"O começo"



- ...então eu disse pra ele que se ele quisesse, pegasse a pena e... – Giny parou e observou os garotos a sua frente. Dois opostos. Enquanto Rony rolava de rir da história que ela contava, Harry se encontrava em total alienação. Franzindo a testa ela reclamou ofendida – Você não tá nem ouvindo não é? – levou pouco mais de dois segundos para que Harry percebesse que ela se dirigia à sua pessoa:

- Hãn? – retrucou Harry ainda desligado. Tinha certeza de que Giny estava falando algo, relativamente engraçado até...

- Harry, você tá bem? – perguntou Rony ao seu lado, agora se servindo de ovos mexidos. – Você ta estranho... – e após uma olhada mais cuidadosa, ele acrescentou - E... Pálido...

- Não! Quero dizer, nada aconteceu! – mentira... Falou uma vozinha em sua cabeça... – Eu estou bem! Sério... – mentira de novo... – O que teria pra acontecer?

Ok... Então ele era o maior mentiroso que poderia haver... Entretanto, mentira ou não, contar para Rony o que ocorrera na noite anterior definitivamente não estava nos seus planos... Não que tivesse um de fato... Na verdade mesmo depois de uma noite em claro ele ainda não conseguira definir uma posição com relação ao ocorrido. Certo... Calma... Era tudo que ele precisava agora, agir com calma, e pensar de modo racional. Talvez ela estivesse bêbada... Não... – pensou ele no segundo seguinte – Ela não parecia bêbada... Parecia lúcida, bastante, diga-se de passagem... E ainda sim havia sempre a possibilidade de tudo aquilo não ter passado de um sonho, completamente absurdo, apesar de bastante... Real... Não espere... – continuou ele – Isso não faz muito sentido. Até mesmo porque não adiantava tentar se enganar, quando ele ainda podia praticamente sentir os lábios dela nos seus... Ou até mesmo o cheiro do cabelo dela... Muito agradável por sinal... – não havia nenhuma maneira de remediar o ocorrido, ou mesmo as consequências de tal. E tão logo ele compreendeu isso, logo apenas uma palavra lhe ocorreu em mente - Merda...

- O que? – perguntou o amigo ao seu lado.

-O que, “o que” ?- retrucou Harry, voltando aos poucos à realidade.

-Você disse alguma coi... – como Harry ainda não parecia completamente são, ele desconversou – Nada, esquece... – e se voltando para o prato de Harry ele perguntou – VocÊ vai querer isso? – disse ele apontando para o bacon intocado no prato de Harry.

-Ah... Não, pode pegar... – e ali, observando o amigo se encarregar do seu café da manhã, Harry não pode deixar de imaginar, sentindo um imenso sentimento de culpa fechar-lhe a garganta, como o amigo reagiria quando soubesse o que ele tinha feito... E tão pior quanto, como ele próprio reagiria diante da amiga... Afinal de contas, ele não era bem um expert nesse tipo de coisa... Mas supunha que um beijo muda significativamente a relação entre duas pessoas...

Tão logo concluiu seu pensamento, a culpa de Harry se transformou em um imenso nervosismo, ao ouvir a voz da amiga vir de algum lugar à sua esquerda. E afastando suas vestes, Hermione se sentou ao seu lado:

- Bom dia... – retrucou ela simplesmente, enquanto se servia da jarra de suco à sua frente.

E foi isso. Só isso. Ela o ignorou... Bom, não ignorou, não exatamente pelo menos... Entretanto... – pensou Harry em seguida – Qualquer pessoa em sã consiência não encararia aquele tipo de atitude como normal... Não se considerassem as circunstâncias pelo menos... Havia alguma coisa de errado... – e não demorou muito para que ele percebesse –Ela estava evitando... Evitando o assunto, fingindo. Certo... Pelo menos por enquanto... Afinal, ele estava calmo, e podia levar a situação sem transparecer nada... Claro que podia... Se ela podia, ele também podia... Seria moleza...

Seria... É claro, entretanto, que em se tratando de Harry, não foi. De fato, para Harry aquilo estava próximo do que ele chamaria de tortura... E a pior parte era que nem evitá-lo ela o fazia... Pelo menos isso daria uma pista de como ela encarava o ocorrido... Mas não... Harry não captou nada por parte da garota... Pelo menos não até o almoço...

