Explicações&Contradições



N/A: notinha rápida, para dedicar o capítulo a uma das leitoras (e pq não dizer “personagens”?) da fic que faz aniversário hoje. Paola, esse capítulo é dedicado a vc. Parabéns pelos seus 15 aninhos. Muita saúde, paz, felicidade, e que todos seus sonhos se realizem. Sucesso hj, amanhã e sempre.

Te adoro!





Capítulo 15

Explicações&Contradições





“- Eu amo você! (...) Todas as brigas e discussões eram formas que eu encontrava para ter sua atenção...”

Imagens desconexas invadiam a mente de Rose, enquanto dormia. Parte dela tinha certeza que aquilo era um sonho, mas uma pequena parte de sua consciência lhe dizia que aquilo era real, ou que simplesmente poderia ser real. Sonho ou não, o que a ruiva menos queria agora era acordar.

“(...) Cada parte de mim a ama por inteiro, meus olhos, meus lábios... (...) Eu te amo com todas as forças...”

A voz de Scorpius era tão nítida que Rose poderia jurar que estava sendo sussurrada em seu ouvido. Mas a voz dele não combinava com sua expressão de menino. O Scorpius que lhe dizia coisas bonitas e que lutava para reconquistar sua confiança tinha apenas 14 anos. E isso confirmava a teoria de que todas aquelas imagens eram apenas um sonho confuso.

“E qual é o seu maior medo?”

- Perder você... SCORPIUS! – o grito desesperado de Rose ecoou por todo o quarto e no mesmo instante ela se sentou na cama. Seus olhos embaçados por lágrimas percorreram por todo o local. Ela sonhara, afinal. Não havia mesmo ninguém lhe dizendo belas coisas ou lutando por seu amor. Aquilo era apenas um sonho, que um dia fora real. Agora sua realidade era outra. Nunca mais alguém lutaria por ela, ou pelo menos a pessoa que ela amava não estava mais disposta a lutar. Todos seus sonhos e projetos agora ficariam trancados em suas lembranças para sempre. Porque ela havia perdido a única coisa que lhe importava: Scorpius Malfoy.



***



“- Scorpius... Eu...”

A voz sussurrada de Rose parecia distante. Mas Scorpius podia escutá-la e vê-la perfeitamente. Era uma menina ainda, isso ele tinha certeza. Seus olhos transmitiam toda inocência e pureza que ele sempre vira. Estaria sonhando? Provavelmente sim.

“- Eu acredito em você! Acredito em cada palavra que disse (...) Tudo tinha perdido o sentido pra mim sabe? Era como se o meu maior medo tivesse se tornado real...”

Sim, ele estava sonhando. A Rose que falava com ele tinha apenas 14 anos e ao contrário de tudo que estava acontecendo, ela dizia acreditar nele. A voz da ruiva era sincera e cautelosa. Aquele sonho deixava Scorpius angustiado. Ele queria acordar e parar de ouvir aquela voz, porque aquilo lhe torturava. Todos os dias ele lutava contra a vontade de correr e gritar pra toda escola o quanto a amava e o quanto a queria pra sempre. Ouvir a voz dela lhe causava dor, porque mesmo não querendo, ele sofria vendo sua expressão triste. Queria acreditar nela, esquecer, mas não podia. A dúvida sempre lhe invadia. Ele precisava acordar.

“- E qual o seu maior medo?

- Meu maior medo? É de um dia acordar e perceber que nada do que passamos juntos tinha sido real (...) Eu não quero perder você de novo, e não quero sentir esse vazio assustador dentro do peito novamente. Eu te amo!”

- ROSE! – Scorpius se sentou na cama rapidamente. Seu rosto estava coberto de uma camada fria de suor e seus olhos ardiam. Uma dor terrível rasgava seu peito, queria arrancar seu próprio coração, mas sabia que de nada adiantaria. Rose já estava dentro de todo seu sistema. Todo seu corpo parecia intoxicado pela lembrança e pela presença dela. A única forma de se livrar daquilo tudo seria morrer. Mas diante de tudo, Scorpius tinha a impressão que nem isso resolveria seu problema. Nem morto, ele deixaria de amar Rose Weasley.



***




A manhã fria tinha um ar agourento. Dias já haviam se passado desde a festa, e a maioria dos acontecimentos haviam sido deixados para trás. Ninguém comentava mais sobre coisas fúteis. Na verdade, pareciam mais preocupados em comentar sobre o que seria a última semana de aulas.

Geralmente os alunos ficavam felizes por voltarem as suas casas, e mesmo aqueles que passariam as festas de fim de ano na escola, ficavam felizes por não ter que comparecer as aulas e poderem simplesmente aproveitarem o tempo livre. Mas, por algum motivo, todos pareciam silenciar suas emoções e apenas murmúrios eram ouvidos no lugar de conversas animadas.

Talvez – alguns alunos pensavam – a maior vantagem daquela ser a última semana de aula era o fato dos professores não se preocuparem tanto em passar vários trabalhos e deveres para casa. Então, devido isso, era comum ver os alunos andando pelos terrenos da escola, quando na verdade deveriam estar trancados na biblioteca estudando e escrevendo em seus pergaminhos.

No pátio da escola, um grupo de alunos estava sentado em círculo, conversando sobre coisas bobas como férias, treinos de quadribol, tarefas inacabadas. Michael, Chad, Jude, Scorpius, Sophie, Vincent e Alvo (que fora praticamente obrigado por Sophie e Vincent a sentar-se com eles), eram um dos poucos que estavam dando graças a Merlin por aquela etapa ter chegado ao fim. Finalmente poderiam voltar para casa, colocar suas idéias no lugar e voltar um pouco mais animados, e talvez com respostas para seus problemas.

- E aí, onde vão passar o natal? – Michael perguntou distraído, enquanto passava o dedo pela neve, desenhando coisas sem sentido e depois apagando com a palma da mão.

- Eu estarei em um casamento. Bancando o padrinho e sorrindo para todos aqueles convidados que nunca vi na vida. – Alvo revirou os olhos – O que eu não faço pra agradar minha prima viu!

- Merlin, já estava me esquecendo! – Sophie exclamou – A Vic se casa no próximo dia 24.

- Sim, e nós quatro – Alvo apontou para Sophie, Vincent, Scorpius e depois para ele – Somos os padrinhos do evento.

