E assim eu descobri



- Estão prontos? – perguntou a Profa McGonagall. Nós assentimos e ela pegou o pó de Flu e jogou nas chamas da lareira. Estávamos na sala da diretoria esperando para ir para casa. Tínhamos recebido permissão especial para ficar fora da escola por três dias por causa do casamento de Vic e Teddy. A professora abriu caminho para Peter e Jullianne e depois para Scorpius, Sam e Izzy. Por fim, restaram apenas os Weasley e os Potter na sala. – Certo, então agora vamos começar pelos mais novos: Louis e Lucy, vocês primeiro... Molly, Roxanne... Dominique, Fred... Hugo, Lily... Alvo e... Rose. – dei um tchauzinho para ela, dizendo a veria em breve (já que ela iria ao casamento e deixaria Jayden como diretora por um dia) e entrei na lareira. Gritei “A Toca!” e fui girando rapidamente por inúmeras lareiras até cair de joelhos no tapete da cozinha da casa dos meus avós. Não havia ninguém ali, apesar das muitas caixas de doces, garrafas de hidromel, whisky de fogo e suco de abóbora, e mais vários ingredientes para as comidas que seriam servidas no dia seguinte. Segui para os jardins e encontrei quase todos lá.


Preparando o casamento.


Vovô passou correndo por mim, cumprimentando-me rapidamente e apontou vovó ao longe e eu caminhei até a jardineira que ela estava cultivando.


- Boa tarde, vovó. – falei e me abaixei para dar um beijo em sua bochecha suja de terra. Ela sorriu.


- Oi, querida. Desculpe, não posso falar muito. O casamento é amanhã e ainda temos milhões de coisas para resolver. Victoire é igualzinha à Fleur e ambas estão em pânico com o atraso dos preparativos, falando em francês para descontar a frustração. – eu sabia o que ela queria dizer. Como foram criados por mãe francesa e pai inglês, Victoire, Dominique e Louis aprenderam as duas línguas; e sempre que estava nervosa, Vic começava a falar francês. – E os pais de Fleur chegaram há pouco, mas ainda não resolveram se vão nos ajudar ou não. – continuou vovó, um pouco irritada. Os Srs. Delacour eram simpáticos e educados, mas não eram muito prestativos.


- A senhora quer ajuda? – perguntei, fitando o rosto cansado dela. Olhei ao redor e vi minha família correndo de um lado para o outro com caixas nos braços e montando mesas. – Onde estão os meninos?


- Bom, se quer ajudar, vá trocar de roupa antes. Vic e sua tia foram ao Beco Diagonal comprar mais algumas coisas para o enxoval, então já não contamos com a ajuda delas. Seus primos e Hugo foram desgnomizar o jardim, porque os gnomos voltaram desde ontem, e pintar as cercas. As meninas estão cuidando das flores. Ou seja, você pode escolher o que vai fazer, porque temos muitas opções.


- Sim, senhora! – exclamei como se tivesse recebido a ordem de um general e corri para o quarto. Troquei de roupas e voltei para o jardim. Vi tia Audrey com problemas para montar a tenda. – Tia, precisa de ajuda?


- Obrigada, Rose. Não dou conta sozinha. – puxamos as arinhas e erguemos a tenda. Depois eu dispus as cadeiras brancas em fileiras de frente para o altar montado por tia Audrey e desenrolei um longo tapete bordô que continha palavras bordadas em fio de ouro numa língua anciã – algo como o caminho que os noivos trilhariam na nova vida – e por último, nós duas fizemos arranjos de rosas encantadas que decorariam os jardins. As rosas encantadas são rosas que duram o quanto as pessoas querem que elas durem; podem ser horas, dias ou anos. As do casamento durariam um dia inteiro, permanecendo inteiras, brilhantes e cheirosas por muitas horas. Vic adorava rosas e escolheu não um, mas vários tipos, porque cada um significa uma coisa relacionada ao amor. Ou seja, havia flores rosas, vermelhas, amarelas, brancas e até azuis. Devo confessar que fiquei fascinada pelas rosas azuis. Lindíssimas!


Terminada a arrumação da tenda onde a cerimônia seria realizada, eu fui trabalhar na pista de dança, que precisava de ajuda na decoração. Por fim, ajudei meus primos a terminarem a pintura da cerca; eles precisavam muito de uma mãozinha, já que ainda não podiam usar magia. Já eram dez da noite quando finalmente acabamos e vovó nos serviu uma sopa, para depois nos mandar direto para a cama. Eu mal havia falado com meus pais o dia todo, mas antes que me desse conta disso, já estava dormindo.


