CAPÍTULO VINTE E TRÊS



Vinte e três


É o Harry. Ele levanta me olhando fixamente. Está de jeans e camiseta cinza, mais bronzeado que antes. Não gosto desse ar saudável e tranqüilo.

- Oi - diz ele, vindo em minha direção.

- Oi. - Fico paralisada e ereta. – Como você soube da minha volta?

- Rony me deu os detalhes do seu vôo. Encontrei o número dele na agenda de Cho.

- Ah... O que você quer? O que você está fazendo aqui? - pergunto.

Tento não soar amargurada, mas não consigo.

- Deixa eu subir. Preciso conversar com você - diz ele calmamente, mas decidido. José ainda está sorrindo, sem desconfiar de nada.

Dou de ombros e aperto o botão para chamar o elevador. A subida é interminável, silenciosa. Olho para ele, enquanto ele me dá passagem. Suponho que esteja aqui para se desculpar mais uma vez. Ele não suporta ser o vilão da história. Bem, não concederei a ele esse prazer. Não vou deixá-lo dar uma de bonzinho para cima de mim. Se ele disser mais uma vez que sente muito, vou dar um fora nele. Talvez até mesmo falar do Zach. Vou dizer que estou bem, que irei ao casamento, mas que depois quero distância dele e espero que ele coopere. Não se engane, direi, nossa amizade acabou.

Giro a chave na fechadura e abro a porta. Entrar no meu apartamento é como entrar num forno, apesar de eu ter me lembrado de abaixar as persianas. Minhas plantas estão todas murchas. Esqueci de pedir a Gina para regá-las. Ligo o ar-condicionado e percebo que ele não vai funcionar no máximo. Sempre que a temperatura passa de 35 graus, há uma queda de tensão na energia de toda a cidade. Sinto saudade de Londres, onde nem é necessário ter um ar-condicionado.

- Queda de tensão - diz Harry.

- É, dá para perceber - digo.

Passo por ele bem rápido, sento no sofá, cruzo os braços e tento levantar uma sobrancelha como Luna ... Mas ambas se elevam juntas.

Harry senta ao meu lado sem pedir licença. Ele tenta pegar na minha mão, mas eu a afasto.

- Por que você está aqui, Harry?

- Acabei de cancelar.

- O quê? - pergunto. Certamente entendi errado.

- O casamento foi cancelado. Eu... eu não vou me casar.

Entro em estado de choque, lembrando da primeira vez em que ouvi dizer que as pessoas se beliscam quando acham que estão sonhando. Eu tinha quatro anos quando encarei o conceito literalmente, beliscando com força meu próprio braço para garantir que não estava sonhando.

Lembro-me de ter sentido alívio com a dor que senti.

Harry continua, sua voz firme e baixa. Ele olha para os punhos fechados sobre o colo enquanto fala, dirigindo o olhar para mim apenas entre uma frase e outra.

- Durante o tempo em que você esteve fora, quase enlouqueci. Tive tanta saudade de você. Tinha saudade do seu rosto, do seu cheiro, até do seu apartamento. Não conseguia parar de repassar tudo na minha cabeça. Todo o nosso tempo juntos, todas as nossas conversas. O curso de Direito. O seu aniversário. O Quatro de Julho. Tudo. E simplesmente não consegui imaginar que nunca mais estaria com você. É simples assim.

- E a Cho? - pergunto.

- Eu me preocupo com ela. Quero que ela seja feliz. Via o casamento como uma obrigação. Nós estivemos juntos por sete anos e por muito tempo fomos muito felizes. Eu não queria magoá-la.

Eu também não quero magoá-la, penso.

Ele continua.

- Mas isso foi antes de você. Não posso me casar com ela e esquecer o que sinto por você. Não posso fazer isso. Eu te amo. E isso é apenas o começo... Se você ainda me ama.

Tenho tanto a dizer, mas de alguma forma estou sem palavras.

- Diz alguma coisa.

Pergunto com dificuldade:

- Você contou para ela sobre nós dois?

- Não. Mas falei que não a amava e que seria injusto se me casasse com ela.

- E ela? - pergunto. Preciso saber de cada detalhe para acreditar que isso é real.

- Ela perguntou se havia outra pessoa. Eu neguei... disse apenas que as coisas não estavam muito bem entre nós.

- Como ela está?

- Chateada. Mas na verdade ela está mesmo chateada com a maldita cerimônia de casamento, com o que as pessoas vão pensar. Garanto a você que é isso que mais incomoda Cho.

