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Amanheceu em Hogwarts, depois do que foi um dia incrível para todas as casas, principalmente para aqueles que como Tiago, Zac e Justin tinham conseguido uma vaga para o time de Quadribol. Os alunos deitaram eufóricos na noite passada, mas Alvo não conseguiu dormir. E nem Claire.Mas ainda assim, levantaram-se cedo e foram se reunir aos demais alunos no Grande Salão para tomarem café da manhã. Claire estava pensativa, lembrou até de sua coruja e que não tinha nome e resolveu se ocupar pensando nisso. Alvo só deu “bom dia” e não parecia muito disposto a falar com quem quer que fosse. Saíram do Salão comunal da Grifinória tendo a companhia de Dominique, Victoire e Louis, que conversavam alegremente.

- Ontem foi perfeito! – Victoire dizia – Consegui entrevista com todos os aprovados para o time da Grifinória, Corvinal e Lufa-Lufa!
- Isso é perfeito, Vick! – Dominique comentou animada – A 1ª edição do folhetim do E.B.A.H. do ano será especial!
- É, pelo visto será a primeira vez que vocês falarão de Quadribol... – Louis balançou a cabeça – Ouvi dizer que só tem fofoca e garotos nestes folhetins...
- E quem te disse isso, moleque? – Victoire fez cara feia, se é que ela conseguia ficar feia de algum jeito.
- Todos dizem! – Louis fez ar de impaciência.

- Aconteceu algo com vocês? – Dominique deixou os irmão brigando e foi se unir a Alvo e Claire que andavam no corredor mudos e com cara de enterro.
- É... Não... – Claire sorriu para a menina – Está tudo bem.
- Comigo também... – Alvo tentou sorrir.

- Ah, eu estou vendo... – Dominique arregalou os olhos.

Chegaram ao Grande Salão, se dirigindo à mesa da Grifinória. Claire deu bom dia para todos superficialmente e sentou-se ao lado de Rosa, dando um beijo na bochecha da menina. Alvo sentou-se ao lado de Ally na outra extremidade da mesa.

- Hoje não tem beijinho, Claire? – Tiago perguntou sorrindo – Você nos deixou mal acostumados...
- Ah, desculpa... – Claire sorriu sem graça, e olhou para Zac que estava ao lado de Tiago. O menino sorriu meigamente. Claire levantou e foi falar pessoalmente com os meninos.

- Estou esperando a sua resposta, ouviu? Mas não precisa se afobar, pense com carinho – Zac sussurrou em seu ouvido quando ela o foi cumprimentar, corada.
- Eu acho que eu já tenho uma resposta sim – Claire olhou de relance para Alvo, o menino evitava olhar para ela – Podemos conversar depois do almoço.

No momento em que Claire voltou a sentar-se, as corujas invadiram o Grande Salão, trazendo a correspondência para os alunos. Claire olhava aquilo admirada. Achava lindo e diferente. Rosa, ao seu lado, pegou a edição d’O Profeta Diário e uma carta de sua mãe que sua coruja a trouxera.

- Mamãe me escreveu! – Falou Rosa animada, abrindo a carta.

Claire correu os olhos pela mesa, e viu todos os alunos recebendo cartas de seus pais. Ficou triste por um momento, ao lembrar dos seus pais e desejou que eles estivessem bem, onde quer e como quer que eles estivessem. Estava entretida olhando para Zac, que lia uma carta, com uma expressão de quem não gostava do que lia, que nem percebeu que ao seu lado Rosa abrira um sorriso de uma ponta a outra da orelha.

- CLAIRE! – Rosa deu um berro e Claire se assustou.
- Gente, o que foi? – Claire se recuperava do susto.
- Olha! – Rosa entregou a carta para Claire – Lê só isso!

Claire pegou a carta delicadamente e começou a ler.

