Capítulo 11



Capítulo 11
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Ela se surpreendeu tanto com a mudança repentina de Draco que ficou momentaneamente sem palavras.

A atitude dele foi uma surpresa, ela não esperava que ele desistisse dela tão rápido assim.

E depois de ficar parada por algum tempo e contemplar a falta de opções melhores, Gina resolveu seguir o cavaleiro loiro.

Por mais que odiasse admitir, a proposta dele tinha suas vantagens.

Ela continuava não confiando nele, sem dúvida, mas refletiu que se ele estivesse tramando algo ela saberia logo. Além disso, ela não cairia em nenhum truque dele, era esperta demais para isso.

Malfoy havia se distanciado bastante e ela se viu obrigada a quase correr para alcança-lo.

– Espere, Malfoy. – ela o chamou se aproximando.

Ele se virou para ela, primeiramente surpreso. Depois ele abriu mais uma vez o sorriso irritante cheio de autoconfiança.

– Mudou de idéia, foi?

Gina se segurou, controlando o máximo que podia sua irritação.

– Sim – ela respondeu entre dentes. – Mas não pense bobagens. Eu ainda não confio em você.

Ele revirou os olhos.

– Acho que você já deixou bem claro isso na primeira vez que disse. Não precisa ficar repetindo a todo o momento. – ele sorriu, Gina suspeitava que se tratava de uma tentativa de parecer simpático. Não estava dando certo – Me acompanhe.

Os dois continuaram seu caminho até a tenda de Draco, mais uma vez entrando. Gina se afastou dele no minuto que pisaram lá dentro. Ele se sentou em uma das almofadas novamente e indicou para que ela fizesse o mesmo, não se mostrou afetado quando ela permaneceu de pé na entrada.

Depois de alguns minutos de silêncio ele resumiu sua ceia, voltando a comer algumas uvas.

– Você tem sorte que estão todos bêbados lá fora. – ele comentou entre uma abocanhada e outra – Poderia ter sido reconhecida por alguém.

Ela continuou calada, ainda orgulhosa demais para admitir que fora um erro sair da tenda.

– Vamos làsente-se. Você aceitou a minha sugestão então vai ficar na minha companhia até voltarmos a marchar...O mínimo que podemos fazer é tentar conviver um pouco enquanto não há outra luta.

Gina ignorou novamente, mas o comentário a fez lembrar da batalha passada e a curiosidade foi maior que seu autocontrole.

– Como foi que ganhamos? Há muitos feridos?

Era um assunto em que ambos se interessavam, por diferentes razões, mas o que garantiu, surpreendentemente, uma trégua despercebida entre eles.

– Os cavalos nos deram a vitória, é claro. Os saxões não os usam, se por burrice ou falta de capacidade para doma-los, eu não sei. De qualquer forma eles foram amassados pelos cascos. Houve muitas baixas do lado de Camelot, mas parece que encontraremos com o exército de Uriens para aumentarmos nossos números.

– Uriens está vivo! Isso é ótimo! – ela sorriu.

Finalmente uma boa noticia, Hermione ia ficar aliviada ao saber que o pai vivia.

– É, está. Fugiu do ataque em seu castelo. – o tom de Draco era estranhamente neutro – Reuniu suas tropas, mas os saxões tomaram suas terras. Você viu no caminho, eles dizimaram tudo que encontraram.

– E Servolo? Não estava no campo de batalha?

Draco riu da inocência de sua pergunta.

– É claro que não. Aquilo nem era um terço do exército saxão. Servolo espalhou bandos de guerreiros como aquele que enfrentamos para continuar a pilhar e queimar. Enquanto isso está no castelo de Uriens, comemorando e se preparando para continuar o ataque com seus principais guerreiros.

– Como você sabe disso? – ela disse, levantando uma sobrancelha.

– Pura lógica.

– E o que vamos fazer agora? O rei pretende sitiar o castelo?

– Não. Ele não vai conseguir chegar até lá. Essa vitória chamou a atenção de Servolo e ele vai se mover ao nosso encontro. Vamos lutar com ele em campo aberto.

– Servolo vai subestimar nossa cavalaria de novo? Não creio. Com certeza seria uma estratégia melhor ele permanecer no castelo, esperando um ataque. Cavalos não têm valor em um cerco a uma fortaleza. E eles têm arqueiros, não?