- Onde ela está agora? - pergunto. - Ela não me ligou.

- Acho que ela foi para a casa da Pansy.

- Tenho certeza de que ela acha que você vai mudar de idéia. - No fundo, eu também acho. Ele vai mudar de idéia, o que será ainda mais cruel.

- Não - diz ele. - Ela entende que falei a sério. Liguei para os meus pais e contei a eles. E eu e ela vamos telefonar para os pais dela hoje à noite. Ela precisa que eu conte para eles... e depois avisaremos a todas as outras pessoas. - Ele engasga, talvez esteja prestes a chorar.

Digo que sinto muito. Não sei o que dizer. Não consigo digerir essa informação tão rápido. Quero beijá-lo, agradecê-lo, quero sorrir. Mas não posso. Não parece apropriado.

Ele faz que sim com a cabeça, passa as mãos pelo cabelo e então põe as mãos no colo outra vez.

- É difícil, mas sinto que me livrei de um peso enorme. Fiz o que tinha de fazer. - Nós nos encaramos antes de nos beijarmos. Enquanto sou envolvida
por seus braços, penso: Isto é real. Então lentamente relaxo, me sentindo feliz e plena pela primeira vez num espaço de tempo que parece uma eternidade. Nunca tivemos um momento de serenidade, nem mesmo durante o Quatro de Julho. Agora temos tempo. Todo o tempo do mundo.

Talvez até mesmo para sempre.

Fico pensando no fantasma de Cho nos trazendo culpa. Fazer amor será diferente? Estou prestes a descobrir isso, porque Harry está desabotoando minha camisa. Meu coração está acelerado enquanto vamos para a cama e tiramos a roupa.

- Senti saudade de você, Mione- diz ele.

Posso sentir seu coração batendo contra o meu.

Então José nos interrompe tocando o interfone uma, duas vezes. Atendo
pensando que seja um pacote, a lavanderia ou alguma coisa que ele esqueceu de me dizer. Direi que pego seja lá o que for mais tarde. Mas não é um pacote. É a Cho. E ela ouviu minha voz pelo interfone.

- Diz a ela que eu desço já - respondo.

- Ela já está subindo! - José praticamente canta as novidades. Claramente, ele não imagina que a chegada de Cho significa que eu e meu primeiro visitante estamos ferrados. Por outro lado, talvez ele saiba. Talvez os porteiros, mesmo aqueles que parecem amigos, secretamente se deliciem com o drama dos moradores.

- Oh, merda! - digo, levantando e olhando em volta. - Ela está subindo! Merda!
Harry está calmo, veste a cueca, vai até o armário menor carregando a calça e a camiseta. As prateleiras tomam todo o espaço do armário. Não serve.

- Entra no outro. No guarda-roupa! - eu aponto para ele com os olhos arregalados, completamente histérica.

Ele volta e abre meu guarda-roupa. Há espaço lá. Ele agacha perto de um cesto, segurando suas roupas. Fecho a porta exatamente quando Cho chega.

- Estou indo! - grito.

Visto a calcinha e o sutiã, depois abro a porta.

- Desculpe, estava trocando de roupa.

- Oh, meu Deus. Ainda bem que você voltou - diz ela.

Pergunto o que aconteceu antes de me dar conta de que ela parece estar bem. Nada de olhos vermelhos, nada de rímel escorrendo, nada de olhar deprimido. Cho anda pelo apartamento enquanto explico gaguejando que acabei de chegar e queria pôr uma roupa mais confortável.

Visto um short e uma camiseta.

Ela ainda está calada.

- E então, faltam seis dias. Você deve estar ficando louca! – rio nervosamente. - Bem, agora posso ajudar com as providências de última hora, estou à sua disposição. Para ajudá-la com qualquer providência de última hora que seja necessária para o casamento.

- Não vai haver casamento.

Ela funga.

- O quê? - prendo a respiração e me aproximo dela com os olhos arregalados. Exatamente quando estou prestes a oferecer toda a minha solidariedade, lembro que devo fingir que não sei quem cancelou tudo. Então pergunto.

-Foi mútuo.

- Mútuo? - pergunto, minha voz ainda mais alta.

Levo Cho até minha cama e sento. O closet fica perto da cama. Quero
que Harry escute tudo. Mútuo?