“Querida Rosinha,
Incrível, mas já estou com saudade de você! Se não soubesse como é importante para sua formação, eu tiraria você daí para ficar ao meu lado. Hugo está deprimido, toda hora fala de como será quando ele for para Hogwarts também. Ele não consegue ficar longe de você! Ele vai hoje para a casa da Avó de vocês, junto com Lílian e Roxanne. Sra. Weasley pediu que deixássemos eles um pouco com ela, uma semana talvez, segundo ela está enlouquecendo sozinha com Sr. Weasley! Também, depois de sete filhos em casa, só eles dois deve ser um tédio mesmo.

Tenho uma notícia ótima para sua amiga, Claire. Fiquei tão feliz em saber que vocês viraram amigas, filha! Ela é uma garota encantadora. Diga a ela que eu fui direcionada para encontrar sua família, e que darei o melhor de mim para falar com seus pais. Logo, logo, tudo vai se resolver, peça que ela só tenha mais um pouco de paciência e confiança em mim e em Merlin, acima de tudo, aliás, eu acho melhor falar em Deus com ela, pois ela foi criada como trouxa.

Seu pai está mandando um beijo. Ele não assume, mas está morrendo de saudade de você também. Mas sabe como é Rony Weasley... Se faz de durão. E se a Lilá Brown implicar com você de novo, eu quero saber. Falarei direto com Minerva na próxima vez. (Claire percebeu que havia após esta frase um pequeno rabisco, que dava para ler no contorno algo como “aquela solteirona encalhada”mas resolveu não comentar, pois se estava rabiscado, talvez Hermione não quisesse continuar a escrever)

Te amo querida!
Beijos, mamãe.
Hermione J. Weasley”

Claire terminou de ler a carta com brilho nos olhos. Nem percebeu que Alvo estava ao seu lado com outra carta em mãos.

- Isso é ótimo, não é? – Rosa sorriu.
- É perfeito! – Claire tinha lágrimas de emoção nos olhos.
- Pelo visto, Tia Hermione também contou a mesma coisa que meu pai – Alvo deu a carta que estava em sua mão para Claire. A menina pegou sorrindo e também leu.

“Querido filho Alvo.

Fiz questão de escrever hoje! Quero te parabenizar por ficar na Grifinória, eu sabia que meu filho era um herói corajoso! Só não digo que estou orgulhoso de você por isso, por que eu sou orgulhoso de você desde o dia que você nasceu. (Claire abriu um sorriso e murmurou “que lindo” para Alvo com brilho nos olhos)
Tenho uma novidade incrível para sua amiga, Claire. O Ministro da Magia nos deu a ordem de encontrar sua família, não é ótimo? Sua Tia Hermione foi escolhida por mim para ficar com o caso, pois eu acho que ela é a mais competente para tal coisa. Diga a Claire que eu não se preocupe, vamos resolver tudo e em breve ela terá os pais ao se lado novamente.

Te amo filho e não dê ouvidos se Tiago disser que as armaduras atacam pela madrugada. Vai por mim, ele tentou me pegar com essa, fique esperto.

Abraços,
Seu pai, Harry J. Potter

P.S.: Sua mãe e Lily estão mandando um beijão, e eu mando um para Tiago também.”

- É, eles falaram praticamente a mesma coisa! Estou tão feliz com isso! – Claire sorria.
- Eu não disse que tudo ia se resolver? – Alvo abraçou a menina bem forte. Claire pode ver por cima do ombro de alvo que Zac fez cara de ciúmes.

-É disse... E eu acreditei... – Claire se afundou nos braços de Alvo chorando de felicidade e murmurava somente para o menino ouvir – Eu acredito em tudo o que você me fala, Alvo... Você é um anjinho que Deus colocou na minha vida... Eu te amo muito, sabia?

- Eu também amo muito você Claire... -Alvo corou e seu coração disparou. Ele também sentiu vontade de chorar, mas tentou segurar a onda.

Claire largou Alvo e o olhou nos olhos por um momento, voltando a sentar-se em seguida. Mas logo seu sorriso se desfez, ao ver que Zac ainda estava com a expressão de desespero no rosto.