- Harry... – chamou Hermione ao seu lado. Fazendo se garfo escapulir com um estalo ao cair no prato.

- S-sim... – respondeu ele, ainda olhando para o próprio prato.

- Escute... Sobre ontem... – começou ela num sussurro, obviamente ela queria manter a conversa em particular...

- Ontem...? – perguntou Harry novamente, a fim de confirmar o que ouvira.

- Isso... Bom... Eu só queria dizer que eu sinto muito... – se explicou ela –Eu espero que você esqueça o que conteceu...

-O que? – esquecer? Como assim? Ela estava dizendo pra esquecer? Esquecer que ela havia entrado no seu quarto e que os dois haviam se beijado?

- Bem... Eu te devo desculpas... Quero dizer... Você estava certo... Smith agiu feito um idiota mesmo... Eu suponho que você só estava tentando me defender...

-Hãn? – Harry não compreendera bem a última sentença... Ela dissera algo sobre Smith?

- ... e além do mais, eu não deveria ter gritado com você... – continuou ela.

- Espere... Smith? O qu...

-Você me desculpa?

- Descul...? – Harry apenas observou Hermione sentada ao seu lado. Das duas uma: ou ela não fazia sentido algum, ou ele se confundira totalmente no que quer que a garota tinha a dizer...

- Harry? – insistiu ela, enquanto Harry apenas a observava, sua mente trabalhando velozmente. Ela parecia genuinamente ansiosa por uma resposta positiva, e Harry não viu nada mais a se fazer exceto:

- Certo... Ok... – respondeu ele simplesmente.

- Ótimo! – respondeu ela, parecendo mais alegre. – Eu estou atrasada para Aritmancia... Eu vejo vocês mais tarde!

- Tchau! – disse Rony, ao ver amiga se levantar, e então, voltando os olhos para o amigo retrucou – Sério cara... Você não parece bem... Devia dar uma passada na enfermaria...

Pelo final da tarde daquele dia, Harry chegou a conclusão de que Rony estava certo... Ele não estava bem...

E enquanto pegava uma cópia de “Dez passos para transfiguração- Volume 6” um pensamento lhe ocorreu... Porque ela estava fazendo isso? Quero dizer... Geralmente ela seria racional o suficiente para tomar a iniciativa de uma conversa... Isso já estava se tornando ridículo... Ele estava agindo de modo ridículo... Por mais que fosse encômodo pra ele admitir, ele passara o dia inteiro, sem exceção de um segundo sequer pensando no ocorrido... Isso sem contar a culpa que sentia cada vez que lembrava de como o amigo reagiria se soubesse o que ele estava sentindo...

Já estafado com a situação, Harry largou o livro que tinha nas mão com um estrondo na mesa da biblioteca e seguiu porta à fora, ouvindo ao longe a voz de Madame Pince revoltada com o trato que dera ao exemplar que tinha em mãos... Mas ele já subia as escadas em direção à sala comunal da grifnória, onde provavelmente a amiga estaria...E estava.

Hermione estava sentada no sofá em frente à lareira, com um grosso livro em punhos, parecendo bastante entretida. Os olhos de Harry correram pela sala comunal, para encontra-la vazia... E exceto pelo infortúnio de ter Rony sentado em uma mesa no canto do cômodo, Harry achou que seria possível conversar com ela por pouco tempo que fosse, mesmo que só para esclarecer a noite anterior, contanto que mantivessem as vozer baixas... Por que com ou sem Rony ele ia resolver aquilo hoje.

- Hermione... – falou ele em voz baixa enquanto se sentava ao lado da garota. Com um ligeiro sobressalto ela olhou de volta para ele:

- Oh, oi Harry! Eu achei que você estava na biblioteca... – falou ela antes de voltar a sua atenção novamente para o livro que tinha nas mãos.

-Bem, eu estava...

- Então porque voltou? Conseguiu achar o que queria?- perguntou ela sem nem ao menos levantar os olhos.

- Bom, é qu... Não importa! – desconversou ele. – Olhe... Nós precisamos conversar...

- Claro... Eu estou ouvindo. – retrucou ela ainda grudada no livro.

- É sobre ontem à noite.

- Ontem? O que é que tem? – respondeu ela calmamente.

- “O que é que tem?” – retrucou Harry incrédulo.

