Decisão



Decisão


 


A imagem de uma garotinha correndo ao seu encontro lhe dava vontade de sorrir, os cabelos negros com pequenos cachos nas pontas e os olhos num castanho esverdeado davam a ela uma beleza descomunal, combinando perfeitamente com o nariz arrebitado, os lábios carmim e as bochechas róseas. Aquela garotinha, aquela linda garotinha de seus seis anos de idade era a visão perfeita de uma boneca, uma boneca de porcelana, a sua boneca... A sua irmã.


 


- Nathan... – A voz suave lhe despertava de um cochilo que sem querer tirara em um dos bancos do hospital.


 


Ergueu os olhos negros para então encarar o doce sorriso de Amy Trent, a loira lhe tocou o ombro com ternura e então se sentou ao seu lado, Amy Trent era com toda certeza uma pessoa diferente, ela trazia um cheiro de rosas por onde passava e emanava uma paz pouco conhecida por todos, principalmente em meio aquela guerra toda. Talvez fosse por isso que Carter havia largado o lado negro, por ela, simplesmente para aproveitar toda aquela paz que aquela mulher trazia por onde passava.


 


- Você deveria ir para a casa descansar, todos já foram arrumar as coisas... – Ela começou encarando a parede branca a sua frente.


- Vou mais tarde... – Ele respondeu com a voz fraca, havia concordado que Jay era quem deveria ficar com Anne, entretanto por alguma razão seus pés não queriam abandonar aquele local, assim como Caios que estava fingindo arrumar algumas papeladas na direção do hospital.


- É muito bonito o amor que você sente pela sua irmã... – Amy declarava voltando o olhar para ele. – Sabe, Anne é uma menina muito corajosa, muito forte também, ela tem uma determinação que eu tinha na idade dela... Pena que poucos conhecem esse tipo de determinação...


- Pensei que ela fosse mais parecida com o Sr. Trent... – Nathan coçava a cabeça. – Foi ele que largou tudo para ir para o lado das trevas...


- Oh sim, nesse ponto ela tem a cabeça dura de Carter, achar que pode salvar o mundo sozinha... Tsc, tsc, tsc... Isso é um defeito grave. Nunca podemos estar sozinhos Nathan... Mas Anne... Ela é doce, por mais que tentem acabar com o lado meigo dela, com o lado lindo do coração dela nunca vão conseguir, Anne é boa, e uma coisa eu aprendi com os anos, jamais podemos mudar a essência das pessoas.


- Obrigado Sra. Trent...


- Me chame de Amy, Sra. Trent me dá um arrepio na nuca! – Ela rira passando as mãos nos cabelos curtos. – Vamos rapaz, você tem que ir encontrar sua esposa e seu filho, dou a minha palavra que daqui a algumas horas você vai encontrar com sua irmã, sã e salva.


 


Nathan dera um sorriso pequeno, mas não pestanejou erguendo-se de leve do banco e enfiando as mãos no bolso, confiava cegamente naquela mulher, sabia que com ela Anne estaria em boas mãos assim como nas mãos de Jay. Anne estaria segura ali, e talvez ele pudesse descansar pelo menos um pouco.


 


Caminhou pelos corredores sentindo um cansaço lhe invadir as costas com uma dor insuportável, acariciou os ombros enquanto escutava uma gritaria vindo de frente ao quarto de Anne, acelerou o passo sentindo a preocupação lhe invadir de repente, mas logo desaparecendo dando espaço a um imenso sorriso nos lábios.


 


A cena era cômica, Emmy sentada com braços e pernas cruzadas enquanto Jay berrava como um louco desequilibrado e Caios, Sirius e Kevin mantinham-se as gargalhadas do outro lado, aquela cena ele jamais pensou que viria, sempre fora Emmy quem berrava, xingava e amaldiçoava o rapaz, mas desta vez... Era Jay quem estava tendo um colapso nervoso.


 


- COMO VOCÊ PODE FAZER UMA COISA DESSAS? ISSO DAQUI É UM HOSPITAL! QUER QUE EU SOLETRE PARA VOCÊ GORDON? POIS BEM... EU VOU SOLETRAR H-O-S-P-I-T-A-L!!!


