Através da Lareira

Através da Lareira



No fim de tudo

(uma história pós-Hogwarts por Arabella e Zsenya)



Com muita, muita ajuda de B Bennett, ElanorGamgee, Honeychurch, Jedi Boadicea, Lallybroch, Moey e muitos, muitos, muitos outros... Não poderíamos dizer, a esse ponto, quem sugeriu o quê, então vamos simplesmente admitir que não podemos deixar todos os créditos para nós mesmas.



DISCLAIMER: Essa história será classificada para 12, por temas maduros, um pouco de violência, raiva e linguagem, a intervalos. Harry, Ron e Hermione estão agora com dezoito, e agirão como sua idade. Também, apesar de termos dado o nosso melhor para ficar o mais perto possível do mundo de JK Rowling, nós tivemos que pular uns três anos e criar a história por nós mesmas. Isso significa, seja bem-vindo a aproveitar isso - com certeza.





*

Expecto Sacrificum

*

Prólogo




"Eu juro morrer por você, Harry. Eu te amo." A voz de Hermione era clara, e a chama azulada tremeluziu no centro do círculo, perto de seus pés. Ela segurou a mão dele apertado, e Harry ficou impressionado por ver, pelo olhar em seu rosto, que ela falava a verdade. Ele sabia que ela tinha que estar - ou então esse feitiço nunca teria efeito. Mas ouvir aquelas palavras de Hermione num jeito tão sério, causou uma reação mais poderosa do que ele antecipara.



Com sua mão livre, Hermione levantou sua varinha e tocou sua cicatriz. "In nomine Expecto Sacrificum." Harry estremeceu para sentir sua promessa transferindo-se através do que uma vez fora nada mais que sua cicatriz de maldição. Agora era uma condutora, e estava funcionando - ele podia sentir o início de uma nova mágica tomando forma dentro dele. Ele concordou com a cabeça para Hermione, que radiava esperança enquanto voltava para o círculo.



Ron deu um passo à frente, seus olhos azuis graves. Ele pôs a mão firmemente no ombro de Harry e inclinou-se para baixo para olhar seu amigo direto no rosto. "Eu juro morrer por você, Harry. Eu te amo." As palavras sempre estiveram ali, mas sendo ditas assim era um choque para os dois jovens, e a voz de Ron estava rouca. Seu contato ocular, entretanto, estava fixo e havia uma forte crença em seu olhar. "In nomine Expecto Sacrificum," ele disse, tocando sua varinha na cicatriz de Harry. O feitiço espalhou-se e aprofundou-se em Harry; ele sentiu-o tomando espaço no centro de seu próprio poder mágico. Era estranho e difícil acreditar que seus amigos estavam fazendo aquilo por ele. Perguntou-se se ele valeria tanto a pena.



Lupin foi o próximo. Sua mão tocou o braço de Harry, gentilmente. "Eu juro morrer por você, Harry," ele disse calmamente, seu rosto ilegível. Ele devia estar travado mais uma vez pela semelhança de Harry com Tiago, no momento. "Eu te amo." A expressão de Lupin mudou um pouco, e Harry pôde ver lágrimas nos olhos cinzentos de seu professor enquanto ele levantava sua varinha e colocava sua ponta na cicatriz de Harry, que queimava ligeiramente agora, da magia que estava sendo canalizada por ela. "In nomine Expecto Sacrificum." Lupin baixou sua varinha e deu um passo para trás quietamente.



Sirius tomou um longo passo para frente e deitou sua mão inteiramente no topo da cabeça de Harry, empurrando seu cabelo para trás. Seu rosto estava transparente em emoção. "Eu juro morrer por você, Harry. Eu te amo." Os olhos de seu padrinho não estavam mais mortos agora; eles fixaram Harry com toda a vida que ele conseguiu juntar e todas as palavras que disse eram fervorosas. O que acontecera antes nunca mais aconteceria novamente. Ele pôs sua varinha na cicatriz de Harry e deixou-a lá. Harry sentiu como se sua pele estivesse suando agora, mas ele não se atrevia a mover-se. Isso era importante demais. "In nomine Expecto Sacrificum," Sirius falou. E então, seus olhos ainda brilhando, ele deu um passo para trás.



Gina foi a última contribuidora. Ela providenciava um elemento necessário, única razão pela qual Harry dera permissão a Hermione para pedir sua ajuda. Gina dissera sim instantaneamente, mas Harry olhava-a agora e se perguntava porque ele a deixara concordar. De repente, ele queria dizer não - gritar não - para impedi-la de fazer o feitiço. Ele queria impedir todos eles. Eles não podiam arriscar suas vidas pela dele e eles não deviam ter que fazer isso. Sua proteção não valia esse sacrifício, valia? Ele era apenas uma pessoa e eles eram cinco; ele era apenas um bruxo que por um acaso era bom no Quadribol e tinha um inimigo mortal; sim, ele poderia até ser o Garoto Que Sobreviveu, mas isso não significava nada se os seus amigos não podiam sobreviver também. Eles eram a sua família agora. Sua primeira família já havia feito isso por ele, e eles se foram.



Em pânico, Harry levantou uma mão para pará-la e abriu a boca para protestar. Mas Gina pegou seus dedos com a mão da varinha e balançou a cabeça rapidamente, lançando-o um olhar tão ferozmente intenso, que ele fechou sua boca novamente sem uma palavra. Ele não falaria. Ele não interromperia isso. Eles já haviam discutido isso juntos antes, e no fim de tudo, Harry concordara em permitir a construção desse feitiço. Não havia outro jeito.



Satisfeito que ele ficaria quieto, Gina colocou sua mão na bochecha dele com sua mão livre e olhou acima para seu rosto. "Eu juro morrer por você, Harry." Sua voz era baixa, mas cada palavra era certamente pronunciada. "Eu te amo." O tom de seu sussurro fê-lo arrepiar-se. Todos no círculo prenderam a respiração, mas Gina não desviou os olhos de Harry. Ela soltou a mão dele e, ainda olhando seu rosto, levantou sua varinha para tocar sua cicatriz. "In nomine Expecto Sacrificum." Harry esquivou-se ligeiramente de seu toque. A magia vinda da cicatriz de maldição era extremamente forte, e agora muito dolorosa. Havia uma vibração através da varinha de Gina, e ele poderia ter se movido, mas não o fez. Ele não podia.



Sem um ruído, Gina removeu sua varinha e voltou um passo para o círculo, deixando Harry ao centro. O recentemente completo feitiço percorreu de sua testa para seus pés. Cada polegada de Harry estava cheia dele e a magia foi mais fundo que seus ossos. Claramente, ele disseram a verdade. E se ele enfrentasse Voldemort com isso... então talvez...



Harry flexionou seus dedos na varinha e imaginou as palavras na sua cabeça. 'Expecto Sacrificum!' Para sua grande surpresa, um raio de algo quente e branco disparou de sua mão e faíscas voaram de sua varinha. Ele pulou, e encarou o efeito. Ele nem dissera nada.