De repente, o sol nascente iluminou o quarto que eu dividia com Lily, Dominique, Roxanne, Molly e Lucy. Relutantemente, eu abri um olho e distingui o vulto que era tia Gina puxar uma a uma as cobertas das meninas.


- Acordem, crianças, e desçam para tomar café. – disse ela. Nós todas resmungamos e continuamos deitadas. Tia Gina deu um suspiro cansado. – Ora, levantem. Vocês tem sorte que tenha sido eu a acordá-las, porque se fosse minha mãe, vocês já estariam encharcadas. Andem logo antes que ela ou Fleur e Victoire comam nossas cabeças. – rindo, ela deixou o quarto enquanto nós levantávamos. Vestimos os robes por cima dos pijamas e corremos escada abaixo.


A família toda e os Delacour já estavam sentados apertadamente à mesa, tomando o café da manhã mais mixuruca que eu já havia visto na casa dos Weasley. Sentei-me de frente para Victoire, que tremia da cabeça aos pés, e sorri para ela, tentando passar confiança. Ela sorriu de volta, contendo um pouco a tremedeira. Não éramos as primas mais chegadas da família, principalmente por causa da diferença de seis anos, mas nos entendíamos razoavelmente bem e eu não acreditava que pudesse estar tão feliz por ela. Mas estava e rezava para que ela fosse, com Teddy, ainda mais feliz do que era antes.


Falando em Teddy, logo nos demos conta de que ele não estava conosco na cozinha, mas foi Lily quem deu voz à nossa dúvida.


- Onde está o Teddy? Ele não deveria estar aqui?


- Ele e Andrômeda só chegarão à tarde para trocarem de roupas. Já tem muita gente para se arrumar aqui. – respondeu vovó, pegando um prato e se juntando a nós. Ela comeu em cinco minutos e logo já estava de pé novamente. – Comam depressa e vão para o jardim cuidar dos preparativos que faltam.


Mas antes que conseguissemos acabar de comer, vovó retirou nossos pratos e nos mandou para o jardim. Passamos a manhã e o início da tarde terminando as coisas enquanto Vic se aprontava no quarto principal com tia Fleur e a Sra. Delacour. Teddy e tia Andy chegaram quando faltavam duas horas para a cerimônia e foram direto para um dos quartos para terminarem de se arrumar. Mas àquela altura, nós todos já havíamos acabado o jardim, que estava absolutamente lindo, e subido para nos ajeitar. Só no meu quarto, havia cinco garotas para um banheiro e quando vimos, já estávamos discutindo para ver quem iria primeiro.


- Ei! – eu gritei vendo que ninguém chegava a um acordo. Elas calaram a boca e se viraram para mim. – Vamos colocar ordem na bagunça. Dominique, você primeiro porque é quem mais demora a ficar pronta. Depois é você, Molly. E então Lily, Rox, Lucy e eu. – Dominique, satisfeita por ser a primeira, rumou para o banheiro e se trancou lá. – Ok, enquanto a dondoca toma banho, nós vamos arrumar tudo aqui. Peguem os vestidos, os sapatos, a maquiagem e os enfeites de cabelos. – fizemos isso e esperamos Dominique sair do banheiro. Não muito depois, nós todas já estávamos de banho tomado e, enroladas nos roupões, passávamos cremes no corpo. Em seguida, nos maquiamos e desenrolamos as toalhas da cabeça. Com um aceno da varinha eu sequei os nossos cabelos e fiquei esperando os pedidos para arrumá-los.


- Rose, me dê uma ajuda, por favor. – pediu Dominique, com uma revista de penteados aberta no colo, onde várias mulheres sorriam e faziam pose, exibindo seus cabelos perfeitamente arrumados para trás. – Eu quero esse aqui, consegue fazer?


- Consigo. – respondi e li as instruções do rabo de cavalo que terminava em grandes cachos. Girei a varinha e dei uma batidinha no cocoruto da minha prima; imediatamente os fios loiros se ergueram e se enrolaram sozinhos no complexo rabo de cavalo. Grandes e gordos cachos, caprichosamente desiguais, se formaram nas pontas. – Pronto. Você está linda, Dominique. – conclui sorrindo para o reflexo dela. Seus olhos azuis lindamente maquiados piscaram em agradecimento e ela se levantou para se vestir. Seu vestido de dama de honra era muito bonito, mas chamava atenção pela simplicidade: era um longo de organza verde, com decote assimétrico e uma faixa de um verde mais escurdo na cintura. Depois de calçar os sapatos, Dominique girou nos calcanhares e arrancou elogios de nós. Pronta, ela se sentou na cama e ficou esperando.