- Aconteceu algo, Zac? – Tiago também parecia ter reparado no amigo.
- Tiago... – Zac tinha os olhos cheios de lágrimas – Minha mãe... Ela... Eu não vou deixar!
- O que foi, Zac! Fala! – Justin ao lado do amigo tomou a carta de sua mão – O que aconteceu? Algo com sua mãe?
- Ela quer se separar do meu pai! – Zac começou a chorar – Ela não pode fazer isso!

- Como é? – Tiago foi para o lado de Justin que começou a ler a carta – Mas seus pais não se amavam tanto...
- É! Eles se amam! – Zac chorava e Claire fez menção de levantar para consolá-lo, mas deu a honra para Rosa, que já estava de pé.

- Calma Zac... – Rosa chegou perto do menino e sentou no lugar onde Tiago estava sentado – Vai ver ela escreveu isso num momento de desespero...
- Não! Ela já está com uma Bacharelada em Direito da Magia encaminhando os documentos para separação! – Zac não conseguia sequer olhar para Rosa de tanto chorar – Ela contou que já estavam querendo se separar há muito tempo...

- É verdade, Rosa... – Tiago arregalou os olhos – Ela está dizendo aqui que os papéis da separação estão encaminhados, mas que eles já estão separados na prática.
- Sua mãe está com a família na Inglaterra, mas o pai de Zac foi para França... – Justin estava boquiaberto.

- Eles não podem! – Zac escondeu o rosto entre as mãos – NÃO PODEM!
- Zac... – Rosa passou a mão pelos cabelos de Zac – Não entra em pânico, às vezes vai ser melhor para eles.
- É Zac! Se eles não estão se entendendo mais, é melhor que estejam separados – Claire tentava sorrir em sinal de confiança – Eu garanto que eles não vão deixar você, eles continuam sendo seus pais e vão te amar para sempre!

- Amigo... – Tiago terminou de ler a carta e foi até Zac, levantando o menino da cadeira para dar um abraço apertado – Estamos aqui, você pode contar com a gente... Desabafa, chora mesmo, mas acredita que tudo vai ficar bem... É como Claire disse, eles não vão deixar de amar você, eles sempre serão seus pais...
- Isso mesmo, Zac! – Justin se uniu aos dois amigos no abraço – E lembre-se que você tem amigos que estão com você para o que der e vier!

- O-Obrigado... – Zac soluçava abraçado com Tiago e Justin. Rosa olhou para Claire e a menina estava chorando.

Zac ficou choroso, mas se sentiu melhor após o apoio dos amigos. Os alunos foram deixando a mesa aos poucos, indo para suas aulas. Alvo se levantou e parou ao lado de Rosa e Claire, Louis em seguida também se uniu a eles.

- Temos aula de Defesa contra Artes das Trevas agora – Louis disse se aproximando dos três – Vamos?
- Tiago disse que esse professor é ótimo... – Alvo comentou sem vontade, olhando para Claire, que voltara a ficar triste. Ele passou a mão pelos cabelos de Claire e a menina deu um sorriso – Não fica assim, se você confia mesmo me mim, eu te digo, Zac também vai ficar bem...

- Eu sei... – Claire se levantou sorrindo para Alvo – Mas eu estou sem graça de conversar sobre o pedido dele agora...
- Não converse, espere... – Alvo sorriu – Ele não deve estar com cabeça para isso também.
- É, acho melhor eu nem pensar nisso agora...

Os quatro amigos saíram do Grande Salão em direção à sala de aula de Defesa contra Artes das Trevas. Chegando próximo, perceberam que novamente era uma aula compartilhada com a Sonserina. Claire se animou e começou a procurar por Jullie.

- Ai, que bom! Eu preciso tanto conversar com ela... – Claire comentava nervosa.

