Capítulo 18



Capítulo 18




Não conseguia parar de sorrir. O vento batia em seu rosto e seu cavalo corria cada vez mais rápido. Olhou para trás e soltou uma risada alta ao ver que Draco ainda não conseguira alcançá-la, sua expressão era de irritação. Decidiu deixá-lo para trás só mais um pouco, parte da diversão era justamente irritá-lo.


Uma semana se passou desde o casamento de Harry e Hermione e da oficialização de seu noivado e muito mudou em Camelot. Pela primeira vez guerras e ataques de saxões não eram o tópico principal das conversas, havia um sentimento coletivo de segurança e felicidade, parecia que ainda estavam comemorando a vitória. Tudo daria certo dali em diante. O futuro seria brilhante, o rei e a rainha governantes justos e sábios e quem sabe... O reino inteiro seria próspero por muitos anos.


Felizmente toda aquela alegria também estava presente em sua vida pessoal. Diminuiu a velocidade de seu cavalo, apenas o bastante para Draco se aproximar.


- Por que estamos indo para esse lugar mesmo? – ele resmungou. – É longe demais.


- Não seja ranzinza. É um lugar especial para mim e gostaria que conhecesse. De qualquer forma, falta um pouco até chegarmos.


- Você falou isso há duas horas atrás. Está mentindo.


Mostrou a língua e incentivou seu cavalo a correr novamente, sem antes ouvi-lo gritar:


- Muito maturo, Ginevra. Ainda vou me vingar!


Riu mas não parou de correr, dessa vez disse a verdade: estavam realmente perto de seu “lugar especial”. Era, na verdade, o lago onde a ilha mágica de Avalon se encontrava ao centro. Fazia muito tempo desde a última vez que fora para lá. No seu aniversário de seis anos, seus irmãos a levaram até lá em um dia ensolarado parecido com aquele e passaram a tarde inteira juntos. Havia sido um dos dias mais felizes da sua vida, e gostaria que aquele que passaria com Draco também fosse.


Avalon não passava de um sonho distante, uma lenda para as pessoas comuns que nada entendiam de magia. Uma ilha onde a promessa de vida eterna e paz esperava. Apenas aqueles que possuíam um conhecimento secreto conseguiam atravessar o lago e sua névoa encantada. Muitos acreditavam que Dumbledore agora residia na ilha, esperando o momento oportuno para retornar. Gina sabia que Excalibur, a espada mágica de Harry, tinha sido forjada em Avalon, pela própria Rainha Minerva mas seu conhecimento da ilha terminava ali. O que mais lhe interessava no lago era a beleza de sua paisagem e a memória de sua infância.


Apesar do dia ensolarado, céu azul com direito a pássaros cantando, árvores cheias de folhas e flores e a grama de um verde vivo, havia uma camada de névoa espessa no lago que quase tocava sua superfície escura. Era o mesmo ar de mistério que a havia atraído quando era menor.


Draco, porém, ao perceber estavam, parecia atraído por outra coisa. Ele fitava o lago como se quase hipnotizado, esquecendo-se completamente da irritação de minutos atrás.


- Que você acha? – perguntou animada.


- É bonito – era o elogio mais desanimado que já ouvira.


Ficou um pouco desapontada com a falta de animação dele, mas não se abateu. Era apenas o começo do dia. Desmontaram dos cavalos, deixando-os perto da margem para que recuperassem suas forças, a distância entre o lago e Camelot era grande e estavam cansados.


Pegou Draco pela mão e o levou até uma árvore caída, seu tronco era grosso o bastante para servir de banco; suas folhas e galhos estavam caídos dentro d’água e o restante da floresta oferecia sombra. Sentou-se no tronco e observou enquanto Draco retirava sua espada da cintura para ficar mais confortável.


- Não sei porque insistiu em trazê-la junto. Se não reparou, a guerra terminou – comentou com um sorriso.


- Uma semana é pouco para dizer isso com tanta certeza.


- Quem precisa de certeza, quando se tem esperança?


Draco sorriu, se aproximando e colocando sua mão no rosto dela.


- Quem iria imaginar que Ginevra Weasley, a guerreira vingativa, falaria assim? Não muito tempo atrás você só pensava em matar ou morrer.


- E graças a você não sou mais assim – sorriu.


Seus lábios se tocaram suavemente. Não importava quantas vezes fosse, ela continuava a sentir arrepios como na primeira vez que o beijara.


- Não precisávamos ter vindo tão longe para fazer isso – brincou Draco.


- Eu queria que você conhecesse este lugar. Meus irmãos me trouxeram aqui quando eu era menor. Aqui sinto como se estivesse com eles de novo – seu sorriso tinha um pouco de tristeza ainda. – É meu refúgio, por assim dizer. Vim muitas vezes sozinha, para pensar e... Queria que você fizesse parte daqui também.


- Você ainda sente falta deles.


- Sim – admitiu mas depois seu sorriso aumentou. – Mas não dói mais porque tenho você.


Draco sorriu em retorno, mas pareceu ser um sorriso fraco. O mesmo que seu irmão Ron forçava todos os dias desde o casamento de Hermione. Por um momento quis perguntar o que havia de errado, mas ele não lhe deu tempo a abraçando e girando no ar. Depois de algum tempo, sorrisos vazios já estavam longe da mente dela.




