A Liga de Aperfeiçoamento em M



A Liga de Aperfeiçoamento em Magia


Não vi Troy pelo resto do final de semana. Para conseguir fazer todos os meus deveres de casa em paz, longe dos olhares estranhos de Jules, Devon e dos outros colegas sonserinos que tinham me visto andando com os grifinórios em Hogsmeade, tive que me refugiar na biblioteca.


Quando a manhã de segunda-feira finalmente chegou, eu não sabia o que fazer. Deveria passar na mesa da Grifinória para desejar um bom dia ao meu namorado antes de tomar meu café-da-manhã? Eu nem sabia ao certo se tinha mesmo um namorado.


Ao entrar no Salão Principal, porém, Troy resolveu tudo por mim. É tão bom ter um namorado tão decidido! Bem, pelo menos eu acho que o beijo que ele me deu na frente da escola inteira significa que nós estamos mesmo namorando.


Tive que me segurar para não rir quando Connie derrubou o leite em cima das vestes ao invés de dentro da tigela de cereal integral que a mãe dela manda toda a semana para o café da manhã diet dela, já que, segundo ela, o cereal normal de Hogwarts tem açúcar suficiente para transformar em diabéticos obesos qualquer aluno que passe sete anos comendo aquilo. Só que é claro que aquilo é a maior bobagem, já que Jules e eu sempre comemos duas tigelas do cereal normal com açúcar de Hogwarts todas as manhãs e não engordamos. Mas talvez seja porque eu sou magra de ruim e a Jules pratica quadribol, o que aparentemente elimina todas as calorias extras dela. De qualquer forma, a expressão de puro espanto da Connie ao me ver beijando Troy em público foi a melhor coisa que já vi em meus quatro anos em Hogwarts.


-“Connie, você deixou cair leite nas vestes.” – Tereza Hornby tentou avisar.


-“Cala a boca, Tereza!” – Connie bufou, se levantando e saindo correndo do salão.


Troy nem se deu ao trabalho de reparar na desolação de Connie. Quando eu fiz menção de ir sentar à mesa da Sonserina, ele me pediu que sentasse ao seu lado, argumentando que ninguém iria reparar.


Só que a Grifinória inteira ficou me encarando. Eu era o pontinho verde-e-prata no meio do vermelho-e-dourado, igualzinho àquelas piadas de “o que é o pontinho verde no meio de uma mesa vermelha?”. Naquele dia a resposta era: é a Anaximandra Stevens na mesa da Grifinória.


Do outro lado do salão, Jules e Devon olhavam boquiabertos em minha direção. Era divertido não ser eu a pessoa de queixo caído para variar. Deu para reparar que a atitude de apoio de Troy e seus amigos em relação a mim gerou uma mudança de atitude nos outros colegas. Se metade do time de quadribol da Grifinória, A Casa mais respeitada e mais anti-artes das trevas de Hogwarts, estava do meu lado, isso só poderia significar que eu não era assim tão má.


E apesar de eu ainda não estar acostumada com essa idéia totalmente revolucionária na minha vida que era ter um namorado – e beijá-lo freqüentemente em público, porque ele aparentemente gostava muito desse tipo de coisa – era bom demais ser alvo de olhares por estar com o cara mais desejado da escola, e não por ser filha de bruxos das trevas cruéis.


Até mesmo o jornal havia decidido dar uma trégua para mim, aparentemente. A reportagem que estampava o Profeta falava sobre algum acidente na seção de controle de criaturas mágicas do ministério, ou seja, nada com relação à minha vida.


Então Troy me contou os planos para a primeira reunião d’ A Liga de Aperfeiçoamento em Magia,  ou ALAM, que era como eles tinham decidido chamar o grupo de estudos que eu deveria liderar. Ficou decidido que nos encontraríamos no terceiro andar, na sala de aula abandonada que fica ao lado da sala de Transfiguração. Como a professora McGonagall ainda não tinha voltado a dar aulas, era bem pouco provável que ela nos pegasse no flagra, segundo explicou Rufus Fowler.


-“Por que nós não registramos nosso grupo como um clube normal de Hogwarts? Assim podemos obter permissão para nossas reuniões sem fazer nada em segredo.” – eu perguntei.


-“Não podemos porque não queremos que qualquer um entre para o nosso grupo.” – Patrick McLaggen explicou. – “É um grupo muito exclusivo, entende?”


-“E além disso,” – sua irmã gêmea, Alicia, acrescentou. – “a diretora pode não concordar completamente com as nossas reuniões.”


Eu não entendi como a McGonagall desaprovaria um grupo de estudos, mas não quis questionar. E nem tive tempo, porque naquela hora o sinal do primeiro tempo soou.


