Capítulo 9



Capítulo 9


O homem sorriu, deixando a mostra seus dentes amarelos...Estava apenas esperando o momento certo...O perfeito alvo...O perfeito tiro. Não ia demorar agora...

A figura negra, agachada em meio a alguns arbustos, preparou sua besta, prendendo firmemente o dardo nas cordas da arma.

Enquanto isso o ruivo alto se distanciava do seu alvo.

Contente com a mira, a sombra se preparou para mais um sucesso. Mais uma missão bem sucedida e ouro em sua sacola.

Não ia demorar agora...


Quando Ronald começou a se afastar a reação de Hermione foi imediata. O parou pegando em seu braço e o forçando a virar.

- Como assim, promessa?!

Hermione tinha uma leve impressão de que essa promessa envolvia duas coisas: Harry e superproteção. A última não lhe agradava nada.

Não queria ser uma obrigação para ninguém e principalmente: não precisava de nenhum guarda costas.

E ia deixar isso bem claro para Ronald.

Mas não teve tempo.

Assim que ele virou, seus olhos arregalaram ao ver alguma coisa atrás dos dois e ele a agarrou, a virando e se colocando em sua frente.

Confusa, Hermione tentou se livrar dos braços dele que a seguravam fortemente. Mas não foi preciso muito esforço.

Um som agudo de uma flecha cortando o ar e atingindo carne humana foi ouvido e Ronald a soltou, caindo de joelhos no chão e colocando sua mão esquerda sob o lado de seu estomago.

- Fuja, Hermione... – foram suas últimas palavras antes de cair inconsciente aos pés dela.

Ela olhou, paralisada por alguns segundos graças ao choque, para Ronald, desacordado no chão.

Em seguida, se recuperando gritou por guardas. Gritou por ajuda enquanto se abaixava e colocava sua mão na testa de Ronald, medo tomando conta de si, temendo que ele estivesse morto.

Para seu alivio ele ainda respirava, mas sua testa queimava em febre.

Hermione olhou a sua volta, tentando encontrar quem era o responsável por aquilo. Entre alguns arbustos ao longe viu uma sombra se movendo.

Ficou na dúvida. Deveria ir atrás da sombra e deixar Ronald ali, sem ajuda?

- Guardas!! Guardas!! - gritou mais uma vez.

Ninguém veio.

De repente a sombra se levantou e em um movimento súbito saiu correndo, Hermione não pensou, saiu em seu encalço. A sombra agora se revelava um homem baixo, de vestes negras e com cabelos desarrumados quase carecas e sujos. Estava de costas para ela, a impedindo de ver seu rosto.

Ele corria rápido, era magro como um rato mal alimentando e Hermione estava em grande desvantagem, o vestido que usava a impedia de correr mais rápido. Cada vez mais ele se distanciava, se aproximando da muralha do castelo. Desesperada, tentou a única alternativa que lhe restava:

- Petrificus Totalus! - gritou, suas mãos na direção do homem que corria entre as plantas.

Usar magia sem varinha era arriscado e sem garantias, mas Hermione não tinha outra opção. Sentiu o poder do feitiço fluir em seu braço direito e chegar até as pontas de seus dedos. Uma luz azulada saiu e como uma flecha tentou atingir seu alvo. Mas errou.

O feitiço bateu em um arvore e desapareceu. O homem de vestes negras continuou sua corrida.

Esgotada tanto do exercício quanto do uso do feitiço, Hermione parou, buscando fôlego.

Ela observou atônita quando o homem chegou até a muralha de pedra do castelo e simplesmente desapareceu.

Atrás dela pode ouvir vários passos correndo e alguns gritos de surpresa. Os guardas tinham chegado, atrasados.


- Doze saxões sujos sem cabeça! Treze saxões sujos sem cabeça! E uma caneca de hidromel! Quatorze saxões sujos sem cabeça e uma caneca de hidromel!!

Era ainda inacreditável para Gina que alguém era capaz de cantar tão animadamente durante uma batalha como aquela.

Mas lá estava Sirius Black a provando errada.

Cantava como se estivesse em uma taverna com os amigos. A cada saxão morto por sua espada, mais alto de ele cantava.

Não só ela, como tantos outros, incluído guerreiros inimigos, procuravam evitar encontrar com ele no campo. Ele era insano. Completamente insano!