- Uau... Realmente Potter você sabe soletrar, estou orgulhosa... – Debochava a mulher girando os olhos em tédio.


 


James voltara a gritaria enquanto Emmy limitava-se em rolar os orbes esverdeados e bufar, James estava parecendo uma esposa maluca na TPM, enquanto Emmy, um marido tranqüilo por demais tendo de aturar as crises malucas da mesma.


 


- O que está acontecendo? – Indagou Nathan a Caios que ainda gargalhava da cena.


- Um médico convidou Emmy para jantar... – Respondeu o loiro.


- E qual o problema disso?


- Bem... Segundo nosso amigo Potter... – Sirius coçava a cabeça. – Isso é coisa de mulher “dada”  já que aqui é um hospital e não uma boate para Emmy sair paquerando todos que vê pela frente.


- Hã? – Nathan arqueava a sobrancelha em divertimento.


- Simples Natezito, nosso JayJay está com ciúmes. – Declarara um divertido Kevin


- CIUMES É O CACETE! EU SÒ ACHO UMA FALTA DE RESPEITO!!!  - Urrava Jay.


- Ai Potter como você é dramático... – Emmy balançava a cabeça. – Bem meninos eu vou indo...


- VAI? VAI PARA ONDE? ENCONTRAR AQUELE HOMEM SEM PROFICIONALISMO???


- É Potter, eu vou jantar com o Dr. Cabot... – Emmy sacudia a vasta cabeleira.  – E depois quem sabe a gente dê algum passeio... Ver as estrelas sabe?


- NÓS ESTAMOS EM UMA GUEEEERRRRRAAAAAA!!!! E NÃO EM UM PARQUE DE DIVERSÕES ONDE VOCÊ VAI PARA A BARRACA DO BEIJO! CAIOS FALA PARA ELA, FALA QUE ELA ESTÁ SENDO UMA PESSOA SEM PROFICIONALISMO ALGUM! VOCÊ É UMA INOMINAVEL GORDON!


- Vá e se divirta Emmy... – Caios dava uma piscadela marota.


- Obrigada Caios! – A loira sorria abertamente.


- SE DIVIRTAAAAAAAAAAAAAAAA???????? QUAL É O SEU PROBLEEEEMAAA???


 


Emmy apenas limitara-se em acenar e aparatar deixando Jay embasbacado e os marotos gargalhantes, aquela cena jamais poderia imaginar que seria possível.


 


- Muiiiiiiiito bem Jamezito, continue demonstrando seu amor por Emmy dessa forma, quem sabe você ganha um pirulito depois... – Zombava Kevin. – Qual é cara! Você está tão preocupado com ela indo jantar com o doutor sei lá das quantas que nem percebeu seu amor por ela!


- Eu não amo a Gordon! Somos parceiros, simples! – Rosnara o moreno. – Me preocupa é o fato dela sair para jantar enquanto deveria estar cumprindo seu dever de tocaia!


- Ah ta... – Sirius girava os olhos. – Sabe James, cada dia que passa sua falta de bom senso me impressiona...


- Concordo e assino em baixo... – Completava Nathan.


- Humpf... Vocês são uns intragáveis...


- Também te amamos James... – Caios tocava o ombro do amigo em zombaria.


- Bem, temos que ir... – Kevin olhava no relógio. – A chave do portal tem horário e digamos que não queremos chegar tarde no nosso forte...


- Enquanto Danielle? – Indagara Jay.


- Ela irá com Stacy e Luke... Encontraremos-nos todos lá... – Respondera o loirinho olhando Caios de canto.


- James... – Caios chamava o rapaz com pesar. – Você sabe que eu estou fazendo algo que eu odeio...


- Olha Caios... Você é meu melhor amigo, mas nesse caso...


- Cala a boca e me escuta. – O loiro franzia o cenho. – Anne é importante para mim, e... E eu vou me ausentar por uns tempos, você sabe que não posso... Ficar perto dela.


- Caios...


- Você vai a proteger com a sua própria vida entendeu? Se algo acontecer com ela, James eu juro... Eu juro por tudo que é mais sagrado que eu mato você. Eu estou te confiando à coisa mais preciosa que eu tenho, por favor, cuide bem dela.


