Esgaroth



Esgaroth

-“Aquela coruja, ela está vindo para cá!” – gemeu Érika, escondendo a cabeça nos braços.


-“Não, não está.” – sentenciou Alice, ao ver a ave passar reto pela mesa de Rubi e ir pousar na mesa de Esmeralda.


-“Se alguma delas ameaçar se aproximar, principalmente se estiver carregando um envelope vermelho, você me avisa?” – pediu Érika, referindo-se às dezenas de corujas que invadiam o Salão Principal aquela manhã –“Mas tente avisar de uma forma que me dê tempo suficiente para sair correndo.”


-“Sua mãe não vai lhe mandar outro berrador, não se preocupe.”


-“Alice, você não está entendendo a gravidade da situação...”


-“Já sei, já sei, se a sua mãe lhe mandou um berrador porque você se esqueceu de lhe escrever, imagine agora que você pegou a sua segunda detenção.” - interrompeu-lhe a outra, repetindo as palavras com que Érika lhe martelara os ouvidos durante todo o dia anterior.


-“Exatamente!” – concordou ela, batendo na mesa.


-“Ela não mandou nada ontem, então desista, porque não vai ser hoje que ela mandará seu sermão.” – Alice tentou, em vão, tranqüilizar a amiga.


-“Ela não mandou nada ontem porque demorou para receber a coruja do Sr. Kalil!” – protestou Érika, enquanto cortava um pedaço de pão com tamanha força, que parecia querer cortar o prato junto – “E acredite, quando ela mandar, vai ser aterrador!”


Alice ia responder, mas achou melhor desistir de tentar fazer com que a outra esquecesse a possibilidade de sua mãe lhe mandar outro berrador e voltou a concentrar-se no seu café.


No dia anterior, as duas haviam recebido o horário de suas detenções, que dessa vez  cumpririam separadas. Alice iria ajudar o professor d’Angelo nos estábulos, enquanto Érika passaria a tarde arrumando a sala de Transfiguração sob a supervisão da professora Jacobs. Para completar o desânimo das garotas, as detenções estavam marcadas para o próximo sábado à tarde, o que significaria menos tempo de descanso no final de semana e um possível atraso nos deveres de casa.


Pensando em tudo isso, Alice mexia seu café na xícara e olhava para a mesa farta do café-da-manhã, mas nada lhe dava fome. De repente, um grito de Érika a despertou de seus devaneios, fazendo com que ela desse um pulo na cadeira e com que gotas particularmente quentes de café voassem para sua camisa branca. 


-“Eu sabia!” – gemeu Érika, apontando para uma coruja que pousara logo a sua frente e tornando a esconder seu rosto entre os braços.


Vários alunos que assistiam à cena riram. Tentando se controlar para não gritar com Érika, Alice aproximou-se da coruja e verificou que o envelope que ela carregava não era nem ao menos vermelho. Retirando o pedaço de pergaminho da pata do animal, a garota o estendeu para a amiga.


-“Sua mãe lhe escreveu e não, não é um berrador.”


Érika ergueu a cabeça devagar, pegou o envelope e tremendo, abriu-o.


Logo em seguida, Natália apareceu, oferecendo um feitiço para limpar as gotas de café da camisa de Alice, gesto que ela agradeceu, satisfeita.


-“No sexto ano aprende-se muitos feitiços úteis como esse.” – sorriu a garota –“Às vezes é bem chato, pois parece que estão tentando nos ensinar como ser boas donas de casa, mas tem suas utilidades!”


Alice sorriu.


-“Muito obrigada.”


-“Não há de quê. Mas me conte, porque sua amiga está tão nervosa?”


-“Érika?” – indagou Alice, fazendo um aceno discreto com a cabeça na direção da garota, ao que Natália confirmou –“Ela estava com medo de receber outro berrador de sua mãe.”


-“Entendo. Então foi ela quem recebeu aquele berrador no primeiro dia de aula?”


-“Sim, mas parece que dessa vez o sermão veio em uma carta normal.”


-“Ah!” – fez Natália, esticando o braço para pegar um pedaço de bolo de cenoura – “Sabe, aqui em Amgis você tem que se cuidar, eles servem coisas gostosas o tempo todo! Se você não tiver autocontrole, fica enorme!” – e fazendo um gesto de despedida, saiu.


