Tarde demais?



Título: Contra a Parede


Autor:
Mari Gallagher


Contato: marigallagher(arroba)Hotmail(ponto)com ou mmaaryy(arroba)Hotmail(ponto)com


Shipper: Harry e Hermione


Spoilers: Livros 1 a 5


Gênero: Romance/Aventura


Status: Em andamento


Sinopse: Eles estão frente a frente após quatro anos, mas desta vez há algo diferente, há uma forte paixão mal resolvida. O que poderá acontecer quando esses dois tiverem que se encontrar em todos os lugares todo o tempo e ainda resolver um misterioso roubo? Harry Potter e Hermione Granger são postos Contra a Parede por seus sentimentos...


N/A – Tenho andado absolutamente sem tempo de sentar e escrever esta fic... Os problemas pessoais, sentimentais, financeiros e profissionais também contribuíram muito para que eu perdesse 80% da inspiração. Peço a compreensão de todos se o capítulo tiver ficado um horror!(como eu suponho)... Há um importantíssimo agradecimento especial na N/A(2), além de outras explicações sobre a história.





Capítulo X – Tarde Demais?






O galpão era úmido, escuro e um cheiro incômodo de ferrugem pairava no ar. As mãos da mulher estavam presas em volta de uma coluna de madeira fixa do chão ao teto. Não sabia onde estava, mas tinha certeza que se tratava de um local distante da movimentação de Turim, portanto, poderia gritar o quanto quisesse e agüentasse , como seu próprio captor havia mencionado, seria em vão.

Remexeu mais uma vez os pulsos, tentando afrouxar as cordas encantadas e escapar ilesa dali, mas não obteve sucesso. Já estava ficando nervosa, ou melhor, desesperada.

“Burra, burra!”, repetia a si mesma. Como fora cair em uma armadilha daquelas?

Um forte e horrendo trovão ecoou, acompanhado de um clarão que a lembrou da imagem macabra do ambiente onde havia sido deixada. As paredes acinzentadas estavam cobertas de fuligem e rodeavam uma área de cerca de cinqüenta metros quadrados onde jaziam uma quantidade considerável de caixas e tambores de combustíveis. Pela chaminé e o teto decadente a água escorria, turva, indo de encontro à face alva da mulher.

“Se ao menos tivesse minha varinha...”
Mas ela não tinha. Havia sido deixada quando ela fora abordada pelo homem sem sombra em um minuto de total tensão no início da noite. Não adiantava mais lamentar o ocorrido e se martirizar por ter sido capturada de surpresa e não ter conseguido se defender: tinha que arranjar um jeito de escapar dali antes que ele voltasse, ou não conseguia nem imaginar o que seria feito dela... Ninguém ia chegar, não podia contar com ajuda externa, não tinha como se comunicar. Estava perdida... “A não ser que...”, ela pareceu enxergar uma luz no fim do túnel. Só lhe restava uma alternativa. Porém tratava-se de um encantamento dificílimo até mesmo para uma auror formada.

“Mas pode dar certo.”
Sim, teoricamente havia uma chance de dar certo. Ela nunca havia tentado, ou sequer conhecia alguém que já tentara, mas os livros possuíam relatos incríveis de bruxos que tiveram sucesso naquela prática.

“É sua única chance.”, lembrou-se.

Ela respirou fundo e se concentrou. Esvaziou de sua mente todos os sons, imagens, sensações, odores e rapidamente a água não mais parecia pingar sobre si. Só precisava direcionar sua mágica, sua força, seu poder e fazer... Crescer... Crescer... Crescer...

Uma espécie de aurora prateada surgiu ao redor da mulher encurralada associada a um tremor retumbante advindo do imundo assoalho. Ela apertou os olhos em um último apelo desesperado de reunir sua força vital. Quando o poder alcançara intensidade densa, dilacerante em sua pele ela abriu os olhos num ímpeto.

- “Mortifer Adjectus!” – gritou em plenos pulmões.

Um forte e abafado baque soou concomitante à mulher ser atirada a dois metros de distancia do local original. A aurora desaparecera.

“Consegui”.

Fraca, ofegante, ela observou as cordas encantadas agora inutilizadas no chão. Ao ouvir passos apressados, sem dono, rapidamente irrompendo em sua direção, tentou se levantar. Agoniada, notou que não conseguiria, não tinha energia suficiente. Arrastou-se pelo piso o mais rápido que pôde. Não era o bastante. Ele estava próximo: o cascalho cada vez mais pressionando sua pele. Iminente: Cãibras em seus músculos a impediam de prosseguir. Muito próximo: a varinha do homem já diante de seus olhos.

Numa exclamação esganiçada de horror, desviando-se milimetricamente de um feitiço, ela desaparatou.



XXX



Draco assistiu Hermione sair às pressas da discreta sala de reuniões e agora observava sorrateiramente pela janela a movimentação da rua. "Raios", pensou, "Foi por muito pouco!". Não havia mais sinal algum de seu agressor, mas mesmo o ataque tendo acontecido subitamente ele podia afirmar com convicção de que se tratava do diminuto sujeito que encontrara minutos antes no bar. Teria o homem ficado tão encolerizado por um simples esbarrão a ponto de lhe atirar um feitiço? Não, ele não pensava assim. Um pequeno incidente não despertaria tanta ira. Havia algo a mais.

Desistindo de analisar vai e vem da alameda, ele sentou-se diante do birô, aonde ainda pairavam as anotações de Hermione, e se ocupou de tentar desvendar a lógica do episódio. Draco sequer lembrava de ter encontrado aquela figura tão sem importância até então. Não o conhecia, isso era incontestável. "Mas ele me conhecia..."
Ele levantou-se e saiu do local batendo a porta atrás de si.

Aparatou de volta no chalé que estava absolutamente vazio, da mesma forma que havia deixado. Olhou as horas e foi para o banho em seguida vestiu o smoking para o jantar. Não acreditava que Ginny ainda não havia chegado. Era o cúmulo! Checou mais uma vez o relógio de bolso. Céus! Se ela não entrasse pela porta dentro de dois minutos, estariam com sérios problemas. Nem um minuto depois deste último pensamento, a porta da frente rangeu.

