Dúvida ( Pt. 2 )



[ ... ]

Logo que entraram no pub, o velho atrás do balcão começou a resmungar em uma outra língua qualquer, enquanto dirigia-se até os fundos da loja. Sirius e James entraram, seguidos de Harry e Anne e logo atrás Lilly e Remus, que entraram com rapidez e sentaram-se na mesa mais próxima à parede, que era exatamente na mesa em que os três marotos estavam sentados anteriormente. O velho saiu da porta dos fundos, ainda resmungando para si mesmo, uma varinha em punho, dirigindo-se até a porta, cujo chão estava ensopado. Enquanto os seis jovens se acomodavam na mesa redonda, o velho conjurou um feitiço para enxugar todo o chão, silenciosamente, e logo voltando para trás do balcão, pegando um pequeno bloco e uma pena.

Voltou a andar em direção dos garotos, perguntando num tom rude e mal-educado:

- O que posso lhes servir? - a pena estava erguida sobre o bloco, que também flutuava no ar, na altura dos ombros do velho.

- Lilly, peça para mim, Ok? - disse Harry ao lado da prima, segurando a mão de Anne, que se sentava à sua direita, sobre a mesa.

- Eu vou querer uma dose de whisky de fogo, beleza? - James pediu, ao lado de Sirius.

- Então são duas - completou o Black. A pena anotava freneticamente os pedidos, até que Lilly interrompeu, num tom de censura, fazendo a pena parar bruscamente.

- James Potter e Sirius Black! Pelo amor de Merlin! - ela olhava os dois, o cenho franzido - Poderiam fazer o favor de não beber, ainda mais no meio da manhã?!

A pena estava parada, flutuando sobre o bloco de papel, como quem assistia a cena com curiosidade, esperando que alguém pedisse alguma coisa. Remus, então, tomou a dianteira.

- Suco de amora. Para todos. - a pena anotou rapidamente uma frase e o velho tratou de sair dali logo. James tinha o cenho franzido, o olhar dirigido ao rosto de Lilly e Sirius novamente enxugou o sangue que escorria do pequeno corte no rosto.

- Olha, Lilly, não me leve a mal, mas eu estou realmente precisando de um whisky de fogo agora, valeu? - o Potter levantou e andou até o bar com passos pesados, seguido por Sirius, que andava calado, ainda parecendo remoer-se de raiva pelo primo da ruiva.

A garota parecia estar prestes a explodir. Por alguns minutos parecera conseguir imaginar a chance de Potter ter mudado, nem que somente um pouco. Mas logo voltara a recordar-se o porquê de seu ódio por ele.

- Beba então, seu idiota! - gritou enquanto levantava-se da mesa e andava rapidamente até a porta do pub. Voltou a virar-se na direção do rapaz, que estava sentado no balcão, de costas para ela, um pequeno copo de vidro cheio em sua mão. - Espero que você e essa sua bebida explodam, Potter. - e saiu, sentando-se na calçada de pedra lisa, assistindo a chuva cair logo à sua frente.

Anne apareceu em seu lado com pouco tempo, Harry logo atrás. Logo que os dois saíram do pub, a ruiva conseguiu notar a loira virar-se de costas e dizer-lhe em voz baixa: 'Fica lá dentro com eles. O James e o Sirius estão com raiva, e o Remus não segura os dois bêbados sem ajuda. ' Harry deu um beijo na face da loira e entrou em seguida, voltando a sentar-se na mesa, próximo a Remus.

Anne sentou-se ao lado de Lilly e falou em voz baixa, abafada pela chuva:

- Você tá bem? - Lilly permaneceu calada por alguns segundos, refletindo. Desde quando se importava com o que o Potter fazia ou deixava de fazer?

- Estou. Tanto faz para mim se ele vai morrer de beber ou passar o resto da vida completamente sóbrio, movido a água. - ela falou, num tom indiferente que Anne conhecia bem como um tom falso.

- Lilly... Você está bem? - quando a amiga repetiu a pergunta, Lilly soltou um suspiro e respondeu, com uma voz entristecida.

- Sei lá, Anne. Meio que me afeta quando ele bebe. Eu vejo que ele só se dá mal... - ela parou subitamente, e Anne sorriu no canto dos lábios, continuando a frase da ruiva.

- “E eu me importo taaanto com o bem-estar dele” - Lilly riu fracamente e empurrou a garota sem animação.

- Cala a boca, Christopher. – cortou Lilly, Anne riu e passou os braços ao redor do corpo de Lilly, que ainda estava envolvido no casaco azul-marinho que Remus havia lhe entregado antes de entrarem no pub.

(...)

- Potter. – a voz de Harry chamava irritantemente alto. - Poootteeer.