Mais um sorriso vazio. Mais um aceno de mão fraco. Ron não sabia quanto mais tempo agüentaria. Duvidava que estivesse enganando alguém com sua atuação pobre, mas ao menos Harry não parecia notar. Hermione... Ele não sabia. Ela evitava olhar para ele, agindo como se fosse uma estátua, um acessório de Harry, um mero corpo sem vida de braços dados com ele. Sentia seu sangue ferver ao mesmo tempo em que esfriava com amargura ao ver os dois juntos, fosse na corte ou cavalgando pelas vilas que eram reconstruídas. Como cavaleiro da Távola, era seu dever acompanhar o rei em suas viagens pelo reino para incentivar seus súditos. Não podia estar mais infeliz.


Pelo menos finalmente voltavam para Camelot após três dias viajando pelas redondezas; e Ron não via a hora de encontrar descanso em qualquer lugar longe do rei e da rainha.


- Ah, se anime rapaz – Sirius se aproximou, batendo em suas costas fortemente. – Está chegando em casa agora, e com certeza tem uma dama te esperando?


- Não.


- Então talvez uma moça não tão dama? – riu.


Quando Ron não se uniu a ele em sua risada, Sirius o fitou preocupado.


- Você é um cavaleiro da Távola, sua irmã está viva mesmo depois de bancar o soldado, ganhamos a guerra contra os malditos saxões... E ainda assim você anda como se seu cachorro tivesse sido atropelado por várias carroças. Se não é saudade de mulher, então o que é?


Tanto Sirius quanto Remus eram amigos próximos do rei James, e assim auxiliavam Harry quando ele mais precisava. Porém, não havia mais nenhum juramento ou dever que os prendessem em Camelot, sendo que agora tinham suas próprias terras. Por tal razão, Ron tinha que admitir que os invejava um pouco, ao mesmo tempo em que os via como uma chance para ele, algum dia.


Talvez por esse motivo, na semana que se passou desde o casamento, Sirius foi o cavaleiro que mais simpatizara com Ron e ele também vira no homem mais velho alguém que podia confiar. Talvez por isso e também devido ao peso que sentia em suas costas que se viu desabafando rapidamente.


- Sirius... O que alguém como eu pode fazer quando se está preso entre dever e o desejo de ir embora?


- Isso é fácil. É só casar.


Ron olhou para o cavaleiro como se lhe tivesse crescido uma segunda cabeça.


- É sério! Eu posso ir e vir como e quando quero porque já não sou mais um cavaleiro da Távola, mas sei como é. Uma vez fiz a mesma pergunta para James. Não me leve a mal, morreria por Camelot, mas às vezes um homem quer outras coisas além de dever.


- E o que ele respondeu para você?


- “Sirius, ou você fica aqui e me agüenta, ou então se casa.”


- Eu... Não entendi muito bem.


- É simples. Ser um cavaleiro é ser um nobre, então temos direitos a terras quando nos aposentamos. E como nos aposentamos? Casando. Seu pai é de linha nobre, porém Snape, aquele asqueroso se casou para ter terras. Dessa forma não deixamos o dever de lado, mas também podemos ganhar maior autonomia. É só uma forma diferente de ser vir o rei.


- E por que você não fez isso?


Sirius riu.


- E quem disse que eu não fiz?


- Sirius foi casado com uma saxã – informou Remus se aproximando dos dois.


- E que saxã!


Talvez a expressão de Ron foi a mais esclarecida, Remus sentiu que precisava explicar melhor.


- Ela fazia parte de um grupo de reconhecimento, planejando atacar uma vila perto da costa. Sirius liderou o ataque contra eles, ela sobreviveu e foi responsável por várias cicatrizes que ele tem agora.


Sirius apontou para uma em seu ombro e outra no pescoço.


- Melhor luta que já tive.


- Os dois lutaram por horas, até que tiveram que declarar empate.


- E passamos a luta para a tenda – riu Sirius dando uma cotovelada dolorida em Ron. – Dois dias depois, casamos.


- Para resumir: durou apenas três meses.


- Que posso fazer? As diferenças culturais ganharam no final. Ela fugiu e levou com ela todas as minhas roupas. Depois de me prender na cama, claro. Bons tempos.


Ron teve que rir da história. Era um alívio estar na companhia de alguém que não levava tão sério a vida e muito menos os problemas que ela trazia.


“Casar, uh?”


Sabia que depois de Hermione, não havia mais nenhuma mulher para ele. E não era certo envolver mais uma pessoa naquela história triste, seria injusto casar-se apenas por aparências.


Depois de contar sobre seu casamento curto Sirius se afastou, deixando Remus e Ron para conversar.


- Pode parecer um conselho inútil, mas Ronald... O tempo cura todas as feridas. Notei como você olha para a rainha – informou sério, porém não havia reprovação em seu tom. – Mas confie em mim quando digo que vai passar.


- Eu... Não sei do que está falando.


Remus apenas assentiu, percebendo que Ron não queria se abrir com ele e então o deixou sozinho com seus pensamentos.


Sentiu que alguém o olhava e, para sua surpresa, notou que se tratava de Hermione. Estava bem atrás dele, cavalgando junto de Harry, mas fitava Ron e possuía uma expressão preocupada no rosto. E de alguma forma estranha, ele sabia que ela tinha ouvido a sugestão de Sirius.


Sentiu uma estranha satisfação em vê-la com ciúmes. Mas sabia que qualquer coisa que recebesse dela seria migalhas, restos de sua atenção voltada agora apenas para Harry.