- Você sabe que horas são?? – disse Draco irritado caminhando do cômodo de copa para o vestíbulo.

Teve um sobressalto ao avistar Ginny. Suas roupas estavam sujas, o suéter estava rasgado na manga esquerda, totalmente molhada, com uma expressão ofegante. – Merlin! O que houve com você?

Ginny respirou fundo.

- Você nem vai acreditar. – respondeu em tom baixo.

Draco providenciou agasalhos e um chá quente para ela, em seguida voltou a questionar.

- O que aconteceu? Por que você se encontra neste estado deplorável?!

- Eu vou contar tudo. – suspirou, Draco fez um aceno com a cabeça em pedido para que ela prosseguisse. Pelo visto não havia sido o único a vivenciar momentos de emoção e êxtase naquele início de noite. Ginny o olhou, ainda enigmática, antes de continuar: – Frida pediu que eu a acompanhasse em algumas compras. Nós estávamos tomando chá quando a recepcionista me entregou isto! – ela retirou um pedaço de papel molhado de dentro do decote e entregou a Draco. Ainda era possível ler a mensagem sem dificuldade.



“Querida, preciso vê-la agora. Encontre-me a duas quadras daqui. É um parque

Amor,

Seu marido

Draco Malfoy.”




Draco pasmou. Em posse de suas faculdades mentais jamais escreveria algo assim, principalmente a Ginny.

- Hey, eu não escrevi isto! – protestou.

- Mesmo? – disse Ginny com ironia. – Acho que descobri que não era você quando cheguei ao local indicado!

Ele pôs o bilhete próximo à lareira.

- O que aconteceu?

- Eu segui as instruções do bilhete falso... Foi uma armadilha. Alguém estava lá, esperando por mim, e definitivamente não era você!

- E quem era?

- E não sei! Eu não o vi...

Draco franziu o cenho.

- Não o viu?

Ela assentiu com a cabeça.

- Não! Seja lá quem for estava desilusionado. Fui pega de surpresa e este cara, disso eu sei, ele era um cara me desarmou e me capturou!

- O quê? Mas por quê? O que ele queria?!

Ginny não respondeu de imediato.

- Simples. Ele queria apenas uma coisa: saber onde você estava.

- Como? E você disse?

- Não tinha muita opção diante de veritasserum, não acha?

- Oh não... Então você falou sobre a missão, sobre a base e o casamento falso? – indagou ansioso.

- Não, Malfoy. – respondeu meio entediada. – Ele apenas perguntou onde você estava, e eu respondi: Colle Café! Só isso.

A cena de seu ataque no Colle Café voltou-lhe à mente. Draco tornou-se lívido. Agora tudo, ou quase tudo, fazia sentido.

- É claro... – disse para si mesmo massageando as têmporas. – Alguém planejou aquele ataque! Alguém que sabia que estamos ‘casados’... Mas quem? Quem!?

Ginny parecia mais atordoada.

- Do que diabos você está falando?

Ele sentou-se diante dela.

- Ouça, aconteceu algo que você não sabe...

Draco relatou o atentado que sofrera mais cedo.

- Tentaram matar você! Quem era o homem? Você o reconheceu?!

Ele sacudiu a cabeça lentamente parecendo esforçar-se para lembrar de algo.

- Nunca o vi em toda a minha vida!

Ginny expirou pesadamente.

- E por que esse maluco resolveu atacá-lo? Não faz sentido!

- Eu sei, eu sei, e não tenho idéia do porquê ele tentou me matar... Mas a partir de hoje temos que tomar mais cuidado. Principalmente com a comunicação! Foi um deslize você ter acreditado no tal bilhete...

- É, também acho... – ela fez um muxoxo. – Caí numa armadilha boba! Mas achei que você pudesse tê-lo escrito já que eu mesma lhe deixei um recado hoje... Além do mais, sequer conheço sua caligrafia!

- Mesmo se conhecesse, é algo muito fácil de falsificar, principalmente no mundo mágico. Olhe, se vier a escrever algum recado para você sublinharei todas as letras “e”. Está bem assim?

- Sim. Boa idéia, um código... Farei o mesmo!

- Ótimo... – ele refletiu. – Só tem uma coisa que ainda não entendi na sua história... Como se livrou do feitiço de amarramento se estava sem a varinha? – Ginny o olhou com uma expressão sombria. – Você não utilizou a magia de...

- Sim. – ela interrompeu em tom ligeiramente rouco. – Eu usei.

Draco estava estupefato. Sacudiu a cabeça lentamente.

- Você está brincando comigo...

- Não mesmo.

Ele calou-se por alguns segundos até que abriu um sorriso hesitante.

- In-crível. – murmurou.

- Eu sou. Realmente incrível. Já sabia disso!

Também sorriu vaidosamente e um instante de total silêncio se sucedeu a isto. Estavam sentados lado a lado, Draco sentiu o contato da coxa dela levemente encostada à sua e quase desesperadamente reparou que este detalhe o deixava impossibilitado de se mover. Foi tomado por um súbito nervosismo, que tentou disfarçar ao máximo, embora sair dali ainda lhe parecesse impossível.

- Melhor me trocar. – disse Ginny ainda sem romper o contato visual e corporal e com um semblante levemente satisfeito. – Estamos atrasados e eu preciso de um banho.

Draco assistiu, sem pronunciar qualquer palavra, a ruiva deixá-lo e entrar no dormitório.

- Vê se não demora, mulher! – disse em tom imperativo, Ginny resmungou algo ininteligível em resposta. Acho que também preciso de um banho. – murmurou ao certificar-se que ela estava fora de alcance. – E bem frio.



XXX



Harry retornou caminhando devagar, pela segunda vez no dia sem rumo. Não estava irado e contrariado como antes, mas simplesmente sem coragem de pensar para onde ir. Na verdade estava sem coragem para pensar, em geral. Não queria que os seus pensamentos o levassem ao irremediável: à derrota e desesperança.