A chama azulada iluminava todos os cinco rostos no círculo e Harry olhou-os pensativo. Ele queria agradecê-los, mas sua voz falhou. Ele sabia que não era só por ele que eles faziam isso - era pelo mundo, por todos que sofreriam enquanto Voldemort estivesse no poder. Ainda assim, estava sendo feito através dele, e isso só acontecia porque seus amigos estavam dispostos a oferecê-lo tudo.



Silenciosamente, Harry abrira suas mãos. "Eu..." ele começou quietamente, "Eu não posso..."



Mas não importava. Um momento depois, ele foi rodeado por todos os lados enquanto todos no quarto juntaram-se num apertado e protetor abraço. Alguém chutou a chama azulada, que quicou pra longe e os deixou na escuridão, mas ninguém se moveu para consertar. Ou esse feitiço funcionava, ou essa seria a última vez que todos estariam juntos, e eles sabiam disso.



Harry fechou os olhos e inclinou a cabeça pesadamente no ombro mais próximo, suspirando profundamente e exalando vagarosamente.



É melhor isso funcionar...



***



"Harry?"



Ele estivera sentado nos degraus de entrada de Hogwarts, olhando para o lago. Era lindo no verão. Hogwarts estava quase sucumbindo atrás dele, mas o lago estava brilhando, um tanto inconscientemente, sob o radiante sol de junho.



"Vamos, Harry, estamos prontos para ir, se você estiver."



Ainda parecia um sonho. Apenas há uma semana atrás, no dia da formatura, havia uma guerra aproximando-se dali. Apenas há uma semana atrás, houvera um Voldemort que queria destruí-lo. E agora estava tudo quieto.



"Ei, o que está acont- putz, ele ainda está sentado lá? Harry, levanta, estou com fome, quero ir embora."



Mas não era aquela fria, terrível quietude - do tipo que eles estiveram sussurrando nos últimos anos. Não o tenso sentimento de uma espera amedrontada, não a horrível, silenciosa magnitude de mais uma morte. Apenas paz.



"Shh, deixa ele. Onde está a Gina?"



"Despedindo-se do quarto."



"Ah." Houve um pequeno bufo. "O meu malão está na lareira, o seu está?"



"Vou levá-lo num minuto."



"Pensei que você tinha dito que estava pronto! Bem, então vá pegá-lo agora, eu farei Harry entrar."



Uma pequena brisa soprou. Havia um farfalhar de árvores balançando no topo da Floresta Proibida, e o som de alguma estranha criatura cantando lá - não bem um pássaro, nem um mamífero. Hagrid saberia o que era. Harry abaixou a cabeça. Pelo menos havia terminado, ele disse a si mesmo novamente.



"Harry, estou entrando. Entre quando estiver pronto, nós vamos de Pó de Flú da lareira da salão comunal. A Profª McGonagall disse que ia funcionar agora." Ela parou. "Direi ao Ron para trazer seu malão para baixo, posso?"



Harry concordou com a cabeça inconscientemente e encarou o gramado adiante, lágrimas alcançando seus olhos. Ele não se virou para mostrá-las, mas uma vez na vida, ele não lutou contra elas. Ficou sozinho por um momento. Harry empurrou seus óculos e piscou os olhos fortemente para focar na carta que balançava em sua mão. Era uma carta boa. Era bom ser verdade, e o choque disso, realmente, ainda não se exaurira.



Querido Harry,



É claro que você vai trazer Ron, Hermione e Gina. Nós esperávamos



que você quisesse, e tem mais espaço que o suficiente para todos vocês,



apesar de dois terem que dividir cada quarto. Remo e eu estamos ansiosos



pela sua chegada. Venha o mais rápido que puder.



Você sabe que eu já tinha lá as minhas dúvidas sobre quando eu estaria



livre para completar com as minhas obrigações de padrinho. Mas Harry,



agora que eu estou, será do jeito que deveria ter sido todo esse tempo.



Eu te prometo isso.



Mal posso esperar para vê-los,



- Sirius




Harry olhou a carta por um longo tempo. Ele passaria o verão - o verão inteiro - com seus amigos. E não haveria nenhum perigo nisso. Nenhuma ameaça negra pairando sob sua cabeça, nenhum Draco Malfoy, nenhum Comensal da Morte, nenhum Dursley.



Havia uma intensa divisão em Harry - numa parte alegria, noutra vazio. Depois de tudo o que acontecera, a vida continuava. Ainda era verão. O lago estava brilhando. Hogwarts estava fora de perigo. Ele se formara lá.



"Harry?"



Ele virou-se na direção da gentil voz, e uma alta, esbelta figura de cabelos vermelhos abaixara-se ao lado dele. "Está pronto, então?"



"Eu tenho que estar?"



Gina descansou o queixo nos joelhos e suspirou à pergunta. Harry notou que seus olhos já estavam vermelhos.



"Não - é claro que você não precisa estar," ela respondeu quietamente. "Eu não estou."


"Mas nós temos que ir, de qualquer jeito."



"É."



Ele pararam e Harry olhou através de Gina, esticando a cabeça para a esquerda em direção ao estádio de Quadribol. "Tudo termina," ele murmurou, sem certeza do porque ele se sentia de repente tão ressentido.



"Não. Algumas coisas não."



Ele olhou-a rapidamente - seus olhos se encontraram por um momento, e os dois olharam para baixo.



"Ron disse que você estava se despedindo do seu quarto."



"Eu estava. Então ele subiu e me disse pra parar de falar sozinha, e aí ele foi para o dormitório dos meninos e desceu o seu malão com magia."



Harry tinha que sorrir. Esse era o Ron.



"Estão todos esperando por mim, então."



"Bem, Hermione disse para não apressar você. Mas... é a hora, Harry. Sirius vai se perguntar o que aconteceu."



"Eu queria poder levar Fawkes conosco."



"Logo. Ele ficará bem, e você terá a Edwiges."



"É. Acho que assim é melhor."



"É."



Juntos, eles se levantaram, varrendo suas habituais vestes escolares pretas e contemplando o terreno mais uma vez. Harry inspirou um longo e profundo suspiro, virou-se, e estava andando atrás de Gina castelo adentro quando ele casualmente levantou os olhos. Eles pararam na torre que uma vez pertencera a Dumbledore. A janela vazia do diretor brilhou ofuscantemente para o sol.



Harry levantou sua mão numa instintiva saudação. A janela pareceu piscar.



E então ele seguiu Gina para dentro do Grande Salão, onde Ron e Hermione estavam esperando por eles. Esse seria o primeiro verão de verdade da vida de Harry.



***



N/A: Obrigada a todos que revisaram e não temam; as preocupações que vocês expressaram serão esclarecidas enquanto a história continua a se desenrolar! E obrigada também para as nossas adoráveis List Aurors, B Bennett, Cap'n Kathy e Moey. Não podemos acreditar que vocês realmente fizeram uma lista no Yahoo (http://groups.yahoo.com/group/AftertheEnd) para essa história e esperamos provar uma discussão que valha a pena.