 


Antes que James pudesse dar uma resposta à altura Caios aparatara assim como Kevin, Sirius e Nathan, deixando o moreno sozinho ali em meio aquele corredor. James puxou o máximo de ar para seus pulmões, Anne a partir daquele momento era sua missão, sua prioridade.


 


- Não se preocupe cara... Eu a protegerei com a minha própria vida... – Murmurou para si mesmo girando o corpo e abrindo a porta entrando em um quarto todo branco, puxando uma poltrona, sentando-se ao lado dela.


 


Ao lado daquele corpo pálido, frio, cheio de cicatrizes, ao lado dela, Anne Adhara, a mulher que James amava, a mulher que lhe despertava sensações nunca antes vistas, e ele cuidaria dela e zelaria o seu sono, faria isso pelo resto de sua vida se ela assim quisesse.


 


 


Sentia um desconforto  no peito, uma vontade estranha de sair correndo, ao mesmo tempo em que seu estomago embrulhava uma vontade tomava todo o seu corpo. Havia uma luz estranha no final daquela rua mal iluminada, uma luz fraca, mas ainda assim uma luz, sentiu vontade de rir, aquela seria a imbecil “Luz no final do túnel”?


 


Anne respirou fundo, havia tantos motivos para ficar naquele local obscuro, sem objetivo nenhum, apenas “descansando”, mas algo lhe urrava para levantar e correr para fora de sua mente negra. E este motivo só se aplicava a uma única esperança, a única coisa boa que Anne tivera em seus vinte miseráveis anos de vida.


 


Ele.


 


Ele... Ele que jamais sairia de sua mente, ele que fez com que ela não enlouquecesse no país do fogo, ele que acalentava suas noites frias e a fazia superar e aturar qualquer tipo de dor insuportável, ele, simplesmente ele, Caios Trent. Merlim, ele era a luz? Ele seria o motivo para ela se deixar ser protegida pela primeira vez na vida? Levantou-se sentindo a cabeça doer, ele a aceitaria de volta? Mesmo não podendo tocá-la? Ele iria a amar apesar de tudo? Sentiu medo... Mas precisava encarar tudo aquilo apenas para encarar aqueles olhos, aqueles olhos que a faziam tremer por completo, aqueles olhos que a decifravam.


 


E então reuniu toda coragem que um ser humano poderia ter e caminhou em direção a luz, havia tomado uma decisão, iria sobreviver.


 


Os olhos abriam com cuidado, a luz era clara quase cegante, podia sentir os pêlos de seu braço se erguendo, sentia frio. Aquele quarto estava frio demais, tentou puxar o máximo de ar para os pulmões parando ao sentir uma dor profunda nas costelas. Havia tubos em todos os lados, inclusive em seu nariz, o teto parecia extremamente limpo em sua opinião. Piscou algumas vezes tentando manter o foco e poder assim controlar os movimentos de seu corpo, até ouvir aquela voz...


 


- Anne... – Não... Não era a voz dele.  – Anne... – A voz de James lhe chamava aflito, podia sentir que havia lagrimas em seu tom.


 


Girou o pescoço encarando os orbes azuis esverdeados do maroto, Jay possuía um misto de emoções, alegria, desespero, alivio, tristeza... Sentiu uma vontade terna de abraçá-lo, sempre teria um grande afeto por James. Respirou fundo mais uma vez sentindo a dor intensa nas costelas para então conseguir falar baixinho:


 


- Eu quase morri James...


 


Uma lagrima solitária escorreu dos olhos do moreno e ele sequer se moveu na poltrona que estava sentado, como se estivesse estupefato por demais por ela estar ali, acordada, sóbria...


 


- Eu sei... – Respondeu num murmúrio.


 


Anne voltou a encarar o teto e então cerrou os olhos deixando também uma lagrima escorrer vagarosamente pela sua bochecha. Sentia-se aliviada... Como se tivessem tirado todo o peso que a “Dama Negra” trazia a sua vida, não queria se preocupar com nada naquele momento, apenas queria saber como era ter paz, pelo menos alguns segundos de paz.