Não que Gina não achasse que ela mesma era também.

Quando a primeira leva de saxões colidiu com os soldados de Camelot, o inferno chegara antes do tempo.

Ela havia ficado paralisada de choque com tamanha violência que viu. Sangue, membros decapitados, gritos de ódio ou dor...

Queria sair dali, fugir para qualquer lugar, desde que os gritos parassem...Estava atordoada e perdida. Naquele momento concordou com Sirius, ela não ia sobreviver ali.

Foi aí que ela parou de pensar. Não havia tempo para tal luxo.

Foi empurrada, jogada na lama e quase pisoteada até se recuperar e apenas se concentrar em sobreviver.

Ao que parece tanto treinamento não a preparara para uma luta real, mas garantiu que ela sobreviveria o bastante para se preparar sozinha.

O primeiro a morrer pelas mãos dela não tinha nome. Não tinha nem rosto. Ela não parou para olha-lo. Só viu uma abertura entre seu escudo redondo e seu estomago. Ele caiu junto com suas entranhas.

Gina não teve tempo de garantir que estava morto, outro tomou seu lugar. Seu bafo de álcool e barba desarrumada se aproximando rapidamente.

Depois de se livrar de cinco e cortar o braço do sexto, os cavaleiros do topo da colina resolveram atacar. Agora que a leva mais violenta de saxões fora dispersada.

Desceram correndo com seus cavalos e armaduras, pisoteando o que quer que estivesse em sua frente.

Gina teve que saltar várias vezes do caminho para não ser esmagada ou empurrada pelos animais.

Não demorou para que os cavalos fossem abandonados ou por terem perdido quem carregavam ou por ferimentos que os tinham derrubado. Ainda havia cavaleiros montados mas a maioria agora lutava a pé.

O caos reinava, e ela perdera a conta de quantos tinha matado, quantos tinha ferido...Sua espada suja de sangue, seu rosto não tão diferente.

Sua armadura a empurrava contra a sua vontade para o chão e a cada golpe ficava cada vez mais difícil segurar sua espada e até seu próprio corpo.

Não achava que agüentaria por muito mais tempo.

Sirius Black ainda cantava, sua voz rouca e com o agora familiar tom de loucura. Antes de se defender de um golpe de machado, Gina se perguntou qual seria razão de Black ser daquela forma.Ele lutava como se não houvesse amanhã ou então como se o amanhã não importava.

Havia rumores de que ele enlouqueceria depois de ficar preso em uma prisão de um reino onde todos possuíam pele negra como a noite. Núbios, era como eram chamados. Seriam esses rumores verdadeiros?

Mesmo que não fossem, não havia dúvidas que Sirius Black possuía um passado negro e distorcido.

O saxão gritou algum xingamento em sua língua rude e derrubou Gina com um chute em sua barriga, fazendo a esquecer de Black e núbios.

Ela rolou para o lado, evitando o golpe de machado que quase atingira sua testa. Ainda no chão deu uma rasteira no inimigo e quando ele caiu, Gina enfiou sua espada no peito do homem. Ele parou de se mexer.

Respirando com dificuldade ela se endireitou, a espera do próximo atacante. E nesse momento notou, enfim, que seus cabelos, cortados na altura de seu queixo, amarrados fortemente e escondidos em seu elmo antes da fuga de Camelot, jaziam soltos e ela perdera seu elmo.

Não se lembrava de ter perdido o elmo...

Enquanto notava isso foi empurrada para frente, quase perdendo o equilíbrio.

Se virou rapidamente sua espada levantada, atrás da pessoa que a havia feito quase cair, pronta para enfrentar mais um saxão.

Não era saxão. Definitivamente.

Gina arregalou os olhos quando viu que se encontrava frente a frente com o rei Harry.

Ele também a olhava, mas diferente dela, com um misto de curiosidade e surpresa. Notando o cabelo ruivo e a face delicada do "soldado" a sua frente.

Não houve tempo para mais nada, Harry foi forçado a dar as costas para ela e voltar a lutar contra um saxão gigantesco que parecia bastante interessado em cortar Harry em pedacinhos e servir para seus milhares de filhos bastardos.

Gina também tinha sua própria sobrevivência para pensar quando foi atacada novamente.

