Anne Chistopher e Harry Evans?

Anne Chistopher e Harry Evans?



Capítulo I.

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Aquela bela manhã ensolarada ficaria na memória de muitos. Era dia 29 de agosto, sete da manhã na capital londrina. Uma ruiva de olhos muito verdes ainda dormia em sua cama quente, sonhando como uma criança com o retorno à Hogwarts no dia seguinte.

Ela entrava no grande e iluminado Salão Principal, em belo sorriso nos lábios rosados, todos os alunos aplaudindo-a de pé, enquanto ela andava lentamente.

Havia conseguido. Monitora-chefe ao lado de um de seus melhores amigos, Remus. Vários gritos de ‘parabéns’ ecoavam no Salão, vindos especialmente de um único ponto da mesa da grifinória, que a ruiva imaginava quem podia ser.

A garota sentou-se logo que viu o espaço que as amigas haviam guardado para ela, enquanto os aplausos cessavam lentamente. O diretor erguia-se vagarosamente atrás da comprida mesa dos professores. Anne, uma das duas melhores amigas da ruiva, havia notado que as pontas das lentes dos oclinhos de meia-lua do diretor cintilavam, devido às várias velas que flutuavam por todo o salão.

Deb ainda cantava uma musiquinha inventada por ela, dando parabéns à ruiva e xingando os sonserinos fedidos que haviam perdido o posto. Os aplausos pararam completamente quando o diretor Dumbledore tossiu baixinho, fazendo os pares de olhos animados com a chegada se voltarem para ele.

O semblante do professor transmitia uma paz incrível. Os olhos azuis atrás das lentes dos óculos passavam com rapidez ao redor, fazendo com que os alunos já se sentissem mais aconchegados. No momento em que abriu a boca para dar inicio a mais um de seus discursos, um alto som de alarme invadiu o ar.

Lílian Evans abriu com desgosto os olhos verdes, a franja ruiva e finas mechas de cabelo lhe cobriam parcialmente a vista. Jogou a mão com força sobre o despertador ao lado da cama, fazendo o alarme parar. Jogou as pernas para fora da cama, esfregando os olhos, acordada bem em tempo de ouvir a mãe chamá-la, enquanto batia na porta.

- Lillian! – ela abriu um pouco a porta de mogno, enquanto a ruiva levantava lentamente. – Anne já chegou e você aí, dormindo! – mesmo mostrando censura, Sra. Evans tinha feições calmas e simpáticas, fios grisalhos apareciam no meio de seus cabelos castanhos, que desciam até os ombros.

Lilly assentiu, os olhos ainda quase fechados, indicando que estava ouvindo. Levantou-se, arrastando os pés até a porta e tocando a maçaneta. A ruiva já estava para abrir a boca e perguntar pela amiga, quando a senhora saiu da porta, dando lugar a uma loira animada, cujos olhos brilhavam de animação por finalmente voltar a ver a amiga.

Os olhos de Lilly faiscavam de alegria, o sono já havia ido embora. Pegou a amiga pela porta, enquanto sua mãe descia as escadas, cantarolando uma musica para si.

Os Evans, com a clara exceção de Lilly, eram uma família trouxa bastante comum. Todos, incluindo Lilly, eram bastante simpáticos com todos na rua, ninguém jamais desconfiaria que atrás da porta branquinha da entrada ou das coloridas flores e cortinas de cada janela da casa amarela fosse haver qualquer coisa fora do comum. Todos os Evans eram muito queridos por todo o bairro; menos Petúnia.

Petúnia era a irmã mais velha de Lilly. Como ela não há igual. Amargurada, maldosa, ciumenta, cínica, além de ter uma maldita cara de cavalo. A garota vivia de importunar a irmã mais nova, revoltada pelo fato de a ruiva ser sempre o centro das atenções, além de ser uma óbvia aberração na natureza. “Magia, onde é que já se viu...”

Anne parecia tão animada quanto Lilly para voltar às aulas. Anne era amiga Lilly desde o primeiro ano das duas em Hogwarts, e continuavam inseparáveis desde então, mesmo agora, prestes a entrar no sétimo. A garota era tão alta quando Lillian, só que bem mais magra, não deixando de ser bonita. Tinha os cabelos loiros, lisos até pouco mais abaixo dos ombros. No meio destes, uma pequena mecha roxa aparecia, dando a ela um ar rebelde, e no momento, na cabeleira tinha até um pouco de pó-de-flu, espalhado sobre os fios loiros.