- E deveria se dar por satisfeito. Lily, Molly, Lucy, Alice e eu somos as daminhas! – Dominique que estava se aproximando do grupo, ouviu a conversa e falou tudo com uma voz mal humorada – Vincent, Sophie e Scorpius, esses convites são seus. – ela entrou no meio do círculo e distribuiu os envelopes pro trio de amigos – Certo Michael, eu vi um com seu nome por aqui em algum lugar, mas não estou achando... – Dominique procurou entre os envelopes e então sacudiu sua grande cabeleira loira, em sinal de irritação. Michael riu.

- Não se preocupa, depois você me entrega! – ele disse descontraído e deu uma piscada pra ela – E além do mais, se o meu tá aí, com certeza meus pais receberam também... Enfim, não precisa esquentar com isso!

Dominique estreitou os olhos e encarou o moreno com uma expressão furiosa. Ela estava ali, bancando a coruja para sua irmã que se recusara a enviar os convites diretamente aos donos, e ele vem lhe dizer para ela não esquentar? Michael parecia ter perdido a noção do perigo.

- Eu estou aqui bancando a coruja da família e você me diz para não esquentar? Carter, se eu não entregar todos esses convites, minha irmã chata e noiva, arranca a minha cabeça fora, então não me diga pra não me preocupar ok?! – ela disse tudo entre os dentes – Pra ser sincera, não me diga nada! Aliás, todos vocês, fiquem quietos já antes que eu enlouqueça!

- Mas nós estávamos quietos!

- Errado Vincent. Vocês estão respirando, e suas respirações gritam para minha mente loira e perturbada com tanta coisa! – Dominique se virou para sair – E você, Carter – ela parou e se virou para o moreno – receberá seu convite, nem que eu tenha que fabricar um novinho pra você!

Todos naquela roda de amigos – ou quase amigos – se seguraram para não cair na risada. Pelo visto, não era apenas a noiva que sofria com todos os detalhes e preparativos.



***




Sentadas próxima ao Lago Negro, distante de todos aqueles que consideravam gentinha, Maris e Paola conversavam a respeito de suas férias de natal e outras futilidades que apenas garotas mimadas e cheias de si, como elas, poderiam achar importante em suas vidas vazias.

- Depois de tanto tempo, não acredito que voltarei à França! – Paola disse com um sorriso, jogando seus cabelos pra trás e arrumando a faixa em seu cabelo – Não pensei que diria isso tão cedo, mas sinto falta do meu país!

- Preciso dar um jeito de ficar com Scorpius ainda essa semana! – Maris exclamou. Aparentemente não havia prestado atenção em uma vírgula do que a amiga dissera – Preciso que ele saiba que não o quero só pra ficar em festinhas.

Paola encarou a amiga boquiaberta. Ela estava ali, discursando sobre seu sentimento de patriotismo e a grande saudade que tinha da França, e a ingrata e insensível da Maris falava de Scorpius. Definitivamente, as duas pareciam ter preocupações completamente diferentes.

- Você por acaso ouviu o que eu disse?

- Se foi um blá blá blá sobre a França, ouvi sim. Mas tenho outras preocupações no momento para dar atenção a você.

- Ah claro! O Scorpius é uma grande preocupação, me perdoe! Chegue nele de uma vez e diga Voulez-vous coucher avec moi ce soir? – Paola debochou.

- Até falaria, mas preciso aparentar ingenuidade. Convidá-lo pra dormir comigo não ajudaria no teatro.

- Você é quem sabe! – Paola deu de ombros.

- Você deveria estar preocupada também, não acha? Vincent continua com aquela loira azeda, e você não move uma palha pra separá-los. Que foi? Desistiu do seu joguinho?

Nessa hora Paola gargalhou, jogando a cabeça pra trás, demonstrando toda sua diversão. Logo ela se recompôs e encarou a amiga com as sobrancelhas erguidas e uma expressão maliciosa. De dentro da capa, retirou um pequeno vidrinho e colocou nas mãos da amiga.

- Você sabe o que é isso? – ela perguntou.

Maris rapidamente abriu o frasquinho da poção e sentiu seu aroma. Ela sorriu.

- Como pretende usar isso?

- Simples minha cara amiga. Hoje, os jogadores da Sonserina se reunirão para um último treino antes das férias. Depois de cada treino os meninos descem e bebem seus adorados e refrescantes sucos de abóbora. – Paola contava tudo como se estivesse falando que decidiu pintar o cabelo – Por acaso o suco do Vincent estará... Como posso dizer... Ah sim, acidentalmente batizado com essa poção do Amor, e então...

- E então é só esperar ele beber, para ir correndo aos seus braços, declarando o grande amor que sente por você! – Maris concluiu – Você é um gênio!

- Eu sei tá?!

Paola sorriu para amiga e guardou o frasquinho de poção dentro da capa novamente. Agora era só esperar a hora do treino para agir.



***




A hora do almoço chegara com tanta rapidez que alguns alunos estranharam. Se bem que, com a proximidade das férias o tempo parecia passar com mais facilidade. Até as aulas se tornaram menos “chatas” na opinião de alguns.

Rose tinha voltado há algum tempo para seu quarto. Estava pensativa. O sonho daquela noite mexera com ela, afinal. Ela até tentou se distrair, organizando alguns relatórios e revisando alguns trabalhos. Mas tudo isso não prendeu sua atenção por mais de uma hora. Como sempre os relatórios para Diretora estavam em dia, e suas tarefas muito bem feitas. Enfim, não havia mais nada a fazer a não ser sair do quarto e ir até o Salão Principal almoçar.

Com um suspiro profundo, Rose vestiu sua capa, colocou o cachecol e a luva, pegou seu livro e finalmente saiu do quarto.

Arrependeu-se imediatamente de tal decisão, quando seus olhos encontraram uma cena que a deixou paralisada.

Scorpius saía de seu quarto “empurrando” Maris para fora. Apesar de sorrir e tentar parecer simpático, o loiro queria se livrar da presença da menina que aparecera do nada e começara a declarar seu grande amor por ele, e o quanto estava envolvida desde o dia da festa. É claro que sua consciência pesou um pouco com isso, afinal não fazia idéia de que todo amor que Maris dizia sentir era uma farsa, e que no fundo nem ligava para ele.

- Vamos almoçar juntos? – Maris perguntou com uma voz melosa, envolvendo seus braços pelo pescoço de Scorpius, e sorrindo. A morena tinha reparado que há poucos metros de distância, Rose observava e ouvia tudo.

- Maris, eu sempre almoço com meus amigos! – Scorpius dizia pacientemente.

- Ahhhh... – ela fez um beicinho e o encarou com sua melhor expressão de pidona – Por favor?! Só hoje, por mim!

- Maris...