Narcissa olhou novamente para seu reflexo. Toda vez que se via no espelho parecia que uma nova ruga, um novo defeito aparecia. O peso da idade crescia e com ele, o desejo de conquistar poder. Estava irritada, Draco estava atrasado.


Parecia que a ruiva sem classe a cada dia aumentava a influência que exercia sobre seu filho. Se não corresse, todos seus planos poderiam falhar. Estava tão próxima da vitória que quase podia senti-la em suas mãos. Ela sabia que exatamente por estar tão perto de vencer, era necessário maior cuidado.


Finalmente Draco entrou em seu quarto, sua impaciência e nervosismo se revelando na forma que se portava.


- Está atrasado.


- Gina me levou em...


- Não interessa. Está gastando muito tempo com ela.


- Ela é minha noiva. Tenho que gastar tempo com ela.


- Obviamente que não. Já a tem em suas mãos, não precisa mais lhe dar atenção.


Até que enfim seu filho calou-se. Havia assuntos mais importantes a serem tratados.


- Está na hora.


- Mas nós mal ganhamos a guerra...


- Nós?


- É muito cedo – a determinação em sua voz a irritou profundamente.


- E desde quando você toma decisões aqui?


Ficou quieto outra vez.


- Ronald não vai permanecer muito tempo em Camelot. Está no limite de sua razão. Não lhe dou mais que uma semana. Se ele fugiu uma vez, pode muito bem fazer isso de novo. E se ele for embora, nossa chance se perderá.


Foi até um baú e o abriu, pegando sua maior arma contra Harry Potter. Entregou para Draco, que pegou o objeto relutantemente. A luz vinda da magia iluminou o rosto de seu filho.


- O que é isso?


- É uma penseira, um objeto para guardar pensamentos e lembranças. Com isso Potter verá o que eu vi.


- E o que exatamente você viu, mãe?


- Ora... Ronald Weasley e a rainha em momentos íntimos.


- Como você conseguiu que...


- Eu não fiz nada, apenas observei querido. Não é perfeito? Eles não poderão negar, pois isso significa mentir para o rei.


- Ainda está longe de garantir que me tornarei rei.


- Confie em mim. Traição é o pior crime que um cavaleiro da Távola Redonda e uma rainha podem cometer. Toda Camelot exigirá justiça... Justiça que o jovem rei não terá coragem de trazer. Mas você terá.


Após observar o líquido prateado dentro da tigela em suas mãos, Draco fitou a mãe, nervoso.


- Eles suspeitarão de mim.


- Era o que você achava que ia acontecer quando matou um a um os irmãos da sua noiva, não foi? E nem ela suspeita de você.


Mais silêncio. Dessa vez, porém, Narcissa sentiu que havia ido longe demais.


- Eu não vou fazer isso. Não vou participar de seu plano mais. Essa marionete não vai seguir suas ordens.


- É um tolo maior do que pensava. Deixou-se levar por uma qualquer. Tão fraco quanto seu pai.


Esperava que ele se enfurecesse, mas ao invés disso, Draco lhe entregou de volta a penseira e lhe deu as costas.


Narcissa, pela primeira vez em sua vida, perdeu o controle. E assim que ele saiu de seu quarto, fechou a mão e bateu com toda a força contra o espelho a sua frente, estilhaçando-o pelo chão.




Estava suando frio. Suas mãos tremiam.


O que tinha acabado de fazer?


Sua vida inteira foi dedicada à conquista do trono, e agora simplesmente negava sua maior chance?


Estava louco.


Passou a mão pelos cabelos, tentando se recompor. Graças ao que havia acabado de fazer, ganhou uma inimiga perigosa. Sua mãe se vingaria, não era mulher de aceitar derrota e jamais o deixaria em paz. Se a conhecia bem, ela podia muito bem contar a Gina tudo e destruir sua única chance de felicidade.


Pânico correu por suas veias, o fazendo parar no meio da escadaria da torre. Apenas imaginar a reação de Gina já o feria terrivelmente. E não tinha dúvidas que sua mãe contaria. Era o passo mais lógico para se vingar e até mesmo o convencer a ajudá-la em seu plano. Sem Gina ele não teria mais nada a perder.


Sentia o peso de sua espada na bainha. Se subisse novamente para o quarto da mãe... Se um acidente acontecesse... Ninguém se surpreenderia se uma viúva desesperada resolvesse tomar sua vida se jogando da torre...


Engoliu seco.




Hermione não conseguia parar de andar. Sentia sua cabeça doendo de tanto nervoso. Mal acreditava que tinha feito algo tão arriscado. E tudo por causa de Sirius! Se ele não tivesse sugerido a Ron uma coisa tão estúpida ela não teria ficado louca de ciúmes e...


“Ciúmes! Sou casada!”, pensou, tentando salvar um pouco de dignidade de seus próprios pensamentos imorais. Mas era em vão. Ainda estava apaixonada por Ronald Weasley e provavelmente morreria apaixonada por ele.


No minuto que pisou em Camelot, pediu para que uma das serviçais trouxesse Ron a um dos jardins, onde agora ela o esperava ansiosamente. Tinha que ter certeza que ele não seguiria a idéia de Sirius. Saiba que era ilógico e errado supor que Ron nunca se apaixonaria por outra mulher, mas estava longe da lógica no momento.


