NA GRUTA DO LEÃO



CAPÍTULO III

Na gruta do leão


Hermione afundou as mãos nos bolsos da calça, desejando ter trazido um agasalho mais quente. O ar frio penetrava no brim de sua jaqueta. Para se distrair, olhava para as casas que passava, algumas delas com belos jardins e vitrais decorando portas e janelas.

Respirou fundo. Logo a caminhada a aqueceria. Absorta no ritmo constante dos próprios passos, prosseguiu pela rua fracamente iluminada.

Percebeu, de súbito, que estava sendo seguida. Ouviu passos duros se aproximando mais e mais rápido. Sabia que deveria virar-se e ver quem era seu perseguidor. Instintivamente levou a mão ao bolso traseiro da calça, mas descobriu, apavorada, que sua varinha não estava lá.

Gemendo baixinho e pensando no que mais lhe faltava acontecer naquela noite, Hermione lembrou-se de lobisomens e sentiu um pavor infantil. A lua estava cheia. Apressou o passo tentando desesperadamente se convencer de que a perseguição era fruto de sua imaginação. Devia ser só alguém com pressa de chegar em casa.

“Tenho lido muitos livros horripilantes”, pensou ela, procurando tranqüilizar-se com essa idéia. Teve a impressão de que a pessoa que vinha atrás dissera algo, mas seu coração batia com tanta força que não sabia se realmente ouvira bem. Sua mente trabalhava a mil...

Então, uma mão a agarrou pelo braço e a virou. Hermione, que já estava alerta por ter esquecido sua varinha, deu um giro completo e atingiu seu perseguidor com um piso certeiro no pé e, em seguida, o colocou de joelhos com um demolidor chute na perna.

Em vez de fugir como deveria, Hermione ficou parada saboreando sua sensação de triunfo. O homem gemeu de dor, sem saber qual parte de seu corpo atender primeiro.

_ RONALD! – gritou ela arregalando os olhos quando o reconheceu. _ ESTÁ LOUCO ME PERSEGUINDO DESSE JEITO? QUASE ME MATOU DE SUSTO!

_ E VOCÊ, O QUE PENSA QUE FEZ COMIGO? – retrucou ele, massageando os pontos doloridos. – QUASE ME MATA DE PANCADA! VOCÊ É UMA ARMA AMBULANTE, HERMIONE! DEVIA ANDAR COM UM CARTAZ AVISANDO A POPULAÇÃO NORMAL QUE CORRE RISCO DE MORTE CASO SE APROXIME DE VOCÊ! NÃO SEI POR QUE RAIOS FIQUEI PREOCUPADO AO TE VER SAIR ANDANDO POR AÍ SOZINHA...

_ NEM EU! ACHO QUE VOCÊ DEVE TER TENTADO FAZER ALGUMA BRINCADEIRA ESTÚPIDA ME SEGUINDO SÓPRA VER SE EU FICAVA COM MEDO...

_ Eu mereço isso? – perguntou Rony, revirando os olhos para o céu escuro. A lua cheia estava agora encoberta por densas nuvens. _ VOCÊ DEVE ESTAR LOUCA! - grunhiu ele fazendo uma careta de dor.

As varandas das casas ao redor deles se iluminaram. Um homem de camisolão e gorro gritou de sua porta:

_ CHAMEI ALGUNS GUARDIÕES, SEU PILANTRA! É MELHOR DEIXAR A MOÇA EM PAZ!

_ INFERNO! – exclamou Rony atônito, resolvendo baixar o tom de voz. _ Será que esse homem é cego? Não viu que você quase me matou? Devia estar preocupado comigo – resmungou ele fazendo caretas de raiva e dor. _ Desde que tentei te ajudar só tive problemas. Por que, pode me dizer?

Hermione não sabia se ria ou se chorava. Nocauteou um defensor e outro aparece do nada. Fora que Rony estava exagerando, como sempre. Resolveu ignorar o homem que berrava.

_ Você só teve problemas, Ronald? – repetiu ela com ironia _ Saiba que desde que você se mudou para a casa ao lado, minha vida se tornou um tormento. E está piorando!

