Capítulo XI



Capitulo XI



Hermione sentiu ser jogada para trás com força, e algo cair num baque surdo na lama a sua frente, fazendo pingos de água saltarem.
Foi tudo muito rápido.
Rápido como um raio.
E foi nesse tempo rápido.
Rápido como um raio.
Que ela deu-se conta que Harry tomara o tiro por ela.
E ele caíra no chão.
E ela demorou demais para dar-se conta... Dar-se conta de tudo.
E as pernas dela fraquejaram, ela caiu de joelhos ao lado dele, e o viu ali, sangrando.
- Harry... – ela sussurrou, sentindo lágrimas saltarem de seus olhos sem freio. – Harry... Deus... O que foi que eu fiz?
E ele a olhou e sorriu.
- Harry... Não... Por que fez isso? Não... Não devia... Não... – ela falava, em meio as lágrimas.
E as duvidas já não existiam mais.
E a guerra acabara.
Eu tudo acabara.
Era o fim.
Era o fim dele.
O fim dela.
O fim de tudo.
- Tu disseste que acreditaria no homem que se provasse capaz de morrer por ti. – ele falou, com um sorriso torto e voz fraca.
Ela balançou a cabeça negando... Não podia ser verdade, ele não... Ah, Deus!
- Eu sou um monstro. – ela falou, apertando Harry contra si, tentando aliviar a culpa que pesava mais de qualquer outra coisa. – Eu sou como ele.
- Não... Tu fizeste o que achava que era certo... Ensinaram-te que esse era o certo... – Ele falou, cada vez mais sua voz falhava. – Ele fazia por maldade... Por prazer. Tu nunca serás como ele... Não te preocupes...
A voz dele acabou, ela o fitou.
- Perdoe-me... – ela sussurrou, aproximando-se mais dele. – Perdoe-me... Meu egoísmo... Por não acreditar...
- Agora tu acreditas? – ele indagou, fazendo todo esforço do mundo para manter-se consciente. – Acreditas em mim?
Ela abriu um pequeno sorriso, com o rosto molhado em lágrimas e cobriu os lábios dele com os seus.
- Eu também te amo. – ela sussurrou, vendo um sorriso brotar nos lábios dele e um brilho iluminar seus olhos verdes quase opacos e sem vida. As gotas de chuva caiam no rosto dele e escorriam pelo pescoço... A camisa molhada, branca, ia tingindo-se de vermelho pouco acima do abdômen, onde a bala o atingira. – Desculpe-me por ser tola o bastante para não ter me deixado convencer antes.
- Finalmente! – ele falou, fazendo-a rir, sentindo sua visão ficar turva, fazendo do rosto dela um borrão quase indistinguível logo acima de si. Tentou abrir mais os olhos. Não queria entrar na escuridão, queria observá-la, queria parar o tempo para guardar o rosto perfeito dela na memória. – Então... Tudo isso não foi em vão. Sinto-me feliz... – ele sussurrou, buscando uma das mãos dela, enquanto a sentia acariciar seu rosto, sob as gotas que caiam. - No fim, voltamos àquela noite... Eu estou morrendo, e tu voltaste a ser doce comigo e nós estamos molhados, e está chovendo... E nós estamos aqui... E eu sinto-me muito mais feliz do que já estive em toda minha vida.
- E tudo acabará como aquela noite. Ficará tudo bem. – ela disse, tentando convencer a si mesma que tudo ficaria bem.
E a culpa a corroia por dentro. Como ela podia ter sido tão tola? Tão estúpida? Fazê-lo chegar a tal extremo para provar que a amava...
Ele era o homem perfeito pra ela.
E ela já tinha percebido isso. Por que fora tão cega? Agora estava prestes a perder a única pessoa que já a amara.
- Ninfa? – ele chamou, fechando os olhos.
- Sim? – ela sussurrou, fungando, sentindo as lágrimas queimarem seu rosto. Ah, como ela o amava...
- Agora sabes que sou capaz de qualquer coisa por ti. – ela assentiu, debruçando seu corpo sobre o dele, abraçando-o. – E tens certeza absoluta que a amo mais que qualquer outra coisa. – ela tornou a assentir. – E que não sou como ele.
Ela ergueu a cabeça e o fitou.
- Na verdade eu sempre soube. Burra... Precisou chegar a isso para eu ter certeza. Eu sinto muito Harry... – ela falou, desesperada, com soluços saindo em meio ao seu desespero. A culpa e o medo de perdê-lo a sufocavam. Queria que um desses soluços a engasgasse, e que morresse sem ar, pra acabar com a culpa e o sentimento que parecia cortá-la como aquele punhal. Que a rasgava aos poucos. Lenta e dolorosamente.