Enquanto lutava, porém, só conseguia se perguntar se o rei a tinha reconhecido. Se ele percebeu que ela era uma mulher.

Se isso acontecesse...Seria forçada a voltar para Camelot e seus irmãos não seriam vingados.

Mas parece que isso não era o maior de seus problemas...

Gina sentiu uma dor terrível atingir sua nuca e sua visão falhou, escurecendo tudo a sua volta...


Harry retirou a vida do saxão do tamanho de um urso. O fazendo tombar no chão enlameado.

Feito isso virou rápido para trás, buscando o soldado que vira há alguns instantes atrás. A armadura desgastada e o cabelo ruivo não estavam mais lá...

Teve a impressão...Pensara que talvez...Seria possível?

Seria...aquele soldado...

- Eu cortar você como um porco, seu filho bastardo de uma...

O saxão caiu sem vida antes de terminar a frase, sua cabeça rolando no chão, misturando sangue e lama aos pés de Harry.

"Sem tempo para pensar nisso agora..."

Harry suspirou e continuou a buscar a vitória para Camelot.


Hermione observava em silêncio enquanto Ronald era atendido pela curandeira do castelo.

Depois da chegada dos guardas, Ronald fora carregado para um dos quartos vazios do Castelo, sendo colocado na cama.

Ele ainda fervia em febre e sua pele tinha um tom esverdeado que dizia a Hermione que havia algo de muito errado no dardo que o antigira.

A arma foi retirada do corpo dele o que revelou que era um dardo envenenado. Hermione suspeitara disso desde o começo, mas a questão era: de que veneno se tratava? Nem ela, nem ninguém pareciam capazes de reconhecer a substância.

- Não há nada que eu posso fazer, minha senhora. Não a menos que seja descoberto de qual antídoto precisamos. - informou a curandeira, saindo o quarto - Sinto muito.

Hermione agradeceu mesmo assim, fechando a porta do quarto.

Ela olhou para Ronald, arrependendo-se das palavras que tinha dito antes e desejando que pudesse falar com ele mais uma vez, e se desculpar.

Perguntava-se, principalmente, como alguém conseguira entrar em Camelot tão facilmente e simplesmente tentar assassinar a noiva do rei sem que ninguém o impedisse.

Havia guardas a cada cinqüenta metros na muralha, havia sentinelas que em outras ocasiões provaram-se eficientes.

Mas era verdade que nas outras ocasiões o assassino não conseguia desaparecer como fumaça em plena luz do dia.

Ela suspirou. Tantas perguntas sem respostas.

Ronald murmurou, delirando por causa da febre e ela se aproximou da cama.

Ele parecia tão frágil, ali...Sem sua armadura, sua espada...Sem sua atitude petulante. Ela sorriu fracamente, lembrando do momento que andaram juntos.

Por mais que não quisesse admitir, sentiu-se especial...por ele querer a protege-la. Ele havia salvado sua vida. O incrível cabeça-dura. E agora ele estava lutando contra um veneno desconhecido, por causa dela e da teimosia dele.

- Por que você fez isso, Ron? - ela murmurou, sabendo que ele não ia responder.

Ela mesma respondeu sua pergunta...Harry devia o ter feito prometer proteger Hermione.

Obrigado Ronald a se comprometer com a segurança sempre Harry a considerava incapaz de se proteger sozinha.

Ela não iria ser ingênua de acreditar que Ron possuía outro motivo além disso. Se Hermione estivesse certa e a promessa realmente fosse aquela, ele só estava cumprindo seu dever.

E graças a isso, ele estava...

Se o antídoto não fosse encontrado o mais rápido possível...

Ele...morreria.

Depois de tanto tempo se vê-lo ela iria o perder novamente e dessa vez sem retorno.

Ela olhou para o seu rosto pálido, desejando que ele voltasse a abrir os olhos.

Tudo tinha sido tão rápido...Em minuto discutiam, em outro ele estava caído em sua frente.

Se ao menos ela tivesse pegado o assassino...Ou sua besta, teria agora retirando, mesmo a força, a fórmula do antídoto.

Ronald se moveu, mexendo a cabeça de um lado para o outro. Febre tomando conta de seus movimentos também.

Como ela queria queria tocar seu rosto e dizer que tudo daria certo...

Ela se aproximou mais da cama, se inclinando perto do rosto de Ronald.

