BRUXA HERMIONE



CAPÍTULO IV

Bruxa Hermione


Quando chegaram em casa, Rony aterrissou calmamente nos jardins daquele magnífico sobrado, que agora era uma casa geminada. Hermione lançou um olhar desamparado para a própria casa, lamentando-se, mais uma vez, pelo infeliz esquecimento.

Tão logo Rony parou, Hermione desceu rapidamente da vassoura. Sentiu-se congelar de repente. A temperatura caía com o passar da noite, mas ela não sabia se era o tempo ou as circunstâncias que a gelavam. Como queria entrar em sua própria casa e livrar-se de Rony!

Cruzou os braços junto ao corpo e acompanhou-o até a casa deles. A casa deles! Hermione estranhou a idéia. A poucos metros de distância estavam seu quarto, sua cama, suas roupas, mas não havia como chegar até eles. Como aquilo era frustrante!

Rony destrancou a porta e Hermione hesitou.

_ Talvez fosse melhor eu verificar minha porta. Pode haver alguma maneira de entrar... As janelas...

_ Está com medo de mim? – perguntou ele, traindo sua exasperação. _ Acho que você é a mulher no mundo que tem menos a temer. Mas se quiser pode dormir na rua...

_ Não exagere, Ronald! Eu não tenho medo de você! – revidou Hermione. _ É que eu me sentiria mais confortável em minha própria casa.

Ela o encarou e descobriu uma amedrontadora verdade. Não tinha medo dele fisicamente, mas sim emocionalmente. Dele e de si mesma.

Ouvira falar que as mulheres seguem certo padrão ao escolherem homens. Apesar de não ter acreditado e de ter jurado que mudaria sua preferência, admitiu que ainda se sentia muito atraída por Ronald Weasley...

O destino trabalhava contra ela. Não precisava de Rony. Não precisava de ninguém. Sua vida estava muito bem, obrigada. Seu trabalho no Ministério era tudo com que sonhara, construíra um lar para si e era perfeitamente capaz de andar sobre os próprios pés. Tinha amigos; poucos, mas verdadeiros.

Estava decidida. Naquela noite talvez não fosse possível evitar a presença dele, mas, a partir da manhã seguinte, trataria de vê-lo o menos possível. Não seria difícil. Viveram tão próximos durante duas semanas sem nunca se encontrarem. Com o passar do tempo, esqueceria completamente como se sentia em seus braços...

_ Mione, está me ouvindo?

Ela o olhou e fez que sim, apesar de não ter a mínima idéia do que ele havia dito, tão imersa estivera em suas preocupações. Como se percebesse isso, ele repetiu:

_ Eu disse que, sem dúvida, você se sentiria mais confortável em sua casa. Mas quantas vezes você já dormiu sob o mesmo teto que eu? – disse ele se referindo ao passado. _ A minha casa é uma bagunça, pode estar certa, mas acenderei a lareira, lhe darei alguns cobertores e deixarei que durma em paz.

_ Ah, Rony! Éramos crianças! E, além do mais... – ela não terminou de falar o que pensava... Poderia dar-lhe uma outra impressão.

Como se estivesse lendo seus pensamentos, Rony a pegou nos braços e a colocou do outro lado do corrimão.

_ Faça como quiser. – disse com impaciência. _ Além do mais nunca ficamos totalmente sozinhos, não é? – ironizou. _ Vou entrar, está frio aqui.

_ Odeio quando você usa a força pra me manipular! – exclamou furiosa. Aquilo bastava para reforçar seu juramento. Porém, para sua humilhação, Rony nem sequer a ouvira. Já tinha entrado e fechado a porta.

_ Droga! – murmurou entre os dentes. _ Que noite! Que homem! Insensível! Grosso! Idiota!

Sentiu vontade de esmurrar os painéis da porta até arrebentá-los, porém controlou sua fúria, pois de nada adiantaria...

Mas é claro que não deixou de tentar sacudir a porta, desviando-se do bolo esparramado pelo chão. No entanto, ao fazer isso, a porta a sacudiu de volta. A sacudidela foi tão forte que ela caiu sentada sobre a massa de bolo espalhada no chão.

Xingando palavrões e impropérios, ela deu a volta na casa para inspecionar as janelas e tentar abri-las. Seu arrependimento foi maior ao tentar fazer isso... Ao tocar uma das janelas recebeu uma onda de choque tão grande que a arremessou no jardim vizinho. Sorte que não era fatal.

