Dia dos Namorados



- CORVINAL! – gritou o Chapéu Seletor. Definitivamente os Malfoy não faziam mais parte da Sonserina. Vermelha como um pimentão, Samantha desceu do banquinho e foi se sentar à mesa da Corvinal sob os aplausos de seus novos colegas. Scorpius olhava desolado para a irmã do outro lado do salão; ele estava sentado um pouco mais distante de mim do que o normal, mas era melhor assim. Nós ainda não havíamos superado o episódio do Natal e estávamos evitando ficar sozinhos no mesmo lugar. Alvo, esperto como sempre, já estava desconfiado, mas pelo menos tinha o bom senso de não dizer nada.


- Ei, cara, o que foi? – ele perguntou a Scorpius.


- Nada. Eu só queria que Sam ficasse conosco na Grifinória. – Scorpius respondeu. Nós seguimos o seu olhar e vimos Samantha sentada entre Jullianne e Peter. Pelo menos ela não estava sozinha. Sam viu que estávamos olhando para ela e nos acenou um tchauzinho.


- Ainda bem que Sam superou um pouco da timidez durante as férias. – eu comentei, virando-me para frente e garfando um pedaço de frango. – Espero que ela se enturme com o pessoal da Corvinal.


- Peter e Jullianne a ajudarão, Rose. – disse Alvo, tranquilizador. – E nós também.


- O problema é que Peter, Jullianne e nós três estamos no último ano, mas Sam ainda está no sexto. Eu fico preocupado de ela não se enturmar e ficar sozinha ano que vem.


- Relaxa, Scorpius. – respondeu Alvo. – Bonita do jeito que ela é, duvido que tenha algum problema. – a cara que Scorpius fez após Alvo terminar de falar foi tão impagável que eu não resisti: tive que rir.


- Cara! – exclamou Scorpius. – Ela é minha irmã!


- E qual o problema disso, Scorpius? – eu perguntei.


- O problema é que ela é minha irmãzinha!


- E...? – disse Alvo, sorrindo de forma sacana. Scorpius olhou zangado para ele, mas depois, como se uma luz tivesse se acendido em seu cérebro, arregalou os olhos.


- Ah não, Alvo! Não me diga que você está a fim da Sam!


- Ok, não digo. – ele respondeu com indiferença. Soltei uma gargalhada e Scorpius nos olhou de cara feia.


- É melhor você dormir de olho aberto hoje. – advertiu.


- Nossa, você é mesmo assustador, Scorpius. – eu debochei.


- Mas também não sou inofensivo, Rose, você sabe bem disso. – ele falou com raiva. Eu arregalei os olhos quando entendi do que ele estava falando e senti que estava ficando pálida. Quando se deu conta do que havia dito, Scorpius também arregalou os olhos e ficou abrindo e fechando boca sem saber o que falar. Alvo, por sua vez, olhava de um para o outro com as sobrancelhas arqueadas como se quisesse ler nossas mentes.


- Como assim? – perguntou.


- Nada! – exclamamos eu e Scorpius rápido demais. Alvo nos olhou mais desconfiado ainda. Mas por fim, relaxou os ombros e riu.


- Uau, se eu não conhecesse vocês, diria que vocês andaram se agarrando por aí, porque essas caras que vocês andam fazendo... – disse gargalhando. O efeito de suas palavras não foi o melhor: Scorpius engasgou com o suco que bebia e eu larguei o garfo que segurava.


- Des-desceu pelo lu-lugar errado. – disse Scorpius arfando, procurando por ar, depois que eu e Alvo batemos em suas costas.


- Acontece. – eu falei, sorrindo amarelo. Eu olhei para Alvo e completei – Que ideia maluca é essa, Al? Você sabe que eu nunca, nunquinha, ficaria com o Scorpius.


- É, eu sei. Mas que vocês estão esquisitos...


- Não é nada. – respondeu Scorpius após se recuperar do engasgo. – Andem, vamos dormir. Amanhã tem aula.


Eu e Alvo assentimos e nós três nos levantamos. Alvo foi na frente, mas eu e Scorpius ficamos um pouco atrás.


- Alvo sabe? – murmurou ele.


- É claro que não, Scorpius. – eu disse, curta e grossa, e passei à sua frente. Eu não queria correr nenhum risco perto dele, por isso saí correndo para o meu quarto.


Os professores voltaram às aulas em ritmo acelerado e os níveis de sanidade dos alunos começaram a cair. A proximidade dos N.I.E.M’s estava tomando todo o nosso tempo e quando não estávamos estudando como loucos, estávamos treinando Quadribol. Nossa próxima partida seria contra Sonserina e quase não tínhamos tempo para outra coisa. E ainda tinha todo o estresse com Scorpius. Não estava sendo um bom recomeço.


Na véspera do jogo, nós sete estávamos reunidos no vestiário após o treino, só relaxando, aproveitando o tempo vago.


- Ei, Scorpius? – chamou Joanne, e ele se virou para olhá-la. – É melhor você dar um jeito na sua namorada amanhã. Ouvi dizer que ela é boa.


- E como é... – disse ele, rindo quando nós pegamos o duplo sentido da frase.


- Eca! – exclamou Lily, fingindo uma ânsia de vômito. – Muita informação.


- Que nojo, Scorpius! Eu estava falando do Quadribol! – disse Joanne.


- Ela também é boa no Quadribol. – Scorpius respondeu, arrancando risadas gerais.


- Ok, chega! – eu falei rindo. – Já são sete e meia e o jantar vai ser servido daqui a pouco. Subam, tomem um bom banho, jantem e vão direto para cama. Quero todos no dormitório antes das nove e meia. Eu só vou terminar de arrumar umas coisas e já encontro vocês. – eles saíram cantando vitória e gargalhando alto. Quando me vi sozinha, eu guardei minha vassoura no armário e conferi os uniformes de cada um. Mas ao me virar para pegar o mapa de estratégias sobre a mesa, vi Scorpius parado à porta. – Ah, oi, Scorpius. – falei sem jeito e me amaldiçoei por isso.


- Oi. – ele respondeu, se aproximando. Na mesma hora eu recuei dois passos, o que o fez soltar uma risadinha. – Eu acho que nós precisamos conversar.


Eu suspirei, dando-me por vencida, e desabei sobre um dos bancos.


- Eu sei. – eu disse. Scorpius se jogou ao meu lado. Desejei que ele não tivesse feito isso.


- Faz mais de um mês que nós não nos falamos direito, Rose. Desde que a gente...


- Nem diga! – eu interrompi, falando alto. Baixei a voz e completei – Nem lembre disso.


- Qual é, Rose. Não é algo que dê para esquecer, sabe? – eu lhe lancei o olhar mais gélido que consegui. – Ok, desculpe. Mas eu não aguento mais agir todo esquisito quando você está por perto. E você está sempre por perto.