Anne tinha atrás de si um malão roxo, puxado pela alça, isso fora a mochila preta nas costas, que era cheia de bottons, alfinetes, grampos e chaveiros. Ela vestia uma calça jeans, um par de All-Stars surrados e uma blusa cinza de alças, que deixavam à mostra as finas alças pretas do sutiã. Por mais que ela e Lilly fossem imensamente diferentes, era raro as duas brigarem, por qualquer motivo que fosse.

Anne remexia nas duas gavetas do criado-mudo da ruiva, enquanto a anfitriã saía do banheiro, depois do rápido, mas refrescante banho quente. Ela tinha sobre o corpo um vestido de alças azul claro, que descia até os joelhos e um par de sandálias rasteiras. Os cabelos ruivos estavam caídos sobre os ombros, partido exatamente no meio, como sempre fora.

A amiga, que no momento lia a carta de Hogwarts que Lilly havia recebido, avisando que era monitora-chefe, nem ao menos percebera a nova companhia no quarto. Ao notar a presença da ruiva, duas cartas que estavam repousadas em seu lado na cama foram rapidamente jogadas na gaveta aberta, misturando-se com as outras.

- Ei, – a loira começou, sorrindo – Você manda, garota. – Tanto a loira como a ruiva riram. Anne continuou em seguida, uma sobrancelha erguida – Se arrumou assim querendo encontrar o James, foi?

O rosto de Lilly enrubesceu de raiva, ao lembrar-se da existência de James Potter. A ruiva estava irritada desde o ano anterior, quando Potter havia enchido o dormitório das meninas com flores, o que a fez levar uma bronca da professora McGonagall.

- É lógico que não! – Andou até a penteadeira e pegou a varinha de dentro de uma caixinha de madeira – Sabe mais que ninguém que eu odeio Potter. – Deu uma breve pausa, e repetiu, com ênfase. – Odeio.

Anne riu e levantou-se da cama, andando até o lado da penteadeira de Lilly, encostando-se na parede.

- Ah, é. Sei sim. – ela virou o rosto para a amiga e cruzou os braços sobre a barriga. – Tanto que você guarda todas as cartas dele desde o início das férias.

O rosto de Lilly corou loucamente, o contraste entre os cabelos ruivos e a pele clara era quase inexistente. Abriu a boca para falar, quando um grito do lado de fora chamou pelas duas:

- Lillian e Anne! Venham comer algo antes de sair! – era novamente a Sra. Evans, enquanto batia na porta, fazendo Anne olhar para o lado instintivamente. A porta se entreabriu logo em seguida, Anne apenas olhando para o rosto da mãe da amiga. – Anne, querida, o primo de Lilly vai passar algum tempo aqui e já esta chegando agora mesmo. Incomoda-se de tomar café da manha na presença dele?

- Claro que não, Sra. Evans. – A loira respondeu. A mãe da ruiva saiu e abriu um pouco mais a porta.

Anne deixou o queixo pender um pouco; um rapaz de mais ou menos vinte anos apareceu na porta. Curtos cabelos castanhos escondidos sob o boné branco. Anne notou logo que ele tinha um piercing em cada orelha, fora um pequeno dado azul na sobrancelha. Os olhos claros escondidos atrás de um par de óculos estilo aviador, que, conforme o pensamento de Anne, lhe caía muitíssimo bem. Ele parecia tratar tudo com naturalidade; até mesmo a varinha sobre a cômoda de Lilly e os dois malões encostados na parede ali perto. Em cada mão via-se uma mala, fora a bolsa no ombro, que lembrava bastante a de Anne, abarrotada de bottons, grampos e chaveiros.

Um sorriso invadiu seus lábios, enquanto soltava as malas no chão, próximas ao guarda-roupa de Lilly, e a ruiva jogava os braços ao redor de seu pescoço. Ele a segurou pela cintura, rindo e beijando-a no rosto.

- Lil! Tudo bom, ruivinha? – ele perguntou, adentrando mais no quarto. A ruiva o seguiu, sentando-se na cama de costas para Anne, o rapaz sentando-se em seguida.

- Claro! – Ao responder, Lilly lembrou-se da amiga, que permanecia calada desde que ele entrara no quarto. A ruiva virou-se de costas, dando de cara com uma loira de olhos arregalados. Quando Anne percebeu o olhar divertido de Lilly, gesticulou exageradamente com a boca: “GATO!”

