CAPÍTULO SEIS



SEIS

No sábado à noite, vou de táxi até Gotham Bar and Grill com a mente aberta e uma atitude positiva - meio caminho andado para o sucesso de qualquer encontro -, pensando que talvez Draco possa ser a pessoa que estou procurando.

Entro no restaurante e logo o localizo, sentado no bar, usando um jeans folgado e uma camisa xadrez verde ligeiramente amassada, com as mangas dobradas de qualquer jeito - o oposto do MFD.

- Desculpe, eu me atrasei - digo, enquanto Draco se levanta para me cumprimentar. - Foi difícil conseguir um táxi.

- Não se preocupe - diz ele, me oferecendo um banco ao seu lado.

Eu me sento. Ele sorri, revelando duas fileiras de dentes muito brancos e certinhos. Possivelmente sua melhor característica. Isso ou uma covinha em seu queixo.

- E então? O que pedimos para você? - pergunta ele.

- O que você está bebendo?

- Gim-tônica.

- Vou querer a mesma coisa.

Ele olha para o barman com uma nota de vinte esticada e então de novo para mim.

- Você está linda, Hermione.

Agradeço. Faz tempo que não recebo um bom elogio de um cara. Acaba me ocorrendo que Harry e eu não chegamos a trocar elogios. Draco finalmente consegue a atenção do barman e pede para mim um gim Bombay Sapphire com tônica. Em seguida ele diz:

- Na última vez que eu vi você todos nós tínhamos bebido à beça ... Aquela foi uma noite divertida.

- É. Eu estava bem fora do ar - respondo, esperando que Harry tenha me dito a verdade sobre não ter falado nada com Draco. - Mas pelo menos consegui chegar em casa antes do sol nascer. Cho me disse que você e Harry ficaram fora até tarde naquela noite.

- É, nós saímos por aí um tempo - Draco diz, sem olhar para mim. Isso é um bom sinal. Ele está protegendo o amigo, mas tem dificuldade em mentir. Ele pega o troco do barman, deixa duas notas e algumas moedas sobre o bar e me passa a bebida.

- Aqui está.

- Obrigada.

Sorrio, mexo e bebo pelo canudinho.

Uma garota oriental esquálida, vestindo calça de couro e com os lábios excessivamente pintados, dá um tapinha no ombro de Draco e diz que a nossa mesa está pronta. Pegamos nossas bebidas, seguindo-a até a área do restaurante que fica depois do bar. Enquanto sentamos, ela nos entrega dois cardápios gigantescos e uma carta de vinhos separada.

- O garçom de vocês estará aqui em alguns minutos - diz, antes de virar seu longo cabelo preto e sair altiva e a passos largos pelo restaurante.

Draco dá uma olhada na carta de vinhos e pergunta se eu quero pedir uma garrafa.

- Claro - respondo.

- Tinto ou branco?

- Tanto faz.

- Você acha que vai comer peixe? - ele diz olhando para o cardápio.

- Talvez. Mas não me importo de tomar vinho tinto com peixe.

- Não sou muito bom para escolher vinhos - diz ele, estalando as juntas dos dedos sob a mesa. - Quer dar uma olhada?

- Não, tudo bem. Você pode escolher. Qualquer coisa está bem.

- Está certo, então. Deixa comigo - diz ele, abrindo o sorriso de quem nunca esquecia de usar o aparelho para dormir.

Ficamos estudando o cardápio, discutindo o que deve estar mais gostoso. Draco desliza sua cadeira para perto da mesa e sinto seu joelho contra o meu.

- Quase não chamei você para sair. Afinal, a gente vai passar o verão na mesma casa e coisa e tal- Draco diz, seus olhos ainda examinando o cardápio. - Harry me disse que essa é uma das principais regras por aqui. Não se envolva com alguém da sua casa. Pelo menos não até agosto.

Ele ri e eu arquivo o detalhe para uma análise futura: Harry não deu força para o nosso encontro.