- Eu sei o que você quer dizer, Scorpius. – respondi, cansada. – Mas olha o que a gente fez. Eu tenho namorado, você tem namorada, e mesmo assim nós nos agarramos na cozinha da minha avó há um mês!


- Pensei que você não quisesse lembrar.


- Eu não quero! E para de rir! – eu mandei e ele engoliu o riso.


- Nós temos que resolver isso, Rose. Sejamos sinceros, - odeio, odeio essa coisa de “sejamos sinceros”. Sempre vai por um caminho pelo qual eu não quero me aventurar. – foi um bom beijo.


- Scorpius! – exclamei, chocada que ele tivesse dito isso. Mas ele só deu de ombros.


- Eu estou falando sério. Não foi nada repulsivo e você tem que admitir que nós dois estávamos nos divertindo.


Eu não podia acreditar no que estava ouvindo, mas ainda assim ele estava certo. Nós estávamos nos divertindo. Meu Deus, não posso lembrar que já me dá arrepios.


- Ok, ok! Você está certo. Foi um bom beijo, eu confesso. – eu disse e finalmente sorri. O clima estava melhorando, já éramos eu e meu melhor amigo ali de novo. – Nós somos bons nisso, devo dizer.


- Ah, nós somos ótimos. – Scorpius riu e me abraçou pelos ombros. – Você acha que nos sentiríamos tão culpados se não estivéssemos namorando? Sabe, sem Peter e Izzy.


- Acho.


- Acha? Mesmo?


- Eu não sei, Scorpius. Não tenho certeza. Você não é qualquer amigo, é bem mais que isso, e eu odiaria jogar tudo o que nós temos pro alto por causa de um beijo.


- Nisso eu tenho que concordar. Não quero nunca perder nossa amizade, Rose. Eu te amo e você sabe disso.


- Eu sei. – concordei rindo. Scorpius me deu um beijo na testa. – Eu também amo você, Scoop. – ele fez uma careta quando eu o chamei pelo apelido que ele tanto detestava. – Foi só um beijo, e daí? Amigos se beijam o tempo todo, não é exclusividade nossa.


- O tempo todo. – ele concordou. – Então, estamos bem?


- Estamos ótimos. – respondi.


- Senti sua falta. – Scorpius disse cheio de carinho. Sorri. – Agora vamos, capitã. Nós precisamos comer, tomar banho e dormir.


Na manhã seguinte, a escola estava em polvorosa. Poderiam passar mil anos, mas Grifinória versus Sonserina seria sempre Grifinória versus Sonserina, o clássico dos clássicos. Toda a nossa casa estava de vermelho e dourado dos pés à cabeça e os alunos da Corvinal e da Lufa-Lufa erguiam nossas bandeirolas. Apenas os sonserinos, obviamente, destoavam do vermelho e dourado, com suas roupas e acessórios verde e prata.


O time estava extremamente confiante durante o café da manhã, o que era realmente ótimo. Após devorarmos nossos pratos, partimos para o vestiário sob os aplausos dos estudantes. Vestimos nossos uniformes e pegamos as vassouras enquanto ouvíamos o barulho de milhares de pés marchando para o campo.


- Muito bem, pessoal. – eu falei, ficando de pé entre meus companheiros. – Está quase na hora. Se vencermos essa partida, pularemos para o primeiro lugar no Campeonato das Casas e se contarmos com uma ajudinha do pessoal da Lufa-Lufa contra a Corvinal, já poderemos nos considerar campeões. Então, prontos?


- Nós nascemos prontos, mana. – disse Hugo, sorrindo confiante para mim. Eu ri e lhe mandei um beijo.


- Vamos! – exclamei e saí do vestiário seguida por eles enquanto Holly Green gritava a escalação.


- Weasley, Weasley, Potter, Malfoy, Weasley, Robinson e Potter – gritou ela e três torcidas gritaram em resposta. – E agora vem o time da Sonserina! – Holly gritou a escalação deles, mas eu não prestei atenção, preocupada em ver Izzy atravessar o campo e falar com Scorpius. Ele riu e, em seguida, deu um beijinho nela sob os gritos das torcidas.


- O que ela disse? – perguntei quando Izzy voltou para os seus companheiros.


- Que nós precisaremos de sorte. – ele respondeu indiferente, dando de ombros. Eu ri e lhe pisquei um olho.


- Ela é quem vai precisar. – falei sorrindo e Scorpius retribuiu. Era tão bom tê-lo de volta.


Madame Hook estava no centro do campo e fez sinal para que eu e Jack Kingston, o capitão da Sonserina, nos aproximássemos.


- Capitães, apertem as mãos. – ela ordenou. Nós dois obedecemos: Kingston quase quebrou minha mão, mas fiz cara de descaso e ele me soltou. – Jogadores, montem as vassouras. – os catorze subiram ao ar. Os balaços foram liberados, o pomo de ouro foi o próximo. Por último, a goles foi lançada aos céus.


Antes que piscássemos, Izzy capturou a goles e avançou pelo campo. Eu olhei para Scorpius e Alvo, e vi nos rostos deles o que eu estava sentindo: incredulidade. Nós manobramos as vassouras em alta velocidade e cercamos Izzy; Fred lançou um balaço que a atingiu em cheio e ela largou a goles. Kingston, que voava abaixo de nós, pegou-a com enorme destreza e a arremessou para os aros...


- PONTO PARA A SONSERINA! – a voz de Holly Green ecoou pelo estádio. Os sonserinos gritavam loucamente e o time se entreolhava sem acreditar.


- Rose?! – gritou Alvo, atônito.


- Vamos, vamos! – gritei de volta. Eu estava ali para vencer e não ia deixar a Sonserina levar aquela tão fácil. E não deixei mesmo: em cinco minutos, nós viramos a partida para 20 a 10. Agora era a Grifinória que gritava feliz.


A Sonserina tinha um bom time e nos pressionava fortemente, mas nós éramos melhores. Hugo estava trabalhando bem nos aros e Fred e Joanne não estavam dando folga para os artilheiros adversários. Eu, Alvo e Scorpius estávamos ótimos fazendo o que sabíamos fazer de melhor e Lily sobrevoava o campo longe de nós.


Mas quando o jogo estava 150 a 120 para nós, aconteceu: Lily começou a agir de forma esquisita sobre nós. Voava em zigue-zague pelo estádio, dava voltas, piruetas e giros. Não parecia saber o que estava fazendo. Nós paramos, abismados, e ficamos olhando para ela sem entender nada; enquanto isso, a Sonserina fez mais dois gols, ficando apenas 10 pontos atrás.


- O que deu na minha irmã? – gritou Alvo, desesperado. Nós continuamos a observá-la e, eventualmente, os sonserinos empataram o jogo.


- Lily não está bem, Alvo! – eu exclamei.


- Estamos perdendo! – Scorpius berrou. Todos olharam o placar, que estava virado em 10 pontos para eles.