 


Acontece que Rufus Fowler estava certo: a professora McGonagall ainda não tinha voltado a dar aulas. Será que ela estava doente? Poderia ter contraído algum tipo de varíola de dragão ou algo assim? Uma doença na idade dela poderia ser fatal. Será que ela estava internada no St. Mungus à beira da morte? Não havia como descobrir.


Bom, na verdade tinha um jeito de descobrir.


-“Huum, professor Flitwick?” – eu perguntei, me aproximando da mesa dele no final da aula.


Ele levantou os olhos de uma pilha de deveres de casa e me olhou, levemente surpreso.


- “Sim, Srta. Stevens?”


- “Eu gostaria de saber, se o senhor puder contar, é claro, onde está a professora McGonagall e quando ela volta.”


- “A professora McGonagall está resolvendo assuntos de Hogwarts.” – eu pude perceber que ele hesitou antes de dar aquela resposta, quase como se tivesse parado alguns segundos para pensar no que iria dizer.


- “Ela não está internada no St. Mungus com varíola de dragão ou algo parecido?” – os olhos dele se arregalaram.


- “Mas que coisa! Não, é claro que não!”


- “Professor, se o senhor estiver com medo de que eu espalhe alguma história por Hogwarts, não precisa se preocupar, eu sei guardar segredo. Se há algo errado, o senhor pode me dizer a verdade. Inclusive, minha mãe é enfermeira e poderia tratar dela. Minha mãe adotiva, quero dizer. Tudo bem que ela é trouxa e não saberia tratar doenças mágicas, mas se a professora McGonagall estiver com algum tipo de pneumonia, minha mãe com certeza pode ajudar.”


Os olhos do pobre professor Flitwick ficaram maiores do que os de um elfo doméstico.


- “Do que a senhorita está falando? A professora McGonagall não está doente, está tratando de assuntos da escola.” – ele juntou os deveres dos alunos com um floreio da varinha e os pôs para levitar atrás de si. – “Eu entendo que este período escolar tem sido difícil para a senhorita, mas as férias de Natal estão próximas e logo poderá descansar.”


Enquanto o professor caminhava em direção à porta, a pilha de deveres o seguia, flutuando no ar.


- “E agora, se a senhorita não tem mais perguntas, eu tenho mais de cinqüenta redações para corrigir.” – foi a última coisa que ele me disse antes de sair caminhando o mais rápido que suas perninhas curtas lhe permitiam.


Essa é muito boa mesmo! Minhas preocupações genuínas e totalmente altruístas em relação ao bem-estar da professora McGonagall foram confundidas com um delírio gerado pelo estressante período escolar que eu estou tendo. Não, professor Flitwick, eu ainda não estou tão desmiolada assim.


  


Ninguém mais quis me dar notícias sobre o estado de saúde da professora McGonagall. Todos os professores agiam como se eu estivesse louca quando perguntava sobre o assunto.


A reação mais estranha de todas foi disparado a do professor Longbotton. Quando perguntei onde estava a professora McGonagall ele olhou por toda a estufa, certificando-se de que estávamos sozinhos, me convidou a sentar e disse:


-“Srta. Stevens, deixe-me contar uma história. Há algum tempo atrás – eu não era mais velho do que você – um professor de Hogwarts mudou a minha vida.”


Estava na cara que aquilo ia demorar. Minha barriga roncou e eu resisti ao máximo a tentação de pensar no almoço quente e gostoso que estaria sendo servido no salão principal naquele exato momento. Longbotton não pareceu reparar no meu desconforto.


-“O nome dele era Lupin, professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.”


-“Espera, Lupin não é o nome do...”


-“Ted Lupin, sim. O professor era pai dele.”


Segurei meu queixo para não deixá-lo cair. Acho que finalmente estou ficando boa nisso. Longbotton continuou:


-“Bem, o professor Lupin gostava de mostrar na prática as criaturas mais estranhas e como nos defendermos delas. A aula sobre bichos-papões foi a mais assustadora e mais divertida de toda a minha vida. Você deve estar se perguntando como isto é possível. Diga-me, Srta. Stevens, como se espanta um bicho-papão?”


-“Com risadas?”


-“Exatamente. Muitas risadas, o mais forte que conseguir. O bicho-papão, contudo, não torna esta tarefa muito fácil. Ele assume a forma daquilo que mais nos dá medo, por isso ele é tão assustador, porque assume uma forma específica para cada pessoa. Naquela época, o que mais me assustava era nosso professor de Poções. Então, quando Lupin me chamou à frente e me disse que eu deveria pensar em algo que tornasse o professor de Poções engraçado, eu fiquei completamente perdido.”


