Entre barreiras e verdades



Entre barreiras e verdades

Sem que os garotos percebessem, março terminou trazendo um abril cada vez mais gélido. Os dias foram ficando gradativamente mais curtos, as noites mais escuras e o céu enchia-se de nuvens com mais freqüência.


A repercussão da primeira partida de quadribol do campeonato não foi de todo negativa para Érika, ao contrário do que ela mesma esperava. Parecia que o restante da equipe havia proibido os colegas da casa de culparem a garota, gesto pelo qual ela sentia-se imensamente agradecida.


No primeiro sábado de abril, no entanto, o sossego da garota terminou, pois a Esmeralda de Nicole James massacrou a Ametista por duzentos e trinta a sessenta. A partir daí, as comparações com a apanhadora do time verde se tornaram inevitáveis, e Érika já não agüentava mais a pressão. Ela não podia mais andar pelos corredores sem que alguém lhe lembrasse de que Nicole apanhara o pomo e ela não.


Para completar, os resultados das provas foram entregues, sendo recebidos com desânimo pela maioria dos primeiranistas. Alice não obtivera notas tão baixas quanto a maioria de seus colegas, mas seus resultados não chegavam aos pés dos de Alexandre, o garoto havia sido brilhante em todas as avaliações.


-“Eu preciso de férias!” – disse Érika, despencando em uma das cadeiras da sala de estudos em grupo, um dos poucos lugares da escola onde tinha paz.


-“Estamos apenas começando nosso terceiro mês e você já está pensando em férias?” – indignou-se Alexandre.


-“Eu não agüento mais!” – gemeu a garota, deitando a cabeça nos braços.


Alexandre girou os olhos para cima, como quem pede paciência.


-“Vamos lá, você precisa estudar!” – insistiu ele, sacudindo os ombros da amiga – “Você sabe melhor do que eu que as suas notas não foram lá essas coisas.”


Érika ergueu a cabeça.


-“Quer parar de jogar na nossa cara que você é um sabe-tudo elogiado por 10 entre 10 professores?” - disse, deitando sobre os braços novamente, logo em seguida.


Alice, que até então divertia-se assistindo à cena, finalmente entrou na conversa:


-“Acho que todos nós realmente precisamos de um tempo, ainda bem que estamos perto do feriado da Páscoa.”


-“Vocês vão para casa no feriado?”


-“Eu vou, sinto falta da minha mãe. E você, Alex?” – falou a garota.


-“Meus pais estão me pedindo para voltar, mas eu queria aproveitar a semana para estudar e colocar minhas leituras em dia.”


-“Você O QUE?” – Érika levantou a cabeça pela segunda vez – “Eu vou passar o feriado dormindo.”


-“Psiu!” – fizeram vários estudantes das mesas ao redor – “Tem gente querendo estudar!” – disse um monitor do sétimo ano, ao que Érika fez uma careta quando ele se virou novamente.


Murmurando um “eu não entendo esses nerds” ela voltou a afundar o rosto entre os braços. Duas horas depois, quando Alice e Alexandre haviam revisado toda a matéria de Transfiguração e a chamaram para sair da sala, ela dormia profundamente.


 


*      *      *


 


Era uma manhã cinzenta de domingo quando finalmente chegou o dia de os alunos voltarem para casa para passarem o feriado da Páscoa com os pais. Uma garoa fina caía sobre o casarão e sobre as cabeças dos estudantes, enquanto estes embarcavam nos ônibus.


-“Dá para acreditar nesse clima?”


-“Cedo ou tarde, o verão tinha que acabar, Érika.” – falou Alice, enquanto as garotas andavam pelo corredor do ônibus, buscando lugares vagos.


-“Srta. Elsea, venha aqui um instante, por favor.” – era a professora Jacobs quem chamava.


Alice deu meia volta e caminhou até a entrada do veículo, onde a professora a aguardava.


-“Como diretora de sua casa, estou encarregada de levá-la da estação Ana Amélia James até Brasília, então peço que a senhorita me espere quando chegarmos à São Paulo, para que eu possa acompanhá-la.”


‘Senhorita’? Onde estavam o ‘você’, os sorrisos e o jeito informal de falar da professora? Alice achou melhor ficar com esses questionamentos apenas em sua cabeça.


-“Sim, senhora.” – e voltou para o final do corredor, onde Érika a aguardava.


Quase no final do percurso, encontraram Alexandre sentando sozinho, esperando por elas.


