Capítulo 1



“Você por acaso bebeu vodka ao invés de água essa manhã!?” Violet disse com a voz carregada de indignação, enquanto andava a largos passos ao lado da amiga. “Não, porque essa é a única justificativa para o jeito com que você tratou o Jason! Lils, acooorda babe! Aquele cara que você acabou de dar um fora é o Jason Sullivan. Jason Sullivan!!!” ela falava sem parar sequer para tomar ar. O que, por sinal, não estava agradando nem um pouco Lily, que naquele momento sentia as bochechas queimarem de tanta raiva.

“Vi, pelo amor que você tem à vida, PÁRA DE FALAR NESSE GAROTO!” elevou a voz ligeiramente, sentindo suas têmporas pulsarem de dor. Não agüentava mais o assunto Jason Sullivan. Como Jason e Lily combinavam. Como Lily era maluca por não ficar com Jason. Simplesmente não gostava do garoto! Tinha nojo daquele seu jeitinho de filhinho papai que vai de BMW todo dia à escola e tem um empregado para limpar até a própria bunda. Violet olhou para a amiga com um ar profundamente ofendido. Só que queria o bem dela! E não tinha nada melhor para sua reputação do que sair com Jason. Soltou um suspiro frustrado e parou de andar abruptamente, segurando a amiga pelo braço e lhe lançando um olhar incisivo.

“Lily, eu definitivamente não entendo você! Não existe sequer uma justificativa pra você não aceitar sair com ele.” ela falou tão séria, que quem visse de longe realmente se convenceria de que as duas estavam conversando sobre algo de extrema importância. “Me escuta, pelo menos essa vez! Sabe a festa de domingo, na casa da Samantha Halliwell!? Então, fiquei sabendo que ela vai chamar todo o pessoal da escola... Agora pensa comigo: Você, Lily Evans, a garota mais cobiçada da Hogwarts High School, sendo vista por todo mundo ao lado de Jason, o capitão do time de Rugby e o cara mais influente da escola! Como você não consegue enxergar a perfeição disso?”Lily mantinha os olhos fixos à figura da garota, embora não prestasse atenção em uma palavra que ela falava.

As duas sempre foram melhores amigas, desde que se conheceram no jardim de infância, mas assim que ingressaram na High School, as coisas entre elas começaram a mudar. Ambas começaram a sentir o gosto e as vantagens que se têm quando se é popular. Violet em pouco tempo se tornou obcecada por tal assunto, e desde então começou a fazer de tudo para cada vez estar mais e mais no topo. Já Lily, além de não dar tanta importância ao seu status social, não precisava exatamente fazer muito. Ser filha do sócio majoritário das empresas Evans ltda. já era mais do que necessário para fazer parte do círculo fechado da elite da Hogwarts High School. E daí surgiu tal conflito de ideais entre as amigas, onde uma dava valor a coisas completamente opostas a outra, e que a cada dia tornava-se mais e mais difícil de suportar para Lily.

“Lils, é sério, só dessa vez, por favor. Olha, não vai custar nada você se arrumar, ir para uma festa que todos querem ir e ficar com o cara mais bonito e popular da escola!”

Enquanto a voz nervosa e esganiçada de Violet ressoava sem sentindo algum por sua mente, Lily desviou o olhar distraidamente para a direção do portão, e em seguida voltou a fitar a amiga. Mas havia alguém entrando que prendeu sua atenção. Seus olhos voltaram-se para o portão imediatamente, observando a figura de um garoto desconhecido passar por ele. As palavras de Violet pareciam ficar cada vez mais distantes, e seus olhos acompanhavam cada movimento do tal rapaz.

Sua calça jeans larga demais e rasgada nos joelhos, seu tênis sujo e sua camisa branca, simples, o destacavam dos outros alunos do Colégio, e foi exatamente aquilo chamou a atenção de Lily. Ele era tão... Diferente. Os óculos escuros escondiam um olhar aparentemente observador e a cor de seus olhos, que ela teve imediatamente uma enorme vontade de descobrir. Naquele momento ela sentiu-se capaz de afirmar com toda certeza, que aquele garoto, e não Jason Sullivan, era o mais bonito de toda a escola.

“Lily? Você ta me escutando?” mais uma vez a voz irritadiça da amiga ressoou em seus ouvidos sem um significado concreto. Ela estava maravilhada por aquele garoto, era incapaz de prestar atenção em qualquer outra coisa que não fosse ele. “Não acredito...” não pretendia voltar sua atenção à Violet nem tão cedo, mas foi forçada a voltar a si quando sentiu as mãos dela em seus ombros, a sacudindo sem delicadeza alguma para frente e para trás. “Me diz, pelo amor que você tem a Deus, que você não estava olhando para aquele delinqüente!” ela bradou com raiva, arqueando uma sobrancelha desafiadoramente.

“Além de controlar com quem eu saio você também vai querer controlar pra quem eu olho?” Lily explodiu. Já estava farta desse controle doentio que Violet parecia querer exercer sobre a sua vida. Violet olhou para a amiga estupefata. Abriu a boca para falar alguma coisa mas tornou a fechá-la sem proferir sequer uma palavra. Após alguns segundos ela voltou a si, e dessa vez conseguiu se expressar.