 


- Vai dar tudo certo agora... – Jay tomava uma de suas mãos a fazendo o encarar nos olhos. – Eu estou aqui Anne, e eu não vou deixar nada de mal te acontecer... Eu prometo.


 


Forçou um sorriso, Jay pulou da cadeira e lhe deu um beijo demorado na testa, ele chorava como uma criança pequena, mas aquilo a relaxava, saber que alguém havia perdoado tudo o que ela havia feito, Merlim... Como “ele” iria a perdoar? Cerrou os olhos tendo a imagem de Caios invadindo sua mente, ela o amava e esse amor a matava todos os dias, quantos dias ela ainda teria? Tomara que fosse o suficiente para ter o perdão dele.


 


- Todos querem te ver... – Começou o moreno se afastando. – Mas vão nos encontrar no seu novo lar!


- Meu novo lar? – Ela sussurrou.


- É! O Tio Carter arrumou tudo sabe? Digamos que é um tipo de fazenda, é bem escondido, pelo menos vai te manter segura até você se restabelecer. Você deu um baita susto na gente!


- Na gente? – Ela sorria triste. – Só tem você aqui James...


- Bem, não apenas eu! A Gordon está por aí também... E bem, todos estavam aqui, foram arrumar o local para te receber sabe? Luke quer muito ver a tia dele em casa!


 


A morena cerrou os olhos, sentia-se cansada, mas sentia-se em paz... Como era isso? Estava tendo uma segunda chance? Chance de estar lutando ao lado do bem? Quanto tempo aquela sorte toda iria durar? Da ultima vez durou menos de três anos, quanto tempo duraria agora? Ela não era o melhor exemplo de “sorte” do mundo.


 


- Tudo vai dar certo Anne... – Jay pronunciava. – Tudo vai dar certo.


 


Ela pôde escutar ele se levantando e lhe dando um beijo na bochecha ao mesmo tempo em que a porta se abria e os passos leves tomavam conta, conseguiu até escutar o suspiro chateado da pessoa que havia entrado, abriu os olhos vendo Jay se afastar e a imagem de Emmy Gordon se tornar parte de sua visão.


 


Emmy amava Jay, e ele era tonto o bastante para não perceber isso... Teria que dar um jeito naquilo, mas primeiro iria descansar, cerrou os olhos novamente sendo embalada pelo mais tranqüilo dos sonhos.


 


- Como ela está? – sussurrara Emmy entregando café ao rapaz.


- Parece bem...  Ela está bem fraca... – Jay enxugava algumas lagrimas.  – Obrigado por... Por ter voltado cedo do jantar com o médico lá... Bem... Obrigado por ter ficado ao meu lado e dela...


- Não fiz por você. – Rosnou a loira. – Fiz pelo Caios! Não vou deixar você roubá-la dele, ele a merece James! Depois de tudo o que eles passaram eu não vou permitir que uma Mula Chinesa como você atrapalhe tudo!


- Eu vou ignorar sua fala Emmy... – O moreno sorrira fraco. – No momento eu estou em paz, em paz porque ela voltou, mas você jamais vai entender isso, você não sabe o que é amar uma pessoa de verdade.


 


A loira bufou girando os olhos categoricamente, James era o homem mais imbecil da face da terra.


 


 


A neblina cobria por completo todo o jardim daquele castelo, os berros furiosos invadiam todos corredores e cômodos daquele loca, a ira do Grande Mestre parecia assustar e apavorar todos seus seguidores.


 


Procyon apanhava cada móvel e o arremessava, destruindo todo o quarto ao qual alguns dias atrás era ocupado por ela, Anne Adhara. Ele sentia um misto de sentimentos, mas o principal era o ódio, ódio por aquela traidora ainda amar aquele impuro do Trent, como ela poderia amar aquele homem? Como ela poderia recusá-lo para ter Caios Trent? Como ela OUSAVA lhe trair?


 


Urrou, ele mataria aquele homem com suas próprias mãos, por conta dele e daqueles amigos inúteis dele, Anne o traira, Anne não estava ali, e ele quase a matara. Quando recebera a noticia mais cedo de que ela havia sobrevivido, uma parte de seu corpo sentia um alivio quase que surreal enquanto outra parte odiava, sentia ira. Merlim... O que havia de errado com ele? O que aquela maldita bruxa havia feito com ele?