- Mas aí eu pensei, sabe como é, que inferno: estou interessado nela, vou telefonar para ela. Quer dizer, desde que Harry nos apresentou, venho pensando em chamar você para sair. Desde que me mudei para cá. Mas eu estava com uma garota de São Francisco por um tempo e achei que deveria resolver tudo antes de telefonar para você. Você sabe, só para fazer as coisas direitinho, às claras. Então, finalmente terminei tudo ... e aqui estamos nós - ele passa as costas da mão na testa, aliviado com a confissão.

- Acho que você tomou a decisão correta.

- De esperar?

- Não. De ligar.

Ofereço a ele o meu sorriso mais sedutor, lembrando-me rapidamente de Cho. Ela não tem o monopólio da sedução feminina, penso. Não tenho de ser sempre a séria, a sem graça. Nossa garçonete interrompe o momento.

- Olá, tudo bem com vocês hoje?

- Tudo bem - Draco responde alegre e então abaixa o tom de voz.

- Para um primeiro encontro.

Eu rio, mas nossa garçonete apenas sorri duramente e com os lábios apertados.

- Posso apresentar nossos pratos especiais?

- Vá em frente - diz Draco.

Ela olha fixo para o espaço bem acima das nossas cabeças, recitando a lista de pratos especiais, chamando tudo de "delicioso" - "uma deliciosa garoupa", "um delicioso risoto" e assim por diante. Faço que sim com a cabeça e escuto apenas parcialmente enquanto penso em Harry dizendo a Draco para não me convidar para sair e fico imaginando o que isso significa.

- Então? Vocês gostariam de começar com alguma coisa para beber?

- Pode ser... Acho que vamos querer uma garrafa de vinho tinto. O que você recomenda? - ele aperta os olhos em direção ao cardápio.

- O pinot noir Marjorie está soberbo - ela aponta para a carta de vinhos.

- Está bem. Então pode ser este aí. Perfeito.

Ela abre mais um de seus sorrisos afetados em minha direção.

- Vocês estão prontos para fazer o pedido?

- É, acho que sim - digo, e então peço uma salada verde com legumes e atum.

- E como você gostaria do seu atum?

- Ao ponto - respondo.

Draco pede sopa de ervilha e cordeiro.

- Excelentes escolhas - diz nossa garçonete, com um movimento afetado da cabeça. Ela recolhe nossos cardápios e dá meia-volta.

- Cara - diz Draco.

- O quê?

- Essa garota não tem personalidade nenhuma.

Eu rio.

Ele sorri.

- Onde estávamos?... Ah é, os Hamptons.

- Certo.

- Então, Harry diz que não é uma boa idéia sair com alguém da sua própria casa. E aí eu respondo: "Meu irmão, eu não estou seguindo as regras idiotas da Costa Leste." Se a gente acabar se odiando, que seja.

- Não acho que a gente vai se odiar - digo.

A garçonete volta com o vinho, abre a garrafa e serve um pouco na taça dele. Draco bebe de um gole só e anuncia que está ótimo, dispensando a cerimônia pretensiosa. Você pode saber muito de um cara ao observá-lo tomando o primeiro gole de vinho. Não é um bom sinal quando ele faz aquela coisa toda de girar, enterrando o nariz no copo, tomando um gole vagaroso e pensativo, fazendo uma pausa com o cenho franzido seguida de uma ligeira inclinação da cabeça para não parecer entusiasmado demais, como se dissesse "este passa, mas já bebi muitos melhores". Se ele é um verdadeiro conhecedor, aí é outra coisa. Mas geralmente é apenas exibicionismo, doloroso de se observar.

Enquanto a garçonete me serve, pergunto a Draco se ele sabe da aposta.

Ele faz que não com a cabeça.

- Que aposta?

Espero até que estejamos sozinhos novamente, já basta que a garçonete saiba que esta é a primeira vez que saímos juntos.

- Harry e Cho fizeram uma aposta para ver se eu aceitaria ou não sair com você.

- Ah, não acredito - ele deixa cair o queixo para mostrar que ficou surpreso. - Quem achou que você iria e quem achou que você me dispensaria?

- Ah. Não me lembro - finjo estar confusa. - Isto não importa. O que importa é...

