Nas Trincheiras



N/A: Um 'obrigado' enorme para Jedi Boadicea. Ela nos questionou incansavelmente sobre os nossos finais soltos e nos ajudou a dar forma e estrutura à nossa trama. Ainda, suas excelentes fics do Gui Weasley (se você ainda não leu, e todas as suas outras, está perdendo algo muito bom) definitivamente deu-nos uma pausa para examinar muito bem o Gui (o que também é algo muito bom). Sua caracterização maravilhosa de Gui formou a nossa própria interpretação dele. Obrigada, J.B. E um agradecimento adicional a B Bennett, que, por ter também umas fics maravilhosas de HP (vocês vão amar), é a beta-reader mais paciente e calma de todas.



Capítulo Dois

Nas Trincheiras




~Fevereiro, quatro meses antes do fim da guerra.~



"Gui?"



Gui Weasley tropeçava por entre a semi-escuridão, suas botas fazendo ruídos contra a neve. Ele estava perdido, exausto, e tinha começado a entrar em pânico, quando ouviu a voz de seu irmão. "Gui! O que você está fazendo aqui - não, esqueça, apenas abaixe a cabeça! Entre aqui, seu idiota, rápido!"



Gui mergulhou e pulou imprudentemente na trincheira onde Carlinhos, parecendo frenético, acenava para ele.



"Carlinhos," arfou roucamente, sua respiração em vapor no ar congelante. Foram dois dias cansativos de viagem através dos campos de maldições Negras para chegar até seu irmão. Ele alcançou com as duas mãos para abraçar os ombros agasalhados de Carlinhos.



"Você está horrível," foi a saudação animada de Carlinhos. "Nossa, mas é bom ver você." Carlinhos poderia ganhar um presente por ser animado nas piores circunstâncias possíveis e Gui odiava arruinar isso - odiava ser aquele que arrancaria o eterno sorriso de menino do rosto de seu irmão. Mas ele viera até aqui e as notícias tinham que ser dadas. Carlinhos era o único que não sabia.



"Carlinhos, eu vim te contar..." Mas as palavras não vieram. Gui sentiu como se estivesse embaixo d'água. Seus joelhos estavam falhando. Seus dentes tiritavam. Aquilo era surreal.



"Gui?" O sorriso de Carlinhos falhou; ele parecia tenso agora. Abriu sua boca como para exigir mais informações, mas pareceu mudar de idéia abruptamente. Balançou a cabeça. "Não, vamos apenas entrar," ele disse calmamente.



"Entrar?" Gui perguntou sem expressão, olhando em volta. Ainda não estava totalmente escuro nos campos, e Gui estivera procurando por um acampamento enquanto ele se aproximava. Não vira nada. Na verdade, sentia-se horrivelmente grato por ter até encontrado Carlinhos - ele estivera procurando por dragões como ponto de referência. Os dragões não estavam em nenhum lugar visível.



Carlinhos, entretanto, apontou para o lado da trincheira onde ela descia. "Nós seguimos isso até o lado de uma colina. Uma ótima grande caverna, cabem centenas de nós."



"Então o que diabos você está fazendo aqui?" Gui exigiu asperamente. "Sozinho, no meio da noite - não sabe que está se pondo em perigo -"



Carlinhos pôs um braço em volta dos ombros de Gui. "Relaxa," ele disse, começando a guiar Gui através da estreita trincheira. "Eu apenas vim para dar uma olhada nos dragões." Ele sorriu.



Gui lançou-o um olhar penetrante. "Mentiroso. Como você veio dar uma olhada nos dragões, quando não há nenhum deles lá fora?"



O sorriso de Carlinhos apenas alargou-se enquanto eles continuavam a andar. "Brilhante, não é?" ele sussurrou.



"O quê?"



"Encantamento de Distração. Você não pode ver os dragões, mas Gui, você tem sorte por estar vivo. Você andou bem debaixo de seus narizes, chegando até mim. Eles estão por toda a nossa volta."



"Ótimo. Obrigado por nos avisar."



"Ah, dá um tempo," Carlinhos disse levemente. "O feitiço só foi feito ontem - ainda estamos testando para ter certeza de que é estável antes de a bruxa que o fez ter que se mudar para outro acampamento." Carlinhos sacudiu as sobrancelhas. "E espere até ver a bruxa que o fez. Um bom Encantamento de Distração, ela é também."



Gui soltou uma breve e cansada risada. Ele duvidava que Carlinhos fosse se preocupar muito com bruxas quando soubesse o que aconteceu. O coração de Gui estava frio e pesado, e ele desejava com todas as suas forças que houvesse uma maneira de deixar as notícias de lado. Mas elas já estavam na boca da cova.



"Bem-vindo ao refúgio de guerra dos dragões," disse Carlinhos, orgulhosamente balançando um braço em direção à fenda. "Você primeiro."



Gui entrou, agradecido por estar dentro de algum lugar depois de dois dias no frio. Ele olhou para cima e em volta, imediatamente impressionado com o tamanho da caverna - era duas vezes o tamanho do Grande Salão em proporção. A montanha devia ser totalmente oca. Pedras ficavam alto acima de suas cabeças e a luz do fogo reluzia nas suas largas e úmidas paredes. Espalhado em seus cantos e através dos penhascos estavam sacos de dormir e equipamento de trabalho de todos os tipos; luvas antidragão, vassouras inqueimáveis e vestes contra-chamas estavam dispersas em pilhas aleatórias.



Os próprios guardadores estavam juntos em pequenos grupos em volta de várias fogueiras diferentes. A maioria deles eram homens, jovens e fortes, como Carlinhos.



"Como estão eles, Carlinhos?" um dos que estavam perto perguntou de onde comia seu jantar. Ao seu lado, uma guardadora de cabelos pretos levantou os olhos do equipamento que estivera limpando e fixou em Carlinhos um olhar questionador.



"Lindos, Mick," Carlinhos respondeu ao jovem, lançando à garota um sorriso imprudente. "Não consigo ver nem as escamas nem as garras deles. Completamente escondidos, eu acho."



Os jovens guardadores de dragão concordaram com a cabeça, satisfeitos, e retomaram suas atividades.