- Não demorem! Falta uma hora e meia para a cerimônia. – esganiçou-se ela.


- Calma, nervosinha. – resmungou Lily, procurando um penteado na mesma revista. – Só precisamos terminar o cabelo e nos vestir. Ha! Eu quero esse, Rose. – seus cabelos ruivos das laterais e do topo se puxaram para trás e se enrolaram como um rabo de cavalo, com as mechas em ondas abertas, mas com a parte inferior solta. – Adorei, obrigada. – sorrindo, ela vestiu seu longo frente-única de cetim azul com decote V. Era mais ousado que o de Dominique, mas era tão simples quanto. – O que acham?


- Ainda bem que você não está mais namorando o Seth. – comentou Molly, dividindo a revista com Roxanne para acharem um penteado que satisfizesse às duas. – Porque ele morreria se visse como você está linda. – Lily riu convencida para sua imagem no espelho de corpo inteiro do armário. Ela e Seth haviam terminado fazia um mês, e a resposta para as perguntas da família era que Lily não gostava mais dele e todos engoliram. Menos eu. Eu tinha certeza de que minha prima tinha terminado com Seth porque gostava de outra pessoa, e já tinha minhas suspeitas. Decidi provacá-la um pouquinho antes de arrumar o cabelo de Molly.


- E para quem seria essa produção toda, Lily Luna Potter? – perguntei como quem não queria nada. Fingi que não vi o rubor que lhe subia pelo rosto.


- Para ninguém, Rose, que pergunta. – respondeu ela, tentando parecer indiferente, enquanto calçava as sandálias.


- Ninguém? Nem para um ruivo alto, forte, nos seus quinze anos e atual goleiro da Grifinória? Ah, espere aí, esse é o Hugo! – falei. Lily ficou tão chocada que deixou a mão que a apoiava no armário escorregar e perdeu o equilíbrio, caindo no chão. Explodi sozinha em gargalhadas, porque as outras ainda a fitavam, caída no assoalho. Lily se levantou furiosa, conferiu se estava tudo certo com sua roupa e marchou para a porta. Mas antes de sair, ela parou na minha frente e disse:


- Você se acha muito esperta por descobrir que eu gosto do Hugo, mas não consegue entender o que está bem na sua cara! – e saiu, batendo a porta com força atrás de si. Fiquei atônita por um minuto, a frase zumbindo em minha cabeça até que Molly me chamasse. Terminei os penteados dela e de Roxanne, fiz a trança embutida que Lucy me pediu e vi as três ficarem prontas e se juntarem à Dominique. Agora só faltava eu: deixei meus cabelos naturais e apenas dei forma aos meus cachos. Fui até o armário e puxei do cabide o vestido que minha mãe havia escolhido para mim. Tomei um susto quando o vi.


Era de seda pura. Vermelho-sangue. Acima dos joelhos. E com um profundo decote nas costas.


Minha mãe só podia estar louca quando comprou aquele vestido. Eu ia matá-la. Não que o vestido fosse feio... pelo contrário, era lindo. Mas não era algo que eu usaria e eu estava constrangida só de vê-lo. Porém, era a única roupa que eu tinha para usar, então eu soltei um suspiro e o vesti. Depois calcei minhas sandálias e me olhei no espelho. Foi com surpresa que me vi realmente bonita. Não só bonita, mas sensual também. Eu iria matar Peter do coração – e meu pai também, diga-se de passagem – mas por um segundo, quis que eles não fossem os únicos a me acharem linda. Afastei os pensamentos impróprios e dei um sorrisinho para minhas primas.


- Então?


- Você está deslumbrante! Quero só ver a cara do Peter quando vir você. – disse Rox e as outras três assentiram veementemente. Sorri agradecendo, até que Dominique murmurou algo que apagou o sorriso do meu rosto.


- E Scorpius também. – ela não pretendia que eu escutasse, mas eu escutei. Embaraçada, fingi que não tinha ouvido nada e olhei o relógio.


- São seis horas, vamos descer. – eu disse. Descemos e encontramos Lily e os meninos na sala. Eles estavam lindos, preciso ressaltar. Todos de calças pretas, com blusas de cores diferentes: Hugo estava de vermelho como eu, Alvo estava de verde, James de azul, Fred de cinza e Louis de branco. – Meu Deus, que garotos bonitos! Só podiam ser da minha família. – elogiei com um sorriso brincalhão. Os meninos riram e agradeceram.