Avistaram Jullie em um canto da sala, abraçada com um livro e com uma expressão de melancolia. Alvo pensou que todos estavam realmente num mau dia, mas não compartilhou o comentário com ninguém. Claire foi ao seu encontro sorrindo, mesmo reparando que a amiga não parecia estar muito feliz.

- Jullie! – Claire abriu os braços e Jullie deixou o livro em cima de uma mesa.
- Amiga! – Jullie se jogou para abraçar Claire.
- Ai, eu queria mesmo falar com você, amiga... – Claire abraçou bem forte Jullie.
- Que foi? – Jullie mexeu no cabelo de Claire – Algum problema flor?
- É... Eu tenho que dar uma resposta para Zac... – Claire suspirou – mas ele está arrasado... Recebeu uma carta hoje, dizendo que os pais estão se separando...
- Ih, que barra... – Jullie fez uma careta – Ah, amiga, espera a poeira abaixar... E vocês conversam! Zac é um fofo, ele não se importará em esperar.
- Eu sei, mas... – Claire olhou para Alvo, e viu o menino sentando ao lado de Rosa – É. Vamos esperar o Zac melhorar o humor, coitadinho...

Jullie passou o braço pelos ombros de Claire e foi sentar-se com ela em uma mesa logo atrás de Alvo e Rosa.

- Oi Alvinho! – Jullie sorriu – E oi Jasmim!
- Oi, Jullie! – Alvo riu e Rosa não olhou para trás, só revirou os olhos e esnobou Jullie.
- Ih, esqueceram de regar a florzinha hoje... Ela está murchinha, murchinha... – Jullie balançou a cabeça, Claire e Alvo caíram no riso.

- Escuta aqui, garota! – Rosa virou e encarou Jullie com raiva – Meu nome é Rosa! E eu agradeceria se você não dirigisse a palavra a mim, não para chacotas bobas como essa!

- Opa, desculpa... – Jullie deu um risinho irônico – Eu não queria boicotar o seu jardim perfeito... – E murmurou baixinho para Claire – Mas Jasmim não deixa de ser flor...

Claire riu novamente, mas logo virou-se para ver Jessie e Escórpio, que resolveram sentarem-se em uma mesa ao lado da que ela e Jullie ocupavam. Escórpio evitou olhar para o lado, mas Jessie fez questão de provocar.

- Então... Mais uma aula com os Grifinórios... Que vida tirana... – Jessie ria ironicamente – Bom, vamos ver quantos pontos Potter perde hoje!
- Não começa, Jessie... – Escórpio cochichou ao seu lado – Fica na sua...

- É mais fácil que eu perca pontos para Sonserina do que o Alvo para Grifinória – Jullie comentou sorrindo – Porque eu estou com uma vontade louca de quebrar sua cara... Por isso, eu acho que como meus amigos da Sonserina... – E Jullie olhou em volta e viu todos os Sonserinos revirarem os olhos – Não querem perder pontos... Pro bem da nação, acho melhor você calar a sua boca!

- Você adora aparecer para seus amiguinhos da Grifinória, não é mesmo, Jullie? – Jessie falava com raiva – Por que você não se muda pro Salão Comunal deles, heim?
- Por que é contra as regras de Hogwarts, já que vontade não me falta... – Jullie piscou para Claire.

Jessie fez menção de revidar, mas no mesmo momento em que ia falar, Daniel Carter entrou na sala cumprimentando os alunos. Ela somente lançou à Jullie um olhar fulminante de raiva, respondido pela garota com um beijinho jogado ironicamente em sua direção.

- Bom dia, meus caros! – Daniel sorria – Sou Daniel Carter e vamos aprender Defesa Contra as Artes das Trevas. Estou substituindo o professor Olívio Wood, que está tratando da saúde, a pedido de Minerva, mas na verdade, eu sou Auror desde os meus 18 anos de idade. – Daniel começou a andar pela sala, sorrindo para os alunos e se apresentando – Ser Auror é imensamente gratificante, porém, é um trabalho muito perigoso e exige muita atenção...