- Que eles estão se metendo muito na nossa vida - ele balança a cabeça. - Filhos-da-mãe.

- Eu sei.

Ele ergue a taça.

- A Harry e Cho, aqueles bisbilhoteiros filhos-da-mãe com quem não vamos compartilhar os detalhes desta noite.

Eu rio.

- Não importa o quão bom, ou ruim, seja o nosso encontro!

Nossas taças se encostam e bebemos ao mesmo tempo.

- Este encontro não vai ser ruim. Pode acreditar em mim. - Sorrio.

- Acredito em você.

Realmente acredito nele, penso. Há alguma coisa desconcertante a respeito do senso de humor, do estilo tranqüilo das pessoas do Meio-Oeste. E ele não está noivo de Cho. Um excelente bônus.

Então, como que ensaiado, Draco me pergunta há quanto tempo conheço Cho.

- Há uns vinte e poucos anos. Na primeira vez que a vi, ela estava toda arrumada, num daqueles vestidinhos de verão, e eu estava com um daqueles shorts idiotas do ursinho Pooh. Pensei, aí está uma garota com estilo.

Draco ri.

- Aposto que você estava linda no seu shortinho do Pooh.

- Nem tanto.

- E foi você quem apresentou os dois, certo? Harry disse que vocês eram grandes amigos no curso de Direito, não é mesmo?

Certo. Meu bom amigo Harry. A última pessoa com quem dormi.

- Ahã. Conheci Harry no primeiro semestre do curso de Direito. Percebi de cara que ele e Cho seriam uma ótima combinação - digo. Um pouco de exagero, mas quero deixar claro que nunca considerei Harry para mim. Coisa que não fiz mesmo. E ainda não faço.

- Eles são mesmo parecidos ... Não há mistério sobre como os filhos deles vão ser.

- É, eles vão ser lindos - sinto um nó inexplicável no peito, imaginando Harry e Cho embalando seu recém-nascido. Por alguma razão, nunca havia pensado para além do casamento em setembro.

- O que foi? - Draco pergunta, obviamente notando minha expressão. O que não necessariamente significa que ele seja sensível. Meu rosto é que não chega a ser inescrutável. É uma maldição.

- Nada - respondo. Então sorrio e me endireito na cadeira. É hora de uma transição. - Chega de falar de Harry e Cho.

- É- diz ele. - Eu também acho.

Damos início a uma típica conversa de primeiro encontro, discutimos nossos trabalhos, nossas famílias e nosso passado em geral. Falamos sobre sua experiência inicial na internet, que não passou de um início, e de sua mudança para Nova York. Nossa comida chega. Comemos, conversamos e pedimos mais uma garrafa de vinho. Há mais risos do que silêncio. Sinto-me até à vontade o suficiente para pegar um pedacinho do seu cordeiro quando ele me oferece.

Depois do jantar, Draco paga a conta. É sempre um momento estranho para mim, embora me oferecer para pagar (sinceramente ou com o falso gesto de pegar a carteira) seja ainda mais estranho. Agradeço e vamos andando em direção à porta, onde decidimos tomar mais alguma coisa.

- Você escolhe onde - Draco diz.

Me decido por um bar que acabou de abrir perto do meu apartameno. Entramos num táxi e vamos conversando durante todo o caminho até o Upper East Side. Então sentamos e conversamos ainda mais.

Peço a ele para me falar de sua cidade natal em Montana. Ele faz uma pequena pausa e então diz que tem uma boa história.

- Apenas 10% da minha turma do último ano foi para a faculdade - começa ele. - Na minha escola a maioria dos alunos nem sequer se importava com as provas de admissão. Mas fiz o tal exame, me saí bem, me candidatei à Georgetown e consegui. É claro, não mencionei isso para ninguém na escola. Fiquei cuidando da minha vida, saindo com a minha turma e coisa e tal. Então os professores ficaram sabendo da Georgetown e um dia o meu professor de matemática, o senhor Gilhooly, se incumbiu da missão de anunciar minha boa notícia para a sala.

Ele balança a cabeça como se a lembrança fosse dolorosa.

