Capítulo 1



Capítulo 1 - A estranheza de tudo que é novo.

Dentre todas as vilas bruxas da Grã-Bretanha, talvez a mais conhecida e menos habitada seja Godric's Hollow.

Ali, naquele pedaço de terra reto e estreito, viviam pessoas especiais, dotadas de poderes mágicos e, principalmente, na maior parte do tempo, alunos e ex-alunos da casa Grifinória, que seguiam os ideais do fundador da vila, Godric Gryffindor.

Não era uma norma daquela vizinhança, que todos os habitantes tivessem estudado na casa Grifinória; não eram nem mesmo obrigados a estudar. Na verdade, na pequena rua, que eles chamavam de vila, não havia regras, mas mesmo assim todos sempre viveram na mais perfeita harmonia.

E é lá que a nossa história começa. Era primeiro de setembro, e os relógios já marcavam quase onze horas. Quase todos os moradores já estavam fora de suas casas, e a grande parte das crianças, brincavam soltas no chão de terra. Os adolescentes, andavam apressados, puxando com força seus malões pesados para o final da rua, onde havia uma grande lareira, que só tinha uma direção: Estação King's Kross, Londres.

Entre essas crianças, uma em especial, carregava o malão usando toda a força que podia, e este mal se movia. Era pequeno, magricela, e o mais importante de tudo: marinheiro de primeira viagem.

Aquele era Tiago Potter, onze anos, e iria para seu primeiro ano letivo na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Atrás do pesado malão, o Sr. e a Sra. Potter o admiravam, sorridentes, sem prestar auxílio algum.

Óculos tortos e uma expressão no rosto que misturava o grande anseio de começar sua vida como bruxo de verdade, e a força que fazia para empurrar o malão predominavam no rapaz. Eles já estavam próximos à grande fila que se formara em frente à lareira; vários dos estudantes já pulavam no fogo verde-esmeralda, em ordem de chegada.

- Vocês irão comigo? - Foi a primeira coisa que o garoto disse. Sra. Potter sorriu. - Digo, não é realmente necessário. - A última coisa que queria era incomodar seus pais; os Potter eram os melhores pais que um garoto podia ter.

- Eu não irei, Tiago. - Avisou sua mãe, o dando um tapinha no ombro. - Mas seu pai o acompanhará até seu embarque no trem.

- Vamos, ande logo ou iremos nos atrasar. - O Sr. Potter deu um empurrãozinho no filho; Tiago se desequilibrou, e caiu dentro da lareira, sendo engolido pelas chamas verde-esmeralda.

O garoto sentiu o queixo - e toda a parte frontal do corpo - bater em uma superfície dura e lisa. Mantinha os olhos fechados, como num ato reflexo, desde que caíra, e antes de abri-los, sentiu-se deixar deslizar em tal.

Não foi uma partida que podia-se dizer agradável, ou um início de vida bruxa natural. Mas fora isso que cercara Tiago desde que nascera, o imprevisto. Sempre foi azarado, ele não podia negar; agourado, como normalmente se diz na sociedade bruxa.

Quando já se acostumara com a velocidade - que já tinha acelerado e retardado diversas vezes -, e o sanduíche que comera antes de sair de casa parara de revirar na barriga, de um modo esquisito, o garoto começou a rodopiar no lugar, ao mesmo tempo que se movia.

Tudo aconteceu em uma parcela de tempo, em que ele de repente abriu os olhos, saltou e o sanduíche foi evacuado a alguns centímetros de onde parara; agora o garoto se encontrava deitado em frente a um trem avermelhado; o piso frio e úmido podia ser sentido pelo queixo, e a roupa estava começando a umedecer.

- Olha o que você fez! - Ele pôde ouvir, ao se levantar, um garoto gritar. - Vem cá ver o que você fez! - E uma mão puxou o casaco dele.

Ao olhar, Tiago percebeu que havia um grande pedaço de seu café grudado na capa de tal garoto, que parecia furioso, tentando tirar a sujeira de suas vestes. Este olhou estressado para ele, se virou e voltou a andar. Tiago preferiu ficar em silêncio, e apenas notou suas afeições. Era esquisito, tinha cabelos crescidos até os ombros, lisos, mas parecia que não o lavava há dias. Tinha olhos escuros, e um narigão, empinado, seguido de uma boca fina e pequena.