Claire estava viajando na aula. Apoiou o queixo na mão e ficou pensando em Zac... Coitado. Imaginou como deve ser difícil ver os pais se separando. Pensou no que diria a ele... Imagina! Se disser que não quer namorar ele, ele ficaria ainda mais arrasado, e por outro lado, se namorasse ele, estaria agindo movida pela pena... Estava tão angustiada que nem prestou atenção na pergunta, só viu a mão de Jullie passar raspando pelo seu rosto para respondê-la.

- Muito bem... – Daniel sorriu – Então nos diga, srta. Watson, qual sua tradução para “Arte das Trevas”?
- Como assim, Watson? – Rosa cochichou, também tinha levantado a mão e se virou para trás para encarar Jullie.

- Bom... Arte das Trevas para mim seria todo tipo de feitiço com intenção de causar danos irreparáveis, ou como as conhecidas “Maldições imperdoáveis” Ah! e também inclui ataques de criaturas maléficas e perigosas. – Jullie respondeu sorrindo

- Muito bem! 10 pontos para Sonserina! – Daniel sorriu – E bela resposta, Srta. Watson! Vejo que é sua concepção mesmo, não algo que você simplesmente leu.

- Sua concepção mesmo... – Rosa revirou os olhos murmurando baixinho.

- Ela me odeia, não é mesmo? – Jullie comentou com Claire rindo.
- Eu não diria isso... – Claire segurou o riso.

A aula de Daniel era realmente muito agradável. Até Claire se empolgou. Ele deu uma breve introdução sobre a matéria, mas não se aprofundou em qualquer assunto, por ser uma aula inaugural. Assim que Daniel dispensou a turma, os primeiranistas da Grifinória se encaminharam para a estufa, teriam aula de Herbologia com Neville Longbottom. Entretanto, os alunos da Sonserina tinham um tempo vago.

- Vamos para o Salão Comunal, Jullie? – Escórpio perguntou, ainda que sem graça, mantendo distância de Jessie.
- Não, obrigada, meu dia está muito bom e não quero estragá-lo... – Jullie ia arrumando o material.
- Ju... – Escórpio pegou sua mão, fazendo com que a menina o olhasse – Eu não concordo com a Jessie, você sabe que eu gosto de você...
- Ah, claro... – Jullie pegou seu grande e velho livro de capa preta e encarou Escórpio – Olha... Você não é má pessoa, Escórpio... Eu sei que não é, porque eu te conheço há um tempão... Mas a Jessie domina você!
- Não domina nada! – Escórpio se ofendeu – Ela só é a única amiga que eu tenho!

- Não mesmo... Jessie só é amiga dela mesmo, se você ainda não reparou... – Jullie olhou de relance para Jéssica, ela estava aos cochichos com duas meninas insuportáveis da Sonserina – Escuta, eu sou prima dela, Jessie é assim desde o berço, se acha superior... Culpa dos pais dela! Mas se você quiser... Bom... Estarei na Clareira... Tchau, Escórpio...

Jullie virou as costas para o menino e saiu pisando firme. Escórpio ficou parado, olhando ela sumir de vista. Pensava no que ela falara: seria verdade? Jessie era manipuladora sim, mas ninguém parecia ser muito legal com Escórpio. O fato de ter o sobrenome “Malfoy” parecia lhe dar um estigma pelo resto da vida. O menino olhou para Jéssica, ela o chamou para participar da conversa animada, mas ele balançou a cabeça e recolheu seu material, saindo da sala, meio sem rumo.

Jullie andava distraída. Segurava aquele livro velho como se fosse um filho. Olhava para ele como se o temesse, mas não o deixava um só minuto. Chegou a Clareira, nesse horário estava sempre deserta, mas hoje, tinha três pessoas ali, que Jullie reconheceu de imediato.

- Queridinhos... – Jullie cumprimentou Tiago e Justin, mas se abaixou a frente de Zac, dando um abraço no menino – Oh, Zac... Claire me contou... Que barra, não é, mas vai dar tudo certo! Confia!
- Obrigado Jullie... – Zac a abraçou sem graça.