Draco pareceu surpreso com ela. Com certeza não esperava que uma dama da corte pensasse em táticas de batalha e que ainda por cima estivesse certa quanto a elas.

Ele se recuperou do susto rapidamente, no entanto.

– Você se esquece que Servolo está confiante demais. Seu exército é muito mais numeroso que o de Camelot. Nem todos os cavalos do reino conseguiriam parar tantos bárbaros assim. Ele acha que vai pisotear tudo em seu caminho.

– Você mesmo disse que o exército dele está espalhado. Se isso for realmente verdade então demorará dias para ele o reunir por completo.

– Sim, mas ele não prevê isso. A confiança na vitória está o cegando.

– Estamos em vantagem então.

Ela mal percebeu que estava agora sentada perto dele. Estava tão concentrada na conversa que não notou a proximidade em que se encontravam.

Procurou não se mostrar afetada com isso, olhando para o lado oposto e resolvendo voltar ao assunto anterior, que era mais seguro, já que ela estava mais acostumada em sentir desconfiança e irritação quando se tratava de Draco Malfoy do que ter uma conversa normal com ele.

– Onde vou dormir?

Ele apontou para a mesma cama em que ela acordara horas antes.

– E você? Essa não é a sua tenda? Onde está a sua cama?

Draco deu um sorriso maroto e apontou para mesma cama. Ela franziu a testa, irritada com a insinuação nada sutil.

– Eu sabia que não podia confiar em você – ela disse fazendo um movimento para se levantar.

– Essa é a minha cama, ruiva, tecnicamente pelo menos. – ele disse simplesmente. – Só que eu estou a emprestando para você. Não vou dormir junto, é claro. Fique calma, certo?

Ela bufou, frustrada. Estava ficando cansada daquele jogo de gato e rato.

– Vou dormir no chão. – Draco a informou depois de alguns instantes silenciosos.

– Nada mais do que você merece – ela acrescentou em voz baixa, se levantando e indo até a cama. – Quando vamos partir?

– Talvez amanhã, quando o sol já estiver alto. Mas isso se conseguirem acordar os bêbados a tempo.

– Quanto mais cedo melhor.

– Nisso concordamos – ele disse mostrando mais uma vez sinais de irritação.

Ela sabia muito bem que ele não estava gostando da companhia tanto quanto ela, apesar dele tentar disfarçar. O que a intrigava ainda mais. Se ele a incomodava, por que insistia em segura-la ali?

– Vire-se, vou me trocar – ela mandou, se sentindo cansada e ansiosa para deitar.

– Eu já vi você em suas roupas debaixo – ele a lembrou, sorrindo – E fui eu quem cuidou de seus ferimentos. Não há nada o que esconder.

Ela sentiu suas bochechas aquecerem contra a sua vontade, a deixando mais irritada ainda. Preparava-se para responder o comentário com algo que igualasse sua raiva quando ele continuou:

– Mas...Respeito a sua vontade.

Gina não conseguiu esconder a surpresa e abriu um pouco sua boca. Observou, ainda com certa desconfiança, ele se virar de costas para ela.

Rapidamente retirou sua armadura, a colocando ao lado da cama. Deitou-se, puxando as cobertas para si e informando Draco que ele podia se virar novamente.

Ele apagou as poucas velas que iluminavam a tenda e voltou a sentar. Agora apenas as luzes de fogueiras morrendo lá fora serviam de fonte de luz.

Gina permaneceu imóvel por um bom tempo, mas não conseguiu pregar os olhos. E parte disso graças à presença do loiro.

Não podia deixar de lado a sensação que ele a observava atentamente. E ela desejava saber por que ele fazia isso.

Duvidava que fosse alguma razão boa, nenhum Malfoy até hoje se mostrara digno de confiança.

Resolveu não dormir e o observar em retorno, num tom de desafio.

Não tirou seus olhos da figura sentada. Graças à escuridão não podia ver seu rosto, mas sabia que ele estava acordado.

Depois de um tempo ele se levantou e começou a tirar sua armadura, Gina ia virar o rosto mas para o seu desgosto não conseguiu.

E para piorar ficou decepcionada quando a falta de luz não deixou que uma inspeção melhor fosse feita. Se irritou com o interesse repentino que sentiu. Que lhe importava como ele era em sua roupa de baixo?