- É... Quero dizer... Nós brigamos, eu pedi desculpas e você aceitou. – aqui ela finalmente levantou os olhos para encarar o amigo - Tem mais alguma coisa pra conversar?

A irrelevância com a qual ela estava levando aquilo tudo parecia genuína, do contrário ela era uma ótima atriz... O que deixava Harry ainda mais confuso sobre o que estava acontecendo.

Por isso que, resolvido a deixar de lado o embaraço da situação, Harry achou melhor ir simplesmente direto ao ponto...

-Porque você está corando?- cortou ela.

- O qu... O que? – retrucou Harry, obviamente pego de surpresa... – Eu não estou! Hermione! – exclamou ele ao ver que estavam fugindo do assunto mais uma vez.

-Certo! Diga! – retrucou ela irritada, voltando para a sua leitura logo em seguida. Harry, que também já começava a se impacientar, perguntou:

- Você não lembra de nada que aconteceu ontem à noite?

- Eu tenho mais alguma coisa pra lembrar? – devolveu ela, agora levantando ligeiramente o tom de voz. Enquanto Harry a encarava de volta abismado. – Olhe, Harry, essa conversa não parece estar levando a nada, agora eu preciso terminar esse livro até segunda-feira...

- Espere! – exclamou ele num sussurro, segurando o braço da garota e impedindo-a de se levantar.

- Harry o qu...

- Você não se lembra? Bem... Deixa eu refrescar a sua memória então... – retrucou Harry. – Ontem à noite, você veio até o dormitório... E, bem... Você sabe! – como a amiga não mostrou sinal nenhum de saber a que ele se referia, Harry simplesmente falou – O beijo?!

-Beij...?

-O beijo que você me deu ontem à noite? – soltou Harry já terrivelmente impaciente com a atitude da garota.

-O que?! – ela pareceu mais surpresa do que qualquer outra coisa, enquanto encarava o amigo. Claramente ela esperava que ele fosse gargalhar e dizer que estava brincando com a cara mais deslavada do mundo. Entretanto, a visão de que Harry parecia realmente estar falando sério, fez surgir um violento corado no rosto da garota.

-O que foi? – reclamou Rony do canto da sala, tamanho o berro que Hermione deu. Mas nem ela nem Harry pareciam prestar muita atenção na terceira presença no cômodo:

- Harry! Eu não sei que tipo de sonho maluco você teve! Mas eu não fiz isso!

- Eu não... Não foi um sonho Hermione, pelo amor de Deus! – e ela pareceu notar a convicção do garoto:

- Bom, então você me confundiu com outra pessoa!

- Eu acho isso meio difícil de acreditar! – retrucou ele agora levantando o tom de voz.

- Pessoal, o qu... – começou Rony agora se levantando da cadeira.

- Quero dizer... Não é como se você estivesse muito distante certo?

- O quê?! - exclamou ela parecendo ligeiramente ofendida.

- Hei! – gritou Rony, fazendo agora ambos pararem e olharem para ele. – O que está acontecendo aqui?

-Harry acha que eu fui até a cama dele ontem à noite!

-Eu não acho Hermione, eu sei que você foi!

- Não fui!

- Você foi na cama dele?! – perguntou Rony incisivo - Fazer o que?

- Eu não fui! – insistiu ela, agora se voltando para Rony.

- Foi sim! Você foi lá e me acordou de madrugada, e então você me beij... – ele se interrompeu rapidamente, mas já era tarde demais.

- Como? – perguntou Rony, parecendo ameaçadoramente irritado.

Aqui Hermione olhou para Harry e ele pode notar que não era o único a perceber que não deveria ter liberado esse pequeno detalhe...

-Você beijou ele?! – retrucou Rony se virando para Hermione.

-Não! – confirmou ela, parecendo ainda mais nervosa do que antes.

- Harry? – perguntou ele agora se voltando pro garoto, com um tom de voz extremamente incisivo.

- E-eu... Bem... – logo, uma solução lhe veio à mente... – Tudo bem! Eu posso dizer a cor da camisola que você usou ontem!

- Sério! E qual era então? – desafiou ela parecendo descrente.

- Branca. Com um robe branco. – retrucou Harry simplesmente, e pelo olhar da garota, ele estava certo. Só não compreendia porque ela insistira tanto, se no fim era mentira.