 


Ouviu passos vindo do corredor, seus olhos num tom de amarelo profundo contaminava todo o seu ser, sentia toda sua magia, seu poder a flor da pele, fosse quem fosse que entrasse por aquela porta iria morrer, iria sentir toda a fúria de Procyon.


 


A porta abrira-se com cuidado, Procyon sacou uma imensa espada e a arremessou em direção a alguém que agilmente se defendeu com um escudo prateado, girando o corpo e saltando com destreza ficando em posição de ataque. Procyon respirava pesado, trincando os dentes como um animal ensandecido prestes a atacar sua presa.


 


- É assim que recebe seu irmão caçula? – A voz por trás do escudo tomara conta do local.


 


Os olhos amarelados brilharam fulminante, para então tornassem claros e azuis como o céu, Procyon respirou fundo algumas vezes para então ver o escudo abaixar e um rapaz de cabelos ruivos espetados, olhos castanhos claros e corpo musculoso o olhasse com divertimento, aquele rapaz não tinha medo de Procyon, pelo contrario, aparentemente era o único ali que o enfrentaria com o maior dos prazeres.


 


- Ethan... – Murmurou desgostoso.


- Tambem senti sua falta irmãozinho... – Zombara o rapaz. – Soube que você está tendo alguns surtos psicóticos, e pensei em ver pessoamente você pirando na batatinha, bem... Até agora está bem divertido.


- Suma da minha frente Ethan, eu não terei piedade de você!


- Piedade? – O ruivo gargalhara. – Não me faça passar mal de rir...


- Eu não estou em dias muito bons... Vai embora.


- Ah ta... Realmente você não deve estar feliz mesmo não, mandou sua amada Dama Negra para o hospital, descobriu que ela era agente dupla... E ainda se arrependeu por machucá-la... Tsc, tsc, tsc... Você é uma incógnita Procy...


- Ora, cale essa boca! Você não sabe de nada!


- Não sei? – Ethan espreguiçava. – Você sabe que eu sou um excelente legimente e oclumente... E nesse momento eu vejo em sua cabeça que você a quer de volta, mas está orgulhoso demais para admitir isso... Sabe, eu me pergunto o que essa mulher tem para que todo mundo fique doido com ela! É igual cadela no cio, minha Morgana!


 


Procyon acariciou a têmpora sentando-se no chão e encostando a cabeça na parede, só lhe faltava mais essa para seus dias ainda ficarem mais agradáveis, a companhia de seu irmão caçula rebelde, realmente as coisas estavam ficando cada dia mais insuportável.


 


- Você a quer de volta, não quer? – Ethan insistia encarando o irmão, mas desta vez com seriedade. – Olha, Marco me mandou voltar da América só para te ajudar, disse que essa mulher te deixou doido e num sei mais o que... Mas sinceramente, eu acho que ela te despertou algo bom... E... Parece que com o poder dela você teria uma chance maior ainda nessa guerra, essa coisa toda que vocês querem... Se ela vai te ajudar tanto, vai ser tão benéfico tê-la consigo... Pegue-a de volta oras!


- Nada funciona assim Ethan... – Procyon levantava-se do chão.


- Não? Então você está perdendo mesmo... Onde está aquele cara que consegue tudo o que quer?


- Nesse caso não tem como eu tê-la comigo. Ela irá me trair de novo, e eu irei matá-la de verdade se isso acontecer.


- Bem... Tem uma maneira de você a ter sem ela te trair... – O ruivo coçava a cabeça.


 


Os olhos de Procyon tomaram novamente a coloração amarelada para então olhar com pleno interesse pro irmão.


 


- Prossiga...


 


Ethan sorriu enigmático e então estendeu a mão ao irmão mais velho como se aquilo ali fosse um pacto entre ambos, como o diabo selando um acordo por uma alma. Ethan havia voltado e estava ao lado de Procyon, o que geraria mais um grande problema na guerra para todo o resto.