Agora, ela não se parecia nem um pouco com a garota controlada que era na realidade. Levantando-se e empinando o nariz, ela sacudiu a poeira e a massa de bolo das roupas. Respirou fundo e procurou controlar-se.

_ Bem, pelo menos eu sei que um ladrão também não poderia entrar. – disse com um suspiro indignado. Olhou de novo para a janela fazendo uma careta.

Sentindo-se subitamente deprimida, arrastou-se para a frente da casa e subiu os degraus que levavam à porta de Rony. Quando bateu, ouviu-o gritar de dentro:

_ Pode entrar, está aberta!

Entrou, pé ante pé, como um bruxo em território inimigo.

Rony não evitou arregalar os olhos quando a viu. A mulher parada no meio da sua sala definitivamente não era sua doce Hermione. Nem tão doce assim, mas... Enquanto estivera ocupado massageando seu joelho, alguma força demoníaca entrara no corpo dela. Só podia ser isso... Não havia outra explicação; os cabelos femininos estavam desgrenhados e arrepiados, havia sujeira por todo o rosto, os dentes cerrados e as pupilas dilatadas. Ela tremia e fumaça saía de sua boca. A qualquer momento ele esperava que a cabeça dela começasse a dar voltas...

_ Mione, você está bem?

Assim que as palavras saíram, Rony percebeu que seria melhor que não tivesse falado, pois ele nem estava preparado para correr. Sua sorte é que ela estava desarmada, senão lhe lançaria uma azaração...

_ Não conseguiu entrar, presumo – disse Rony cautelosamente.

_ Devo lhe agradecer por me oferecer um lugar para passar a noite.

_ Deve? – perguntou ele não resistindo em provocá-la. _ Ou quer?

_ Está bem, eu quero agradecer-lhe. Mesmo sendo sua culpa eu estar aqui.

_ Sua gratidão realmente me comove. “Culpado” é meu terceiro nome. – ele respondeu fazendo uma careta.

_ Olhe, Rony, não leve a mal. Mas há algo em você que me enerva, que me obriga a lembrá-lo o tempo todo de que a culpa é sua.

Hermione não sabia a quem tentava convencer, mas não estava funcionando. Rony estava sentado no sofá, massageando o joelho e ela teve de reprimir o impulso de fazer-lhe um carinho ou dizer-lhe uma palavra meiga.

_ É eu sei. – ele respondeu – Desde os tempos de escola... Talvez agora seja por causa de todas as noites em que não a deixei dormir. – sugeriu. _ O velho instinto de vingança.

_ Ora, Rony. Não seja ridículo.

Ele ficou um pouco em silêncio, e depois acrescentou com o sorriso mais encantador e charmoso que Hermione jamais vira:

_ Ou talvez seja porque você já sabe que não é capaz de resistir a mim, mas está decidida a não se entregar sem luta. Típico de Hermione Granger!

_ Você é um arrogante, Ronald Bilius Weasley! – declarou ela, com as mãos nos quadris. _ Não me sinto nem um pouco atraída por você. Esta é a verdade.

_ Não? – murmurou ele. _ Tem certeza?

Estava mesmo interessado em saber. O desejo, o amor, a alquimia sexual eram fenômenos inexplicáveis. Quem poderia dizer o que leva uma pessoa a se sentir atraída por outra? No entanto, tinha a nítida sensação de que ela estava mentindo. Esperava que sim.

_ Você não é meu tipo. – afirmou Hermione.

Não sabia por que aquilo soara como uma mentira. Mas era verdade! Rony a aborrecia.

_ E qual é seu tipo, Hermione? Búlgaros, por acaso? O que você não gosta em mim?

Agora foi a vez de Hermione arregalar seus olhos castanhos. Não acreditava que Rony ainda se lembrasse de Vítor Krum. Já estava preparando uma resposta à altura, no entanto, vendo-o sentado em frente ao fogo, os belos traços masculinos iluminados pela luz dourada, era difícil até levantar alguma objeção. Ele era bonito e muito agradável quando queria...

_ Vamos, estou esperando – disse ele. _ Do que você não gosta em mim?

Hermione suspirou exasperada. Mas o que era aquilo agora? Um jogo da verdade?

_ É dessa masculinidade agressiva – murmurou ela, encostada na parede. Era muito mais que isso, mas não entraria em detalhes. _ E sua altura. O jeito com que me manipula... Não gosto.

_ Em outras palavras, você se sente ameaçada – concluiu Rony, com um sorriso bem humorado.