- Ela está confusa! – eu tornei a gritar. – Alguém a azarou! – fazia todo sentido. Lily nunca se comportaria daquele jeito de propósito. – Voltem ao jogo agora! Alvo, Scorpius, tratem de empatar! Eu vou circular o campo e vou achar que está fazendo isso! – enquanto os outros cinco voltavam suas atenções para a partida, sob os gritos e vaias das torcidas, eu dei uma volta procurando o autor daquilo. Só um aluno da Sonserina poderia fazer aquilo, então foi na torcida deles em que eu procurei. Olhei uma, duas, três, quatro, cinco fileiras até que encontrei a pessoa. Sentada mais quieta que todos os outros, com a varinha discretamente apontada para o alto e mexendo a boca ligeiramente estava Lia Cady.


Definitivamente os sonserinos não conheciam o conceito de fair play.


Acelerei a vassoura e emparelhei com Alvo e Scorpius, que me olharam buscando informações. Eles, ainda bem, já haviam conseguido empatar o jogo.


- Cady. – disse simplesmente, borbulhando de raiva. Os dois assentiram e nós voltamos ao jogo. Não dava para reverter o feitiço, era perigoso demais enquanto Lily estivesse se movimentando rápido daquele jeito. Teríamos que esperar a partida acabar. E então daríamos um jeito naquela sonserinazinha patife.


Mas o jogo não demorou muito mais. Quando voltamos a assumir a frente no placar, os sonserinos ficaram um pouquinho mais sedentos de sangue. Os batedores quase matavam a gente e Fred e Joanne faziam tudo o que podiam para revidar sem jogarem sujo. E para completar, Izzy era uma ótima artilheira, o que acabava ajudando-os. E quando o placar chegou a 220 a 190 para nós, o apanhador deles conseguiu capturar o pomo. Fim de jogo: 340 a 220 para a Sonserina. Humilhação completa. Eu nunca havia sofrido uma derrota tão grande e naquele momento só ouvia a euforia da torcida sonserina.


Entretanto, Lily era mais importante e apesar da nossa raiva, precisávamos trazê-la de volta ao chão em segurança. Com a festa dos sonserinos e as lamentações das outras três torcidas, ninguém se deu conta de que seis varinhas estavam apontadas para a única pessoa que ainda estava voando. Como éramos vários, conseguimos atingi-la com um feitiço paralisante e, cuidadosamente, a pousamos no chão, onde lhe lançamos um contra-feitiço.


- O QUÊ? – ela urrou quando nós contamos o que havia acontecido. – Ah, mas esperem um segudinho aí enquanto eu vou lá enfiar um soco na fuça daquela nojenta. – e dizendo isso, Lily tentou avançar contra Cady, que ainda comemorava a vitória em campo, mas nós a seguramos a tempo.


- Maldito gênio Weasley. – riu Scorpius, segurando Lily pelos braços. – Relaxe, Lily. Ela é nossa. – completou com um sorrisinho diabólico.


- Ela vai ver que grifinórios não são sempre tão legais. Vamos mostrar que podemos ser tão ruins quanto os sonserinos. – eu falei sorrindo de forma meio insana.


- Lia Cady vai se arrepender de ter mexido conosco. Ah vai. – prometeu Alvo. Lily sorriu malvada.


- Quando vocês acabarem, me chamem para eu dar uma pisadinha também. – disse ela.


É, maldito gênio Weasley.


- Pode deixar, Lily. – prometemos e seguimos para o castelo lamentando a vitória que escapara das nossas mãos. Lia Cady ia receber o que merecia, eventualmente. Podia demorar meses, mas não deixaríamos barato. Um dia da caça, outro do caçador, como diria vovó Granger. Aquela garota estava ferrada.


Depois da nossa humilhante derrota para a Sonserina, os dias se arrastaram lentamente. Os professores, a cada dia, nos davam mais e mais deveres de casa e era possível ver os quinto e setimanistas correndo esbaforidos pelos corredores até a biblioteca ou desmaiando nas aulas. E ainda faltavam cinco meses para os exames. Com a rotina, acabamos adiando a vingança contra Cady para fevereiro. Ou melhor, para o Dia dos Namorados.


Quando 14 de fevereiro amanheceu, a escola estava em polvorosa: era dia de passeio em Hogsmead e os alunos corriam portões afora até o povoado.


Eu e Peter nos encontramos no Saguão de Entrada e logo depois Scorpius e Izzy se juntaram a nós. Para nossa surpresa, Alvo e Samantha vinham logo atrás. Bem que eu estava desconfiada das saídas repentinas de Alvo do salão comunal. Aquilo explicava muita coisa. Meu primo estava tão alegre quanto Sam estava envergonhada e isso era muito.


- Feliz Dia dos Namorados! – exclamou Peter, me agarrando num beijo.


- Para você também! – eu disse ainda abraçada a ele, sorrindo. Em seguida, nós trocamos nossos presentes. Mas antes de abrir meu embrulho, eu completei para Scorpius e Izzy – Feliz Dia dos Namorados para vocês dois!


- Obrigada, Rose! – agradeceu Izzy – Desejo o mesmo para vocês dois. – adicionou e nós duas sorrimos uma para a outra. Mas eu e Scorpius não conseguimos nos encarar, por isso achei preferível abrir meu presente.


- Peter! É lindo! – exclamei, admirando o bonito cordão que tinha um pedaço de estrela cadente como pingente. Pedaços de estrelas cadentes eram raros, então aquilo deve ter custado caro. – Obrigada mesmo. Ponha para mim? – eu me virei de costas e ele fechou o cordão.


- Agora é minha vez. – disse ele rasgando o embrulho que eu havia lhe dado. – Um suéter? – perguntou rindo enquanto examinava a peça azul que tinha um grande “P” bordado em bronze, como os punhos e a gola. Alvo e Scorpius sorriram quando viram.


- É um suéter Weasley. – disse Alvo. – Agora você definitivamente faz parte da família.


- Você não gostou? – perguntei nervosa. Mas Peter sorriu.


- Eu adorei! Muito legal. – disse ele e eu suspirei aliviada. – Então, todos tem um desses?


- Até eu tenho. – disse Scorpius com um sorriso. – A Sra. Weasley adora fazer suéteres.


- Legal! Obrigado, Rose. – agradecendo, Peter me deu mais um beijo e depois vestiu seu suéter por cima do uniforme, recebendo a aprovação geral. – Então, vamos?


E fomos. Ao chegar em Hogsmead, nós seis nos entreolhamos sem saber para onde ir. Izzy foi que deu a resposta.


- Bom, eu e Scorpius vamos ao pub da Madame Puddifoot. – disse.


- Certo, então eu e Peter vamos ao Três Vassouras. – falei e Peter concordou. A última coisa que eu queria era ficar encarando Izzy e Scorpius juntos.