- Oi, gatinha... – Justin sorriu para Jullie – Em tempo vago também?
- É, só temos aula agora depois do almoço... – Jullie mirou Tiago, o menino estava com expressão de angústia – Oi reizinho... Está tudo bem?

- Sim, está... – Tiago respondeu distraído.
- Não está não... – Jullie retrucou.
- Por que diz isso? – Tiago arregalou os olhos.
- Porque você não está me tratando mal – Jullie deu um risinho sem graça. – Até agora nem fez nenhuma gracinha.
- Ah, sentiu falta? – Tiago riu – Desculpa, eu prometo que implico com você depois, agora estou mais preocupado com meu amigo.

- Estamos todos... – Justin suspirou – Zac não quer comer, não quer estudar... Só chora...
- Zac, isso não vai te ajudar! – Jullie olhou preocupada para o menino.

- Eu não tenho vontade de nada! – Zac tinha os olhos inchados de tanto chorar – Não se preocupem comigo, eu vou ficar bem sozinho, pode ir se divertir, estudar ou sei lá mais o que...

- Até parece, Zac... – Tiago revirou os olhos – Quantas vezes te deixamos sozinho na Clareira?
- Nenhuma... – Zac respondeu cabisbaixo.
- Pois é, por que hoje seria diferente? Você está com um problema, e seu problema é nosso problema. Funciona assim, um por todos e todos por um.

- Esse é o lema dos Três Mosqueteiros... – Jullie comentou sem pensar.
- O quê? – Tiago a olhou confuso.
- Um por todos, e todos por um... – Jullie repetiu pausadamente – É o lema dos Três Mosqueteiros, D’Artagnan, Rei Luis XIII... Ah, esquece... Isso é cultura trouxa.

- Eu sei que é, o que me espanta é você saber disso – Tiago estava boquiaberto.
- Valeu, me chamou de estúpida na minha cara... – Jullie fingiu estar ofendida.
- Não é isso, é porque eu e Zac tivemos que explicar para o Justin, por exemplo, porque ele não conhecia... E nós tivemos mais contato com os trouxas, já que meu pai cresceu como trouxa e a mãe de Zac... – Tiago parou de falar e olhou de relance para Zac – Ela conviveu com trouxas...

- Pode falar, Tiago, sem problemas... – Zac não levantou a cabeça para falar.

- Que foi? – Jullie ficou curiosa.
- Bom... – Tiago ainda fitava Zac – A mãe do Zac pensava que tinha uma família trouxa, sabe? Mas na verdade, foi tudo... er...
- Mentira – Zac completou a frase ainda cabisbaixo.
- Como assim, gente? – Jullie estava confusa.
- É uma longa história... – Tiago olhou a menina como se dissesse “ele não precisa lembrar disso agora”

- Jullie – Justin olhou para a menina, curioso, apontando para o livro que ela tinha em mãos – O que é esse livro? Ele é meio velho, não é?
- Ah, é sim... – Jullie ficou sem graça – É um tipo de herança de família, ele passou por três gerações da minha família... Agora é meu, entende?
- Mas é sobre o quê? – Justin insistiu.
- Nada demais, é só... Umas... er... Poesias? – Jullie falou incerta.

- Sério? – Tiago sorriu – Por que não recita uma pra gente? Eu gosto de ouvir...
- Ah, eu não sou paga pra isso, Reizinho, pra ser seu bobo da corte... – a menina riu.
- Por favor... – Tiago juntou as mãos em sinal de “imploro” – Você não é um bobo da corte, é uma princesa linda...

Jullie corou ao ouvir Tiago. E pelo que Justin reparou, o amigo estava falando sério. Olhou de Tiago para Jullie, e até Zac levantou a cabeça ao ouvir tal declaração. Tiago mirava Jullie, mas ao perceber que Justin e Zac o olhavam, ele desconversou.