- Por favor, por favor... – Maris se colocou na ponta dos pés e beijou Scorpius – Vai almoçar comigo?

Scorpius suspirou cansado, e por fim acabou cedendo.

- Tá bem. Eu vou almoçar com você!

- Ahh obrigada! – Maris encheu o rosto de Scorpius de beijos – Eu te amo, sabia?! – ela disse e o encarou com uma expressão que exigia uma resposta em troca de sua declaração.

- Er... Eu...

- Você me ama também? – a expressão de Maris daria pena a qualquer um que não a conhecesse e se deparasse com a cena. Entretanto valia a pena todo esse esforço, se Rose estivesse ali – como de fato estava – para escutar.

- Amo Maris, eu amo, ta bom?! Agora... – a frase de Scorpius foi interrompida por um baque surdo de algo caindo no chão.

Rose, que até então estava parada em frente à porta de seu quarto, deixou seu livro cair, ao ouvir Scorpius dizer com todas as letras que amava Maris.

Maris aproveitou que Scorpius não estava prestando a mínima atenção nela naquele momento, e sorriu maliciosamente para Rose. Era uma espécie de recado, informando a ruiva que agora havia perdido seu amado loiro pra sempre.

- Eu vou para o Salão Principal. – ela anunciou de repente – Espero você lá! – e antes mesmo que Scorpius pudesse reagir, Maris o beijou novamente e saiu dali, com uma grande sensação de vitória.

Rose permanecia parada, completamente imóvel. Estava em estado de choque, com certeza. Seus olhos ainda estavam vidrados no mesmo local em que Scorpius estava quando admitiu amar outra. Não parecia notar que ele já saíra dali e agora se aproximava dela, em passos cautelosos.

- Weasley? – a voz de Scorpius parecia tão distante. Rose sabia que alguém a chamava, sabia que precisava se virar, mas não conseguia – Rose, por favor, você ta bem? – Scorpius parecia preocupado. Agora estava parado em frente a menina, que ainda não reagia. – Rose, você está me ouvido? – ele ergueu as mãos para tocá-la, e isso pareceu despertá-la.

- Não me toque! – ela disse. Sua voz era vazia e baixa. – Não ouse me encostar.

- O que? – Scorpius parecia confuso.

Rose finalmente virou o rosto para encará-lo. Seus olhos eram vazios, apagados. Não havia nada ali. Nenhum brilho, nenhum sentimento... Nada.

- Eu não quero que me toque. Eu não quero sua preocupação... Aliás, eu não quero mais nada que venha de você. – Rose disse com a mesma voz vazia de antes.

- Ah claro. Me esqueci que vive só pro Krum agora. Perdoe-me por tentar ajudar. – Scorpius deu uma risada seca.

- Você não tentou me ajudar, você apenas terminou de me matar.

- Como é?

- Isso é verdade? – Rose ignorou a última pergunta que havia sido feita.

- O que?

- Você... Você a ama? – dizer essas palavras lhe causou uma dor absurda, mas ainda sim a ruiva precisava saber.

Scorpius inclinou a cabeça de lado por um momento, analisando bem a expressão da ruiva. Ela parecia não estar tão afetada com a situação e isso o incomodou.

- Sim, por quê? – mentiu – Isso machuca você? – Scorpius perguntou, mas logo se arrependeu, pois ao olhar profundamente nos olhos de Rose, encontrou lá o motivo de tanta decepção.

Scorpius não só sentiu, como viu nos olhos de Rose a noite que passaram juntos na fazenda. A noite em que ele prometeu amá-la pro resto da vida. Era como se o corredor de Hogwarts tivesse desaparecido e os dois tivessem sido transportados ao passado ao mesmo tempo. Mas aquilo não acontecera. Scorpius tinha consciência de que não se movera 1 cm do local que estava antes, mas então, que diabo explicaria o fato dele se ver prometendo algo?

“-Você, sempre vai ser a dona do meu coração. Pra entrar aqui, só existe uma chave! Apenas uma! Não há cópias e não há como ser forjada. Antes tal chave pertencia a mim!... Agora é sua, apenas sua! E se algum dia, você não a quiser mais, eu a jogarei fora. Porque nenhuma outra garota poderá entrar aqui e ocupar o lugar que um dia foi seu!”

Pouco a pouco o corredor foi tomando forma e novamente eles estavam ali. Na verdade nunca saíram. Não podiam se transportar através de lembranças, sem o auxílio de uma penseira. Toda aquela situação tinha uma explicação. Ou ao menos eles acreditavam que sim.

- O que foi...? – Scorpius tentou entender o que havia acontecido. Como ele e Rose haviam mergulhado juntos na mesma lembrança, se nem estavam em uma penseira ou coisa parecida?

- Eu não sei! – Rose respondeu tão confusa quanto ele, entretanto sem demonstrar tanta emoção – Mas quanto a sua primeira pergunta, a resposta é não. Por que deveria importar? Não sobrou mais nada entre nós a não ser um abismo. E além do mais se você a ama e acha que pode ser feliz com a Craig, eu... – a frase se perdeu, porque quando Rose ia concluir seu pensamento, Scorpius a puxou sem nenhuma delicadeza e a beijou.

O que estava acontecendo ali? O que fazia com que Rose Weasley simplesmente aceitasse o fato de que ele, Scorpius Malfoy, amasse outra? Ele não amava Maris, ela deveria saber disso, certo?... Não, não estava certo. Afinal, Scorpius sabia bem que estava sendo tão idiota, tão rude, que suas atitudes apenas confirmavam que já não sentia nada. Mas ele sentia. E sentia por ela. Sentia um grande amor – e também ódio – pela ruiva que prendia em seus braços, naquele momento, num beijo furioso.

E aqueles olhos vazios? Como aquilo lhe perturbava. Rose não deveria ter olhos vazios, ela deveria ter alguma coisa ali, indicando que estava reagindo. Que diabo ele havia feito? E por que ainda se importava? Ele queria machucá-la e fazê-la sentir exatamente o que sentiu, não era? Ele não deveria sair dali vitorioso? Não deveria simplesmente dar as costas e ir embora? Sim, Scorpius faria isso, se todo ódio que dizia sentir por ela fosse real, e se a vontade de machucá-la fosse maior que a de curar todas as feridas.