James abriu os olhos lentamente. Um cheiro forte dominava o ar que respirava. As pálpebras pesavam, e a cabeça latejava com muita força. A imagem do rosto de Harry foi começando a ficar mais nítida em sua frente. Percebeu que estava deitado sobre uma cama dura, com um colchão muito fino e desconfortável. Com o apoio dos braços sentou-se sobre a cama, percebendo que o primo de Lilly estava sentado na ponta da cama.

- Até que enfim você acordou, cara. - ele disse, levantando da cama. - Achei que tinha morrido, ou alguma coisa assim. Você sempre dorme parado desse jeito ou foi por que você bebeu mesmo? - ele perguntou, andando até o pequeno banheiro daquele quarto sujo e escuro, olhando o próprio rosto no espelho imundo sobre a pia de cerâmica. James ainda não havia entendido nada do que estava acontecendo ali.

- O que você fez comigo?! - ele perguntou, a voz mostrando o quão sonolento ele ainda estava, enquanto punha a mão na cabeça que latejava. Harry riu e virou novamente para ele, encostando-se de costas na pia, uma sobrancelha erguida.

- O que eu fiz com você?! - ele riu novamente - Cara, você bebeu tanto lá fora que começou a gritar em alto e bom som o quanto ama a Lilly, sabia? - James, que até então fitava os próprios sapatos voltou o olhar para o rapaz dentro do banheiro pequeno.

- Como assim...? - colocou as pernas para fora da cama, enquanto Harry prosseguia, andando novamente em direção à cama.

- Sei lá... Você bebeu mais doses do que eu consegui contar, e do nada começou a gritar o quanto amava a Lilly, e que queria dizer pra ela, e tudo... - James entendeu o que Harry havia feito. Não conseguiu pensar em nenhum modo de agradecer.

- E você não disse nada pra ela, disse? - ele perguntou, enquanto Harry sentava na cama e negava com a cabeça. - Ah... Obrigado, eu acho... - coçou a nuca, percebendo que talvez o rapaz não fosse tão ruim quanto ele havia pensado que pudesse ser.

- De nada.

James olhou ao redor. Começou a notar o que era o cheiro forte que tomava conta do ar. Pelo jeito, ele havia posto tudo para fora logo que havia chegado naquele quartinho imundo, nos fundos do pub em que estavam. Harry continuou.

- Quando você começou a falar lá fora, eu e o Remus te impedimos de sair pra falar com ela, e a gente perguntou pro cara lá da frente se ele tinha mais um quarto aqui atrás pra você ficar...

- Mais um quarto? - James perguntou, voltando a olhar o rapaz que sentara em seu lado. Harry sorriu no canto dos lábios e coçou a nuca.

- É. O Sirius tinha pedido um.

- E pra que diabos o Sirius ia pedir um quarto nessa lanchonete de quinta? - Harry sorriu.

- Não o Sirius. O Sirius e uma morena que apareceu lá fora. Eles bateram a porta e ainda estão lá dentro, eu acho. - James riu fracamente.

- E a Lilly...? - ele perguntou.

- Ela ainda está lá fora com a Anne e com o Remus, conversando. - ele respondeu, levantando e esticando os braços para cima. - Esperando a gente, na verdade. - bateu na perna de James e completou. - Anda logo.

James coçou a nuca mais uma vez, notando que tudo o que vestia além da calça jeans era a camiseta amarela. O casaco azul escuro estava jogado sobre uma cadeira velha ao lado da porta. Harry notou o olhar do maroto para o casaco e deu de ombros.

- Você estava suando de calor. – James riu e levantou.

- Tá bom, eu duvido. Vai dizer que você não quis dar uma olhada nesse corpão sarado.

Harry riu debochado 1e abriu a porta, também velha, como todo o quarto em que estavam.

- Ah, essa sua barriga gorda não chega nem aos pés da minha, Potter.

No momento em que saíram do quarto e postaram-se na frente da porta para esperar o maroto Sirius sair do quarto do lado, uma garota loira saiu de uma porta no mesmo corredor em que estavam. As pernas muito marcadas e arranhadas, a calça jeans tinha um rasgo na cintura. A camiseta amarrotada sobre o dorso, os cabelos presos num rabo-de-cavalo feito às pressas. Ela segurava um par de sandálias de salto na mão, junto de uma bolsa branca de mão. James perguntou à Harry numa voz muito baixa:

- Você não disse que tinha sido uma morena? - quando James terminou a pergunta a loira que saíra do quarto notou a presença dos dois ali, mandando-lhes um sorriso. Fora o bastante para James recordar-se daquela loira. Era Emma Voltaire, Gryffindor, sétimo ano.