Lilly soltou uma risada engasgada. O rapaz havia tirado o boné branco e passado os dedos pelos cabelos castanhos, enquanto abria uma das gavetas do criado-mudo, que há pouco tempo Anne estava remexendo curiosamente.

- Anne, esse aqui é o meu primo, Harold. – o rapaz fez uma cara de desgosto e Lilly riu – Ou Harry. – a ruiva deu de ombros e Anne desencostou-se da parede e andou até a cama, sentando-se ao lado de Lilly, sorrindo.

- Oi, Harry. – o rapaz sorriu de volta, charmoso.

- Oi, Anne. – Lilly sorriu satisfeita e ouviu a mãe chamá-la novamente, vindo da cozinha.

Levantou logo, deixando o rapaz com a loira, sozinhos, dizendo que logo voltaria. Desceu as escadas correndo, e logo que chegou a mãe começou, de costas para a filha, preparando o que Lilly julgou ser suco de amora.

- Chame Anne e seu primo, já vou colocar a mesa do café. – a ruiva deu de ombros.

- Tá bom. – Ela parou e pensou um segundo. – Mãe, onde está a Petúnia? – a Sra. Evans suspirou.

- Sua irmã preferiu sair de casa ontem à noite a ter que ficar um segundo com Anne ou seu primo. – a senhora pareceu triste. Lilly franziu o cenho com raiva.

“Aquela idiota. Não vai se despedir da mamãe por causa de uma besteira dessas”, pensou Lilly, em silencio, andando até a mesa e pondo os pratos de porcelana nos lugares da mesa redonda. Seu pai, Sr. Evans, viajara a trabalho havia alguns dias, e estaria regressando somente dali a alguns meses, juntamente com Petúnia.

A mãe de Lilly iria partir naquele dia também. Como a ruiva iria no dia seguinte para Hogwarts, e sua avó estava muito mal de saúde, a Sra. Evans estava indo cuidar de sua mãe, numa cidade próxima à Londres.

A senhora terminou de fazer o suco e o dividiu em quatro copos de vidro, fazendo o saboroso aroma adocicado se espalhar por toda a cozinha. Lilly estava distribuindo os talheres na mesa, quando se virou para a mãe, animada.

- Mãe, o Harry pode ir com a gente pro Beco Diagonal? – a senhora virou para a ruiva, segurando um copo em cada mão, indicando os outros dois na cômoda atrás dela, para que Lilly os pegasse.

- Bom, pode, claro. – ela respondeu, quase aliviada. Sabia muito bem que seria imensamente mais fácil arrumar as malas sem o rapaz ali. – Quando vocês voltarem eu já terei ido, então diga para ele ter juízo dentro da minha casa.

O motivo pelo qual Harry estava ali era o fato dele estar desempregado. O sobrinho festeiro de 21 anos da Sra. Evans estava sem dinheiro, e ela estava precisando de alguém para cuidar da casa, por mais ou menos um mês e meio. Não demorou a pesquisar o número da casa do rapaz e oferecê-lo o trabalho, sendo consideravelmente bem pago para alguém que não tinha outra maneira de arrumar dinheiro. O rapaz não hesitou em aceitar, e poucos dias depois foi à casa da tia para acertar detalhes, como quanto iria receber, onde guardavam algumas coisas importantes, onde iria dormir e para onde ligar se precisasse de algo.

Isso tudo acontecera havia uma semana, e naquela manha o rapaz apareceu na porta, deixando a tia surpresa, por ter feito no dia e hora que haviam sido marcados.

Lilly colocou os copos cheios ao lado de cada um dos pratos, ouvindo a mãe falar novamente:

- Só tem que pedir que ele não conte para ninguém. – ela avisou.

- Hum, O.K. – a ruiva respondeu, andando lentamente até as escadas enquanto continuava – Mas ele já guardou o segredo por seis anos. – ela deu de ombros, tocando o corrimão da escada – Bom, tanto faz. Valeu mãe.

Sorriu e subiu a escada correndo. Pretendia levar o primo ao Olivaras, à sorveteria, à Madame Malkins, ao banco... Não imaginava nada melhor que aquilo. Ostentava nos lábios rosados um sorriso animado.

Logo que chegou a frente ao quarto, abriu a porta com rapidez. A cena que viu a deixou extremamente surpresa, mas também teve de se esforçar para conter o riso.