Hermione abriu a boca e fechou novamente sem saber o que dizer, enquanto Rony, pela expressão da garota percebeu logo a confirmação:

- Ele está certo?

- O qu... E-eu... –balbuciou ela - Eu não sei como você sabe disso Harry! Mas eu já disse que eu não estive no seu quarto ontem à noite!

- Então quem foi? – retrucou Harry exasperado.

-Eu não sei! Outra pessoa que não eu!

- Espere! – começou Rony, parecendo extremamente irritado e de modo desconfortavelmente sarcástico – Então, basicamente, o que você está dizendo é que alguém, parecido com você, mas que não era você! Entrou no nosso dormitório e atacou Harry. Bom, isso faz muito sentido!

Mas Hermione não parecia prestar muita atenção, ela simplesmente se virou para observar Rony, com cara de quem acabara de perceber algo. Harry, que observava a amiga atentamente não demorou muito para acompanhar a sua linha de pensamento...

- Sabe? – começou ela lentamente - Na verdade até que faz sentido...

-O qu... – ele interrompeu o que quer que fosse dizer. E pela expressão no rosto do amigo, Harry tinha certeza de que ele também havia compreendido. – Uma poção Polissuco...?

- Bom, faz sentido... – raciocinou Harry.

- Claro que faz! – confirmou Hermione. Seguindo então em direção ao buraco do retrato.

- Hei! – chamou Harry – Aonde você vai?

- Biblioteca... – como tanto Rony, quanto Harry não pareceram compreender o raciocínio da amiga - Madame Pince! Ela mantém uma lista de todos os livros que são emprestados da biblioteca... Se alguém pegou qualquer livro que ensine a fazer uma poção dessa ela vai saber...

- Certo! – concordou Harry enquanto via a garota sumir pelo retrato. Deixando ele e Rony sozinhos...

Não foi preciso muito esforço da parte de Harry para perceber que o clima no local pesou rapidamente... Certo de que tudo fora um mal-entendido, Harry se enganara em achar que Rony encararia o ocorrido na esportiva. De fato, ele parecia ter alguma coisa o incomodando, e não demorou muito para que ele expusesse o que era alguns minutos depois...

- Sabe? Eu não entendo porque alguém faria isso... – murmurou ele.

- Bem, pareceu claro o suficiente para mim... – retrucou Harry, sendo sincero. Mas com a sensação de que o amigo ainda não chegara onde queria...

- Não... Não isso... – explicou ele - O que eu quero dizer é... Por que alguém se passaria por Hermione para fazer isso? – logo, se tornou claro para Harry onde aquela conversa iria terminar... Não que ele próprio já não esperasse isso... De alguma forama ele sabia que uma hora um deles acabaria por tocar no assunto, e fora Rony.

- O que você quer dizer?- respondeu Harry, agora se voltando para o garoto.

-Exatamente o que eu perguntei. – retrucou ele com um tom que Harry achou desconfortavelmente familiar. – O que faria alguém pensar que se passndo por Hermione iria ser mais fácil de chegar até você?

- Eu não sei. Mas eu suponho que você vai poder perguntar pessoalmente certo? Assim que agente encontra-la... – rebateu Harry, que já começava a se irritar novamente com os rodeios do amigo.

- Ou você poderia esclarecer isso de uma vez agora não?

- Rony, se você quiser dizer algo diga de uma vez! Não fique enrolando! – retrucou Harry levantando o tom.

- Certo então! – gritou Rony, se irritando tanto quanto ele.

- Ótimo! – gritou Harry de volta, agora se levantando da poltrona em que estava sentado.

- Hei! Meninos! Eu peguei a lista... – ambos se voltaram para a porta do retrato ao ouvir a voz de Hermione voltando ofegante. – São cinco nomes... Três garotas e... Bem... Dois garotos... E... – parando para finalmente observar a cena, ela pode ver ambos em pé, parecendo extremamente irritados - O que houve? Vocês estavam brigando? – perguntou ela lentamente, agora seguindo em direção aos dois. Harry se preparava para responder a pergunta dela, mas foi interrompido por um Rony surpreendentemente calmo, que obviamente não queria transparecer o momento anterior onde ambos quase avançaram um no outro:

-Não... Claro que não! – exclamou ele completando a frase com um sorriso. – Então você achou?