"Com fome, Gui?"



"O quê?" Gui perguntou vagamente, concentrando-se em seu irmão. A bruma de descrença que ainda estava em seu cérebro fazia ficar ainda mais difícil de processar a situação. Mas quando ele encontrou os olhos de Carlinhos, ele sabia que não podia mais adiar seu propósito, e sentiu uma náusea tão grande que ameaçava deixá-lo fisicamente mal. "Não," ele conseguiu dizer. "Olhe, apenas me leve para aonde quer que vocês durmam. Nós temos que conversar particularmente. Agora."



O sorriso de Carlinhos vacilou muito depois disso, e Gui não o culpava. Sua própria voz estava cheia de algo terrível e tácito. Todos haviam perdido alguém nos últimos anos, mas sua família havia sido sortuda - não haviam sido tocados.



Ele seguiu Carlinhos até um canto nos fundos onde um saco de dormir estava aberto perto de um pequeno fogo. Ainda congelado da viagem lá fora, Gui foi de uma vez em direção à quentura fogo, passando pela mesa de pedra improvisada de Carlinhos. A mesa estava posta a três pés de altura e equipamentos de todos os tipos encostavam-se nela. Saindo do cinto de varinha de Carlinhos, estava um velho jornal anexado.



Gui reconheceu-o, pegou-o de uma vez e encarou-o.



Todos os nove Weasley acenavam para ele de lá: ele mesmo, seus cinco irmãos, sua irmã, seu pai e sua mãe - juntos. Eles estavam em frente a uma pirâmide, parecendo bronzeados, sardentos e sorridentes. E tão jovens - Gina ainda parecia um bebê, aos doze, assim como Ron aos treze. E assim como Percy, usando aquele chapéuzinho. Percy, cujo distintivo de Monitor Chefe brilhava mesmo agora em preto e branco. Percy estava apenas com dezessete nessa foto.



Gui sentiu uma apreensão seca subir pela garganta e ele se virou para Carlinhos, que o observava, paralisado. Havia um estranho e fixo terror no rosto de seu irmão.



"Gui," ele disse vagarosamente, "é um de nós. Não é."



Não era uma pergunta.



Gui fixou os olhos nos de Carlinhos, e fez-se concordar com a cabeça.



"Papai," Carlinhos conseguiu dizer, meramente movendo sua boca. Mas antes de Gui corrigir seu irmão, houve uma voz atrás deles.



"Perdon, eu não querro interromperrr, mas Carrlinhos, você foi verr os dragões, ou non?"



Gui virou-se ligeiramente em direção à voz e acenou a mão para ela, sem tirar os olhos dos de seu irmão. "Mais tarde," ele murmurou. "Mais tarde."



A garota deu um passo para o seu lado e alcançou-os completamente. Afastou uma cascata de cabelos de seus ombros e encarou-o. "Eu non estava falando com você," ela disse friamente, antes de se virar para Carlinhos com um sorriso cegante. "Carrlinhos? Prreciso saberr se está funcionando. Eu fui resignada a irr emborra amanhã de manhã parra o prróximo acampamento, mas não antes -"



"Eu disse mais tarde," Gui latiu, virando-se completamente para ela enquanto a raiva subia em sua voz.



A garota, surpreendentemente desperturbada, fitou-o prolongadamente. "Nós já fomos aprresentados?" ela perguntou curiosamente.



Mas Gui perdera a paciência. "Você é surda?" ele gritou. "VÁ EMBORA!" Ele afastou-a de Carlinhos, que ainda estava paralisado, ainda esperando que notícias o abatessem. Gui nunca o vira tão pálido e ele sabia que isso deveria ser feito o mais rápido possível, pela sanidade dos dois.



"Não é papai," ele comunicou num tom rápido e baixo, preparado para terminar logo com tudo. "Papai está vivo. É o Percy."



Carlinhos cerrou os punhos até os nós de seus dedos ficarem brancos.



Acabou agora. Todos eles sabiam.



Carlinhos continuou a ficar parado, seus olhos dolorosamente secos. "Como?" ele perguntou sem tom.



Gui continuou no mesmo tom baixo e nivelado. Melhor fazer isso rápido, ele pensou. Melhor tirar fora. "Fudge pediu-o para se encontrar com os Comensais da Morte - para ter aquelas conversas sobre paz que o idiota queria. Mas Percy não iria. Ele pensou que pudesse comprometer papai e nós - sobre aonde estávamos. Ele sabia que eles o perguntariam. Mas Fudge não o ouviu - disse que ele não se importava sobre o que acontecia com a Ordem. Disse que todos nós estávamos nos preparando para uma queda de qualquer jeito. Percy terminou deixando o Ministério."



Carlinhos estava todo branco exceto por suas sardas, que estavam quase misteriosas, contra sua palidez. Gui desejou não precisar continuar.



"Percy deixou o Ministério?" A voz de Carlinhos estava muito longe de equilibrada agora.



"Sim. Ele finalmente se cansou. Ele estava voltando para papai - mandou-no uma coruja para nos avisar que ele estava deixando o escritório e indo para casa."



"Meu Deus..."



"Ele estava tentando chegar até papai - foi quando ele foi pego. Ele passou bem na linha Negra, você sabe como aqueles campos de maldição -"



"Ele nunca foi bom com coisas invisíveis." Carlinhos pressionava os lábios agora e seus olhos estavam brilhando. "Ele entrou nos campos. Só isso."



"Sim." Gui parou. Ele não podia dizer o resto. A próxima parte do que ele teria que contar era terrível.



"E então o quê?" Foi a pergunta inevitável.



Gui balançou a cabeça de um jeito suplicante e olhou Carlinhos, a resposta apontando em sua garganta. "Não posso."



"Você tem que dizer." O esforço de Carlinhos para continuar calmo era terrível de se ver. "Tortura?" Ele não conseguia nem dizer a palavra. Sua voz falhava.