- E eu e Sam vamos dar umas voltas por aí. – disse Alvo e Sam concordou. Aproveitando a deixa, ele entrelaçou sua mão à dela, movimento que não passou despercebido a nenhum de nós. Sam ficou vermelha na hora, mas não disse nada; Scorpius lançou um olhar irritado aos dois, o que me fez rir e fazer uma provocaçãozinha.


- Aconteceu alguma coisa que nós não sabemos? – eu falei, rindo.


- Não! – Sam exclamou rápido demais. Alvo me olhou de cara feia e começou a puxá-la para longe.


- Vamos, Sam, vamos sair daqui. – mas antes de sair, Alvo se virou para nós e disse, apenas mexendo os lábios – Ainda não aconteceu nada. – e riu, para completa raiva de Scorpius.


- Ah, eu juro que vou pegá-lo. – disse ele. – É bom que ele durma de olhos abertos hoje, porque eu...


- Não vai fazer nada. – dissemos eu e Izzy em uníssono. Nós nos entreolhamos e rimos juntas.


- Sua irmã não é criança, Scorpius. Ela tem dezesseis anos e sabe o que quer. – disse Izzy.


- E agradeça por ser com o Alvo que ela esteja saindo. Antes ele que um babaca qualquer. – falei. Scorpius suspirou irritado. – Bom, talvez ele obedeça a você, Izzy. Vamos, Peter. – e nos despedindo, rumamos para o pub.


Assim que entramos no Três Vassouras pedimos cerveja amanteigada para Madame Rosmerta e sentamos numa mesa ao fundo. Passamos boas horas namorando, conversando e nos divertindo. Mas minha curiosidade estava me matando: eu daria tudo para ser uma mosquinha e poder espiar Alvo Potter e Samantha Malfoy num encontro.


Devo dizer que não precisei fazer isso, porque mais tarde naquele dia mesmo, antes de dormimos, arranquei de Alvo todos os detalhes do que acontecera entre ele e Sam. Foi bem bonitinho, se querem saber, então acho que vale à pena reproduzir suas palavras aqui, da forma mais fiel possível, como se ele mesmo estivesse escrevendo isso.


Narrado por Alvo Potter


Foi estranho me ver tão perdidamente atraído pela Samantha. Eu sempre gostei de garotas ousadas, independentes e extrovertidas, mas foi só colocar os olhos nela paras as mãos suarem e o pulso acelerar. E daí que ela é a irmã do meu melhor amigo? E daí que ela é uma Malfoy? E daí que ela é a timidez em forma de gente? Garanto que nada disso me impediu de buscar toda e qualquer aproximação com ela durante as férias e, agora, nesse primeiro mês de aula. Tudo isso para conseguir chamá-la para sair no Dia dos Namorados. Mesmo relutante, Samantha aceitou.


Depois que nós dois saímos, ficamos caminhando lado a lado pelo povoado sem nenhum destino certo. Como ela não conhecia Hogsmead, eu a apresentei a todas as lojas, bares e até a Casa dos Gritos. Sam demonstrou interesse verdadeiro em tudo o que eu dizia, como uma boa corvinal. O que, aliás, foi uma tremenda surpresa para todos nós, porque Corvinal nunca tinha passado pela cabeça de ninguém. Mas depois que Scorpius foi escolhido para a Grifinória, eu não duvidava de mais nada. Se bem que, parando para pensar, Samantha é frequentadora assídua da biblioteca desde que chegou aqui e é inteligente até a última ponta do cabelo. E, além de tudo isso, é linda.


Eu sei, eu sei. Estou ferrado.


Enfim, depois de darmos uma volta, passamos em frente à Dedosdemel. Samantha ficou deslumbrada.


- Alvo, será que nós...


- Venha, Sam! – eu falei e a puxei para dentro da loja, apinhada de gente. Havia prateleiras cobertas de doces do Dia dos Namorados, mas nós passamos por elas direto. – Pode pegar o que quiser, é por minha conta. – ela agradeceu e sorria como criança, sem saber o que escolher.


Enquanto Samantha se decidia, eu fui até uma das prateleiras com os doces do Dia dos Namorados e comprei um buquê de tulipas vermelhas que tinha o sabor e o cheiro preferidos da pessoa que o recebesse. Achei que ela fosse gostar.


Quando ela finalmente escolheu tudo o que queria, eu paguei e nós dois saímos com os braços cheios de sacolas. Sentamos num dos banquinhos da praça de Hosgmead e ficamos conversando enquanto dividíamos os doces.


- O que você está achando da escola, Sam? – perguntei.


- Hogwarts é a melhor escola do mundo! Maravilhosa, de verdade. Não acredito que perdi tanto. – ela respondeu sorrindo. Sam fica bem mais bonita sem toda aquela máscara de insegurança que ela insiste em colocar.


- É ótima. – eu concordei. – Mas pelo menos você sabe falar francês. Eu só sei dizer “bouillabaisse” e olhe lá.


- Bom, é o suficiente para não morrer de fome na França. – disse e nós dois rimos juntos.


- Mas do que você gosta mais?


- Das aulas de Transfiguração e Runas Antigas. São fascinantes! – eu ri quando ela disse isso. – O quê?


- Fascinantes... juro que esse seria o tipo de coisa que tia Hermione diria. Você se parece com ela nesses aspectos.


- Ah, eu sei que ela foi a melhor aluna da escola depois de Dumbledore e McGonagall. Mas por que eu pareço com ela? E a Rose?


- A Rose é muito inteligente, mas não liga tanto para os estudos. Por sorte, ela herdou o cérebro da tia Mione e não precisa se esforçar muito. Além disso, não é monitora, arranja detenções como troca de roupas e é capitã do time de Quadribol da Grifinória.


- O Quadribol não atrapalha em nada! Eu jogo Quadribol e, modéstia a parte, sou ótima.


- É mesmo, Sam. Eu lembro de você jogando na sua casa aquele dia. Por que não tenta uma vaga no time da Corvinal?


- Você acha que me deixariam entrar agora? No meio do campeonato?


- Não sei, podemos tentar. Se você quiser, eu falo com a Jullianne. Você sabe que ela é uma das artilheiras e eu aposto que ela te ajudaria.


- Você faria isso?


- É claro que sim! – Sam sorriu abertamente e, sem pensar, jogou os braços ao meu redor e me abraçou.


- Obrigada, Alvo! Obrigada, obrigada! – agradeceu, mas quando viu que estava abraçada a mim, me soltou rapidamente, vermelha até os cabelos. Deixei que ela se afastasse um pouco, para que eu pudesse pegar o buquê.


- Feliz Dia dos Namorados, Sam. – eu disse e entreguei o buquê a ela. Sam o pegou com cuidado e o cheirou. E sorriu.