- Não liga pro Severo. - Uma mão tocou seu ombro, e Tiago imediatamente se virou; uma garota de praticamente sua idade, cabelos ruivos, olhos muito redondos e verdes, como esmeraldas e uma boca carnuda e vermelho-vivo sorria para ele. - Hã... ele às vezes age sem pensar; sei que não foi sua culpa.

- Ah, certo. - Tiago coçou a nuca e sorriu, desajeitado. - A propósito... - ele estendeu a mão a ela. - Tiago Potter, onze anos.

- Lílian Evans, também onze anos. - Ela retribuiu e os dois se cumprimentaram. - Bem, desculpe mas eu tenho que ir.

- Beleza. - Tiago deu uma piscadela de canto de olho. - Nos vemos em Hogwarts, ok?

- Ok! - A ruiva acenou, e voltou a andar, em direção à entrada do vagão mais próximo.

Tiago ficou parado, sem saber o que fazer primeiro; era muita informação de uma vez só, e ele estava de certo modo estuporado, tantas as opções.

- Ainda parado? - O Sr. Potter saiu em pé, diferentemente do filho, da lareira. - Achei que agora estaria correndo, pulando ou algo do tipo. - Ele riu sozinho, e Tiago apenas o olhou. - Então, vamos entrar?

- Você vai entrar junto? - O garoto deu ênfase à primeira palavra; não queria ser motivo de chacota para os outros. - Não precisa não, pai. Eu vou ter que me acostumar a ir sozinho, mesmo. Então é melhor que fique aqui. - Ele abraçou o pai timidamente e andou em direção ao trem, não sem antes o abanar novamente.

Não foi um caminho muito longo até o primeiro vagão que estava ainda de portas abertas; na verdade, foram bem poucos passos. O trem já apitava e soltava muita fumaça pela chaminé, localizada na extrema-frente do expresso Hogwarts. Todos os estudantes já acostumados com isso, estavam em suas respectivas cabines, se despedindo dos pais. Tiago, por sua vez, ainda estava no corredor do terceiro vagão.

Pôde ver seu pai uma última vez antes do trem começar a se mover. Na verdade, foi apenas o vulto de seu pai, rodopiando e desaparecendo no ar; ele estava cada vez mais ansioso para aprender magias, tais como aquela. Não conseguia mais esperar para aprender a lançar feitiços e azarações, a fazer poções e adivinhar o futuro.

- Ei, você! - Tiago se libertou do transe momentâneo e olhou para o lado. Um garoto de mais ou menos quinze anos, com os trajes pretos originais da escola, mas com acessórios em amarelo-canário - gravata, golas e mangas, mais precisamente. - o encarou. - Está perdido? - Perguntou, sorrindo.

- Mais ou menos. - Estava constrangido, e não sabia muito o que dizer. Todos, naquele momento, provavelmente estariam em cabines e ele, só ele, no corredor.

O garoto mais velho o abraçou pelo ombro.

- Primeira vez aqui? - E segurou o malão de Tiago, começando a andar. Ele o seguiu, e concordou com a cabeça. - Sei como é... - O mais velho olhava de cabine em cabine, como que se procurasse alguma coisa. - Mas agora você vai conhecer novos colegas, da sua idade. - E piscou.

O menor sorriu, tímido. Gostou da idéia de ter amigos na escola; sabia que era importante.

- Aqui estão. - Com a força do outro, a porta de correr abriu rápida, e do outro lado, dentro da cabine, se revelaram dois rostos já conhecidos. O mais velho sorriu, e encostou o malão de Tiago no banco vago. - Aproveitem a viagem de ida ao castelo de Hogwarts! - E saiu, fechando a porta, assim que o pequeno entrou.

- Você de novo? - O garoto que havia se sujado com os restos do café de Tiago estava na cabine, ao lado da ruiva, que tinha conhecido antes de entrar no trem. - Não bastou acabar com a minha capa nova, e veio aqui encher um pouco minha paciência? - Despejou tudo, antipático, cruzando os braços e virando o rosto em direção à janela.

- Desculpe, eu... - Ia começar, mas Lílian o parou, no meio do discurso.

