Capitulo VIII



Capitulo VIII


- Bom dia, senhorita Granger. – cumprimentou a Madre, ao vê-la entrar na sala.
- Bom dia, Madre. – ela falou, tristemente, sentando-se na cadeira de frente para a mulher.
- Não parece-me muito bem.
- Eu estou, não te preocupes. – ela respondeu, com certa frieza.
- O senhor Potter contou-me os motivos do atraso de ontem.
- Os motivos? – ela repetiu, sem entender.
- Sim. Meu empregado que foi cruelmente grosseiro com a senhorita, e a roda da carruagem que quebrou no caminho de volta. – ela falou, olhando atentamente para Hermione, buscando algum vestígio de que a historia fosse mentira. A moça, porém, manteve-se impassível.
- Sim, senhora.
- Peço-lhe desculpa pela grosseria do homem, ele já foi devidamente punido.
- Foi?
- Eu o demiti.
Hermione nada disse. Permaneceu quieta. Ótimo. Aquele infame não cruzaria mais o caminho dela.
- Tens certeza que estás bem?
- Sim, estou ótima.
- Como foi sua conversa com a senhorita Potter?
- Tudo bem. Ela está devidamente preparada para vir para cá, disse-lhe tudo que acontece aqui, todas as regras e como funciona o regime. Ela já está ciente de tudo, e satisfeita por vir pra cá. – ela falou, muito seriamente. A mentira saia-lhe pelos lábios tão facilmente, era quase inacreditável.
- Que ótimo! Fico feliz em saber.
Hermione permaneceu em silêncio, realmente entristecida com tudo que acontecera. A tarde maravilhosa acabara de forma catastrófica.
- Posso ir?
A madre a fitou, intrigada, dificilmente ela agia assim.
- Pode. – a moça se levantou. – Espere!
Hermione virou-se e a mulher estendeu-lhe três livros.
- O senhor Potter pediu para entregar-lhe. Esqueceu-os ontem na carruagem.
- Obrigada. – ela respondeu, meio surpresa.
Saiu da sala, direto para o jardim, carregando os livros, olhando-os. Lembrava-se apenas de ter escolhido dois.
Sentou-se num dos bancos e examinou um por um. O primeiro era um romance, que ele recomendara. Ela não iria ler. Não queria ler romances que ele gostasse. Não queria sentir o mesmo que ele ao ler sobre casais apaixonados que viviam felizes no fim.
O segundo era uma comédia de Shakespeare. Não estava com humor para comédias. Queria que toda a alegria do mundo evaporasse, para que todo pudessem se sentir como ela... A dor dela.
Olhou o terceiro. Seu coração deu um salto. ‘O Príncipe’, de Nicolau Maquiavel. Ela se perguntou quando ele havia pego, como conseguira. Ela o abriu e encontrou um pequeno pedaço de papel com quatro palavras.

‘Tu salvaste-me
Deixe-me salvá-la’


Ela leu as poucas palavras, reconhecendo a caligrafia inesquecível dele. Será que valeria a pena arriscar-se para dar-lhe uma chance? Será que valeria a pena correr o risco de acabar com a própria vida para deixá-lo salvá-la?
E depois de tudo que ela falara pra ele na noite passada ele ainda estava disposto? Se ele realmente fosse cruel, ele teria visto que ela estava preparada para resistir, e não iria insistir, pois teria certeza que ela não cairia na conversa dele.
Mas ele ainda estava disposto. E ainda corria atrás. Queria ajudá-la.
Não.
Não.
Ele queria enganá-la.
Queria tripudiar do sofrimento dela.
Queria rasgar as feridas já abertas.
Torturá-la até o fim, como ele fazia com ela.
Não passava de frases prontas.
Discursos ensaiados.
Tudo não passava de mentiras.
Um grande teatro.
Era tudo armado.
Nada era real.
Nada era real, a não ser a dor.