Gui concordou com a cabeça, vagamente. "Cruciatus," ele sussurrou. "Eles tentaram fazer Percy desistir de nós. Ele sabia onde todos estavam, e eles sabiam que ele sabia. E quando ele não diria uma palavra... do jeito que Snape contou, forçaram-no a tomar Veritaserum. Mas o que Snape o deu não era uma Poção da Verdade. Percy percebeu que não estava sendo controlado, e ele mentiu sobre onde estávamos. Snape nos disse que Pettigrew matou-o logo depois de as palavras sairem de sua boca."



"Não - mas se Snape estava lá, porque ele não tomou uma atitude e -"



"Não foi culpa dele. Ele estava furioso por não ter tido uma chance de fazer algo."



"Mentira!" O rosto de Carlinhos contorceu-se em raiva e descrença. Gui entendeu a reação de seu irmão; ele fora rápido em culpar Snape, também.



"Carlinhos, não, me escute - Snape não fez nada além de comprometer sua própria segurança. Ele não poderá deixar o território de Hogwarts até a guerra terminar. Os Comensais da Morte devem ter checado as informações de Percy agora e Voldemort tem que saber que são falsas. Eles vão ficar atrás de Snape por vingança."



Carlinhos permaneceu mudo por um momento sob esse argumento, balançando a cabeça como se quisesse afastá-la de um pensamento que não sairia.



"Mas -" ele finalmente conseguiu dizer, "você ainda está me dizendo - que Percy-"



Carlinhos não falou mais. De repente, sem aviso, sua forma forte e muscular pareceu ter um colapso por dentro. Ele caiu em seu saco de dormir, despencou para frente e deixou escapar um forte soluço de choro. "Eu vivo pensando," engasgou-se. "Eu tentei parar, mas eu vivo pensando - digo, nós somos nove - estava bom demais para ser verdade. Mas quando acontece de verdade -" Carlinhos estava quase inteligível agora. "Gui, é o Percy. É você, então eu, e então o Percy. Merda. Eu o ensinei a voar na vassoura. Como eles puderam? Como eles puderam -"



Gui caiu pesadamente em seus joelhos e pôs os braços em volta do irmão, que rapidamente perdia o controle. Depois de outro pesado soluço de Carlinhos, Gui sentiu dois dias de lágrimas não derramadas subirem de dentro dele, partindo-se em seu peito, saindo em forma delas.



O que os outros guardadores na caverna pensavam deles era imaterial a Gui. Ele segurou Carlinhos e lamentou pelo irmão que perdeu.



Horas depois, quando todos na caverna já haviam adormecido fazia um tempo, Gui continuava acordado. Ele observava seu irmão. Carlinhos respirava rasamente, seu rosto ainda pálido de choque e pesar. Mesmo enquanto dormia, a perda de um irmão estava escrita em sua expressão; era como se ele fosse chorar novamente a qualquer momento. Gui encarou-o, curvou-se e cutucou o fogo com uma violência desnecessária.



"Não se atreva a morrer, Carlos," ele murmurou. "Não se -"



"Estou interrrompendo novamente?"



Gui levantou a cabeça instantaneamente. A garota estava lá de pé, aquele a quem ele gritara mais cedo, a bruxa que realizara o Encantamento de Distração. Mas ela parecia diferente. Mais cedo, tudo que ele reparara fora muito cabelo loiro e um sorriso chamativo. Só que agora ela parecia tensa e pálida, suas mãos estavam tremendo, e seus olhos estavam inchados de chorar.



Ela era, sem discussões, a garota mais bonita que Gui já vira.



"Me desculpe," ela dizia numa voz baixa, "se eu tivesse sabido... eu não terria me adiantado tanto."



Gui estava de pé. Ele não tinha certeza de como chegara lá tão rápido. A garota o olhou, ligeiramente surpresa e obviamente desconfiada. Ela deu um passo para trás.



"Não," ele disse rapidamente, levantando uma mão reconfortante, percebendo que ela devia estar pensando que ele começaria a ralhar com ela de novo. "Sou eu que tenho que pedir desculpas - não devia ter gritado com você. Você simplesmente estava lá num momento ruim."



A garota concordou e levantou as mãos à sua frente, juntando-as, como se quisesse oferecer algo, mas não pudesse. "Eu sinto," ela disse finalmente, "muito pelo seu irrmon."



Gui piscou. Ele não entendeu realmente o que ela quis dizer. "Meu o quê?" ele perguntou, refletindo.



A garota franziu um pouco a sobrancelha, mordeu o lábio como se pedisse desculpas e tentou novamente. "Seu irr - seu irrmon."



Seu irmão. Então ela ouviu tudo. Por alguma razão, essa falta de comunicação fez Gui sorrir.



"Obrigado," ele disse, baixo. E então, sem saber porque disse isso, ele perguntou, "Você quer ver uma foto dele?"



Era uma coisa estranha a se fazer - mostrar um jornal velho com uma foto de sua família para uma estranha. Mas ele o fez mesmo assim, dando um passo para perto da garota para que eles pudessem olhar juntos. Ele pôs um dedo na imagem de Percy e balançou a cabeça.



"Jovem," ela sussurrou, e levantou os olhos para Gui. "Eu o conheci, sabe. Erra muito inteligente."

"Ele foi juíz no Torrneio Trribrruxo e se aprresentou no Baile."



"Ah, então você foi para Hogwarts?" Gui não conseguia se lembrar de um estudante francês em Hogwarts, mas sabendo do jeito aberto que Dumbledore dirigia as coisas, certamente não era impossível.



A garota sorriu tristemente, ao invés. "Non, eu erra campeã de Beauxbatons." Ela abaixou os olhos para a foto novamente e disse muito suavemente. "Eu vi você, também. Veio assitirr 'Arrry. Porr isso que lembrrei de você antes."



Gui olhou para seu perfil, surpreso. Ele apenas estivera em Hogwarts por uma tarde daquele torneio, e aquilo fora a três anos atrás. Mas ele não fizera as contas para ela - ela já estava ligeiramente enrubecida. Ele não sabia o que pensar disso. Principalmente, ele se perguntava como ele não reparara nela. Não era do feitio dele estar no mesmo lugar com uma garota como aquela e não reparar.



"E eu conheci este aqui," ela murmurou, colocando um dedo em Fred, "e este," ela tocara Jorge. "E Rron," ela disse. Gui notou que ela sorriu um pouco quando tocou na figura de seu irmão mais novo, antes de mover o dedo para Gina. "Muito bomnita essa menina," ela disse ausentemente.