Scorpius tinha consciência de que estava em um corredor, beijando Rose de uma maneira até “indecente” e que precisava dar um jeito em toda aquela situação. Da mesma forma como iniciou aquele beijo, ele encerrou. Mas não para ir embora, pelo contrário. Depois de sua reação, ele precisava dar uma explicação, e seria homem suficiente para dizer tudo que estava entalado na sua garganta. Sem pensar, abriu a porta do quarto de Rose, e a puxou para dentro junto com ele. Fechou, ou melhor, trancou a porta do quarto da jovem assim que ela passou, e a encostou ali, ficando de frente pra ela e a encarando com uma expressão determinada.

- Você... - Rose mal começou a falar e foi interrompida por Scorpius, que segurou seu rosto entre as mãos e a encarou sério.

- Você vai ouvir tudo, e não vai me interromper, está certo? – essa não era uma pergunta que deixava opções para Rose, então a ruiva apenas balançou a cabeça, concordando. – Eu vou começar, e se tentar me interromper, sairei por essa porta que está atrás de você e não vou te explicar mais nada. – ele tornou a avisar. Conhecendo bem Rose, sabia que ela se intrometeria e falaria algo durante toda sua explicação, e isso poderia fazê-lo perder a coragem.

Scorpius soltou o rosto de Rose e baixou suas mãos, colocando uma de cada lado da ruiva, prendendo-a contra a porta. Sabia que ela não tentaria sair, e seria mais fácil daquele jeito forçá-la a encará-lo.

- Pra começo de história eu não amo a Maris. Pra ser sincero não sinto nada, nenhuma atração que justifique o que eu disse há alguns minutos. O “eu te amo” que você ouviu teve o mesmo valor de um “bom dia” que dou as pessoas que passam por mim na rua, ou seja, totalmente insignificante. – ele disse pausadamente. Julgava ser mais fácil para Rose absorver tudo daquele jeito – Eu não consigo dizer “eu te amo” para ninguém, não de verdade. Não consigo fazer essas três palavrinhas idiotas terem algum significado, e sabe por quê? Porque elas só fazem sentido quando as digo pra você.

Rose sentiu seu coração parar e voltar a bater de novo, depois do que Scorpius disse. Seus olhos estavam arregalados, cheios de perguntas, mas sabia que não deveria falar. Respirou fundo, e continuou apenas encarando Scorpius, esperando que ele continuasse com sua explicação.

- Você não está “ouvindo” demais, e acho que pode ver em meus olhos que não estou mentindo ou brincando. – Scorpius mantinha o tom sério – Eu realmente amo você, eu queria simplesmente dizer que não, me virar e sair, te deixando pra trás sem nenhuma explicação, mas não consigo. Eu penso que posso simplesmente te esquecer e fazer você sofrer por toda raiva que eu sinto, mas eu não posso. Toda vez que não enxergo nada em seus olhos, é como se o ar não atingisse meus pulmões e meu coração fosse golpeado. Eu sou tomado por um desejo estúpido e incontrolável de te fazer viver de novo, de te trazer de volta, porque por mais raiva que eu sinta, eu não posso deixar que você se acabe, que você se perca. Eu não posso perder você, consegue entender a minha contradição?

Scorpius respirou fundo e encostou sua cabeça na porta, um ponto acima de onde a cabeça de Rose se encontrava.

- Ao mesmo tempo em que eu te amo, sinto raiva de você por tudo que aconteceu. É uma contradição gigantesca. O ódio e o amor parecem guerrear e isso me enlouquece. A Rose que eu conheço jamais teria feito as coisas que eu vi, tenho certeza. E toda vez que eu olho pro seu rosto vejo essa Rose, a minha Rose. Mas daí as dúvidas começam a aparecer, todas as cenas começam a vir como um flash e... E eu seria um canalha se ficasse com você, imaginando se está ou não sendo fiel a mim. Isso não seria justo com você.

Sem dizer mais nada, Scorpius se afastou da ruiva e olhou-a uma ultima vez. Rose não se moveu, ainda estava de cabeça baixa, mas não chorava. Ele tocou um dos braços da ruiva e a empurrou de leve para o lado, para que ela se afastasse da porta. Scorpius abriu a porta e saiu, deixando uma Rose pensativa para trás.



***




A aula de Trato das Criaturas Mágicas, que se seguiu depois do almoço para o 4º ano, parecia interminável para Dominique. Ela, assim como todos os Weasley/Potter, adorava Hagrid e se divertia bastante em suas aulas, mas naquele dia sua atenção estava presa a outras coisas. Agora que já havia entregado todos os convites que a irmã lhe pedira – todos, exceto o de Michael – a loira precisava lhe mandar uma coruja, informando que tudo estava sob controle, antes que Victoire se desesperasse e lhe mandasse um berrador.

Quando Hagrid finalmente dispensou os alunos, Dominique praticamente correu de volta ao castelo. Teria mais um tempo vago, e aproveitaria para escrever a sua irmã. Não queria ser responsável por um ataque de uma noiva.

Sua caminhada em passos rápidos pelos corredores fora interrompida por um garotinho de 11 anos da Sonserina.

- Você é a Weasley, acertei? – o garoto perguntou.

- Bom... Sim, mas especificamente qual Weasley? Caso ainda não saiba, esse sobrenome é bastante comum na Grifinória! – ela brincou.

- Ahn... Domi... Domini...

- Dominique? – ela riu – Sim, sou eu! O que quer?

- Me pediram pra te entregar isso quando a encontrasse. – o garoto entregou o bilhete para Dominique – E quem me entregou disse que era urgente e que você não deveria ignorar, porque se não... Bom, ele não completou a frase, mas isso me soou como uma ameaça! – o pequeno menino apenas deu de ombros e saiu correndo, antes mesmo que Dominique tivesse a chance de perguntar quem era o dono do bilhete (embora ela já tivesse suas suspeitas).

Dominique encarou o envelope em suas mãos por alguns instantes, até que por fim o abriu. O bilhete que havia dentro não era grande. O recado era direto e um tanto autoritário.

Me encontre na torre de Astronomia na hora do jantar.

M. Carter.


Os olhos da loira se estreitaram. Afinal, quem aquele Sonserino metido a besta pensava que era para lhe dar ordens? Ela não iria permitir que ele pensasse que poderia mandar em um único fio loiro de sua cabeça. Iria até a Torre, diria umas verdades a ele, e depois voltaria para o salão principal com sua alma lavada por ter colocado Michael Carter em seu devido lugar.



***




O último treino da Sonserina foi tranqüilo. Scorpius estava muito distraído para exigir demais dos jogadores, tanto que encerrou o treino antes do previsto. O loiro fez um breve discurso agradecendo a cooperação e união do time naquela temporada, e encerrou desejando a todos boas festas de fim de ano e ótimas férias.