- Você está muito linda! – disse Alvo, olhando para mim como se fosse uma surpresa muito grande eu estar bonita.


- Idiota. – resmunguei revirando os olhos. Mas Alvo riu e passou o braço pela minha cintura e me encaminhou para jardim.


- Estou falando sério. Você vai matar um do coração hoje.


- Já ouvi isso. – falei com um sorrisinho convencido.


- Só espero que seja Peter. – disse Alvo como quem não quer nada. Entretanto, eu parei de sorrir e olhei espantada para ele.


- O que quer dizer? – perguntei, tentando controlar a voz. Mas Alvo não estava mais prestando atenção. Segui seu olhar e vi Scorpius, Samantha e Izzy chegando, seguidos de perto por Peter e Jullianne.


E... uau! Aquele sim era um grupo de pessoas muito bonitas.


Scorpius e Peter estavam de preto, com as gravatas verde-esmeralda e cinza, respectivamente. Sam estava com um longo preto e branco, Izzy com um longo preto e Jules com um longo prateado.


Eu e Alvo sorrimos e nos apressamos a nos juntar a eles. Cumprimentamos todos e, mandando a modéstia para o espaço de vez, comentamos como estávamos admiravelmente bonitos e elegantes. Mas não tivemos muito tempo para conversar, porque a tenda já se enchia rapidamente com os convidados e nós tínhamos que pegar bons lugares. Um minuto depois, Teddy tomou seu lugar ao altar e nós todos nos pusemos a esperar pela noiva.


Não precisamos esperar muito. De repente, uma melodia suave, tão suave que parecia vir de dentro de nós, começou a tocar. Era a hora. Olhamos para a entrada da tenda e vimos Dominique andar graciosamente pelo corredor, segurando duas rosas douradas – que eu nunca havia visto. Atrás dela, vinha Victoire, deslumbrante em seu vestido de noiva e tão radiante que parecia flutuar, de braço dado a tio Gui. Sobre seus cabelos loiros, estava a tiara de tia Muriel, refulgindo sob a luz da tenda. Caminharam lentamente até o altar, e então, tio Gui entregou Victoire a Teddy, que a olhava quase com devoção.


A cerimônia foi rápida: um bruxo baixinho proferiu um encantamento numa língua anciã e, em seguida, Dominique lhe entregou as duas flores que carregava. As rosas se ergueram no ar e se tornaram alianças, que Vic e Teddy trocaram diante de nós. Por fim, o novo casal selou a cerimônia com um beijo apaixonado e nós nos levantamos para aplaudi-los. E enquanto caminhavam pelo tapete que continha o caminho que eles trilahriam na vida de casados, vovó, tia Fleur, tia Andy e a Sra. Delacour ergueram as varinhas e conjuraram uma chuva de pétalas de rosas.


Eu ficaria bastante tempo sem olhar para uma rosa.


Victoire e Teddy saíram da tenda e partiram direto para os cumprimentos. Havia uma fila de convidados esperando para desejar suas felicidades, então eu e os outros resolvemos esperar até mais tarde para oferecermos nossas congratulações. Nós sentamos próximos à pista de dança e ficamos conversando.


- Rose? – chamou Peter quando uma música lenta começou. – Vamos dançar? – eu não respondi de imediato. Fiquei divagando por um segundo, sem saber o que responder, com os pensamentos embaralhados. Eu queria dançar, mas não com Peter. Só que ele era meu namorado, afinal, e eu lhe devia uma dança.


- Claro.


Peter me guiou sorrindo para a pista de dança. Colou o corpo ao meu e desceu as mãos para a minha cintura, e eu enlacei seu pescoço. Enquanto dançávamos, mais uma vez aquela sensação de desconforto se apoderou de mim; isso havia se tornado frequente desde que eu e Scorpius havíamos nos beijado no Natal. Como se não fosse certo. Peter sorria para mim, mas eu não conseguia corresponder de verdade. Minhas bochechas pareciam travadas. Mas Peter não percebeu nada e apenas continuou a me guiar confiante pela pista.


Logo depois, Alvo, Sam, Izzy, Scorpius, Jullianne e um amigo de Teddy começaram a rodopiar aos pares ao nosso lado. Scorpius e Izzy estavam praticamente colados em nós porque já não havia muito espaço na pista de dança lotada, o que fazia com que nos esbarrássemos frequentemente e cada vez que isso acontecia, faíscas pipocavam ao meu redor e arrepios percorriam a minha espinha. E eu, incrivelmente ingenua, não fazia ideia do motivo. Angustiada, juntei-me mais a Peter e deixei que ele me abraçasse quando nos viramos para encarar Teddy que acabara de subir no palco.