Quando ele apareceu, de cabeça baixa e incomodado, sentiu seu coração dar um salto para sua garganta. Uma semana casada não tinha mudado em nada o que sentia por ele. Quando Ron não falou nada, preferindo olhar para qualquer lugar a ela, Hermione teve que se manifestar.


- Como você está?


- Preciso responder?


Silêncio. Hermione, apesar de tudo, não deixou de ficar ofendida com o tom acusatório dele. Ela não merecia, não era sua culpa. Os dois haviam sido vítimas do destino e de suas próprias inseguranças, descobriram o que sentiam um pelo o outro tarde demais. Não havia culpados e nem justificativa para tratá-la mal.


- Eu... Obrigada.


- Pelo quê?


- Você ficou. Não sabe quanto isso deixou Harry feliz e... Me deixou também.


- Acho melhor terminar a conversa aqui. Nós dois temos deveres a cumprir.


Segurou as lágrimas, o que em si era uma grande tolice. Chorar não resolveria nada.


- Não me trate com tanta frieza.


- E como quer que eu a trate então? É mais fácil assim.


- Mais fácil que casar com alguma dama qualquer?


A pergunta surpreendeu ambos e Hermione se assustou com a acidez de sua própria voz.


- É por isso que me chamou aqui? Para me ordenar que nunca me case? – sorriu um pouco, mas era apenas um sorriso amargo.


Estava envergonhada com sua atitude mesquinha; suas emoções pareciam ter tomado conta, apesar de tanta cautela.


- Não. Desculpe-me. Ouvi a conversa que teve com Sirius e... – passou a mão pelos cabelos, tentando buscar as palavras certas. – Acho que perdi o controle.


Para sua surpresa Ron riu, uma risada fraca mas sincera.


- Não sei se devo ficar irritado com você ou encaro como um elogio por conseguir fazê-la perder o controle.


- Você é o único que consegue – sorriu.


Sem que percebessem, já estavam próximos um do outro. E quando finalmente notaram, já era tarde demais.




Poucas vezes em sua vida Harry experimentou paz. Após ter se tornado o rei, ou melhor, depois da morte de seus pais, teve poucos momentos em que realmente conseguia sentir paz. Aquele dia deveria ter sido um daqueles momentos. Trouxera vitória para seu reino, os esforços para restaurar as vilas atacadas estavam indo bem e finalmente os lordes haviam aceitado sua força, mesmo que apenas temporariamente.


Mas mesmo com tudo indicando para um descanso merecido, Harry sentia-se inquieto. Com uma sensação similar quando se sente que algo importante foi esquecido e não se sabe exatamente o que é.


Parecia absurdo que na segurança de Camelot, com o líder dos saxões morto e mais nenhum inimigo, Harry se mantivesse alerta. Talvez algum detalhe tivesse lhe escapado. Mas o quê?


- Está tudo bem senhor?


A voz preocupada de Cedric o fez voltar a se concentrar no que Sir Oliver falava sobre as notícias das províncias. Estava sentando em seu trono, com Cedric ao seu lado, Remus, Sirius e os outros dois cavaleiros Goyle e Crabbe; pretendiam passar o dia resolvendo questões do pós-guerra e ao invés disso ele estava pensando em bobagens...


- Sim. Pode continuar Oliver.


Porém, antes que o cavaleiro pudesse abrir a boca novamente, foram surpreendidos pela entrada de Narcissa Malfoy no Hall, segurando um objeto que Harry vira apenas uma vez em sua vida.


- Desejo falar com o rei em particular, imediatamente. É uma questão de extrema importância.


Harry imediatamente soube que a sensação ruim que sentia tinha algo a ver com aquela mulher. Cedric virou-se para ele, incerto do que fazer.


- Apenas meus cavaleiros mais confiáveis estão presentes. O que quer que tenha a falar pode fazer aqui, na presença deles.


Podia ver em seus rostos o orgulho de Oliver e Cedric ao ouvi-lo. Não havia mentido, depois de Ron, eram aqueles em que mais confiava. No entanto, por um segundo, pareceu que Narcissa sorrira, mas rapidamente sua cabeça estava abaixada em sinal de respeito e convenientemente escondendo sua expressão.


- Como desejar, meu senhor. Acredito que me expressarei melhor através disto, do que com palavras – falou séria lhe estendendo uma Penseira para a pegasse.


- Não sabia que existia mais de um objeto como este. Vi outro parecido quando era menor, Dumbledore possuía um também.


- É um item raro que passa de geração a geração em minha família. Por favor veja as lembranças que esta Penseira contém. Antes que seja tarde.




Não teve coragem suficiente. A verdade era que não passava de um covarde. Em todos os aspectos.


Draco estava sentando na beira de sua cama, no quarto que lhe pertencia em Camelot. Apenas um entre tantos nos corredores longos do castelo, sem mais nenhuma importância. Supunha que seria assim pelo resto da sua vida, afinal desistira da única oportunidade de obter a glória que sempre cobiçou. Mas talvez teria alguma importância pelo menos para uma pessoa.


- Draco? Está aí?


Não tinha notado que alguém estava batendo à sua porta. Porém a voz de Gina lhe acordou e abriu para que ela entrasse. Apenas a presença dela já bastava para que se sentisse melhor, como se fosse realmente o homem que ela parecia achar que ele era. Era uma sensação embriagante.


- Você está bem? – Gina perguntou se aproximando dele.