Depois da palavra do capitão, como sempre, todos foram para o vestiário para retirar os uniformes, guardar o equipamento, beberem alguma coisa para recuperar as forças e então voltarem ao castelo.

Vincent foi um dos primeiros a se trocar. Embora o treino não tivesse sido tão puxado, o moreno estava cansado. Não dormira muito bem durante a noite, e uma chata dor de cabeça o incomodava. Vincent pegou sua garrafa de suco de abóbora, sentou-se em um dos bancos do vestiário, suspirou e tomou metade do conteúdo em uma única golada.

Sem entender o motivo, sem conseguir nem pensar muito bem, Vincent se pôs de pé num salto e saiu do vestiário sem esperar ninguém. Scorpius ainda tentou chamá-lo, mas o moreno já estava fora do local, e caminhava decidido pelo campo de quadribol. Precisava muito achar uma pessoa e não podia esperar. Não quando um desejo absurdo de falar o que estava guardado dentro de si se apossaram dele com tamanha violência.

Vincent caminhou até o castelo em passos longos e rápidos. Afinal, onde se metera Paola? Ele precisava encontrá-la logo. Sentia que poderia enlouquecer se não a visse naquele instante. Para sua sorte, encontrara Maris vindo em sua direção, completamente distraída.

Vincent se atirou no caminho dela, obrigando-a parar e encará-lo.

- Onde está sua amiga? – ele perguntou, sem conter o desespero e a ansiedade na voz. – Onde está a Paola? – a voz de Vincent soou um tanto melosa (até para ele) quando disse o nome da menina.

- Ela disse que iria a biblioteca, e... – antes mesmo de terminar sua frase, Vincent já havia dado as costas e virado na direção oposta, rumo à biblioteca.



***




A biblioteca não estava lotada como ocorrera na semana de testes. Só alguns alunos com trabalhos atrasados se encontravam no local. Nem Rose, que era fã nº 1 do ambiente estava lá.

Sophie se encontrava sentada em uma das mesas próxima a porta. Estava terminando seu trabalho de poções. Não que fosse difícil, mas ela queria logo se livrar daquela tarefa, para não ter o que se preocupar mais tarde. Sem deveres, ela poderia aproveitar o resto do tempo livre com seu amor.

A loira já estava fechando os livros que utilizara, quando viu a figura de Vincent aparecer à porta da biblioteca. Sorriu. Com certeza deveria tê-la procurado no salão comunal, e alguém lhe dissera que ela estava ali.

Sophie acenou para o namorado, para que ele visse onde estava sentada, mas não adiantou. Vincent nem notara sua presença. Como um jato, passou a poucos metros de onde ela estava, completamente decidido.

Intrigada por não ter sido notada e pela expressão estranha estampada em seu rosto, a loira o seguiu.

Vincent caminhava em direção aos fundos da biblioteca. Não enxergava mais nada e ninguém que estivesse a sua volta. Seu único objetivo era encontrar Paola.

Não foi difícil para ele avistar seu alvo. A jovem estava sentada sozinha, em uma das mesas, e escrevia distraída em seu pergaminho. Aparentemente estava absorta em seu trabalho de Herbologia.

- Paola! – Vincent a chamou pelo primeiro nome, enquanto se aproximava da mesa da menina.

Paola ergueu a cabeça e fingiu surpresa ao vê-lo ali. Precisava aparentar completa inocência se não quisesse que Sophie desconfiasse que seu namorado fora enfeitiçado.

- Seja lá o que tenha acontecido, não fui eu! – ela disse na defensiva.

Vincent sorriu, balançou a cabeça e parou em frente à mesa em que a jovem estava. Sophie parou um pouco atrás, escondida atrás da estante de livros. Precisava entender o que estava acontecendo.

- Preciso te falar uma coisa!

- Olha, eu não...

- Eu estou apaixonado por você! – Vincent disse rapidamente, antes que a menina o interrompesse.

- O... O que? – ela perguntou, fingindo confusão – Não, espera você tem noiva!

- Sim, eu tenho! Mas ela não significa nada pra mim. Eu não consigo mais fingir, preciso te dizer isso, preciso que saiba que eu me apaixonei por você e... – ele fez uma pausa, e então num movimento rápido, puxou Paola pela mão, colocando-a de pé, e a beijou.

Sophie nunca fora uma garota de se emocionar facilmente ou de chorar por pouca coisa. Talvez isso fosse uma característica Sonserina, ou fosse seu gênio forte que a impedisse de demonstrar seus sentimentos tão abertamente.

Entretanto, toda sua força se esvaiu quando viu Vincent e Paola juntos. Antes que pudesse perceber, as lágrimas já escorriam por seu rosto. Antes que pudesse se conter e bloquear todas emoções de sua mente, seu corpo já havia sido tomado por uma dor absurda. Vincent se declarara com tanta naturalidade para outra menina, e considerando que ele também não tinha tanta facilidade em fazer esses tipos de declarações sem zombar de algo ou alguém, a forma séria com que falou indicava que aquilo não era uma brincadeira.

Quando Vincent e Paola se separaram daquele beijo tão apaixonado, a morena respirou fundo. Precisa continuar com seu teatrinho de boa moça, pois tinha certeza que Sophie ainda estava ali escutando tudo.

- Vincent, espere. Eu realmente não entendo. Você ama sua noiva, então o que...

- Eu não amo minha noiva! Eu estou apaixonado por você! Não tente entender essas coisas, nem eu mesmo consigo entender, e considerando que não sou loiro e meus neurônios estão em plena capacidade de utilização, eu deveria ter uma explicação óbvia para tal coisa, mas não tenho. Eu só... Só sinto que... Só sinto que tenho que ficar com você! E não há mais ninguém nesse mundo que vá impedir nosso amor! Ah não ser que você não goste de mim. – ele fez uma pausa e então perguntou – Você gosta de mim?

- Talvez... Quero dizer, sim, eu gosto! Mas isso... Isso é muita novidade pra mim. Preciso de um tempo pra associar todas essas informações que você jogou em cima da minha cabeça. E além do mais, tem outra pessoa envolvida nisso. Não posso simplesmente aceitar tudo isso sem analisar com calma.

- Paola, Pah, Pahzinha minha, rima brega, mas de coração. Pare de tentar entender. Nascemos pra ficar juntos. Você, eu e suas lindas faixinhas de cabelo viveremos felizes para sempre! – e dizendo isso, Vincent a puxou para outro beijo.