- Boa noite. – disse ele, cumprimentando os convidados. – Antes de qualquer coisa, gostaria de agradecer a presença de vocês no dia mais importante da minha vida. – Vic soltou um gritinho alegre, arrancando risadas gerais. – Da vida da Victoire também, como podem ver. – rindo, ele puxou Vic para o palco e apontou a varinha para sua garganta, murmurando Sonorus.


- Ah, Merlin, é claro que é o dia mais feliz da minha vida. Primeiro porque, obviamente, é o dia meu casamento com este homem maravilhoso. Segundo porque, desculpem o clichê, vocês estão aqui comemorando conosco. – vários “oooooh” emocionados preencheram a noite. – Mas deixemos os agradecimentos para mais tarde. Agora eu e Teddy queremos propôr uma brincadeirinha a vocês, só pra deixar a festa ainda mais divertida. A música logo voltará, mas vocês não vão voltar a dançar com seus pares.


- Exato. – completou Teddy. – Vocês vão se juntar à pessoa ao seu lado, sem restrições. Não importa se é pai, mãe, irmão, irmã, sobrinho, tio, primo ou se é do mesmo sexo. Vocês só precisam dançar e se divertir com qualquer um. Então, topam? – na mesma hora, todos concordaram. Era uma ideia legal, afinal de contar.


A música recomeçou e um burburinho se instalou na pista de dança, enquanto todos se organizavam em pares. Olhei em volta, procurando quem me sobrava. Peter já estava dançando de forma muito engraçada, por Merlin, com Alvo; Sam estava com Hugo; Lily estava com tio Percy; e Izzy e Jullianne rebolavam juntas. Senti uma mão me tocar o ombro e me virei: era Scorpius.


- Acho que só sobramos nós dois. – disse ele, com um sorriso vacilante. Que tipo de brincadeira sem graça era essa que os céus estavam pregando em mim? Por que justo ele? Dei de ombros e permiti que ele pegasse a minha mãe e me girasse. A música era algo como jazz, algo realmente animado. E cada vez que Scorpius pegava a minha mão, borboletas saltitavam loucamente no meu estômago, mas eu não conseguia entender o motivo disso.


Mas não tardei a descobrir.


Quando a música acabou, eu achei melhor me separar de Scorpius. Inventei uma desculpa qualquer e fui para o meu quarto. Precisava pensar um pouco e ninguém sentiria a minha falta.


Subi as escadas vagarosamente e entrei no quarto. Descalcei as sandálias altíssimas e as joguei sem cuidado num canto, e me sentei no parapeito da janela, olhando a noite e ouvindo a música que vinha do outro lado do jardim. Fechei os olhos, tentando colocar os pensamentos em ordem, mas antes que fizesse isso, ouvi a porta abrir. Não me virei para ver quem era, não me importava. Levei um susto quando fui abraçada pelas costas. E meus músculos se retesaram quando Peter beijou meu pescoço.


- O que faz aqui sozinha? – perguntou enquanto beijava a pele do meu ombro.


- Estou só um pouquinho cansada. – menti.


Mas Peter simplesmente me virou para ele e me tomou num beijo longo. Deixei que ele me guiasse até a cama mais próxima e se deitasse por cima de mim. Correspondi aos seus beijos apaixonados, enquanto ele tentava abrir o zíper do meu vestido. Só que, de repente, eu comecei a despertar e não foi para o que poderíamos fazer, mas sim com quem eu poderia fazer aquilo. Como Peter me beijava vorazmente, eu me lembrei, inevitavelmente, do beijo que eu havia trocado com Scorpius, porque não estava sentindo a mesma coisa. E então, tudo entre nós começou a passar pela minha cabeça como num filme: quando nos conhecemos e viramos amigos, a primeira briga, as conversas, o carinho, o primeiro “eu te amo” que dissemos um para o outro, o ciúmes que eu sentia das namoradas dele... tudo passou rápido feito um flash. E foi aí que eu percebi, enquanto Peter beijava loucamente meu pescoço, que tudo isso só levava a uma coisa. Os arrepios, as palmas das mãos suadas, o coração acelerado, os choques elétricos... só indicavam uma coisinha.


Eu era completamente apaixonada por Scorpius Malfoy. Completa e totalmente apaixonada.