A porta do quarto abriu e Hermione rapidamente se afastou da cama.

- Sim? - ela perguntou, ainda se recuperando o susto.

- A senhora pode ir, eu tomarei conta dele - era Eloise, uma de suas damas de companhia. - Estou aprendendo a atender feridos, minha senhora, posso cuidar dele.

Hermione não queria ir. Não queria deixar Ron sozinho.

Qualquer rumor, qualquer comentário entre criados...

Ela forjou um sorriso, sabendo que se ficasse por muito tempo, todos iriam comentar...

- Obrigado, Eloise. Se houver qualquer mudança, imediatamente me... - ela parou, pensando melhor. - Imediatamente informe a curandeira.

- Sim, senhora.

Hermione fechou a porta, colocando a mão no rosto assim que teve certeza que ninguém estava por perto.

Ela quase fora pega fazendo algo totalmente indevido. E pior, ela pretendia fazer algo indevido. O que passara em sua mente para deixar-se levar de tal maneira?

Agora não poderia mais voltar, Eloise com certeza notara algo...Não poderia ver Ronald...

"Tenho que recompor...Ficar lá com ele não o ajudaria...."

Levantando a cabeça ela resolveu ajudar Ronald de uma maneira mais substancial.

Marchou até o laboratório de Albus Dumbledore.


A dor que pulsava em sua cabeça não era menor do que a irritação que sentia.

De alguma forma, estava deitada debaixo de lençóis e um travesseiro de penas, sem sua armadura ou sua espada.

Acordara com uma terrível dor de cabeça que só aumentou com sua confusão. Não tinha a menor idéia de onde estava mas o fato de estava apenas com uma camisola branca grande demais para ela, já bastava para não gostar nada de sua situação.

Não tinha idéia de como havia parado ali. Como seu rosto e cabelos havia sido lavados e as machas de sangue e machucados haviam sumido de seu corpo.

Será que toda aquela batalha havia sido um horrível pesadelo?

Gina olhou para os lados, notando que estava sozinha em uma tenda de guerra.

Isso provava, ao menos, que ainda estava perto do campo de batalha. E que nada do que havia passado fora um sonho.

Restava saber a como e por que fora trazia para lá. E o principal: quem. Inimigo ou aliado?

Ela observou mais atentamente seus arredores. Estava em uma cama improvisada no chão, seu equipamento posto ao lado. Havia uma mesa baixa de madeira a sua frente, e nela um jantar completo. Frango, frutas frescas, vinho...e até pratos e talheres!

Pelo luxo que possuía, a tenda não pertencia ao um saxão. E nem a um soldado normal de Camelot.

Estava em uma tenda de algum nobre.

Temia que esse nobre era ninguém menos que o rei, e que seu disfarce havia sido descoberto.

Por que outro motivo teria sido retirada do meio da batalha?

Um movimento de pano a chamou a atenção para a entrada da tenda. Por ela, um homem loiro de armadura negra entrou. Draco Malfoy.

Ele a encarou, com um sorriso, por um instante.

- Ah, finalmente acordou.

Gina instintivamente se cobriu mais. Não por medo dele, mas por achar que ainda havia uma chance de engana-lo quanto ao seu sexo...

- O que você quer? E como eu vim parar aqui? Estava ocupado matando um saxão antes de ser interrompido - ela forçou sua voz o máximo que pôde para que parecesse uma voz masculina.

Draco apenas riu.

- Ocupado? Não seria, ocupada?

"Bosta de dragão" ela xingou, lembrando da velha expressão que seus irmãos Fred e George usavam freqüentemente.

- Então você já sabe que sou mulher. - não era uma pergunta.

- É claro que sei. Perdoe-me mas seus dotes femininos são maravilhosos demais para não serem notados.

- O que em nome de Merlin isso quer dizer?! - ela quase gritou, não gostando nada do comentário.

- Nada. Só que você é muito bonita para ser um homem. - ele disse, dando os ombros, e acrescentando com um sorriso - Não gosta de elogios?

- Pode guardar suas palavras "bonitas" para si mesmo. Não tenho paciência nem interesse de ouvi-las.

Outra vez ele soltou uma risada. O som começava a se tornar irritante.

- Eu deveria ter percebido isso quando você foi recuperada de um campo de batalha se vestindo de homem. - ele concluiu em um tom de brincadeira.