Aquilo foi o suficiente para que Sophie largasse tudo para trás e corresse. Ela não aguentava mais aquilo. Não queria mais ver tal cena. Já era humilhante saber que depois de tanto tempo, seu noivo, ou melhor, ex-noivo se apaixonara por outra e não teve coragem de lhe dizer isso pessoalmente. Não agüentaria ficar olhando aquilo nem mais um minuto.

Os pés de Sophie a guiavam pelos corredores. Ela mesma não tinha noção de onde estava indo. Queria apenas correr. Correr e fugir dali, indo para um lugar bem longe de todos. Bem longe de Vincent.

Sophie só parou de correr, quando trombou com alguém no corredor, e essa pessoa a segurou nos braços, em um abraço apertado.

- Sophie, o que houve? – Scorpius perguntou preocupado. Nunca vira a amiga naquele estado.

- Vincent... Eu... Acabou... – foi a única coisa que ela conseguiu dizer antes de sua visão ficar nublada e ela ser tragada pela escuridão.



***




Algumas horas depois...

Michael estava parado em frente à grande janela, observando o nada. Tinha certeza que Dominique viria. A sua pequena Weasley não perderia a oportunidade de aparecer e brigar com ele, dizendo que não deveria lhe dar ordens, e todo aquele blá blá bla que ele previu ao escrever o bilhete. Era só uma questão de tempo para que ela entrasse e começasse a discursar.

- Carter, seja lá o que você tenha para falar comigo, quero que me explique primeiro o que estava pensando quando escreveu essa droga de bilhete! – como Michael havia previsto, Dominique entrara no local soltando os hipogrifos em cima dele – Quem você pensa que é para me dar ordens? Meu pai? Escute aqui, você não tem o direito de exigir minha presença em lugar nenhum, e... Hei, o que está fazendo? – Dominique parou seu discurso, quando o moreno caminhou até ela e a puxou de encontro ao seu corpo – Michael Carter, me solta agora, se não...

- Se não o que? – ele perguntou divertido e então a beijou.

Mais uma vez Dominique sentiu seu corpo estremecer e seu coração bater fora de ritmo. Michael tinha um efeito estranho sobre ela, e por vezes se perguntava se causava a mesma sensação nele. Sentia-se tão idiota ao perceber que suas pernas tremiam enquanto estava com ele, e totalmente ridícula ao se dar conta que por mais que negasse ela gostava de como ele a fazia flutuar, caminhar nas nuvens, e imaginar futuros impossíveis para os dois.

- O que você quer? – Dominique perguntou assim que recuperou o fôlego – Não dá só pra falar comigo sem me agarrar? Que coisa! – ela tentava se recompor, embora fosse bastante difícil falar e pensar corretamente com Michael tão próximo.

- Você tem certeza de que ainda não sabe o que eu quero? – Michael perguntou sério.

- Não costumo ler mentes, Carter. Você deveria saber!

Dominique se afastou de Michael e caminhou para o lado oposto ao que o rapaz estava.

- Tá bem, então serei bem direto: eu quero você! – Michael encarou Dominique profundamente.

- Você quer todas! Sou apenas um capricho pra sua coleção de meninas. Não vou cair no seu joguinho.

- Você tem razão! É só um jogo não é? – Michael andava em passos bem lentos, em direção a Dominique – Uma brincadeira estúpida que me faz querer você. É somente por esse jogo que fico louco pensando no que está fazendo, e me distraio quando você passa. É esse maldito jogo que faz meu estômago revirar quando vejo algum cara da escola se aproximar de você. É somente por esse jogo sem regras que não consigo te deixar partir.

- Você andou bebendo? – Dominique deixou sua cabeça cair para o lado – Eu não estou entendendo.

Michael parou a poucos passos da menina e sorriu sem nenhum humor.

- Ok, deixe-me ser mais claro. Eu não valho nada, está bem? Eu detesto sentimentalismo, odeio pessoas idiotas e sou sarcástico em quase todas as situações. Não me importo com o que a maioria das pessoas sente. No geral não escuto nada que me falam, e quando resolvo dar ouvidos já é tarde demais. Eu gosto de brincar com as pessoas, gosto de testá-las, gosto de me divertir a custa dos fracassados. Sou exatamente como o símbolo da minha casa. Sou uma serpente. Sou venenoso, sou frio e muitas vezes mentiroso. – ele fez uma em seu discurso e caminhou até que estivesse frente a frente com Dominique de novo – Eu sou o que você chamaria de “monstro”.

Dominique engoliu em seco. Não esperava aquele discurso. Não esperava que Michael se retratasse daquela forma, e definitivamente não conseguia captar a mensagem por trás daquilo tudo.

- Isso era pra ser um retrato falado? – Dominique tentou manter-se firme. – Por que se for, preciso dizer que apesar de tudo eu nunca o chamaria de “Monstro”.

- Eu sei. Mas falei isso pra você captar a mensagem de uma maneira melhor. Mas acho que você ainda não entendeu...

- Eu também acho que não! – ela disse sincera.

- Ok, me compare então ao vilão de uma história. As pessoas nunca acreditam que eles possam ter um lado humano. Um lado desconhecido, que nem o próprio vilão sabe que tem. Ninguém acredita que o vilão, no final das contas, tenha um lado bom. – Michael ergueu a mão e tocou o rosto de Dominique – Você é meu lado bom, Pequena Weasley! Por algum motivo absurdo, você se tornou meu lado humano. E desde então tenho tentado melhorar, sem nenhum sucesso é claro, mas tento. Você é o que podemos chamar de “anjo da guarda” ou “alma” do vilão.

Dominique não soube o que dizer. Na verdade, ela havia perdido a fala. Sabia que precisava dizer alguma coisa, que precisava falar que tudo aquilo era loucura e que ele estava confundindo as coisas. Mas ela não conseguiu. A única certeza que tinha, era que precisava reagir de alguma forma.

Então, sem aviso prévio, ela se atirou nos braços de Michael e o beijou. Afinal, se ela era a alma que o fazia ser mais humano, nada mais justo que ficasse próxima a ele naquele momento.

- Você consegue entender que as coisas fugiram do meu controle? – Michael perguntou. Estava com sua testa colada na de Dominique e acariciava seu rosto com a ponta dos dedos – Não estou mais brincando com você, Pequena Weasley. Pra ser bem sincero, acho que agora você é quem brinca comigo.

Dominique riu e se afastou um pouco de Michael. Precisava pensar em algo para responder e só conseguiria fazer isso se não estivesse tão tentada a beijá-lo novamente.