- Você não precisa fazer isso, Tiago. - Ela olhou brava para o amigo, que ainda mantinha o olhar fixo na janela. - Deixa ele ser cabeça-dura; ele sabe que foi sem-querer.

- Então... então certo. - E olhou para baixo, onde estava seu malão. - Vocês sabem algo sobre a Hogwarts? - tentou começar um assunto, mas foi ignorado pelo outro garoto. A ruiva, então, resolveu responder.

- Ainda não sei nada sobre. - e fez bico. - Sabe, sou filha de pais não-bruxos. - se justificou. - e você, sabe de algo?

- Bem, eu moro em Godric's Hollow, um vilarejo criado por um dos fundadores da escola. - Naquele momento, o outro garoto deu uma risada. Tiago estranhou. - O que foi?

- Você é patético. - Afirmou, limpando uma lágrima que teimou em escorrer do olho esquerdo. O outro garoto e a ruiva levantaram uma sobrancelha, curiosos.

- Por que patético, Severo? - Lílian olhou para o amigo, que se virou para ela quase que imediatamente.

- Então... - Ele tomou ar e começou seu breve discurso. - Hogwarts foi fundada por quatro dos melhores bruxos da época: Godric Gryffindor, Rowena Ravenclaw, Helga Hufflepuff e o melhor de todos, Salazar Slytherin. - Frisou o nome do último, confiante. - Cada um deu seu nome a uma das casas, ou alojamentos do castelo. Eles são respectivamente Grifinória, Corvinal, Lufa-Lufa e Sonserina. A última, por a caso, é a melhor de se entrar. - E soltou um sorriso amarelo. - Todos da minha família ficaram na casa sonserina.

- E todos da minha, na grifinória. - Encarou-o Tiago. A ruiva preferiu acabar com a suspeita de briga.

- Então, estou bem. - Disse, sorrindo para os dois. - Em qualquer das duas casas que ficar, terei alguém conhecido. - E deu uma piscadela. Tiago e Severo se encararam, e logo desviaram o olhar; o primeiro não gostava do outro desde a primeira vez que o vira. Seria sorte se ficasse em casas separadas.

A viagem já não estava sendo como o garoto de óculos redondos esperara; na verdade, ele nem sabia que ficaria tanto tempo parado, só olhando pela janela do Expresso Hogwarts. Para ele, a vida bruxa era uma agitação, e nada mais; sem tempo para comer, dormir e descansar.

- Como vocês acham... - A ruiva olhou para baixo, e sua voz chamou a atenção dos dois bruxinhos, que estavam distraídos. - que deve ser, lá? - Perguntou, as maçãs do rosto ruborizando; ela ficava desajeitada, ao lembrar que era trouxa.

- Também não sabemos, Lílian. - Tiago falou, em um tom que pudesse conforta-la. E era verdade; nem mesmo os garotos, que eram filhos bruxos e conheciam há tempos o mundo mágico, sabiam muita coisa de Hogwarts. A escola, para todos que iam estudar nela, era como um livro cheio de mistérios a serem desvendados, e cheio de aventuras a serem vividas. - Mas garanto que lá é bem legal. - E sorriu.

- Deve ser, mesmo. Mas só se eu for para a mesma casa que minha mãe. - Aquilo irritou Tiago. Ele já não ia com a cara de Severo, e o próprio não parava de lembrar que queria ir para a pior das casas de Hogwarts - a pior, na opinião do garoto -, a casa que sempre foi tida como inimiga da Grifinória.

- Ah, eu... - A ruiva foi começar a falar, mas foi interrompida. O mesmo garoto que trouxera o Tiago para a cabine dos dois amigos agora esperava alguém abrir; as mesmas vestes usava, e ainda com um sorriso no rosto.

Lílian abriu a porta da cabine.

- Olá, garotos! - Disse, olhando para os dois. - E olá, garota. - e se virou para a menina. - Só para avisar que dentro de alguns minutos, estaremos entrando nos terrenos da escola. - Os três sorriram, ao mesmo tempo; já tinham ficado muito tempo parados, e queriam sair logo daquele trem. - Acalmem-se, já estamos chegando. - Riu-se o mais velho. - Então, os que ainda não vestiram suas roupas de bruxos, - Severo já estava em roupas bruxas, já vestia as roupas apropriadas para Hogwarts - podem se vestir. - E saiu.