Nada do que eu sentia por Peter se comparava ao que eu tinha descoberto sentir por Scorpius. E foi nesse susto da descoberta que eu pulei da cama, largando Peter na sua inacabada tentativa de puxar meu vestido.


- Droga! – gritei e corri para o banheiro, trancando a porta atrás de mim. Peter ainda bateu na porta, perguntando se eu estava bem, se estava passando mal, se ele tinha feito alguma coisa errada. Senti pena dele. – Peter, está tudo bem. São só problemas de menina, só preciso ficar sozinha por um segundo. Desça e volte para a festa, te encontro lá embaixo. – escutei seus passos se afastarem da porta e mirei meu reflexo no espelho sobre a pia. – Droga, droga, droga, droga! O que eu vou fazer? – essa era uma boa pergunta. O que eu ia fazer? Eu estava apaixonada pelo meu melhor amigo, meu irmão... e ele tinha namorada e me considerava apenas como melhor amiga, que era o que eu era realmente.


Antes que eu pudesse impedir, as lágrimas desceram pelo meu rosto, o que de certa forma me surpreendeu porque eu raramente chorava. Eu precisava me sentir a pessoa mais infeliz do mundo para chorar e era como eu me sentia naquele momento. Mas não demonstraria isso de jeito nenhum. Deixei o choro acabar, retoquei a maquiagem e ergui a cabeça. Não deixaria me abater.


 Encontrei Peter me esperando ao pé da escada. A primeira coisa que ele fez foi me pedir desculpas, mas eu disse que não tinha acontecido nada. Voltamos para a pista de dança onde cruzamos com meus pais que dançavam numa rodinha animada com meus tios. Sorri fracamente para eles. Peter pegou minha mão e me girou ao som da música; eu tentava demonstrar uma animação que eu não sentia de jeito nenhum, mas até que estava conseguindo disfarçar. Mas em determinado momento, eu vi Scorpius e Izzy se agarrando com vontade sob uma árvore e isso foi suficiente para fazer as lágrimas subirem aos meus olhos. Fiz força para não deixá-las cair. Eu sou uma Weasley e sempre enfrentava tudo de cabeça erguida.


- Rose, você está chorando? – Peter perguntou, preocupado. Eu sorri, forçando-me a engolir o bolo na garganta.


- Não, foi só um cisco que entrou no meu olho. Você pode assoprar, por favor? – menti descaradamente e deixei que ele assoprasse meus olhos. Passei a mão sob as pálpebras enxugando as lágrimas. – Obrigada.


- Eu te amo. – disse ele, sorrindo enquanto me dava um beijinho. Quase caí dura, mas me segurei. Fiz minha melhor e mais falsa cara de felicidade.


- Eu sei. – respondi, arrancado uma risada dele. Provavelmente ele tinha achado que eu estava brincando. Agradeci por isso; não ia mesmo conseguir responder que o amava naquele momento.


Continuamos dançando por algumas horas e logo a madruga chegou. Exaustos, eu e Peter nos jogamos numas cadeiras e pegamos duas taças de hidromel de uma bandeja enfeitiçada que passou por nós. Guardei minha angústia em algum lugar, para cuidar dela mais tarde, porque era uma festa de casamento tão especial que não merecia ser estragada por nada; por isso, permaneci conversando o mais normalmente possível com o meu namorado. Ou melhor, meu futuro ex-namorado. Porque eu pretendia terminar com Peter. Não era nada justo ficar com ele sendo totalmente apaixonada por outro. Simplesmente não era justo.


Mas não tive muito tempo para pensar nisso porque logo depois Scorpius e Izzy se juntaram a nós e eu estava quase morta de tanto desconforto. Tentava não olhar para eles de jeito nenhum e me manter o mais alegre possível. Não estragar a festa da Vic, não estragar a festa da Vic, não estragar a festa da Vic eu pensava com toda a minha força. Mas aparentemente, eu era a única a pensar assim, porque em determinado momento, nós ouvimos um barulho próximo e nos viramos para ver o que era. E era uma cena surpreendente: Alvo e James discutiam sob o olhar assustado de Samantha, e o barulho que nós ouvimos tinha vindo de uma taça que se espatifara diante da intensidade da raiva que Alvo sentia. Curiosos, nós quatro nos levantamos da mesa e fomos descobrir o que estava acontecendo.


- A última pessoa que eu esperava que pudesse me trair era você, James! – gritou Alvo, as mãos tremendo de raiva. Em seu rosto havia um olhar ressentido e furioso. James parecia tão irritado quanto o irmão, mas em seus olhos havia um pouco de culpa.