Só notou-se espacialmente situado ao dar de cara com o Hotel Cavour. Sem relutância e sem se importar com os olhares curiosos em sua direção rompeu o saguão e os corredores que o separavam da suíte. Passou cartão magnético, fechou a porta atrás de si e jogou o casaco encharcado no chão. Só precisava de um banho quente e algumas horas de sono para relaxar.

O quarto estava tomado pela penumbra, e Harry não se empolgou para acender as luzes. Permaneceu imóvel diante da imponente porta envidraçada que separava o dormitório da varanda observando, atento, a água banhar a cidade como se assistisse a um fenomenal espetáculo, sem disposição para qualquer atitude que não fosse aquela.

A realidade é que não havia se preparado psicologicamente para aquela situação. Muito pelo contrário. Apesar dos obstáculos, havia ele se próprio dado um jeito de se convencer que suas tentativas e argumentos seriam infalíveis. Afinal não seria Harry Potter infalível? Aparentemente não. Não sabia se o que tomava conta de si em momentos de grande desafio era um inexplicável otimismo ou uma desnecessária arrogância, a questão é que no fundo sempre achava que quando resolvesse ‘entrar em ação’ ou ‘colocar o indefectível plano em prática’ obteria resultados positivos. Mas o que seria ‘positivo’, isto nem mesmo podia dizer. Era possível que ser derrotado pelas defensivas de Hermione fosse o resultado positivo da história? Então tudo, absolutamente tudo, desde o início o levava para a decepcionante ruína? A ‘não realização’? Caso achasse que a resposta para as indagações fosse ‘não’ deveria concluir que o caso requeria mais tentativas?

Talvez.

A tempestade parecia se intensificar cada vez mais e lhe ocorreu que jamais presenciara uma chuva tão forte como aquela. Já se preparava para desfazer a posição quando o som da porta batendo atrás de si fez com que instantaneamente virasse de costas para a varanda. Somente uma outra pessoa tinha acesso livre à suíte, e Harry perplexo constatou que esta pessoa estava ali, exatamente à sua frente. Hermione. Ela pingava água, estava ensopada e ostentava uma expressão ameaçadoramente séria. Ele aguardou ansioso algum movimento ou pronunciamento da parte dela e quando seus próprios membros já ameaçavam se locomover, Hermione falou.

- Eu não quero. - foi o que ela disse parecendo impassível.

- Quê? - indagou Harry confuso.

- Eu não quero que seja tarde demais.

Uma série de rápidos pestanejos, um trovão, e Hermione estava a centímetros de distância. A forma possessiva com que enlaçou o pescoço de Harry e o olhar fixo, hipnótico ao qual ele se viu preso lhe esclareceu tudo: Ela estava no controle.

As mãos de Hermione escorregaram lânguidas, mais firmaram-se ao encontro da gola molhada da camisa de Harry, seus olhos tão firmes nos dele quanto seus dedos no tecido, se encaravam, nenhum movimento, a respiração tão silenciosa quanto possível, nenhum dos dois queria perder o contato, se render aquela guerra silenciosa que travavam. Um raio brilhou ao fundo, e o barulho estridente do trovão foi o sinal de partida para que o descontrole tomasse conta da situação, Hermione o puxou possessivamente, capturando seus lábios com ardor. Harry que até o momento, pego de surpresa, estava inerte, sentiu suas mãos encaminhando-se para a cintura fina, escondida pela roupa molhada. Ele a puxou de encontro a seu corpo, com uma firmeza que não refletia o que realmente sentia. Estava embriagado, tonto pelas atitudes da mulher a sua frente, o perfume do cabelo molhado entorpecendo seus sentidos, a calor invadindo seu corpo. Não podia, não conseguia mais se controlar.

Harry apoiou a mão nas costas dela, segurando com mais firmeza em sua cintura, Hermione gemeu ao sentir a força e a urgência dos gestos dele, com dois passos decididos ele a conduziu para a parede do quarto, prensado seu corpo contra o dela com força, o beijo intenso não fora cortado até o momento. Separaram-se então, olhos nos olhos, corações batendo com força. Com um sorriso travesso Harry desceu as mãos, apertando de leve as coxas da companheira, em um impulso porem ele as agarrou, puxando contra si, Hermione arquejou, se jogando contra a parede e enlaçando a cintura de Harry com as pernas, um sorriso hesitante brincando em seus lábios, um desejo brincando em seus olhos. Ele a observou, linda, apoiada displicentemente. Algumas gotas de água escorriam por seu corpo e ele as seguiu, hipnotizado. Hermione passou a mão no tórax forte, observando a expressão concentrada de Harry, ele, porém, sem explicação foi de encontro ao pescoço alvo, capturou uma gota com os lábios, sentindo a pele fina se arrepiando, sorriu, beijou mais intensamente, passeando com a ponta da língua, enquanto Hermione virava a cabeça, oferecendo o pescoço para que ele o saboreasse com avidez. Ela ainda tinha um sorriso discreto no rosto que contrastava com a quase dor que o prazer de estar com Harry lhe causava, sua mente trabalhava a mil, mas nada parecia coerente, e não era para ser afinal. Os beijos de Harry desciam quentes por seu colo, saudosos daquela pele tão familiar e tão desejada. Conhecia cada milímetro do corpo de Hermione, mas cada beijo era uma descoberta, agradáveis surpresas que há tanto ansiava.

Ele aproveitava a aproximação e beijava devagar, saboreando. Mas Hermione aos poucos ficava impaciente, o calor do desejo queimando seus sentidos, segurou a camisa de Harry com força, forçando a encará-la.

- Até quando pretende continuar com isso, Harry?

- O que?

Mais ela não respondeu com palavras, soltou as pernas e com o impulso e peso de seu corpo fez Harry cambalear, em alguns passos sem que ele percebesse, o conduziu para onde queria. Deu um passo recuando, fazendo uma expressão incrédula aparecer no rosto de Harry.

- Acho que já deixei você se divertir demais...

