Herói ?



Cap. II - Herói?


Na manhã seguinte, poucas marcas rosadas em seu rosto denunciaram que Nadine estivera chorando. Fosse pela decepção, fosse pelo efeito da poção para crescer dentes e ossos, conseguida na enfermaria.

Marissa, amiga e companheira de quarto, era uma garota de estatura mediana, que de tão magra chegava a ter um andar quase felino. Seus cabelos castanho-avermelhados eram channel e duas esferas azuis se destacavam, enfeitando o globo ocular ligeiramente saltado.

Ao ver Nadine naquele estado, meneou a cabeça e agarrou-lhe para um abraço forçado e tornou a lhe dizer novas palavras de incentivo. Depois, arrastou-a para o salão principal para que forrassem o estômago antes de darem início as suas atividades diárias.


Sem muita vontade de tocar o sempre esplendido desjejum da escola, Bernadine brincou com a comida, equilibrando pedaços de torta de limão uns sobre os outros, até formar uma mediana barricada doce. Cuidadosamente, alinhou cones folhados de brigadeirão como se ali houvesse um forte escondendo uma preciosidade sem igual. Ainda sob o olhar atento e preocupado de Marissa, prosseguiu sem dar muita atenção ao falatório exagerado em sua mesa.

O assunto do momento era a próxima partida, contra a galera da Torre dos Leões. Absorta em sua arquitetura de altíssimas calorias, ela continuou adicionando guloseimas com muita engenhosidade. A garota fazia questão de não participar daquela alegria, que em nada parecia ser também sua. O egoísmo lhe fizera esquecer que a Lufa-Lufa estava muito bem colocada no placar geral do campeonato. Havia algo que martelava em sua mente sem parar ...

"Não faço parte da equipe... não faço"

Um eterno burburinho nas demais mesas cresceu e tomou volume. Ganhou forma e logo virou uma verdadeira algazarra. Vestindo as cores de sua casa, um bom número de alunos da Grifinória entrava no salão, debaixo de salvas de palmas e vaias. Os sonserinos, obviamente, já estavam sentados à sua mesa, embora a turma da Corvinal ainda estivesse bastante dispersa. Hábito comum para eles que geralmente estavam estudando e treinando em horários diversos, tentando manter a fama de inteligentes acima de qualquer outra coisa.

Ao ver as algumas flâmulas vermelhas se agitando pelo salão, Nadine parou de decorar sua construção e fitou Marissa. A amiga parecia engolir em seco, aquela manifestação. Dois jogadores oficiais da casa não tardaram a chegar e se sentaram ao lado da apanhadora. Demetera, a goleira-capitã era loira, alta e robusta. Esta então, sem tirar os olhos da mesa logo a frente disse sem grandes reservas:

- Não vai se deixar impressionar com aquele quatro-olhos... não é Marissa? Ele até pode ser bom, mas, isso não quer dizer que você seja inferior a ele na caçada ao pomo - A sua voz era grave e tinha um sotaque considerável. A mãe dela era uma bruxa russa que conhecera o esposo trouxa em uma olimpíada aquática em Atlanta. Seu porte físico, traços decididos e experiência no jogo lhe tornaram capitã efetiva da equipe nos últimos 3 anos. Ela já cursava o sétimo período e provavelmente seguiria a carreira profissional, o que era um verdadeiro orgulho para a escola, amigos e familiares.

Não demorou muito e a frase foi completada por Mcfurly, o batedor de negros cabelos cacheados e pinta de roqueiro, que roubando um dos canudos no prato de Nadine, falou com a boca bem cheia:

- O fato é - mastigando e deixando cair um pouco do doce nas vestes - que vamos enfrentá-los e não faz diferença se ele é o bam-bam-bam da vez. Alguns dizem que ele é a alma do time, então... vamos ver como se sai quando eu estiver atirando uma porção de balaços contra ele...

Dando um sorriso nervoso, Marissa os tranqüilizou assentindo com a cabeça. Suas feições, que haviam perdido um pouco o tom normal, começaram a ficar ligeiramente coradas, quando os grifinórios começaram a entoar uma música cuja letra dizia algo sobre leões que arrancariam os texugos de sua toca.

Uma vez totalmente perdido o interesse de Nadine pela comida, Mcfurly fez a festa. Devorando as tortas de limão, continuou falando do apanhador Potter para Marissa enquanto Demetera, atenta, não perdia uma palavra sequer.

"Então esse é o tal James Potter? Famoso, excelente apanhador e incapaz de manter os próprios cabelos arrumados?"