- Eu não posso fazer nada se ela me atrai tanto quanto atrai a você. – James respondeu e Alvo pegou um copo de uísque de fogo e jogou na cara do irmão.


- Eu não me sinto atraído por ela! Eu amo a Samantha! Ela é minha namorada! E você a beijou a força! – gritou Alvo, uma veia pulsando perigosamente em seu pescoço.


- Eu não sabia! – disse James, exasperado. Mas foi a gota d’água para Alvo, que achava que o irmão estava mentindo. Antes que pudéssemos entender o que estava acontecendo, Alvo avançou sobre James e os dois se engalfinharam numa briga. Todos nós nos metemos nos meio para separá-los e quando finalmente conseguimos isso, vimos que o lábio superior de James estava cortado e inchava rapidamente, e o supercílio de Alvo sangrava profusamente. O resto de nós estava descabelado e desarrumado. Irritada, eu puxei Alvo e fechei o corte no supercílio e em seguida fiz o mesmo com o lábio de James. Enquanto eu o segurava pela blusa, ele se virou arfando para Alvo e completou – Eu não sabia, Alvo! Mas que droga! Foi no Natal que eu percebi como Samantha é encantadora e não pude evitar beijá-la quando vi como ela estava linda hoje!


Samantha corou furiosamente diante da afirmação de James, mas não teve coragem de falar nada. E estavam todos muito preocupados com os dois irmãos Potter para perceber o constrangimento de Sam.


- Você nos viu juntos a festa inteira! E na primeira oportunidade, você a cercou e beijou sem dar tempo para que ela lhe dissesse não! Eu vi! – continuou Alvo, gritando. As pessoas que estavam próximas começaram a olhar para onde estávamos, mas elas estavam com muito uísque de fogo, hidromel e vinho dos elfos no sangue para perceberem o que estava acontecendo de verdade.


- Eu achei que vocês eram amigos! Você sempre andou colado na Rose, do mesmo jeito que esteve com a Samantha.


- Rose é minha prima e minha melhor amiga!


- E daí?


- E daí que eu acho que você devia ter vergonha na cara para, pelo menos, me pedir desculpas por ter beijado a minha namorada!


- Pois eu não vou pedir. Eu não sabia que vocês estavam juntos, não vi um beijinho sequer entre vocês! Eu não sou vidente e não fiz nada errado!


- Ah é?! Você não viu um beijinho sequer? Tudo bem! – e sem ligar para o fato de Scorpius estar ao seu lado ou para qualquer um de nós, Alvo puxou Samantha pela cintura e lhe agarrou num beijo de tirar o fôlego. Sam ainda tentou se soltar, mas Alvo a segurava com muita força. Quando ele finalmente a soltou, sob os nossos olhares chocados, Samantha lhe desferiu um sonoro tapa na cara.


- Nunca. Mais. Faça. Isso! – e sem dizer mais nada, ela nos deu as costas e foi marchando até a casa. Alvo ficou parado olhando atônito para a namorada. Scorpius se adiantou e puxou Alvo pela gola da camisa.


- Você é meu melhor amigo, mas faça isso de novo e eu juro que esfacelo você. – ele soltou Alvo, mas nenhum deles olhou para James, que exibia com gosto um sorriso cínico.


- Desculpe, cara. – disse Alvo, olhando para baixo enquanto massageava o pescoço. Já eu estava extremamente irritada pela atitude machista de Alvo e pela traição de James.


- Não é a ele que você deve desculpas. – eu falei para Alvo, olhando-o firmemente. – É à Samantha e eu quero que você vá agora falar com ela. – meu primo saiu sem esperar segunda ordem. Em seguida, me virei para James – Você sabe muito bem que foi uma grande sacanagem o que você fez. Independente ou não de saber que Alvo e Sam estavam juntos, você a beijou a força e se recusou a se desculpar com seu irmão. Essa não é uma atitude digna de um Potter e muito menos de alguém da minha família. E eu faço questão que você se desculpe com os dois, entendeu, James?


- E o que você vai fazer? – ele perguntou, num claro desafio.


- Nem queira saber. – murmurei com raiva. – A culpa disso é sua, você magoou duas das pessoas que eu amo. E você sabe bem que eu não deixo isso barato.


- Certo, que seja. Vou falar com eles mais tarde.


- Não, você vai agora! – empurrei-o em direção à casa e ele continuou seu caminho, soltando fumaça pelas orelhas e provavelmente me xingando. Chateada, eu completei para os outros – Vamos voltar para a festa, Vic e Teddy não merecem que sua festa de casamente seja estragada por uma briga familiar. – e sem protestarem, eles me seguiram.


