis perdidos. - insistiu a morena.
- Pois eu vou me sentir ofendida se você não ficar com a minha família pelo menos cinco minutos! Escute querida, fique só um pouco, faça a vontade dessa velha aqui quero que conheça meu neto e minha bisneta.
- Está bem... – concordou, após hesitar.

Hermione ficara então, mas se mantivera um pouco afastada. A pequena perdera o medo da bisavó, e agora se sentava na beirada da cama, conversando com a mulher. Embora ainda receosa e portando o mesmo brilho de dúvida nos olhos. O homem imponente estava parado ao pé da cama, e as fitava com um sorriso nos lábios. Um sorriso magnífico, que fez Hermione suspirar. No entanto, ela manteve o controle, afinal não podia misturar mais as coisas, e ainda precisava falar com ele.

Soltou o ar preso nos pulmões, e aproximou-se dele, discretamente.

- Er... Sr. Potter, eu poderia falar um instantinho com você? - perguntou.

Sentindo o nervosismo da doutora, consentiu rapidamente enquanto acompanhava a mulher pela saída do quarto sem antes deixar de notar o belo conjunto de pernas que a médica tinha. Pararam no corredor, e ela o encarou. Os olhos dele eram mesmo tão verdes; tão intensos e maravilhosos. Corou ante ao próprio pensamento, não deveria estar pensando nessas coisas!

- Bem, eu queria conversar sobre o estado de saúde da sua avó.
- É eu imaginava que fosse isso... Bem, como está a minha avó? – perguntou, preocupado.
- Ela teve uma crise de pneumonia, chegou aqui com sintomas de febre alta, e alterações clínicas decorrentes da própria doença, como tosse e dor no tórax. Controlamos, mas a internação foi necessária, pois a infecção debilita muito aos idosos. Estamos tratando-a com antibióticos. - explicou, colocando as mãos nervosas no bolso do jaleco.
- E quando ela poderá ter alta? – perguntou, se sentindo culpado por olhar os seios da médica em vez de prestar atenção ao estado de saúde da avó.
- Daqui a alguns dias, se ela apresentar melhoras... - respondeu. - Ela precisa de cuidados essenciais, senão sua saúde pode piorar... Sr. Potter?
- Belos seios... hãn? sim ...cla-claro cuidados, cuidados especiais – falou, saindo do transe.
- Sim, cuidados especiais. – falou, sorrindo.
- Ok... Eu cuidarei muito bem dela, pode ter certeza!
- Espero que sim, sua avó merece todo o cuidado. - disse, desviando os olhos dele. - Precisam continuar o tratamento e ingerir corretamente os remédios quando já estiverem em casa.
- Só isso? – perguntou, querendo voltar á presença da avó e tentar recobrar o bom senso.
- Sim, eu acho, é. – afirmou, respirando fundo.

O moreno cumprimentou a médica e foi de encontro ao quarto da avó, mas antes de entrar o moreno se virou, olhou profundamente a médica, e disse:

- Se me permite doutora, gostaria de dizer que a senhorita tem um belo par de pernas, eu diria que são verdadeiras obras de artes que mexem com o meu autocontrole - e entrou no quarto da avó deixando uma Hermione totalmente chocada do lado de fora.

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