- Obrigada. – ela falou. Nós dois ficamos nos olhando por alguns segundos, então eu me aproximei devagar do rosto dela. – Alvo, eu não acho... – eu a calei com um selinho. Sam estava com os olhos arregalados, mas não fugiu, então eu tomei isso como um sim. E a beijei de verdade. Calmamente, aprofundamos o beijo; eu desci minhas mãos para a cintura dela e Sam enlaçou os braços em meu pescoço, um pouco hesitante. Quando nos separamos depois de alguns minutos, abrimos os olhos e encaramos um ao outro. Eu sorri, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ela se levantou num pulo e saiu correndo.


Simplesmente ótimo.


Eu suspirei pesadamente e corri atrás dela. Rapidamente eu a alcancei e a puxei pelo braço, virando-a de frente para mim.


- Sam! O que foi? Por que você está fugindo?


- Alvo, isso não... eu, você não...


- E por que não? – perguntei com um sorrisinho. Mas ela não retribuiu.


- Sou uma Malfoy e você é um Potter! – para a surpresa dela, eu comecei a rir. – Qual é a graça?


- Esta é a sua melhor desculpa? Foi mal, Sam, mas não cola. Isso é muito “Romeo e Julieta”.


- O quê?


- É um romance trouxa. Os filhos de duas famílias rivais se apaixonam e vivem um amor proibido. – eu sorri. – Para alguém que gosta do mundo dos trouxas, você está bem desinformada. Mas não se preocupe, depois eu peço para a tia Mione te emprestar o livro, você vai gostar.


- Hm, ok, eu acho. – disse. Eu a abracei pela cintura e senti que ela ficou tensa em meus braços.


- Sam, relaxa, por favor. – pedi e ela o fez. – Você está mesmo preocupada com as nossas famílias? Scorpius é meu melhor amigo há anos e nossos pais já aceitaram isso. Ficarmos juntos só consolidaria os laços entre os Malfoy e os Potter. Não acho que eles ligariam de verdade. Provavelmente iriam encher nossos ouvidos, mas só para não perderem a prática.


- Não sei, Alvo. Eu só não quero me machucar.


- O que quer dizer?


- Eu tenho medo de gostar demais de você e acabar de lado. – suspirando pesadamente, ela olhou para o chão. Na mesma hora entendi o que ela quis dizer.


- Ah, você soube da minha fama.


- Soube. Desde que cheguei aqui, eu escuto as meninas falarem de você. Que você é ótimo no que faz, seja lá o que faça.


- Não vou mentir para você, Samantha. Admito que seja um pouco galinha, sim. – ela tentou se soltar, mas eu a segurei com mais força. – Me deixa acabar. Mas as pessoas aumentam muito: para começar, eu não fico com ninguém desde que voltamos. Eu me concentrei só em você. Além disso, eu nunca fiquei com duas meninas ao mesmo tempo. E tem mais uma coisa.


- O que é?


- Eu nunca me apaixonei por nenhuma delas. – olhei nos olhos dela e seu corpo ficou tenso novamente. – Pelo menos não como eu acho que estou apaixonado por você.


- Apaixon... o quê?! – exclamou com a voz aguda.


- Exatamente, Sam. Tenho quase certeza de que estou apaixonado por você.


- Você me conhece há dois meses, Alvo. Ninguém se apaixona em dois meses.


- Pare de ser cética. Dois meses foram suficientes para eu perceber que você é especial.


- Você não me conhece! Não sabe nada sobre mim! – exclamou meio desesperada. Eu sabia que ela estava procurando um motivo para não ficar comigo.


Acontece que eu sei, sim, muita coisa sobre ela.


- Seu nome completo é Samantha Astoria Malfoy, tem dezesseis anos e faz aniversário em 12 de maio. É apaixonada por livros e devora qualquer tipo deles. Suas três coisas favoritas são azuis: o anel da sorte, o colar que você ganhou da sua mãe e o seu primeiro dragãozinho de pelúcia, o que me dá a certeza de que o azul é sua cor preferida. O animal que você mais gosta é o Pégasus e já cansou de pedir um de presente ao seu pai, mas ele sempre diz não porque acha que voar de vassoura já está bom. Falando em vassoura, você joga como artilheira no Quadribol e torce com todas as forças pelos Tornados de Tutshill, o que nos leva de novo ao azul. Quando fica nervosa, você torce as mãos e gira o anel, exatamente como está fazendo agora. Mais alguma coisa? Ah, sim, seu sonho é ser uma Inominável e trabalhar no Departamento de Mistérios decodificando escritos antigos, porque você adora Runas Antigas. E, só para concluir, para você, esse buquê tem cheiro e gosto de caramelo.


Devo dizer que a deixei meio assustada, porque seus olhos estavam bem mais arregalados que o normal.


- Como você sabe tudo isso? É impossível! Você deve ter praticado Legilimência comigo! – não pude deixar de rir depois dessa.


- É claro que não, Sam. Eu só presto atenção. Vamos lá, me dê uma chance.


- Alvo, eu não... eu...


- Por favor. Eu sei que você não deve gostar tanto de mim quanto eu gosto de você, mas eu posso te conquistar. Por favor, Sam, uma chance.


- Eu... eu... – ela chegou a completar a frase, mas foi tão baixo que eu não ouvi.


- O que você falou? – perguntei, levantando o rosto dela. Sam tomou um fôlego incrível.


- Tudo bem! – respondeu em voz alta. Eu sorri abertamente. – Tudo bem, Alvo. Eu gosto de você de verdade.


- Sério? – ela assentiu sorrindo. – Obrigado, Sam, você não vai se arrepender.


- Eu sei. – respondeu. Eu não resisti e a ergui do chão pela cintura e rodopiei com ela pela praça. – Alvo! Alvo, ponha-me no chão! – eu obedeci e a coloquei no chão. Antes que ela brigasse comigo, eu a agarrei num beijo. Ficamos abraçados por longos minutos, até que ela disse – Precisamos ir. Ainda temos que nos encontrar com os outros. – Sam se virou para sair, mas eu a puxei para outro beijo. Rindo, ela me afastou. – Vamos, Alvo.


Eu já sabia naquela hora que teria que me apresentar para o interrogatório de armadura e varinha em mãos.


Fim da Narração


Bonitinho, não? Eu sei que sim. Achei uma graça toda a história quando Alvo me contou à noite. Mas à tarde, quando todos nós voltamos a nos encontrar à porta do Três Vassouras, eu ainda não sabia de nada do que havia acontecido entre os dois, mas não foi surpresa nenhuma vê-los voltando de mãos dadas. Scorpius não estava nada feliz com isso, mas Alvo e Sam não estavam ligando a mínima para ele.


Já estávamos no meio de fevereiro, então ainda nevava um pouco. Por isso, quando voltamos ao castelo, começamos uma grande guerra de bolas de neve: meninas versus meninos. Não houve vencedores, só um bando de adolescentes encharcados e congelados duas horas depois. Cansados, eu, Alvo e Scorpius nos despedimos de nossos respectivos namorados e subimos para o salão comunal.