- Eu não estou brincando com você, eu... – ela parou e então suspirou. Tudo aquilo era tão errado. Michael era o exemplo perfeito do namorado que não poderia ter. Seu pai sempre fora bem claro quanto a relacionamentos, e ela tinha certeza de que Gui jamais aprovaria essa situação absurda. Ainda mais se seus primos resolvessem contar sobre a fama que Michael tinha na escola. – Olha Carter, isso não está certo ok?! Você deve estar confundindo tudo e...

- Eu? Confundindo alguma coisa? Weasley se tem uma coisa da qual tenho absoluta certeza é que preciso de você. Não venha me julgar e dizer coisas das quais não sabe!

- Não estou dizendo o que não sei! Carter, me entenda. Se você e eu ficarmos juntos, estaremos...

- Estaremos...?

- Estaremos numa enorme encrenca! – Dominique abaixou a cabeça. Sentia-se envergonhada por ter que fugir daquela situação como uma criança assustada – Você lembra a forma que Fred reagiu ao me defender de você. Sabe, as pessoas te julgam de uma forma bem errada.

- Não Weasley, eles me julgam da maneira que deve ser. Eu disse a você que sou o vilão da história, e seu primo ao defender você, estava certo. Ninguém quer que o “lobo mau” ataque as criançinhas indefesas. – Michael riu de forma sarcástica – Mas ninguém prevê que às vezes, o lobo mau se apaixona pela criançinha. Ou melhor, no seu caso nem tão indefesa assim. Você dá muito trabalho!

Os dois riram.

- Eu não posso simplesmente aparecer e dizer que... – ela engoliu seco e então prosseguiu – Que eu estou apaixonada por você. Vão querer arrancar sua cabeça. É verdade que eles arrancarão a minha depois, mas você vai ser o alvo principal da história.

- Você não precisa dizer nada... Pelo menos não agora! – Michael se aproximou novamente da menina e segurou seu rosto entre as mãos – Me dê apenas um tempo para provar aos seus primos e a toda escola que minha vida de jogos foi encerrada. Talvez leve algum tempo, mas vou dar um jeito nisso.

- E o que nós vamos fazer durante esse tempo?

- O que nós fizemos de melhor desde que tudo aquilo aconteceu na festa. Nós vamos fingir que nada aconteceu!

- Ah, você fala como se isso fosse bem fácil de se fazer! – agora foi a vez de Dominique rir de forma sarcástica – Uma coisa é fingir que não nos beijamos, outra totalmente diferente é ignorar o fato de que agora sou seu lado bom! É muita responsabilidade, sabia?

Michael riu e deu um beijo rápido na loira.

- Meu Merlin, já ficou convencida! – ele brincou – Pequena Weasley, eu prometo tentar reverter toda essa situação o mais rápido possível. Agora você só precisa confiar em mim, coisa que eu sei que é praticamente impossível, mas só preciso de um tempo.

- Está bem. Vou confiar em você... – disse Dominique, e então rapidamente acrescentou – Pelo menos dessa vez! Nossa, eu disse pra Molly que não iria demorar. Preciso voltar antes que ela venha atrás de mim.

Michael olhou para seu relógio e de fato, a hora estava avançada. Precisava deixar Dominique partir naquele instante, antes que criasse problemas para ela.

- Você vai, eu fico. Se aparecermos no mesmo instante, vão desconfiar. – ele alertou.

- Certo! – Dominique beijou rapidamente o rosto de Michael, e se virou para sair. Quando estava próxima a porta, lembrou-se que precisava entregar uma coisa ao rapaz, e voltou – Michael, esqueci de dizer que encontrei seu convite! Tome – ela retirou de dentro das vestes o convite de casamento da irmã e estendeu a mão para que Michael pegasse.

O moreno apenas olhou para o convite e sorriu.

- O envelope é bonito, mas fique com você!

- Não! Se eu não entregar,...

- Se você não entregar, terei motivos suficientes para te procurar sempre e perguntar pelo tal convite de casamento que você esqueceu! – ele piscou para a menina de forma marota – Agora vai, você está realmente atrasada!

- Certo! Até depois então.

E com um grande sorriso no rosto, Dominique deixou a Torre de Astronomia e correu de volta ao castelo, deixando para trás um rapaz sorridente e em paz com sua consciência.



***




Grande parte dos alunos já se encontrava no Salão Principal para o jantar, quando Rose apareceu à porta, pronta para fazer sua primeira refeição decente daquele dia. Depois da surpresa que a declaração de Scorpius lhe causou, perdera o apetite.

Rose caminhava em passos lentos em direção à mesa da Grifinória, quando sentiu alguém lhe puxar pela capa. Virou-se automaticamente, pronta para dar uma bronca, mas logo desistiu quando vira que a tal pessoa sem educação, era Scorpius.

- Esquece tudo que você pretendia fazer, e vem comigo! – Scorpius puxou a menina pela mão, arrastando-a novamente em direção a porta.

- Hei, dá pra esperar? – Rose tentava se soltar sem muito sucesso. – Eu preciso jantar!

Scorpius parou abruptamente e se virou. Seus olhos astutos percorreram por todo salão principal e ele viu que todas as cabeças estavam voltadas para aquela cena. Sentiu uma vontade enorme de gargalhar quando viu um dos alunos da Lufa-Lufa “congelar” com o garfo na mão e a boca aberta. Certamente os dois estavam chamando mais atenção do que imaginavam.

- Você pode fazer isso depois, agora, por favor, venha comigo! – Scorpius agora encarava Rose.

- Por que tem que ser agora? Sério Malfoy, eu não comi nada o dia inteiro. Tô faminta! – disse Rose. Rapidamente ela também olhou a sua volta, e não se surpreendeu ao ver que todos estavam encarando os dois – Acho que estamos chamando muita atenção.

Scorpius riu.

- Você acha? Por favor, tem gente que nem tá respirando! – Scorpius revirou os olhos, em seguida deu uma espiada na mesa da Corvinal. Viu Maris e Adam os encarando com expressões que misturavam raiva e confusão. Sorriu mais uma vez. – Rose eu realmente preciso que você venha, e tem que ser agora... E além do mais, se está com tanta fome, tenho comida suficiente para dois em meu quarto.

Rose suspirou exasperada. Scorpius não a deixaria jantar em paz e a arrastaria dali nem que tivesse que estuporá-la.

- Tá bom! – ela cedeu – Eu não tenho outra escolha mesmo.

Scorpius sorriu, segurou em sua mão e saiu com ela, deixando para trás várias pessoas curiosas e chocadas.