- Mais do que você esta falando?- sua voz saiu embargada, tão descrente como sua expressão denunciava que estava, no fundo receava violentamente que até um piscar de olhos seu pudesse fazê-la mudar de idéia e desistir de estar ali com ele. Um sorriso estranho, porém, apareceu no rosto da bela morena.

- Agora é minha vez.

Hermione esticou o braço direito, dando um pequeno empurrão no homem de expressão incrédula a sua frente, esse leve empurrão, no entanto foi o suficiente para que ele desse um passo para trás, esbarrando na cama e caindo. Ela se aproximou com um olhar predador, e Harry com um sorriso intrigado recuou um pouco, então Hermione em um salto estava sobre ele, os cabelos soltos revoltos combinavam com o sorriso selvagem que ela lhe brindava.

Segurou o queixo de Harry, as unhas prensando levemente a pele dele, devagar desceu pelo pescoço grosso, deixando um fino rastro avermelhado, resmungou insatisfeita quando suas mãos encontraram a camisa úmida, a segurou com força e abriu de uma só vez. Os botões voaram violentamente pelo quarto, passou as mãos lentamente pelo tórax forte, seguindo o caminho para os braços musculosos, se livrando de uma vez da peça de roupa. Inclinou-se decidida, capturando os lábios de Harry com vontade, mordiscando e saboreando como tanto desejava, desceu em uma trilha de beijos voluptuosos pelo pescoço e tórax, ouvindo os baixos sons de agrado que Harry fazia. Parou por um instante, saindo de cima dele. Despertando das sensações, Harry a observou com o olhar faminto enquanto se levantava. Ficando de pé a um passo dele virou-se, dando as costas para Harry. O quarto estava na penumbra, somente os raios da violenta tempestade o iluminavam. E foi em flashs que ele a observou, enquanto em movimentos sensuais se livrava do casaco pesado, devagar, torturante, a silhueta se afilava contra a luz que perpassava pelo vidro. Ela jogava os cabelos no ritmo de uma musica inexistente, enquanto as mãos passeavam pelo corpo em silenciosa provocação. A cabeça de Harry demorou a processar aquela informação, Hermione estava fazendo com que nada mais fizesse sentido para ele, mas, sinceramente, não se importava, tudo o que queria era continuar apreciando aquela demonstração de destreza na arte da sedução, Hermione não precisava provar nada, não havia por que. Para ele todo e qualquer gesto, por menor que fosse, era uma arma de sedução imbatível.

Ele a observou por alguns minutos, à vontade de levantar e jogá-la de volta na cama se tornando cada vez mais forte, e então ela fez aquilo, terminando de tirar a saia comprida se curvou de uma maneira indescritível, e enquanto voltava ao normal, observava as reações de Harry com o olhar brilhante de excitação e expectativa, o sorriso insinuante que ela lhe jogou foi o fim, não agüentava mais aquela tortura da morena.

Levantou-se de uma vez e a abraçou por trás colando os corpos e deixando que ela sentisse o estado em que o havia deixado, ela riu alto, sem reservas.

- Me perguntava até quando você ia se segurar...

- Por tempo demais eu diria.

Harry a puxou pela cintura, uma expressão indecifrável se formava no rosto de Hermione, em movimentos rápidos ele a virou de frente para ele, e sincronizados como em uma dança se viraram juntos caindo de volta na cama, ela riu divertida, Harry porem mantinha o semblante sério, concentrado nas reações dela. Ele a ajeitou na cama, enquanto se livrava dos próprios sapatos e meias. A olhava admirando a bela harmonia entre o corpo e o rosto de Hermione, quanta saudade sentia dela, quanta saudade ele sentia de estar com ela, por quanto tempo fantasiara este reencontro. Suspirou satisfeito, hoje seria o dia em que começaria a satisfazer aquela saudade. Observou por alguns segundos o sutiã rendado que ela vestia, engoliu em seco, hesitante se aproximou, com dedos ágeis abriu a pequena peça, e Hermione o ajudou a tirar.

- Oh Merlin! Hermione você cresceu! – Ele olhava deslumbrado, tão e mais bela do que se lembrava. Ela riu divertida com a expressão dele. Com um sorriso diferente o puxou a seu encontro, movimentou de leve os quadris, arrancando um gemido abafado de Harry. Aproximou-se devagar de seu ouvido e sussurrou.

- Você também Harry, você também...

Ele riu baixo, se aproximou e calou Hermione com beijos. Não tinham que falar nesse momento: tinham que fazer. Desceu pelo pescoço alvo com beijos lascivos, chegando enfim aonde desejava, segurou com força, porem cuidadosamente os seios macios, capturando o primeiro com os lábios, enquanto acariciava o outro com dedos rápidos e experientes. Os gemidos de Hermione ganhavam força com cada caricia do homem sobre ela, seus dedos perdidos em meio à cabeleira negra, hora acariciando, hora puxando de prazer.

Harry abaixou a mão direita, acariciando a úmida intimidade de Hermione e ela gemeu alto. O desejo estampado em seus olhos. Com mãos ágeis desatou o cinto incomodo, retirando aos poucos a calça preta do homem. Queria senti-lo perto, as peles se tocando a todo instante, se unindo em suor e prazer. Só os beijos urgentes e as mãos exploradoras falavam, nenhuma palavra era necessária. Durante toda a noite se acariciaram, amaram-se como nunca. Unindo-se em um só. Como eles sempre foram e, ambos sabiam, nunca, jamais, deixariam de ser.



XXX



Ginny soltou um monstruoso bocejo. Vinha tentando contê-lo desde entrara ao lado de Draco no Grande Salão do resort, mas, fora derrotada naquele instante pelo reflexo do dia maluco e estafante que tinha tido. O fato de estar rodeada por pessoas de meia idade que discorriam sobre os assuntos mais monótonos de que tinha conhecimento ajudou muito para que o monstruoso bocejo passasse de iminente para ativo. Estava há horas ali, disso tinha certeza e todos só sabiam beber e falar bobagens! Tomou mais um gole de champagne, então fitou Draco que se esforçava para sorrir ao lado do fastidioso Burnhill. O velho insistia em relatar seus grandes feitos no lucrativo ramo da industrialização de Mandrágoras e Draco consumia cálices e mais cálices de bebidas que Ginny nem achava que conhecia! Era patético, mas não podia se gabar muito. Escutar Guillemine Vaultier e Frida discutirem sobre os novos produtos mágicos de beleza que comprariam para o verão não lhe deixava em uma posição confortável para críticas. Duplamente patético.