_ Ora, é claro que não. Nenhum homem me ameaça. Você, mais do que ninguém, deveria saber que sei me cuidar. Só que...

_ Sim, convença-me – disse ele interrompendo-a. _ Por que nós dois sabemos que não estamos falando de ameaça física, Mione... Você sempre foi a melhor em tudo! Mas por que não me deixar ser melhor que você em alguma coisa?

Hermione sentia-se acuada.

_ Estou falando de físico, sim. Como quando dançamos. Senti que não combinamos fisicamente, assim como...

_ Continue – os olhos azuis a analisavam, deixando-a nervosa.

Hermione levantou as mãos, confusa, lembrando-se de como se sentia bem nos braços dele. Não sabia por que persistia naquele assunto perigoso.

_ Isso é absurdo. Vamos esquecer.

_ Certo. – concordou Rony.

Esqueceria por enquanto. Mas Hermione Granger que se preparasse. Iria minar suas barreiras uma a uma, até que ela descobrisse que não sabia de tudo e que ele poderia lhe ensinar algumas coisas...

_ Venha até aqui se aquecer – ofereceu. _ Prometo que não vou manipulá-la. – Pelo menos não do jeito que ela disse que não gostava, pensou consigo.

Hermione hesitou. Mas a cena formada pelo fogo crepitante, a lareira, o sofá... E Rony (incluiu a contragosto), era muito atraente. E estava com frio. Com mais frio do que sentira na rua. Saiu de onde estava, encostada na parede, e sentou-se no sofá estendendo as mãos para o fogo.

_ Está com frio, não é? - perguntou Rony.

Hermione fez que sim. De repente, Rony enlaçou-lhe os ombros e a trouxe para junto de seu corpo rijo e quente.

_ Não! - gritou ela, se afastando.

_ Calma, só estava tentando aquecê-la, antes que pegue um resfriado. Que tal um bom banho quente? – ele ofereceu pensando qual seria a reação dela quando se olhasse no espelho...

_ Não, obrigada. – respondeu ela olhando-o pelos cantos dos olhos.

_ E o que me diz de uma xícara de chá ou chocolate quente?

_ Parece uma boa idéia. Aceito o chocolate. - admitiu Hermione.

_ Espere um pouco.

Rony foi mancando até a cozinha, e Hermione o observou, corando de arrependimento. A não ser que ele soubesse fingir muito bem, ela havia mesmo machucado sua perna. Seu joelho, corrigiu-se.

Ficou alguns minutos perdida em pensamentos, recordando os eventos da noite. Perguntava-se onde estaria Julie, e se tinha dado tudo certo entre ela e Sam.

Tinha gostado de Sam. Parecia um tipo mais indicado para ela do que para Julie. Ou melhor, o tipo que elegera como mais conveniente. Sua amiga era extrovertida e alegre. Um homem tímido não parecia fazer seu estilo. Mas Hermione sabia que poderia se sentir bem com ele, depois do desastre que fora seu breve relacionamento com Rony. Se é que um beijo pudesse se chamar de relacionamento.

Rony demorava a voltar. Hermione suspirou e foi até a cozinha, onde o encontrou sentado, massageando o joelho. Nem reparava no leite que fervia no fogão e já ameaçava derramar.

_ Como está o joelho?

_ Está realmente interessada? - murmurou ele, olhando-a demoradamente.

Hermione fez que sim. Interessava-se mesmo. Compreendeu que não era só porque fora a causadora do ferimento. Estava muito interessada em saber dos últimos anos que passara longe de Ronald Weasley.

_ Bem - começou ele -, acho que está um pouco inchado. _ Passou por três cirurgias, e ainda tenho problemas com ele. Se tivesse me prevenido, teria tentado cair sobre o joelho direito. Está em melhor estado.

_ Sinto muito -- disse Hermione, sinceramente. -- Podemos fazer alguma coisa? Quero dizer, não gostaria que eu o levasse a um hospital?

Rony sorriu.

-- Já não tivemos essa conversa hoje? - sacudiu a cabeça. -- Não, foi o contrário. Eu me ofereci para levá-la ao hospital quando bati em suas costas com a escada.

Hermione esboçou um sorriso.

_ Então, acho que é minha vez de pedir para você tirar... - calou-se, inconformada com o que esteve prestes a dizer.

_ A calça? - completou ele, observando com prazer o rubor que tingiu o rosto de Hermione. _ Para falar a verdade, eu gostaria de ver o aspecto desse joelho. Poderia subir e pegar uma bermuda? Está na gaveta superior da cômoda em meu quarto. Acho que é melhor eu não subir as escadas agora.