Capítulo Um

Através da Lareira




Sirius Black colocou o último ovo no prato cheio de feijões e salsicha e, com um curto aceno de sua varinha, mandou o prato voando para a mesa. Ele aterrissou em frente aos ainda dormentes olhos de Remo Lupin, aonde girou vertiginosamente, dando voltas pelo menos umas doze vezes antes de uma impressionante parada.



"Tcharãn. Coma, Aluado! Vou pegar o jornal -"



Remo abriu a boca para responder, mas Sirius já havia atravessado a cozinha num salto, e saíra para o ar morno de junho.



"Você pode Convocar o jornal, sabe," Remo rouquejou para ele, empurrando os ovos cuidadosamente em direção ao centro da mesa, aonde não precisaria cheirá-los. Ainda não estava acordado o suficiente para isso.



"Eu gosto de sair para pegá-lo."



Sirius já estava de volta. De verdade, Remo pensou, o homem estava hiperativo - ele sacudiu o jornal para o ar e jogou um feitiço rápido nele, fazendo-o bater suas páginas, como um pássaro, em direção à mesa. Aterrissou ao lado do prato de café da manhã e cacarejou alto uma vez, antes de parar. Remo resmungou.



"Por favor," ele murmurou, "Chega de fogos de artifício matinais." Mas ele não falava a verdade. Ele sabia o porquê de Sirius estar animado. E quando ele estivesse acordado o suficiente, sabia que iria se juntar a ele.



Sirius não ficou nada ofendido - ele riu e enfiou uma salsicha inteira em seu sorriso aberto.



"Eu sou um homem livre, Aluado," ele disse radiantemente, uma vez que engolira. Remo não podia evitar um sorriso, cansado como se sentia. A liberdade de Sirius era tão boa para ele, quanto para o próprio Sirius. "Um homem livre com um afilhado. E é verão. E a droga da guerra acabou - " Sirius contraiu seu rosto numa careta deliberadamente torturante e começou a sacudir a cabeça selvagemente. "E 'Oh céus, como é bom ser livre - num mundo onde Maldições podem tomar a minha liberdade-e-e' ..."



Remo olhou-o, meio impressionado, meio preocupado. "Você está cantando."



"Estou mesmo. 'Oh, oh, oh' ..." ainda balançando sua cabeça e murmurando letras de músicas, Sirius levantou sua varinha para fazer café.



"O que é isso? É horrível. Não é música."



"Entre na onda, seu velho, isso é Esquisitonas. Elas estão na moda." Sirius sorriu sob seu ombro. "É melhor se atualizar, agora que temos adolescentes chegando." Ele pulou para sentar-se no balcão enquanto o café era feito, e ele sorriu pela porta da cozinha para Remo, que ainda estava na mesa, perplexo.



"Sim. Você devia tratá-los bem."



"Você só está com ciúmes porque não sabe cantar. Vamos lá, admita."



"Ah." Remo concordou com a cabeça. "Bem, habilidades musicais à parte, Almofadinhas, você está totalmente despreparado para a chegada de Harry. Eu sei que não é que nós não temos pensado nisso essa semana, mas ainda têm coisas que precisam -"



"Despreparado! Eu tenho estado pronto e querendo morar com Harry desde que ele tinha um ano de idade, e eu tive que esperar todo esse tempo." O sorriso de Sirius falhou um pouco e seus olhos começaram a perder o brilho. "Eu diria que é tempo suficiente para estar preparado."



Remo balançou a cabeça, se desculpando, e levantou a mão - esse não era o momento de lembrar o passado. Progredir, ele lembrou a si mesmo. Foi isso que prometeram tentar. Harry estava vindo, e ele merecia esquecer das coisas que haviam acontecido, o que seria um pouco difícil se um instável Sirius ficasse com raiva no primeiro dia. Ele teria que manter a calma, e redirecionar o foco da conversa.



"Não foi isso que eu quis dizer, Almofadinhas. Eu quis dizer a casa. Camas, compras -"



"Nós temos camas, do que você está falando?"



"Lençóis, travesseiros - é bom que os meus pais tomaram tanto cuidado com as coisas. Nós temos louça suficiente, e prataria, e eles tinham um gato então a velha caixinha de areia ainda está por aí para Bichento - mas nós não temos toalhas suficientes aqui para seis pessoas, então -"



"Exagero, exagero, exagero." Sirius parecia feliz novamente, serviu um copo de café e andou a passos largos até a pequena área de jantar para sentar-se em frente à Remo na mesa. "Você acha que eles vão se preocupar com isso? São adolescentes."



Remo levantou uma sobrancelha para Sirius, que continuava a impressioná-lo. Como um homem poderia ter envelhecido tanto e tão pouco ao mesmo tempo, estava além dele. "É o que estou lhe falando. Aquelas garotas vão se preocupar com toalhas limpas. Os animais têm que ser contados - vai ser uma coleção de feras para exibição aqui com as corujas e o gato. E se você não tem comida na casa, terá dois incansáveis garotos de dezessete anos nas suas mãos em -" Remo checou seu relógio. "Quatro horas."



"Bastante tempo!" Sirius inclinou-se para trás e esticou suas pernas. "E Ron está com dezoito, acredito. Dezoito!" Ele parou e balançou a cabeça, os olhos azul pálido reluzindo com a memória. "Lembra dos dezoito?"



Remo sorriu. Sirius deu um sorrisinho. Eles se lembravam dos dezoito, muito, muito bem. E esse era um tipo diferente de se lembrar do passado. Esse era permitido.



"Nós morávamos naquele negócio de três quartos - "



"Ho - lembra da lareira?"



"Como eu poderia esquecer."



"Negócio velho apertado, acho que ainda tenho contusões."



"Tiago adorava - bem, mas nós devemos à Lilian por pintá-la."



"Por favor. Aquilo era tudo bajulação - ele só queria entrar no quarto dela e ele pensou que ela cairia na dele."



"Sirius!"



"Ora, vamos, você sabe disso. Mas Lilian não era boba - ela não deixaria Tiago entrar em seu quarto nunca."



"Bem. É. Deixou-o um tanto selvagem."



"Certamente." Sirius suspirou. "Não acredito que Harry está realmente vindo para cá."



Remo concordou. "Não acredito no quanto ver o rosto dele é como..."



"Ter o Pontas de volta. Eu sei."



"Você acha que sabe, mas espere. Você conheceu Harry na guerra, em crise - mas no ano em que eu o ensinei, juro para você, às vezes eu tinha que lembrar a mim mesmo de quem ele era. É assombroso."



"Deus, espero que sim."



Eles silenciaram por um momento. Sirius foi para a cozinha, serviu-se de um segundo copo de café e retornou. Quando sentou-se novamente, ele franziu as sobrancelhas e apontou para a janela.



"Quem é o homem, lá?"