Escorregou sorrateiramente para o lado, quando Frida e Guillemine já estavam absortas o suficiente com si próprias para não notar nada além dos próprios umbigos. Draco a acompanhou com uma expressão tão enigmática que chegava a ser enervante, levava uma dose de Firewhisky e um sorriso desafiador nos lábios.

- Por que está tão satisfeito?

- A bebida da melhor qualidade. – respondeu com naturalidade degustando o líquido com prazer.

Ela expirou pesadamente, exalava tédio, quando num discreto sobressalto reparou Draco segurar-lhe a mão e levar na direção dos lábios.

- O quê está fazendo? – sussurrou em tom desesperado.
Ele deu de ombros.

- Beijando a mão de minha esposa? – respondeu executando a ação. Ginny sentiu o ar pesar em álcool que não provinha de sua taça, mas da pele do outro e os lábios mornos de Draco colarem em sua pele vagarosamente. Ao fim ele permaneceu com a mão enlaçada na dela.

- Pare de beber. – ordenou ainda falando baixo. O loiro tomou o restante de copo num gole só e a olhou provocador. – Imbecil! Está bêbado, sabia?

- E se estiver? – pegou um outro drink. – O quê que tem?

Ela respirou fundo.

- Perdeu a noção do perigo? Como pôde se embriagar nestas circunstâncias?! Vamos embora, pro chalé!

- Não. – resistiu segurando mais forte a mão da mulher. – Não quero ir. Não iremos.

- Não consigo acreditar nisto! O que estou dizendo, idiota...

- Veja bem como fala comigo, querida. – pôs a bebida sobre o batente da lareira e aproximou-se dela. – Não quer que pensem que estamos brigando, quer?

Ginny abriu a boca para retrucar, então pareceu desistir, até que após refletir disse:

- Não quero que estrague tudo!

Draco sorriu charmosamente, num gesto delicado e nobre acariciou-lhe a face e o pescoço e puxou o rosto da linda ruiva para perto.

- Estragar tudo é a última coisa que quero fazer, querida.

Os músculos de Ginny se enrijeceram quando se viu puxada, agora com firmeza, pela cintura. Era a única manifestação de protesto que poderia ter. Para seu horror Draco estava a milímetros de fazer o que imaginava, porém temia com todas as forças. Sim, ele trazia os lábios de encontro aos seus, e Ginny talvez involuntariamente decidiu que não veria aquela cena, não novamente, e estava de olhos cerrados quando num impulso intenso e ardente foi invadida pelas chamas que se sucederam ao encontro voluptuoso dos lábios de Draco nos seus próprios. Ele estava sedento, alcoolizado e incrivelmente empenhado a puxá-la o quão mais próximo conseguisse para junto de seu corpo vigoroso. De certo que ela sequer pensara em resistir, não estava em condições para tal, porém, também não suspeitara que se renderia com tamanho fulgor: Tinha as unhas cravadas na nuca de Draco e já se sentia também bêbada, se não o agarrasse veementemente cairia sobre suas pernas trêmulas, agonizaria dilacerada quando seu sangue fervente escorresse após romper as próprias artérias e assistiria ao próprio coração saltitasse após rasgar o peito. Receava simplesmente não conseguir mais viver, caso aquele instante, lascivo ao extremo, acabasse.

Mas foi quando estava ligeiramente sem ar que o instante acabou, e viu-se separada no homem robusto e agora de cabelos dourados despenteados. Ele tinha um meio sorriso, de canto de boca e o olhar compenetrado ao seu. Teve vontade de xingá-lo, batê-lo, xingá-lo novamente enquanto voltava a batê-lo e amaldiçoá-lo, tudo isto vinha após a vontade que tinha de partir-lhe as roupas e beijar-lhe a boca, o tórax, o abdômen e o que lhe chegasse ao alcance. E ele ainda sorria e a instigava, como se a desafiasse para um duelo, talvez não soubesse, mas ela estava bem disposta a duelar por séculos inteiros até.

- Meu Merlin! Que energia! – foi a voz estridente de Frida que soou a alguns metros do combate visual que era travado entre Draco e Ginny.

A ruiva se sobressaltou e mirou a outra, sua face que estava quente culminou às brasas. Só então percebeu o quanto odiava Draco. Presunçoso, audacioso, insolente! Havia se utilizado das circunstâncias para tripudiar assim como da outra vez. Canalha!

- Eles são jovens, minha amiga! Estão certíssimos a meu ver... Christina é muito sortuda, tenho que ressaltar, um belo e bem disposto marido... – disse Guillemine em tom suspirante. Ginny soltou um sorrido forçado.

Guillemine bem desejava estar em seu lugar, não? Sim, estava estampado em sua face descorada e não fazia o mínimo esforço para esconder tal fato. Muita pouca vergonha! Uma vaca essa Guillemine! Não simpatizara com ela desde a primeira vez que a vira.

Voltou-se para Draco, ele estava recostado à parede e parecia cambalear. Levou as mãos à cabeça e massageou os olhos.

- Oh, não! Acho que meu marido bebeu demais. – falou Ginny quando Draco pendia para cair sobre ela. – Peço mil desculpas! Ele sempre exagera... Por Merlin, me desculpem!

O gentil Holt se ofereceu para ajudar a carregar Draco cada vez mais zonzo e foi com um braço sobre os ombros dele e o outro sobre os de Ginny que chegaram até o chalé depois de uma animada conversa que os dois, agora bem amigos de firewhisky, tiveram durante todo o percurso. Ginny agradeceu e se desculpou mais uma vez em nome do casal e tratou de arrastar Draco até a cama.

- Patético! Mil vezes patético! – ela reclamava. – Será que você tem idéia do quanto está sendo... PATÉTICO?!