Logo que a loira saiu do espaço da porta, uma garota de cabelos escorridos e escuros como o céu da noite saiu do quarto, a mini saia muito amarrotada, o pescoço e braços cheios de marcas vermelhas. Descendo um pouco o olhar notava-se o salto quebrado, e grossas pernas levemente arranhadas, num tom rosado que denunciava ter ocorrido fazia pouco tempo. Joanna Jones, Slytherin, melhor amiga de Voltaire.

James voltou o olhar para Harry em seu lado, que sorria, olhando as duas garoas passarem pelo balcão e andarem até a porta.

- É cara, o Sirius estava naquele quarto mesmo. - as duas garotas saíram do pub, fazendo James se perguntar em silêncio se Lilly, Remus e Anne ainda estariam ou não esperando por eles ali.

No momento em que as duas garotas saíram, uma figura sorridente orgulhosa saiu do quarto, cabelos morenos bagunçados, a camiseta verde escondida sobre um casaco marrom escuro também cobria um peito muito marcado.

Sirius coçou a nuca, voltando os olhos para Harry e James, que o olhavam incrédulos. O Black apertou o pulso direito com a outra mão, fazendo James notar que ambos os pulsos do maroto estavam marcados, como duas pulseiras. Em seguida a voz sonolenta e cansada de Sirius cortou o silêncio:

- Quem no mundo anda com algemas cor-de-rosa dentro da bolsa? - Harry não segurou uma gargalhada alta, enquanto James somente sorria enquanto falava em tom baixo, sabendo que se risse, sua cabeça explodiria.

Naquele segundo, uma ruiva de olhos muito azuis pôs-se fora do quarto, enrolada num lençol velho e encardido, estatura muito mais baixa que Sirius, com uma voz rouca.

- Viu onde eu coloquei minha blusa, bebê? – James segurou a risada, enquanto Sirius coçava a nuca e respondia.

- Achei que você já tinha ido embora, minha linda. – ergueu os olhos com rapidez para James e Harry e continuou. – Olha se não está em cima da pia do banheiro.

A garota ruiva sorriu, segurando o lençol sobre o corpo, e ergueu-se na ponta dos pés, dando um beijo no rosto de Sirius.

- Obrigada, Si. – e entrou. James somente respondeu a pergunta que Sirius havia feito antes da interrupção da garota ruiva.

- Aparentemente alguém que não resiste ao maldito charme de um maroto. - os três riram, e James perguntou ao amigo – Como é o nome dessa aí, Pads? – Sirius deu de ombros.

- Sei lá. –

Os três riram novamente, voltando para a parte da frente da loja. Sirius falava com James por um lado, e Harry falava pelo outro. O Potter notou que ter dois amigos que se odiassem talvez não fosse tão legal assim...

James empurrou a porta para sair, ele e Harry franziram o cenho simultaneamente, ao ver Remus de pé, voltado para as garotas, contando alguma história, enquanto Anne e um rapaz loiro estavam sentados sobre a calçada; e Lilly entre as pernas do tal rapaz.

James mostrou não agüentar e entrou de volta do pub, no mesmo ato de sair. Harry ergueu o punho cerrado, enquanto falava direcionando ao rapaz que tinha uma sobrancelha erguida.

- Olha, cara, não pega nela, sacou?!

Anne levantou num pulo, e encostou as mãos no peito de Harry, fazendo-o entrar novamente na loja, uma expressão quase assustada demonstrada nos olhos verde-claro. James estava sentado na cadeira mais próxima à mesa, passando as duas mãos no rosto. Harry começou, com raiva:

- Ann, quem é aquele filho-duma...

- HARRY! Pelo amor de Merlin! - ela falou, controlando a voz para que o velho balconista (que era o único ali dentro) não escutasse o que falavam. Ela soltou um suspiro e o tocou em seu ombro, fazendo-o sentar-se numa cadeira próximo à James, que olhava Anne implorando por uma explicação. Ela virou uma cadeira de costas, sentando-se na mesma de pernas abertas, uma de cada lado do assento. - Olha, aquele é o Thomas... Ele é de Hogwarts, se não me engano Corvinal ou Lufa-Lufa...

- Não ligo pra onde ele estuda, quero saber o que ele está fazendo com a minha prima. - Harry interrompeu bruscamente.

- Harry, pelo amor de Merlin, fique calmo... - ela franziu o cenho, irritada. - Ele passou aqui, e ia entrar por causa da chuva, só que a Lilly reconheceu ele. Parece que eles ficaram no ano passado... - James interrompeu, batendo com o punho cerrado na mesa de madeira.