_ MOÇA! – voltou a chamar o homem. _ TUDO BEM COM VOCÊ?

_ EI! – Rony bufou para o homem. _ SERÁ QUE VOCÊ É CEGO? EU É QUE ESTOU MACHUCADO!

_ NÃO FALEI COM VOCÊ, SEU DELIQÜENTE – replicou o homem, mas fazendo questão de ficar seguro atrás de sua porta. _ MOÇA, RESPONDA!

Hermione sentiu vontade de calar aquele homem intrometido. Talvez fizesse isso mesmo se sua varinha estivesse ali. Sacudiu a cabeça inconformada.

_ Por que isso tinha de acontecer comigo? Por que comigo?

_ Por que você? – perguntou Rony tentando, em vão, se levantar. _ Deve estar brincando. Olhe o meu estado! Preferia ter acertado um bruxo das trevas com a escada. Assim, se ele me lançasse um Avada Kedrava, já acabava logo com meu sofrimento!

_ MOÇA! – gritou mais alto o homem. Em outra casa, um casal saiu à varanda para ver o que acontecia. Luzes se acendiam em outras casas próximas, de um lado e outro da rua.

_ Pelo amor de Merlin, Mione! Fale pra essa gente que você me conhece e vamos embora daqui.

Hermione contemplou Rony, que tentava se erguer e sentiu remorso. “Mas bem feito”, pensou, “dali em diante ele pensaria duas vezes antes de bancar o protetor”.

_ Não precisava ter vindo atrás de mim. Sei me defender.

_ Obrigado pela informação – desdenhou Rony. _ Já tinha percebido. – Mais moradores acendiam luzes e abriam portas e janelas. _ Olhe só esse povo! Devem achar que sou um torturador assassino. Que piada! Ainda por cima chamei seu nome para que não ficasse assustada. Tolice minha, não?

Naquele instante, dois bruxos guardiões aparatavam na esquina e se aproximavam velozmente com suas varinhas em punho.

_ Não pode ser! – gemeu Rony. _ Ajude-me a ficar de pé, Mione.

Hermione arregalou os olhos incrédula, como se saísse de um transe. Resolveu ajudar Rony a se levantar. Ele se apoiou nela e se ergueu com a perna que não estava doendo.

_ MUITO BEM, VOCÊ AÍ! PARADO! MÃOS AO ALTO DA CABEÇA, PERNAS ABERTAS!

_ Um momento, eu posso explicar. - disse Rony mancando, o que tornava sua atitude muito suspeita. _ Ela é minha amiga. Estava andando sozinha para casa depois que a levei a uma festa.

Um dos guardiões olhou para Hermione.

_ É verdade? Isso é apenas uma briguinha de namorados?

Hermione estava tão ansiosa quanto Rony para pôr um ponto final na situação. Acabara de perceber que ele tinha razão. Eram o centro das atenções de uma cena absurda.

_ É verdade. Ele estava dançando com outra.

O guardião sorriu e balançou a cabeça.

_ São casados, certo?

Rony fez que sim com a cabeça, Hermione fez que não.

_ Hum, entendi... – murmurou o guardião. Virou-se para o círculo de curiosos que se aproximava. _ Muito bem, pessoal, podem voltar para casa agora. É só uma briga de amantes. Obrigado por se preocuparem.

_ Esses malucos de hoje em dia! – resmungou o homem que até então estivera preocupado com a segurança de Hermione.

Hermione sentiu-se aliviada e também um pouco culpada. Mas não havia nada que pudesse fazer agora para mudar os fatos. O outro guardião pedira documentos, e ela vasculhava os bolsos freneticamente, procurando não sabia bem o quê já que esquecera a bolsa em casa. Quando saíra com o bolo, tinha a idéia de voltar para apanhar a bolsa e sua varinha. “Droga! E agora, como iria entrar em casa? Esta estava protegida com feitiços cerradores que só ela poderia desfazer e precisava de sua varinha... Nem aparatando... Droga, Hermione... Mil vezes droga... E agora, o que iria fazer? Estava muito tarde para pedir ajuda...”

