Prólogo



O som quase ensurdecedor das grossas gotas chuva chocando-se contra a lataria do ônibus fazia com que a agonia de James aumentasse a cada segundo. Precisava de um cigarro. Precisava da porra de um cigarro ou então enlouqueceria ali dentro. Levou as mãos trêmulas aos cabelos, e sem qualquer resquício de delicadeza afastou a franja já molhada de suor de seus olhos. Olhou de soslaio para a mulher que estava sentada na poltrona do lado do corredor e sentiu uma enorme satisfação ao perceber que esta finalmente havia caído no sono. Quase desesperado, tomou sua mochila em mãos e começou a mexer em seu bolso frontal. Tirou dali de dentro um baseado já enrolado, e após abrir a janela ao seu lado acendeu-o com avidez.

Tragou o cigarro profundamente, sorvendo a maior quantidade de fumaça possível para dentro de seus pulmões. Pouco a pouco sentiu seus músculos relaxarem e uma sensação de alívio percorreu toda a extensão de seu corpo. Apertando o cigarro entre o polegar e o indicador deixou com que sua cabeça caísse para o lado da janela, e então ficou observando distraidamente o vidro embaçar e desembaçar de acordo com a o ritmo da sua respiração.

Cenas do dia anterior passeavam por sua mente; tudo o que havia acontecido para levá-lo a estar dentro daquele ônibus que o carregava para lugar nenhum. Sentiu raiva ao pensar na figura da diretora nervosa e descabelada, gritando palavras moralizantes por ter surrado violentamente um moleque do primeiro ano. Ao seu ver, ele merecera aqueles socos! Não estava fazendo nada, apenas fumando em seu canto, e o tal pivete veio com todo aquele papo de "diga não às drogas" para o seu lado. Ele não tinha nada que meter o nariz aonde não fora chamado. Porém, nenhum de seus argumentos pareceram ser válidos o suficiente, e então James foi expulso da escola minutos após a surra. Aquela para qual estava sendo mandando era a sua última chance segundo a assistente social que o acompanhava desde a sua segunda expulsão. Ter que trocar de escola não era um grande problema, o que mais o indignava naquilo tudo era que estava sendo mandado para uma escola no meio do nada, com a desculpa de que aquilo seria o melhor para a sua saúde. Como se não fosse capaz de conseguir drogas só por estar morando em uma cidade pequena.

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