Alice não pôde deixar de erguer as sobrancelhas com as palavras da sextanista, mas os cutucões de Érika em seu ombro a fizeram voltar à realidade.


-“E então, parece que não foi tão ruim quanto o berrador, ou foi?”


Érika estava mais branca do que a folha em suas mãos.


-“E-e-la...” – gaguejou – “e-está mandando E-e..”


-“Mandando ‘E’?” – perguntou Alice, sem entender o que havia de tão assustador em uma vogal.


-“Ela está mandando Esgaroth!” – soltou Érika. Naquele momento, o sinal da escola tocou, avisando aos alunos que faltavam apenas dez minutos para o início da primeira aula do dia.


-“E o que é Esgaroth?”


-“Você não se lembra? Ela ameaçou mandá-lo, você sabe, naquele... berrador.”


Alice notou um calafrio percorrendo a espinha da amiga, a lembrança do incidente do primeiro dia de aula ainda lhe era dolorosa. No entanto, por mais que tentasse, ela não conseguiu lembrar-se nem por nada o que, ou quem, era Esgaroth.


-“Esgaroth é o gato persa da minha mãe!” – explicou Érika – “Ele é assustador, opressor, ele...” – e soltou um suspiro ao ver que não encontraria palavras boas o bastante para descrever o gato de maneira satisfatória –“Vamos para a aula, ou nós vamos receber outra detenção, dessa vez por atraso.”


As duas se levantaram e, jogando as mochilas para cima dos ombros, seguiram cada uma para sua respectiva aula.


 


Quinta e sexta-feira pareceram passar por elas na velocidade da luz, já que Alice e Érika fizeram o possível para adiantar os deveres de casa de forma que não precisassem fazê-los nem no sábado de manhã, nem no domingo à noite.


Finalmente, a tarde de sábado chegou, e sonolentas após um delicioso almoço, as garotas arrastaram-se cada uma para sua detenção.


-“Esgaroth chegará no fim da tarde,” – disse Érika a Smaug, enquanto o carregava em direção à sala de Transfiguração –“então eu apreciaria muito se o senhor não sumisse.”


Alice sorriu ao ouvir as palavras da amiga, mas logo a voz de Érika se tornou distante demais para que ela escutasse a continuação da conversa. Sentindo seu ânimo ir embora juntamente com as palavras da colega, Alice desceu os poucos degraus que levavam ao lado de fora do casarão. Por ser um dia cinzento, com um vento gélido açoitando quem se atrevesse a pisar fora das paredes da escola, não havia ninguém nos gramados, o que só fez com que a garota se sentisse pior.


Pensando em maneiras de fazer com que o tempo passasse mais rápido durante sua detenção, Alice virou à esquerda e avistou os estábulos ao longe, onde a figura alta e severa do professor d’Angelo já a aguardava.


-“Ho-ho-hou!” – exclamou o mestre, ao ver a garota se aproximar – “Não é um dia muito agradável para se estar do lado de fora, não é mesmo?”


Alice concordou com a cabeça, a empolgação forçada do professor a irritava.


-“Bom, para compensar esse clima não muito animador, eu vou lhe mostrar uns bichinhos bastante interessantes, siga-me!” – e virando-se, o Sr. d’Angelo dirigiu-se ao estábulo número cinco.


Retirando de um dos bolsos de suas vestes uma grande argola de ferro cheia de chaves penduradas, o professor aproximou-se da pesada porta de madeira. Com uma das chaves de ferro oxidado que compunham o molho, ele destrancou a fechadura e logo em seguida abriu a porta.


-“Não são uma beleza?” – perguntou a Alice, mostrando com um amplo gesto meia dúzia de belos cavalos alados.


Alice sentiu seu queixo cair ante a imponência dos animais, sem, no entanto, deixar de se perguntar qual terrível tarefa a aguardava ao lado daqueles bichos.


 


*      *      *


 


Érika deixou Smaug no chão, recomendando-lhe pela milésima vez que não sumisse aquela noite, antes de bater na porta da sala de Transfiguração.


-“Entre!” – disse a voz da professora Jacobs.


A garota pousou a mão na maçaneta dourada, lançando um olhar de súplica ao gato.


-“Não se preocupe,” – disse ele – “tudo vai ficar bem! Faça as coisas com cuidado e atenção, e boa sorte!”


