A História de McGonagall



A História de Minerva McGonagall

“Seus verdadeiros pais.” A frase ecoou em minha cabeça como um grito ecoa em uma caverna. Por que conversar sobre os meus verdadeiros pais? Eu já sei muita coisa sobre eles. Sei que meu pai era um bruxo muito habilidoso, que morreu sete meses antes do meu nascimento. Sei que minha mãe também era bruxa e morreu em conseqüência de complicações pós-parto. Ah, também sei que foi minha mãe quem escolheu o nome de “Anaximandra” para mim.


 Saber tudo isso já não é suficiente? Quero dizer, eu nunca os conheci. Sempre vivi muito bem com minha mãe Judith e meu pai Richard. Eles me alimentavam, me colocavam na cama na hora de dormir, me contavam histórias, ouviam meus problemas, me davam conselhos e carinho. Na prática, eles eram meus verdadeiros pais. Então por que seria tão importante eu saber sobre meus pais mortos?


 -“Ana, você sabe que, quatorze anos atrás, houve uma guerra entre os bruxos, não sabe?” – perguntou a professora Minerva.


 Eu fiz que ‘sim’ com a cabeça, ao que ela prosseguiu:


 -“Seu pai morreu na guerra. Sua mãe, por ser aliada de Voldemort, foi presa. Você sabe quem era Voldemort, não sabe?”


 -“Sei, era um bruxo das trevas, mas nunca imaginei que minha mãe pudesse ter sido aliada dele.”


 -“Ela era. Na verdade, sua mãe descendia de uma família cujos membros eram inclinados às artes das trevas. Não todos, é claro, mas a maioria. Conheci sua mãe quando ela era ainda mais nova do que você. O nome dela era Bellatriz Black.”


 Era a primeira vez que eu ouvia aquele nome e não pude deixar de pensar que era um nome bonito. Mas espere aí, se minha mãe se chamava Bellatriz, por que eu tenho que ser Anaximandra? Estou falando sério.


 -“Quando Voldemort foi definitivamente derrotado, houve uma implacável perseguição a seus seguidores. Sua mãe foi uma das que mais resistiu, demoramos quatro meses para encontrá-la. Na verdade, foi ela quem se entregou.” – disse a professora.


 -“Se ela estava resistindo e enganando os perseguidores, por que se entregou?” – eu perguntei.


 -“Porque ela estava grávida.” – respondeu McGonagall, que continuou – “Os Comensais da Morte que não foram presos imediatamente após a queda de seu senhor protegeram Bellatriz, mas o cerco sobre ela se fechava cada vez mais. Quando ela se entregou, já estava no sexto mês de gestação. Ela já tinha mais de quarenta anos e sabia que estava vivendo uma gravidez de risco. Sua mãe tinha consciência de que jamais poderia ter você com um mínimo de saúde enquanto estivesse fugindo, acampando em lugares ermos e em barracas improvisadas, quase sem ter o que comer. Ela se entregou para que você pudesse nascer em um hospital, com acompanhamento médico e cercada de cuidados.”


 Eu não encontrei o que dizer. Aquilo tudo era muita informação para absorver tão rápido. Por sorte, a McGonagall ainda tinha muitas coisas a explicar, então eu podia continuar calada, apenas escutando ao que ela dizia:


 -“Ana, a essa altura você já deve ter deduzido algumas coisas sobre sua mãe. Por ela ter se aliado a um dos mais temidos bruxos das trevas da história, é possível perceber que ela não era a melhor das bruxas. Contudo, ao se entregar ao Ministério da Magia para salvar a vida de seu bebê, ela demonstrou que ainda tinha alguma bondade dentro dela, mesmo que tal bondade tivesse permanecido oculta por muito tempo.”


 Houve uma pequena pausa, durante a qual notei que o retrato de Alvo Dumbledore, um dos antigos diretores de Hogwarts, me encarava com um olhar bondoso. Sempre achei que ele parecia um velhinho muito simpático. Aquele tipo de avô que põem os netos no colo e lhes conta histórias de tempos remotos.


 De repente, alguém à esquerda da escrivaninha da Diretora pigarreou. Judith, Richard, McGonagall e eu viramos depressa para ver quem era.


 -“Desculpe a intromissão, nobre Diretora, mas acho que ouvi o nome ‘Black’. Estou certo?” – era o retrato de Fineus Nigellus.


 -“Meu Deus, eles falam!” – exclamou Richard.


 Fineus Nigellus fez um gesto de impaciência e murmurou algo como: “Pfuit, toruxas!”.


 -“O senhor está certo, sr. Nigellus, estamos falando de uma de suas tataranetas, Bellatriz.” – disse McGonagall, visivelmente irritada com a interrupção.


 -“Então deveriam ter me acordado antes! Assuntos de família são de meu mais alto interesse.” – afirmou o retrato, em tom garboso.


