De volta à Hogwarts



- Desculpe. – disse eu, tentando reconhecê-lo. Ele era moreno de olhos e cabelos castanhos e usava óculos que lhe deixavam charmoso. Era mais alto que eu, mais ou menos da altura de Alvo. Pisquei os olhos aturdida quando o reconheci: quem diria que o monitor certinho da Corvinal pudesse ser tão bonito? – Ei, você não é Peter McCarter, o monitor que mandou para a detenção no quinto ano?


- Exato. – disse ele, sorrindo. Covinhas apareceram em suas bochechas. – Mas parece que de nada adiantou, certo, Weasley?


- Certo. – eu ri e passei a frente dele, saindo finalmente do trem. Scorpius e Alvo estavam parados ao lado de uma carruagem e eu fiz sinal para que me esperassem. Peter me seguia e quando entramos na carruagem, ele se sentou ao lado de Scorpius e eu me juntei a Alvo. Os dois nos olhavam sem entender o que aquele garoto estava fazendo ali. Eu, por minha vez, travava uma animada conversa com Peter, esquecendo-me deles.


- Espere! Monitor-chefe e integrante do Clube de Xadrez? – perguntei risonha em determinado ponto da conversa e ele assentiu. – Ora, ora! Mas você é mesmo um nerd, McCarter! E eu que pensei que você só parecia um.


- Eu não sou nerd, sou apenas inteligente.


- Certo, e eu serei indicada esse ano como aluna modelo!


- Quem sabe?


- É mesmo, esse ano vou receber presentes e tudo mais... – Peter riu e Scorpius olhou torto para ele. Alvo apenas se limitou a sorrir para mim.


- Viu? Você acaba de admitir que eu não sou nerd.


- Você não é nerd só porque é inteligente. – eu disse e ele levantou uma sobrancelha esperando minha explicação. – Você é todo certinho, meticuloso, organizado. Cumpre todas as regras, é perfeccionista e rigoroso! E além de tudo, você faz parte do clube mais nerd da face da Terra: o Clube de Xadrez. E você está ouvindo isso de mim, uma maravilhosa e assídua jogadora de xadrez.


- E modesta também. – nós rimos. – Certo, Weasley, você venceu. Mas, se não fosse o número de detenções que você ganha por minuto, tenha certeza de que seria chamada de nerd por aí. E não me olhe com essa cara descrente. Você tira as melhores notas da escola, sabe tudo de todas as matérias, responde a todas as perguntas, lê o tempo inteiro e passa horas estudando na biblioteca. – nisso ele tinha razão. Por mais dada a problemas que eu fosse, ainda era filha de Hermione Granger.


- Ok, você está parcialmente certo. – eu disse. Scorpius e Alvo desviaram os olhos para mim, prestando bastante atenção no que eu diria a seguir. – Eu adoro ler, é verdade. Mas não vivo para isso, é só uma coisa que me diverte bastante. E eu estudo porque minhas notas são importantes, mas não morreria se tirasse um D. Eu não respondo a tudo só para exibir minha inteligência, apesar de que devo admitir que é bem legal receber o olhar de aprovação dos professores, o de inveja de alguns alunos e, é claro, pontos para a Grifinória. Mas o que me importa realmente é curtir muito os sete anos que passo aqui, seja da forma que for. Por isso, eu viro essa escola de pernas para o ar, quebro regras, jogo quadribol... são coisas que me divertem! Eu não quero ser conhecida só como a filha de Hermione e Rony Weasley, os melhores amigos de Harry Potter e grandes responsáveis pela salvação do mundo bruxo, não que isso seja ruim, mas também como Rose Weasley, a quebradora de regras inteligente e detenta. Sei que minha família tem um legado e eu sou muito honrada de fazer parte dele, mas eu quero ser lembrada pelo o que eu fiz. Acredito que o mesmo se estenda aos meus primos e a Scorpius. Os holofotes já se voltam para nós automaticamente por causa da nossa família, então por que não deixá-los sobre nós por mais tempo? Certo? – terminei ofegante o meu caloroso discurso. Peter sorria para mim, enquanto Alvo e Scorpius pareciam ter acabado de descobrir que sua melhor amiga era louca. Pigarreei sem graça, um leve rubor subindo pelas bochechas.