- Agora estou.


Ela sorriu e mais uma vez preencheu o vazio que ele nunca soube que sempre existiu. A ironia não lhe escapou, a pessoa que ele deixou vazia era justamente aquela capaz de deixá-lo completo. Era surreal, a ponto de que ele precisou tocar os cabelos dela para acreditar em sua presença.


Tão impossível que foi obrigado a abraçá-la para ter certeza que não desapareceria. Tão inacreditável que se viu sussurrando em seu ouvido e afirmar que nada daquilo era um sonho.


- Eu te...


- Não diga. Não ouse terminar.


Antes que pudesse registrar o tom distorcido com raiva, sentiu o frio tão familiar de aço entrando em seu estômago, devagar e dolorosamente. Estranhamente, não estava surpreso. Na verdade podia-se dizer que sempre esteve esperando. Desde que se apaixonara por ela, algo dentro dele sempre soube que morreria pelas mãos de Gina.


A adaga saiu de seu corpo sem rodeios, terminando o golpe e aumentando ainda mais o ferimento mortal.


Poderia ter lutado, ou ao menos ter saído do lugar. Ter feito qualquer coisa ao invés de apenas aceitar o que estava acontecendo. Mas não havia razão. Não havia motivo.


Sem ela, não havia mais nenhuma razão para lutar.


Queria, pelo menos, terminar sua frase. Dizer o que sentia por ela... Mas, mais importante era pedir perdão, mesmo sabendo que não merecia ter e nem teria. Ao menos contar que se pudesse voltar atrás... Se pudesse trocar sua vida pela dos irmãos dela, o faria com prazer.


Mas nada saiu de sua boca, a não ser sangue.


Cambaleou para trás, suas pernas não obedeciam, mas também não tinham ordens. Apenas deixou-se cair no chão, de joelhos, na frente dela. Nada mais justo que estivesse naquela posição, à mercê dela.


Por instinto ou talvez curiosidade mórbida, tocou o ferimento. Sangue derramava, irritantemente sem pressa de seu corpo. Sorriu. Não podia ser de outro jeito: uma morte lenta como um assassino merecia. Sangraria até a última gota de seu corpo, mas ela ficaria para ver?


Olhou para cima ainda sorrindo, buscando o rosto dela talvez pela última vez. Sua visão começava a ficar borrada, quem sabe por lágrimas, ou talvez pela perda de sangue. Não conseguia ver direito a expressão dela, por mais que tentasse. Tentou então forjar seu rosto com memórias do sorriso dela. Foram poucas vezes que viu... Tão poucas lembranças. Queria ter tido tempo de criar mais. Passar mais tempo com ela.


Mas merecia? Não.


Seria corajoso pelo menos uma vez em sua vida mesquinha e não pediria para viver.


Tentou respirar profundamente, mas acabou apenas tossindo sangue. A dor era mais do que podia suportar e seus olhos começaram a fechar. Ainda demoraria a morrer, mas não estaria acordado para saber.


“Desculpe Ginerva, mas terei que desmaiar e privá-la um pouco de sua vingança em me ver sofrer,” sorriu.




- Isso... Esses... São?


Sir Oliver foi o primeiro a ter coragem para falar e, mesmo assim, foi apenas através de um murmúrio confuso. Ninguém mais se atreveu a dizer algo. A cena que tinham acabado de ver era inexplicável. Todos se viraram para Harry, tentando buscar alguma resposta ou garantia de que aquilo era um erro. Mas também preocupados com sua reação.


Ele viu algo pior que uma nova ameaça ou inimigo, viu seu melhor amigo e sua esposa...


Não havia palavras para descrever o que ele sentia. Não era raiva, não era ódio, confusão ou surpresa. Era simplesmente uma tristeza inacabável. De repente era como se todas as peças de um quebra-cabeça se encaixassem perfeitamente, formando nada mais que uma tragédia. A traição das duas pessoas mais importantes de sua vida era tão grave, que se viu em uma posição que jamais imaginou que se encontraria, mesmo nos seus piores pesadelos.


Quando olhar para o rei não ofereceu respostas, um a um os cavaleiros se viram forçados a se expressar.


- Harry... – foi talvez a primeira vez que ouvia Cedric chamá-lo pelo primeiro nome. – O que eles fizeram é...


- Eu sei.


A dor em suas vozes era clara, não havia como esconder.


- Infelizmente, você não pode deixar que isso fique impune – foi a vez Remus, seu tom melancólico, como se já tivesse previsto aquela situação. – Não quando finalmentetemos a imagem de um reino forte. Os outros lordesvoltarão a questionar sua posição.


- Eu sei.


- Sua honra será destruída! O povo vai olhá-lo com fraqueza se não fizer nada – disse Oliver fechando o punho.


Ele já sabia de tudo, nos poucos minutos que a Penseira revelara Ron e Hermione se beijando, Harry pensara nas conseqüências e nos problemas que teria. Mas nada importava. Sabia que deveria mandar que fossem presos, forçados a julgamento e provavelmente mortos ou presos pelo resto de suas vidas, era a única maneira dele manter sua posição, manter sua força para que o reino voltasse a prosperar sem mais guerras ou conflitos. Porém jamais conseguiria dar alguma ordem que fosse contra os dois.


- O que devemos fazer? Quais são as suas ordens? – pediu Cedric.