Preferiu considerar aquilo apenas vontade de acabar com a vantagem desonesta que ele tinha sob ela. Se Gina o visse nas mesmas condições, os dois estariam iguais.

Ainda com raiva de si mesma por olhar, ela virou o rosto e tentou dormir.


Draco olhou para a figura deitada a sua frente. Sabia que Ginevra estava acordada e provavelmente o observando.

Era incrível como aquela mulher era imprevisível. E aquilo o frustrava. Por mais que tentasse agrada-la, impressiona-la ou conquista-la de várias maneiras diferentes ela se mostrava decidida em não cair em sua teia.

Ele era um ótimo ator. Sempre mentiu tão bem que até enganava a si próprio. Como ela poderia estar vendo por trás de sua máscara?

Draco passou a mão no cabelo loiro, irritado.

Repassou em sua mente toda a conversa que tiveram desde que ela acordou. Admitia que perdera o controle lá fora, irritado com a insistência dela em não aceitar lógica e senso comum. Naquela hora pensou que o plano da sua mãe não ia funcionar e estava pronto para deixar Ginevra para os saxões. Mas aí ela o alcançou e surpreendeu mais uma vez.

Lembrando daquele momento ele percebeu que foi apenas aí que ela mostrou uma reação, mesmo que pequena, positiva. Nesse e quando os dois conversaram sobre táticas de batalha.

Ele segurou uma risada abafada. Ginevra Weasley era um mistério. E enquanto parte dele odiava isso, outra parte ansiava por desvenda-la.

Draco concluiu que quanto mais ele forjasse falsa simpatia menos ela ia confiaria nele.

Confiança.

Essa era a palavra chave.

Se ele conseguisse conquistar a confiança dela, Ginevra logo estaria derretida por ele.

E que melhor maneira de fazer isso do que salvando a vida dela em batalha? Com certeza haveria várias oportunidades para tal coisa.

Contente com o resultado de suas deliberações ele se levantou, tirando sua armadura.

Seu sorriso se abriu mais quando ele notou que ela continuava a observa-lo. Era uma pena que a escuridão impedia que ela desse uma olhada melhor nele. Não importava, haveria outras oportunidades.

Pelo menos havia o consolo que ele conseguira atiçar a curiosidade dela.

A manhã seguinte seria um novo jogo. Ele teria que achar um meio de permanecer bem perto dela e continuar suas investidas sem parecer interessado demais.

Mesmo que preferisse negar, Draco começava a se divertir com tudo aquilo.

Era frustrante...E ao mesmo tempo um refresco em sua vida cheia de batalhas sujas e cansativas.

Um joguinho de gato e rato que ele começava a gostar, principalmente porque ele estava confiante que ia vencer.


A primeira coisa que Ron fez ao acordar foi levantar-se contra os conselhos da curandeira Pomfrey.

Sentia-se bem e não agüentava continuar naquele quarto. Não quando Hermione ainda corria perigo de sofrer mais uma tentativa de assassinato.

Abrindo a porta do quarto ele saiu o mais silenciosamente que conseguiu, andando pelos corredores frios do castelo.

Desde que a acordara algo fixara em sua mente: investigar o que ocorrera.

Não pouparia esforços para descobrir como alguém pode entrar no castelo, passando pelas sentinelas e guardas sem ser visto.

A primeira coisa que fez foi procurar o chefe da guarda, um homem sério de cabelos brancos e armadura gasta.

– Eu já lhe disse, meu senhor. Contei-lhe tudo que ocorreu. – insistiu o homem, pela terceira vez.

– Você está realmente me dizendo que não acharam nenhum rastro do invasor? Nada? Nenhuma marca na lama ou grama amassada por passos?

– Exatamente. A única coisa que encontramos foi um manto negro perto da muralha do jardim. Mais nada.

– Como isso é possível? Ele não pode ter simplesmente desaparecido!

– Procuramos o dia todo nas redondezas...Na floresta, em fazendas. Nada. E começamos a busca logo que lady Hermione gritou por ajuda.

Ron passou a mão livre pelo cabelo, confuso. Não fazia sentido. Ninguém desaparecia dessa maneira.

Ele observou o manto que o guarda lhe dera. Era apenas um simples pedaço de pano preto, encontrado jogado no chão. O assassino teria se despido? Mas por que?