_ É claro - prontificou-se Hermione, satisfeita por poder ajudá-lo. Sentia-se cada vez mais culpada.

-- Cuidado com o material espalhado - gritou Rony, enquanto ela se desviava de baldes, latas e ferramentas amontoados ao pé da escada.

_ Está bem! - respondeu ela. Ao chegar ao quarto, olhou ao redor com curiosidade.

Rony tinha razão. A casa estava uma bagunça. Mas não era só isso, os móveis eram modernos e frios. Nada daquilo era de sua conta, repreendeu-se, enquanto vasculhava a gaveta da cômoda. Encontrou uma bermuda cinza e voltou correndo ao andar de baixo.

Corou violentamente quando viu que Rony já tinha tirado a calça, e segurava uma toalha sobre a cueca. Disse a si mesma que era uma mulher adulta, que ele se cobrira, que não havia motivo para estar constrangida. Mas estava.

Porém, esqueceu o constrangimento no momento em que viu o joelho inchado de Rony. A rótula estava cercada por cicatrizes, que comprovavam as cirurgias que ele mencionara. Hermione agachou-se imediatamente e ajudou-o a subir a bermuda pelas pernas. Depois, virou-se para o fogão, enquanto ele terminava de vesti-Io.

_ Você está usando que poção? - perguntou por cima do ombro.

_ Várias delas. Tenho guardadas para ocasiões como esta.

_ Vou preparar o chocolate - murmurou, voltando-se com alívio para o fogão.

_ Vamos nos sentar em frente ao fogo. – Rony levantou-se.

Hermione o seguiu, olhando com curiosidade para a bengala que usava para apoiar-se. Sentiu-se menos culpada. O ferimento era sem dúvida um problema que não havia sido causado por ela, e não valia a pena ficar se martirizando por ter provocado uma recaída. Mas tinha que admitir que estava preocupada.

Sentaram-se em frente à lareira e Hermione passou a Rony uma xícara de chocolate.

_ É bonito, não é? - comentou ele, com o olhar fixo nas chamas, enquanto provava a bebida quente. _ Tem todas as cores das folhas de outono. Adoro esta época do ano.

_ Eu também - concordou Hermione, distraidamente.

_ Está vendo? - disse Rony, piscando. – Temos algo em comum.

Hermione não fez comentários. Não estava interessada em encontrar pontos em comum com Rony.

Olhou ao redor da sala. Tudo parecia ainda por terminar. Lençóis cobriam as janelas. Os móveis definitivamente não combinavam com a casa. A decoração estava péssima.

Rony entendeu seu olhar e deu risada.

_ Eu sei, eu sei... Minha mãe vive dizendo que falta um toque feminino. Mas não tenho quem me ajude.

_ Acha que sou cega? - perguntou ela, incrédula. _ Vi hoje na festa um bando de mulheres que ficariam satisfeitíssimas em dar palpites em sua decoração.

Ele sorriu, modesto.

_ Não achei que tivesse notado.

_ Notado o quê?

_ Como sou popular entre as mulheres. Ficou com ciúme?

_ Não seja ridículo! É claro que não! - respondeu ela, rápido demais. Claro que sentia ciúmes, mas não diria isso a ele. Lembrou-se de como não gostara do interesse que ele demonstrara por Julie. Perturbada, resolveu mudar de assunto.

_ Por que escolheu esta casa antiga?

_ Foi da minha família no passado. Mais precisamente da família da minha mãe. Eles haviam vendido para conseguir grana e eu a comprei agora.

Rony dirigiu-lhe seu melhor sorriso desamparado.

_ Diga-me uma coisa, Mione. Não quer me ajudar com a decoração quando eu tiver terminado a reforma? Não tinha idéia de como minha mobília era horrível. Agora estou envergonhado.

Era uma mentira descarada. Rony tinha herdado uma magnífica coleção de móveis antigos da tia Muriel, que pretendia pôr em uso assim que terminasse a reforma. Eram móveis de imenso valor sentimental para ele. Alguns tinham pertencido a seus tataravôs.

Hermione sentiu-se imediatamente constrangida, sentindo que não tinha o menor direito de fazer críticas. O jeito com que Rony decorava a casa era assunto dele.

_ Vamos, Hermione - insistiu, depois que ela não deu resposta. _ Você mora bem ao lado. Não vai lhe custar muito, apenas atravessar o corredor e dar algumas opiniões.