Rony entregou seus documentos ao guardião.

_ Ora, vejam só!- exclamou o guardião mais velho ao examiná-lo. _ Deixe-me apertar sua mão, Ronald Weasley. Lamentei muito o que lhe aconteceu, mas estou feliz que tenha voltado à terra natal. Tenho certeza que toda a Inglaterra se sente como eu.

Rony deu uma curta risada.
_ Com exceção desta senhorita. Ela não parece muito entusiasmada – comentou, olhando para Hermione.

Hermione desviou os olhos e cruzou os braços. Só queria que aquilo acabasse logo. Os guardiões pareciam ter esquecido completamente de pedir seus documentos, agora que tinham visto os de Rony.

_ Gostaria de reforçar as palavras de meu colega – apressou-se a dizer o segundo policial. _ É um prazer ter você de volta.

Hermione olhava de um policial para o outro tentando entender tanta bajulação. Rony era um herói para eles, desde a luta contra Voldemort e depois que se tornara uma celebridade no quadribol. Para ela, Rony era apenas seu velho amigo de infância e, algo mais...

O guardião mais jovem deu um tapa amigável nas costas de Rony e este cambaleou um pouco. O rapaz prontamente o escorou.

_Você está bem?

_O joelho – disse Rony, como se aquilo explicasse tudo. Hermione não podia acreditar que aquele homem enorme que Rony se tornara fosse choramingar. Recusava-se a aceitar a culpa que começava a sentir. Ele devia estar exagerando. Afinal, só lhe dera um golpe e um chute. Não tentara matá-lo, puxa vida! Os guardiões se comportavam como se um grave acidente tivesse acontecido.

_ Você caiu? – perguntou o guardião, com simpatia.

Para horror de Hermione, Rony apontou para ela.

_ Minha amiga me derrubou. – explicou, com um encolher de ombros que o fazia parecer ao mesmo tempo vitimado e constrangido.

Os guardiões se entreolharam, abismados.

_ Uma gata brava, não é mesmo? – disse um deles. _ Será que não sabe o dano que pode causar nessas circunstâncias?

Rony ficou pensativo por um momento.

_ Acho que ela não se importa.

Os guardiões sacudiram a cabeça, como se o que ouviam fosse além de sua compreensão. Hermione estava igualmente perplexa. Algo não se encaixava naquela história. Ela fora perseguida, e tinha sorte de saber lutar. E se o perseguidor não fosse Rony? E, mesmo tendo sido ele, não sabia disso quando a abordou.

_ Não quer que o levemos até o hospital? – ofereceu o guardião mais velho, olhando para Hermione com o que ela só poderia classificar de desdém. _ Pode precisar de tratamento.

_ Obrigado, não é necessário – respondeu Rony. _ Acho que ela só estava praticando seu show de horrores, de baixo para cima. Hoje foi o joelho, amanhã será uma mordida lupina nas minhas costas, e depois, no sábado, minha veia jugular. Afinal, é Halloween. Ela só está entrando no espírito da festa.

_ Bem, filho, o conselho que lhe dou é que tente acertar isso com ela, de um jeito ou de outro. Entende o que quero dizer...

Hermione abriu a boca para dar uma boa resposta àquele guardião só interessado em proteger os interesses masculinos. Mas conteve-se. Estava à beira de um ataque de nervos e não queria terminar a noite presa.

_Bem, acho melhor irmos andando – disse Rony. _ Sinto muito por terem perdido tempo com um alarme falso. Obrigado por terem vindo.
_ Tem certeza de que não quer que o deixemos em algum lugar? – perguntou o mais novo. _ Você não vai conseguir desaparatar sozinho.

_Não, minha vassoura está a poucos quarteirões daqui. Acho que consigo me arrastar até lá. Não teremos problemas.

_ Ela eu tenho certeza de que não. Você eu não sei. – insinuou o mais velho.