– Há lendas, meu senhor, que falam de homens que conseguem ficar invisíveis...Magos que transformam pessoas em bichos...Os rapazes acreditam nisso e estão dizendo que a pessoa que invadiu o castelo tem poderes mágicos. Eu, nos meus trinta anos de serviço, nunca vi tal coisa. Mas nunca se sabe.

– Obrigado pela informação, senhor – agradeceu Ron, havia outro assunto que ele precisava abordar - Há outra coisa que preciso lhe falar...O rei me encarregou da segurança de sua noiva.

Os olhos do guarda se arregalaram, mais por insulto do que por surpresa.

– Mas, senhor, eu sou o chefe da guarda do castelo. Minha tarefa é proteger a corte, a família real...Fiz isso a minha vida inteira...E o rei não me informou de nada!

– Foi um pedido particular. O rei tem confiança em seu serviço, senhor. Mas no caso de sua noiva ele sentiu que era necessária uma vigilância constante e as suas tropas já tem muito com o que se preocupar.

– O rei já previa uma tentativa de assassinato em lady Hermione? – perguntou o chefe da guarda, ainda ofendido por não ter sido informado. – E não me avisou disso?

– Não, não. O rei sabia que havia riscos, mas não acho que ele iria partir se achasse que Lady Hermione corresse perigo imediato.

O homem apenas assentiu.

– Portanto, me encarregarei da segurança pessoal dela. – terminou Ron.

– Ordens são ordens – assentiu o guarda – O que desejas que eu faça, meu senhor?

– Preciso de dois sentinelas vigiando a porta dos aposentos da futura rainha e outro no telhado. Estamos lidando com um tipo escorregadio. Ah e... – A voz dele se tornou relutante, sabia que Hermione ia odiar a ordem a seguir – Ela não pode sair do castelo, não a deixe que fique exposta. Passeios no jardim, na cidade, mercado, floresta...Estão proibidos não importa o quanto ela insistir...E, confie em mim, ela vai insistir muito. Não permita. Não até que o assassino seja capturado e seu mandante também.

– O senhor tem certeza? Se me permite falar...Nem o rei conseguiu fazer isso. Lady Hermione sempre se mostrou irredutível nessa questão. Nunca deixou que a impedissem de fazer o que bem entendia.

Ron deu um pequeno sorriso.

– Ela nem notar� meu caro. Não se preocupe.

O cavaleiro ruivo tinha os seus meios, conhecia Hermione como a palma da sua mão e estava confiante que ela não mudara tanto assim desde que ele partira.

Sabia que havia algo que ocupava a mente dela por tempo suficiente: livros e estudo.

E agora estava procurando ela pelo castelo.

Ron levava muito a sério a promessa que fizera a Harry. Ele não poderia jamais desobedecer seu rei e melhor amigo, seu senso de lealdade grande demais.

E esse senso de dever que o impelia a esconder até de si mesmo a insegurança e seus sentimentos por Hermione. Queria evita-la, mas ao mesmo tempo não. Queria falar-lhe certas vezes, outras preferia ficar em silêncio.

Sentia-se confuso com o que passava e exatamente por isso resolveu se concentrar em apenas uma tarefa: proteger Hermione.

Uma coisa todos concordavam sobre ele. Ron podia não ser o melhor cavaleiro ou o mais habilidoso, mas ele era, sem dúvida alguma, o mais teimoso de todos.

Alguns serviçais lhe informaram que Hermione estava na cozinha, conversando com a cozinheira chefe e planejando as refeições do dia. Então ele seguiu o cheiro de lombo, ovos e hidromel.

Encontrou ela exatamente onde lhe contaram que estaria. Falava com uma mulher fina e sorridente, sua expressão séria como se sua tarefa de decidir entre peixe ou frango fosse a maior de todo o reino.

– Quais peixes temos, Madelin?

– Salmão, senhora. Fresquinho. Devo prepara-lo e quem sabe junto com algumas batatas?

Hermione pareceu considerar a opção com cautela. Quando ela fazia isso Ron não conseguia se controlar e abria um sorriso, a expressão do rosto dela era imperdível. Era difícil manter-se em distância segura e não beija-la.

“Preciso me concentrar. Parar de pensar bobagem.”