- Bem, vamos lá então. - Tiago puxou seu malão e abriu o fecho da frente. Ali, como avisara sua mãe incessantemente pela manhã, estavam os três uniformes comuns que comprara.

Puxou logo um, e tirou a camisa. Tão rápido quanto tirou a camisa, levou um empurrão.

- Eei! - Reclamou o garoto; seus óculos voaram no chão, e ele os pegou. Severo acabara de o empurrar. - Olha o que você fez! - Dando sinais de irritação, ele mostrou o óculos, com a lente esquerda rachada.

- Isso é pra você aprender a ter respeito aos outros. - O outro apontou para a ruiva. Ela encarava Tiago, vermelha. - Não sei se você não sabe, mas normalmente um garoto não se troca na frente de uma garota e vice-versa. - E direcionou o indicador para a porta. - Portanto, vá colocar sua roupa em outra cabine; eu vou dar uma volta enquanto Lílian se troca. - Se levantou, abriu a porta e saiu, sempre com seu ar superior.

- Ok, ok. - Atirando o malão de volta à parte de baixo do banco, o garoto de óculos redondos se levantou, pegando a muda de roupa. - Quero ver o que eu vou fazer com isso, agora. - Reclamou, olhando pra a lente rachada.

- Ainda não sei fazer feitiço algum. - A ruiva olhou para os óculos, pensando em modos de ajuda-lo. - Mas se quiser, posso pedir a algum estudante mais velho que use uma magia reparadora. - Se ofereceu.

- Não, não! Eu mesmo peço. - Agradeceu, envergonhado. Coçou a nuca de novo; Tiago tinha o terrível hábito de coçar a nuca quando ficava nervoso, ansioso ou envergonhado. - Mas obrigado. - E sorriu.

- Até daqui a pouco, então. - Lílian sorriu de volta, e o garoto saiu da cabine.

Colocou a camisa e começou a andar pelos vagões, à procura de uma cabine vazia. No último, encontrou uma com apenas um garoto, da sua idade. Como não tinha mais lugar para se trocar, resolveu tentar ali, mesmo. Bateu na porta, e o garoto prontamente abriu-a.

- Opa. - Disse, quando Tiago entrou na cabine e se sentou. - Quem é você? - Não estava acostumado com todo aquele certo 'desespero' em entrar em tal local.

- Tiago Potter - E estendeu a mão. O outro o cumprimentou.

- Sirius Black. - Respondeu.

Sirius era um garoto um pouco maior que Tiago, mas nada que pudesse ser reparado, a não ser que estivessem lado-a-lado. Tinha cabelos compridos, até o início das costas, pretos, mesma cor dos olhos. Já estava vestindo seu uniforme.

- Posso ajuda-lo, Sr. Potter?

- Sim, Sr. Black. - Deu ênfase na palavra 'senhor'. Normalmente, garotos de onze anos não se tratavam por senhor ou senhora. - Poderia eu trocar-me aqui? Em minha precedente cabine, uma donzela lá estava.

- Não precisa falar difícil, cara. - Sirius se encostou de novo no banco, fingindo naturalidade.

- Você fica me chamando de senhor, eu também fui formal, ué. - Tiago sorriu, começando a mudar de roupa, em pé.

- Pois então. Mas não precisa.

- Tá certo. - Estava agora colocando a capa; ainda faltavam calças, meias e sapatos. - Passou a viagem inteira sozinho?

- Não, não. Alice, minha amiga de infância, veio comigo. - Tiago agora puxava as calças e abotoava-a. - Mas saiu, para se trocar.

- Prazer em conhece-lo, Sr. Black. - Ao terminar, abriu novamente a porta da cabine. - Ah! E obrigado por emprestar o lugar para eu me trocar. - E começou a andar.

- Ei! - O outro garoto o chamou, e ele parou. - Pode me chamar de Sirius e... - Ele também se levantou. - Posso ir com você? Ficar sozinho aqui ta muito chato. - Reclamou.

- Claro, vamos lá. - Tiago sorriu novamente, esperando Sirius o alcançar.

Não fora uma caminhada muito longa, pois agora o garoto de óculos redondos já sabia onde estava indo. Provavelmente, Lílian já terminara de se vestir, e portanto poderia voltar à cabine que ficara a maior parte de sua viagem.