Rony deu uma risada, e Hermione o fuzilou com os olhos. Já nem sentia mais frio, apesar do vento gelado de outono. Esforçava-se apenas por se convencer de que fizera muito bem em atirar aquele brutamontes ao chão. Tudo era culpa dele! Tudo o que acontecera naquela noite desastrada!

Depois que os moradores haviam se recolhido na escuridão de seus lares, e os guardiões ido embora, Rony apossou-se do braço de Hermione.

_ Pode me dizer, agora, que idéia foi essa de ir embora sozinha por estas ruas escuras? Sabe, mesmo você podia correr perigo.

_ Não mais do que com você, estou certa – replicou Hermione desvencilhando-se. _ Tudo ia bem até você aparecer.

_ É, acho que alguém que a atacasse, pensado ter encontrado uma presa fácil, teria uma surpresa daquelas! _ Seu tom tornou-se mais sério. _ Há coisas como armas e mais de um atacante. Por falar em armas, não vi sua varinha. - encolheu os ombros. _ Mas que sei eu? Talvez pudesse dar conta disso também, pelo jeito que deixou meu joelho...

Hermione sentiu vergonha e uma pontada de culpa, mas ignorou a ambas.

_ Não acredito que um homem de seu tamanho seja tão frágil – declarou. _ Ou tão tolo. Você estava me perseguindo. Devia pelo menos ter chamado meu nome.

_Eu chamei! Além do mais eu não estava te perseguindo...

_ ...

Ela parou, aturdida. Lembrou-se de que tivera a impressão de que seu suposto perseguidor dissera algo. Antes que pudesse confessar, Rony prosseguiu:

_ Vejo que não estamos chegando a lugar nenhum. Venha. Vou levá-la para casa.

_ Não, obrigada. Vou andando como pretendia. Além do mais como acha que sobrevivi todos esses anos sem a sua proteção? – debochou ela.

Hermione viu que a paciência de Rony estava no fim, mas não se importava. Ela precisava mesmo esfriar a cabeça agora. Queria Rony fora de sua vida nesta noite, neste instante. Alarmes de perigo soavam em sua mente.

_ NÃO SEJA UMA SABE-TUDO IRRITANTE! – explodiu ele, mas baixou a voz em seguida para não acordar a rua inteira novamente. _ Por que tem que ser tão teimosa? Eu a levei para a festa, e vou levá-la de volta para casa!

“Sua varinha!” Hermione tinha se esquecido. Não tinha como entrar em casa. “Droga! Teria de voltar para a festa com ele, passar a noite na casa de Julie e procurar uma varinha semelhante a sua para tentar um feitiço de reversão na manhã seguinte. Azar pouco era bobagem. Happy Halloween, Hermione!”

_ Está bem – capitulou ela, tão inesperadamente que Rony nem sequer acreditou.
_ Quer dizer que vai comigo?

Hermione não pôde deixar de sorrir.

_ Qual o problema? Mudou de idéia?

Ela voltou a sorrir.

_ De jeito nenhum! Ao contrário de você, não dispenso proteção. Principalmente depois que quase acabou comigo.

_ Francamente, você está fazendo tempestade num copo d'água. Não tentei acabar com você.

_ Ainda bem, pensei que sim. Vamos embora, enquanto eu ainda consigo me arrastar.

Hermione estava mais confusa do que nunca. Quando começaram a andar, ele se apoiou em seu ombro. Mancava com a perna esquerda. Sentiu que ficava vermelha. Talvez fosse muito mais perigosa do que imaginara. Mas não lutava bem. Estava surpresa por ter conseguido se defender.

Rony pareceu ler seus pensamentos:

_ Você me pegou desprevenido. Jamais imaginei que fosse me atacar. Não faça isso com um desconhecido!

Merlin, como desejava que aquela noite começasse de novo e que não precisasse passar por nada daquilo. Corou mais ainda ao se lembrar de como se sentira satisfeita enquanto dançava com o ruivo, que agora depositava parte de seu considerável peso sobre seu ombro ao mancar pela calçada. Considerou a possibilidade de ele estar lhe pregando uma peça como fazia na infância.