Anne estava encostada de costas na cabeceira da cama de Lilly, os olhos verdes fitando as próprias unhas pretas, um sorriso encabulado no rosto, as bochechas coradas como Lilly nunca havia visto antes. Ela abraçava os próprios joelhos, encabulada. O motivo para toda essa timidez era Harry, que estava sentado em sua frente, o rosto muito próximo ao dela, uma das mãos repousadas ao lado do corpo da loira, claramente tentando beijá-la.

Lilly ficou um tanto confusa. Anne era sempre tão desinibida e espontânea quando estava com garotos. A ruiva jamais imaginou que algum dia veria a amiga daquela maneira. Ela sempre dizia que os garotos gostam de garotas extrovertidas, e que mostrassem indiferença; algo que Anne definitivamente não estava fazendo.

Harry sussurrava palavras doces próximo ao rosto dela, fazendo a loira ficar mais ruborizada ainda. Lilly sorria incrédula, das palavras do primo conseguindo escutar somente leves murmúrios. Postou uma das mãos na cintura e levou a outra até a boca, fingindo uma leve tosse. Sua discreta maneira de chamar a atenção dos dois acabou por dar um susto tão grande no rapaz que ele acabou rolando para o lado da cama e caindo no chão, com um grito de terror.

Anne pôs-se a rir da cena, voltando os olhos para Lilly, que sorria ainda sem acreditar. Lilly sabia que Harry era um verdadeiro garanhão, mas Anne também tinha isso a seu favor. O número de rapazes bonitos e populares de Hogwarts que a amiga da ruiva dispensava era inacreditável.

Harry já havia sentado sobre o carpete vermelho-sangue do chão de Lilly, apoiando-se nas mãos quando a ruiva conseguiu falar:

- Mamãe disse para descermos. – ela fez um sinal para a porta que continuava entreaberta – a comida...

Harry ainda estava sentado, olhando para a prima com um sorriso nos lábios que lembrava bastante os marotos James e Sirius. Anne levantou, passando os dedos pelos cabelos loiros, e jogando uma mecha para trás da orelha. Harry levantou logo em seguida, postando-se ao lado da garota, quase declarando em alto e bom som que só iria quando ela fosse.

Notando que os dois ainda estavam embaraçados, a ruiva enrolou um dedo na alça do vestido, enquanto terminava com os longos segundo que se passavam, emergidos num silêncio perturbador.

- Vamos, então. – virou de costas e saiu pela porta, fazendo Anne correr na direção da ruiva, deixando um Harry sozinho no quarto, que só saiu depois de um tempo, quando as duas já se haviam se adiantado.

- Desculpa, Lilly.

- Pelo quê? – os olhos verdes da ruiva se voltaram para a amiga, com o cenho franzido.

- Ah, sei lá. – a loira corou – você fez uma cara quando entrou no quarto... – Lilly riu e tocou a amiga no braço, quando as duas já chegavam aos últimos degraus.

- Não liga pra mim, Anne. – ela sorriu e o rosto de Anne se iluminou.

- Jura? – ela sorriu animada, descendo os últimos degraus com rapidez. Parecia estar sonhando. – Não sei o que ele tem... O jeito como ele fala, o sorriso... Sei lá... – ela suspirou, entrando na cozinha.

Lilly não entendia. Harry era o maior galinha que ela conhecia, mas pelo jeito que Anne falava, ele parecia gostar dela. O primo era também seu melhor amigo, sabia tudo dela. Ele a ouvia falar das idiotices de James e ela o ouvia falar das doze ou treze garotas que ele pegou numa mesma festa, e agora ele gostava de Anne?

Quando falou tudo aquilo para a loira (em voz baixa, já que a mãe de Lilly terminava de colocar a mesa), Anne apenas deu de ombros, sorrindo e sentando-se à mesa.

- Ah, por que não dar uma chance?

Naquele momento o rapaz chegou à cozinha, todo o seu encanto enchendo os olhos da loira, não hesitando em sentar-se ao lado dela.

- Ei. – ele sorriu, charmoso, e Anne retribuiu, conseguindo expressar um pouco do charme que também possuía.

- Oi. – naquele momento, Sra. Evans finalmente virou para os convidados e fez uma cara de desaprovação. Aproximou-se do sobrinho e bateu com uma colher comprida no ombro dele.

- Tire o chapéu enquanto estiver na mesa, querido. – Anne riu e Harry apenas sorriu, tirando o boné e repousando-o sobre o joelho, sob a mesa.