Nadine não conseguia mais tirar os olhos de cima dele. Notou que na turma dele existia um garoto gorducho, de olhos elétricos e sorrateiros e com dentes ligeiramente saltados. Depois viu um com traços muito bonitos, um sorriso largo e jeito descolado. Seus cabelos negros eram realmente uma beleza. Claro, era o tal Black, dele ela se lembrava. Um dos rapazes mais famosos pelas encrencas nas quais se metia, talvez a maior delas tenha sido quebrar uma tradição de décadas ao acabar indo para a Grifinória ao invés da familiar Sonserina.

Por último focou um terceiro, de olhar compenetrado que nem triscava na comida de tão concentrado que estava na leitura de um livro qualquer. Enxergava nitidamente alguns arranhões em seu rosto e algumas marcas arroxeadas em suas mãos pálidas como o rosto um tanto sofrido e envelhecido. Aquele deveria ser o tal Remus, que todos na escolha sabiam sofrer de algum tipo de doença que o afastava da escola por longos períodos. Não tinha amigos, exceto aqueles três e o fato dele ser monitor nada tinha a ver com isso. Todos receavam ser contaminados com a misteriosa doença. Essa era a verdade.

Nadine viu então quão abobalhado James ficou, quando viu adentrar o grande salão uma garota alta, de olhar penetrante e cabelos tão vermelhos quanto poucas vezes vira na vida. Ela andava decidida e de seu corpo parecia emanar o tipo de charme que somente as alunas mais interessantes de Hogwarts tinham. Ele deixou os amigos e foi ao encontro dela, praticamente saltando feito um cervo. Com certa dificuldade, ela segurou o riso.

- Anda Berná! Aulaaaa... esqueceu? - Era a voz de Marissa.

Como que assustada ela percebeu que Marissa já estava saindo do salão e pelo olhar reprovador já a teria chamado uma porção de vezes. Acanhada, Nadine fez sinal de que já a alcançaria, agarrou os exemplares de Adivinhação, Estudo dos Trouxas, sua pena e alguns pergaminhos e passou as pernas sobre a bancada. Acelerada, correu rumo à porta quando percebeu que sua pena havia caído. Contrariada - e segurando um palavrão - a aluna deu meia volta, abaixou-se, agarrou a pena com um gesto rápido e levantou-se ainda mais ligeira. Foi então que...

Wack! Pow!

A menina nem sabia de onde saíra àquela muralha negra. O choque foi inevitável. Já sabia estar perdendo o equilíbrio e como canhota que era, largara o material e já esticara o braço para tentar amortecer a queda. Uma queda que curiosamente, não existiu.

Seu braço direito, por conseqüência, adiantou-se a frente do corpo e enquanto ela fitava o teto enfeitiçado do salão, sentiu uma mão forte segurar-lhe o antebraço direito. Era como se a pequena fosse uma boneca de pano. Os pés pouco tocavam o chão, os olhos arregalados e incrédulos enviavam o prelúdio da dor que sentiria ao cérebro e a boca abria-se lentamente.

Gritos e várias exclamações preencheram o ar. Nada daquilo fazia sentido para a aspirante a artilheira. Ouvia palavras de xingamento, como se tivesse esbarrado na própria professora de Transfigurações. Ao passo que seu corpo era içado para o alto, fechou os olhos e abaixou a cabeça, já pronta a ouvir um belo sermão, quando a mão um tanto fria - que agora pudera reparar - lhe soltou, com certa brutalidade.

- Perdão... eu... me desculpe... por favor... - sem ainda encarar a pessoa com a qual trombara, abaixou-se para pegar logo seus pertences e sair dali igual um filibusteiro.

- Menina - a voz entre-dentes deixava escapar uma boa dose de ira - porquê não olha para onde anda? Da próxima vez, pode rachar a cabeça sua pequena... - os lábios crispados se fecharam de uma forma intimidadora e então Nadine os encarou.

Eles eram finos, contudo, expressavam tamanha força e indignação que lhe obrigaram a olhar para quem realmente estava a sua frente. Alto, ele era alto. Bastante alto, especialmente para ela, nanica como era. Seus olhos imitavam perfeitamente duas pedras de ônix, brilhando inflamados e ameaçadores. O nariz, um tanto curvo lhe dava uma marca única e seus cabelos compridos e alinhados perfeitamente em torno do rosto lhe fizeram recuar um passo. O quê mais dizer? Ele não a desculpara, isso era evidente.

- Limite-se - quando ele abria a boca, era como se partículas de gelo fossem disparadas em seus ouvidos e invadissem todo seu pequeno corpo - a sair da minha frente...

Nadine, envergonhada pensava em algo para dizer quando foi interrompida por um grito escarninho:

- Aê!!! Ranhoso!!! Além de feioso, como consegue ser tão desastrado? Deixa a pobre da menina ir embora, não tá vendo que já tá assustando ela?