Remo seguiu o dedo de Sirius e olhou pela janela da frente da casa, do outro lado da pequena rua, onde uma grande e impressionante casa cinza ficava num terreno bem cuidado, fazendo todas as casas na rua parecerem terrivelmente maltrapilhas, em comparação. Na sua enorme sacada sentava um homem, lendo o jornal.



"Martin Lewis," Remo respondeu.



"Conhece ele?"



"Bem, a família dele sempre esteve aqui, mas nós não o vimos na escola em alguns anos - ele tem mais ou menos dez anos a mais que eu e você."



"Ah." Sirius olhou gravemente para seu café. Remo sabia que tinha algo ali.



"Porque está perguntando?"



Sirius balançou a cabeça. "Nada. Eu devia ter esperado."



"O quê?" Remo não desistiria disso, não de algo que fizera Sirius entristecer-se tão rápido.



Sirius suspirou e inclinou-se mais ainda sob o copo de café em suas mãos. "Sério, não é nada, Aluado. É só que eu gritei um olá para ele daqui, quando fui buscar o jornal." Seus olhos se anuviaram.



"E?"



"Ele fugiu para dentro."



Remo estendeu a mão pela mesa instintivamente, mas Sirius fê-lo parar.



"Não, eu devia ter esperado." Ele riu. "Apesar de você pensar que desde que eu fui perdoado pelo Ministério, as pessoas não têm estado tão aterrorizadas -"



"Sirius..."



"Digo, se eu fosse um traidor assassino, será que eu já não teria cortado sua cabeça fora?" Sirius olhou pela janela amargamente. "Eu fui perdoado há nove meses. Eu morei aqui todo esse tempo."



"Ele já fugiu de você antes, não?" Sirius não respondeu, mas Remo sabia que isso já acontecera e seu coração doeu. "Você não me contou."



"Bem, não temos tido muito tempo para reclamações, não é? De qualquer jeito, para quê?"



"Eu podia ter te dito para não se preocupar com ele, Sirius. Ele faz o mesmo comigo."



Sirius levantou os olhos para ele, em surpresa. "Você quer dizer que ele sabe sobre você?"



Remo sorriu cansado. "De algum jeito, foge. Não tenho certeza agora, mas as pessoas descobrem essas coisas, e você ser realmente perigoso ou não, não parece ser importante. A maioria das pessoas vive no medo, apesar da verdade."



Sirius riu sombriamente. "Nós acabamos de ganhar uma guerra, e as pessoas ainda se comportam exatamente do jeito que faziam antes. Não acredito nisso. Estou te dizendo, Aluado, me faz querer..." Ele cortou, tomou um grande e escaldante gole de café, e expirou. Sua voz estava definitivamente ressentida agora; tinha o jeito de Azkaban, e Remo retrocedeu ao ouvir isso. Ele sabia que o novo e cegante bom humor de Sirius viria, e iria. Afinal, houveram poucas coisas com as quais ficar feliz por um longo tempo. Mesmo que houvesse alegria vindo a eles no momento, a história não podia ser esquecida. Tudo que eles podiam fazer era tentar seguir em frente, tentar salvar o que restara.



"Queimou a porra da minha língua," Sirius murmurou, encarando seu copo.


Remo sabia sua deixa. Essa era a oportunidade para mudar de assunto. "Você vai ter que tomar cuidado com os xingamentos," ele disse levemente. "Você tem quer dar um exemplo."



Num segundo, a cabeça de Sirius levantara-se novamente, e ele fez uma careta. "O quê, na frente dos adolescentes? Como se Harry e Ron nunca tivessem ouvido a palavra 'porra'!"



"Essa não é nem de perto a sua pior ofensa."



Sirius sorriu largamente. "Verdade."



"De qualquer jeito, Ron e Harry não vêm sozinhos."



"Ah, o quê? Eu tenho que tomar cuidado com o que digo na frente da pequena Gina?"



Remo riu. "Não, ela é provavelmente pior que você. Eu tive que pedí-la para acalmar-se uma vez numa aula minha de Defesa Contras as Artes das Trevas. Ela não conseguia fazer com que um demônio parasse de rodopiar, e ela soltou um bom 'caralho'."



"Na aula?" Sirius pareceu encantado.



"Seu segundo ano."



"Eu gosto dela." Ele levantou uma sobrancelha. "Então é Hermione com quem estamos preocupados. Tudo bem, segurarei minha lígua se puder, apesar de pelo que eu ouvi da boca de Ron, a pobre garota já deve ter desistido."



"É. Bem." Remo reprimiu um sorriso, enquanto algo ocorria a ele. "Ah sim, eu queria te perguntar - o que você acabou por dizer a eles sobre quem fica em qual quarto?"



O sorriso de Sirius não pôde ser reprimido. Ele sorriu assustadoramente. "Eu os disse que dois deles teriam de dividir cada quarto."



"É, mas você deixou claro quais dois, para quais quartos?"



"Pensei em deixá-los discutir sobre isso eles mesmos. Tenho certeza de que são maduros o bastante para decidir isso."



"Você não quer dizer que consideraria..."



"Sim."



"Absolutamente não! Não podemos. Os Weasley nos matariam, Almofadinhas."



"Ah, Aluado. E eu pensei que você lembrasse dos dezoito." Sirius enfiou seus pés sobre a mesa e fechou os olhos, aparentemente se lembrando.



Remo lançou-o uma encarada de desaprovação na qual ele ignorou, alcançou e arrancou o jornal da mesa, sentando-se novamente para ler as notícias do mundo mágico.



"ALÔ! ALÔ? ALGUM DE VOCÊS ESTÁ AÍ? SIRIUS? REMO?"



A voz veio da sala de estar - alta, urgente e extremamente assombrosa. Ao primeiro som, ambos Sirius e Remo haviam se jogado no chão e instivamente procurado por suas varinhas. Remo sentiu sua respiração vindo em arfadas e seu coração batendo muito rápido. Ao seu lado, podia ouvir Sirius arfando também.



Levou um momento para eles lembrarem que os Comensais da Morte foram derrotados. Eles se olharam por baixo da mesa balançando a cabeça e exalando forte.



Choque, Remo refletiu, não era um estado muito agradável. Perguntando-se por quanto tempo ele reagiria assim em relação a visitantes diários, ele se levantou, tirou o pó das vestes e atravessou o corredor onde a maior lareira da casa ficava. Nela, em meio às chamas, uma cabeça familiar gritava com força.



"SE ALGUM DOS DOIS ESTIVER EM CASA, EU PRECISO FALAR COM VOCÊS. É ARTHUR - Oh! Remo. Você está em casa."



Arthur Weasley sorriu no fogo, mas isso não fez nada para ocultar o cansaço em seus olhos. Ele envelhecera dez anos nos últimos três, e isso estava exposto em cada linha de seu rosto. Os cabelos avermelhados que lhe restavam estavam tingidos de cinza.



"Olá, Arthur. Você nos assustou um pouco, estou com medo."