“Tudo bem!” disse aparentando estar extremamente ultrajada. “Faça o que quiser da sua vida! Depois que tudo estiver uma droga não vai dizer que eu não tentei te proteger!” e com isso saiu em largas passadas na direção do prédio central da escola.

Proteger? Lily riu àquelas palavras. A amiga estava começando a ficar obsessiva com aquela coisa de popularidade. Lembrando-se subitamente do motivo da discussão, percorreu os olhos com avidez pelo jardim, e ao perceber que havia perdido-o de vista, suspirou pesarosa.

Ajeitando sua bolsa Chanel sobre o ombro direito, resolveu entrar na escola antes que se atrasasse para a primeira aula. O que, julgando pela quantidade mínima de alunos que circulavam ali na entrada, estava prestes a acontecer. Violet e suas discussões fúteis pareciam ter atrasado-a mais do que ela imaginava. Mal escutara o sinal tocar diante da tagarelação da amiga. Adentrou o prédio para encontrá-lo praticamente vazio, com exceção de uma mulher e um garoto que conversam num tom de voz alto ao fim do corredor. Fez o máximo que pôde para não chamar atenção, mas o barulho oco e alto produzido pelo salto de sua bota a denunciou.

“Senhorita Evans!” ela escutou a mulher dizer, e julgando pelo tom arrastado e cansativo concluiu que aquela só podia tratar-se da senhora Stevens, a diretora com cara de sapo da escola.

Fez uma careta antes de avançar mais alguns passos para que conseguisse conversar com a mulher sem ter de ficar gritando. “Sim, senhora Stevens!” disse, forjando um dos seus melhores sorrisos de boa menina.

“Eu estava aqui nesse exato momento discutindo com o senhor James Potter a facilidade de se encontrar a sala de Biologia. Mas ele pelo visto tem algum problema com direções, pois me disse que não estava encontrando a sala de jeito nenhum... A senhorita se importaria de levá-lo até lá?” surpreendeu-se ao não escutar que tomaria uma detenção por estar chegando atrasada para a primeira aula. Se safara da detenção, mas agora teria que lidar com um retardado que não conseguia achar uma das salas mais evidentes da escola. Virou o corpo esperando encontrar um daqueles espinhentos esquisitos, mas o que seus olhos encontraram foram muito mais do que espinhas. Sentiu o estômago dar um estranho salto ao encontrar aqueles dois olhos amendoados e avermelhados em volta. Ele era ainda mais encantador sem os óculos de sol.

O garoto distanciou o olhar ao perceber que ela o observava, começando a andar pelo corredor sem esperá-la. Lily achou aquela atitude um tanto rude, mas resolveu ignorá-la e após uma pequena corridinha conseguiu o alcançar. Ele, por sua vez, mal percebeu a presença dela ao seu lado. Continuaram a andar em silêncio por alguns segundos, até que Lily não conseguiu se controlar e se pronunciou.

“Lily...” ela disse, enquanto olhava-o de relance e voltava a prestar atenção no caminho à frente deles.

“O que?” ele pareceu acordar de um transe ao que a voz da menina quebrou o silêncio.

“Meu nome é Lily!” ela disse com uma sobrancelha arqueada. Aquele definitivamente não era um garoto muito comum. “Ah, sim...” murmurou sem muito interesse e voltou a ficar em silêncio. “Pode me chamar de James...” ele falou como se houvesse esquecido alguma coisa. O que, no caso, fora de se apresentar.

Lily voltou a ficar em silêncio, se sentindo completamente desconfortável com o pouco caso que o garoto estava fazendo com ela. Na verdade estava mais do que acostumada a ser o centro das atenções, então ser ignorada era uma coisa no mínimo nova para ela. Continuaram a andar em linha reta pelo extenso corredor, até que atingiram a altura de uma enorme porta de vidro; uma placa mais do que visível escrita “Biologia” pendia do teto e as mesas de mármore e todos os equipamentos necessários para aquela matéria eram claramente visíveis dentro da sala.

“Você não estava realmente perdido, estava?” a garota perguntou desconfiada.

“Não...” ele abriu um sorrisinho enviesado que fez com ela tivesse vontade de suspirar.

“Bem, a gente se vê por aí!” Lily disse atordoada, e tentando disfarçar o efeito que ele tinha causado sobre ela, deu uma piscadela casual.

“Hum, ok...” ele falou com o mesmo tom de descaso e entrou na sala visivelmente contra a vontade.

Lily seguiu-o com os olhos, vendo-o largar-se sobre a última mesa da sala e abaixar a cabeça. Sacudiu a cabeça na intenção de despertar ao perceber que mais uma vez estava hipnotizada por ele. Afinal, o que havia com aquele garoto? Talvez Violet estivesse certa e ele fosse realmente um delinqüente. O que ela não conseguia explicar era o porquê de ter se sentido tão atraída por ele enquanto metade da população masculina daquela escola caía aos seus pés, e o dito mais bonito, inteligente e rico de todos fazia de tudo para ser seu namorado.
Ainda atordoada com todos aquele

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