- Bem... Achei... – respondeu ela parecendo desconfiada, e se voltando para Harry.- O que está acontecendo?

-Nada! Bem, agora que você tem os nomes agente pode começar a procurar essa pessoa certo? – desconversou ele.

- Certo... Podemos. – respondeu ela ainda encarando-o.

-Bem... Eu talvez seja melhor agente ir dormir e deixar isso pra amanhã então não Harry? – sugeriu Rony, olhando para Harry, que não pode deixar de perceber que o amigo ainda estav bastante irritado, por mais que tentasse esconder isso de Hermione, e não era o único...

- Certo. – retrucou ele, encarando o amigo de volta.

E assim todos fizeram... Ambos, ele e Rony esperaram Hermione entrar no dormitório feminino em completo silêncio. E a atmosfera não mudou muito ao entrarem no quarto, onde Harry se sentou em sua cama e observou Rony fechar a cortina ao redor da sua sem um pio sequer...

Ele não podia culpar o amigo por pensar daquela forma, quando ele próprio sabia que, sendo Hermione ou não, o fato era que o beijo não teria acontecido se ele o recusasse...– pensou Harry ao colocar a cabeça no travesseiro.

Ótimo... Aquilo era exatamente tudo que ele precisava no momento...

Harry gostaria de pensar que aquele conflito entre ele e o amigo seria passageiro e sem importância, entretanto, as poucas vezes nas quais Rony lhe dirigia a palavra era quando Hermione estava por perto, o que significava simplesmente que a única razão para o garoto falar com ele era puramente para que Hermione não percebesse que o relacionamento dos dois estav abalado...

Os dias seguintes não foram muito diferentes... De fato Harry já estava começando a se irritar com a situação... Na realidade a situação se resumia mais a Rony propriamente dito. Não que ele não estivesse falando com Harry, na verdade ele até falava... Estritamente o necessário, ele devia acrescentar.

Mas mesmo assim, o esforço implícito dos dois não foi suficiente para esconder o fato de que algo havia mudado entre eles... Pelo menos não dos outros...

E por mais complicado e doloroso que fosse pensar que a sua amizade com seu mlhor amigo Já não era mais a mesma, ele não pode deixar de pensar, ao entrar no vestiário aquela tarde, que apesar dos pesares, era um alívio que os acontecimentos mais recentes não houvessem influenciado a performance do garoto como goleiro...

A última briga que os dois tiveram não fora muito agradável, e após aquele episódio em seu quarto ano de amizade ele teve certeza de que faria o possível para que o mesmo não ocorresse novamente, afinal ele pode não ter admitido, mas sentiu falta do amigo por perto... Entretanto, mesmo com o peso da amizade entre os dois nas suas costas, Harry sabia que dessa vez a situação era diferente, e até mais complicada por assim dizer... Desta vez havia algo mais entre eles... Algo além de birra ou até ciúmes infantil, (como ele próprio admitira da última vez). Dessa vez o motivo, admitindo ele ou não, surpreendentemente era Hermione... Bem... Pensando novamente, tinha sim muito haver com ciúmes...

- Vocês estão atrasados! – escandalizou Kátia assim que Harry colocou sua luva esquerda.

- Nós estávamos ocupados... – retrucou Rony, visivelmente de mal-humor. Não só eles como Hermione estavam a poucos minutos conferindo a lista de nomes que a garota havia recolhido alguns dias atrás... Três dos nomes haviam sido cortados... O teste de poções que Snape passara para os alunos do terceiro ano fora o motivo principal, além da recusa de Harry a acreditar que um garoto poderia ter feito aquilo.

- Fazendo o que? – se irritou ela. Obviamente, para a garota, nada , absolutamente nada deveria vir antes do quadribol, e aquilo não passava de um pequeno lapso por parte dos garotos...

- Sabe? Essa é uma ótima pergunta! – concluiu ele se voltando para Harry.

- Rony eu não vou discutir isso com você de novo! Você está sendo estúpido...– desdenhou Harry de volta. Ficou claro que a tolerância entre os dois não andava lá das melhores, quando o garoto se voltou para ele pronto a falar algo não muito educado, mas foi interrompido por Kátia que se colocou entre os dois, entretanto Harry teve uma boa idéia do que era mesmo assim... Irritando-se ainda mais.

-Hei! – gritou ela.