Ele danou-se a rir, ria, e ria com gosto, com vontade, o que a irritava ainda mais. Ela em resposta o empurrou brutalmente ao chegar à cama, mas como Draco a estava apoiado sobre seu ombro foi levada junto. Caiu no colchão, gritando um palavrão.

- Patético? – disse Draco ainda entre risos, Ginny se recompunha a seu lado. – Eu me sinto bem. – e suspirou.

- Ah é? Você se sente BEM? – parecia possessa. – Aconselho que aproveitem muito este momento por que se depender de mim ele será absurdamente efêmero!

Ele voltou a rir.

- Mesmo? O que pretende fazer a respeito?

- Quer saber? Pra mim já chega! – sentou-se apontando indicador para ele. - Amanhã mesmo irei embora deste lugar, não ficarei mais um segundo sequer ao lado de um completo imbecil como você e...

Draco puxou-a pelo antebraço, fazendo-a cair exatamente sobre si. Ginny engoliu seco as palavras que pretendia dizer quando captou unicamente o olhar sério, misterioso e um pouco dissimulado que Draco lhe dirigia. Por um segundo pensou tê-lo visto aproximar a face, mas ele estancou, murmurando:

- Foi a última vez Weasley. A última.

E com uma leve sensação de frustração assistiu Draco soltar-lhe os braços e cair para trás, respirando fundo, de olhos fechados. Ficou com aquela meia dúzia de palavras passeando pelo seu consciente por todas as horas que levou para dormir...

“A última. A última vez. Sim. A última”






XXX



“And I'm not going to take it back

I'm not going to say I don't mean that

You're the target that I'm aiming at

And I'm nothing on my own

Got to get that message home”

Coldplay – A Message


Os livros já não estavam mais espalhados pelo chão e a estante recuperada por total os abrigava novamente. Tinha reunido o pessoal da base e os alertado a respeito de possíveis ataques que surgissem, e ainda nas primeiras horas da manhã os feitiços defensivos foram reforçados. Se o sujeito misterioso, que tentara agredi-los na noite anterior voltasse, seria capturado. Sim, havia tomado todas as providências a este respeito. Convencida disto ela caminhava devagar de um lado para o outro no gabinete superior com uma xícara de capuccino nas mãos. Em sua mente, rápidos clarões traziam os flashs da noite anterior de quando em vez e pareciam contorcer ansiosamente as paredes de seu esôfago. Era uma sensação deveras excitante perceber que naquele instante suas recordações não pareciam se associar em nada com a vida que vinha levando nos últimos anos o que não deixava de causar um tom de embriaguez a tudo.

Quando despertou ao lado de Harry foi exatamente esta a impressão que teve: de embriaguez. Como se tivesse ingerido uma grande quantidade de álcool e não soubesse mais distinguir se havia agido por sua própria vontade ou por influência de outros motivos, até mesmo se as lembranças ora turvas ora óbvias em sua cabeça eram fato realizado ou apenas fruto de uma imaginação fértil e conturbada por fatores externos. Não demorou muito para que percebesse que não havia se embriagado e que sua imaginação não era a responsável por estar ao lado de Harry, deitado de bruços, cujas costas estavam absolutamente descobertas e os braços envoltos nela. Era impossível não se chocar com as circunstâncias e evitar a pergunta que uma segunda voz lhe gritava: “O que farei?”.

O que a segunda voz não sabia era que ela já havia pensado, mesmo que rapidamente, na exata resposta para a questão horas antes. Por isto havia parado ali, ao lado dele. Se sua memória não lhe traía, e dificilmente aconteceria isto com Hermione, Harry deveria dormir até tarde. Tinham trabalho a fazer, foi a segunda voz que a advertiu novamente disto. Ela a ignorou e não ousou acordá-lo. Menos de uma hora depois estava na base, ditando ordens à equipe de plantão, o que não levou muito tempo. Logo foi recebida novamente por seus pensamentos e pela xícara de capuccino. Ambos foram receptivos e apenas os clarões, cada vez mais freqüentes, a deixavam trêmula. E Hermione não achava conveniente estar trêmula, mesmo que por velozes instantes. Franziu o cenho indo pôr-se diante da janela e mirando a pintura do prédio adiante, era um residencial de cinco andares, mas a sua atenção estava dedicada sem objetivo algum, mas especialmente, apenas à pintura. A textura, as cores acinzentadas calmas, tudo em perfeita harmonia, porém cansativamente insípidas.

E teria ficado assim por uma quantidade indeterminada de tempo caso a porta do escritório não tivesse se aberto de forma repentina e com selvageria o suficiente para bater na parede revelando um aturdido Harry. Irrompeu na sala como um furacão, parando a dois metros dela. Ofegava, não seria de se espantar que tivesse pressa para chegar até lá, isto até parece irônico, era evidente que estava com pressa, a camisa mal abotoada e os cabelos úmidos, espetados e despenteados faziam de Harry a personificação da impaciência. Se ele esperava ou não por um ‘Bom Dia’, imediatamente Hermione soube.

- Certo. Eu corri quatro quarteirões porque não tenho concentração o suficiente sequer para aparatar. Estou com sede, com fome e também estou cansado, mas quer saber? – abriu os braços parando o indicador na direção dela. O tom que usava era agressivo. - Você pode começar. Fale! Ande, diga o quanto eu a magoei e que estraguei tudo, que fui insensível, estúpido, egoísta, que nunca a escutei, que não fui capaz de me dedicar o quanto deveria e que não lhe dei atenção o suficiente. Podemos discutir tudo, a história inteira, desde o início, denovo e denovo, quantas vezes forem necessárias. Estou disposto a escutar todos os seus argumentos e até mesmo ser derrotado por eles, como sempre! Posso ouvir que você não acredita que eu tenha mudado, e que não sou capaz de fazê-la feliz ou qualquer outra conceito desprezível que tenha a meu respeito, não importa! Eu simplesmente sou capaz de debater cansativamente e escutar qualquer tipo de coisa que você queira. Qualquer tipo! – fez uma breve pausa, em que voltou a abrir os braços, havia perdido o fôlego. – Só não me diga que ignora e quer que eu ignore o que aconteceu ontem a noite. Pois esta... É a única coisa que não vou conseguir aceitar!