Sonhara com ela, depois daquele abraço na madrugada. Várias vezes se pegou ouvindo sussurros de “Eu te amo” apenas para se decepcionar e perceber que era apenas sua imaginação.

Preferindo escolher frango com legumes, Hermione se virou para sair da cozinha mas levou um susto ao encontra-lo na entrada do lugar, a esperando.

– Ronald? O que você está fazendo aqui? Devia estar repousando! Ainda está fraco...

– Eu decido se estou fraco ou não, obrigado – ele respondeu, sorrindo. – Estou me sentindo muito bem, agradeço sua preocupação.

Hermione ficara rubra ou era apenas sua impressão?

– Você devia estar em seu quarto, Ronald. Mas já é crescido e sabe o que é melhor para si – ela respondeu se recuperando – Agora, com licença, tenho muitas tarefas a serem completadas.

– Onde?

– Oras, que lhe interessa? – ela respondeu em um tom de curiosidade.

– Achei que já concordamos que eu seria a sua sombra. Meu dever é protege-la.

– Foi Harry que o prendeu a essa ridícula ordem, não foi?

– O rei quer que você fique segura.

– Poupe-me, Ronald. Ouvi essas palavras grande parte da minha vida, já as decorei. O combinado, na verdade, foi que não seriamos vistos mais juntos.

– Não, você queria isso. Eu ignorei. – ele sorriu.

Começavam mais um argumento, ao que parecia.

– Como sempre. – ela respondeu seca.

Sentiu um pingo de irritação, ela estava sendo uma completa ingrata!

– Se eu tivesse te ouvido, você estaria na cama agora, lutando contra um veneno desconhecido, morrendo! – ele exclamou chamando a atenção de alguns cozinheiros próximos.

– Isso não é o importante! Eu tenho tarefas a cumprir e não posso tê-lo me seguindo o dia inteiro, portanto me dê licença.

Ele não saiu da porta.

– Onde são essas tarefas?

– Deixe-me passar.

Era hora de mudar de tática, a atual não levaria a nada.

– Só me diga uma coisa: uma das suas tarefas envolve descobrir quem tentou te matar?

– Isso é obrigação da guarda do castelo, não minha.

– Talvez. Mas achei que você estaria interessada em me ajudar em algo. Por isso vim aqui.

– Achei que você tinha vindo aqui para me importunar.

– Também.

Ela revirou os olhos e ele continuou:

– Fui falar com o chefe das sentinelas e ele me disse algo que me deu uma idéia. Falou de lendas sobre feitiços e homens invisíveis. Então pensei: é a melhor explicação. O invasor usou magia para entrar no castelo.

Pronto, ali estava. Conseguira deixar Hermione interessada.

– Sim...O que você fala faz sentido! Como não percebi isso antes? – lá estava aquele rosto que ele amava tanto, iluminado pelo gosto do conhecimento – Provavelmente algum feitiço poderoso...Se descobríssemos o que ele usou, poderemos estar preparados para ele, caso tentasse novamente.

– Exato.

– No laboratório de Dumbledore haverá de ter algo que nos possa ajudar!

– Em falar naquele velho biruta...Como ele est�?

– Biruta? Dumbledore é tudo menos insano, Ronald...

– Eu sei, eu sei...Apenas um apelido carinhoso – ele sorriu.

Hermione lhe deu um olhar de reprovação mas não insistiu na questão.

– Ele desapareceu, mais uma vez.

– Ah... – Ronald sempre gostou do mago, lhe dava uma sensação de segurança e conforto toda vez. Parecia que Dumbledore sempre possuía a solução para todos os problemas. – Sinto falta dele.

Os dois ficaram em silêncio, entretidos com suas lembranças de juventude quando tudo era mais simples. Uma época onde saxões não eram uma ameaça, controlados pelas tropas bem treinadas do rei James. Onde Harry era apenas Harry, assim como Hermione.

Agora ele era o rei e não mais seu melhor amigo.

– Era isso tudo que queria falar-me? – perguntou Hermione, interrompendo os pensamentos dele.

– Não. Queria sugerir que você fosse nesse laboratório e encontrasse alguma coisa que pudesse ajudar.

Isso a ocuparia por um dia inteiro e tornaria mais fácil vigia-la sem que ela percebesse o plano dele.

– Já falei que tenho obrigações a cumprir e você está me atrasando. Por que não procura você mesmo alguma pista nos livros? Sabe ler, não sabe?