Sirius o seguia sem dar sequer uma palavra; ele também devia estar receoso quanto à Hogwarts, pois também era primeiranista. Tiago gostou de conhecer o garoto, pois algo lhe dizia que poderia e iria contar muito com Black, em sua vida escolar. - e ele nem sabia o quanto.

Quando chegaram finalmente à cabine da ruiva, Sirius soltou um sorriso; havia outra garota com Lílian, e as duas conversavam animadamente.

- Alice! - Falou alto, abrindo a porta. - O que faz aqui? - Só agora percebera que outra garota estava no recinto. Arrumou os cabelos compridos com as mãos e, galanteador, beijou a mão da ruiva. - Olá, querida. - Fez menção de se curvar, e logo se sentou ao lado da garota. - Me chamo Sirius, Sirius Black.

- Olá, Sirius Black. - Ela sorriu, um pouco sem-graça; não era normal garotas de onze anos serem xavecadas. - Prazer em conhece-lo. Me chamo Lílian Evans.

- O prazer é todo meu. - Naquele momento, o campo de visão dos dois foi obstruído por uma capa preta. Tiago acabava de se sentar ao lado de Alice.

Acenou timidamente para ela, e ela correspondeu; Alice era um pouco mais animada do que o normal, talvez um tanto hiperativa. Ou só animada demais para a chegada à Hogwarts.

- Então, Lílian. Conte-me mais sobre vo... - Sirius tinha chegado mais perto da ruiva, mas no exato momento em que ia voltar a galanteá-la, o trem reduziu a velocidade bruscamente, fazendo com que o desavisado garoto fosse levado, pela física, a cair de testa no chão.

Todos gargalharam até a barriga doer; ele logo se levantou rindo, com um sorriso amarelo e a mão na testa, muito vermelha. Provavelmente não era muito de estresse e gostava de se divertir.

- Ei, todos vocês aí. - Um aluno mais velho chegou à porta da cabine. Tinha feições rígidas, e não parecia estar nos seus melhores dias. - Melhor saírem, os alunos do primeiro ano sempre desembarcam antes dos outros. - E saiu, indo nas outras cabines para avisar os outros.

Não se demoraram muito por lá, e logo todos saíram para o corredor. - "as damas primeiro", como disse Sirius. - E se dirigiram para a saída do vagão, ou TENTARAM se dirigir. Muitas outras crianças da sua idade se amontoavam ali. Poucos saíam e muitos se empurravam. Lá fora já começara a escurecer, e tudo que se podia ver era uma grande sombra.

- Alunos do primeiro ano, por aqui! - Gritou uma voz rouca, de modo que todo o Expresso deve ter ouvido. - Não por ali, garoto. Por aqui! - Rugiu.

Curioso, Tiago ficou na ponta dos pés e esticou o pescoço; o que viu não foi deveras agradável: Um homem que tinha cerca de vinte e cinco anos, mas que aparentava muito mais, porque cultivava uma barba muito escura, mas rala. Não era um bruxo qualquer de vinte e cinco anos. Apesar de ter feições normais de um bruxo daquela idade, tinha mais de dois metros, o garoto arriscaria quase três. Este estava direcionando os alunos que desciam: Os do primeiro ano, ficavam à sua esquerda, próximos a um lago de água muito limpa, e os dos anos seguintes iriam para a direita, onde haviam carruagens à sua espera.

- Ei! - Tiago chamou os amigos. Todos olhavam para baixo, à defesa dos tênis, dos pisadores de pés alheios. - Vocês viram aquilo? - Resolveu não apontar; apontar era falta de respeito, então direcionou o olhar para o homem.

Os três olharam.

- É um gigante? - Quebrou o silêncio a ruiva, depois de todos o notarem por algum tempo. - Digo, não é normal bruxos terem todo esse tamanho, é?

- Claro que é. Meu pai tem cinco metros e oitenta e três. - Falou Sirius sério. Lílian o olhou; ela provavelmente se imaginou, giganta. - Estou brincando, meu bem. - E caiu na gargalhada. A cara da ruiva, de "não acredito" para "Idiota" mudou repentinamente. - Ei, calma aí, foi só uma brincadeira! - E os quatro começaram caíram na gargalhada.