- Realmente, Weasley... – disse Peter. – Você não poderia estar mais certa.


- Obrigada! – respondi, sentindo-me satisfeita.


- Disponha. – eu captei segundas intenções na resposta. E Scorpius também, porque encarava Peter ameaçadoramente enquanto Alvo apenas ria baixinho de nós, como se entendesse algo.


Findada a conversa mais estranha do ano, nós finalmente enxergamos a enorme construção do castelo de Hogwarts se erguendo à nossa frente. Saltamos da carruagem e adentramos o Salão Principal apinhado de alunos animados. Peter se despediu de nós e rumou para a companhia de seus colegas na mesa da Corvinal, e nós três nos sentamos à nossa querida mesa vermelha e dourada da Grifinória. Enquanto esperávamos pelo início da seleção, eu vi uma menina bonita ralhar com Peter à distância. Pensei, a princípio, que fosse uma namorada, mas notei grande semelhança entre os dois num segundo exame e me lembrei que ele havia mencionado uma irmã gêmea. Pelas circunstâncias, só poderia ser aquela garota.


Meia hora depois, Louis e Lucy já estavam sentados conosco à mesa da Grifinória. Não que isso fosse surpresa, já que os Weasley eram tradicionalmente grifinórios. Os olhinhos deles brilhavam de excitação e eles nos cutucavam o tempo todo para perguntar algo ou fazer comentários sobre mágica... é, Hogwarts causa esse efeito nas pessoas. Estávamos saboreando o delicioso jantar quando Scorpius disse:


- Não gosto desse garoto. – a princípio, não entendi de quem ele estava falando, mas ao seguir seu olhar, deparei-me com Peter conversando animadamente com sua irmã. Balancei a cabeça, impaciente.


- Qual o problema dele, Scorpius? – perguntei. Alvo comia uma perna de frango nos olhando com interesse.


- Esse McCarter é um intrometido. – disse ele espetando com força uma batata. – Vocês trombam no trem e ele acha que é seu amigo, que pode ir se chegando, sentando com a gente e roubando a sua atenção. – olhei abobalhada para ele. Vendo que eu não diria nada, visto que eu achava aquilo tão ridículo que estava meio chocada, Alvo se intrometeu:


- Eu acho o McCarter um cara legal. Não ligue para o Scorpius, Rosie. Ele só está com ciúmes. – eu ri e Scorpius engasgou com a comida.


- Ciúmes? Eu não estou com ciúmes daquele nerd!


- Está estampado na sua testa! – apontou Alvo.


- Ah, calem a boca vocês dois. – disse eu, sacudindo a colher da travessa de batatas. – Sabem que não há necessidade de sentir ciúmes do McCarter, ele é só um colega. – eu completei, acalmando Scorpius. Terminamos de comer e caminhamos sonolentos até nossos dormitórios.


A primeira semana de aulas começou agitada. O Prof. Neville, nosso mestre de Herbologia e diretor da Grifinória, iniciou nosso primeiro horário na terça feira com uma longa palestra sobre os N.I.E.M’s.