- Então todo mundo fica dizendo coisas do tipo "E então? Grande merda". - Draco cruza os braços e bate na boca com a mão aberta para imitar seus amigos de turma entediados.

- Acho que a reação deles deixou o senhor Gilhooly furioso. Ele realmente queria que eles compreendessem a profundidade de suas inadequações e o quanto estariam perdidos no futuro. Então ele foi em frente e desenhou um enorme gráfico no quadro mostrando meu potencial salarial com um diploma de faculdade versus o potencial deles trabalhando como garçons no Shoney's. E como essa distância iria aumentar cada vez mais com o tempo.

- Não brinca.

- Verdade. Então eles ficaram dizendo coisas como "Foda-se o Draco", sabe? Como se eu achasse que era uma grande merda só porque iria ganhar um salário de seis dígitos algum dia. Eu queria matar aquele cara - Draco esbraveja jogando as mãos para o alto. - Obrigado por nada, senhor Gilhooly. Boa maneira de arranjar uns amigos para mim.

Eu rio.

- Então eu pensei, que porra eu faço agora? Tenho que lutar contra a imagem de bom aluno idiota, certo? Então eu me desdobro para mostrar a todos que não dou a menor bola para o mundo acadêmico. Comecei a fumar maconha todos os dias e não abandonei o hábito durante a faculdade. E aí, bem, sabe como é, fiquei em penúltimo na Georgetown. Tenho certeza que você ouviu falar da história do controle remoto - diz Draco enquanto remove o rótulo de sua cerveja Heineken.

Sorrio e bato de leve na mão dele.

- É, conheço a história. Só que a versão que ouvi é a de que você ficou em último mesmo.

- Ahhhh! - Draco balança a cabeça. - Harry nunca conta essa história direito. Minha nota final pelo menos foi maior do que a de uma outra pessoa! Penúltimo, cara! Penúltimo!

Depois de dois drinques, olho para o relógio e digo que está ficando tarde.

- Está bem. Posso acompanhar você até sua casa?

- Claro.

Caminhamos pela Terceira Avenida e paramos em frente ao meu apartamento.

- Bem, boa noite, Draco. Muito obrigada pelo jantar. Foi uma noite ótima - digo, com sinceridade.

- É. Para mim também. Foi ótimo - ele lambe os lábios rapidamente. Sei o que vem por aí. - E acho ótimo que a gente esteja na mesma casa neste verão.

- Eu também.

Então ele pergunta se pode me beijar. Uma pergunta de que geralmente não gosto. Apenas beije, penso sempre. Mas por alguma razão isso não me incomoda vindo de Draco.

Faço que sim com a cabeça, ele se aproxima e me dá um beijo meio longo.
Nós nos separamos. Meu coração não está acelerado, mas me sinto satisfeita.

- Você acha que Cho e Harry também apostaram sobre isso? - ele pergunta.

Rio, porque estava pensando a mesma coisa.


- Como é que foi? - grita Cho ao telefone na manhã seguinte.

Estou acabando de sair do chuveiro, toda encharcada e pingando.

- Onde você está?

- No carro, com Harry. Estamos voltando para a cidade - diz ela. - fomos comprar antigüidades. Lembra?

- Ah, é - respondo. - Eu me lembro.

- Como é que foi? - pergunta Cho mais uma vez estalando a língua. Ela não consegue nem esperar até chegar em casa para saber os detalhes do meu encontro.

Não respondo.

- E então?

- A ligação está ruim. Seu celular está entrecortando - digo. - não consigo ouvir você.

- Bela tentativa. Conte as boas.

- Que boas?

- Hermione, não se faça de desentendida comigo. Me conta sobre o seu encontro! Estamos loucos para saber.

Escuto Harry ecoar ao fundo:

- Simplesmente loucos!

- Foi uma noite adorável - digo, tentando enrolar uma toalha em volta da cabeça sem deixar o telefone cair.

Ela dá uns gritinhos.

- Eu sabia. Então, detalhes! Detalhes!

Digo a ela que fomos ao Gotham Bar and Grill, que pedi atum e ele cordeiro.