Harry disse que foi ele quem tomou a iniciativa. Se foi mútuo, ou se ela falou primeiro, talvez não signifique tanto quanto eu imaginava. É claro, ainda assim ficarei feliz. Mas quero que essa escolha seja do Harry. Agora eu quero ser o motivo.

- Bem, na verdade foi Harry quem terminou tudo. Ele me disse hoje de manhã que não podia mais levar as coisas adiante. Que ele acha que não me ama. - Ela revira os olhos e sorri. Gostaria que Harry pudesse ver o rosto de Cho agora, demonstrando auto confiança e desprezo. Ela acredita tanto que ele não a ame mais quanto que eu seja capaz de esconder um homem seminu no meu closet.

-Você está de brincadeira? Que loucura! Como você está se sentindo?

Cho olha para baixo. Agora ela vai começar a chorar. E eu vou confortá-la garantindo que tudo vai ficar bem. Convidarei-a para darmos um passeio. Pegar um ar fresco, embora lá fora esteja nojento de tão úmido. Talvez eu sugira que a gente vá jantar.

Ainda assim, Cho não chora. Ela respira fundo.

- Mione... tenho uma coisa para te contar.

A voz dela está calma, não soa como "acabei de levar um fora". Alguma coisa está acontecendo. Por um segundo imagino ela dizendo que sabe de tudo, que entende, que o amor verdadeiro deve prevalecer e que Harry e eu devemos ficar juntos.

- É? - pergunto confusa.

- Para mim, isto é ainda mais difícil do que quando contei a você sobre minha aprovação para Notre Dame - continua ela.

Essa é a primeira vez que ela menciona a Notre Dame desde os tempos de faculdade, o que é uma loucura, considerando as revelações recentes. A conversa definitivamente não faz sentido algum. Talvez ela confesse que também foi rejeitada. Que durante toda a sua vida esteve competindo comigo e agora finalmente reconhece a derrota.

- Você se lembra quando contei sobre ter perdido meu anel?

-Lembro.

- Como perdi no apartamento do meu colega?

Agora estou realmente confusa. Harry deve estar ainda mais confuso.

Ainda bem que não contei a verdade sobre Cho ter perdido o anel. Ele cancelou o casamento mesmo sem saber disso.

- Como eu fiquei com aquele cara e perdi o anel?

É como se fosse uma cena em que um homem está conversando com sua amiga quando a namorada dele chega e se esconde pra ouvir a conversa, cheia de mal-entendidos e duplos sentidos. A câmera focaliza o rosto da namorada, chocada e indignada. Mas não há confusão aqui no meu apartamento. Essa conversa entre nós duas tem apenas um significado e Harry está entendendo direitinho: ela transou com outra pessoa. Por que você não me contou? Ele vai me perguntar, talvez de maneira taxativa. Teria facilitado tanto as coisas, ele dirá. Vou convencê-lo de que não era correto contar. Talvez me faça parecer nobre, e Cho ainda mais errada.

- Bem, na verdade não fiquei com um cara do trabalho - ela fala devagar, articulando cada sílaba.

- Você não perdeu o anel?

Será que ela está prestes a confessar uma fraude no seguro?

- O cara com quem eu estava não era um colega de trabalho. Era outra pessoa.

- Quem era então?

- Era o Draco - diz ela.

- Draco? - estou chocada.

- O seu Draco. Isso mesmo.

É claro. O meu Draco. Tive que atravessar o Atlântico para esquecê-lo.

- Você me odeia? - pergunta ela, culpada. - Por favor, diga alguma coisa.

- Você estava com Draco no dia em que perdeu o anel? Você perdeu no apartamento dele? - esclareço tudo para Harry e para mim.

Ela admite. Então, por um segundo, ela olha de soslaio... vejo um brilho nos olhos dela, um ligeiro sorriso surgindo nos cantos da boca. Ela está sentindo prazer com isso. Este é o momento em que ela vai escandalizar. Escandalizar e ser o centro das atenções. Vencer novamente.

Respondo como ela esperava. Finjo ter sido derrotada. Mais uma vez sou a boa perdedora.

- Então você dormiu com ele? - mantenho minha voz ligeiramente agressiva, fingindo estar magoada.

-É.

- Mais de uma vez?

- É - ela sussurra tão suavemente que Harry não deve ter escutado. Então eu pergunto mais alto e mais claro:

-É mesmo?

-É -diz ela.

Finjo aceitar tudo. Na verdade, ainda estou digerindo tudo. Mas numa perspectiva desconhecida para Cho.

- Então - digo. - Então.