-“Finalmente! Achei que vocês não chegariam nunca!”


-“Alex, não exagere!” – pediu Érika – “Nós não estamos assim tão atrasadas. De qualquer forma, ainda faltam dez minutos para a hora da partida.”


O garoto preferiu fazer-se de surdo à acusação de exagero, mudando de assunto na velocidade da luz:


-“O que a Jacobs queria com você, Alice?”


-“Me avisar que ela me levará para casa e me lembrar que ela está sendo fria comigo, mesmo que eu não me lembre de ter dado motivo algum para isso.”


Smaug miou intrigado, enroscado o melhor que podia no colo da dona para se abrigar da friagem que a chuva trazia. O olhar de Alexandre não era menos perplexo.


-“Acho que não lhe contei essa história...” – murmurou Alice, mais para si mesma do que para o amigo – “Depois eu explico, agora eu... não estou me sentindo muito à vontade para falar.”


De fato, perceber que alguém estava agindo de modo estranho em relação a ela, sem motivo algum, não a animava nem um pouco. Alexandre, por sua vez, fez sinal de que compreendera e não tocou mais no assunto. Pouco tempo depois, o ônibus começou a mover-se e logo havia deixado os terrenos da escola.


Em função do clima frio e da escuridão daquela manhã, a maioria dos alunos adormeceu, incluindo Érika e Alexandre. Alice, no entanto, não conseguia pegar no sono. Olhava para as árvores que o ônibus agora atravessava, com os pensamentos e preocupações tirando-lhe a vontade de dormir.


Somente quando saíram da floresta e quando o sol finalmente surgiu, brilhando fracamente entre as nuvens, o carrinho de lanches passou, despertando a maioria dos alunos. Alice, Érika e Alexandre compraram um sanduíche cada um, suco de acerola e alguns doces.


 Enquanto comiam, escutaram Henry Monfort fazer um alarde sobre a quantidade de coisas que estava comprando. Eram dezenas de cocadas, dúzias de rapaduras e várias araras de chocolate. Ao seu redor, formou-se uma pequena multidão de alunos de Ametista pedindo doces, que o garoto dava fingindo-se de contrariado.


-“Ele está adorando essa atenção toda.” – comentou Alexandre.


-“Ele não passa de um babaca.” – disse Érika, segundos antes de dar uma imensa e furiosa mordida em seu sanduíche.


O ápice da agitação em torno de Monfort foi quando uma arara de chocolate escapuliu das mãos de Luísa de la Pajé e voou pela janela, fazendo com que todos os alunos de Ametista ao redor caíssem na risada e que a garota ameaçasse chorar.


-“Está bem, está bem, sua chorona, eu lhe dou outra.” – disse Henry, estendendo-lhe um pacote, que a garota apanhou, sorrindo agradecida. Ao ver a cena, Alice, Érika e Alexandre reviraram os olhos, enojados com a falsidade de Monfort.


Passada a breve agitação do horário do almoço, vários estudantes voltaram a dormir, mas a maioria permaneceu acordada. Sem maiores incidentes, a noite foi caindo, sem um pôr-do-sol tão maravilhoso quanto o que havia se apresentado durante a ida dos garotos à Amgis, mas como o céu estava bem mais limpo do que durante o dia, muitas estrelas podiam ser vistas quando o ônibus entrou na cidade de São Paulo.


-“Atenção alunos,” – era a voz inconfundível da Srta. Jacobs – “estamos chegando à estação Ana Amélia James. Sendo assim peço a todos que tenham grande atenção ao desembarcarem e bom feriado!”


Uma série de gritos, aplausos e vivas seguiu-se as palavras da professora. Até mesmo Alice, que estivera séria durante toda a viagem, se permitiu sorrir. Sim, era melhor que sorrisse, afinal, tinha um feriado de uma semana inteira para esquecer seus problemas. Talvez voltar um pouco à sua antiga vidinha, conversar com umas antigas amigas trouxas. Sim, lembrar-se um pouco de como era ser trouxa a faria bem.


Foi sorrindo que ela desceu do ônibus, despediu-se dos amigos e se reuniu à Srta. Jacobs para poder, finalmente, voltar para casa. Arrastando seu malão e tentando acompanhar os passos apressados da professora, Alice dirigiu-se aos imensos espelhos emoldurados em ouro que ficavam a um canto da rodoviária.


-“Muito bem, muito bem, esta noite nós vamos até a casa de minha amiga Tereza Mattos novamente.” – anunciou Helena.