Arthur concordou. Ele entendera. "Eu não teria gritado daquele jeito, mas é urgente. Vocês leram o jornal?"



"Eu estava quase lendo. Não, porque, o quê aconteceu?"



"Sirius está aí? Eu prefiro dizer tudo de uma vez."



"Estou aqui." Sirius aparentemente se recuperara. Ele entrou na sala e agachou-se em frente ao fogo. "O que é, Arthur?"



"Você não vai gostar dessa, Sirius. São os dementadores." Arthur parecia estar sinistramente se desculpando. Ninguém gostava de falar sobre dementadores com Sirius; trazia aquele olhar duro aos seus olhos. Remo observava o rosto de Sirius endurecer como pedra em linhas pontiagudas enquanto ele se preparava para a conversa.



"Tudo bem," Sirius disse normalmente, apesar de Remo saber que não estava. "O que está acontecendo com os dementadores?"



Arthur suspirou e sua cabeça balançou vagarosamente de um lado para o outro no fogo. "Nós estamos tendo um problema do inferno para mantê-los em Azkaban. Eu pensei que já tivéssemos feito o mais difícil essa semana, jogando todos os Comensais da Morte de volta para a prisão, mas não vai adiantar muito se não tivermos guardas, vai?"



"Porquê? Os dementadores não guardarão a ilha?" Remo perguntou de uma vez, sentindo o coração afundar. Desde a batalha que tomara lugar em Hogwarts há uma semana atrás, fora tudo o que eles podiam fazer para reunir os ainda simpatizantes de Voldemort e ter a certeza de que eles não iriam causar mais nenhum dano. Todos de lembravam do que acontecera aos Longbottoms da última vez. Justamente quando parecia que eles estavam a salvo, foram brutalmente atacados.



"Os dementadores não querem ficar, " Arthur os informou, e apesar de sua voz estar firme, seus olhos estavam ansiosos. "Eles estão tentando sair da ilha. A rédea de liberdade que eles tinham no exército negro fora para suas cabeças, eu acho. Eles eram encorajados a dar o Beijo ao acaso por tanto tempo, que agora..."



"Nem me diga." O rosto de Sirius estava completamente branco.



"Não - eles não danificaram ninguém inocente. Ainda não. Mas há muito com o que se preocupar. Se eles não quiserem ficar na ilha, não há muito com o quê segurá-los das ruas. Eu não sei como nós temos esperança de reestabilizar Azkaban se os dementadores não ficarem mais lá."



Remo levantou-se ao lado da forma curvada de Sirius e colocou uma leve mão em seu ombro. "Aonde estão os Comensais da Morte agora, então?"



Arthur cerrou os dentes. "Olho-Tonto está tratando disso. Eles não irão a nenhum lugar por um tempo. Eles estão em Azkaban. Mas é tudo o que nós podemos fazer, e não têm mais Aurores suficientes para facilitar -" Ele parou e balançou a cabeça novamente.



"Como você está, Arthur?" perguntou Remo, gentilmente.



A cabeça na lareira deu uma risada estranha. "O melhor que posso estar, sob as circunstâncias. Eu tenho ajuda. Fletcher está nos M.L.E.S., Olho-Tonto está com os Aurores, o Diggory está aqui e as Patil... e alguns dos outros voltaram..." Ele suspirou com esforço. "Mas eu tenho dois problemas. Primeiro, eu não quero os dementadores perto de ninguém - não confio neles nem com os prisioneiros. Nem todo mundo em Azkaban merece estar ali e eu não quero que eles sejam Beijados quando não temos nenhuma pista de quem é realmente culpado. Eles estão fazendo aquele velho joguinho novamente."



"Fingindo terem sido controlados por uma Maldição." Sirius disse, e caminhou pelo quarto rapidamente. Quando ele se virou, seus olhos estavam lívidos. "Arthur, alguns deles estão provavelmente dizendo a verdade."



"Eu sei. Mas o que posso fazer? Não tem jeito de manter os prisioneiros em Azkaban sem os dementadores, e eu não posso simplesmente libertar os Comensais da Morte. Eu não tenho poder suficiente para investigar todos os seus casos, dar julgamentos apropriados para cada um deles. O Ministério não está preparado para nada de tamanha magnitude ainda; metade dos velhos oficiais estão mortos ou não voltarão -"



"É uma droga. É, eu sei. Mas você não pode abandonar as pessoas em Azkaban, você não pode Arthur - a não ser que saiba com absoluta certeza o quê eles fizeram. Nós temos que matar os dementadores - já é hora de eles serem destruídos."



"Sirius." A voz de Remo era muito baixa. "Arthur, o que quer que nós façamos?"



"Qualquer coisa que puderem." Seu rosto estava tenso. "Eu sei que estão cansados. Vocês merecem descanso mais que qualquer um, os dois. Eu não pediria se não precisasse da ajuda."



Sirius balançava para frente e para trás em seus pés, as mãos nos cabelos. "Sabe que pode contar com a nossa ajuda. Mas eu vou ter que pensar. Eu simplesmente tenho que pensar - porque esse prisioneiros - se qualquer um deles estiver contando a verdade, Arthur, mesmo apenas um deles -"



"Sirius."



"Acredite em mim, Sirius, eu quero todos resolvidos. Mas nós temos que levá-los para dentro, primeiro. Olho-Tonto e Fletcher reuniram todos os quais nós temos razão em suspeitar. Eu preferiria deslocá-los para outra prisão, mas onde? E mesmo que pudéssemos deslocá-los, como manteríamos-los presos? Ficamos na mesma. Então antes de mais nada, eu tenho que manter aqueles dementadores longe do continente - Remo, você não sabe de nada que eu possa fazer para segurá-los em Azkaban?"



"Apenas o Patrono."



"É tudo o que eu tenho, também." Ele suspirou. "Vou te contar, está acabando com a vida de Olho-Tonto e dos outros, conjurar o feitiço vinte e cinco vezes ao dia."



"Eu acredito. É exaustante." Remo parou, sabendo qual seria a resposta de sua próxima pergunta. "Você quer que eu vá para lá?"



"Não." Arthur finalmente sorriu, e dessa vez alcançou seus olhos, enquanto ele olhava de volta para Remo. "Você absolutamente não pode voltar aqui. Eu quero que os dois estejam exatamente onde estão. Dêem em meus filhos um abraço por mim, quando eles chegarem, sim?"



Remo concordou com a cabeça, sorrindo de volta. "Darei se eles deixarem."



"Harry e Hermione estão incluídos nisso." Arthur sorriu e levantou suas sobrancelhas. "Vocês são dois loucos, sabem. Eles porão sua casa abaixo. Não acredito que agüentarão quatro adolescentes por um verão."



Sirius sorriu - um som agudo, mas uma risada, é tudo a mesma coisa - e pareceu sair de suas preocupações por um momento. "Você é quem me diz! Você agüentou sete deles a vida inteira."



Arthur retrocedeu, Remo retrocedeu, e Sirius imediatamente ficou pálido. Ele abriu a boca para falar, como se houvesse algo para se dizer.