- É, deveria. - ela respondeu seca. - Posso saber por que estou aqui, Malfoy?

- Ah, então você sabe quem eu sou.

- Sei. E você? Sabe quem eu sou?

O loiro pálido abriu um sorriso, mostrando seus dentes de um modo que vagamente lembrou Gina de uma cobra pronta para o bote.

Ela não gostou nada da associação.


Draco não se conteve e abriu um sorriso.

É claro que ele sabia quem ela era. Mas seria interessante para ele que ela soubesse disso?

- Que tal conversamos melhor enquanto comemos? Foi um dia cansativo, tenho certeza que você está faminta.

Ele observou Ginevra olhar dele para a mesa rica ao seu lado e novamente para ele. Ela continuava suspeitando de tudo aquilo.

Ia ser mais complicado do que ele previa.

- Não está envenenado, dou minha palavra – ele sorriu mais uma vez. Esperava que fosse um sorriso convidativo, parecia que não estava tendo sucesso nesse aspecto.

- E tua palavra vale para alguma coisa?

Ele não escondeu seu desgosto pelo comentário. Ela estava começando a testar a sua paciência. Draco era conhecido por várias coisas...Mas não por sua paciência.

- Aparentemente não. – ele respondeu, não fazendo esforço algum para esconder a irritação.

Surpreendentemente ela se levantou mesmo assim e sentou-se em uma das almofadas colocadas na frente da mesa. Acampamentos militares não tem cadeiras, para a irritação de Draco.

Ele seguiu seu movimento e se sentou também, no lado oposto da mesa.

Ginevra não perdeu tempo e começou a comer tudo que via em sua frente de um modo...nada educado.

Draco ficou entre claro nojo e surpresa ao ver ela comer com tanta ferocidade. Ele percebeu que a encarava por muito tempo quando ela levantou o rosto, interrompendo a destruição de um pedaço de javali.

- Se você continuar a me olhar desse jeito, seus olhos vão cair e talvez eu confunda eles com dois ovos. Então pare.

- Eu só... – ele pensou bem em suas palavras – achei interessante.

- O modo como eu estou comendo como um animal faminto?

- Precisamente.

- Mas eu não acho nada interessante você me encarando, então vá achar outra coisa para se distrair.

Draco revirou os olhos, começando a perder a já pouca paciência que possuía.

- Eu estou lhe oferecendo uma mesa rica de alimentos que nem metade dos soldados lá fora jamais vai conseguir até mesmo sentir o cheiro. Além de salvar sua vida, é claro. E esse é o tipo de agradecimento que recebo?

- Já comi melhor. E sobre salvar a minha vida...Isso ainda está para ser provado. Você ainda não me contou o que aconteceu na batalha.

- É bem simples, na verdade. Meus... – ele ia dizer “lacaios” mas se segurou – amigos a encontraram desacordada no campo de batalha. O cabelo foi um chamativo, você deve imaginar. Não só a cor como também o comprimento.

- E por que eles estavam andando olhando para o chão ao invés de lutar? – seu sarcasmo era claro.

Draco a odiou naquele momento. Apenas porque ela tinha feito uma pergunta esperta demais, apesar dele não querer admitir tal coisa. E ele agora tinha que gastar tempo para inventar uma desculpa.

- Estavam procurando sobreviventes, é claro. A batalha já tinha chegado a seu final.

Pronto. Ai estava. Duvide disso, ruivinha.

- Isso não explica porque eles me trouxeram para a sua tenda. Entre suas tantas tarefas, você cuida dos feridos também, por acaso? – novamente ela se fazia de inocente mas o sarcasmo era puro em seu tom.

- Eles podem parecer burros, veja bem. Mas eles sabem a diferença entre um homem e uma mulher. Notado isso, eles me procuraram.

- Buscando ordens de seu líder.

- Conselhos, seria o melhor modo de expressar. Eu achei melhor que você fosse tratada separadamente do resto do exército.

- E por que?

- Eu acho que isso é óbvio. Você era uma mulher.E ficar sozinha em uma tenda cheia de homens não era certo. Eu posso parecer um bruto para você, mas espere até conhecer alguns dos guerreiros desse acampamento. E além disso, eu sou um cavaleiro, afinal de contas. Defender donzelas, matar dragões...Faz parte do trabalho.