-“Vou precisar.” – murmurou Érika, abrindo a porta da sala, enquanto Smaug se esgueirava corredor afora.


-“Com licença, professora.”


-“Entre, Srta. Marinho, entre e fique à vontade.” – sorriu-lhe a Srta. Jacobs, indicando-lhe uma cadeira em frente a sua mesa –“Essa tarde iremos trabalhar duro, sim, trabalharemos muito duro!”


Érika sentou-se e observou a professora dirigir-se a um enorme armário que ficava no fundo da sala.


-“Isso está uma bagunça, sem dúvidas!” – continuou a mestra, arrumando o longo cabelo em um rabo-de-cavalo –“Mas nós duas vamos transformá-lo em um exemplo de organização. Primeiro, vamos separar em materiais orgânicos e inorgânicos, pois temos alguns ratos e algo como meia dúzia de iguanas perdidos nesse armário, você sabe, esses bichinhos que usamos nas aulas práticas.”


Érika sentiu seu rosto se contorcer, mas disfarçou bem seu embaraço quando a professora virou-se novamente para ela.


-“Depois, teremos que separar os deveres de casa e as provas de acordo com sua data, e por fim, colocar tudo no lugar.” – concluiu a Srta. Jacobs, como se aquilo fosse tão divertido quanto sair para fazer compras no ‘The Witch’s House’, ou algo do gênero.


Érika olhou com desânimo para o armário e, notando seu tamanho imenso, já começou a se sentir cansada. Dirigindo-se para a metade do armário que a professora lhe designara, ela começou o trabalho, imaginando qual seria o tipo de detenção que o Sr. d’Angelo estaria impondo a Alice.


 


*      *      *


 


Alice sentira, de alguma forma, que aqueles cavalos alados bonitinhos não eram um bom sinal. - “Detenções não são feitas para serem agradáveis.” – dissera-lhe a Sra. Fernandes durante a detenção que a garota cumprira com Érika e Nicole. E aquela frase assomou-lhe em seus pensamentos quando o Sr. d’Angelo anunciou qual seria a sua tarefa.


-“Enxágüe-os com esta água fria, esfregue-os bem com esta escova e depois retire o sabão com esta água morna.” – explicara ele, apontando para todos os itens que seriam necessários: um balde com água morna, outro com água fria e uma escova que mais parecia uma vassoura sem cabo. Havia um de cada para cada cavalo. –“Eles são muito mansos, só se tornarão rebeldes se a senhorita errar a ordem da água, primeiro água fria, depois água quente. Não se esqueça!”


-“Sim, senhor.”


-“Ótimo, pode começar.” – disse o Sr. d’Angelo, sorrindo de orelha a orelha


Alice despejou água fria sobre o dorso do primeiro cavalo, pegou a escova e começou a lavá-lo.


-“Sabe, os garotos do quinto ano estão estudando essas belezuras, mas eles precisam de banho de três em três dias, de forma que as minhas turmas de quinta série não dão conta de lavá-los.” – continuou o professor, com sua tagarelice de sempre.


- E acaba sobrando para quem? Para a Alice aqui! - suspirou a garota em seus pensamentos, torcendo para que o Sr. d’Angelo se cansasse logo de falar.


De repente, um grito a sobressaltou.


-“Não se preocupe,” – começou o professor –“é apenas uma águia que pertence a um de nossos alunos.”


Alice apurou os ouvidos. De fato, não era um barulho que se parecia com nada remotamente humano.


-“Professor, essa águia por acaso pertence à Nicole James?” – perguntou a garota, despejando um balde de água quente no primeiro cavalo.


-“Nicole James?” – as sobrancelhas do mestre se ergueram –“Não, creio que não pertença à ela, já que esta ave não chegou aqui este ano.”


-“O senhor sabe quem é o dono dessa águia?”


-“Lamento dizer que não, minha cara.”


Alice agradeceu e virou-se para jogar água fria no segundo cavalo alado.


 


*      *      *


 


Érika estava sentada no chão em frente ao armário, separando deveres de casa de cinco anos atrás, quando a Srta. Jacobs anunciou que precisava ir ao banheiro. As duas já haviam recolhido e engaiolado todos os ratos, iguanas, joaninhas e aranhas que habitavam o gigantesco armário, agora só restava tratar dos ‘materiais inorgânicos’.