***


- Senhor Potter, não esperava revê-lo tão cedo. – disse a Madre Superiora, ao receber o jovem em sua sala.
- Vim trazer as coisas de minha irmã. Decidi, de fato, trazê-la pra cá. A senhorita Granger ajudou-me bastante a tomar esta decisão. Vejo que é a coisa certa a fazer.
- Que ótima noticia, fico feliz em saber que escolheu nosso convento para vossa irmã. – a mulher falou, sem esconder o entusiasmo. – Só lamento que a senhorita Granger tenha andado tão... Deprimida nos últimos dias.
Harry encarou a mulher. Tentando descobrir o que ela realmente pretendia dizendo isso a ele.
- Eu lamento muito. Ela me pareceu bastante chocada depois daquela confusão com um dos seus empregados.
- É creio que seja por isso. Mas... – ela levantou, andou pela sala, depois fitou os olhos verdes de Harry. – Sabes de algum outro motivo que possa tê-la deixando em tal estado?
- Sinto não poder ajudar. Não sei. Ela estava bastante animada, todos os momentos que esteve com minha irmã em minha casa.
- Receio que sim, ela contou-me como foi.
- Contou? – Harry indagou, meio surpreso. Precisava saber o que Hermione tinha dito, para não dizer o contrário.
- Sim. Tenho pra mim que ela um excelente trabalho.
- De fato, o fez sim senhora. – ele respondeu, evitando explicações complexas.
- A Senhorita Potter ficará num quarto próximo ao da senhorita Granger. Queira acompanhar-me, por favor, vou lhe mostrar onde vossa irmã se instalará, para que o senhor não espalhe boatos inverídicos sobre meu convento. – disse a mulher, com sarcasmo, saindo à frente, com Harry aos seus calcanhares.
Como queria ver Hermione, como queria ao menos olhá-la para saber como estava... Como precisava vê-la e falar com ela. Queria encontrá-la ali, em um daqueles imensos corredores. Estavam no fim do dia, talvez ela já...
Harry sorriu inconscientemente. Seus pensamentos voaram tão longe, que ele não percebeu que a Madre parara em frente a uma porta, trombou com ela.
- Oh! Me desculpe...
- Não. Não há problema senhor Potter. – ela falou, meio assustada. – Esse aqui será o quarto de sua irmã.
- Certo. Certo. – ela falou, passando os olhos rápidos pelo quarto. Não imaginara nada melhor que aquilo. – Muito obrigado. Eu realmente preciso ir. Veremo-nos em breve. Até logo.
E ele saiu andando em passos rápidos, alcançaria logo seu cavalo que ficara perto dos portões. Tinha uma coisa a fazer.