- Muito bem, meus caros. – começou ele quando nos sentamos em frente à bancada que tinha plantas muito estranhas em cima. – Finalmente o sétimo ano, o último e pior. Dentro de menos de doze meses vocês estarão realizando seus exames de Níveis Incrivelmente Exaustivos em Magia. Eu espero que todos aqui consigam seus Ótimos tanto em Herbologia como em outras matérias. Mas para isso é preciso muita responsabilidade, compromisso e estudo. Sei que é bom passar os dezessete anos se divertindo; eu, como vocês bem sabem, não tive essa oportunidade e adoraria poder curtir essa época como vocês. Mas, infelizmente, noites em claro jogando conversa fora ou namorando não trarão seus boletins impecáveis. Ou seja, o importante esse ano é enfiar a cara nos livros, prestar atenção às aulas e se esforçar muito. Façam valer à pena e no fim do ano, eu verei todos vocês no baile de formatura exibindo seus diplomas. De início é só, então, por favor, abram na página 25 e examinem essas lindas plantas que estão à sua frente.


Ao fim da cansativa aula de Herbologia, de onde saímos sujos de terra e cheirando a adubo, nós fomos para DCAT. A Prof. Jayden passou mais meia hora discorrendo sobre os N.I.E.M’s e cenas como essa se repetiram em todas as outras aulas durante a semana. Quando sexta feira chegou, eu, Alvo e Scorpius nos jogamos nos bancos à mesa do café esperando nunca mais ouvir falar dos exames. Mas, aparentemente, nossos pais discordavam disso, porque três corujas adentraram o Salão Principal em nossa direção. Barbie, minha coruja, aterrissou espalhando meu cereal e estendeu sua patinha para que eu desamarrasse a carta; Bola de Neve, a coruja de Alvo, apenas largou a carta no colo dele e saiu para o corujal; e Sly, a coruja mais bem educada dentre as três, pousou seu corpanzil negro graciosamente no ombro de Scorpius e deu bicadinhas carinhosas em sua orelha enquanto ele desamarrava a carta.


- Você nunca me explicou por que sua coruja se chama Barbie. O que é Barbie, aliás? – perguntou Scorpius, avaliando o envelope. Eu rasguei o meu e passei os olhos pela carta.


- Barbie é uma boneca trouxa. Minha mãe, por ser nascida trouxa, tinha Barbies, e meu deu algumas de presente quando eu era criança. Eu amava minhas bonecas e quando ganhei a coruja, resolvi batizá-la com esse nome. Simples. Hum, mamãe e papai dizem aqui que eu tenho a obrigação de me sair bem nos N.I.E.M’s ou eles vão ficar muito decepcionados e blá blá blá. Como se eles precisassem se preocupar. – afirmei enfiando a carta no bolso. – Você também nunca me explicou por que sua coruja se chama Sly. – completei fitando as asas negras de Sly, que agora trocava bicadas com Barbie. Talvez os dois se tornassem namoradinhos.


- Eu o ganhei antes de vir para Hogwarts, no primeiro ano e como tinha plena certeza de que seria da Sonserina, eu o batizei de Sly em homenagem a Slytherin. – respondeu dando de ombros enquanto lia sua própria carta. – É, meus pais dizem a mesma coisa na minha. E você, Alvo?


- O mesmo. Pediram só para eu me esforçar para passar com Ótimo em tudo, mas, por causa do resultados nos N.O.M’s, não precisam se preocupar. Só a mesma coisa de sempre.


Quando acabamos de tomar café e nos levantamos para seguir para as masmorras, onde teríamos aula de Poções, Peter McCarter se aproximou com um sorriso tímido.


- Oi, Malfoy, Potter. – ele cumprimentou com um aceno de cabeça e os dois responderam da mesma forma. Scorpius fechou a cara e Alvo disse apenas mexendo os lábios “Ciúmes!” e eu ri, virando-me para encarar Peter. – Oi, Rose, digo Weasley...


- Pode me chamar de Rose. – eu disse sorrindo. Scorpius bufou impaciente.


- Certo. – assentiu e hesitou antes de continuar, corando um pouco – Eu sei que a Grifinória tem os horários da tarde livre, assim como a Corvinal, então eu gostaria de saber se você não quer passar esse tempo comigo.