Gui inchou-se de orgulho. "Ela é, não é mesmo?" Ele tinha quase um tipo paternal de orgulho em relação a Gina. "Esperta, também."



A garota concordou com a cabeça. "Como Gabrrielle," ela refletiu.



"Gabrielle?"



"Minha irmã." Ela recuou seu dedo da imagem de Gina, e deixou a mão cair.



"Quantos anos ela tem?"



"Ela estarria em seu prrimeirro ano, neste outono."



"Estaria..." Gui disse, uma percepção fria caindo sobre ele.



O lençol de cabelos prateados da garota escondia seu rosto, enquanto ela concordava com a cabeça. "Você leu sobrre a cidad de Mont Ste. Mireille," ela declarou suavemente, de um jeito prático.



"Sim, é claro," Gui respondeu, horrorizado. Todos sabiam sobre isso. Fora um dos primeiros ataques dos Comensais da Morte à população bruxa fora da Grã-Bretanha - e uma das mais horríveis. Todas as crianças da área foram tomadas, e nenhuma retornara. Pior, o ataque não tivera nenhuma causa estratégica; seu alvo fora meramente aterrorizar o continente para mostrar que o exército Negro avançava com força total. Horror e intimidação. O tipo de coisa que aparentemente dava prazer a Voldemort.



A garota encarou a fotografia dos Weasley por um momento antes de tirá-la das mãos de Gui e virar-se para ele. "Seu irrmão morrreu muito brravamente," ela disse, baixo. "Isso ajuda." Ela deixou a foto na estranha mesa de pedra de Carlinhos, levantou o queixo, e olhou desanimadamente em direção à boca da caverna.



Gui tinha os braços em volta dela antes de saber o que estava acontecendo. Tudo o que ele sabia era que queria estar mais perto dela, compartilhar conforto com ela - ele sabia como era um pesadelo ter uma perda como aquela e continuar lutando.



A garota endureceu em seus braços primeiramente, mas depois de um momento, ele sentiu suas mãos em seu peito. Ela deitou a cabeça de lado entre elas, embaixo de seu queixo, e seu corpo abruptamente relaxou ao ponto de uma perfeita moleza. Tomando isso como um sinal de confiança, ele a puxou para mais perto e dixou seu queixo descansar sobre seu cabelo. Nenhum dos dois se moveu por um bom tempo, e Gui tinha a sensação de que ele estivera ancorado momentaneamente, salvo de uma tempestade.



Quando a garota se moveu, finalmente, foi apenas para levantar a cabeça. "Eu tenho que irr parra forra," ela disse, sua voz instável. "Tenho que checarr o Encantamento antes da manhã."



"Então eu vou com você."



E Gui o fez, seguindo-a para fora da caverna e de volta à grande e escura trincheira. Não parecia estar mais tão frio, agora, e ele encostou-se confortavelmente contra a parede suja. Esperou silenciosamente enquanto ela apontava sua varinha sobre a saliência para testar a força do Encantamento que ela lançara. Ela amaldiçoou, em francês, toda vez que um pequeno furo revelava um vislumbre de um brilhoso e visível dragão, e disse alguns feitiços que Gui nunca havia ouvido para selar os buracos.



Ele a assistiu trabalhar, achando-se fascinado. Gui havia visto trabalhos assim serem feitos muitas vezes antes, e ainda assim, de algum jeito, a visão dessa mulher construindo Feitiços no ar era atraente. Ele se perguntou o que ela falaria se ele contasse que o trabalho dele era quebrar feitiços assim. A idéia disso o fez sorrir. Ele levantou sua varinha quando ela caminhou alguns passos para longe e não estava olhando, e ele meramente sussurrou um feitiço. Ele viu a Distração tensionar e tremeluzir, mas cair imediatamente e invisivelmente voltar para o lugar. Ela era boa. O feitiço estava sólido e forte.



Demorou uma hora para ela terminar. Quando terminou, ela andou até Gui em silêncio e deixou sua cabeça cair suavemente em seu ombro. O gesto foi sem hesitar, e parecia estranhamente certo. Era esquisito, ele pensou, levantando a mão naturalmente para mexer em seu cabelo, esquisito que isso podia acontecer. Seu irmão estava morto. Sua irmã estava desaparecida. Amanhã ele teria que voltar pelos campos que viera, para chegar à Ordem e ver Sirius para mais instruções. O mundo inteiro estava mudando. Era uma último momento em que ele esperava encontrar essa conexão maravilhosa e inenarrável com uma mulher. Mesmo assim, lá estava ele. Acertou-o lá dentro, e ele não conseguiu evitar de obedecer.



"Eu não sei o seu nome," ele disse de repente, sabendo quando disse que aquilo dificilmente importava.



A garota continuou onde estava. Ela relaxou contra ele e estava respirando suavemente, como que adormecida. "Fleur," ela murmurou em seu ombro.



"Fleur," ele repetiu suavemente, testando. Ao som de seu nome, ela levantou a cabeça e olhou-o. O efeito em Gui fora um tanto quanto vertiginoso. Seus olhos estavam implacavelmente azuis, há apenas alguns centímetros de distância.



"Bem, é um prazer conhecê-la," ele conseguiu falar roucamente, inclinando a cabeça enquanto falava, "Fleur."



Suas bocas se encontraram. E de repente, Gui não estava certo se algo disso era real: a guerra após a trincheira, ou a garota nela com ele. Ele perdeu a noção da realidade depois daquilo. Ele honestamente nunca teve certeza de como voltara para a caverna, e quando ele acordou de manhã, foi um mistério para ele que estivesse num saco de dormir ao lado do de Carlinhos. Sua memória parecia apagada. E a garota, ele descobriu depois do café, já havia partido.



"Continuou para o seu próximo trabalho e nós vamos certamente sentir sua falta," Carlinhos brincou timidamente. Gui observou seu irmão tentar forçar sua boca num sorriso, falhar, e encolher. Ele parecia totalmente arrasado.



Gui parou. Ele sentiu que a hora não podia ser mais inapropriada, mas ele tinha que perguntar. Ele tinha que saber.