Alice conteve um suspiro, aquela seria a terceira vez que iria utilizar a passagem de mirflu da Sra. Mattos. A primeira vez fora quando a garota foi e voltou ao The Witch’s House, e foi justamente depois dessa ocasião que Helena começara a agir estranhamente em relação a ela. Para ir até a estação rodoviária foi que Alice esteve no quarto de hotel onde morava a Sra. Mattos pela segunda vez, mas para a felicidade da menina, a senhora não estava. Foram atendidas por uma criatura baixinha, enrolada num trapo, que dizia chamar-se Nob. Tratava-se de um elfo doméstico.


- Tomara que ela não esteja em casa. Por favor, que ela não esteja em casa hoje. - pensava Alice, com os olhos fechados e com os dedos cruzados - Não gosto do modo  como aquela senhora me encara.


-“Você vai primeiro.” – disse a Srta. Jacobs, lhe estendendo um saquinho com pó de mirflu.


Ao olhar ao seu redor, a garota viu que sua mala não estava lá, a professora a havia despachado com um feitiço. Estendendo a mão para o saquinho de couro, Alice pegou um punhado de pó de mirflu e chegou mais perto de um dos vários espelhos dedicados à saída de bruxos da estação.


-“Hotel Nacional.” – disse, ao entrar em meio ao fluído prateado do espelho.


-“Boa noite, Srta. Elsea.” – a voz esganiçada e ao mesmo tempo animada de um mirrado elfo doméstico saudou a garota quando esta pisou novamente no limpíssimo carpete do quarto da Sra. Mattos.


-“Boa noite, Nob.” – ela respondeu amavelmente, tinha uma imensa simpatia por aquela humilde criatura.


-“A senhorita deseja alguma coisa? Um suco? Café? Bolinhos? Água?” – ofereceu o elfo.


-“Nada, obrigada, Nob.”


A pequena criatura fez uma reverência e saiu, deixando a garota sozinha na saleta do luxuoso quarto de hotel. Apesar de já ter estado ali, Alice não deixava de se surpreender com o modo coma a Sra. Mattos havia transformado aquele quarto. Por meio de magia, a senhora havia transfigurado o lugar em um pequeno apartamento, com sala de estar, cozinha e tudo o que uma casa normal contém. Estranhando a demora da Srta. Jacobs, Alice dirigiu-se à estante repleta de livros, a maioria encapados em couro, que compunha a decoração do lugar.


“A Magia Através dos Tempos”, “Adalberto Mattos: Uma Biografia”, “Amgis: Segredos Revelados”, “Magia Moderna para Mentes Conservadoras”, “Família Monfort: Magia, Tradição e Poder”, “Poções Positivas: Atraia Bons Fluídos para sua Casa”. -  eram apenas alguns dos títulos. 


Atraída por um volume velho, com uma capa de couro preta e letras douradas desgastadas, Alice o tirou da estante. Quando havia acabado de abri-lo para ler seu conteúdo, Nob retornou.


-“Aqui está, senhorita.” – disse o elfo, estendendo-lhe um copo. Era incrível como nada e água pareciam ser a mesma coisa para Nob.


-“Hum... obrigada.” – a garota foi obrigada a fechar “Família Monfort: Magia, Tradição e Poder” para poder segurar o copo d’água.


-“Vamos, Alice?” – era a professora Jacobs, que finalmente aparecera, resmungando alguma coisa sobre passagens congestionadas e bruxos que demoravam muito para dizer aonde queriam ir quando entravam em um espelho.


Pedindo desculpas, o elfo retirou delicadamente o livro das mãos da menina e o recolocou na estante.


-“Vamos.” – falou a menina – “Obrigada, Nob.” – e devolveu o copo, intocado, ao elfo, que adiantou-se para abrir a porta às visitantes.


Quando as duas já haviam saído, a Sra. Mattos saiu de trás da estante.


-“Ela leu alguma frase daquele livro, Nob?”


-“Não senhora, nenhuma palavra.”


-“Excelente meu pequeno elfo, excelente.”


 


Assim que Alice atravessou o imponente portal do hotel, viu seus pais lhe acenando. Após despedir-se da professora, a garota adiantou-se para cumprimentá-los, estavam radiantes em vê-la.