- Vamos, vamos! Desçam! - Tiago se sentiu ser puxado por algo enorme; o braço do gigante o puxara para fora do vagão. Ele mal tinha percebido que a maioria dos alunos tinha saído após a pequena conversa do quarteto.

Apesar de assustado, o garoto de óculos redondos fingiu normalidade.

- "Como se eu fosse puxado por um gigante pelo braço todos os dias" - pensou, irônico. Os outros, desceram por si só.

- E aí, qual a sensação de ser levantado no ar por um gigante? - Perguntou Sirius, tocando o ombro de Tiago, em tom de graça. - Digo, deve ser bom voar, não é? - As duas garotas riram baixo, para não estressar o garoto Potter.


- Primeiranistas, deste lado! - Reforçou o homem, apontando para onde a maior massa de crianças estava. Não tinham mais muitos primeiranistas ainda dentro do Expresso, e logo ninguém mais descia. - Há mais primeiranistas dentro do Trem? - Gritou e repetiu, segundos depois.

E ninguém desceu.

- Bom, então vamos. - com um gesto da mão, que direcionava ao lago, todos se viraram de costas para o trem: muitos barcos estavam parados à margem do mesmo. Eram barcos para três, quatro pessoas. Marrons, feito de madeira nobre; e por sinal muito bem feitos.

As crianças, então, começaram a escolher em quais entrariam, e o pequeno grupo ficou junto, em um dos barcos centrais. O gigante, por sua vez, ocupou todo o barco da frente, que já era maior - em largura - que os outros.

Não demorou muito até todos estarem sentados em seus respectivos barcos. Os poucos que sobraram - que provavelmente não conheciam nenhum outro primeiranista -, foram ocupando os espaços que sobravam.

- Todos prontos? - Perguntou, recebendo uma resposta positiva geral. - Então, vamos começar nosso passeio pelo grande lago do castelo. - Bateu palmas duas vezes, e os barcos começaram a se mover sozinhos.

Era uma sensação semelhante à viagem de pó de flú, com a vantagem de que eles não rodopiavam, e que ele não tinha mais nada no estômago. A propósito, seu estômago já roncava.

- Ali, as estufas de herbologia. - Apontou o gigante, para um edifício muito branco, com cerca de sete andares. As paredes eram de plástico, mas reforçadas com magia. Todos, naquele momento, viraram o rosto para a esquerda, para olhar tal prédio.

- Se isso não fosse aqui, duvidaria que ficasse de pé. - Comentou a ruiva, maravilhada. Os demais apenas o notaram, mas não viam nada de especial; já estavam acostumados com magia.

- E ali, a floresta proibida. - Uma grande floresta, envolta por uma grande área de campo, com grama baixa. As árvores pareciam ir ao horizonte sem fim; ou foi o que o garoto de óculos pôde notar. Já estava ficando escuro demais para perceber. - Ao lado, minha casa. - Uma pequena cabana, toda feita de madeira, com telhado de palha, em formato redondo. - A cabana do guarda-caças.

Tiago não estava nem um pouco afim de ouvir sobre os terrenos da escola, pois sabia que até o fim do ano, teria decorado todos os tais lugares, mesmo sem este pequeno discurso.

Resolveu, então, prestar atenção nas carruagens, que já se aproximavam das escadarias do castelo. Sim, haviam grandes escadarias precedendo o castelo. Afinal, quem foi o infeliz que teve a idéia de construí-lo em uma montanha?

- Tiago? - Sirius o chamou, mas o outro mal percebeu. - TIAGO POTTER! - E chacoalhou o garoto, fazendo com que ele se acordasse do segundo transe, na última meia hora; a falta de comida estava começando a fazer efeito no sistema nervoso dele, mas enfim olhou. - Será que vou ter que chamar o gigante para te fazer levantar vôo denovo? - Perguntou, rindo.

- O que foi? - Disse, também rindo da aparente piada de Sirius.

- Olha pra baixo! - Exclamou, também o fazendo. - Tem um monte de bichos legais!

- Cara, você viu aquela Lu... ÊTA! - A Lula gigante, que sempre seguira, embora abaixo, os barcos no ritual dos primeiranistas de travessia do lago, resolveu dar o ar de sua graça, chegando cada vez mais perto da superfície. Tiago gritou quando ela tomou impulso e pulou na direção de Lílian Evans.

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