"Você sabe para qual acampamento ela foi?"



Agora Carlinhos sorrira normalmente - fracamente, na verdade. Mas era o sorriso de Carlinhos. "Amor nas trincheiras, eh?" ele cutucou. "Vai segui-la, Guilherme?"



Gui não respondeu. Porque a verdade era essa, ele pensou em segui-la. E Carlinhos devia ter lido isso em seu rosto, porque sua própria expressão ficara mais séria.



"Não, Gui, por favor. É perigoso demais do jeito que as coisas estão. Você não pode arriscar o pescoço." Ele balançou a cabeça efusivamente. "Maldita veela - elas realmente adoram ver homens arriscando o pescoço."



"O quê?" Gui perguntou agudamente, seu coração dando um desagradável giro. "Veela? Fleur é uma veela?"



"Parte de uma," Carlinhos respondeu. "Não tenho certeza de quanto, mas definitivamente parte. Mick, ali, é um Especialista de Espécies. Ele me disse na hora que ela chegou. Porque?" Carlinhos cutucou Gui com o cotovelo. "Pegou você, foi?"



Gui estremeceu, pensando em seu comportamento da noite anterior. Parece que ela o pegara, mesmo.



"Faça-me um favor, Carlinhos?" ele perguntou energeticamente, empurrando seu café da manhã para longe e encarando seu irmão.



"Qualquer um."



"Faça um repelente de Feitiço do Amor em mim."



"Um bloqueador? O que, agora? Você está brincando."



"Agora. E faça isso permanente, se souber como."



"Vamos lá, Gui, isso é realmente neces-"



"Sim. Você consegue fazer, ou quer que eu te mostre?"



Carlinhos suspirou e fez um jesto desencorajador com a mão. "Não, eu sei esse. Sente direito."



Ele tirou sua varinha e levantou-a. Gui sentou-se, sentindo como se estivesse trapaceando algo. Bem, ele poderia ter caído nessa uma vez, mas não aconteceria novamente.



Não havia tempo para nenhum tipo de fraqueza. Pessoas estavam morrendo, e Gui de repente se sentiu enojado de si mesmo por ser distraído, em primeiro lugar. Haviam muitas coisas importantes acontecendo para ele ser desviado do assunto principal. E isso fora tudo o que acontecera, disse a si mesmo incondicionalmente. Desviado.



Ele fechou os olhos e deixou a magia funcionar.



***



"Gui? ... Gui. ... GUI!"



Gui mexeu-se ligeiramente em seu sono. Sentiu uma mão agarrar seu pulso e começar a balançá-lo sem cerimônia. Ele resmungou e lutou contra a mão primeiramente, sentindo-se grogue e um pouco em pânico. Tentou abrir os olhos. Quem o chamara? Porque o estavam chacoalhando?



"Vamos, seu idiota... le-van-TE! Isso, é isso mesmo, vou te você de comida para o Rabo Córneo."



A essas palavras, o mundo pareceu mais em seu lugar, e Gui teve um senso de alívio. O Rabo Córneo. Dragões. Era a voz de Carlinhos. Esse era apenas Carlinhos, balançando seu braço como um cachorrinho. Ele estava na Romênia com seu irmão e tudo estava à salvo; a guerra acabara à uma semana. Ele apenas estava tendo o pesadelo novamente.



Tudo à sua volta estabilizara, Gui suspirou, decidindo voltar para o sono por um tempo. Era um trabalho difícil, entretanto, quando seu braço estava sendo balançado em frente ao seu rosto. Era também muito difícil ignorar a voz de Carlinhos, que continuava abaixo dele.



"GUILHERME ARTHUR WEASLEY. Luz da minha vida. Sai da porra do meu sofá, seu idiota preguiçoso, você tem uma coruja e papai está na lareira."



Gui meramente abriu os olhos. Ele o encarou com olhos semicerrados ao seu irmão. "Engraçado - eu estava sonhando com você," ele rouquejou.



"É claro que estava, todos sonham comigo." Carlinhos sorriu, soltando uma coruja pela janela, então voltando para o sofá. "Aqui." Ele deixou cair um rolo de pergaminho diretamente no rosto de Gui, forçando-o a pegá-lo em seu reflexo.



Quer Gui gostasse ou não, o movimento repentino fez muito para acordá-lo. Ele resmungou, jogou suas longas pernas no chão, e levantou-se, tirando o sonho de sua cabeça pela trocentésima vez, e perguntande-se se detalhes do que acontecera na guerra seriam algum dia remotos para ele. Aquele pesadelo certamente não era nem um pouco remoto. Forçara-o a reviver por várias noites, com uma clareza bizarra, recontando a morte de Percy, e a dor era tão aguda agora quanto fora na época.



Aquela noite inteira ainda era tão aguda quanto fora na época.



Determinado a esquecer o sonho em todos os seus aspectos, Gui piscou com sono para a rolo de carta em suas mãos, percebendo que estava marcado com o selo de Gringotes. Ele desenrolou-o e leu rapidamente.



Caro Sr. Weasley.

A essa hora, percebo que você foi marcado para retornar para seu posto normal na filial do Egito do Banco de Gringotes. Veio à nossa atenção, entretanto, que suas habilidades são mais necessárias em outro lugar no momento presente.



Como o senhor está certamente ciente, o Gringotes de Londres sofreu danos sérios às dimensões tanto físicas quanto mágicas e precisam ser reconstruídas. Entretanto, devido à interferência dos Comensais da Morte com os escudos mágicos do banco, muitos empregados estão hesitantes em retornar. É impossível começar a reconstruir o banco em si, portanto, até todos os sinais de Magia Negra e possíveis maldições serem investigados e destruídos.



Nós, por conseguinte, lhe pedimos para considerar uma transferência temporária para a filial de Londres, imediatamente. Por favor, notifique-nos de sua decisão retornando essa coruja o mais cedo possível, para que possamos prosseguir com os papéis necessários.



Sinceramente,



Graf Hogboon,

Presidente da Divisão de Contra-Maldições de Gringotes, Genebra




Gui encarou a carta, incerto de que reação ter. Esperança e resistência cresceram nele de uma vez.