- Deixe-os em paz. Não faça nada, nenhum de vocês. Não vou destruir a vida das duas pessoas mais importantes para mim – soltou um suspiro triste e resignado. – Não tenho forças para fazer algo tão terrível.


O silêncio foi absoluto. Harry colocou as mãos no rosto, derrotado. Os cavaleiros se entreolharam, entendendo finalmente que ele agora era apenas um garoto órfão de família e amigos. Camelot estava sem seu rei.




Ela olhou para o corpo. Não tinha mais nome. Era apenas um corpo estirado no chão do quarto, sangrando lentamente e agonizando. Havia caído para frente, quase que como se buscasse apoio nela, mas Ginevra só se afastou deixando que caísse solitário.


Suas mãos tremiam, estavam limpas e uma delas segurava a adaga que o matara. Não sabia por quanto tempo esteve na mesma posição, tensa e estranhamente distante. Não sentia nada, seu corpo estava gelado. Não era assim que havia imaginado. Deveria ser triunfante, trazer de volta sua felicidade roubada, devia finalmente sentir justiça, sentir alguma coisa. Ao invés, olhava para o corpo esperando que algo milagroso acontecesse.


Que tudo não passasse de um pesadelo.


A voz de Narcissa Malfoy não havia parado de ecoar em sua mente, constantemente lembrando-a quem era o assassino de seus irmãos. Quando ouviu pela primeira vez, tristemente não teve dúvidas, não questionou. Era horrível que fazia completo sentido. Desde o primeiro momento que o vira ele tinha mentido, a manipulado; e ao invés de seguir sua intuição, deixou-se levar. Deixou-se apaixonar. Seu irmão havia murmurado no leito de morte “dragão” e ela fora tola em não perceber antes. Draco.


Sentiu lágrimas se formarem, mas se recusou deixá-las cair. Prometeu que não choraria, que não mostraria sua dor para ele. Seria cruel e fria justamente como ele foi ao matar um a um de seus irmãos. Até que ele morresse, seguraria cada lágrima que tentasse escapar.


De repente, sua mão deixou a adaga cair no chão. Ele respirou por uma última e dolorosa vez até que finalmente seu corpo parou de lutar.


Não havia mais volta, nem milagre.


Ele não levantaria, não falaria que tudo que passaram juntos foi verdade e que ele jamais matou seus irmãos.


Ignorando a poça de sangue formada em volta dele, Gina se abaixou devagar e levantou Draco o máximo que pôde, colocando sua cabeça pálida perto do peito dela. Pôs seus braços em volta do corpo frio dele, como se tentasse protegê-lo de algo e finalmente chorou.


Cada momento que passou com ele foi uma mentira. Sabia disso, compreendia que foi enganada. Então, por que doía tanto? Por quê?


Lágrimas nada silenciosas corriam por seu rosto, ironicamente apenas chorou tanto assim quando seus irmãos morreram. Abraçou Draco fortemente.


- Eu amo você.


Sussurrou para o nada, pois não havia mais ninguém ali. Só ela e um corpo sem nome.




O beijo terminou mas continuaram na mesma posição, temendo quebrar o momento e voltar para realidade. Permaneceram de mãos dadas, ignorantes do caos que os rodeava. Um último suspiro antes do mergulho final.


De repente, ouviram passos apressados e o som pesado de armaduras. Ron imediatamente percebeu que algo estava errado e virou para a entrada do jardim, Hermione fazendo o mesmo. Para a surpresa de ambos, eram Cedric, Oliver e os dois gorilas que seguiam Draco, Crabbe e Goyle, porém o cavaleiro loiro desta vez não estava entre eles. O mais perturbador para ele foi ver seus rostos, Cedric olhava para todos os lados menos na direção deles mas Oliver parecia determinado em encará-los com repúdio.


Percebeu então do que se tratava.


- Hermione, fique atrás de mim – pediu em voz baixa para que apenas ela ouvisse.


Ela não respondeu, nem obedeceu. Estava mais preocupada em largar a mão dele, ainda estavam de mãos dadas.


- Aconteceu alguma coisa, sir Cedric? – dirigiu-se ao cavaleiro que parecia mais amigável, numa tentativa de evitar conflito. Porém, quem respondeu foi Oliver.


- Nós sabemos da traição de vocês. A rainha e o melhor amigo do rei? Não têm noção de honra nem de amizade? – rosnou, sua mão na bainha da espada.


Hermione arregalou os olhos e Ron sentiu sua respiração ficar mais rápida.


- N-Não... Eu... – ela não conseguiu forjar uma explicação. – Nós...


- Não adianta negar, todos nós vimos! – gritou Oliver, cada vez mais nervoso. – Sabem o que fizeram com o rei? Harry? Ele está destruído!


Ron respirou fundo, tentando se manter calmo e não se deixar abalar pelas palavras de Oliver, sentia que teria que estar preparado e atento para uma luta. Mas Hermione tremia ao lado dele. Queria defendê-la, ao menos tentar explicar que fora algo antes do casamento e que ambos se arrependiam... Mas era sabido que agora não adiantava mais, haviam acabado de se beijar minutos antes e foram flagrados de mãos dadas. E ela sabia disso também.


- Nós viemos aqui para pedir que vocês venham conosco. O que fizeram põe em risco o reino inteiro e se ficar impune Harry... Vai perder força. Precisamos prendê-los – explicou Cedric evitando seus olhares. – Mesmo que ele não queira, precisamos fazer isso para protegê-lo, para que ele continue reinando. É nosso dever. Sinto muito.