-O que diab... – começou Giny. Logo harry tomou a constrangedora consiência de que todo o time estava reunido no vestiário assistindo a discursão dos dois. E a julgar pela expressão do amigo, ele também o notara... – O que está acontecendo? – perguntou a garota, tão chocada quanto o resto do time, que observava a cena em silêncio.

Um apito se fez ouvir ao longe. O jogo ia começar, e o time estava atrasado.

- Olhe. – começou Giny irritada. – Eu não sei o que diabos está acontecendo com vocês esses dias... – uma ligeira tussida vinda de um dos batedores pode ser ouvida no local. – Mas o que quer que seja, deixem aqui! Nós temos um jogo agora.

-Giny está certa! – completou Kátia – Vamos...

Dito e feito. O jogo não demorara muito para acabar... De fato fora bastante rápido, por alguma razão, que Harry desconhecia, Malfoy não se encontrava no nível usual de suas abilidades... Não que ele estivesse reclamando... Mas não era muito comum ver Malfoy tão desatento durante um jogo de quadribol, especialmente contra Harry.

Quanto a briga, não havia muito que Harry pudesse fazer para apagar a confusão no vestiário... Já não tinha como voltar atrás no ocorrido. Verdade que a “delicadeza” da situação entre os três já estava clara o suficiente para todos, apesar de ninguém comentar sobre tal, pelo menos não na frente deles...

Entretanto, sempre havia certas exeções à regra... Tais como Malfoy... Afinal, qual a graça de falar mal de alguém, se não na frente dele?

Num dia normal, Harry com certeza se sentiria irritado com o ataque de Malfoy e obviamente revidaria... Talvez, houvesse uma remota possibilidade de que ele usasse violência, considerando que Crabbe e Goyle ladeavam o garoto. Entretanto, seu dia fora péssimo, precedido por uma semana pior ainda. Na verdade havia tanto em sua cabeça ultimamente que sua paciência já havia esgotado há muito tempo para ser tolerante o suficiente apara ignora-lo... Ele precisava liberar toda a irritação daquela semana... E quem melhor que Draco Malfoy para isso? E foi assim que ele se justificou com McGonnagal, vinte minutos depois de ter atacado Malfoy e inchado-lhe um olho, além de quebrar-lhe o nariz.

Visto que ele deveria cumprir uma semana de detenção com a professora apartir de segunda –feira, a desculpa não funcionara muito bem.

Então, qualquer outra pessoa, acharia que a satisfação com a qual ele seguira de volta para a sala comunal era no mínimo estranha... Qualquer pessoa que não visse a briga atentamente claro... Pois no momento em que Harry avançara em Malfoy para se defender, ele não fora o único. E ele próprio se surpreendera ao ver que ao ser apartado do garoto, Rony também se envolvera na confusão. E por mais que Harry soubesse que o amigo não ia admitir, ele sabia também que o intuito de Rony era defende-lo... O que provava que apesar dos pesares... Os dois ainda eram amigos...

O clima se tornou sensivelmente mais leve entre os dois nos dias seguintes. Era quase como se as coisas houvessem voltado a ser como antes... Quase... Haviam momentos ligeiramente desconfortáveis, claro... Afinal, mesmo que as cartas não houvessem sido colocadas abertamente à mesa ainda, tanto ele quanto Rony sabiam que querendo ou não, cedo ou tarde, a questão teria de ser resolvida entre os dois... Uma pena... –pensou Harry no Sábado seguinte - Que fora tão cedo...

Era sexta feira, Seu último dia de detenção, e Harry seguiria para a sala de McGonnagal enquanto Rony e Hermione iriam checar os dois últimos nomes da lista... Eram duas garotas, ambas da Corvinal, sétimo ano...

Harry nem ao menos lembrava de as ter visto pelo colégio, entretanto, eram as únicas opções... Uma delas haveria de ser... – pensou ele enquanto deitava no sofá à frente da lareira acesa, a noite estava particularmente fria, tornando o local ainda mais aconchegante, especialmente após tanto escrever à mesa da Professora em detenção...