Ele estava com Carlinhos por uma semana agora, tirando umas férias com os guardadores de dragões na Romênia, desejando ter um pouco de descando com seu irmão antes de voltar aos negócios. Mas ele percebera em apenas uma semana que a idéia de retornar aos negócios o deixava um pouco enjoado. Ele não estava pronto para voltar para o Egito.



Normalmente, Gui amava o Egito. Ele amava o calor e a areia, amava o desafio e o isolamento que seu trabalho o trazia frequentemente, amava estar em seu próprio mundo e fazer-se importante nele. Mas as circunstâncias ultimamente o faziam querer ficar em casa. Seu corpo estava cansado da guerra, e sua mente também - a idéia de retornar sozinho para o seu flat, e trabalhar em seu escritório como se tudo estivesse de volta ao normal... bem, simplesmente não parecia certo.



Mas essa transferência temporária para Londres iria apenas prolongar seu retorno ao Egito, dificultando-o, e Gui não era daqueles que tomam um caminho fácil para fora de uma estrada difícil à frente. Ele enrolou sua carta cuidadosamente e bateu-a na palma de sua mão. Se ele não aceitasse essa transferência, então ele estava marcado para voltar para o Gringotes do Egito na manhã seguinte.



"Vamos, Gui, papai está esperando para falar com você." Carlinhos gritou.



Gui concordou. Ele podia conversar com seu pai sobre isso agora. Ele apoiou seus pés no chão da sala do bangalô de Carlinhos e ficou de frente para seu pai, o rolo de pergaminho em uma mão, a outra mão coçando sua cabeça e se espreguiçando. "Oi, pai."



"Gui." Seu pai o olhou, uma mistura de diversão e orgulho mostrada em seu rosto cansado. "É bom vê-lo."



"Você também - o que está acontecendo em Londres?"



À essa simples pergunta, o rosto de seu pai se enrugou. Arthur engoliu e Gui sentiu-se endurecer, um pouco. Seu pai parecia quase... com medo.



"Vocês viram o Profeta de ontem?"



Gui exalou e concordou com a cabeça para Carlinhos. "É claro que sim. Tudo aquilo era verdade? Os Dementadores realmente não serão mais guardas?"



Arthur balançou a cabeça gravemente. "Não."



"Sabe, tem que ter algum jeito de destruir aquelas coisas." Gui olhou para Carlinhos. "O que você acha?"



Carlinhos deu de ombros. "Sei lá. Eu tenho um bom Patrono, mas é só isso."



"Meninos..."



Ambos Gui e Carlinhos viraram-se para seu pai. Sua voz era baixa e derrotada.



"A situação piorou."



O cabelo atrás do pescoço de Gui levantou. "O que você quer dizer? O que aconteceu, pai?"



"Eu... " Arthur pausou, e respirou. "Vai estar nos jornais de hoje, e na RRB em alguns minutos, mas eu queria... "



"Conte-nos." Carlinhos sentou-se no chão em frente ao fogo.



Gui curvou-se ao seu lado. "Continue."



Arthur pareceu se preparar - apenas sua cabeça era visível no fogo, mas Gui conhecia tão bem o rosto de seu pai que ele podia antecipar alguma coisa. O que quer que estivesse por vir, não era bom.



"Algum de vocês se lembra do nome Ida Dunnes?"



Gui concordou imediatamente. "Foi auror no apogeu de Dumbledore, não foi? Mais ou menos quando Grindelwald foi derrotado."



Carlinhos virou-se para ele, seu rosto incrédulo. "Você se lembra de tudo que já leu, não é?" ele murmurou.



Gui deu de ombros. Arthur continuou. "Ela está aposentada agora, e vivendo em Lewis Island numa cidade chamada Stornaway, umas quarenta milhas de Azkaban. Uma cidade bem mestiça - alta população de bruxos numa área onde existem muitos Trouxas. É claro que a maioria dos Trouxas não sabe. Muitos intercasamentos nessa área, todavia, o que é... interessante... "



Arthur falhou, sua voz desafinada, e pela primeira vez, Gui percebeu que os olhos de seu pai estavam vermelhos. Ele trocou um breve e preocupado olhar com Carlinhos. Seu pai se interessava facilmente nos pontos de encontro entre a sociedade Trouxa e a Bruxa, mas hoje o assunto não parecia estar trazendo-o alegria.



"Certo, pai, continue. O que aconteceu com Ida Dunnes?"



"Nada." Arthur suspirou e pressionou os olhos para fechá-los. "Ida está viva e bem. Ela estava no pub local ontem à noite e alguns Trouxas entraram reclamando de um repentino resfriado e dizendo que estava um pouco frio demais para julho. Ida não deu muita importância a isso, até seu pequeno sobrinho-neto vir correndo de fora, apontando e parecendo frenético, dizendo algo sobre um Dementador andando pela rua."



Gui sentiu sua respiração falhar. "Não," ele murmurou rapidamente. "Não."



"Bem, Ida partiu rapidamente na direção que seu sobrinho estava apontando, e encontrou-o. Estava descendendo num garotinho em frente à casa dele."



"Ele -" Gui não conseguia terminar a pergunta.



"O garoto está bem. Mas sua mãe foi destruída. Ela está desalmada. Ela estava caída aos pés de seu filho quando Ida chegou, e Ida contou-nos que o garoto estava soluçando. Jovem demais para fazer qualquer outra coisa. Assistiu sua mãe ser Beijada bem em sua frente." O rosto de Arthur estava muito perto de cinza.



Gui sentiu seus ossos esfriarem à idéia de tamanha visão. Ele permaneceu curvado perto de Carlinhos, mas não conseguia pensar em nada para dizer.



"Eu pensei que Dementadores... não tinham o mesmo efeito em trouxas?" Carlinhos tentou, fracamente.



"Trouxas não podem vê-los, mas eu acho que podem ser Beijados se estiverem no lugar errado, na hora errada. Nós não sabemos. Eu não quero saber. Em todo caso, essa mulher era uma bruxa. Ela foi obviamente pêga desprevenida. Apenas brincando com seu filho, sem esperar..."