_ Vamos, Rony, diga-me que está brincando. Eu não machuquei você de verdade.

Ele forçou um sorriso sob a luz pálida da lua.

_ Para ser honesto, tenho um ferimento mal curado no joelho. Não foi você quem causou tanto estrago.

Hermione mordeu o lábio, nervosa.

_ Sinto muito – murmurou. _ Eu não sabia.

_ Não, é evidente que não. – respondeu ele, simplesmente.

Ela virou o rosto par cima para olhá-lo.

_Dói muito?

_Podia ser pior. – respondeu ele fazendo cara de cachorrinho-que-caiu-da-mudança.

“E essa agora?” Hermione começou a se sentir responsável por ele. Sentiu-se estranhamente amedrontada. Respirou de alívio quando chegaram à festa.

_ Preciso entrar e falar com Julie. – disse ela. Julie tinha que ajudá-la a escapar daquela embrulhada. Não queria dizer a Rony que estava trancada fora de casa.

Rony olhou-a sem entender.

_ Você já não se despediu dela?

Hermione não sabia o que dizer. Não gostava de mentir, mas era a única saída.

_ É que... Esqueci de dizer uma coisa a ela.

Rony sacudiu a cabeça, resignado, e subiu com esforço os degraus da varanda junto com ela. Hermione desejou que ele estivesse exagerando, que não o tivesse machucado de verdade.

A festa estava no auge. Hugh e Mai ficaram ao mesmo tempo espantados e satisfeitos ao verem o casal de volta. Hermione explicou que precisava falar com Julie um instante.

_ A ruiva de cabelos curtos? – perguntou Hugh.

_ Deixe, pois um homem sempre se lembra da descrição de uma mulher. – Mai replicou com ironia.

Hermione fez que sim com a cabeça.

_ Saiu com Sam não faz cinco minutos.

_ Tem certeza? – perguntou Hermione, sem disfarçar a decepção.

_ Tenho. Acho que saíram de vassouras.

_ Ah! Eu precisava mesmo falar com ela.

_Bom, onde ela está agora, só Merlin sabe. – opinou Rony.

_O que quer dizer com isso? –perguntou Hermione asperamente.

Rony encolheu os ombros.

_ Nada de mais. Apenas que esta é uma cidade grande.

Hermione voltou-se para Hugh e Mai.

_ Desculpe por incomodá-los outra vez. Obrigada.

_ Escute, estamos adorando o bufê de vocês. - disse Mai. _ O bolo de abóbora, principalmente.

_ Que bom. Obrigada!

Hermione despediu-se do casal e afastou-se. Quando saíram da casa, olhou para Rony.

_ Principalmente o bolo de abóbora, que nem fui eu que fiz!

Rony deu risada.

_ Que diferença faz? O que importa é que eles gostaram. Venha, vou levar você para casa. Acho que precisa descansar.

Hermione concordou comum gesto de cabeça. Precisava mesmo, mas não podia entrar em casa. “Quem sabe se pedisse a ele para conjurar uma barraca nos jardins? Não... Ele não deixaria...”

Rony se apoiou novamente nela para descer os degraus da varanda e um arrepio percorreu a espinha de Hermione. Ele começou a andar com mais segurança, mas quando chegaram à vassoura, Hermione viu que seu rosto tinha empalidecido. Ele precisaria se apoiar em ambas as pernas dar impulso na vassoura e para ela subir.

Ela compreendeu que ele sofria. Conhecia bem aquele traço de caráter de Rony. Ela tinha desferido um golpe contra ele, não só físico, mas também contra sua masculinidade.

_ Consegue guiar a vassoura? – perguntou, cautelosamente, pois não queria ferir-lhe o ego masculino ainda mais.

_ É claro. Suba! – ele enfeitiçou a vassoura a menos de um metro do chão para facilitar a subida de ambos.

_ Suba... – murmurou Hermione para si mesma. _ Homens!

Precisava encontrar uma saída. Não queria passar mais nem um minuto ao lado dele. Estremeceu ao abraçá-lo pelas costas. Aquela noite duraria uma eternidade!