- Que inesperado, McCarter. – vi Peter corar mais um pouco e sorri. Alvo ria observando Scorpius enfurecido. – Mas eu aceito. Vejo você mais tarde à beira do lago, talvez?


- Claro! Encontro você lá. Até mais, Malfoy, Potter. – Peter respondeu e com um sorriso, seguiu a massa de estudantes para fora do Salão.


Scorpius passou as cinco horas seguintes num mal humor terrível, mas eu preferi ignorá-lo porque sabia que brigaríamos se eu dissesse alguma coisa. Então, assim que a sineta que indicava o fim daquela aula de Aritmancia tocou, eu corri para deixar minhas coisas no dormitório, despedi-me de Alvo (Scorpius e eu nos ignoramos veementemente) e desci ao encontro de Peter, que já me esperava à beira do lago.


- Oi, McCarter! – eu cumprimentei alegremente. – O que vamos fazer?


- Oi, Rose. Na verdade eu não tive nenhuma idéia do que fazer. Você pode escolher, sei lá. Talvez xadrez?


- Xadrez será, então. – respondi sorrindo, apontando minha varinha para a janela do meu dormitório, relativamente longe, e murmurando um Feitiço Convocatório. Vi meu tabuleiro de xadrez flutuar devagar até minhas mãos. Coloquei-o sobre o gramado e Peter sentou de frente para mim. – E você vai ver que não é preciso ser do Clube de Xadrez para ser uma exímia jogadora.


- Vamos ver! – riu ele e nós começamos uma acirrada partida temperada com nossas conversas.


- No dia em que chegamos, eu vi uma menina brigar com você. É sua irmã? – perguntei, mas antes que ele respondesse, eu completei – Cavalo na H6 (?).


- Exato. Jullianne Felicity McCarter, minha gêmea. Bispo na E5 (?). – ele respondeu compenetrado. Felicity, Felicity... o nome dela martelava em minha mente como se eu já a conhecesse, mas não lembrasse.


Uma hora mais tarde, nós ríamos esquecidos do jogo, cujos tabuleiro e peças jaziam espalhados na grama do jardim.


- Eu vi seu teste para a equipe de Quadribol e foi terrível, McCarter! – eu disse, explodindo numa gargalhada ao me lembrar das piruetas feitas às cegas por ele.


- Eu sei. – admitiu Peter, me acompanhando nas risadas. – Não tenho culpa de ter herdado as habilidades nulas da minha mãe. Mas eu gosto muito de Quadribol.


- Eu não disse o contrário, só disse que você foi péssimo! – Peter não parecia se importar com as minhas brincadeiras. Ele era um cara legal e havia me conquistado em pouquíssimo tempo. De repente, Jullianne McCarter surgiu ao nosso lado. Era um pouco mais baixa que Peter e não usava óculos. Mas era como encarar Peter de peruca e vestido de mulher, tamanha a semelhança entre os dois. Ela sorriu para mim e Peter nos apresentou.


- Julles, essa é Rose Weasley. Rose, essa é minha irmã, Jullianne.


- Muito prazer. – sorrindo, eu a cumprimentei com um aperto de mão. – Engraçado, não me lembro muito de você. E nós temos Astronomia e Runas Antigas juntas, não?


- Talvez você não me reconheça porque eu usava os cabelos bem mais curtos, tanto que algumas pessoas diziam que eu parecia ainda mais com o Pete, e tive uma fase em que só gostava de ser chamada pelo meu nome do meio.


- Ah, já sei! – de repente, flashes passaram rapidamente pela minha memória e eu fiz as associações corretas. – Felicity McCarter, a artilheira da Corvinal! – ela sorriu e concordou. – Eu derrotei você algumas vezes no Quadribol, não é? – perguntei achando graça e Jullianne riu. Tão simpática quanto o irmão.


- Pelo menos quatro.


- Desculpe. – eu pedi, mas ela fez um gesto de descaso.