– Não tenho paciência. Você faz a pesquisa, eu corto cabeças, que tal assim? Sabe que não tenho nem um terço da capacidade sua de ler e entender aqueles livros.

– Não tenho tempo para isso.

Ele soltou um suspiro quando ela novamente tentou desviar e sair da cozinha. Agora todos os criados olhavam a conversa, curiosos em saber o que a futura rainha falava com aquele ruivo desconhecido.

– Hermione...Você só está fazendo isso para me contrariar. Sabe que eu estou certo. O que pode ser mais importante do que descobrir quem está colocando a sua vida em perigo?

– Ronald, não tenho tempo. Preciso verificar os jardins, ouvir aldeões...Enquanto Harry está ausente, eu cumpro os deveres dele. Eu cuido do castelo para que quando ele chegar ter seu merecido descanso.

– Não acho que ele vai ficar muito descansado se encontrar a noiva morta.

Foi a vez dela soltar um suspiro frustrado.

– Chega, isso não vai nos levar a nada e está atraindo atenção demais – ela sussurrou indicando de leve com a cabeça os rostos curiosos os observando – Sugiro um trato.

– Estou todo a ouvidos.

– Irei pesquisar no laboratório mas depois que terminar meus afazeres. Contente assim?

– Não.

– Você é impossível!

– E você é uma cabeça dura. Que tal você ir agora procurar alguma coisa em seus livros queridos e deixar suas tarefas para depois.

“Assim você acaba esquecendo dessa bobagem, compenetrada demais nos livros para pensar nisso de novo.”

– Quantas vezes preciso repetir que...

– Senhora, posso cuidar dos problemas mais urgentes – interrompeu uma voz tímida se aproximando com cuidado – Ninguém quer vê-la ferida e o jovem aqui tem razão.

Hermione se virou para cozinheira chefe, a olhando com surpresa. Ronald sabia que ela controlava a revolta, não devia ter gostado de não ter o apoio dos próprios criados.

– Madelin, agradeço sua sugestão mas...

– Ouça ela, Hermione. Pare de ser tão orgulhosa, por tudo que é sagrado! – o ruivo exclamou cansado da insistência dela.

– Orgulhosa? Eu...- ela soltou um suspirou frustrado – Está certo, vocês vencem. Me convenceram. Ainda que não concorde com isso.

Madelin sorriu garantindo que iria cuidar de tudo muito bem, Ronald soltou uma risada de triunfo e deixou que Hermione passasse. Piscou para a cozinheira, que ficou rubra e depois seguiu a noiva do rei.

Assim que Hermione teve certeza que estavam fora do alcance dos criados ela parou de andar e se virou para ele.

– Tem noção do que fez!

– Salvei sua vida.

– Condenou a todos, isso sim! Não lhe expliquei? Não bastaram meus apelos? Eu disse que não podíamos sermos vistos juntos! E você me aparece daquele jeito, na frente da cozinha real inteira, Ronald!

– Hermione, já te disse. Serei sua sombra.

– Basta-me uma, obrigada! Agora todo o castelo vai comentar nossa pequena discussão!

– Não foi uma discussão. E que eles falem, Harry não vai prestar atenção a fofocas de cozinheiras.

– Isso vai além da sua compreensão, não vai? – ela suspirou – Você não tem capacidade para entender como funciona Camelot.

– Está dizendo que eu sou burro? – ele levantou as sobrancelhas.

– Talvez esteja. Claramente você não vê a gravidade da situação. O que preciso fazer para que veja?

– Eu acho que é exatamente o contrário. É você que não percebe o perigo! Sua vida está ameaçada, Hermione, e você ignora! Age como se nada estivesse acontecendo!

Agora os dois gritavam, deixando se levarem pelo temperamento.

– Você quase morreu ontem, Ronald! Por minha causa. Não me diga que eu não sei do perigo! Estou bem ciente, muito obrigado!

– Então pare de ser teimosa e me deixe te proteger!

– Não preciso de proteção!

– Você poderia ter morrido, Hermione!

– Você também, Ronald!

­–Eu sou dispensável, você não!

Ela soltou uma risada forçada.

– Eu discordo. – ela suspirou – Mas chega. Não falaremos mais nada, estou cansada de discutir com você. Será que não pode respeitar meu desejo? Não quero mais vê-lo por perto!