Mas foi só um momento apenas, antes de Arthur se recuperar. "Eu tive, sim," ele murmurou, para ninguém em particular. E então ele piscou e continuou, a urgência voltando ao seu rosto enquanto ele continuava a sussurrar sobre Azkaban. "Temos que pensar em novas maneiras. Recolocar os dementadores. Penélope tem trabalhado naquele Feitiço de Emprisionamento por um longo tempo, agora - essa pode ser a solução, se pudéssemos aproveitar algo assim."



"O quão perto de estar pronto está o feitiço?" Remo perguntou de uma vez.



"Nada perto. Se apenas houvesse algo a mais..." Arthur olhou como se estivesse chegando perto do fim de sua corda. "Apenas pensem no que eu disse, vocês dois? E me chamem se vocês vierem com algo que achem que possa funcionar. Mesmo se for algo difícil, quero ouvir sobre isso."



Sirius ainda estava incapaz de falar, então Remo concordou brevemente. "Nós pensaremos nisso."



"Obrigada." A cabeça da Arthur virou-se um pouco e ele pareceu olhar para algo. "Droga," ele murmurou momentaneamente. "De novo não. Malditos repórteres - estavam aqui ontem mesmo, queriam uma declaração sobre o que pretendemos fazer em Azkaban. O que eles acham que mudou em vinte e quatro horas? Estou tentado em contá-los que vamos fechá-la e torná-la uma atração turística para Trouxas."



Remo sorriu. "Você acha que os Trouxas a visitariam?"



"Talvez não, mas o Profeta iria. Estou te falando, é um mundo louco. O Ministério quebra ao meio, Gringotes está abaixo, Hogwarts tem que fechar - mas não o Profeta Diário. Não, a mídia continua." Ele bufou um pouco. "Acho que há esperança em algum lugar, eh? Bem." Ele voltou a ser sério. "Chamem-me quando puderem, certo?"



"É claro. Adeus, Arthur - alô a Molly por nós."



Com um sorriso, uma concordância, e um 'pop', Arthur Weasley desapareceu.



Sirius não desperdiçou tempo. Ele se virou para a parede e chutou-a, tão selvagemente que devia ter contundido seu pé, apesar de ele não parecer notar isso. Ele estava em fúria.



"Estúpido. Descuidado. Como eu pude ter falado sobre seus filhos?"



"Você não teve intenção -"



"Não importa o que tive intenção. Lá está Arthur, pedindo ajuda, suas mãos cheias tentando juntar o Ministério novamente - e eu cruelmente trago o assunto de volta."



"Você não foi nada cruel."



Mas Sirius não estava ouvindo. "Eu estava ocupado pensando em Azkaban. Uma palavra sobre dementadores e tudo acaba para eu - legal e egoísta - nem pensar no que ele está passando - ele perdeu um filho -"



"Sirius. Pára. Agora."



Sirius parou. Ele caiu numa cadeira e pôs o rosto nas mãos. "Porquê?" perguntou através de seus dedos. "Porquê? Porque eu sinto que ainda há uma guerra? O que eu devo contar a Harry sobre tudo que está acontecendo? Eu ainda estou perdendo - Tiago não deveria tê-lo deixado para mim - como eu posso ajudá-lo a passar por tudo isso quando eu..."



Remo estava curvado à sua frente em um instante; ele tomou as mãos de Sirius de seu rosto e manteu-as nas suas. "O quê? Quando você está o quê? Sirius, você está vivo. E você o quer aqui. É isso que conta para Harry, eu te prometo - é tudo o que ele precisa. Você não precisa se preocupar em explicar tudo. Ele estava lá, ele foi parte disso - ele sabe."



Ele esperou. E num momento, Sirius levantou os olhos para ele. Era doloroso olhar em seus olhos, mas Remo manteu um contato firme.



"Eu só quero conhecê-lo, Remo."



"Eu sei."



"Eu não quero que nenhum de nós perca mais tempo."



"Eu sei."



Sirius também obviamente não queria chorar. Seu rosto estava lutando contra a emoção. Abruptamente, ele puxou as mãos de volta, levantou-se da cadeira e, em passos largos, alcançou o corredor com uma repentina e maníaca energia.



"Aonde você vai?" Remo gritou atrás dele.



"Fazer compras."



A porta bateu, balançando ligeiramente as paredes da casa. Remo suspirou, levantou-se, e subiu as escadas para ver que os quartos estavam prontos. As coisas estavam tão melhores do que antes, ele disse a si mesmo, enfiando os travesseiros nas fronhas. E elas apenas continuariam a melhorar. Mas isso não significava que aquele seria um verão fácil. Não mesmo.



~*~



"Aonde diabos estão eles?"



"Acalme-se."



"Eles disseram meio-dia. São meio-dia e dois. Você acha que algo aconteceu a eles?"



"Não, eu não acho."



"Bem, como eu deveria saber disso?" Sirius estava irado, excitado, praticamente socando as paredes. "Meio-dia e três."



"Você diz a hora extremamente bem, alguém já te disse isso?"



"Ah, cala a boca, Aluado."



"Não, na verdade isso me dá um tempo para discutir algo com você - eu suponho que pudesse esperar mais duas semanas, mas -"



"Não, me diga agora."



Remo sorriu. Era tão fácil distrair Sirius, quando ele estava assim. "Eu só queria ter certeza de que estávamos claros no que eu estarei fazendo todo o mês," ele disse calmamente. "Vou aparatar para Badenoch toda a manhã antes da lua cheia, para a poção Antilupina. Passarei a noite no habitat do apotecário para uma transformação, e voltarei na manhã seguinte."



Sirius parou de caminhar e seu rosto endureceu. "Eu queria que você não tivesse que fazer isso. Se eu me sentisse confortável fazendo aquela poção..."



"Então você a faria. Eu sei." Eles já conversaram muito sobre isso. Era uma incrivelmente complexa receita que nenhum dos dois a faria com facilidade. Então Remo simplesmente preferiu ir a outro lugar para uma Poção Antilupina própria se pudesse, e fazer sua transformação quietamente, sem nenhum risco de violência a ele, nem a ninguém. Mas Sirius ainda se sentiu culpado por não ser um expert no processo.



Remo, entretanto, ignorou sua culpa completamente. "Eu apenas não quero que a transformação seja um problema. Não para nós, nem para nossos hóspedes." Ele sorriu ligeiramente. "Então se eles perguntarem, nós apenas dizemos que eu estarei fora por vinte e quatro horas, uma vez por mês. É bem simples. E se eles não perguntarem, então Sirius, eu preferiria não trazer o assunto à tona."



Sirius olhou-o atenciosamente por um momento, e então concordou com a cabeça. "Justo." E então, como se eles nem tivessem tido a conversa, ele checou seu relógio, encarou a lareira e gritou, "Meio-dia-e-a-droga-do-seis! Eles não sabem usar pó de Flú?! Eu deveria ir até Hogwarts e ver se-"



Ele não foi adiante. Houve um flash de chama verde, uma rajada de vento e o 'tud' de um grande malão.