O professor Longbotton fez uma pausa, deixando escapar uma risadinha como se tivesse acabado de se lembrar de alguma piada particular. Eu ainda estava me perguntando aonde ele queria chegar com tudo aquilo.


-“Naquela época, minha avó ainda era viva. E ela costumava usar vestes, digamos, pouco convencionais. Vestidos cheios de babados e rendas, chapéus pontudos com urubus empalhados e uns sapatos vermelhos simplesmente terríveis. Essa foi a sugestão de Lupin, que quando bicho-papão assumisse a forma do professor de Poções eu o forçasse a vestir as roupas da minha avó. É claro que foi um sucesso, não apenas contra o bicho-papão, mas para que eu não tivesse mais tanto medo do professor de verdade.”


O professor Longbotton me olhou diretamente nos olhos antes de continuar:


-“O que eu quero dizer, Srta Stevens, é que às vezes o que nos causa medo pode nos paralisar, mas se você encontrar forças em algum lugar para rir, o medo se torna menos... assustador.”


-“Hum, certo.” – murmurei, tentando soar como se tivesse compreendido o que quer que ele esperava que eu compreendesse com aquela história.


 


Na noite da primeira reunião da ALAM, eu me esgueirei para fora do dormitório feminino coberta pelo melhor feitiço da desilusão que consegui executar. Não demorei muito para chegar ao local combinado, a sala vazia ao lado da sala de Transfiguração. Quando abri a porta e entrei, reparei que o local estava mais cheio do que eu esperava. Todos olhavam em minha direção, até que Troy se manifestou:


-“Quem abriu a porta? Tem alguém aí?”


Desfiz o feitiço da desilusão, revelando a minha presença. Várias bocas se abriram em “Oohs” de assombração. Patrick McLaggen foi o primeiro a expressar em palavras seu espanto.


-“Como você faz isso? É algum poder especial?”


-“É só um feitiço da desilusão.” – expliquei.


-“E você pode ensinar isso para a gente?” – Perguntou Andrew Pulver, um sextanista da Corvinal.


Fiquei muda por alguns instantes. Não conseguia acreditar que nenhum deles sabia fazer um feitiço de desilusão. Afinal de contas, não é assim tão difícil.


-“Antes disso, que tal vocês todos falarem um pouco mais baixo? Não queremos ser descobertos!” – sibilou Troy, fechando a porta.


-“Vocês não usaram um feitiço de silêncio?”


Novamente, o grupo me olhou com perplexidade. Depressa, murmurei as palavras mágicas necessárias para tornar a sala acusticamente bloqueada.


-“Você definitivamente tem que nos ensinar isso!” – Pulver parecia cada vez mais impressionado.


Sério, eu não sei como essa gente consegue passar de ano.


-“Primeiro, vamos repassar as regras da ALAM.” – disse Troy, categórico.


Ele passou os dez minutos seguintes explicando que a associação era secreta, que não podíamos contar a ninguém sobre as reuniões e que o único que tinha o direito de convidar mais membros era ele. Esta última parte gerou polêmica.


-“Por que nós não podemos convidar ninguém?” – portestou James Freeman, um quartanista da Lufa-Lufa. Foi interessante reparar que eu era a única sonserina presente, e que a esmagadora maioria era composta por grifinórios.


-“Porque o clube é secreto. Precisamos ter um controle de quem participa das reuniões, para ninguém vazar informações.” – Troy explicou.


-“E por que você seria responsável por esse tipo de decisão?” – Freeman insistiu. – “Nossa líder não é Anaximandra?”


-“Ana, por favor.” – corrigi.


-“Sim, mas eu sou o chefe da associação. O responsável pela organização de tudo.” – Troy lançou ao garoto um olhar desafiador, irritado com a pergunta e provavelmente se perguntando por que mesmo tinha convidado o Freeman.


Ninguém teve coragem de se contrapor a autoproclamação de Troy como chefe do grupo. A tenção que se instaurou na sala estava começando a me deixar desconfortável.


-“Então, o que vocês querem aprender?”


Andrew Pulver se agarrou àquilo como à uma tábua de salvação no meio do mar:


-“O feitiço para ficar invisível!”


Comecei, então, a explicar o feitiço da desilusão. E cara, foi uma longa noite!


  


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Comentários (2)

  • Lis F. West

    fazendo do comentário abaixo o meu! pelo menos a ana está se sentindo um pouco melhor (por enquanto). o neville está otimo hahaha

    2012-12-10
  • Neuzimar de Faria

    Por que será que eu tenho a impressão de que esse Troy está usando a Ana para alguma coisa, sem gostar dela de verdade?

    2012-11-17
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