- Casas comigo? – ela o ouviu sussurrar.
Hermione sentiu seu coração se comprimir mais ainda dentro de si. Será que ele não entendia que só um milagre o salvaria?
- Caso. – ela respondeu, fitando o rosto cada vez mais pálido dele. – Eu te amo tanto...
Harry sentiu os lábios quentes dela sobre os seus, aquecendo-o sob a chuva fria. Queria tanto poder correspondê-la... Mas já não tinha mais forças para nada, e tudo ficou escuro.
- Ninfa... – ela viu os lábios dele dizer, pois já não tinha mais voz. – Eu te amo.
E os olhos dele se fecharam.
- Harry? – ela chamou. – Harry? Harry! – ela gritou. – Acorda, Harry... Não vá... Não me deixe... Não...
Os gritos dela cortaram o bosque, e ela ouviu vozes de pessoas vindo. Mas não se importou, debruçou-se sobre Harry e abraçou-se a ele.
- Volte... Volte... – ela sussurrava.
- Senhorita Granger? – a Madre chamou. Aproximando-se dela. – Ouvimos um tiro... Senhorita...?
Hermione se levantou. E todos se calaram ao vê-la encharcada pela chuva, com as mãos tingidas de vermelho. Harry apareceu sob si e todos prenderam a respiração.
- Doutor... Por favor. – chamou a Madre, um senhor grisalho aproximou-se, abaixou-se e começou a examinar Harry. – Senhorita Granger, venha, vamos voltar ao convento...
- Não. Eu vou ficar com ele. – ela respondeu, tirando as mãos da Madre de si.
- Não... Olhe só pra si... Teu vestido está em frangalhos... Estás suja de sangue...
- FOI AQUELE MALDITO! – ela berrou, apontando pra dentro da casa. – MALDITO! MATOU O HARRY... MATOU O MEU HARRY.
Ela se levantou, cheia de ódio, e quis entrar na casa de novo, mas foi impedida por um dos guardas que estavam ali, vendo o que acontecera.
- Quem o apunhalou? – perguntou um dos guardas, olhando para Hermione, que exibia um olhar meio louco.
- Madre? – ouviram o médico chamar. Todos se viraram pra ele, ele acabara de fazer um rápido exame em Harry. Hermione o olhou suplicante...
Ele não podia ter ido...
Não podia deixá-la assim.
Não depois de tudo que passaram juntos...
- Ainda está vivo? – perguntou a Madre.
- Sim, precisamos levá-lo para o convento agora e fazer uma cirurgia para extrair a bala.
- Mas... Mas... – a voz de Hermione não saía. O desespero estava sufocando-a de um modo que seu corpo todo doía, e aquilo estava levando-a a loucura.
- Rápido... Levem-no. – disse o médico. – Preciso de toalhas limpas, água quente e muita aguardente!
- Não temos aguardente aqui! – exclamou a Madre.
- Se não dermos a ele, é provável que a dor acabe o matando. – falou o médico, correndo em direção ao convento.
Hermione assistiu os guardas colocarem Harry numa maca que eles haviam trazido. Ela começou a caminhar com eles, ao lado de Harry. Tomou uma das mãos dele entre as suas e partiu em passos rápidos pelo bosque.
Cada minuto que demorassem, podia ser crucial.
Depois do que pareceu uma eternidade eles adentraram o convento, sendo guiados pelo médico que já adiantara todo o material necessário para a operação. Entraram num dos quartos, Harry foi posto na cama, que logo teve seus lençóis sujos de sangue.
- Ele está perdendo sangue demais. Isso não é bom! – resmungou o doutor, enquanto calçava as luvas e abria sua maleta.
- Ele vai ficar bem, não vai? – Hermione perguntou, tentando manter as esperanças.
- Não irei mentir. A situação é muito grave. – ele falou, rasgando a blusa de Harry.
Ela pôde ver o buraco que a bala fizera no corpo dele, e via sangue sair da ferida constantemente.
- Dê a ele a aguardente. – o médico falou, apontando para uma garrafa. – Um dos capatazes arrumou pra nós.
O doutor acabara de passar alguma coisa sob o nariz de Harry que o fez acordar.
- Ouça rapaz... Terei de te operar. Tentarei extrair essa bala, precisas manter-te acordado e consciente, entendeste?
Harry não emitiu som algum, mas pela cara que fizera, Hermione pôde perceber que ele não estava feliz com a situação.
- A cachaça! Vamos! – o médico apressou.
Hermione sentou-se ao lado da cabeça de Harry na cama, e levantou a cabeça dele, fazendo-o beber.