 


 


 


O vento daquele lugar parecia ter um cheiro diferenciado, não por conta dos eucaliptos que cercavam todo local, muito menos pela terra molhada ou pelas roseiras espalhadas pelo jardim, aquele vento tinha cheiro de paz, se é que paz tinha cheiro. Mas era aquilo que Caios Trent sentia ao estar sentado no telhado do imenso casarão, sentia o cheiro do vento.


 


Saber que em poucas horas Anne estaria ali era um alivio quase que doentio, entretanto saber que seu contato com a mesma estava praticamente restrito o deixava com o coração apertado. Mas haviam sido claros com ele, sua proximidade a Anne Adhara poderiam a levar a uma morte um tanto quanto precoce e Caios jamais se perdoaria se ela morresse por amá-lo demais.


 


Jogou a cabeça para trás, ainda não havia conversado com Danielle, estava fugindo desse encontro a horas, não sabia como falar para Danielle que amava Anne mais do que tudo no mundo e que iria lutar com todas suas forças para salvá-la, não sabia como dizer a Danielle que pedi-la em casamento fora um impulso, fora errado, e ele se sentia um completo imbecil por isso. Merlim... Como que tudo chegara aquele ponto? Como foi que essa troca de casais fora ficar tão patética? Sirius não falara nada a respeito, mas era obvio que vê-lo com Danielle não agradava o amigo, Sirius amava Danielle, Danielle amava Sirius, Caios amava Anne... Então que diabos fizeram com suas vidas?


 


- Então é aqui que você está se escondendo de mim?  - A voz da loira inundava seus ouvidos.


 


Sentiu-se envergonhado, ele, um homem daquele tamanho com seus vinte e um anos de idade se escondendo de sua “noiva” por simplesmente não ter coragem de dizer a ela que o que sentia por ela não passava de uma amizade profunda, um carinho que ninguém jamais conseguiria entender, mas não a amava, não tinha o fogo daquela paixão, não conseguia sentir isso por Danielle.


 


- Desculpe... – Sussurrou. 


- Não seja bobo Caios! – A loira girava os olhos jogando uma latinha de cerveja para o mesmo. – Vamos brindar a grande merda que fizemos com nossas vidas!


- Danielle...  Não é bem assim você sabe...


- Olha, eu não quero ser um impedimento para você e Anne, toooooodo mundo sabe da sua vontade fora do normal de ficar com ela...


- E todo mundo sabe da sua imensa vontade de ir para a cama com Sirius... – Riu o loiro abrindo a latinha bebendo o liquido dourado.


- Bem... – Danielle corava. – Você sabe, Sirius tem aquele jeito bad boy... E bem... É sexy.


- Obrigado por dividir isso com seu noivo! – Gargalhara Caios. – Ouvir que Sirius Zabine é sexy realmente mudou minha vida.


-  Caios... – A loira ficava séria. – Você é meu melhor amigo... A gente já passou por tantas coisas juntos, você sempre me contou tudo e eu... Eu também... Aquele momento em que escolhemos ficarmos juntos foi importante para nós! A gente precisava daquilo, precisava se apoiar um no outro... Você é importante para mim, mas acho que essa coisa de noivado foi meio uma forma de nós dois fugirmos do que temos medo...


- E do que temos medo?


- De nos entregarmos novamente a quem nos machucou, de sofrer de novo... – Danielle bebericava a cerveja. – Temos medo de arriscar, de que isso não nos traga mais a felicidade que almejamos... Temos medo de dizer “adeus” à segurança que temos em algo estável para engrenarmos em algo que pode desmoronar a qualquer momento, pois ambos sabemos que quem nós amamos de verdade de uma forma ou outra vai nos machucar.


- Acho que Sirius não vai te machucar dessa vez...


- A gente nunca sabe o que pode acontecer...


- Está disposta a se entregar novamente a ele?


- E você? Está disposto a se entregar a Anne?


- É diferente!


- Não, não é! Você ama Anne com todas suas forças, Caios, você em todos esses anos nunca apagou ela de sua memória, todos os dias você levantava o assoalho de seu quarto e retirava de lá uma caixa cheia de recordações dela! Eu tentei esquecer Sirius todos os dias, mas você não! Você se agarrava a memória de Anne todos os dias, você nunca a quis esquecer, porque no fundo você sabia que ela iria retornar, e ela voltou Caios! Por Morgana, ela voltou! E ela ama você! Talvez a única coisa que não a levou a loucura no meio dessa confusão toda foi o fato dela te amar demais também.