- Hermione, vá direto ao que interessa. Vocês ficaram juntos?

- Não posso contar isso.

- Por que não?

- Tenho minhas razões.

- Isso significa que aconteceu - diz ela. - Do contrário você teria apenas dito que não.

- Pense o que quiser.

- Ah, vai, Mione.

Digo a ela que de jeito nenhum, não vou ser o passatempo da sua viagem. Ela reproduz minhas palavras a Harry e eu o escuto dizer:

- Bruce é o nosso passatempo. Diga isso a ela.

Tunnel of Love está tocando ao fundo.

- Diga ao Harry que este é o pior disco do Bruce.

- Eles são todos ruins. Springsteen é um saco - Cho comenta.

- Ela disse que este disco é ruim? Foi isso que ela acabou de dizer? - escuto Harry perguntando a Cho.

Ela diz que sim e alguns segundos depois "Thunder Road" está a todo volume.

Cho grita para ele diminuir. Eu sorrio.

- E então? - Cho pergunta. - Você vai contar ou não?

- Não.

- E se eu prometer não contar ao Harry?

- Ainda assim, não.

Cho faz um som exasperador. Então ela diz que vai descobrir de uma maneira ou de outra e desliga.

Só volto a falar com Harry na quinta à noite, na véspera da viagem aos Hamptons.

- Você quer uma carona? A gente tem espaço para mais um - diz ele. - Pansy vem com a gente, e o seu amigo também.

- Bem, neste caso, adoraria uma carona - digo, tentando soar leve e casual. Preciso mostrar a ele que estou em outra. Eu estou em outra.

Às cinco horas do dia seguinte, estamos reunidos no carro de Harry, com esperança de conseguir fugir do engarrafamento. Mas as ruas já estão entupidas. Levamos uma hora para chegar ao túnel de Midtown e quase quatro horas para completar os 170 quilômetros até East Hampton. Sento no banco de trás entre Pansy e Draco. Cho está desinibida e agitada, passa a maior parte da viagem olhando para nós três no banco de trás, puxando vários assuntos, fazendo perguntas e geralmente conduzindo a conversa. Ela faz com que as coisas pareçam celebrações. O bom humor dela é tão infeccioso quanto o mau humor é contagioso. Draco é o segundo mais falante do grupo. Por mais ou menos cinqüenta quilômetros, ele e Cho ficam de piadinhas, de gozação um com o outro. Ela diz que ele é preguiçoso, ele diz que ela dá trabalho. Pansy e eu fazemos algum comentário apartes de vez em quando. Harry não diz praticamente nada. Ele fica tão quieto que a certa altura Cho grita para ele parar de ser tão chato.

- Estou dirigindo - Harry diz - preciso me concentrar.

Então ele olha para mim pelo espelho retrovisor. Fico imaginando no que ele está pensando. Os olhos dele não entregam nada. Está ficando escuro quando paramos para fazer um lanche e tomar uma cerveja num posto de gasolina na rodovia 27. Pansy se aproxima de mim perto das batatas fritas, passa o braço através do meu e diz:

- Dá para notar que ele realmente gosta de você.

Por um segundo fico em estado de choque, pensando que ela está se referindo ao Harry. Então me dou conta de que ela está falando do Draco.

- Draco e eu somos apenas amigos - digo enquanto escolho uma lata de Coca Light.

- Ah, por favor. A Cho me contou sobre o encontro de vocês - insiste ela.

Pansy sempre sabe de tudo - a última tendência, a inauguração de um bar legal, a próxima grande festa. Ela mantém os dedos de unhas bem-cuidadas na pulsação da cidade. E saber dos detalhes a respeito dos solteiros também faz parte do pacote.

- Foi só um encontro - explico, feliz que Cho não tenha determinado o que aconteceu com Draco, apesar de um bombardeio de perguntas. Ela chegou até mesmo a interrogá-lo por e-mail. Ele me encaminhou a mensagem com o seguinte título: "bisbilhoteiros filhos-da-mãe."

- Bem, o verão é longo - diz Pansy com sabedoria. - Você faz bem em não se comprometer até saber o que mais está vindo por aí.