"Ow, Bichento!" Hermione Granger ficou na enorme lareira, abraçando um enorme gato laranja com os dois braços. Bichento obviamente não tinha gostado de viajar com pó de Flú - Hermione esforçava-se para puxar suas vestes das garras afiadas do gato. Quando Bichento finalmente pulou de seus braços, ela levantou os olhos, sorrindo feliz, e andou em direção a Remo e Sirius, que estavam parados no centro da sala, sorrindo de volta.



"Eu não sei quem abraçar primeiro," ela riu, olhando de um para o outro e batendo as mãos alegremente. Ela não tinha que escolher. Sirius estava tão super-empolgado àquela hora que ele pegou-a no ar e espremeu-a apertado, fazendo-a arfar a Remo sob seus ombros. Ele sorriu para ela.



"Olá, Hermione."



"Hermione, é maravilhoso ver você," Sirius urrou, soltando-a. "Porque diabos demorou tanto?"



Hermione pareceu imediatamente sóbria enquanto ia abraçar Remo. "Demorar?" ela perguntou ansiosamente. "Estamos muito atrasados? Ah, desculpe preocupar vocês, eu disse a Harry... mas nós não queríamos que ele se sentisse apressado."



Sirius deu um passo para trás e franziu as sobrancelhas. "Não, não, bom, é claro que não." Então me diga, como está Harry? Como vocês todos têm estado?"



Remo balançou a cabeça. "Sirius, ele vai estar aqui a qualquer segundo - Hermione, você pode dar um passo para o lado por um momento, por favor?" Ele levantou a varinha. "Queremos tirar o seu malão da lareira antes -"



Tarde demais. Houve mais um rodopio de chamas verdes, um grande 'crash' e uma voz grossa gritando, "CÉUS!"



Ron Weasley estava preso atrás do malão de Hermione - o seu próprio caíra de lado em cima do dela, bloqueando-o de visão. Tudo que era visível era um choque de cabelos vermelhos e um longo braço, movendo-se às cegas do lado, segurando uma gaiola de coruja. Dentro dela, Pichitinho balançava de um lado para o outro, piando alegremente.



Rapidamente, Remo tirou os malões do caminho com mágica, revelando Ron, espremido contra os tijolos.



"Hermione," ele arfou, derrubando a gaiola de Píchi no chão sem cerimônia e pisando à frente, "você podia tomar mais cuidado com o seu malão da próxima vez, por favor? Eu não queria apressá-la, nem nada. Ei, Sirius. Ei, Prof. Lupin."



"Remo, Ron."



"Eu sei, eu sei, mas não posso evitar. Soa engraçado para mim." Ele apertou a mão de Sirius firmemente, e então a de Remo, sorrindo largamente para os dois. "Bom demais estar aqui," ele suspirou, olhando em volta da confortável sala de estar com um ar de profunda satisfação.



"Ron!"



Ele levantou uma sobrancelha a Hermione. "O quê? Você não gosta daqui?" Ela encarou-o, mas não por muito tempo, enquanto ele sentava cautelosamente numa cadeira e começava a esfregar um dos seus tornozelos, massageando-o gentilmente e fazendo uma careta.



"Ah, você se machucou no malão?"



"Só um pouco."



"Bem, não faça isso assim - aqui, deixe-me dar uma olhada."



Hermione ajoelhou-se e ocupou-se por um momento, virando o pé de Ron de um lado para o outro com as mãos, enquanto Ron encarava o topo de sua cabeça.



Remo olhou Sirius. Eles sorriram.



"Então," Sirius começou, seu tom altamente maroto, "o que foi que vocês fizeram essa semana, enquanto o resto de nós batalhava? Divertindo-se, eh?"



Remo limpou a garganta e deu a Sirius um olhar perspicaz de lado. Não ia dar para caçoar deles tão obviamente em companhia adulta.



Mas Remo estava esquecendo de que eles já eram quase adultos também. Eles certamente não pareciam terrivelmente inconfortáveis. Hermione deu no tornozelo de Ron um gentil tapinha. "Acho que vai ficar bem," ela murmurou, antes de se levantar rapidamente e tirar o pó de suas vestes. "Ah, nós trabalhamos também," ela respondeu distraidamente a Sirius, "Nós ajudamos a Profª McGonagall a limpar tudo para a reconstrução. E nós conversamos muito sobre o que estava acontecendo. Sobre o que nós vamos fazer agora que..." ela perdeu a voz e suspirou. "Francamente, essa tem sido a semana mais estranha da minha vida, e eu não..."



"Minha também," Ron concordou, enfiando o sapato em seu pé novamente. "Digo, o que você faz consigo mesmo depois que..."



Eles se olharam, os dois interrompendo as frases, e deram de ombros. Remo não os culpava. Eles passaram os últimos anos do que deveria ser sua adolescência lutando numa guerra. Viver uma vida normal tomaria uma pouco de costume.



Mas Sirius não se tocara disso. "Oh, eu direi o que vocês farão," ele disse ardentemente, dando passos através da sala na direção deles e batendo o pulso na mão para dar ênfase. "Vocês todos terão um puta de um verão, uma vez na -"



"Sirius!" Hermione parecia escandalizada.



"Ah," ele disse, com um tímido olhar em direção a Remo. "Desculpe."



Ron, entretanto, riu assustadoramente. "Finalmente, eu tenho ajuda," ele disse, levantando-se e despenteando o cabelo de Hermione. "Esse vaiser um grande verão. Nós vamos levar vocês à loucura."



Hermione pressionou os lábios e tentou parecer zangada. Falhou.



"Eu me pergunto o que está mantendo Gina?" ela refletiu após um momento. E então, "Espero que Harry esteja bem."



A sala caiu num sério silêncio enquanto todos contemplavam a declaração. Era muito improvável que Harry estivesse bem. Ele estava vivo, para ser preciso. Mas para estar bem... bom, Remo refletiu novamente, tomaria um bom tempo.



Houve um pequeno vislumbre, um rodopio verde e Gina Weasley estava na lareira.



"Oh Deus!" gritou Hermione. "Saia daí, nós temos que tirar o seu malão antes de Harry -"



Mas Gina não se mexia e parecia um pouco abalada. Ela empurrou seu longo cabelo de seus olhos e balançou a cabeça.



"O que foi, Gina?" Remo disse, atravessando a sala rapidamente. "Você está bem?"



"Não sou eu, estou bem," ela disse rapidamente. "Olá, aliás." Ela sorriu para Remo, e acenou para Sirius atrás dele.



Sirius estava na lareira num longo passo. "Tem algo errado com Harry?" ele interrogou.



"Não - aqui, ajude-me a sair e eu te conto, nós devíamos tirar o meu malão. Talvez ele venha."



"Talvez ele venha?"



"Sirius," disse Remo gentilmente, "você poderia sair, por favor, e tirar a Gina da lareira?"