- Você não fez mais que a sua obrigação, nós que não conseguimos bater o seu time. Mas não tem problema, esse ano tem mais.


- Uma pena que será o último. – respondi com uma pontada de saudade antecipada.


- É verdade, mas tenho certeza que vamos nos despedir em grande estilo. – rimos e ela se voltou para Peter, que se mantivera calado até então, apenas prestando atenção em nossa conversa. – Só queria saber onde você estava e agora que eu sei, vou deixá-los a sós. – ela virava as costas quando eu olhei o relógio. Quase hora do jantar.


- Jullianne, pode ficar. Preciso ir, vou adiantar alguns deveres para ter o fim de semana livre. Obrigada pela ótima tarde, McCarter! – eu disse, e lhe dei um beijo na bochecha. Acenei um tchau para os dois e corri para o castelo.


Cheguei ofegante à sala comunal e encontrei Scorpius sentado no chão de frente para a lareira apagada, revirando livros sobre a mesa de centro. Quando me viu, para a minha surpresa, virou a cara e começou a rabiscar furiosamente um pergaminho. Suspirei irritada e me joguei no sofá ao lado dele.


- Como foi seu encontro com o McCarter? – perguntou de forma rude. Eu estava achando a atitude dele irritantemente estranha, então só consegui dizer em voz baixa:


- Por que você está sendo tão estúpido, Scorpius? – eu estava magoada com as grosserias que ele despejou em mim depois que Peter havia me chamado para passarmos a tarde juntos.


- Eu não acho que esse cara seja bom para você. – eu encarei seu perfil, incrédula. Onde estava meu melhor amigo?


- E como você sabe? Não estou te entendendo, Scorpius! – estava claro que minha vontade de brigar estava surgindo. Apontei o dedo para ele. – Scorpius Hyperion Malfoy, eu não sei qual o seu problema, mas eu não sou obrigada a ouvir suas grosserias e seus insultos a mim e aos meus amigos. Você me conhece muito bem e sabe que eu tomo as dores deles, sejam as suas ou de qualquer outro. Então, preste bastante atenção no que eu vou te dizer: ou você pára com essa palhaçada de achar que eu só posso ser dividida entre você e o Alvo e que o McCarter não é bom o suficiente para mim, ou eu juro que não olho mais na sua cara. E você sabe que eu cumpro as minhas promessas. Espero que estejamos entendidos. – antes que ele dissesse alguma coisa, eu me levantei e subi para o dormitório, espumando de raiva, onde me joguei na cama e esperei até a hora do jantar.


Scorpius parecia invisível para mim. Pela primeira vez em sete anos de amizade eu não falava com ele. Não lançava um mísero olhar, por mais que soubesse que ele me encarava a todo instante.


- Muito bem. – disse Alvo baixando os talheres no prato, quando nosso silêncio já estava perturbador. – O que houve?


- Nada. – respondemos eu e Scorpius juntos, sem trocar olhares.


- Nada? – nós concordamos e Alvo suspirou. – Certo, e teremos chuva de hipogrifo hoje. Eu sei que vocês brigaram e não é difícil imaginar o motivo.


- Se você sabe, por que perguntou? – eu disse sorrindo para ele.


- Para comprovar minha total e absoluta genialidade. – Alvo deu de ombros, como se fosse tão esperto que desprezasse isso. Eu ri e joguei um pedaço do chocolate que comia nele.


- Bobo.


- Rose? – chamou Scorpius quando já estávamos de volta à sala comunal. Eu continuei mirando as chamas fracas da lareira e Alvo alegou dor de cabeça e seguiu para o dormitório.


- O que? – perguntei grossa, esperando que ele continuasse. Ele hesitou por um instante.


- Desculpe. Eu sei que fui um idiota com o McCarter...


- Foi mesmo! Eu estou ouvindo, continue.