A refeição correu com rapidez. O pão perfumado e o suco saboroso da mãe de Lilly encantaram os três. A ruiva passou todo o tempo ocupada e distraída com a própria comida, repensando se havia se esquecido de colocar algo no malão, para notar o tempo que a mão de Harry passava sob a mesa. Nem o rosto de Anne levemente ruborizado. Apenas o rapaz e a loira sabiam da existência das carícias incessantes que ele fazia na perna dela.

Quando todos haviam terminado, Lilly continuou na cozinha, colocando os pratos e copos na pia, já que a mãe já estava começando a fazer as malas. Com isso, Anne e Harry subiram juntos para o quarto da anfitriã.

A garota, enquanto tirava os copos da mesa e os enchia de água, pensava sozinha. Anne e Harry? Ela era adorada pelos homens de Hogwarts, e Harry era o rapaz mais ciumento que Lilly conhecia. Harry também era galinha ao extremo, e as garotas de Londres também o adoravam. Ele não iria agüentar ficar muito tempo com uma pessoa só. Já Anne nunca suportaria traição, nem mesmo se o amasse.

A ruiva voltou à realidade, notando que estava segurando o copo sobre a água corrente havia algum tempo, e seu antebraço estava encharcado.

- Ah, droga. – colocou o copo na pia e fechou a torneira, enxugando o braço no vestido azul.

Tendo terminado de tirar a mesa, voltou ao quarto, receosa. Não sabia bem o que os dois poderiam estar fazendo àquela altura. Ao abrir a porta, deu com Anne deitada sobre a cama de costas, a cabeça repousada sobre o travesseiro, e um Harry posto sobre ela, com uma mão apoiando seu corpo, evitando que os dois se unissem um ao outro, de qualquer maneira que fosse. A outra mão do rapaz estava postada sob a camiseta de Anne, acariciando-a a cintura. As mãos dela estavam repousadas no rosto dele, e os dois envolvidos num beijo. Num beijo quase indecente.

Mais uma vez, Lilly sorriu incrédula. A rapidez dos dois a assombrava. Passou uma das mãos úmidas nos cabelos ruivos, jogando uma mecha ruiva para um lado. Pôs uma das mãos na penteadeira de madeira clara e levou a outra à boca, fingindo novamente uma tosse mais acentuada, fazendo Harry, mais uma vez, jogar-se no chão, agradecendo o carpete presente ali.

Anne corou levemente e Lilly riu.

- Você é original, Harry. Ao menos não caiu para o mesmo lado que antes. – Anne riu do comentário, já desinibida.

O rapaz continuou no chão, obrigando Lilly a ajudá-lo a levantar, e colocá-lo sentado sobre a cama. Anne comentou que o vestido da amiga estava molhado, e Lilly dirigiu-se até o guarda-roupa, o sorriso nos lábios ainda presente.

- Tenho mesmo que me acostumar a bater quando quiser entrar no meu quarto. – falou tirando um vestido branco do guarda-roupa, que provavelmente descia até os joelhos. – Vai que algum dia vocês sentem um calor aí, e resolvem tirar...

- Lilly, pelo amor de Deus! – Harry riu. A ruiva ia fechando o guarda-roupa novamente, quando Anne viu o vestido que ela segurava, e interrompeu.

- Lilly, você não tem uma calça jeans ou alguma coisa assim não? – ela perguntou, o cenho franzido.
A ruiva olhou para o próprio guarda-roupa, fitando um par de calças compridas penduradas.

- Ter eu até tenho, Anne...

- Então vê se veste, menina! Você tem umas pernas lindas, uma calça colada ia cair perfeito.

- Qual a diferença?

- O visual, Lil, tenta mudar um pouco. Você parece que só sai de vestido. Até sua roupa de dormir é camisola. – Harry soltou uma risada, e Lilly prosseguiu, visivelmente irritada.

- Ah, certo, Anne. Eu vou me vestir igual a você, espera aí que eu já volto. – Enfiou as mãos dentro do guarda roupa, mexendo em roupas que nem ao menos se lembrava de já ter usado algum dia. Tirou de dentro uma blusa de gola, azul em um tom bastante escuro e uma calça jeans também bastante escura. – Aqui, satisfeita?

- Muito. – A loira respondeu, com um sorriso satisfeito nos lábios.

Em pouco ela saía de dentro do banheiro, os cabelos ruivos presos em um rabo-de-cavalo alto, com alguns fios soltos, presos atrás das orelhas.