A cabeça de Arthur balançou lenta e miseravelmente.



"Ida dirigiu de volta até Moody, que agora estabeleceu uma maneira de saber quantos Dementadores existem. Nós precisamos saber imediatamente se algum escapar. É que é tão difícil contá-los - nós achamos que temos todos, mas como ter certeza? Mesmo se tivermos, eles não podem ser contados se continuarem se escondendo nas sombras. Não só isso, mas nós temos que tirar aqueles prisioneiros de lá. Eu sabia que era mal, mas isso é muito pior do que eu esperava. Eles estão todos em perigo mortal imediato, onde estão."



"Onde você vai colocá-los?" Carlinhos perguntou de uma vez.



"Bem que eu queria saber. Qualquer lugar do qual eles não possam sair. Isto é, lugar nenhum que eu conheça."



"E onde está o garoto?" Gui perguntou.



"Com o pai. Ele estava dentro da casa. É um Trouxa. Culpando-se por não ter estado lá fora para fazer alguma coisa - como se ele pudesse." Arthur suspirou. "Não foi sua culpa. Até onde a culpa vai, vocês devem saber que a situação em que a mulher estava vai ser posta em minha culpa nas notícias. Eu só queria que vocês soubessem por mim. Agora eu tenho que falar com -"



"Culpar você!" Gui encontrou sua voz de uma vez e levantou-se de revolta. "Eu gostaria de saber porquê!"



Arthur deu uma risada breve e não-natural. "Porque eu estou aqui. Estava em minha responsabilidade manter aquelas criaturas na ilha. Se nós tivéssemos sabido um dia antes - um dia antes - que eles não ficariam com os prisioneiros, então nós poderíamos ficar de olho neles. Mas como foi, eles não ficaram notavelmente incansáveis até sexta-feira e Moody não estabeleceu um sistema de observação até sexta à noite, e até lá a coisa já tinha escapado. Nós temos sorte que eles tiveram que viajar pela água para chegar em Lewis. Eles viajam mais devagar pela água. Ou teria causado muito mais danos, numa comunidade bruxa desse tamanho."



"Isso não é culpa sua," Gui disse, seus dentes cerrados. "Você não sabia e está fazendo o que pode. Eu estou indo para aí."



"Gui, agora, não é isso que eu -"



"Eu estou indo também." Carlinhos havia se levantado" E estou levando o meu time, pai. Sei que eles vão querer ajudar."



Gui encarou seu irmão. "O que? Você vai deixar de guardar os dragões? Não pode estar falando sério."



"Não é mais chocante do que você deixando de quebrar maldições, é? E, de qualquer jeito, você acha que eu deixaria passar uma oportunidade de trabalhar para o Ministro da Magia?" Carlinhos fez uma reverência zombadora a seu pai. "Sem chance."



Arthur balançou a cabeça rapidamente. "Não. Não tenham grandes idéias, garotos. Alguém tinha que tomar o lugar de Fudge e não houve tempo para um procedimento apropriado depois daquele ataque no Beco Diagonal ano passado. Eu só estou aqui quando ninguém quer estar, só isso." Ele fixou um olhar sério em Gui. "E eu não quero que você se sinta pressionado a se transferir. Vocês dois têm empregos e todos nós temos que seguir com a vida."



"Eu sei." Gui brincou com o rolo de pergaminho em suas mãos por um momento. "Mas pai, se você não tiver ajuda aí, todos poderão seguir com suas vidas, menos você." Ele levantou o pergaminho. "Isto é de Gringotes. Eles querem que eu aceite uma transferência temporária para Londres. Imediatamente."



"Mas isso é brilhante!" Carlinhos gritou de uma vez, dando tapinhas nas costas de Gui tão vigorosamente que quase o mandou para o fogo. "Está falando sério? Ah, estamos definitivamente inso, pai. Nós podemos alugar um flat no Beco Diagonal, nós dois. E talvez Mick fique interessado em vir - e mais uns dois do meu pessoal seriam uma grande ajuda, que eu sei. Os aprendizes terão que ficar onde estão, mas acho que posso convencer minha assistente a ir para Londres por um tempo -"



"Encha o flat o quanto quiser, mas você pode dormir no sofá," Gui resmungou, esfregando as costas que estavam um pouco doloridas de ter dormido a semana toda no sofá de Carlinhos. "Pai, se você nos quiser, então eu aceitarei a transferência hoje. Nós podemos estar lá o mais cedo possível até eu pegar minha identificação."



Seu pai claramente os queria lá; ele estava sorrindo, e fora a primeira vez que Gui vira um sorriso verdadeiro no rosto de seu pai em um bom tempo.



"Você tem certeza de que quer aceitar, Gui?" Arthur perguntou, sem conseguir conter a esperança em sua voz.



Gui pesou suas opções brevemente. Ele poderia voltar para o Egito e continuar a viver sua vida como era antes da interrupção da guerra. Ou ele poderia voltar para a Inglaterra e ajudar a reconstruir o Beco Diagonal, possivelmente ajudando e confortando seu pai ao mesmo tempo.



Ele encontrou os olhos de seu pai e sentiu sua decisão vir rápido e claramente, trazendo-o conforto também.



"Absoluta," Gui respondeu, sorrindo. "Estou indo, pai."



Alívio invadiu a expressão de Arthur enquanto ele virava os olhos para Carlinhos. "E você tem -"



"Pai, eu tenho certeza." Carlinhos interrompeu, sorrindo.



"Bem," Arthur disse baixo, "já que já decidiram, não me importo em dizer que estou feliz que vocês vêm. Ambos," ele disse, sua voz um pouco bruta. "E sua mãe - bem, ela vai adorar saber que os dois estão mais perto de casa, pelo menos por um tempo. Ela vai ficar tão feliz quando eu contá-la que vai difícil segurar."



"Então não conte." Disse Carlinhos de repente. "Nós iremos para a Toca com você no dia em que chegarmos e vamos surpreendê-la."



Gui concordara em um segundo. "Apenas diga a ela que está levando dois colegas. Assim ela vai se preparar, e não vai ficar cozinhando o tempo todo quando vai querer ficar nos dando atenção e me falando para cortar o cabelo."