_ Por favor, Rony, voe baixo, sim? – pediu pela segurança dele e acrescentou: _ Será que você poderia passar pela casa de Julie? Não é longe.

Rony não entendia mais nada. Primeiro ela dizia que precisava dormir cedo porque tinha muito trabalho no dia seguinte. Agora, queria ir até a casa da amiga. Balançou a cabeça, mas concordou.

_ Onde ela mora?

Depois que Hermione lhe deu o endereço, ele seguiu em silêncio.

_ É aqui, Rony – disse Hermione e ele parou em um jardim. Ela desceu rapidamente da vassoura e acrescentou rápida: _ Obrigada e boa noite.

_ Não acha melhor ver se ela está em casa primeiro? – sugeriu Rony com uma paciência que estava longe de sentir. Seu joelho latejava agora. _ Afinal de contas, agora estamos ainda mais longe de casa.

Hermione odiava Ronald Weasley.

_ Certo – disse ela, sentindo o rosto pegar fogo, enquanto batia com a aldrava na porta da casa. Um grito pavoroso foi escutado no interior da residência. Malditas campainhas bruxas! Hermione tentou uma... cinco... dez vezes...

Julie não estava em casa! Hermione sentiu um violento impulso de se desmanchar em lágrimas, mas não daria a Rony a satisfação de vê-la chorando. Não sabia o que fazer agora. Lentamente, arrastando os pés, voltou para perto dele.

_ Não está em casa? – perguntou Rony, como se não fosse óbvio.

Hermione sacudiu a cabeça.

_ Então, que tal nós irmos pra casa?

Ela subiu novamente na vassoura e ficou quieta. Que mais poderia fazer? Talvez conseguisse dormir na varanda...

_ Vamos, Hermione, hora da verdade – intimou Rony, o que fez a moça se sobressaltar. _ O que está acontecendo? Por que não quer ir pra casa? Quero dizer, fora o fato do bolo de abóbora amassado continuar na frente de sua porta e eu morar ao lado?

Os olhos castanhos de Hermione encontraram o azul-celeste dos olhos dele.

_ Esqueci minha bolsa e a varinha dentro de casa quando saí com você. Minha intenção era levar o bolo para fora e apóia-lo numa mesinha da varanda e depois voltar para buscar minhas coisas. Agora não posso entrar em casa sem minha varinha, pois o feitiço que coloquei nas portas e janelas só obedecem a ela. Pensei em dormir na casa de Julie e procurar ajuda pela manhã.

Rony abriu um sorriso divertido.

_ Entendo. Entendo tudo agora. – Saíram voando. _ Tudo bem, não tem problema. Para que servem os vizinhos? – perguntou com um sorriso maroto – Pode dormir na minha casa esta noite.

_ Na sua ca...casa?! – repetiu ela, arregalando os olhos e quase se desequilibrando na vassoura.

_ Isso mesmo.

Hermione olhou pra frente, tentando ganhar tempo. Passar a noite na casa de Rony? Era impossível! Suspirou...

_ Você tem duas camas? – perguntou ela, com um fio de voz.

_ Não – respondeu Rony, olhando pra trás e piscando pra ela. _ O que acha disso?

_ Eu... você...

Ele deu risada.

_Não precisa se preocupar. Tenho um sofá. Mas vai ter que dormir nele. Preciso dormir na minha cama por causa do tamanho.

Hermione respirou fundo lentamente. Tinha a impressão de que estava prestes a entrar na caverna do urso, ou melhor, na gruta do leão da Grifinória e não no único refúgio que lhe fora oferecido.

Gato escaldado tem medo de leão?Não, tem medo de água fria... Mas isso não fazia diferença agora... A última coisa que queria era ter Rony novamente em sua vida...


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Olá, gostaram mais desse capítulo? Espero que sim... Temos um short fic também e as atualizações da Irresistível Força do Amor não demora mais tanto... Queremos terminá-la até o final das férias...
Coments?
Beijos a todas,

Aeshma – 16/06/2008.

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