Hermione parou de tremer e soltou um suspiro resignado, parecendo pronta para se render. Mas Ron, só de imaginá-la presa numa cela fria e escura, morrendo de tristeza ou mesmo depois de uma sentença cruel... Não conseguiu deixá-la ir e a segurou pelo braço.


- Deixe-a fora disso. Foi minha culpa, eu a obriguei.


Ela arregalou os olhos.


- Não Ron! Eu também sou culpada.


Mas ele a ignorou e desembainhou a espada, preparado para lutar.


- Não vou deixar que a levem.


Oliver fez o mesmo, assim como Crabbe e Goyle. Cedric o fez relutantemente depois, quando viu que Ron não desistiria.


- Se é assim que você prefere – disse Oliver antes de correr na direção de Ron.


Porém a prioridade dele era fugir com Hermione, não lutar. Pegou-a pela mão e saiu correndo, desviando de Oliver e os surpreendendo por alguns segundos. Porém, não foi rápido o bastante para desviar de Cedric, que estava em sua frente num piscar de olhos, bloqueando sua saída do jardim.


- Não quero lutar com você.


- Nem eu com você, me deixe passar.


- Não posso.


Ron não hesitou e o atacou com a desvantagem de estar segurando Hermione, que tentava se soltar dele. Trocaram alguns golpes de espada, mas estava claro quem estava ganhando e Ron não tinha chances. O tempo que levaram lutando foi o bastante para os outros três cavaleiros os alcançarem e novamente rodeá-lo.


- Desista – ordenou Oliver.


Foi então que foi obrigado a tomar uma das decisões mais difíceis de sua vida. Cedric, num momento de descuido, abaixou sua espada e sua guarda, talvez acreditando que encurralado, Ronald desistiria. Naquele momento apenas viu que tinha que aproveitar do erro do cavaleiro, em sua ansiedade e desespero não imaginou que significaria golpeá-lo.


Ergueu sua espada e deferiu o golpe contra o estômago de Cedric, rapidamente atingindo a carne e fazendo com que o homem recuasse o bastante para o empurrar e correr para dentro do castelo. Não viu Cedric colocar as mãos no ferimento mortal e perder a respiração, sendo socorrido inutilmente por Oliver. Sua única preocupação era tirar Hermione daquele lugar o mais rápido possível, adrenalina cortando seus pensamentos racionais e lógicos.


- Ron! Ron!


Corria tanto que Hermione mal conseguia acompanhá-lo, porém não era por tal razão que o chamava. Não que fizesse diferença, ele continuou não lhe dando ouvidos, mais concentrado em chegar aos estábulos e pegar um cavalo, qualquer que fosse, para que pudessem fugir em segurança.




Não sabia por quanto tempo tinha as mãos no rosto. Mal notara que agora apenas restavam Sirius, Remus e Narcissa no lugar. Como, em um minuto, comemoravam vitória e no outro, seu mundo entrava em colapso? Seria sua culpa?


Nunca amara Hermione, não do modo como um marido ama a esposa. Era sua melhor amiga, mas jamais fora mais que isso. Se ao menos soubesse que os dois estavam apaixonados... Tudo teria sido diferente.


- Senhor! Senhor!


Estava de cabeça abaixada então não viu o serviçal correr até ele, um pouco mais atrás dois soldados segurando alguém. Quem se manifestou em seu lugar foi Remus.


- O que houve?


- Senhor, aconteceu uma tragédia!


O homem começou a contar a história, mas Harry não ouviu. Apenas quando o nome “Ginevra” foi pronunciado, ergueu seu rosto. E não acreditou no que viu. Gina era carregada por dois soldados, seu vestido sujo de sangue assim como todo o resto de seu corpo, olhava para o chão sem expressão.


- Meu filho – disse Narcissa, colocando a mão na boca. – Morto?


- Ela o matou, senhora! – disse o serviçal perturbado. – Tanto sangue! Sangue por todo o quarto! Nunca vi tanto...


Narcissa caiu em prantos, mãos no rosto. Harry fechou os olhos, tentando recuperar forças para lidar com a situação. Estava fisicamente e psicologicamente exausto, mas tinha que reter alguma força, pelo menos por Gina. Levantou do trono e foi na direção dela, sinalizando que os soldados a soltassem. Foi como se largassem uma boneca de pano, ela simplesmente deixou-se cair. Pegou seu rosto com suas duas mãos num esforço para deter sua atenção.


- Gina, olhe para mim – ela mal abriu seus olhos para encará-lo. – O que aconteceu?


Nada. Apenas virou o rosto.


- Você está falando com ela?! – gritou Narcissa, tremendo de raiva e se recuperando do choro. – Pedindo explicações? Ela matou meu filho! Mate-a!


Harry a ignorou. Narcissa continuou a gritar por vingança, mas ele precisava fazer com que Gina falasse com ele. Para que talvez houvesse uma explicação para toda aquela loucura, que talvez ela fosse inocente. Não agüentaria perdê-la também.


- Gina, por favor.


- Ele matou meus irmãos – finalmente respondeu.


Então era verdade, ela havia o assassinado. Fechou os olhos e suspirou.


- Faça alguma coisa! Mate-a!


Virou-se para Narcissa, cansado.