Não peço mais nenhuma explicação, mas ainda assim ela fala.

- Tudo começou no feriado do Quatro de Julho. Nós voltamos do Talkhouse bêbados. E uma coisa levou à outra.

- No Quatro de Julho? - pergunto.

Isso está ficando cada vez melhor.

- É, mas ele se sentiu péssimo. Nós juramos que isso nunca mais aconteceria. Só que nós estávamos muito a fim um do outro. Foi intenso... Nós simplesmente não conseguíamos ficar separados. Começamos a nos encontrar no almoço e depois do trabalho. O tempo todo nós nos culpávamos por causa do Harry e por sua causa. Mas aí acontecia uma vez e mais outra ... Você me odeia?

Estou numa saia justa. Não sei como agir. O que será que Rony me
aconselharia a fazer? Fingir um acesso de raiva? Sim, eu odeio você. Sai daqui. Vai embora. Vai embora! Seria uma maneira de reagir. Ou então uma aceitação suave: Como posso odiar você? Você é a minha melhor amiga. Ou talvez: Não sei o que pensar. Preciso de um tempo.

Enquanto penso na minha resposta, ela diz que tem algo mais para me contar. Alguma coisa pior.

- Pior?

- Sim. Muito pior. - Sua voz é frágil, mas a expressão é reveladora.

Ela definitivamente está adorando falar.

Olho para baixo.

- Vá em frente.

- Minha menstruação está atrasada. Sou muito regular, meu ciclo é de exatos 28 dias. - Ela toca a barriga com ternura. Ainda está bem magra.

Meu estômago revira.

- Você está grávida?

- Acho que sim. É.

Tenho medo de saber quem é o pai. Se for Harry, perderei tudo.

- Eu fiz um teste ... deu positivo.

- Positivo significa que você está grávida?

- É. Duas linhas vermelhas. Sim, estou grávida.

Prendo minha respiração, rezo, peço a Deus. Nunca mais vou pedir nada se pelo menos...

- Quem é o pai? - a pergunta ressoa no quarto, dá voltas sobre nós e passa por baixo da porta do closet.

- Draco.

Respiro aliviada e ao mesmo tempo tonta.

- Você tem certeza?

- Tenho, absoluta. Harry e eu não transamos desde a minha última menstruação. Séculos atrás.

- Ele sabe?

- Quem? Draco?

- É. Draco sabe?

- Sabe. Mas Harry não. Ainda não.

Ele sabe sim.

- Eu queria falar primeiro com você.

Entendo, ainda tentando assimilar tudo.

- E então? O que você vai fazer?

- O que você quer dizer?

- Você vai ter o bebê?

- Sim. Eu quero ter este bebê. - Ela massageia a barriga com pequenos movimentos circulares. - Quero me casar com Draco e ter um filho dele. Sei que pode parecer loucura, mas para mim parece o ideal.

- Você tem certeza de que Draco quer se casar?

- Absoluta.

- Você acha que Harry desconfia? - pergunto com a voz baixa. Por alguma razão não quero que ele ouça essa pergunta.

- Não. Mas, honestamente, acho que ele sente o quanto tenho estado distante. Foi provavelmente por causa disso que ele cancelou o casamento. Sabe, ele disse que não me ama... porque ele sentiu que me afastei dele primeiro.

-Sei.

- Estou chocada em ver como você está calma. Obrigada por não me odiar.

- É... não odeio você.

- Espero que Harry leve isso numa boa. Pelo Draco. Por um tempo ele vai odiá-Io. Mas Harry é racional. Ninguém planejou nada, simplesmente aconteceu.

E exatamente quando penso que essa história está chegando ao seu desfecho de uma maneira organizada e perfeita como na cena do mesmo filme, em que tudo se esclarece no final, percebo que Cho olha fixamente para alguma coisa atrás de mim. Pelo seu olhar irritado, pensei que Harry tinha acabado de sair do esconderijo. Eu me viro esperando encontrá-Io. Mas não. A porta ainda está fechada. Olho para Cho novamente.

Ela ainda encara alguma coisa atrás de mim, sua expressão perversa, espantada. Então pergunta:

- Por que o relógio do Harry está na sua mesa-de-cabeceira?

Acompanho seus olhos novamente. O relógio do Harry está mesmo na minha mesa-de-cabeceira. O relógio do Harry. Minha cabeceira. Não há escapatória. Pelo menos não me ocorre nenhuma.