- ELE É O LOIRINHO AGUADO! - Anne riu do apelido, mas tocou James no braço, como quem pede para não ser interrompida.

- E ele sentou com a gente, só conversando... - revirou os olhos, fitando as unhas pretas batucando no tampo da mesa - Mas ele e a Lilly estão meio que ficando de novo... - Harry levantou rapidamente, decidido a sair e esmurrar o tal Thomas também. Anne levantou e o fez sentar novamente, continuando a falar. - Mas ela agradeceria bastante se você não fizesse nada com ele.

O primo da ruiva tinha uma expressão rígida no rosto. Estava numa encruzilhada psicológica. Ou protegia a prima de alguém que poderia se aproveitar da confiança dela, ou fazia a vontade dela. Passou uma mão do rosto, olhando para a parede oposta ao lado em que estavam. Assentiu ligeiramente, enquanto falava em tom baixo:

- Tá, eu não bato nele. - Anne duvidou.

- Promete? - ele suspirou e deu de ombros.

- Tá.

James ergueu os olhos lentamente. Parecia estar com vontade de dormir novamente. A cabeça latejava com força. Nunca havia tido uma ressaca como aquela. Jamais beberia de manhã novamente.

- Anne, que horas são, hein? - a loira olhou para o relógio na parede atrás do balcão.

- Quatro e meia. - ele arregalou os olhos.

- E vocês estão esperando a gente, tipo, desde... - ela completou.

- Quase onze horas a gente sentou lá fora. Ela não botou o pé aqui dentro desde que saiu.

James passou novamente a mão no rosto, encarando a parede a sua frente.

- Merda... - sussurrou para si mesmo.

- O que foi? - perguntou Anne, enquanto se levantava. James levantou-se junto, Harry fazendo o mesmo em seguida.

- Nada. Vamos logo. Acho que vou passar a noite n’O Caldeirão Furado. - Anne impediu os dois de continuarem.

- Por favor, não façam nem digam nada contra o cara, tá bom? - os dois assentiram. Anne deu um beijo rápido nos lábios de Harry. - Então tá. - e saiu pela porta, seguida pelos dois rapazes. Ao saírem, Remus ainda parecia contar uma história sobre algo relacionado à Floresta Negra de Hogwarts e uma aranha bem grande, só que agora ajudado por Sirius, que acertava alguns detalhes. Anne sorriu, olhando Lilly e o rapaz Thomas. - Alguém está a fim de fazer alguma coisa?

Lilly levantou, segurando a mão de Thomas. A ruiva parecia evitar o olhar de James, o que foi facilmente notado pelo maroto, que se sentia desprezado, e com razão. Harry segurou a mão de Anne, deixando os três marotos soltos no meio do grupo. Thomas adiantou-se e deu uma idéia apreciada por todos:

- A gente podia ir na sorveteria. - deu de ombros e Anne sorriu, assentindo.

- Se ninguém mais se arrisca... - deu um selinho em Harry, enquanto Sirius e Remus tomavam a dianteira, seguidos por James e o primo de Lilly. A loira deixou-se ficar para trás, puxando Lilly pelo braço quando a ruiva ia passando por ela. Anne disse à Thomas para seguir os outros, e que elas os alcançariam. Quando percebeu que os cinco garotos já estavam adiantados o bastante para não conseguirem ouvir o que as duas diriam, perguntou em tom baixo para a ruiva em seu lado, enquanto andavam lentamente: - Lilly, o que você tá fazendo com ele? - ela respondeu, abaixando a vista.

- Não sei, Anne. - a loira suspirou.

- Então dispensa ele! - a ruiva ergueu os olhos, acompanhando as costas do loiro com o olhar.

- Não sei se já quero dispensar ele... Quer dizer, eu que chamei ele hoje... Acho que ele nem se lembrava mais de mim... Seria muita.. Ah, não sei, droga... - ela abaixou novamente a vista.

- Ei, você é minha melhor amiga. Sabe que pode me dizer tudo, e eu nunca vou contar pra ninguém. - a ruiva sorriu no canto dos lábios, deixando a mão pender sobre a bolsinha branca ao lado da cintura.

- Eu sei... É só que - ela ergueu novamente os olhos. - eu não sei se gosto mesmo dele... – Anne sorriu no canto dos lábios e abraçou a ruiva de lado.

- Você vai saber. E se não gostar, dispensa ele. – ela riu – Não precisa ter pena, eles não merecem. – as duas correram para alcançar os garotos, e Lilly enfiou-se sob o braço forte do loiro, enquanto Anne passava o braço pela cintura de Harry. A loira virou de costas e deu uma piscadela para a ruiva, que sorriu e retribuiu, enquanto a porta da sorveteria se abria, e os sete entravam.

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