- Não. Se o que ela disse for verdade, e acredito que é, Draco é um traidor. Ela será presa, mas não morta.


Porém Narcissa estava longe da razão, claramente desesperada.


- Eu exijo que a mate!


Harry sabia que falar de nada adiantaria, então mandou os soldados segurarem a mulher até que se acalmasse. Foi um erro. Ao perceber que seria detida, Narcissa retirou uma faca e correu na direção de Gina com uma louca, pronta para matá-la com suas próprias mãos. Gina estava indefesa contra seu ataque. Só havia um modo de salvá-la.


Harry colocou-se entre ela e Narcissa, a abraçando para evitar que recebesse o golpe. A dor que se seguiu das várias facadas que levou, porém, foi ignorada quando Gina finalmente olhou para ele, olhos abertos em choque. Notando que o corpo dele enfraquecia, quase caindo, Gina o abraçou para segurá-lo.


Estava tão preso no rosto dela que Harry ficou alheio ao caos à sua volta. Os soldados, Sirius e Remus imediatamente correram até os três, finalmente detendo Narcissa, mas tarde demais.


- Chamem ajuda! – gritou Sirius.


Mas Harry sabia que não haveria ajuda.




Só diminuiu a velocidade do cavalo quando teve certeza que estavam há vários quilômetros de Camelot. Felizmente, ninguém os seguiu. Ela estava a salvo, por hora. Mas precisavam achar algum lugar onde o rosto da rainha não fosse ainda conhecido e, mais ainda, as notícias de sua traição demorariam a chegar, se um dia chegasse além de rumores. Nenhum lugar vinha à sua cabeça. Mas havia pelo menos uma opção.


- Ron... Por favor, vamos parar. Você não está bem.


- Do que está falando? Estou ótimo. Não podemos parar, ainda há chances de que alguém venha atrás de nós.


- Mas você está sangrando! Por favor!


Não entendeu do que ela falava até olhar para baixo e ver sua camisa ensangüentada. A principio, achou que era sangue de Cedric, quando o empurrou poderia ter raspado em seu ferimento. Mas então finalmente sentiu a dor de seu próprio corte.


- Mas... Quando...?


- Cedric golpeou você quando passamos por ele. Tentei de avisar mas você não me ouviu. Por favor, vamos parar.


Relutantemente obedeceu, parando o cavalo perto de uma árvore. Mas só ficaria parado por alguns minutos, tinham um longo percurso para percorrer ainda. Seu ferimento teria que esperar.


Hermione desceu do cavalo e o obrigou a sentar perto da árvore, para que pudesse olhar o corte. Ron não quis ver o estrago, preferindo olhar para a direção de onde vieram, atento para algum cavaleiro ou soldado. Sentiu a mão dela suavemente tocar sua barriga, mas por mais fraco que o toque fosse, ainda sentiu dor. Não parecia tão profundo, mas sem tratamento poderia se tornar perigoso.


Preocupada, ela rasgou um longo pedaço da saia de seu vestido para fazer uma faixa improvisada e prender em seu corpo, numa tentativa fraca de parar o sangramento. Depois disso Ron já estava de pé, pronto para voltar a cavalgar, apesar dos protestos de Hermione.


Continuaram a fuga, parando apenas quando Hermione brigava com ele, o obrigando a descansar. Evitaram locais com pessoas, dormindo no sereno e alheios a qualquer notícia de Camelot e o caos em que o reino estava.


No terceiro dia, Ron não deixou mais que Hermione cuidasse de seu ferimento. Estava infeccionado, e sabia que ela vendo tal fato o obrigaria ir até um vilarejo para procurar um médio. Mas seria arriscado demais. Na noite anterior ouvira barulho de cães e vozes próximas da floresta em que dormiam, o que significava que havia ainda pessoas procurando por eles. Um descuido podia significar o fim.


Quando finalmente viu a familiar casa dos Lovegood, o alívio foi enorme. Seu corpo relaxou pela primeira vez em quatro dias, infelizmente dando oportunidade para a dor insuportável de seu ferimento.


- Chegamos.


Reconheceu a figura de Luna ao longe e de imediato direcionou o cavalo até ela. Quando ela os viu, foi de um sorriso para uma expressão de preocupação.


- Luna, eu tenho um favor para te pedir.


Desceu do cavalo, assim como Hermione. Estavam cansados, sujos e, no caso dele, pálido.


- Pode cuidar de Hermione para mim? – pediu.


- Claro, Ronald! – respondeu Luna. – Entrem em casa, meu pai está lá dentro. Vocês parecem cansados.


- Só um minuto, antes preciso falar com ela, tudo bem?


Luna entendeu o recado e entrou sozinha em casa. Hermione olhou para ele, confusa e preocupada. Ele pegou sua mão, tentando permanecer forte.


- Vamos ficar seguros aqui, eles são boas pessoas.


- Você precisa se deitar, e o seu ferimento precisa de cuidados. Vamos entrar rápido – suplicou.


Ele sabia, mas antes precisava falar com ela. Sentia que era necessário falar agora.


- Eu te amo Hermione.


Depois de um tempo ela sorriu, apesar de ter lágrimas nos olhos.


- Eu também te amo Ron.


Foi a vez dele sorrir, e logo depois cair desacordado de exaustão. Mas não importava, estavam seguros.


FIM


N/A: Mas espere... Tem o epílogo! (Lá eu faço uma nota maior, haha).

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