***


Empurrou a porta bem devagar e silenciosamente. Entrou e fechou-a sem emitir nenhum ruído. Uma única vela iluminava o lugar, bem próxima a poltrona, que no momento encontrava-se de costas pra ele. Ele caminhou com cuidado, sem fazer barulho, olhando tudo em volta. Nunca um lugar lhe trouxera tão boas lembranças quanto aquele.
Aproximou-se mais da luz, parou atrás da poltrona. Pôde ver, de cima, um livro aberto no colo dela, mas ela não estava lendo. Um pequeno pedaço de papel pairava sobre as letras impressas na folha. As quatro palavras que ele escrevera a semanas atrás... E ele viu os dedos dela deslizarem pelo papel, tocando-o levemente... E de repente, uma lágrima caiu sobre o pedaço da folha e ela sequer deu-se ao trabalho de secar.
- Ninfa? – ele chamou, em voz baixa.
Hermione se sobressaltou, num pulo ela se levantou, deixando o livro cair no chão, mas o pequeno papel ainda estava firme em sua mão.
- O que pensas que...?
- Precisava lhe ver. – ele respondeu, interrompendo-a. – E implorar que me escute.
- Saia daqui. – ela falou, tão friamente quanto se estivesse vendo um verme a sua frente.
- O que? – ele indagou, realmente magoado com o tom dela.
- Saia daqui agora.
- Mas...
- Não quero lhe ver. Nunca mais. Saia daqui! Saia da minha vida! Suma e não me procure mais! – ela gritou, nervosa.
Ele fitou os olhos dela, que estavam marejados. E ele via uma dor tão grande neles, que se sentiu totalmente impotente por não poder ajudá-la.
Mas ela o magoara. Agora, especialmente. Ele estava tentando... Estava lutando... Mas ela não dava um espaço para que ele pudesse mostrar quem ele era. Para provar pra ela que ele era diferente.
- Ninfa, por favor... – ele pediu, suplicante.
- Não me chame de Ninfa. Esqueça-me. Esqueça meu nome. Esqueça que um dia, me conheceu. Esqueça tudo que nós... – ela desviou o olhar do dele. - ...vivemos.
- Estás me pedindo algo impossível.
- Nada é impossível.
- Então me deixe tentar mudar algo que tu achas impossível ser mudado. Deixe-me ajudá-la. Deixe-me salvá-la.
- Isso só existe em conto de fadas.
- Então estamos em um conto de fadas, porque tu me salvaste.
- Não seja tolo.
- Não seja cega. – ele retrucou, firme.
Ela o fitou mais uma vez. E ele podia ver a dúvida gritar dentro dela. E podia ver e sentir a luta que se travava entre mente e coração.
- Permita-se Hermione. – ele sussurrou.
- Nunca me permitiram nada.
- Tudo tem uma primeira vez.
- E uma última também. E essa é a ultima vez que estamos nos vendo. – ela concluiu.
Harry sentiu um golpe em seu estômago, que o sufocou, impedindo-o de respirar ao ouvir as últimas palavras.
Então, ela tomara a sua decisão final.
A luta acabara.
A razão ganhara.
- É a tua última palavra? – ele indagou, sentia-se triste e sozinho.
Ela prendeu a respiração. Não imaginava que ele fosse ceder. Imaginava que ele ia continuar argumentando, ia continuar tentando... Ia desistir assim tão fácil? Ela imaginava que ele ia continuar aquela discussão até roubar-lhe um beijo que a convenceria que ele era feito pra ela.
Iludida.
Idiota.
Contos de fadas não existem.
- É o que parece, não? – ela respondeu, friamente.
Ele deu uns passos para trás.
- Tu devolveste-me a vida, Ninfa. – ela deu as costas. Não queria mais olhá-lo... Fitar aqueles olhos verdes a faria voltar atrás. – Sinto-me mais vivo do que nunca para lutar. Para lutar por ti. Não vou desistir. Gosto muito de ti para deixá-la escorrer por entre meus dedos. Gosto muito, mesmo.
Ela ficou tentada a olhá-lo. Mas não se virou. Não iria cair no joguinho dele.
Tudo ensaiado.
Frases prontas.
Teatro.
Ilusão.
- Até breve. – ele falou.
Hermione ouviu a porta abrir com um rangido e depois fechar.