Chegamos à nossa casa de veraneio, uma casinha sem muito charme. Foi Pansy quem a encontrou em meados de fevereiro, quando veio sozinha até aqui, revoltada por não termos sacrificado um fim de semana para sair em busca de uma casa. Ela organizou tudo, providenciando inclusive quem alugasse a outra metade da temporada. Enquanto saímos em excursão pela casa, ela se desculpa mais uma vez que não haja uma piscina e se lamenta que as áreas comuns realmente não sejam grandes o suficiente para festas maiores. Asseguramos a ela que o quintal dos fundos, com uma pequena churrasqueira e muito espaço, compensa isso. Além do mais, estamos perto o bastante para ir a pé até a praia, o que, na minha opinião, é o que há de mais importante numa casa de veraneio.

Descarregamos o carro e saímos em busca dos nossos quartos. Cho e Harry ficam com o que tem a cama king-size. Draco tem seu próprio quarto, o que pode vir a ser conveniente. E Pansy também - uma recompensa por seus esforços. Eu divido um quarto com Gina, que matou o trabalho hoje e veio de trem na noite passada. Gina está sempre matando o trabalho. Não conheço ninguém mais despreocupada nesse sentido, particularmente num escritório grande como o nosso. Todos os dias ela chega tarde - a cada ano que passa, cada vez mais perto de onze horas - e se recusa a fazer como os outros funcionários, que deixam um paletó na cadeira ou uma xícara cheia de café sobre a mesa antes de ir embora, para que os colegas pensem que saíram apenas para um rápido intervalo. Ela faturou menos de dois mil dólares no ano passado e por isso não recebeu bônus.

- Faça as contas e você vai perceber que ganhar um bônus representa menos por hora do que fritar hambúrgueres no McDonald's - disse ela este ano, no dia em que os cheques foram distribuídos.

Agora telefono a ela do celular.

- Onde você está?

- Cyril's - grita ela por sobre o falatório dos freqüentadores. - Querem que eu fique aqui ou que vá encontrar vocês em algum lugar?

Transmito a pergunta para Cho e Pansy.

- Diga a ela que vamos direto para o Talkhouse - diz Cho. - Já é tarde.
Então, como eu esperava, Pansy e Cho insistem em trocar de roupa. E Draco, que ainda está com a roupa do trabalho, faz a mesma coisa. Então Harry e eu ficamos sentados na salinha de TV, um de frente para o outro, esperando. Ele pega o controle remoto, mas não liga a TV. É a primeira vez que ficamos sozinhos desde o Incidente. Estou consciente do suor se acumulando nas minhas axilas. Por que estou nervosa? O que aconteceu ficou para trás. Acabou. Tenho de relaxar, agir com naturalidade.

- Você não vai se embonecar para o seu amiguinho? - Harry pergunta calmamente, sem olhar para mim.

- Muito engraçado. - Agora,mesmo a mera troca de palavras parece ilícita.

- Você não vai mesmo?

- Estou bem assim - digo, olhando para o meu jeans favorito e para a minha blusa preta de malha. O que ele não sabe é que já passei muito tempo pensando nesta roupa quando me troquei depois do trabalho.

- Então você e Draco formam um casal formidável - ele olha furtivamente para a escada.

- Obrigada. Você e Cho também.

Trocamos um olhar demorado, tão carregado de possíveis significados que não dá nem para começar a interpretar. E aí, antes que ele possa responder, Cho desce as escadas saltitante, num vestido de noite verde-amarelado, bem colado no corpo. Ela entrega a Harry uma tesoura e se agacha a seus pés, erguendo o cabelo.

- Dá para você cortar a etiqueta, por favor?

Ele corta. Ela se levanta e gira.

- Bem, que tal estou?

- Legal - responde ele e depois olha para mim meio acanhado, como se aquele elogio de apenas uma palavra para sua noiva pudesse me chatear.

- Você está deslumbrante - digo para mostrar que não estou chateada. Nem um pouco.