Harry só ria da pequena discussão boba em que as duas se meteram. Em pouco saberia que poderiam brigar assim o tempo inteiro, e isso jamais faria as duas se separarem. A ruiva pegou uma pequena bolsa branca com bolinhas pretas de lado e jogou sobre o ombro, enfiando lá dentro a varinha e uma carteira, que Anne identificou ser de couro de dragão. Tentou imaginar quem teria dinheiro para pagar algo como aquilo, e só conseguiu pensar no maroto Prongs.

Os três saíram do quarto, indo até o quarto no fim do corredor, para que Lilly se despedisse da mãe, que já teria ido embora quando retornassem. A senhora abraçou-a e beijou-a diversas vezes, tratando de deixar bem claro que a amava mais do que tudo neste mundo trouxa, e que era a mãe mais orgulhosa do mundo por ela ter conseguido a vaga de monitora-chefe. Lilly também disse que a amava e a beijou diversas vezes na face clara da mãe. Quando a ruiva saiu do quarto da mãe, a Sra. Evans gritou para o sobrinho:

- Tenha juízo na minha casa, Harold! – Anne riu e tapou a boca com a mão, fazendo Harry emburrar-se, e a garota rir ainda mais.

Desceram as escadas calados, a mão de Lilly pendendo sobre a bolsinha ao lado da cintura, como que prevenindo, mantendo a mão sempre próxima da varinha de mogno. Em pouco já haviam pego um táxi, Anne indicando ao motorista em que ruas deveriam passar e parar. A ruiva olhava para o lado de fora muito apreensiva, pequenas gotas de chuva batendo na janela, o vidro ficando embaçado.

O caminho durou cerca de quinze minutos, conversa presente apenas entre Anne e Harry. Anne comentava que Lilly estava calada demais desde que saíram. Mas ela não sentia o mau pressentimento que pairava na mente da ruiva, perturbadoramente. Algo relacionado à volta a escola. Quando saíram, Lilly pagou o motorista com algumas libras trouxas que tinha na carteira e saiu do carro logo depois de Harry e Anne, que logo que puseram os pés do lado de fora, deram as mãos no mesmo instante.

Quando o táxi saiu andando novamente, sumindo sob a sombra do viaduto que se encontrava ali perto, os três entraram num pub que tinham certeza que o motorista do táxi não era capaz de enxergar. Logo que dentro d’O Caldeirão Furado, nem mesmo Lilly conseguiu resistir, e sorriu largo.

O calor aconchegante, que só aquele lugar e o Três Vassouras, em Hogsmead, sabiam como dar. Tom, o balconista, os cumprimentou logo, já que Lilly e Anne eram conhecidas no lugar, por culpa dos marotos, que sempre no começo do ano resolvem fazer algum show ali.

No ano anterior, James e Sirius resolveram beber mais whisky de fogo do que conseguiam agüentar. Acabaram no fim da tarde completamente fora de si, cantando músicas de amor animadamente sobre o balcão. Sirius demonstrava cantar para uma garota qualquer que estava por perto, e que se mostrara encantada pelo “romantismo” do Black. Já James, como já era de se esperar, cantava expressivamente para a ruiva ali sentada, fazendo-a ruborizar de ódio.

Tom, naquele dia, riu como nunca antes na vida. Já Lilly resolveu nunca mais falar com James na vida; algo que não adiantou muito, já que ela tinha que mandá-lo calar a boca uma hora ou outra.

Lilly e Anne correram para os fundos da loja, Anne puxando Harry pela mão. Quando passaram pelo portal da porta dos fundos, deram de cara com um muro de tijolos velhos e riscados. Harry fez uma cara de confusão, sem largar a mão de Anne.

- E agora? – Anne o fez virar de costas para o muro.

- O Hagrid, guarda-caça do castelo aonde estudamos, nos ensinou a abrir a passagem no quinto ano. – explicava Anne a Harry, enquanto Lilly batia com a varinha em alguns tijolos especiais. Quando Anne o virou novamente para o muro, o muro não estava mais ali; apenas um espaço na parede para uma rua, onde passavam diversas pessoas diferentes, com capas compridas e chapéus pontudos.

Harry estava intrigado. Já ouvira falar Lilly bastante daquele lugar, mas nunca tinha visto com seus olhos realmente. Crianças passavam segurando gaiolas com formosas corujas dentro. Outros passavam com os mais diferentes doces que ele já vira. Outros ainda passavam contando moedas de ouro, prata e bronze. Lilly sorria animadíssima.

- Bem vindo ao Beco Diagonal.

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