- Alvo Potter. – começou Scorpius, olhando para Alvo de cara feia.


- Agora não, Scorpius. – eu disse, interrompendo-o. – Nós ainda temos contas a acertar com a Cady.


- É mesmo! Eu tinha esquecido. – riu Alvo, batendo contra a própria testa.


- Ah, por que será? – disse Scorpius cheio de sarcasmo. Alvo ameaçou responder, mas eu levantei os braços.


- Calem a boca vocês dois. – mandei. – Agora vamos, temos que pensar.


- Ok, sua mandona. – concordaram os dois. Nós nos sentamos em frente à lareira e ficamos em silêncio por alguns instantes.


- Certo, nada me vem à cabeça. – eu falei dez minutos depois. Scorpius assentiu com a cabeça, mas Alvo, que estava com o nariz enfiado no Mapa do Maroto (surrupiado da escrivaninha do tio Harry durante as férias), levantou a mão, pedindo a palavra. – O que foi?


- Jack Kingston tem namorada, não tem? – perguntou.


- Tem. Mary Williams, a monitora da Sonserina. – respondi. – Por quê? O que isso tem a ver com... – Alvo sorriu com escárnio e olhou significativamente para nós. Meu rosto se iluminou. – Ah! Deixe-me ver! – completei e puxei o mapa das mãos dele.


Ali, num dos corredores da Ala Norte, estava um pontinho com o nome Lia Cady exatamente no mesmo lugar que um pontinho com o nome Jack Kingston. Tão próximos que eles com certeza estavam...


- Se agarrando! – exclamou Scorpius, olhando o mapa por cima do meu ombro. – Perfeito, só precisamos avisar a escola.


Com toda certeza era perfeito. Nós não tivemos tempo de pensar em um plano contra ela, mas a própria Lia Cady nos apresentou um. Conjurei o pássaro das mensagens e escrevi com quem, fazendo o que e onde estava Cady e mandei para as garotas mais fofoqueiras da escola.


- Pronto. Vamos para lá. – eu falei e nós três saímos em direção à Ala Norte. Lá estavam eles, atracados num beijo onde não dava para saber nem quem era quem. Ficamos escondidos atrás de uma estátua e logo depois ouvimos um tropel: em minutos havia mais de cinquenta cabeças naquele corredor. Então, nós ouvimos.


- JACK! – era Mary Williams, a namorada traída. Os dois se soltaram no susto e arfaram quando viram o corredor lotado. – Eu sabia! Eu sabia! – a garota avançou sobre o namorado e lhe desferiu um sonoro tapa na cara. Em seguida, virou-se para Cady e – Sua vadia! – meteu-lhe um soco no nariz, fazendo-a cair no chão. Na mesma hora começou o coro de “Briga, briga, briga!”.


Nós saímos de trás da estátua e nos postamos à vista de Cady. Ela nos viu num segundo e se levantou furiosa do chão.


- Isso é coisa de vocês, não é? – gritou.


- É claro que sim. Você sabe que nós sempre assumimos. – eu disse. – Mas dessa vez, foi você que nos apresentou a vingancinha perfeita por ter enfeitiçado a Lily no jogo contra a Sonserina. Só tivemos o trabalho de avisar à escola. Aliás, trabalho não, prazer. – sorrindo, eu andei até ficar a dois centímetros do rosto dela. – Humilhação pública. Isso é pra você aprender a não mexer conosco. – as pessoas já estavam gritando à nossa volta. Eu sorri de forma angelical e virei as costas. Mas não fui longe.


- Estupore! – Cady gritou e eu caí estatelada no chão, inconsciente. Mas demorou um segundo, porque de repente abri os olhos e vi Alvo em cima de mim. Ele me ajudou a levantar e nós dois nos postamos ao lado de Scorpius, com as varinhas em punho.


- Atacar o oponente pelas costas? Tsc tsc, que feio, vocês sonserinos não aprendem mesmo sobre honra. – eu falei, irritada do dedinho do pé ao último fio de cabelo. Nós três erguemos as varinhas e, antes que ela reagisse, Alvo gritou:


- Expelliarmus! – e a varinha dela voou longe. Eu e Scorpius sorrimos um para o outro e olhamos para a já assustada Lia.


- Rictumsempra! – gritei.


- Tarantallegra! – Scorpius exclamou. No segundo seguinte, Lia Cady dançava e ria sem parar. As pessoas ao nosso redor começaram a rir também. Foi cruel, eu sei, mas inevitável. Enquantos nós nos dobrávamos de rir, a Profa Jayden apareceu. Por que sempre ela?


- Mas o que está acontecendo aqui? – perguntou ela, que viu Lia antes que nós respondêssemos. – Meu Deus! Finite Incantatem. – Lia parou de ser contorcer e rir e caiu ofegante. – Srta. Cady, você está bem?


- Não muito. – ela respondeu tão falsamente que eu revirei os olhos.


- Quem fez isso com você? – perguntou a professora. Lia só apontou para nós três. A Profa Jayden apenas suspirou cansada. – Por que eu não me surpreendo? Malfoy, Potter, Weasley, na minha sala agora.


- Nós vamos, professora. – disse Alvo, cruzando os braços.


- Mas ela também vai. – adicionou Scorpius, apontando para Lia.


- E por que ela iria? – ela perguntou, genuinamente supresa.


- Porque eu fui atacada primeiro. Ela me estuporou pelas costas. – respondi. – Pode perguntar a quem quiser. – e em seguida começou uma leva de “Foi a Cady, professora! Ela começou!” e a Profa Jayden a olhou cheia de desaprovação.


- Muito bem, a senhorita também vai. Os quatro para a minha sala agora. E vocês, Kingston e Williams, parem de gritar no corredor. – em silêncio, nós a seguimos até seu escritório nas masmorras. Acima de nós, ouvíamos os passos dos alunos indo para o Salão Principal jantar. A Profa Jayden nos mandou sentar e então tomou seu lugar à frente da escrivaninha. – Vocês não estão muito velhos para ficarem se exibindo pelos corredores. É o último ano, acho que já chega.


- Na verdade, professora. – começou Scorpius. – É exatamente por ser nosso último ano que fazemos isso. Queremos deixar nossa marca.


- E com certeza estão conseguindo. – ela resmungou. – Agora vamos às detenções – Lia ameaçou questionar, mas a professora ergueu a mão. – Quieta! Eu não quero saber de quem é a culpa, não quero saber quem começou. Todos estavam envolvidos, então todos receberão um castigo. Vamos ver agora... Potter, você vai limpar as comadres da Ala Hospitalar sem magia. E não reclame! Cady, você vai ajudar Hagrid a eliminar as fadas mordentes da tapeçaria do quinto andar. E como a estufa cinco é grande demais, Malfoy e Weasley, fica por conta de vocês limpá-la.