Pagamos o serviço de mesa e abrimos caminho pela multidão que lota o Stephen's Talkhouse, nosso bar favorito em Amagansett, dizendo olá para todas as pessoas que a gente conhece, de diferentes grupos lá da cidade. Encontramos Gina no bar com uma Budweiser, de short jeans, uma camiseta branca com decote em V e um tipo de chinelo de dedo que Cho e Pansy usariam apenas para ir fazer as unhas dos pés. Não há sequer uma gota de pretensão no corpo de Gina e, como sempre, estou muito feliz em vê-la.

- Ei, pessoal! - grita ela. - Por que vocês demoraram tanto?

- O trânsito estava uma merda - Harry diz. - E, depois, certas pessoas tiveram que se arrumar.

- Bem, é claro que nós tínhamos de nos arrumar! - diz Cho, olhando para baixo para admirar sua roupa.

Gina insiste que precisamos de um pontapé inicial para a nossa noite e pede uma rodada de bebidas. Ela distribui os copos enquanto ficamos de pé numa roda apertada, prontos para beber juntos.

- Ao melhor verão de todos! - diz Cho, jogando os longos cabelos com cheiro de xampu de coco para trás dos ombros. Ela sempre diz isso no começo de cada verão. Ela sempre tem expectativas tremendamente altas com as quais nunca compartilho. Mas talvez neste verão ela esteja certa.

Todos nós viramos nossas bebidas, que têm gosto de vodca pura. Então Harry pega uma nova rodada e me entrega uma cerveja, os dedos dele roçam os meus. Fico imaginando se fez isso de propósito.

- Obrigada - digo.

- Disponha - murmura ele, sem tirar os olhos de mim, como no carro. Conto mentalmente até três e depois desvio o olhar.

A noite passa e percebo que estou observando Harry e Cho interagirem. Fico surpresa com as pontadas de um sentimento de posse que experimento ao observar os dois juntos. Não é exatamente ciúme, mas algo relacionado a isso. Noto algumas pequenas coisas que não costumava registrar. Como uma vez, quando ela escorregou os quatro dedos na parte de trás do jeans dele, bem na altura do cós. E uma outra vez, quando ele estava em pé atrás de Cho e segurou todo o cabelo dela numa mão e meio que o ergueu numa espécie de rabo-de-cavalo antes de largar de volta sobre os ombros.

Neste exato momento, ele se inclina para dizer alguma coisa a ela. Ela faz que sim com a cabeça. Imagino que as palavras dele sejam "quero você hoje à noite", ou alguma coisa por aí. Fico pensando se eles transaram desde que eu e ele estivemos juntos. Certamente. E isso me incomoda de uma maneira estranha. Talvez isso aconteça sempre que você vê alguém da sua Lista com outra pessoa. Digo a mim mesma que não tenho direito de ter ciúme. Que para início de conversa não tinha nada que ter acrescentado Harry à minha Lista.

Tento me concentrar em Draco. Fico perto dele, converso com ele, rio de suas piadas. Quando ele me chama para dançar, digo sim sem hesitar. Vou atrás dele em direção à pista de dança lotada. A gente sua bastante, dançando e rindo. Percebo que apesar de não haver muita química, estou me divertindo. E, quem sabe? Talvez ele dê em alguma coisa.

- Eles estão loucos para saber o que aconteceu no nosso encontro - diz Draco no meu ouvido.

- Por que você diz isso? - pergunto a ele

- Cho perguntou mais uma vez.

- É mesmo?

- É.

- Quando?

- Hoje à noite. Bem depois de chegarmos aqui.

Hesito um pouco e então pergunto:

- Harry disse alguma coisa?

- Não, mas ele estava de pé, bem ao lado dela, parecendo bastante interessado.

- Que petulância - digo num tom brincalhão.

- Eu sei, esses bisbilhoteiros filhos-da-mãe ... E não olhe agora, mas eles estão de olho na gente.

O rosto dele toca o meu, um princípio de barba roçando minha pele.

Ponho os braços em torno de seus ombros e movimento meu corpo junto ao dele.

- Bem, sendo assim - digo -, vamos dar a eles motivo para olhar.


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No próximo cap tem beijo do Harry e da Hermione

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