- Eu não estou acostumado a te dividir com ninguém, à exceção de Alvo e sua família. E convenhamos, já tem bastante gente nesse meio. Nesse ponto eu fui bastante mimado. – eu levantei os olhos para ele, espantada. – Achei que você me daria menos atenção se andasse com o McCarter. Eu só estava com ciúmes. – eu sabia que ele estava se esforçando para pedir desculpas, porque sempre fora muito orgulhoso, por isso eu o perdoei num segundo. Levantei-me do chão e me sentei ao seu lado no sofá. Plantei-lhe um beijo na bochecha e o abracei.


- Por que tudo isso? – eu perguntei. – Scorpius, você é e sempre vai ser meu melhor amigo, não importa o que aconteça. E nada, nem ninguém, vai fazer com que isso mude e desvie toda a atenção que você merece. Então, pare de agir como criança e aja como o cara maduro que você é. – depois da pequena lição de moral, Scorpius, parecendo envergonhado, puxou-me e me aconchegou em seu peito. Ficamos em silêncio, apenas curtindo a companhia do outro.


Os dias passaram e Scorpius finalmente aceitara a companhia de Peter. À medida que o tempo ia passando, Peter parecia mais integrado com o nosso grupo e quase fazia parte do nosso cotidiano. Ainda era possível ver resquícios da implicância entre Scorpius e ele, mas era sutil e levada na brincadeira.


Em meados de outubro, durante o café da manhã de uma sexta feira, Sly surgiu por entre as poucas corujas que chegavam com o correio (Barbie e Bola de Neve não traziam notícias) e largou uma carta no colo de Scorpius antes de sair para o corujal. Scorpius largou a taça de suco de abóbora e pegou o envelope, verificando se era mesmo dos pais.


- Estranho. - disse ele, puxando o lacre. – É raro meus pais mandarem duas cartas na mesma semana. - abriu a carta e a cada linha lida, seus olhos azuis se arregalavam mais e mais. Alvo e eu paramos de conversar e o fitamos com curiosidade.


- O que diz aí? – perguntou Alvo, puxando o pergaminho das mãos de Scorpius. Eu pedi que ele lesse em voz alta. – “Querido, eu e seu pai temos uma grande novidade para você: sua irmã vai voltar da França. Samantha vai chegar nas férias de Natal, então você deve vir este ano. Já mandei uma carta para Minerva e ela permitiu que sua irmã ingresse na escola depois do feriado natalino. Não é sempre que isso acontece, mas ela conseguiu abrir uma exceção para Samantha. Prepare-se para a volta dela, chame Rose e Alvo para a reunião que faremos para comemorar. Isso é tudo. Amor, mamãe.” – Alvo terminou a leitura e olhou intrigado para Scorpius. – Desde quando você tem uma irmã?


- Desde sempre. – eu respondi antes que Scorpius pensasse em fazê-lo. – E nós a conhecemos, Alvo.


- Conhecemos? – Alvo forçava a memória para se lembrar de Samantha Malfoy, a loirinha pequenina, tímida e inteligente, apenas um ano mais nova que Scorpius.


- É claro que conhecem, Alvo! Ela estava no meu aniversário de doze anos, aquele em que vocês foram depois de várias brigas entre nossos pais, lembra?


- Ah, era aquela menina bonitinha que andava atrás da sua mãe o tempo todo?


- Ela mesma.


- Por que ela estava na França? E por que não estava em nenhum outro aniversário? – Alvo sabia ser irritantemente curioso quando queria, mas Scorpius tinha uma paciência invejável.


- Eu acho que ela brigou com papai e foi passar uma temporada na França. Acabou gostando de lá e pediu para morar com a nossa tia e nossos pais deixaram. Nos três anos seguintes ela voltava para o Natal, mas depois decidiu não vir mais. A gente sempre escreve um para o outro. Eu sinto a falta dela. É bom saber que Sam vai voltar. – ele sorriu sozinho e cruzou seu olhar com o meu. Sorrindo, eu me levantei e os dois me seguiram para a aula.