- O que?! – exclamamos nós dois em uníssono. Não por causa da detenção em si, mas pelo fato de que iríamos cumpri-la juntos. Nós já estávamos bem, mas é sempre melhor prevenir do que remediar, como diria vovó Granger.


- Isso mesmo. Não quero ouvir reclamações. Agora vamos, não quero perder o jantar.


Depois de conseguirmos jantar no salão todo decorado com o tema do Dia dos Namorados, nós três encontramos Peter, Izzy e Sam às portas de carvalho do Salão Principal.


- Onde vocês estavam? – perguntou Sam.


- Só dando o troco na Cady por causa do jogo. – respondi, espanando um punhado de pó colorido que um cupido tinha acabado de jogar na mina cabeça.


- E como foi? – Peter quis saber. Eu encurtei a distância entre nós e o abracei.


- Normal. – respondeu Alvo, dando a mão à Sam enquanto Scorpius abraçava Izzy. – Ela sofreu humilhação pública e nós estamos na detenção.


- De novo. – disse Izzy, revirando os olhos. – O que vão fazer?


- Eu vou ter que passar o dia amanhã limpando as comadres da enfermaria. E sem magia. – resmungou Alvo.


- E eu e Rose vamos limpar a estufa cinco. – disse Scorpius, parecendo irritado com isso. Bom, eu também estava. Peter e Izzy se entreolharam meio chateados, mas nada disseram quando perceberam que nós não estávamos felizes também.


- Aliás, - disse Alvo – alguém se lembrou de chamar a Lily? – quando negamos, ele fez uma careta – Ah, ela não vai ficar feliz quando contarmos que nos esquecemos dela, tsc. – completou, arrancando risadas. Pelo menos Alvo conseguia descontrair qualquer ambiente.


Quando acordei na manhã seguinte, permaneci deitada pensando no dia que me esperava. Detenção ao lado de Scorpius era muito perigoso dado o que havia acontecido no Natal, mas antes de me levantar da cama, eu enfiei na minha cabeça que era apenas uma detenção como outra qualquer ao lado do meu melhor amigo. Nada de mais.


Tomei um banho rápido enquanto ouvia minhas colegas de quarto se arrumarem para aproveitar o sábado. Quando pronta, despedi-me delas e desci para o salão comunal, onde encontrei Alvo e Scorpius conversando. Aposto um galeão que era sobre Sam.


- Bom dia. – eu falei parando em frente aos dois. Eles pararam de conversar e me cumprimentaram. – Prontos para mais um dia divertido cumprindo detenção?


- Não. – rugiu Alvo. – Jayden pegou pesado dessa vez. Limpar comadres é um absurdo, que coisa nojenta. Eu preferia arrumar a estufa cinco, bem melhor. – eu e Scorpius nos entreolhamos preocupados, mas deixamos que Alvo continuasse a tagarelar. – Bom, vamos tomar café. Se nos alimentarmos bem, ficaremos mais dispostos e acabaremos as detenções mais rápido, então poderemos aproveitar o que restar do nosso sábado. – esse é o tipo de coisa que nossa avó falaria, com certeza. Sabe, comer bem para trabalhar bem. Enfim, descemos para o Salão Principal e sentamos à mesa da Grifinória.


- Ei, Rosie – chamou meu irmão. – A que horas será o treino hoje?


- Ah, Hugo, esqueci de avisar... pessoal! – chamei os outros três que faziam parte do time. Lily, Fred e Joanne me olharam. – Hoje não tem treino porque eu, Scorpius e Alvo estamos de detenção.


- Grande novidade. – resmungou Lily, revirando os olhos. Fred e Joanne apenas deram de ombros. – O que foi que vocês fizeram dessa vez?


- Ham... – eu olhei rápido para Alvo e Scorpius, mas eles olharam para o outro lado me ignorando completamente. – Lia Cady...


- Ah, não! Não acredito que vocês não me chamaram para dar o troco naquela vaca! – exclamou ela em voz alta, atraindo parte dos olhares da mesa. Eu sabia que Lily ia ficar chateada, porque ela gostava dessas coisas... todo mundo sabia que ela tinha ideias bem malvadinhas quando queria. Baixando a voz, Lily continuou – Certo, tudo bem. Mas o que foi que vocês fizeram com ela?


Em poucas palavras, eu contei como Cady havia nos dado toda a ideia e como a executamos, como eu havia sido estuporada e depois como nós três enfeitiçamos a garota e finalmente como havíamos ganhado a detenção com a chegada da Profa Jayden. Lily ouvia a tudo com um sorriso sacana no rosto e quando eu acabei de contar, ela soltou uma gargalhada.


- Não acredito nisso! – ria ela. – E o corredor estava cheio? Droga, como queria uma penseira só para arrancar essa memória de vocês e assistir como aquele cinema trouxa que papai nos levou quando éramos crianças. Espere até eu espalhar isso pela Grifinória! – e ainda rindo, Lily se levantou. – Bom, vejo vocês depois.


- Aonde você vai? – perguntou Alvo, erguendo uma das sobrancelhas.


- Não que seja da sua conta, mas eu vou me encontrar com o Seth.


- É claro que é da minha conta!


- E por que seria?


- Porque você é minha irmã mais nova!


- Grande coisa, Alvo. – desafiou ela, jogando o cabelo ruivo para trás. – Agora, se você já acabou de me amolar...


- Falando em irmã mais nova, Potter – interrompeu Scorpius, olhando feio para Alvo. – Eu acho que nós dois temos um assunto a tratar e ele se chama Samantha Malfoy. Que, por acaso, é a minha irmã mais nova!


- Tem que ser agora? – perguntou Alvo, sorrindo de forma idiota. Revirei os olhos.


- Onde está a sua coragem, Alvo Severo Potter? – alfinetei, arrancando risadas dos outros – Honre sua família!


- Espere um segundo. – disse Lily, estreitando olhos. – O que a Sam tem a ver com isso?


- Seu irmão está saindo com ela! – exclamei e Lily gargalhou.


- Que bela novidade, maninho. – ela provocou. – Mas se eu fosse você, me preocuparia com outro irmão mais velho. Cuide da sua cabeça antes de caçar a dos outros. – e dizendo isso, Lily piscou um olho e saiu do salão.


Antes que Scorpius pudesse encher os ouvidos de Alvo sobre Samantha, eu puxei os dois para que fôssemos logo nos encontrar com a Profa Jayden. Ela e Lia Cady já estavam nos esperando às portas do salão.