Hermione permaneceu estática por segundos em que Harry parecia voltar a absorver oxigênio de maneira arfante. Os olhos estavam presos aos dele e quase involuntariamente ela viu-se a soltar uma alta gargalhada. Harry pestanejou várias vezes, ainda absolutamente sério e apreensivo.

- O que é engraçado? – perguntou entre dentes.

Recompondo-se ligeiramente, foi a vez de Hermione respirar fundo e voltar a mirá-lo.

- Eu... – fez uma pausa. – Não ignoro e nem quero que ignore o que aconteceu ontem à noite.

Harry deixou os ombros caírem levemente, um gesto que denotava quase que decepção.

- Não?

Ela sacudiu negativamente a cabeça.

- Não.

Abriu um discreto sorriso. Harry cobriu a face com as mãos fechando de leve os olhos.

- Por que-faz-isto-comigo? – usou um tom acusador.

- o quê? Isto o quê? – ela realmente não entendera.

- Me expõe a estas... – procurou palavras. – A estas... Situações!

- Eu o exponho? – disse incrédula. – Acho que se expõe por si só!

Harry sorriu nervosamente.

- Ah, é claro. Mas o que eu quis dizer foi... Você... O que acha que pensei quando acordei sozinho lá? Por que saiu assim?

- Só não quis acordá-lo. – deu de ombros.

- E por que não? Por que não me acordou?

- Nenhum motivo em especial. – calou por um instante. – Achou que eu iria me arrepender e fingir que nada aconteceu?

Ele hesitou levando as mãos aos bolsos.

- É... Achei. Mas... Você não vai fazer isto, vai?

Mais uma vez, ela não respondeu de imediato. Pousou a xícara sobre a escrivaninha e aproximou-se antes.

- Não. Não vou. - Hermione pensou ter visto uma rápida luz de alivio na face de Harry, e não foi só pensamento, ela realmente esteve lá. - O que não quer dizer que eu discorde de tudo o que falei ontem a você ou que subitamente comecei a acreditar no que você me disse!

- Como é que é? – estava confuso.

- Isso mesmo que ouviu. Eu não ignoro nada do que aconteceu, mas tenho que admitir que ainda está tudo muito mal entendido mocinho. Quero que saiba que eu não esqueci nada do que você me fez no passado e muito menos que ache suas atitudes para com a minha pessoa e o resto da humanidade corretas. – esclareceu.

- Eu não esperava que você esquecesse de uma hora para outra, realmente. Quanto às minhas atitudes... – refletiu por um segundo. - É. Elas não são aceitáveis mesmo.

- Menos mal. – ele estalou os dedos das mãos, apreensivo. – Independentemente da noite de ontem, o passado continua imutável e se quisermos chegar a algum denominador comum acho que precisamos conversar, porque ainda não conversamos, apenas discutimos e...

- Você disse alguma coisa como... – interrompeu. – Não querer que fosse tarde demais. Isso significa que, irá me dar outra chance? – perguntou com receio.

Hermione levantou a sobrancelha quase num aceno positivo de cabeça.

- Não.

Ele ostentou uma expressão de revolta e disse em tom indignado:

- Mas, Hermione... Você disse que...

- Eu não darei outra chance a você, Harry. – falou lentamente. – Eu já estou dando.

Dito isto ele respirou aliviado antes de correr até Hermione e pressioná-la num abraço.

- E é melhor aproveitá-la porque é a última, entendeu? Isto significa que não haverá outra, sem possibilidade de alteração, a sua derradeira chance! Harry... Ponha-me no chão!

Ele obedeceu com um sorriso estonteante.

- Mione! Obrigado! Eu... Eu prometo que desta vez será diferente.

- Eu espero. Espero que não faça com que me arrependa disto também.

- Ah não! Você não irá se arrepender. Pode estar certa. Acha que eu estragaria tudo denovo? Quantas vezes terei que me ferrar para que perceba que eu não sou nada sem você?

- Eu gostaria que não muitas.

- Confie em mim. – ela franziu o cenho. – Só mais uma vez.

- É o que estou tentando fazer. Mas não parece muito seguro, acredite. – Harry respirou fundo. – Tente entender. Não é nada fácil.

- Sim, eu sei. Eu entendo.

- Eu quero fazer isto. De verdade. Mas não pode ser assim, desta forma tão... Repentina. Nós ainda temos pelo menos um bilhão de coisas para conversar antes de prosseguir, só que este não é o momento apropriado. Temos um trabalho e quero cumpri-lo a qualquer custo. É isso que está em primeiro lugar agora então, acho que o mais adequado é que nos dediquemos unicamente à missão. – explicou em tom calmo, mas autoritário.

Harry expirou meio afobado.

- É. Você está certíssima. Como sempre. – e sorriu. – Deixe-me ver se entendi bem o raciocínio... Quanto mais rápido terminarmos com isso mais rápido terei você?

- Quanto mais rápido terminarmos com isso mais rápido você ouvirá umas boas verdades que por algum lapso eu tenha esquecido de dizer ontem à noite. – corrigiu com um sorriso superior.

Foi a vez de Harry rir.

- Por mim está bem. Lembro de algumas verdades bem simpáticas que me disse no hotel à noite. Pode até repeti-las quando quiser! – falou com senso de humor.

- Eu estava falando sério. – disse ela cruzando os braços.

- E eu também. Ou será que já esqueceu do que me disse ontem? – insistiu com um tom malicioso. – Se for o caso podemos refrescar sua memória.

- Eu lembro. – ela não parecia nada satisfeita - Você que parece ter esquecido o que acabei de dizer.

Harry cessou o sorriso.

- Está bem não precisa se chatear por uma brincadeira boba. Eu entendi perfeitamente bem o que disse. Quer que eu fique longe de você até finalizarmos o trabalho, não é isso?

- Não sabe como me alivia saber que você não é de todo tolo. – foi o que Hermione respondeu. – Era exatamente isso!