- É isso que eu amo em você – disse Peter, me abraçando. Retesei o corpo, mas forcei um sorriso. – Esse seu jeito protetor, correto. Tenho orgulho de você. – desesperada de culpa, fingi que o rubor que subia pelo meu rosto era de vergonha.


- Ora, Peter, que bobagem. – eu ri nervosa. – Você sempre soube que eu sou assim.


Já eram quatro da manhã quando os últimos convidados deixaram a Toca e a família foi para a entrada da propriedade se despedir de Vic e Teddy, que pegariam a Chave de Portal para a Grécia. Scorpius, Izzy, Sam, Peter e Jullianne já haviam ido embora, consternados com o rumo que a festa havia tomado, e eu, Alvo e James estávamos de mau humor enquanto esperávamos que nossa prima viajasse. Vic e Teddy, que não sabiam de nada, eram a imagem da felicidade quando se despediam de nós.


- Vão com Deus, crianças. – disse vovó, chorosa. As mulheres confabulavam com Vic enquanto os homens faziam recomendações a Teddy. Finalmente, depois de se despedirem da longa fila de parentes, os dois pararam na minha frente.


- Obrigada por não deixar que eles estragassem a nossa noite, Rosie. – disse Vic, abraçando-me. Arregalei os olhos enquanto correspondia ao seu abraço: então ela sabia do desentendimento entre Alvo, Samantha e James.


- Não há de que, prima. Afinal, de que serve ser um Weasley se não pudermos tomar conta uns dos outros? – eu ri e lhe pisquei um olho. Teddy, em seguida, me abraçou e me beijou na bochecha. Finalmente, quando o sol começava a sair, às cinco e meia, o bule prateado começou a brilhar e Vic e Teddy colaram os dedos nele, desaparecendo no segundo seguinte.


Assim que os dois sumiram, todos desejaram bom descanso uns para os outros e subiram para os quartos. Fui direto ao banheiro, onde arranquei o vestido pela cabeça e me enfiei no chuveiro; tomei um banho rápido, mas relaxante. Antes de deitar a cabeça no travesseiro, eu já estava dormindo.


Quando mamãe me acordou, já passava das três e meu estômago roncava de fome. Diferente do habitual, eu tomei café em silêncio, remoendo os acontecimentos da noite anterior. Fiquei refletindo sobre eles e permaneci muito séria enquanto comia. Quando terminei, subi de volta para o quarto e me joguei na cama. Só percebi que havia alguém no quarto comigo quando essa pessoa se sentou na minha cama.


- Rose, filha. – murmurou mamãe, afagando meu cabelo. – Você está bem?


- Sim, mamãe. Está tudo bem. – minha voz angustiada, que não enganava ninguém, saiu abafada pelo travesseiro.


- Foi uma pergunta retórica. Eu sei quando você não está bem e sei que você não está bem agora. Me conte o que houve, filha. – eu nunca fui de ter muitos segredos, mas também não era um livro aberto e não gostava de falar sobre meus sentimentos. Mas de repente, eu me vi desabafando tudo o que me angustiava, tudo o que vinha acontecendo desde que eu conhecera Peter. Inclusive o episódio do “quase” da noite anterior. Mamãe ouviu tudo pacientemente e calada. Para a minha surpresa, percebi que chorava quando acabei de contar tudo. Ela deitou minha cabeça em seu colo e ficou me fazendo cafuné.


- Eu sei como você se sente, querida. Passei por tudo isso com aquele insensível do seu pai, embora não houvesse namorados na história. Eu já não mantinha contato com o Krum e seu pai não namorava mais a Lilá Brown. Peter e Izzy tornam essa história ainda mais complicada. – mamãe disse baixinho. – A primeira coisa que você deve fazer é contar a verdade ao Peter, porque você está vivendo uma mentira. Eu sei que gosta dele e que ele é um ótimo rapaz, mas eu sempre soube, desde que você escreveu sua primeira carta depois de ter chegado a Hogwarts, que você amava Scorpius. Você apenas não sabia disse naquela época, mas agora sabe e está na hora de correr atrás. Tenho certeza de que vocês dois ainda vão se acertar e ele vai esquecer o que quer que sinta por aquela loira oxigenada da Izzy. – ela finalizou o discurso com muita certeza, o que me fez rir baixinho.


- Assim espero, mamãe. Assim espero.  

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Comentários (1)

  • Lana Silva

    Nossaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa que capitulo Maravilhos ameiiii *-----------------------*

    2011-10-12
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