Durante a breve viagem de carro do hotel até o apartamento dos Elsea, Alice resumiu o melhor que pôde os acontecimentos de seus primeiros meses em Amgis. Seus pais ficaram surpresos ao saber que a garota pegara uma detenção por estar fora do dormitório depois do horário permitido, mas ficaram mais assustados ainda quando ela narrou-lhes a conversa que tivera com um fantasma que não sabia que tinha morrido.


Após o jantar, depois que sua mãe já havia ido dormir, Alice tentou explicar a seu pai como se jogava quadribol. O Sr. Elsea demorou um certo tempo para entender, mas acabou ficando fascinado pelo esporte, mesmo sem nunca ter presenciado uma partida sequer.


-“Eles não televisionam esse tipo de jogo?”


-“Pai!” – assustou-se Alice – “Você sabe que nós bruxos temos que nos esconder dos trouxas, eles nos perseguiriam se soubessem que existimos!”


-“Eu sou um... er... trouxa como vocês dizem, mas eu não te persigo.”


-“Mas o senhor é meu pai!”


-“E desde quando paternidade é sinônimo de respeito? Alice, você precisa sair desse casulo de inocência em que vive e começar a encarar a realidade, e na realidade, nem todas as pessoas são boas.”


-“Está bem, deixe-me ver se entendi: o senhor é um trouxa que sabe que eu sou uma bruxa, mas não me persegue.”


-“Certo, continue.”


-“Eu supus que o motivo para que o senhor não me persiga fosse o fato de que eu sou sua filha, mas o senhor me diz que isso não é verdade, sendo assim, porque o senhor me aceita como bruxa?”


A resposta veio mais simples do que ela imaginara:


-“Porque eu te conheço, e sei a pessoa maravilhosa que você é.”


 -“Então... se as pessoas conhecessem melhor umas as outras, haveria mais respeito no mundo?” – arriscou.


-“Acredito que sim.” – disse o Sr. Elsea, sorrindo – “O problema do mundo, no meu ponto de vista, é que as pessoas se fecham demais, criam barreiras umas entre as outras.”


Alice concordou com a cabeça, seu pai soltou um profundo suspiro e concluiu:


-“É uma pena que seja utópico demais querer que isso mude! De qualquer forma, não perca as esperanças, minha filha! Você ainda não chegou na idade certa para isso.” – e levantando-se, deu um beijo de boa noite na testa da filha, deixando-a sozinha.


 


Nos dias que se seguiram, Alice aproveitou seu tempo livre para passear pela cidade e visitar seus lugares preferidos. No entanto, chegou um momento em que não havia mais para onde ir, e a garota acabou isolando-se em seu quarto, onde passava horas conversando com suas bonecas sobre como sua vida mudara.


Perto do final da semana, Camila, uma das melhores amigas trouxas de Alice, a telefonou.


-“Oizinho Alice, como vai?” – sua voz soou áspera pelo fone.


-“Oi Camila, estou bem e você.”


-“Ótima!” – anunciou a outra.


Uma pausa incômoda instalou-se entre as duas.


-“Sabe Alice, eu fiquei sabendo que você está na cidade novamente, então decidi ligar para saber ser a Stéphanie e eu podemos te fazer uma visitinha.”


-“Sim, é claro, podem vir quando quiserem!” – falou a menina, sinceramente animada com a perspectiva de rever as amigas.


-“Então iremos esta tarde mesmo! Tchauzinho!” – despediu-se Camila. Com ela era tudo “visitinha”, “tchauzinho”, um verdadeiro diminutivo em pessoa.


Logo após o almoço, a campainha do apartamento dos Elsea soou. Quando abriu a porta, Alice se deparou com os rostos sorridentes de Camila e Stéphanie, visivelmente vestidas com suas melhores roupas, na última moda. Sensurando-se mentalmente por não ter colocado nada melhor do que o velho moleton do Frajola que vestia, a garota conduziu as amigas para dentro.


-“Parece que chegamos cedinho demais.” – disse Camila, ao olhar de cima a baixo a aparência de Alice, fazendo uma alusão óbvia ao fato de que a garota estaria melhor vestida se tivesse tido mais tempo.


-“Não se preocupe, nunca é cedo demais para se estar com as amigas!” – sorriu Alice, enquanto as três entravam no quarto da menina.


-“Você tem toda a razão!” – disse Stéphanie, sentando-se na cama.