Ele estava sozinho, a maioria dos alunos estava jantando provavelmente... Isso não acontecia muito freqüentemente, estar sozinho, e apesar do extremo silêncio no local, Harry começou a achar que talvez fosse melhor manter sua cabeça ocupada com o que quer que fosse, visto que logo começaram a surgir milhares de problemas em sua mente... De repente ele se viu desejando, por mais que odiasse admitir, ter uma mãe por perto... Cm certeza ela saberia aconcelhá-lo naqeula situação... De fato, ele estava tão entrertido sem seus próprios pensamentos, que nem ao menos vira, ou ouvira, alguém entrar na sala...

Hei... – falou a garota. Harry levantou a cabeça para ver Hermione em pé atrás do sofá.

-Oi... – respondeu ele – Eu não te ouvi entrar... – estranhou ele, perguntando logo em seguida- Onde está Rony?

- Bem, ele ainda está na biblioteca... –explicou ela – Nenhum dos nomes significava muito, então ele está checando mais uma vez o registro...

-E você? – perguntou Harry de volta, vendo a garota sentar-se ao seu lado.

- Eu vim ver se você já tinha voltado... Como foi?

- O que?

- A detenção... – respondeu ela, fitando –o atentamente.

- Ok, eu acho...

- Harry... – começou ela, parecendo receosa. – Bem... Eu, eu estou um pouco preocupada com você...

- Comigo?

- É. Quero dizer... Você vive calado, quase nunca fala sobre o que está sentindo!

- Sentindo? – estranhou Harry. – Sobre o que?

- Tudo... Você se fecha todo, não deixa ninguém te ajudar... – começou ela – Por exemplo... No que você estava pensando?

-Hãn?

- O que você estava pensando? Agora, pouco antes de eu chegar...

- E-eu não sei... Nada importante... – mentiu ele.

- Mentira... – retrucou ela simplesmente, se aproximando dele séria. – Você estava pensando neles não era?

- O qu...

-Seus pais...? –ela encorajou. Vindo de qualquer outra pessoa, Harry se surpreenderia se ela descobrisse o que ele estava sentindo... Entretanto, aquela não era a primeira vez que Hermione o fazia... Harry se sentiu derrotado, e pela expressão da garota ela percebera. – Eu aposto que você sente falta deles não é? – perguntou ela encarando –o nos olhos.

- Eu suponho que não dê pra sentir falta do que nunca se teve Hermione... – retrucou Harry. Ele estava desconfortável... Havia algo de errado naquela conversa... Ele não sabia exatamente o que era, mas ele sentia uma sensação ruim sobre aquilo...

- É... Eu suponho que sim... – ela concordou baixando a cabeça, e observando a palma da mão esquerda, e Harry pode ver sob a luz da lareira a cicatriz do corte feito por volta de dois meses atrás. – Seria tão mais fácil se... Se agente pudesse fazer com eles o mesmo que agente fez com Sirius não?

-O que você está dizendo...? – perguntou Harry lentamente.

- Certo... – continuou ela calmamente, ainda de cabeça baixa.- Bem... Eu suponho que sempre existem outras formas não...? Quero dizer... Mais fáceis... –disse ela, agora se virando para encarar o amigo nos olhos novamente. Entretanto os olhos de Harry se voltaram novamente para as mãos da garota, que antes vazias, agora acariciavam um punhal. Mas não qualquer um, não demorou muito para que Harry reconhecesse o punhal nas mãos da garota.

- Hermione...

- Por exemplo... Eu sei uma forma de fazer você ficar perto deles de novo...- falou ela seriamente, encarando Harry, que começava a sentir o sangue gelar em suas veias. – Não vai doer... Eu te prometo isso... – então ela sorriu.

Harry pode sentir um peso na boca estômago, seguido de uma sensação de alerta que o fez levantar rapidamente, seguindo para o lado oposto da sala, puxando a varinha logo em seguida e apontando para a garota. Ela nada fez... Apenas se levantou e encarou o amigo, ainda com um sorriso nos lábios.

- Quem é você? – perguntou Harry enquanto sentia o coração bater fortemente.

Logo um barulho de conversa se fez ao longe. Harry pode ouvir uma voz familiar pelo buraco do retrato:

- Eu não sei como Rony! – respondeu Hermione parecendo irritada. – Mas não fui eu!

-Então quem foi Hermione!? – devolveu Rony também irritado.

- Eu n... – mas logo ela se interrompeu ao entrar no local e visualizar a cena congelada. Harry, parado no canto da sala, com varinha em punho, apontada para o que parecia ser... Ela própria.

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