– É isso, então? Minha presença a incomoda?

Hermione não respondeu, apenas abaixou a cabeça, olhando o chão.

– Aceitaria proteção de outro cavaleiro? Uma escolta de soldados?

– Chega, Ronald. Deixe-me em paz. Já concordei em ir ao laboratório, vou pesquisar sobre feitiços de camuflagem, como combinado. Não basta isso a você?

– É claro que não bastava, nunca iria. Ele queria muito mais, mas jamais teria. Então fez a única coisa que podia, assentiu.

Hermione virou se e foi embora, na direção do antigo laboratório de Dumbledore. O ruivo observou sua figura desaparecer de vista em silêncio.

Não havia mais um traço de esperança, agora estava certo que a confissão dela não passara de delírio febril.

Como Hermione poderia ama-lo se mal tolerava sua presença?

– Mas o que temos aqui?

A voz o assustou tanto que Ronald quase pulou. No instante que se virou para encarar a dona da voz, reconheceu imediatamente o nariz pontudo e o cabelo loiro esbranquiçado de Narcisa Malfoy.

– Não acho que fomos apresentados – a mulher sorriu dando-lhe a mão – Sou a esposa de sir Lucius Malfoy.

Relutantemente ele beijou as costas da mão esquelética de Narcisa.

– Ronald Weasley, filho do lorde Arthur Weasley II e da condessa Molina Weasley.

– Prazer em conhece-lo, finalmente. Agora...Perdoe minha intromissão, mas tenha paciência com uma velha com ouvidos afiados demais para o próprio bem...Você estava discutindo com sua esposa?

Ronald engasgou e suas orelhas ficaram em um tom avermelhado.

– A senhora está enganada. Não sou casado.

– Jovem demais, suponho. Então era sua noiva? Afeto?

– Não...Nada disso.

– Bem, garanto-lhe que se você pedir a mão da dama, ela aceitará.

– Me desculpe senhora, mas não tenho idéia do que está dizendo. Eu mal a conheço e...Não passo de um plebeu para ela.

A risada de Narcisa lhe deu arrepios. Hermione estava certa, os Malfoy eram cobras perigosas.

– Pelo contrário...Pelo contrário. Nunca me engano nesses assuntos, o coração dela já é seu.

– Sinto lhe informar que há uma primeira vez para tudo. Somos opostos, senhora. Na verdade, pode se até dizer que nos odiamos. – ele a informou.

Dizia a verdade, realmente achava que Hermione apenas matinha uma amizade com ele por pena ou por Harry. Talvez não chegasse a ponto de odiílo, mas certamente não era amor que sentia.

E mesmo que Hermione mostrasse sinais de afeição, ele com certeza não ia contar para aquela cobra. Ao contrário do que muitos acreditavam, não era tão burro assim. Não acreditava tanto nas teorias de conspiração de Hermione, mas não estava ali para correr riscos ou abrir seu coração para uma desconhecida suspeita.

– Eu iria atrás dela, jovem. Tenho certeza que a vi chorando pelos corredores. Ódio não traz lágrimas.

A nova informação o fez arregalar seus olhos. E Ronald encarou a loira intensamente, buscando provas que ela mentia. Afinal, não podia ser verdade, por que Hermione choraria?

No entanto, ele não conseguiu achar nenhum sinal de dúvida ou falsidade em Narcisa.

Quando não falou nada, Narcisa sorriu e se despediu, alegando que precisava ir. Ronald apenas assentiu e continuou parado onde estava.

Uma dúvida perigosa se estabeleceu em sua mente.

Deveria ir atrás de Hermione e descobrir o que a incomodava? Sentia-se culpado. Não teve intenção de magoa-la.

Mas se fosse atrás dela o que iria acontecer?

Passando a mão no cabelo, Ronald tomou sua decisão: pediria desculpas apenas e depois encarregaria algum soldado de confiança para protege-la.

Era o que devia ter feito desde o inicio.

Decidido, ele se dirigiu à torre onde o laboratório de Albus Dumbledore ficava.


N/A: Sorry pela demora, tive um bloqueio! Mas aqui está. Sei que não acontece muita coisa nesse capítulo, mas o 12 vai compensar isso. Lutas, confissões...Tá cheio de ação! hahaha

Obrigada por todas as reviews!

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