A ruiva revirou os olhos.

- Eu não acredito em uma palavra sua, Malfoy. Deixo isso já claro. Você quer alguma coisa. Eu sei disso.

Ele resolveu ficar em silêncio, preferindo observa-la melhor a começar uma discussão que não lhe traria nada.

Ela não era feia. Isso era uma ótima novidade. Mas também não era uma deusa grega. Aliás, seu rosto era bem normalzinho, tedioso até. Ele já esperava isso, nenhuma mulher estonteante iria em busca de morte em batalha. Estavam ocupadas casando e tendo filhos.

O cabelo ruivo mal cortado por uma espada era irritante, as sardas igualmente.

Assim que se casassem, ele mandaria que as criadas cuidassem disso. Ela teria que deixar crescer o cabelo e passar pó de arroz, como toda mulher da corte deve fazer, assim escondendo as irritantes sardas.

Seu corpo era fino e uma tábua. O que facilitou seu disfarce, mas não servia para parto. Um ou dois filhos no máximo e então ela não agüentaria.

Aparência analisada, ele partiu para refletir em sua personalidade.

Infelizmente, ela tinha uma.

Abria a boca demais e questionava demais para o gosto de Draco.

Ele ainda não sabia exatamente como conquista-la. Era claro que não seria sendo bonzinho.

Uma coisa ele estava gostando nela. Ginevra era um desafio. Um cavalo arisco que precisava ser domado. E Draco sabia que o melhor modo de faze-lo era mostrando que ele era quem mandava.

- Por que não vai contar para o rei ou quem quer seja que eu sou uma mulher?

Draco pegou algumas uvas e as colocou na boca devagar.

- E o que eu ganharia com isso exatamente?

- E o que exatamente você ganharia não contando?

Ele pegou mais uma uva, a saboreando antes de dar sua resposta com um sorriso.

- Companhia.

A ruiva pareceu enfurecida e levantou suas sobrancelhas.

- Que tipo de companhia você tem em mente? Eu não sou...

- Eu não disse que era. – ele a cortou rapidamente. Ela não era, é claro, pelo menos ainda não.

- Se não é isso, o que é?

Ele deu os ombros, sorrindo e pegando ainda mais uma uva. Gostava do gosto da fruta, era amarga e ao mesmo tempo doce. Um conflito interessante. Você nunca sabia o que saborearia.

- Pense um pouco. Se eu contar você vai embora com seu cavalinho e armadura enferrujada de volta para sua casa. Casa com alguém, tem filhos como toda a mulher faz. Alguns meses e todos esquecem o que aconteceu. E eu continuo matando saxões e comendo sozinho...Se eu não contar...Bem, meu tédio é diminuído com a sua companhia. É bom falar com alguém que não fede a estrume de cavalo.

- E eu?

- Que tem você?

- O que eu ganho com isso?

- Você não está em posição de querer algo, não é mesmo?

Ela foi muito mais rápida do que ele sequer suspeitava que ela fosse. Em um súbito ela passava por cima da mesa e estava com sua mão apertando o pescoço, aplicando força suficiente para incomoda-lo mas não para ameaça-lo de morte.

- E agora você não está na posição de respirar.

Ele riu, engasgando um pouco.

Usando força ao invés de rapidez ele segurou a mão dela e a obrigou a retira-la de seu pescoço. Ela rapidamente preparou a outra mão mas foi parada também.

E para imobiliza-la ainda mais a pressionou contra o chão, se colocando por cima dela.

Uma posição que ele gostaria de repetir futuramente, mas para outros objetivos.

- O que eu fiz para você, ruiva? Eu juraria que você me odeia – ele foi sarcástico. Se era assim que ela queria, que fosse.

- Me largue.

Ele pensou duas vezes. Para que? Ele podia domina-la agora, acabar com todo aquele joguinho. Considerando tudo...Sua mãe nunca disse que Ginevra tinha que ama-lo...Só que precisaria perder a...

O pensamento foi interrompido por um chute em seu estomago. Ele a largou, preferindo colocar as mãos no local atingido.

- Eu não sei o que você pretende com essa ladainha, Malfoy. Mas eu não vou ficar aqui para descobrir.

Ela se levantou e foi pegar suas coisas ao lado da cama.

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