- Certo, agora que vocês chegaram, já podem se separar. – disse a professora – Srta. Cady, pode ir para o quinto andar que Hagrid já lhe alcança. E não pare pelo caminho. – mandou e Lia, com cara de quem tinha bosta de dragão sob o nariz, saiu marchando com raiva pelo corredor. – Potter, você também pode ir. Madame Pomfrey está lhe esperando e vai lhe supervisionar. – Alvo acenou um tchau desanimado e seguiu para a Ala Hospitalar. – E agora vocês dois, venham comigo. – eu e Scorpius a seguimos até a estufa cinco e quando chegamos lá, ela estendeu a mão e disse – Entreguem-me as varinhas.


- O que!? – exclamei, chocada. – Sem varinhas?


- Exato. – sorriu ela, feliz que nós estivéssemos chateados. Uma boa diretora da Sonserina, por melhor que seja, nunca deixa os alunos da Grifinória se safarem completamente de alguma coisa.


- Vamos ficar horas aqui! – disse Scorpius. – Não sabemos como segurar uma vassoura!


- É uma boa hora para aprender, então. – disse a professora. – Andem, deem-me as varinhas. – de má vontade, nós as entregamos. – Bom, tem baldes, vassouras e mais tudo o que precisarem lá dentro. Só saiam daqui com tudo limpo.


Quando ela saiu, nós dois nos entreolhamos e empurramos a porta. Gemi quando vi estado em que a estufa estava. Scorpius nem esboçou reação.


- Ah, meu Deus. – eu falei. – Olha só esse lugar. – havia restos de plantas por todo canto, vasos quebrados, terra espalhada, bancos virados, lama e mais um monte de coisa que nem vale a pena mencionar. – Bom, mexa-se, Scorpius. Temos muito o que fazer.


- Por onde começamos?


- Não tenho ideia. – e não tinha mesmo. Minha experiência com limpeza se resumia a não deixar minha roupa suja acumulada. – Mamãe, vovó e minhas tias usam magia para limpar a casa.


- E sua avó materna?


- Sempre que chegávamos lá, a casa estava limpa. Nunca vi minha avó empunhando uma vassoura e ela certamente nunca me ensinou como fazer isso. – eu me sentei num banquinho e comecei a examinar a estufa – Ok, vamos pensar. Primeiro nós temos que nos livrar desses restos de plantas e dos vasos quebrados.


- Depois... varremos essa terra e limpamos o chão com água e sabão.


- Por último, temos que rearrumar as plantas inteiras nos seus respectivos vasos e colocá-los de volta nas bancadas. – finalizei e me pus de pé.


- Vamos logo antes que eu desista. – Scorpius ameaçou e eu ri.


- É, como se você pudesse.


Demoramos cerca de uma hora para limpar a estufa de todas as plantas mortas, seus restos e vasos quebrados. Era muita planta e parecia que, sempre que acreditávamos que havia acabado, um pedaço ou resto de folhas aparecia. Depois nós limpamos as bancadas para que, no final, pudéssemos arrumar as plantas vivas que haviam sobrado. Mas quando passamos para o chão, a bagunça foi inevitável. Mal havíamos jogado água e sabão quando escorregamos e caímos sobre o piso.


- Ai! – exclamei quando meu quadril bateu no chão.


- Você está bem? – Scorpius perguntou preocupado, enquanto tentava levantar.


- Estou, só acho que machuquei o quadril. Me ajude aqui, por favor. – ele conseguiu ficar de pé e me puxou pela mão. No momento em que me equilibrei, pisei em outro pedaço de sabão e tornei a escorregar. Teria caído de cara no chão se Scorpius não tivesse me puxado pela cintura. Por um segundo, desejei que ele tivesse deixado eu me estatelar, porque agora eu estava muito, muito perto dele. Centímetros nos separavam.


Droga!, pensei.


- Obrigada. – falei baixo, a respiração ofegante.


- Não há de que. – ele respondeu e, aproveitando que me tinha, litaralmente, em seus braços, subiu a mão para minha nuca. Estava prestes a baixar o rosto quando eu espalmei as mãos no peito dele e o afastei delicadamente.


- Não, Scorpius. Não podemos. – eu disse, suspirando pesadamente.


- Você tem razão, desculpe. – pediu e me largou. Eu forcei um sorriso.


- Não tem problema. Ande, temos que acabar de limpar essa bagunça. – mantendo razoável distância um do outro, nós conseguimos terminar tudo em pouco mais de duas horas. Eu tinha acabado de ajeitar o último vaso quando deu a hora do almoço. – Finalmente! Acabamos, Scorpius. Preciso de um banho, arre.


- Eu também, mas é melhor almoçarmos antes senão acabará a comida e ficaremos com fome.


- Sempre tem a cozinha, não se esqueça. – falei enquanto saíamos da estufa. A Profa Jayden vinha marchando até nós.


- Como a senhora sabia que tínhamos acabado? – Scorpius perguntou.


- Porque vocês conseguiram sair. Se não terminassem e tentassem sair, a porta trancaria vocês até que limpassem tudo. – explicou. Ela puxou nossas varinhas da capa e nos devolveu. – Espero que tenham aprendido a lição. – mas depois deu uma boa olhada em nós e meneou a cabeça. – É claro que não aprenderam. Andem, vão almoçar.


Aproveitamos a deixa e partimos correndo para o Salão Principal, já lotado. Quando começamos a comer, com Alvo já ao nosso lado, ouvimos barulhos de asas. Mas era sábado e não havia correio, então só podia ser uma entrega diferenciada. Uma grande coruja branca pousou delicadamente entre os pratos da nossa mesa. Reconheci-a imediatamente.


- É a coruja da Vic, Petite. – eu falei, arrancando um bolo de correspondência. Abri-o e havia uma carta e outros oito envelopes. Sem demorar muito, eu li a carta e abri um sorriso – Ah, meu Deus! – exclamei em voz muito alta, fazendo toda a minha família (e Scorpius) se virar para olhar. – Dominique, Louis, sabem o que são esses envelopes?


- Passagens de férias! – gritaram os dois juntos. Eu ri, revirando os olhos.


- Não! – respondi, pegando o bolo de envelopes e sacodindo-o – São os convites de casamento da Vic e do Teddy!


- O que?! – exclamaram todos. Eu distribuí os convites, que estavam separados para cada parte da família, além de Scorpius e Sam, Peter e Jullianne e até Izzy. Eu me perguntei por que mandar cinco convites para a família ao invés de um só, já que todos nós estudávamos no mesmo lugar. Provavelmente Vic queria que cada ramo da família guardasse seu convite.


De qualquer forma, o casamento seria na Páscoa. Em dois meses, minha prima, a primeira neta dos Weasley e a princesa da família estaria se casando. Eu me peguei imaginando, pela primeira vez desde que me entendia por gente, como seria quando eu me casasse. Espantada, dei um tapa na minha própria testa, querendo afastar esses pensamentos.


Mas já tinha alguma coisa errada.

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Comentários (1)

  • Lana Silva

    Ela deveria tá pensando em se casar com Scorpion ...*---------------------* amando....

    2011-10-12
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