- Tudo bem, como desejar – deu de ombros. - Boa sorte.

- Quê?

- Não leve a mal, mas acho que vai precisar de boa vontade e de muita boa sorte para conseguir ficar longe de mim. – disse com um olhar penetrante.

Hermione ficou em silêncio por alguns segundos.

- Será que não está se referindo a você?

Um espectador cuidadoso notaria com facilidade os calafrios que abateram ambos quando Harry se aproximou, devagar, receoso com os olhos nos dela, tocou-lhe de leve a face com a ponta dos dedos. Sem pressa os lábios se encontraram, apenas num toque carinhoso sucedido por um sussurro de Harry:

- Também. – e com a mesma velocidade que chegara a frente dela, afastou-se, agora com um semblante sério. – Mas eu juro que vou tentar.

Ela sorriu discretamente.

- Bom.

- Então vamos rápido com isso, por favor, porque mesmo com muita boa vontade não garanto suportar muito tempo. – caminhou até os papéis sobre o birô. - O que você tem para mim?

- Ah, já que perguntou... – indicou-lhe algumas referências em um pedaço de pergaminho. - Hoje você fará um passeio...

Harry franziu o cenho.

... E será um passeio bem interessante.



XXX





O relógio central bateu quatro horas da tarde. Pelos longos corredores o eco das badaladas se difundia de modo a tornar a atmosfera fúnebre, uma canção sem fim tocava junto com o som do relógio, uma canção que dizia em alto e bom som, fazia questão de lembrar a tudo e todos que o tempo estava passando, escorrendo por entre os dedos, não era possível mudar isto.

A sua frente havia um famoso Caravaggio que naquele instante dispunha de toda sua atenção. Sequer ouvia as badaladas, era fascinante observar apenas aquilo. Tratava-se de uma de uma obra abstrata, cheia de cores e linhas sugestivas para uma mente mórbida corrompida pelo tempo e por vezes deveras calculista. Uma mente que aprendera a sobreviver sobre as feridas do tempo. O maldito tempo.

Era o lugar favorito do Palácio. Por inúmeras ocasiões flagrara-se mirando o Caravaggio e orgulhando-se de si mesma. Por ser uma vencedora. Havia vencido, por isso estava ali. Havia suportado as pessoas a ignorarem enquanto gritava e sucumbia vendo uma carreira se arruinar sendo acolhida pelas chamas da vergonha que a obrigou a andar sobre os cacos de vidro da vida despedaçada que perdera. Mas isto não passava de uma mera memória infeliz que agora ocupava quase sempre seu pré-consciente.

Ouvia os burburinhos à volta e jurava em silêncio comprar o Palácio um dia para não ter que suportá-los cochichando da arte. Era um insulto postar-se dessa maneira diante de tal perfeição e lhe puxava dolorosamente das águas do Caravaggio.

Sim, iria comprá-lo, e se mudaria para lá. Pararia todos os dias no corredor enquanto tomava uma xícara de chá. Na sala de música leria Nietzsche ao som da quinta de Beethoven. Quem sabe ao fim de meses, absolutamente sozinha no castelo, pudesse se sentir uma pessoa melhor e apagar de vez as lembranças do que poderia ter sido e não foi. Dos erros que poderia ter evitado. Das palavras que poderia ter dito. Das músicas que poderia ter cantado. Dos lugares que deveria ter ido. Das pessoas que deveria ter amado. Das pessoas que deveriam ter lhe amado.

Sim, iria comprá-lo!

E até o fim dos dias teria o Caravaggio, no corredor semi iluminado... Que bom seria! Quando lhe ocorresse a velhice, não apenas física mas espiritual, tomaria ar nos jardins em meio às tulipas, levaria consigo Nietzsche, Beethoven e a constante dúvida sobre o ‘Eterno Retorno’, encontraria na solidão o refúgio dos anos de fartura e infelicidade em que não podia com o peso da própria alma, porém, venceu a todos que pudessem carregá-lo por ela.

Faria da vida um grande esboço para coisa alguma, mas, sim, iria comprar o Palácio!

Em uma língua que soava estranha até para quem conhecia um grupo atravessava o hall principal e dava o veredicto de que sua viagem ao Caravaggio e aos planos que fazia havia chegado ao fim. Não olhou a pintura antes de caminhar, ou melhor, antes de deixar-se levar pelo escarpim através do corredor mais movimentado que sua paciência estava disposta a suportar. Sempre havia visitantes demais. Apressou-se.

- Milady!

A voz masculina tinha um original sotaque inglês e vinha das suas costas.

Ela girou nos calcanhares para ver o compatriota. O homem tinha uma delicada peça cor de sangue em mãos e caminhava na sua direção. O sangue gelou em suas veias e a pele tornou-se quase tão esverdeada quanto os olhos do belo homem.

- Deixou cair sua echarpe, Helena.

Ele falou em um tom cortês e um sorriso encantador nos lábios. Ela desconcertou-se. Sua reação foi trêmula, mas contida. Sorriu-lhe de volta estendendo a mão, o que falou em seguida veio quase num suspiro de desespero:

- Não acredito, é Harry Potter!



X



C-O-N-T-I-N-U-A



X



N/A(2) – Meu agradecimento super, hiper mega especial vai para a Sally, que me ajudou maravilhosamente bem neste capítulo. Acreditem gente, sem essa ajuda com certeza o capítulo X não sairia tão cedo! Os créditos pela “Nc 15 e meio” são todos dela que teve a bondade de atender o meu pedido e escrever esse trecho para mim. Sally, serei eternamente grata! =********
O início do capítulo está uma confusão, eu sei, mas iria perder muitas páginas se fosse escrever tudo o que aconteceu com a Ginny, não é mesmo? Espero que vcs tenham conseguido ler tranqüilamente mesmo com esse “lapso” de história. Continuação? Provavelmente vai demorar. Enquanto o universo todo está em férias EU não estou. Tenho faculdade até fevereiro então o capítulo onze sai... Quando der! Beijos e até a próxima! =*

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