-“Esmeralda, Safira, Rubi, Esmeralda, Esmeralda, Ametista.” – recitava Érika, separando os papéis em quatro caixas distintas, uma para cada casa –“Safira, Rubi, Ametista, Ametista...”


-“Mas vejam só, não é a nossa ‘detetive’?” – uma voz desdenhosa lhe chegou aos ouvidos, vinda da porta da sala.


Ao virar-se, Érika deparou-se com Henry Monfort, encostado displicentemente na entrada da sala.


-“O que você quer Monfort?” – disse ela, colocando o máximo possível de desprezo na voz.


-“Ui! Devagar aí, assim você me assusta!” – brincou ele, caminhando para dentro da sala –“Sabe, eu estava de passagem por esse corredor e resolvi verificar se meu plano havia funcionado conforme minhas intenções.”


-“Seu plano?”


-“Olha, parece que a detetive mirim ainda não resolveu essa ‘charada’.”


-“Escuta aqui, Monfort, ou você fala logo o que quer, ou vai embora daqui, porque a minha paciência já está se esgotando!” – disse Érika, pondo-se de pé.


-“E não é que ela se enfureceu?” – provocou Henry, se aproximando cada vez mais –“Eu queria que a sua amiga ‘vamos-descobrir-o-que-Monfort-está-tramando’ estivesse aqui também, mas parece que separaram a dupla dinâmica dessa vez.”


 Um sorriso de satisfação se estendeu em seu rosto, Érika continuava a encará-lo friamente, os olhos verdes se estreitando cada vez mais.


-“Mas não importa,” – continuou o garoto –“só vim mesmo para dar um recado.”


-“E qual recado seria esse?”


Ele aproximou seu rosto do dela, de modo que seus olhos ficaram a menos de trinta centímetros um do outro, e falou devagar, destacando as sílabas:


-“Fique fora do meu CAMINHO!”


Érika assustou-se com o berro de Henry, mas recuperou-se rapidamente.


-“Fora do seu caminho? Não sei, vou pensar no seu caso.”


-“Sua garota tonta! Tudo bem, faça como preferir, mas aí vai um aviso: da próxima vez, será muito mais do que uma simples detenção!” – e dizendo isso, virou-se para sair da sala.


Na porta, Monfort quase esbarrou com a professora Jacobs, mas não se importou em pedir desculpas.


-“O que aconteceu?” – perguntou Helena, ao ver que Érika tinha o rosto extremamente branco.


-“Nada, professora, não se preocupe.” – e sentando-se novamente, a garota retomou o trabalho.


 


*      *      *


 


Alice estava exausta e encharcada quando caminhou de volta ao casarão naquele fim de tarde. Por distração, ela errara a ordem das águas ao lavar o último cavalo alado, o que fez com que o animal se descontrolasse e se sacudisse sem parar, molhando tudo ao seu redor. Por sorte, o professor d’Angelo conseguira acalmá-lo, mas Alice não deixou que ele secasse suas roupas com um feitiço, preferiu correr para seu dormitório, onde tomaria um banho quente e demorado.


Estava começando a subir a escadaria principal quando ouviu a voz de Érika às suas costas:


-“Estava procurando você, como foi a detenção com o d’Angelo?” – disse ela, correndo escada acima para alcançar a outra –“Por Merlin, Alice, você está ensopada! Está chovendo lá fora?”


-“Não.” – respondeu Alice, fazendo um sinal para que Érika continuasse a subir as escadas junto com ela –“Foi um cavalo alado maluco que me deixou neste estado. Sabe, cumprir detenções nos estábulos não é tão mal, se você ignorar que o professor fica rindo o tempo todo.”


-“Não sei se você vai gostar de ouvir isso, mas até que foi divertido passar a tarde com a Jacobs.” – começou Érika, e contou-lhe como ela e a professora haviam corrido atrás de ratos e joaninhas durante a metade da tarde.


Naqqela altura, as garotas já haviam chegado ao segundo andar e viraram para o lado Oeste a fim de chegarem até os dormitórios de Rubi.


-“O que foi realmente chato essa tarde,” – disse Érika – “foi a visitinha que Henry Monfort fez à sala de Transfiguração.”


-“Como assim?” - assustou-se Alice, parando no meio do corredor.


Érika olhou para os dois lados, verificando se ninguém as estava escutando, antes de continuar, com uma expressão tão séria no rosto que teria feito a outra rir, se não estivesse tão preocupada.