- O que temos agora? – perguntei e Alvo revirou os olhos. Ele gravava os horários com eficiência. – Por que eu me daria ao trabalho de decorar se posso perguntar a você?


- Poções com a Sonserina. – torci o nariz. Eu tinha certa antipatia pela Sonserina, mais por conformismo que qualquer outra coisa.


Adentramos as masmorras e nos sentamos em trio como sempre. Os alunos da Sonserina se juntaram em outro canto da sala escura. Os caldeirões já estavam montados quando o Prof. Boot surgiu.


- Bom dia. – ele saudou e parou no meio da sala, colocando a mão sob o queixo. Pensativo, eu diria. – Vamos fazer diferente hoje. Há anos eu vejo essa mesma cena: Grifinória de um lado e Sonserina do outro. Acho que está na hora de mudar isso. – antes que ele acabasse de falar, nós nos levantamos e trocamos as parcerias com nossos próprios companheiros. Mas Boot pigarreou e nós o olhamos. – Eu não disse que iriam trocar com os colegas da sua própria casa. Não, não. Sonserina e Grifinória farão diferentes duplas e eu escolho. Sem reclamações! – completou quando abrimos a boca. – Weasley e Bulstrode, aqui na frente. – eu e a brutamontes da Ginger Bulstrode puxamos nossas cadeiras e sentamos juntas, trocando olhares raivosos. O professor ia separando as duplas tranquilamente sem se importar com os chiados de reclamações. – Potter e Parker. – Alvo e Zein Parker sentaram se encarando com hostilidade. Por fim, ele chamou Scorpius. – Malfoy e Lancelot atrás de Flint e Kingston. As instruções estão no quadro e os ingredientes no armário. Vocês tem uma hora e meia para preparar a Poção da Glória Divina*.


Enquanto eu pegava os ingredientes – preferi deixar Bulstrode copiando as instruções (não que precisasse), porque era bem provável que ela pegasse os ingredientes errados – vi Scorpius conversando animadamente com Izzy Lancelot, sua parceira. Era uma loira alta, bonita e com fama de esperta. Pelo o que se sabia, tinha dinheiro e conseguia, com bastante astúcia, livrar os colegas das enrascadas em que se metiam. Ela e Scorpius riam baixinho enquanto faziam suas poções. Ao fim da aula, eu e Alvo fomos nos juntar a Scorpius e vimos a menina subir na ponta dos pés para dar um amigável beijo na bochecha do novo parceiro de aula, mas Alvo chamou Scorpius na hora e ele virou. O beijo que seria dado na bochecha foi dado na boca. Scorpius e Izzy se encararam envergonhados e ela pediu desculpas, correndo porta afora. Ela podia ser astuta como uma raposa, mas ainda era uma garota.


Alvo fez graça o dia todo com a cara de Scorpius. Eu, por minha vez, sentia-me desconfortável na presença deles, coisa inédita. A tarde passou e eu recebi uma coruja de Peter, convidando-me para dar uma volta no lago. Saí imediatamente para encontrá-lo.


- Oi, Rose! – ele me cumprimentou quando me sentei ao seu lado sob uma cerejeira.


- Oi, McCarter! – respondi. Passamos mais de uma hora conversando e brincando, fazendo-me esquecer do beijo entre Scorpius e Lancelot. Peter tinha o poder de me distrair das coisas que me incomodavam. De repente, ele me olhou sério e disse:


- Rose, posso te beijar? – eu esperava qualquer coisa, menos isso. Meu cérebro demorou a processar a informação, já que eu havia sido pega de surpresa. Então eu pisquei e sorri.


- Deve.

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Comentários (1)

  • Lana Silva

    Nossaaaaaaaaaaaaaaaaa ela tá com ciumes dele também na verdade não é ciumes mas ela sabe que gosta dele mesmo sabendo que não acha que não gosta!

    2011-10-11
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