***


O dia ensolarado lá fora contrastava drasticamente com o humor dele.
Sentado na cadeira de uma das escrivaninhas da biblioteca ele olhava tudo em volta... E era capaz de vê-la andando ali, olhando os livros, sorrindo pra ele.
E tudo vinha na cabeça dele como um filme. E estava tudo indo tão bem... Bem demais. Ele devia ter desconfiado.
O desabafo dela não saia da cabeça dele... E a voz dela repetia aquelas palavras horríveis, e ele se sentia impotente e revoltado. Amaldiçoava o homem que a tinha deixado daquele jeito. Amaldiçoava toda a família dela que não reconheceram a pessoa maravilhosa que ela era. Fizeram-na sofrer tanto... Tantos traumas, ofensas... Ela vivera coisas que jamais esqueceria.
E o que ele mais desejava era fazê-la esquecer. Tudo que ele queria era uma chance. Uma única chance. Mudaria a vida dela, mostraria que a vida é dada para ser vivida, para torná-la o mais feliz possível, faria valer a pena, cada minuto. Queria ajudá-la.
- Com licença, menino. – Lourdes entrou na biblioteca e caminhou em direção a Harry, calmamente.
- Olá. – ele respondeu entristecido.
- Faz tanto tempo que não o vejo sorrir que acho que já me esqueci. – ela falou, com um sorriso.
- Não tenho tido motivo para sorrir, Lô. Tu sabes bem disso.
- Sim, menino. E essa é a pior parte. Por que não vais falar com ela?
- Achas que já não tentei? – ele falou, olhando para além dos vitrais da imensa janela. – Ela tem medo.
- Ajude-a nisso.
- Ela não se deixa ser ajudada. – ele respondeu com um sorriso triste. – Eu a amo.
- Sei disso faz tempo. – a mulher falou, sorrindo bondosamente para o rapaz.
- Não sei mais o que fazer.
- Diga a ela o que estás sentindo.
- Ela não vai acreditar. Eu já tentei. Fiz tudo que eu pude. – ele finalmente olhou para velha, suplicante. – Estou desesperado.
- Para ficar mais desesperado ainda, venho trazer-lhe a noticia que o Senhor Weasley acabou de chegar.
- Ah, não... Tudo que menos preciso agora é do bom humor dele! – mal terminou a frase, Harry viu Rony escancarar a porta numa entrada triunfal.
- Demorastes muito para avisá-lo, Lô. – disse ele, com graça. – Resolvi entrar.
A mulher riu e deixou a biblioteca. Rony sentou-se sobre a escrivaninha e encarou o amigo.
- Nossa! Tua cara está péssima.
- Muito obrigado. Eu me sinto péssimo, é de se esperar que minha aparência não esteja lá essas coisas, não?
- Eu não entendo. Tu estavas pulando de alegria sem motivo nenhum há alguns dias. Depois que voltastes aquela noite, depois de levar tua Ninfa para o convento, só anda se arrastando por essa fazenda, cada vez pior. O que aconteceu?
- Fui rejeitado. – Harry respondeu, sem rodeios.
Rony arregalou os olhos, perplexo.
- Ela disse isso assim? Tu perguntaste se poderia cortejá-la e ela respondeu-lhe não, depois de toda aquela meiguice exagerada de ambos naquele jantar?
- Na verdade, ela não me deu chance nem de perguntar. Simplesmente deixou claro que não daria certo. São coisas complexas demais... Tu nunca entenderias. – Harry falou, levantado-se e caminhando até a janela.
- Isso sim que é amigo, chama-me de burro sem nem disfarçar. – disse Rony, falsamente indignado.
- Não estou com paciência para suas conversas, Rony, realmente sinto muito pela minha rabugice.
- Não há problema amigo. Tu já me agüentaste bêbado, o que deve ser bem pior. – Rony falou, saltando da mesa e indo até o amigo. – Em todo caso, conte comigo.
Ele deu uma palmadinha amiga no ombro de Harry e deu-lhe as costas, mas parou ao alcançar a porta.
- Anne já está pronta.
- Eu já estou indo. – ele respondeu, seguindo o amigo, de má vontade. Levaria sua irmã para o convento, e ela lá ficaria, pelo resto de sua vida.
Harry não agüentava tantas perdas em tão pouco tempo.
Uma vez fora da fazenda, a carruagem foi conduzindo-os para o convento.
Harry tentava se manter animado perto da irmã que parecia meio nervosa, ele fazia tudo por ela.
Lourdes o poupava de falar, tagarelando o caminho todo.
Quando chegaram à frente do convento, todos saltaram da carruagem. E Harry não sentiu seu coração apertar, nem seu estômago afundar como sentia todas as vezes que se encontrava na frente do convento.
Uma melancolia mortal tomou conta dele. Só ele sabia quão difícil estava sendo ter de entrar ali, fingindo que estava feliz, sabendo que poderia encontrá-la em qualquer um daqueles corredores.
Harry deixou que Anne fosse a frente, acompanhada por Lourdes e pela Madre superiora que lhe mostrava a parte interna do convento, ele ia mais a atrás em passos lentos.
As mulheres dobraram num corredor. Uma exclamação e Harry quis morrer.
- Hermione! – disse Anne, realmente entusiasmada.


***

N/a: Espero que vocês gostem.
To indo assistir o jogo do Brasil.
=]

Comenteeeem!

Beijoooo.

=]

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