- Bom, eu acho bonito poesias... Posso parecer um trasgo às vezes, mas eu tenho um lado sentimental, sabiam?
- Depois dessa... – Justin riu maliciosamente – Eu sei sim...

- Está bem, meu rei, como queira... – Jullie sorriu e fez reverencia – Eu recito uma. Mas só uma!
- Por favor... – Tiago sorriu meigamente.

Jullie adorava aquele sorriso de Tiago. Ele era tão espontâneo, tão cheio de vida. Ficou alguns segundos enfeitiçada por aquele sorriso. Sentiu-se uma idiota ao voltar em si e achou por bem abrir o livro numa página já marcada e quase rasgada. Ela sabia aquele poema de cor, mas preferiu encenar leitura para não ter que encarar Tiago. Odiava admitir, mas o menino estava mexendo com ela de alguma forma. Então, ela começou a ler.

“Se há algo que me tira o sono,
São teus olhos, que nunca me vêem.
Porque nunca me desejam, me seguem?
Se te miro como agora não é por vaidade,
É por necessidade de ter-te perto,
Mesmo que não esteja comigo,
Só a tua presença parece que me acalma.
Mas eu hei de tê-lo em meus abraços,
Não sabes quanto bem te quero,
O quanto de amor tenho guardado,
Esperando que me venhas e digas:
‘Sou teu pela eternidade’.

Jullie terminou de ler e olhou para os três meninos. Estavam boquiabertos. Aquela poesia deveria ser bastante antiga, pelo tipo de linguajem utilizado. Estavam em silêncio, mas Jullie sorria.
- Por que essas caras de paisagem, meninos?
- Quem escreveu isso? – Tiago estava atônito.
- Minha trisavó. É bem antigo não acham?
- É mesmo, mas é muito bonito também – Justin sorriu.
- Mas, é triste... – Tiago não sorriu – ela devia ter um amor não correspondido.

- É... Ela e seus amores impossíveis... – Jullie comentou sem graça.
- Amores impossíveis? – Zac comentou triste – Isso é péssimo...
- Zac... Pode haver amores impossíveis, mas nada é impossível para o amor – Jullie sorriu.

***

Rony e Hermione aparataram na entrada do Ministério da Magia, ambos com a cara amarrada. Rony estava vermelho de raiva e Hermione o ignorava. Estavam, nitidamente, discutindo.

- Agora, você vai ser a secretária do Malfoy? – Rony estava de braços cruzados enquanto esperavam o elevador.
- Cala a boca, Ronald... – Hermione não deu trela.
- Acho que você está adorando isso, não é? – Rony ficou mais vermelho ainda.
- É o meu trabalho! É um caso de confiança! Estou orgulhosa por Harry ter destinado tanta responsabilidade da mim!
- Ah, sim, claro... Nem mais sala o Malfoy respeita! Por que na sala dele? O que ele tem contra aurores? Medo? – Rony retrucava enquanto entravam no elevador.

- Escuta uma coisa – Hermione cochichou para nenhum dos que ali estavam escutasse – Eu não tenho tempo para suas crises de ciúmes! Eu vou fazer meu trabalho e pronto, está certo?

Mas logo que Rony pensou em dizer algo, a porta do elevador se abriu e ouviu-se “Nível um: Ministro da Magia e Serviços Auxiliares”. E Hermione saiu revoltada.

- Tenha um bom dia de trabalho... – Disse sem olhar para trás.

Hermione seguiu pisando firme, estava realmente irritada com a implicância de Rony. Tentava se acalmar. Virou à direta em um corredor e pôde ler em dourado numa porta de madeira “Draco L. Malfoy – Secretário Sênior do Ministro da Magia”. Bateu à porta e Draco a recebeu mais pálido que nunca.

- Olá, Draco, bom dia – Hermione tentava ser simpática
- Bom dia, Hermione... – Draco estava preocupado e não disfarçou - Ainda bem que você chegou... Temos problemas... Sérios.

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