***



***




- Antes deu entrar aí, você pode me explicar o que está acontecendo? – Rose e Scorpius estavam parados em frente à porta do quarto do loiro. Agora que não estavam mais sob os olhares da multidão estudantil, a ruiva achava seguro perguntar o motivo pelo qual fora arrastada até ali.

- Eu até explicaria se soubesse o que exatamente aconteceu. Mas como não sei, melhor você ver com seus próprios olhos! – ele disse rapidamente.

- Confesso que estou perdida.

- Certo. – Scorpius girou a maçaneta e abriu a porta de seu quarto – Entra aí que você entende.

Rose olhou para o loiro e em seguida para a porta aberta. Respirando fundo, ela entrou no quarto. Parou em choque, quando viu que o assunto urgente tinha nome, sobrenome, era loira e tinha 17 anos. Sophie estava sentada na cama de Scorpius, com as pernas dobradas e a cabeça encostada nos joelhos, olhando fixamente para o nada, sem nenhuma expressão.

- O que...?

- Eu não sei. – Scorpius respondeu – Trombamos no corredor, ela disse só três palavras e desmaiou. Trouxe-a pra cá, consegui fazê-la acordar, e desde então Sophie ta desse jeito. Parada, olhando pro nada. Tentei falar com ela, mas a única coisa que ela diz é “acabou”.

- Não deveríamos chamar o Vincent? Talvez ele saiba...

- Não! – a voz de Sophie ecoou pelo aposento. Rapidamente Rose e Scorpius foram para perto dela.

A loira continuava encarando o nada. Não chorava. Não tinha nenhuma expressão que indicasse o que estava se passando naquele instante.

- Por que não podemos chamar o Vincent? – Scorpius perguntou cautelosamente.

Sophie virou o rosto para encará-lo.

- Ele está ocupado agora. – ela disse. Sua voz não expressava nada – Ele está com a Paola Gusmand.

- A amiga da Craig? – Rose perguntou, evitando ao máximo olhar para Scorpius quando citou o nome da jovem.

- Sim.

- Por que ele está com ela? – Scorpius não escondeu sua curiosidade.

Sophie deu de ombros e tornou a encostar a cabeça nos joelhos, abraçando suas próprias pernas com força.

- Ele gosta dela. Foi por isso que acabou. Ele disse que estava apaixonado, e que eu não importava mais. Disse que seria feliz para sempre ao lado dela, e que não me amava... – Sophie respirou fundo – Ele disse com todas as letras que a queria e depois a beijou. E ele não brincou quando disse que gostava dela, sabe? Vincent costuma zombar sempre, mas quando disse que estava apaixonado, tinha uma expressão séria e decidida. – ela sacudiu os ombros mais uma vez – É por isso que não podem chamá-lo. Ele não se importa.

Rose e Scorpius se encararam. A expressão dos dois era de choque e descrença. Mal podiam acreditar no que ouviam. Como Vincent se declarara para outra, quando sempre estava dizendo para quem quisesse ouvir, sobre o amor que sentia por Sophie? Havia alguma coisa errada ali, tinha que haver.

- Sophie, quem te contou tudo isso? – Rose perguntou.

- Ah não. Não me contaram. Eu mesma vi! – Sophie ergueu a cabeça mais uma vez e encarou os amigos – Ele não sabia que eu estava lá. Nem me viu quando acenei... Simplesmente caminhou até Paola, disse tudo isso e a beijou. – ela suspirou – Ele deve mesmo gostar dela.

Scorpius se colocou de pé. Seu amigo devia ter enlouquecido ou algo do tipo. Essa era a única explicação para tudo que Sophie lhes contava. Ele não podia simplesmente se declarar para outra, enquanto era noivo de sua amiga. O que estava acontecendo naquela escola? “Seria muito irônico dizer que a bruxa está solta”, ele pensou. Mas esse ditado se encaixava perfeitamente. Será que era algum tipo de maldição? Praga? Se não bastasse Rose e ele, seus melhores amigos também tinham que se separar? Não! Definitivamente ele precisava dar um jeito nisso.

- Aonde você vai? – Sophie perguntou.

- Procurar o Vincent, é claro! Ele precisa explicar o que está havendo, e...

- Não! – a voz de Sophie assumira uma autoridade enorme – Não quero que fale com ele.

Rose segurou as mãos da amiga e a encarou gentilmente.

- Sophie, tudo isso está muito estranho. Deixe que o Scorpius vá conversar com o Vincent e tente entender o que aconteceu.

- Não Rose! – ela disse, balançando a cabeça negativamente – Não quero que ninguém fale com ele antes de mim.

- E quando pretende falar com ele? – Scorpius perguntou – Porque é melhor fazer isso antes das férias.

- Eu vou falar! Mas não quero que seja hoje. Não quero vê-lo agora. Não consigo... – ela respirou fundo algumas vezes e olhou para Rose – Será que posso ficar no seu quarto essa noite? Não quero ficar sozinha e não quero cruzar com o Vincent.

- Claro que pode! Mas ainda acho que devia deixar que Scorpius...

- Não! Eu só preciso de hoje para pensar e colocar minha cabeça no lugar. E então amanhã eu o procuro, está bem?

- Vai fazer isso mesmo? – Scorpius ergueu a sobrancelha, enquanto encarava a amiga.

- Sim. Amanhã mesmo eu vou dar um rumo novo pra essa história.






~~





N/A: Creio que deveria me esconder atrás de alguém ou utilizar um feitiço escudo para me proteger das azarações que vcs me lançarão, por ter terminado o capítulo assim, maaaaaaas sabendo que vcs querem o próximo capítulo, tenho certeza que vão preservar minha integridade física e abaixarão essas varinhas logo.

Ei, vocês aí, Maris e Paola, eu disse ABAIXARÃO AS VARINHAS, ok?!

Então, para adiantar, próximo capítulo teremos: Conversa da Sophie com Vincent, o retorno pra casa e o jantar de ensaio para o casamento da Vic. Não, não subestimem esse momento... Talvez possa acontecer algo bem... Interessante.

Ok, já chega de adiantamentos. Agora quero saber o que acharam desse capítulo ok?!

Comentem e deixem suas opiniões/sugestões.

Cindy Nolte, Pah Black, Larissa, Rebeca Adrega, Livia, Cecília Potter, JacGil e Letícia obrigada pelos comentários *-* e espero que tenham gostado desse capítulo. Ah, e Jac, sua solicitação foi computada [?], e em breve providenciaremos (quando eu digo no plural é pq vou arrastar a Gica pra me ajudar a escrever) uma namorada pro Fred.

Até o próximo capítulo. Amo vcs.

XoXo,

Mily.

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