Dou de ombros e gaguejo uma desculpa. Se havia alguma dúvida sobre minha incapacidade de improviso, agora não resta nenhuma. Falo com uma voz enrolada:

- Oh, o relógio não é dele. É meu ... comprei na Inglaterra – minha voz está trêmula. Estou completamente descontrolada e desesperada.

Cho salta da cama e pega o relógio para ver a dedicatória.

- Todo o meu amor, Cho - diz ela em voz alta. Então olha para mim com um ódio mortal, exatamente como eu deveria ter reagido antes.

- Que porra é essa? - pergunta ela. Trata-se de uma pergunta fria e
dura. Os olhos dela se estreitam. - Que porra é essa! - grita ela novamente, mas dessa vez é uma afirmação. O que significa que não preciso responder. Levanto, enquanto ela anda desarvorada na direção do banheiro. Vou atrás dela e a observo puxando a cortina do box com violência. Apenas dois frascos de xampu, um barbeador de plástico rosa e o restinho de um sabonete.

Começo a formular uma história: Harry veio até aqui para falar do rompimento. Ele tirou o relógio para ler, com pesar, a dedicatória. Estava transtornado. Tentei confortá-lo, mas ele logo saiu para dar uma caminhada pelo parque. Mas é tarde demais para dar explicações. Os meus trinta segundos para inventar uma história já se passaram. Os longos e finos dedos de Cho já estão na maçaneta do meu guarda-roupa.

- Cho, não faça isso - digo, indicando claramente que seu ex-noivo se encontra atrás da segunda porta. Tento impedir, minhas costas contra a porta.

- Sai da frente! - berra ela. - Sei que ele está aí dentro!

Desisto, porque o que mais posso fazer? Ela está certa. Ele está ali dentro. Mas antes de abrir a porta, uma parte de mim realmente acredita que Harry descobrira um jeito de ficar invisível num canto bem no fundo do armário. Ou talvez ele tenha saído, de alguma maneira escapado durante os quatro segundos em que eu e Cho ficamos paradas no banheiro. Ou talvez ele milagrosamente tenha encontrado uma passagem secreta bem no fundo do guarda-roupa como em um conto de fadas.

Mas não, ele está aqui, agachado exatamente onde o vi pela última vez, segurando o jeans e a camisa, usando cuecas listradas de azul-marinho, encarando a gente. Ele se estica e fica de pé.

- Seu mentiroso! - Cho grita, enfiando o dedo no peito dele.

Ele a ignora e se veste calmamente, pondo um pé dentro da perna da
calça e depois o outro. O barulho do zíper ecoa pelo apartamento.

- Você mentiu para mim!

- Você só pode estar brincando - diz Harry, procurando a manga da camiseta enquanto se veste. Sua voz está baixa e contida. - Vai se foder, Cho.

O rosto de Cho fica vermelho e ela cospe enquanto grita.

- Você me garantiu que não tinha mais ninguém! E você está comendo a minha melhor amiga!

Eu fico repetindo o nome dela como um disco arranhado.

- Cho. Cho. Cho.

Ela me ignora, olhando fixo para Harry. Espero que ele nos defenda, vire o jogo, diga que não transamos. Não até hoje, quando ele veio aqui em busca de conforto. Mas Harry diz calmamente:

- O roto falando do esfarrapado, não é, Cho? Você e Draco, hein? Vão ter um bebê? Preciso lhe dar os parabéns. - Espero que ela faça um sermão sobre lealdade, amor e amizade. Espero que ela nos acuse de termos começado. Mas ela apenas nos olha e depois diz que sabia o tempo todo e que nos odeia. E que vai odiar para sempre. Ela caminha em direção à porta.

- Ah, Cho? - diz Harry.

- O quê? - ela berra, mas no fundo está carente, cheia de esperanças.

- Devolva o meu relógio, por favor?

Ela joga o relógio com força. Obviamente tenta atingi-lo e machucá-lo. Mas a mira dela é ruim e o relógio se espatifa na parede e depois desliza pelo chão até o pé dela, com a inscrição para cima. Ela olha para o relógio e depois para mim.

- E você! Eu nunca mais quero ver você! Você morreu para mim!

Ela bate a porta e vai embora.




____________________________________
Está ai o capítulo mais esperado, a hora da verdade... ninguém podia esperar mesmo que a Cho não lançasse também a bomba dela... agora é esperar as conseqüências... só tem mais 3 capítulos.

Obrigada pelos comentários!!! Beijos

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.