 -“Pois agora o senhor já está acordado e poderá escutar.” – disse a Diretora. –“Quando o Ministério prendeu Bellatriz, eles a encaminharam para um hospital trouxa, para sua própria segurança.”


 -“Uma Black puro-sangue internada em um hospital trouxa? Isso é um ultraje!” – bradou Fineus Nigellus, ao que os outros quadros que estavam acordados fizeram ‘sshi’, mandando-o calar-se.


 -“Desculpe, professora, mas não estou entendendo. Não seria melhor para ela ter sido internada do St. Mungus?”


 -“Entenda, Ana, naquela época os Comensais estavam sendo perseguidos por toda a comunidade bruxa. Sua mãe havia torturado e assassinado muita gente, se ficasse no St. Mungus, correria um sério risco de sofrer um atentando.” – explicou a professora, quase com o mesmo tom didático que usava em suas aulas.


 -“Agora entendo.” – murmurei. – “As pessoas são realmente vingativas.”


 -“Algumas.” – disse McGonagall. – “O Ministério simulou a prisão de Bellatriz em Azkaban, ocultando o fato de que ela estava grávida. Ao mesmo tempo, ela foi internada com um nome falso em um hospital trouxa, permanecendo atentamente vigiada por muitos aurores.”


 -“Eu ajudei a cuidar dela.” – disse Judith – “Eu era uma das enfermeiras daquele hospital na época. Ana, eu estava ao lado de sua mãe quando você nasceu, ajudei a fazer o parto.”


 Era a primeira vez que ela me contava aquilo.


 -“Você era tão pequenininha, tão delicada!” – continuou minha mãe adotiva. – “Apesar de não ser um bebê prematuro, você nasceu muito abaixo do peso considerado adequado. Eu cuidei de você. Dediquei-me exclusivamente a você até que seu estado de saúde se estabilizasse.”


 Nisso, ela começou a chorar. Era um choro discreto e silencioso, mas me deixou constrangida do mesmo jeito. Eu não fico muito à vontade em momentos como esse. Felizmente, Richard estava lá para consolar a esposa e oferecer-lhe um lenço.


 -“Bellatriz não resistiu ao parto.”- Começou McGonagall – “Os médicos conseguiram estabilizá-la por mais algumas horas, mas ela acabou falecendo. Antes de morrer, porém, ela me chamou.”


 -“A senhora?” – eu não pude deixar de me surpreender.


 -“Sim, Ana. Eu acompanhei boa parte da estadia de sua mãe no hospital e estava lá no dia do seu nascimento. Ela mandou me chamar e pediu que ficássemos a sós. Durante a breve conversa que tivemos, ela me perguntou se havia tido um filho ou uma filha. Quando eu respondi que era uma menina, seus olhos brilharam. Então ela me pediu, como último desejo, que eu a batizasse com o nome de Anaximandra, e que tomasse providencias para protegê-la. Bellatriz sentia que seu fim estava próximo, então procurou assegurar-se de que você ficaria bem.”


 A voz da professora estava ficando cada vez mais pausada. O choro de Judith havia aumentado e ela agora soluçava. Sem-jeito, eu dei uns tapinhas no ombro esquerdo dela. Ao meu redor, eu podia ouvir alguns quadros fungarem.


 -“Eu havia ficado amiga de Judith, que, por coincidência, estava tendo dificuldades para engravidar. Conversamos, e ela aceitou ficar com você. Eu achei que seria mais seguro se você fosse adotada por uma família trouxa, pelo mesmo motivo que tinha sido mais seguro para sua mãe ficar em um hospital trouxa: alguém poderia querer se vingar delaem você. Paracompletar meu plano de proteção, consegui um falso atestado de óbito para Anaximandra Black Lestrange. Poucas pessoas souberam que você, na verdade, continuava viva. O atestado de óbito enganou até mesmo ao Ministério.” – disse McGonagall.


 -“Lestrange?” – eu repeti o sobrenome, tentando me lembrar se já o havia escutado antes.


 -“Isso mesmo.” – continuou a Diretora – “Sua mãe tinha sido casada com Rodolfo Lestrange, que morrera durante uma fuga, pouco antes da prisão da esposa. Todos acreditavam que ele era o pai da criança, ou seja, seu pai.”


 -“Não era?” – eu perguntei, outra vez surpresa.


 -“Não. Durante a conversa que tive com Bellatriz, pouco antes de sua morte, ela me confessou que seu pai era, na verdade, Tom Riddle.”


 -“Nunca ouvi falar. Quem é ele?”


 -“Tom Riddle é o nome verdadeiro de Lord Voldemort.”


  


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Comentários (1)

  • Duda Sousa

    acabei de descobrir a fic, mas ja estou amando! Muito boa, parabéns!

    2012-11-02
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