_ Talvez - concedeu Hermione, não querendo assumir nenhum compromisso definitivo com ele.

Rony sorriu, como se ela lhe tivesse concedido um favor exclusivamente pessoal.

_ Obrigado -- exclamou com um sorriso de gratidão. Hermione retribuiu o sorriso, mas não se sentia à vontade. Tudo parecia uma trama para envolvê-la mais e mais na vida dele. Tudo bem, eram amigos. Mas amigos que nunca se falavam. Um sexto sentido lhe dizia que deveria se manter só na condição de vizinha, se tivesse o mínimo de bom senso.

Tudo acontecia rápido demais. Em apenas uma noite, Rony tinha entrado em sua vida novamente como uma lasca de madeira que entra na pele e recusa-se a ser removida. E era isso que a assustava. Agora estava propondo que ela decidisse sobre a decoração de sua casa.

_ Como machucou o joelho? - perguntou, sem pensar. Rony adorava o quadribol e agora já não podia competir profissionalmente. _ Tudo bem se não quiser responder.

_ Sem problemas. – respondeu ele. _ Um balaço o atingiu e ele quebrou em três partes. Tentei retornar, mas outro acidente piorou tudo. Daí o medibruxo disse-me que eu teria de abandonar a carreira, caso contrário os danos se tornariam irreversíveis.

- Entendo - murmurou Hermione, comovida por aquela confissão. A lembrança deveria ser dolorosa para ele.

_ Quanto a casa, pretendo trazer minha futura esposa para cá -. Anunciou ele, fazendo com que Hermione esfriasse por dentro.

Então ele devia estar noivo! Antes que pudesse continuar, e sinceramente não sabia se queria ouvir mais, ele prosseguiu:

_ Na verdade eu queria a casa inteira. Porém, quando voltei para a cidade, você já havia ocupado a outra metade. Mas eu não sabia que era você. – emendou.

Hermione ficou consternada. Adorava sua metade da casa, mas agora sentia que não tinha direito de habitá-la. Mais uma vez Rony lhe inspirava o sentimento de culpa. Mas por quê? Afinal de contas, não tinha roubado a casa. Ele podia ter voltado e a comprado antes que as duas metades tivessem sido colocadas à venda.

Mas talvez ele não tivesse dinheiro, então. Mas isso era culpa sua? Procurara pela cidade inteira antes de encontrar a casa perfeita. Apesar das razões nostálgicas dele, sabia que sua personalidade tinha mais em comum com aquele antigo sobrado.

Terminou de beber o chocolate com um gole só e pousou a xícara sobre a mesa. Como queria que aquela noite terminasse logo!

-- Nossa! - exclamou Rony. - Acho que estou sendo um péssimo anfitrião. _ Está com fome ou de repente ficou louca por chocolate quente?

_ Nenhum dos dois. Só quero mesmo dormir.

_ E estou sentado em sua cama, certo?

_ Talvez fosse melhor se eu dormisse no quarto, sugeriu Hermione, olhando para a perna dele. Parecia sensato, já que Rony podia ter dificuldade em subir as escadas. Aparatação estava fora de cogitação.

_ Comigo? – Rony tinha um brilho maroto nos olhos azuis.

_ Não! Ah, você não tem jeito mesmo, Ronald! Só achei que seria mais cômodo você dormir aqui do que subir para o quarto, por causa de sua perna. Certamente não sugeri que dormiria com você.

Teve vontade de perguntar o que a noiva dele acharia da idéia. Lembrou-se da mulher na festa que o chamara de destruidor de corações.

_ Que pena. Por um instante tive esperanças. – disse ele, corando, mas rindo-se por dentro.

-- Pois pode perdê-las - disse ela, retomando com alivio a sua antiga opinião sobre Rony. Cometera o erro de deixar que a compaixão a aproximasse dele.

_ Tudo bem, eu desisto. Vou buscar algumas roupas de cama para que você possa dormir. E não se preocupe, eu conseguirei subir as escadas. Estou acostumado.

Hermione tinha suas dúvidas, observando enquanto ele se levantava, apoiando-se na bengala. Mas não iria mais se oferecer para dormir em cima. Esperou num silêncio tenso. Logo ele voltou, trazendo lençóis, cobertores e um travesseiro que tirara de um armário embutido no corredor, usando a varinha para fazê-los levitarem e seguirem o caminho até Hermione.

_ Eu mesma faço a cama - disse Hermione, querendo livrar-se logo dele. Rony encolheu os ombros.

_ Como quiser.