O ofendido comprimiu furiosamente os lábios, como se algo inexplicável o impedisse de responder ao comentário provocativo. Nadine virou-se para olhar e viu Potter, gargalhando loucamente e apontando para eles. Seus amigos o acompanhavam - exceto Lupin - como era de costume. A ruiva, que todos conheciam por Evans encarava a pequena e olhava, como que pesarosa para o moreno em seguida. Ela pegou por fim seu material, sem nada dizer e começou a cruzar o salão, como se não tivesse a menor intenção de continuar presenciando tal cena. Nadine viu quando o rapaz, talvez envergonhado, talvez ainda mais furioso, acompanhou-a deixar o salão.

- O quê está olhando ainda, pentelha? Quer que eu te derrube de uma vez?

Snape dessa vez não ficou aguardando resposta. Empertigado, saiu da frente de Nadine. Suas vestes impreterivelmente negras, com pequenos destaques em verde e prata, farfalharam violentamente até que ele foi se sentar na bancada dos sonserinos.

*

Marissa ainda esperava Nadine ao pé da escada, adiantando-se cada vez que Nadine se aproximava.

- Qual é seu problema, Berná? Além de trombar num sonserino, fica parada esperando ele conferir se você estava machucada? Ou esperava tomar surra dele?

- Não... Marissa... nada disso... eu...

- Anda! A professora Burbage vai descontar pontos da nossa casa
- bufando e subindo as escadas, totalmente irritadiça – de novo... ou esqueceu da semana retrasada?

A professora Charity Burbage lecionava o Estudo dos Trouxas e considerava falta de respeito para com a matéria todo e qualquer tipo de atraso, desde que não pudesse ser devidamente justificado. Na semana retrasada, elas se atrasaram por que ficaram treinando escondidas no salão comunal, até altas horas, e perderam a hora. Quando estavam próximas a sala, Nadine arriscou.

- Eles o chamaram de Ranhoso, Mari.

- Eles? Quem? Ah... Potter e companhia? Bem, eles são inimigos Nadine. Eu hein? Em que mundo você vive? Olha... hum... você viu a ruiva, a Evans saindo do salão, não viu? Então, dizem às línguas que o tal Snape era amigo dela, antes dela se engraçar com o Potter, logicamente. Daí o ciúmes e implicância com o cara, sacou?

- Hum... mas... só por isso?
- ela encarou Marissa, que há essa hora já abria a porta e se preparava para entrar - Quer dizer, ele poderia ter me deixado cair. Só por que ele é sonserino não quer dizer que ele seja peçonhento, quer?

- Ai Berná, você tem muito que aprender ainda. Snape arrasta um Barriga-de-Ferro Ucraniano pela Evans, meu Merlin! E o Potter deve saber disso. Não acho que esse Snape seja um santo... bem, nem o Potter e é claro que a Evans sabe disso.


Nadine franziu o cenho e compreendeu então porquê a garota saíra do salão. Potter lhe parecia bem menos interessante agora. Não que algum dia tivesse sido, mas, agora realmente parecia um bobão de óculos que merecia aprender uma lição. Primeiro liderava uma cantiga contra sua casa e agora fizera alguém ter motivos para odiá-la, sem nem ao menos conhecê-la. E quanto Snape, ela não deixava de pensar nele. Não sabia se ele praticava esportes ou não e isso a deixava mais curiosa sobre aquele atípico herói, que com um movimento veloz evitou sua queda... e quase a azarou depois.

Entrar e se sentar não foi nada difícil. A professora estava fazendo uma leitura em voz alta e entusiasta como era se empolgava e nem olhava ao redor. As duas se sentavam e abriram os livros, com fingido interesse. Marissa não deixava de pensar no jogo e Nadine em como se desculpar devidamente com o tal Snape.

"Uma carta. Sim, eu vou escrever uma carta. Que mal pode ter nisso?"

Pobrezinha.




NA:

Acho que esse capítulo ficou terrivelmente longo. Como eu quis dar uma geral no aspecto casas e apresentar alguns PO´s que serão importantes, além de dar uma visão dos Marotos e Lily... enfim...
A primeira parte estava pronta desde a semana passada - ou seria retrasada? - mas... o desfecho só me ocorreu hoje. Quando a inspiração ajudou.

Carine, obrigada por ter comentado. Ofereço este capítulo especialmente para você!

Se alguém mais leu, seria interessante que comentasse. Além de ajudar no processo criativo, dá um estimulo legal para continuar.

Ah, e os fãs de James que me perdoem... sei que fui malvada com ele neste capítulo. [Especialmente na parte do cervo]. E sendo sincera, não tenho previsão para mudanças quanto a isso. Não o odeio... não mesmo. O problema é que amo o Sev' ... espero que isso explique minha posição. Bom domingo...

=*

16/03/08 - 14:00 horas.

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