 


Caios engolira seco, retornando o olhar para os eucaliptos que se estendiam por toda propriedade, como ele poderia responder? Danielle quando estava certa dava nos nervos, deveria concordar com Sirius a respeito deste fato.  Remexeu-se desconfortável sentindo a loira lhe enlaçar o braço sobre o seu pescoço e apoiar a cabeça em seu ombro.


 


- Quero que você seja feliz Caios, o mais feliz possível! Mas eu juro pela alma de Dumbledore, que se um dia Sirius souber que eu disse que ele é Sexy, eu corto sua garganta enquanto você estiver dormindo!


- Por deixar eu vou manter minha garganta a salvo... – Ele piscava maroto apoiando a cabeça na da amiga vendo o por do Sol que começava ao horizonte.


- Mais uma coisa...


- O que?


- Eu não vou devolver o anel de noivado.  – Danielle sorria marota apontando para o dedo direito.


 


Caios sorrira abertamente, enlaçando a mão da amiga com carinho, suas feições relaxadas logo aderiram um tom severo, um tom um tanto quanto assustador na opinião da loira ao seu lado. Caios olhava fixamente para os jardins frente ao casarão onde um homem trajado inteiramente de negro o encarava através dos óculos escuros. Caios levantou-se de supetão de cima do telhado correndo pelo mesmo e saltando majestosamente em direção ao homem, ignorando o berro aterrorizado de Danielle.


 


Carter não movera um músculo sequer ao ver a queda livre do filho mais velho, apenas aguardou o que estava para ser visto, Caios sacou a varinha e criou um chumaço de nuvem abaixo de seus pés que o ajudaram em um pouso leve e sutil no gramado fofo esverdeado. Para então caminhar em fúria em direção ao seu pai, o homem que Caios acusaria eternamente por ter destruído sua vida.


 


- O que quer? – Rosnou o loiro.


 


Carter retirou os óculos escuros entediado, guardou os mesmos dentro do paletó e dera seu típico sorriso torto, um sorriso que Caios também havia herdado.


 


- Suas férias acabaram. – Declarou o moreno. – Você vai liderar um exercito e não tocar gado! Deve começar a treinar como se deve.


- Treinar? Eu nem sei se vou...


- Escute bem Caios... – Carter acariciava a tempora. – Minha paciência tem limites sabe? Eu até entendo seu ódio mortal por mim por ter te afastado de Anne, mas comece a raciocinar como um homem e não como um garotinho de 10 anos que acabou de pegar seu primeiro trem para Hogwarts!


- Um garotinho? ACHA QUE EU ESTOU AGINDO COMO GAROTINHO?


- Sim eu acho... – Carter enfiava a mão dentro do paletó apanhando um cigarro. – Você não parou para pensar em ninguém além de você mesmo! Você sequer raciocinou que se Anne Adhara tivesse ficado com você esses quatro anos, ela poderia estar morta agora! Ou melhor, todos poderiam estar mortos! Sabe o que segurou a guerra de estourar Caios? Apus Vega! Ele impediu isso, ele levando Anne embora junto com o Ministério... Junto comigo Caios, nós protegemos Anne e você!


- Eu... – O loiro franzia o cenho. – Nós poderíamos ter dado um jeito!


- Dado um jeito? – Carter girava os olhos em orbita acendendo o cigarro. – Não me faça rir! Que jeito você deu até agora Caios? Vamos, me diga! A única coisa que você tem feito é sentido pena de si mesmo! Está na hora de crescer e virar homem!


- Eu já sou um homem.


- Então comece a agir como um! – Rosnou Carter. – Você tem sangue de Morgana, assim como Anne tem de Merlim e Procyon tem de Oberon! Essa guerra envolve vocês três, essa guerra já vem repercutindo a séculos! O meu sangue que corre em suas veias Caios, é o sangue de uma das bruxas mais poderosas do mundo! Morgana Le Fei! Mas você não faz idéia do peso que isso tem não é mesmo?