Arthur sorriu para os dois, seus olhos um pouco molhados. "Vocês são bons garotos," ele disse, na mesma voz bruta. "Eu os vejo quando chegarem. Preciso alcançar Ron e Gina na casa de Remo antes de ouvirem sobre isso pelo rádio. E preciso avisar os gêmeos. E depois -"



Houve uma pausa abrupta. Gui sabia que seu pai estava quase dizendo o nome de Percy. Era natural, afinal. Sempre houveram sete deles.



"Já contei à Penelope," Arthur terminou baixinho. "Conversei com ela quando falei com sua mãe."



Gui concordou com a cabeça. "Vejo você amanha, então, pai."



"Bom." O rosto de seu pai se animou um pouco. "Quando chegar aqui, venha direto ao Ministério."



"Ao escritório do Ministro?" Gui perguntou sonsamente, levantando uma sobrancelha a Carlinhos, que sorriu em expectativa.



Seu pai riu consigo. "Certo. Sim, é onde eu estou, digam o que quiserem sobre isso. Apenas venham."



Com um 'pop' Athur se fora.



"Difícil de acreditar, não?" Carlinhos perguntou, ainda sorrindo para o fogo. "Nosso pai."



Gui riu. Ele, também, não estava acostumado com o fato de que seu próprio pai estava numa posição tão alta. Mas mesmo de Arthur não tivesse importância à situação, Gui sabia que ele era o Ministro da Magia. Fazia sentido para Gui saber que os oficiais do Ministério que ainda trabalhavam respondiam a seu pai. Todos confiavam nele depois do que ele fizera na guerra. Ele organizara o Ministério por dentro para Dumbledore e então para Sirius, e ele deixara o caminho livre para a Ordem da Fênix operar sem interrupção pelo tempo que pôde.



É claro, isso nem sempre viera com aprovação; muitas pessoas foram contra a Ordem, durante a guerra. Muitos apoiaram Cornélio Fudge. Mas agora que a guerra acabara e a Ordem provara-se decisiva no fim de três anos de conflito, os contrários eram muito poucos. Além disso, todos sabiam que Arthur Weasley estivera presente no momento da derrota de Voldemort. Todos sabiam o que havia acontecido a Lúcio Malfoy. O fato de que agora todos procuravam por seu pai por decisões, Gui refletiu, era apenas natural. Seu pai sempre se disponibilizara a fazer coisas que os outros evitavam, e isso era especialmente aparente agora, enquanto ele dirigia um Ministério em ruínas.



"Papai sempre foi a pessoa certa para isso," refletiu Gui, "é só que ele não era tão ambicioso quanto Fudge e o resto deles. E a mamãe estava certa, pensando que Fudge era preconceituoso com papai só por causa de sua preocupação com trouxas..." Gui desabafou e hesitou antes de continuar. "Sabe, não é legal dizer isso, mas nós estamos muito melhor sem o Fudge lá, agora que tudo tem que ser reconstruído. Os Comensais da Morte não estavam se fazendo nenhum favor se livrando dele."



Carlinhos concordou com a cabeça, em resposta. "Ainda assim, não é certo o que aconteceu com ele."



"Não. Eu não disse que era."



O estômago de Gui revirou quando lembrou de quando recebeu as notícias do ataque ao Beco Diagonal. Sob a pretensão de concordar com Fudge que conversas pacíficas eram necessárias, Comensais da Morte foram admitidos nos prédios do Ministério. Muitos deles agora estavam uma bagunça. Fudge fora assassinado sem cerimônia, e seus oficiais atacados em troca de informação. O escritório do Beco Diagonal fora inteiramente destruído na esperança de diminuirem a rapidez da comunicação bruxa, e muitas corujas e pessoas morreram. E naquele terrível caos, os Comensais da Morte conseguiram forçar sua entrada em Gringotes - matando duendes violentamente enquanto isso. Eles invadiram os cofres superiores com Magia Negra, destruindo um sistema mágico de proteção que seria ridiculamente difícil de se restaurar.



Gui respirou ao mero pensamento de como devia estar agora o Gringotes de Londres.



Conhecendo duendes do jeito que conhecia, ele se conformou que passaria momentos difíceis em sua nova posição. Duendes não eram criaturas muito confiáveis, e agora que eles foram pessoalmente atacados, Gui imaginou que eles estariam com extinots positivamente assassinos em relação a qualquer pessoa nova em seu meio. O fato de que ele trabalhara por anos na filial do Egito não significaria nada para os duendes de Londres. Lá, ele seria tratado como um estranho e olhado com suspeita e desprezo.



Ainda assim, ele ia. Não haviam dúvidas. Ele seria qualquer tipo de ajuda para Gringotes - e para seu pai.



"Ei, Carlinhos," ele perguntou de repente, lembrando-se do que seu pai dissera sobre notícias, "onde está o rádio? Quero ouvir o que estão dizendo sobre papai."



Usando seus pés, Carlinhos empurrou uma enorme pilha de roupas para revelar um desconjuntado radinho de bruxo. Ele balançou sua varinha, e uma baixa e mal-recebida voz feminina zumbiu pelo buraco do centro.



"... que Arthur Weasley, não-oficial e aparentemente incompetente Ministro da Magia clamou ontem ter o problema do Dementador controlado. Esteja alertado de que esse não é o caso. Ontem à noite, a auror aposentada Ida Dunnes -"



"Idiotas," murmurou Carlinhos, balançando sua varinha violentamente e desligando o rádio no meio da frase. "Eu não vou ouvir isso. Escreva para seus duendes, Gui, e pague seus papéis. Nós precisamos ir para Londres."



"Certo." Gui Convocou pergaminho e pena, tentando ignorar a raiva que experimentava em nome de seu pai por um momento, com o objetivo de ser produtivo. "Contate seu time e veja quem vem conosco."



Enquanto Carlinhos puxava bruscamente suas vestes, Gui começou a rabiscar sua resposta a Genebra. Se ele mandasse sua coruja antes do meio-dia, ele teria a identificação pela manhã. Eles poderiam partir para Londres amanhã à tarde.



Apesar de que, de repente, o amanhã não parecia perto suficiente.



***


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