Mas essa atitude também não deu certo. Enquanto estendia a roupa de cama sobre o sofá, Hermione sentia o olhar dele percorrendo seu corpo. A tensão no ambiente crescia. Ela se sentia como uma adolescente, desajeitada e tímida.

Quando finalmente terminou, sentou-se e tirou os sapatos e a jaqueta. Já ia entrar debaixo dos cobertores, quando Rony segurou seu braço delicadamente.

_ Não pode se deitar toda vestida. Vamos, me ajude a subir. Vou dar-lhe algo confortável para dormir. Aliás, você deveria tomar um banho quente também – insistiu novamente tendo agora a certeza de que ela não tinha a menor idéia de como estava sua aparência.

Hermione concordou, principalmente porque não tinha mais paciência para discutir. Levantou-se e, para seu constrangimento, Rony abraçou-lhe os ombros para apoiar-se, quando começaram a subir as escadas. Sentiu de novo o magnetismo e a força daquele corpo junto ao seu e não via a hora que terminassem a lenta escalada pelos degraus.

Quando chegaram ao quarto, Rony abriu uma gaveta e entregou-lhe uma enorme camisa de pijama. De repente, sem o menor aviso, ele pousou os lábios nos dela. Foi um beijo carinhoso, suave como um entardecer de outono, mas que incendiou Hermione por dentro. O orgulho impedia que o tocasse, mas não teve coragem de resistir à delícia daquele contato.

Foi ele quem se afastou primeiro.

_ Boa noite, Mione. Amanhã será um dia melhor, prometo. Sem bolos estragados, perseguições na rua, nem guarda-bruxos. Não precisará nem aturar um velho amigo que insiste em lhe tirar o sono. Desculpe pelo beijo, mas não resisti. Você não tem idéia do quanto está linda...

Hermione levantou os olhos. Buscou algo para dizer, mas não encontrou. Finalmente, nos recônditos de sua mente, algumas palavras se juntaram.

_ Boa noite, Ronald.

Caminhou até o banheiro corno uma sonâmbula. Só depois de ter fechado a porta firmemente se permitiu tremer.

Ficou assim alguns instantes, de olhos fechados, ainda sentindo o calor dos lábios dele sobre os seus. Fora apenas um beijo, disse a si mesma, que a pegara tão desprevenida que nem tivera tempo de reagir. Esse erro não voltaria a se repetir. Como Rony mesmo indicara, no dia seguinte tudo estaria teminado.

Não sabia por que aquela idéia lhe causou melancolia.

Convencendo-se de que o cansaço a impedia de raciocinar direito, resolveu se olhar no espelho...

Em seu quarto já muito bem trancado, Rony gargalhava até não poder mais, depois que escutou os gritos femininos dentro do banheiro. Já esperava por isso, afinal, tinha uma irmã. Ah! A vaidade feminina era algo assombroso. Nunca estavam satisfeitas com sua aparência... Mas ele tinha dito a verdade quando a elogiara. Ela era mesmo linda, principalmente porque não tinha consciência disso e não era uma mulher artificial. Isso era o que ele mais admirava nela, além de sua coragem e inteligência.

Enquanto andava até o banheiro para tomar um banho, às gargalhadas, imaginava o corpo feminino e gracioso sob o folgado camisão do pijama. Tinha sido um dia e tanto. Não sabia que conseqüências teria, mas estava ansioso para ver o que o dia seguinte lhe reservava. Hermione era uma verdadeira bruxa, pois havia realmente enfeitiçado seu coração. Bruxa Hermione...


******************************
Taí o 4º capítulo... Espero que gostem... Achei melhor colocar o Rony um pouco mais decidido e menos envergonhado, pois (espero que algm mais tenha tido a mesma impressão), o bruxo ficou um tanto mais “solto” depois de seu ardente namoro com a Lilá Brown no 6º ano. E após alguns anos sozinho, deve ter dado suas “voltas” por aí...

Acabei de observar que a fic tem 35 leitores, mas só uma comentou... *Triste*...Vou tentar responder a todos os coments (com bastante sacrifício... rs). Espero que minhas leitoras da fic “A irresistível força do amor” venham pra cá comentar.

☻Karolini☺: obg pelo coment... segue mais um cap. Nomes de leitoras que vi: Pah Potter, Andréia Granger, Fernanda Alves de Campos♥
♥Minhas leitoras do ORKUT♥: Quando Beth sair da semana de provas deve postar por lá... Bjks a todas!

*Desaparatando*

Aeshma








Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.