Sirius relutantemente deu um passo para trás e Gina entrou na sala. Remo moveu seu malão pelo ar na direção dos de Ron e Hermione.



"Eu não quero assustá-lo nem nada, Sirius," Gina disse, encontrando uma cadeira e sentando-se nela, como se estivesse exausta. Remo notou que seus olhos estavam ligeiramente avermelhados. "Não há nada realmente errado com Harry - bem, nada errado com ele fisicamente - bem." Ela parou, seu rosto vagamente vermelho. "Vocês sabem o que estou tentando dizer."



"Sim," disse Remo docilmente. "Ele não está em perigo."



Gina levantou os olhos para ele, grata. "Certo. Mas ele não quer entrar na lareira."



Todos se entreolharam, e então voltaram para Gina.



"O quê?" disse Ron, levantando-se. "Porquê ele não quer entrar na lareira?"



Gina suspirou e olhou para Ron como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. "Ele não quer deixar Hogwarts," ela disse pacientemente. "Ele simplesmente não quer deixá-la - não é que ele não queira vir para ," ela disse rapidamente, virando-se para Sirius e sorrindo. "Ele mal pode esperar para vê-lo. Ele tem carregado aquela carta que você o mandou para todo o lado por uma semana."



Sirius pareceu tocado.



"É só isso," Gina continuou, olhando Hermione agora para ajudá-la. "Ele... ele só..."



"Ele não quer que tudo termine," Hermione disse suavemente. "Não a escola -" ela parou. "E, de qualquer jeito, não a guerra."



Ron virou-se para Hermione rapidamente, seus olhos brilhando. "Não quer que a guerra acabe? É claro que quer! Foi terrível! Nós queríamos que acabasse para - bem - sempre! Desde que nós conhecemos ele! E agora que acabou, nós temos a chance de viver uma vida e ele não quer entrar na droga da lareira? Bem, é isso. Eu vou voltar lá," ele disse determindado. "e fazê-lo entrar."



Ron moveu-se para a lareira, e Remo moveu-se para impedí-lo mas Gina foi mais rápida. Ela o cortou num piscar de olhos. "Não, não vá," ela pediu. "Nós não podemos deixá-lo ter um minuto? E então, se ele não voltar em meio hora mais ou menos, alguém vai buscá-lo?"



"Eu vou." Sirius tinha uma mão no ombro de Ron. Pela primeira vez no dia todo, Sirius parecia perfeitamente calmo e racional, e Remo maravihou-se. "Dê um tempo a ele, Ron. Isso não vai acontecer de uma vez. A despedida - bem, acontece pouco a pouco." Sirius suspirou. "Confie em mim."



Claramente, Ron confiava nele. Ele deu meia-volta da lareira e voltou a se sentar pesadamente. Hermione pôs uma mão em seu ombro. Gina encarou a lareira. "Ele virá," ela disse, baixo.



A sala de estar estava silenciosa, exceto pelo som de Pichitinho, piando de ora em ora enquanto Bichento rondava o perímetro de sua gaiola.



"Hermione," Ron murmurou em tom de guerra, apontando para a cena.



"Eles só estão brincando," ela respondeu, em tom de fim de discussão. Ron levantou as sobrancelhas, duvidando, mas não disse nada.



Sirius curvou-se perto da lareira e começou a distrair Bichento. Remo observou-os, sorrindo por dentro - ele esquecera de que Almofadinhas e Bichento uma vez foram muito bons amigos.



"Maravilha de criatura," Sirius murmurou, sorrindo enquanto afagava Bichento da cabeça ao rabo. E então estava silêncio novamente, exceto pelo ronronar de Bichento. Quando mais quinze minutos passaram, Sirius levantou e olhou para Remo tensamente.



"Você acha que eu deveria ir e ver se está tudo bem?"



"Seria uma boa idéia."



"Então eu vou. Vocês todos almocem e se acomodem - não se preocupem em esperar por mim."



Todos concordaram, e Sirius surrupiou um pouco de pó de Flú da caixa no consolo da lareira. Ele estava quase a jogá-lo quando uma rajada de vento e luz deteu-no, e ele deixou o pó cair no carpete, esquecido.



Harry Potter estava na lareira, seus óculos tortos e seus cabelos pretos apontando para todas as direções.



"Oi, Sirius," ele disse sorridente, apesar de seus olhos estarem solenes. Ele saiu da lareira e ficou na frente de seu padrinho, abaixando a gaiola de Edwiges gentilmente e tirando a mão. "Desculpe por tê-lo feito esperar assim."



Mas Sirius não se importava. Ele agarrou a mão de Harry e puxou-o sem aviso num abraço apertado.



"Bem-vindo ao lar," ele disse, meramente conseguindo tirar as palavras da boca. "Bem-vindo ao lar, Harry."



Atrás dos ombros de Sirius, todos podiam ver o rosto de Harry. Seus olhos estavam fechados e seu rosto tão tenso, que os músculos de sua mandíbula estavam cerrados. Mas ele alcançou Sirius e abraçou-o firmemente de volta.



Remo não pôde evitar as lágrimas que caíam. Era como ver Tiago. Ele viu que Hermione parecia emocionada também, e que Ron, apesar de sorrindo, estava de algum jeito com os olhos vermelhos. Gina não chorava, mas seus olhos estavam fixos no rosto de Harry.



"Obrigado," Harry murmurou depois de um longo momento. Ele abriu os olhos e se afastou. Sirius pôs as mãos em seus ombros e olhou-o.



"Deus, você está alto."



"Faz só uma semana que você me viu."



"Não tive chance de reparar."



Harry concordou, assim com Remo, observando-o. Haviam muitas coisas que passaram despercebidas nos últimos anos, e havia tempo para recompensá-las. Ele se virou e tirou seu próprio malão da lareira com mágica, mandando-o na direção dos outros. "Oi, Remo," ele disse, dando um passo para a apertar a mão de seu antigo professor.



Remo esperou que suas lágrimas não estivessem ainda caindo. Ele estava honestamente certo de que Harry já vira demais delas. "Olá, Harry. É bom ter você aqui." Ele gesticulou em volta da sala para todos. "Agora que estamos todos juntos, vamos fazer o tour?"



"Ah, sim, eu adoraria ver tud-" mas Hermione não pôde terminar.



"O que foi aquilo antes, sobre o almoço?" Ron perguntou abruptamente. "Não podíamos fazer isso antes, e depois nos acomodarmos?"



Remo riu. "É claro. E enquanto comemos -" ele lançou um olhar a Sirius e sorriu - "talvez vocês possam decidir sobre quem vai dormir com quem."



"Ah sim." Sirius sorriu de volta. "Dois em cada quarto, e o resto é com vocês."



As bocas dos quatro adolescentes abriram ligeiramente. Rindo, Remo e Sirius deixaram-nos, encarando um ao outro, e se afastaram pelo corredor em direção à cozinha para começar a preparar o almoço.



***


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