-“Ele foi até onde eu estava e praticamente confessou que tinha armado para que nós duas pegássemos essa detenção!”


-“Então foi ele quem soltou aquelas bombas de bosta!”


Érika confirmou, e completou:


-“Ele me pediu que saíssemos de seu caminho.”


-“Isso só pode significar uma coisa: o que quer que ele esteja tramando, é muito sério!” – sentenciou Alice, ao que a outra concordou com a cabeça.


-“Você acha que devemos desistir?”


-“Não, eu acho que agora é mesmo que devemos começar.”


 


*      *      *


 


Após um banho excessivamente quente, Alice encontrou-se com Érika à mesa do jantar. A garota estava nervosa, já que Esgaroth chegaria a qualquer momento e Smaug havia sumido novamente.


-“Você viu o meu gato?” – perguntou a Alice, torcendo as mãos de nervoso.


-“Não, acabei de sair do dormitório. Esgaroth ainda não chegou?”


Érika balançou negativamente a cabeça.


-“E então, tiveram detenções muito ruins?” – disse Carlos, aproximando-se da mesa de Safira e sentando-se em frente às garotas.


-“ Detenções não são feitas para serem agradáveis.” – respondeu-lhe Alice, ao que Érika riu.


-“Não entendi a piada.” – comentou o garoto, confuso.


-“Foi só uma bobagem que acabei de me lembrar.” – desconversou Alice.


-“Srta. Marinho?” – chamou a voz com sotaque turco do professor Kalil.


-“Sim, professor.”


-“Sua mãe lhe mandou este gato.” – anunciou ele, dando um passo ao lado para que a garota pudesse ver o branquíssimo gato persa que estava às suas costas.


-“Esgaroth, seja bem vindo!” – ela saudou-o, sem muita animação.


-“Sei que você preferia que eu não estivesse aqui.” – disse Esgaroth, saltando para o colo da menina, ao que o Sr. Kalil saiu em direção à mesa dos professores –“No entanto, sua mãe considerou que você está precisando da minha presença, já que Smaug aparentemente não está tendo sucesso em colocar um pouco de juízo em sua cabeça.”


Érika amarrou a cara, Alice não entendeu porque um monte de miados fizera com que sua amiga ficasse de mau humor.


-“Aliás,” – continuou Esgaroth – “aonde está ele?”


-“Já deve estar chegando.” – disse Érika, num fio de voz.


-“Porque você fala com seus gatos como se eles a entendessem?” – Alice não se conteve em perguntar.


-“Porque eles também falam!” – explicou ela –“Vocês não estão escutando?” – e ao ver a expressão de perplexidade nos rostos de Alice e Carlos, ela se deu conta de que não, eles não estavam ouvindo.


-“Érika, gatos não falam!” – falou Alice, como quem ensina a uma criança pequena que dois mais dois são quatro.


-“É claro que falamos!” – protestou Esgaroth, mas só sua dona o entendeu.


-“Sua mãe também conversa com eles?” – perguntou Carlos, ao que a garota concordou com a cabeça –“Então vocês duas devem ser felinoglotas.”


-“Felino o que?” – surpreendeu-se Érika.


-“Felinoglota é aquele que entende o que os gatos falam. Existem bruxos que são ofídioglotas, ou seja, são capazes de se comunicarem com as cobras. Também existem os felinoglotas, que conversam com gatos. A diferença é que falar com cobras exige uma língua especial, mas o gatos entendem o que os humanos falam, só precisam serem entendidos.” – explicou o rapaz.


Uma luzinha acendeu-se no peito de Érika. Então, durante todos aqueles anos em que ela imaginara não ser capaz de fazer magia por nunca ter realizado um feitiço involuntário, ela praticara seu dom de felinoglota sem saber. Bastaria saber que possuía aquele dom para não ter mais dúvidas de que sim, ela era uma bruxa. Saber daquilo a teria poupado de anos de angústias e dúvidas.


-“Eu pensava que minha mãe havia enfeitiçado os gatos para poder conversar com eles.”


-“Feitiços desse tipo são muito complexos, além de terem curta duração.” – disse Carlos.


Érika sorriu largo, naquele momento, sentia-se tão imensamente feliz com a presença de Esgaroth que o abraçou.


 


==== * * * ====


 


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.