Um breve silêncio caiu sobre as garotas. Porém, não demorou muito para que Camila e Stéphanie começassem a tagarelar alegremente sobre como estava sendo seu ano escolar e como era difícil estar na quinta série. Alice, no início, prestou bastante atenção ao que elas diziam sobre as novas matérias e professores, mas quando a conversa desviou seu rumo para a grande descoberta do ano - os garotos, ela deixou sua mente vagar, totalmente desatenta.


-“Você não acha, Lice?”


-“O que?” – e piscou várias vezes, demorou alguns segundos para se dar conta de que Stéphanie se dirigia a ela – “Acho... acho sim.” – disfarçou.


-“Pois eu não acho!” – objetou Camila, com ar decidido – “Seu cabelo vermelho estava muito mais legal.” – disse, mexendo na cabeleira pintada de louro de Stéphanie. – “Acho que o Lucas também gostava mais.”


-“Não interessa, eu já decidi, vai continuar louro por mais um mês.” – disse ela, encerrando o assunto


-“Faça como quiser.” – falou Camila, indiferente – “Então Alice, não vai nos contar onde você está estudando agora?”


A menina sentiu o ar escapulir-lhe dos pulmões, começou a tossir descontroladamente enquanto as outras duas olhavam assustadas para ela. Passada a crise, ela olhou para as amigas, com os olhos vermelhos e a garganta doendo. - Deveria dizer a verdade? -  Ela sabia que não. - Mas porque não?


-“Ficamos sabendo que você se mudou,” – começou Camila, como que para incentivá-la a falar – “seus pais andam dizendo que você está em um colégio interno na Europa, é verdade?”


- Europa?


-“Hum... bom, não, eu não estou.” – as outras a olharam assombradas – “Eu estou estudando em um colégio interno, mas fica no Brasil, não na Europa.”


-“Eu não sabia que ainda existiam colégios internos no Brasil.” – comentou a falsa loura.


-“Bom, é porque não é bem um colégio.”


-“Como assim, Alice?” – perguntou Camila, incrédula.


-“Na verdade,” – começou a garota, respirando fundo antes de prosseguir – “é uma escola de magia e bruxaria, chama-se Amgis.” – as outras arregalaram os olhos – “Eu sou uma Bruxa, garotas.” – concluiu.


Um silêncio pesado caiu entre as amigas, mas não durou muito tempo, pois logo em seguida Camila e Stéphanie riam debochadas.


-“Alice, eu sabia que você era quem mais gostava de ler aquelas histórias de fantasy que devorávamos na nossa quarta série,” – disse Camila, como se a quarta série ficasse em algum lugar remoto do passado – “mas acho que você as levou a sério demais e... pirou!”


Uma nova série de risadas esganiçadas seguiu-se aquelas palavras. 


-“Eu estou falando a verdade.” – defendeu-se a garota, séria, mas ainda calma.


-“Então prove!” – cuspiu Stéphanie, desafiadoramente.


-“Isso aí!” – apoiou a outra – “Faça alguma bruxaria.”


-“Eu não posso, não é permitido que bruxos menores de idade façam magia fora da escola.”


-“Eu sabia que você tinha ficado louca! Hospício, esse é o nome da escola para onde lhe mandaram!” – despejou Camila.


Alice sentiu seu sangue ferver, no entanto, lutava para não demonstrar sentimento algum.


-“Espere só a galera saber dessa, Stéph, Alice Elsea mandada para um hospício aos onze anos de idade por achar que é uma bruxa!”


-“Vai ser ótimo, Mila!” – apoiou Stéphanie, mordaz.


-“Vão embora logo e a deixem em paz!” – era uma das bonecas de Alice, que não agüentou e decidiu se manifestar.


-“A...a...bo-o-neca fa-a-lou!” – gaguejou a falsa loura, tomada pelo medo.


-“Falei sim, e daí?” – provocou a pequena Barbie -“Vocês são surdas ou o que? Sumam daqui!”


Gritando, as duas saíram correndo do quarto de Alice, que as seguiu, rindo.


-“Acreditam em mim, agora?” – gritou para as garotas, que saíram correndo escada abaixo, sem coragem para esperar pelo elevador.


Chateada pelo comportamento das “amigas”, mas rindo da expressão de medo das duas, Alice voltou ao seu quarto para agradecer a intervenção mais do que oportuna de sua boneca.


-“Que gritaria toda foi aquela?” – perguntou a Sra. Elsea a filha, entrando no quarto da garota.


-“Não foi nada, mãe.” – respondeu Alice, divertida – “Foram só algumas barreiras inter-pessoais.”


 


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