- Não... quero... Não... – ele murmurava fracamente.
- Vamos Harry. Isso irá amenizar a dor. – ela falou, tentando manter-se calma, para não assustá-lo, mas o pânico começou a tomar conta dela quando viu o médico se aproximar do lugar ferido com uma faca de formato curvado na ponta, depois de passá-la no fogo de uma vela acesa. – Beba tudo. Pra não sentir dor... Por favor, beba tudo...
Ela conseguiu fazê-lo beber uma quantidade razoável. Mas um grito cortou a noite, quando um corte fundo foi aberto no corpo dele.
- Calma, Harry... – Ela sussurrou, segurando o rosto dele, fazendo-o encarar somente ela.
Ele começara a suar, gritando de dor.
- Pára... Pára... – ele berrava, sem poder se mexer.
O coração dela se quebrara ao vê-lo em tal situação. Era angustiante, desesperador, sufocante.
- Eu daria qualquer coisa pra estar em teu lugar agora... Para não ver-te sofrer assim... – ela sussurrou, próxima a ele. A culpa a consumia de maneira extremamente rápida dentro de si. “Minha culpa... Minha culpa... Minha culpa...” – Eu te amo... Te amo tanto... Qualquer coisa... Juro que faria qualquer coisa...
As lágrimas queimavam o rosto dela.
Mais um grito de dor cruciante, e ela sentiu-se mergulhar num mar gelado, um lugar onde podia sentir a dor dele, e ainda sentia a culpa, o medo, o desespero e a angustia que a machucavam sem piedade, rasgando-a cada vez mais.
O corpo dele foi ficando fraco, e não mais agitado como antes.
- Harry! Harry! – ela berrou. – Fale comigo... Harry!
- Aqui está! – gritou o médico, trazendo em um das mãos ensangüentadas a bala.
- Por que ele não responde? Por que não abre os olhos? – ela gritava desesperada, balançando a cabeça dele. – Harry!
- Já disse que ele perdeu muito sangue! – falou o médico. – Transfusão. Terei de fazer uma. A irmã dele está aqui, não?
- Sim. Na sala da Madre.
- É quem tem o sangue que mais provavelmente é compatível com o dele.
- E se não for? – Hermione indagou.
- Eu sinto muito. – o médico respondeu saindo em passos rápidos.
Poucos minutos depois, o médico voltou com uma bolsa de sangue.
Hermione virou o rosto. Não queria olhar.
Tinha que dar certo.
Ele ia sobreviver.
- Harry... – ela sussurrou, rente ao ouvido dele. – Salva-me...
E ela já não tinha mais forças pra lutar, estava esgotada, sufocada, perdida...
- Pronto... – disse o médico, minutos depois, tirando as luvas. – Agora só depende dele.
O homem deixou o quarto, logo entraram Anne, que chorava silenciosamente e Lourdes, que se balançava num choro compulsivo. Hermione saiu dali, não precisava de mais aquilo, já estava suficientemente esgotada para presenciar tal cena.
Ela foi caminhando em passo trôpegos até a capela, seu vestido ainda rasgado, e ainda imunda cheia de sangue. O vento fez os cortes de seu pescoço arderem, mas ela ignorou.
Ela nunca entrara na capela. Apesar de morar no convento ela nunca acreditara em nada daquilo... A vida a fizera desacreditar de tantas coisas...
Mas mesmo assim, ela se ajoelhou ali, decidida a decidir perdão por tudo de errado que fizera... Por todo seu egoísmo, principalmente.

***


A Madre superiora caminhava apressada pelos corredores, passou pelas portas sempre abertas da capela em passos rápidos, mas seus reflexos a fizeram parar e retroceder.
Viu a silhueta de Hermione ajoelhada ali dentro.
Sorriu.
Ela estava presenciando um milagre.

***


- Harry! – Anne gritou.
O médico entrou correndo, medindo a pulsação.
Ou melhor, tentando medir... Pois a pulsação era inexistente.
O doutor apenas balançou a cabeça.
- Harry! – Anne tornou a gritar, com lágrimas correndo seu rosto jovem.

***


- Por favor… Por favor… - ela suplicava, sem conseguir conter as lágrimas. Seus joelhos começavam a doer no chão frio. A exaustão e o desgaste estavam matando-a... – Por favor, por favor... Salve-o.


***

N/a: Penúltimo capítulo.
Espero que tenham gostado!!!
Pode parecer meio surreal, não sei... Mas foi o que saiu da minha mente insana no momento.

COMENTEM!!!!

Beijoooo.
Amo vocês.
=]

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