 


O loiro engoliu em seco, Carter bufara soltando toda a fumaça pela boca. Como que ele queria que Caios se sentisse? Um completo inútil? Bem, se era isso estava conseguindo. Carter andava de um lado para o outro, aparentemente pensando e repensando o que iria dizer ao filho mais velho, mas nenhuma palavra saia de sua boca. Caios esfregou o cabelo e o rosto, era de dar nos nervos aquela cena.


 


- Eu vou liderar ok?! Eu vou aprender tudo direito... – Declarou baixinho. – Mas você tem que entender meu lado também! Não foi fácil para mim eu me senti traído pelo meu próprio pai!


- Eu não trai você Caios... – Carter respirou apoiando a mão no ombro do rapaz. – Eu protegi você, e se isso é trair, considere que todos os pais do mundo traem seus filhos por os amar demais.


- Eu vou ser um bom general, eu devo isso a todos... Principalmente aos sacrifícios de Anne...


- Então enquanto estiver aqui se mantenha o mais afastado possível dela e o mais concentrado em seus treinamentos, Nathan, Kevin, Sirius e Jay vão o ajudar nisso. Emmy vai trazer alguns artefatos do Ministério, temos que correr contra o tempo, não vai tardar até Procyon descobrir esse lugar.


 


Caios abriu a boca algumas vezes para responder, entretanto não emitia som algum, afinal um barulho vindo dos portões de ferro atraíram sua atenção, o portão abria lentamente dando espaço a um rapaz alto robusto de cabelos negros, e esse rapaz carregava alguém em seu colo.


 


Jay estava ali, e em seu colo completamente adormecida estava ela, Anne Adhara. Logo atrás de ambos Amy Trent caminhava lentamente com as mãos enfiadas no bolso. Caios podia sentir seu estomago rolar e cair num baque profundo, Merlim como ele queria correr e tomá-la dos braços de James, como ele queria beijá-la por inteiro e dizer a ela o quanto a amava. Sentiu seus olhos marejarem, mas naquele momento ele não podia ser mais o garotão de Howgarts, ele deveria agir como um homem, ele deveria ter a sabedoria que todos estavam cobrando naquele momento.


 


Ergueu o queixo e fez a coisa mais difícil que poderia fazer em seus anos de história com Anne, ele virou as costas e seguiu em direção ao casarão, cada passo que dava era uma dor profunda que sentia no peito, cada passo era uma perda de Anne em sua vida. E então ele desapareceu pelas portas do casarão deixando Carter o observando de longe, Caios havia tomado a primeira decisão dura de sua vida a primeira de muitas.


 


 

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Comentários (6)

  • Judy_Black

    Muito bom, o Jay ciumento foi muito engraçado morri de rir, ele é uma mula chinesa mesmo. Anne finalmente acordou, ela queria o Caios ao lado dela.  *_* to louca pro proximo cap. bjs da Judy

    2011-07-24
  • Paola Freitas

    Ahhhh ): Vai ser tão dificil ver o Caios e a Anne semparados.

    2011-07-24
  • BunnyPo

    OK. Amei o Jay com ciúmes. Realmente ele he uma Mula Chinesa. O Cap ficou MA-RA-VI-LHO-SOConcordo com a Dandan... O Sirius he um badboy super sexy.Posta logo o próximo q eu tow fervendoooo.bjus de sua fã

    2011-07-23
  • Lari_sl

    Amei o cap..... ficou MARA!!!! Curiosa pelo q está por vir.... bjssssss

    2011-07-21
  • rafinha granger-potter

    CA-RAM-BA! Simplesmente perfeito. O jay é ,es,o um retardado, ainda não entendeu que ta apaixonado pela emmy e não pela anne. O caius tbm deu uma de criança fugindo de dani, mas foi maduro no final. Cena comédia a do jay e da emmy no inicio, ri pakas. espero que a anne curta as "ferias" pq to sintindo que o procyon vai aprontar legal pra cima dela. Não demora a postar não, mata os leitores assim. bjss, rafa.

    2011-07-21
  • Ninha Costa

    nossa só melhora amo o jay ams ele tah um idoiota total

    2011-07-20
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