Capítulo V



-Seu noivo? – Harry perguntou como se não estivesse certo do que tinha ouvido e sem afastar o olhar da foto.

A encantadora doçura que existira entre eles desapareceu assim que ele acendeu a luz. Hermione se cobriu com a colcha assim que o encanto foi quebrado.

-Você esteve comprometida? - continuou ele - Quando?

-Antes de eu vir morar aqui.

Harry se levantou e colocou a foto em seu lugar. Passou a mão pelo cabelo com um gesto violento e olhou para ela desamparado. Tinha a camisa ainda aberta e na boca o sabor dos beijos trocados anteriormente.

No olhar, ainda havia rastros da paixão frustrada que os envolvera.

-Por que nunca me falou sobre ele? Você dissse que nunca esteve com um homem...

-Harry, eu tinha dezoito anos - disse ela suspirando e cobrindo o rosto com as mãos - Agora ele está morto.

Isso pareceu impressioná-lo. Estava em pé, mas voltou a sentar-se na cama.

-Morto?

-Ele morreu em um acidente de avião. Estava indo para Washington para uma convenção de banqueiros e chocou seu avião em uma montanha.

Ele segurou sua mão.

-Sinto muito.

Ela assentiu com a cabeça.

-Tinha vinte e três anos e eu o amava com todo meu coração - O olhar dela passou de Harry para a fotografia. Nesse momento, Draco pareceu-lhe muito jovem.

-Provinha de uma antiga família de Charleston, amiga da minha. Era um moço brilhante, culto e poderia ter conseguido a lua se quisesse. Quase não me pude acreditar quando me pediu que me casasse com ele. Afinal, eu não era seu tipo de garota. Era tímida e tranqüila, enquanto que ele era tão extrovertido...

Encolheu-se de ombros e a colcha escorregou um pouco, deixando uma parte de seu corpo exposto. O olhar de Harry seguiu a colcha em seu deslize e seu rosto ficou rígido quando vislumbrou as suaves curva que se adivinhavam.

-Quando ele morreu quase fiquei louca. Meu tio tinha então este rancho e estava pensando em vendê-lo. Mas quando viu o que estava acontecendo comigo, sugeriu que nos mudássemos para cá. Acho que foi isso que me salvou. Não podia deixar de pensar na maneira em que Draco tinha morrido. Isso estava me matando.

Ele olhou nos olhos dela.

-Então é por isso que não saía com ninguém – disse de repente.

-É obvio - ela respondeu olhando a fotografia - Eu o amava muito. Tinha medo de amar outra vez, de me arriscar a amar qualquer outro homem. Ao longo destes anos, saí com algum de meus clientes... Mas a maioria dos homens não se conformam simplesmente com a companhia e, quando eu percebia isso, parei de sair.

-Agora, tudo faz sentido - murmurou ele.

-O quê?

-A forma como se comportou comigo - respondeu ele tranqüilamente - Como se estivesse morta de fome por um pouco de amor.

-Não!

-Ah, não?

Ele se aproximou e afastou a colcha, deixando que caísse sobre a cintura de Hermione. Observou detalahdamente seus seios bem formados , coroados por mamilos endurecidos com uma expressão que a encantou.

-Vê? – Harry continuou - Gosta que eu olhe para você.

Sim, gostava. As mãos dela tremiam quando puxou a colcha para cima, tinha o rosto vermelho e uma expressão de fúria no olhar.

-Não!

-Negue o quanto quiser, mas teria feito amor comigo se eu tivesse visto essa fotografia. Você me deseja, maldita seja!

Ela fechou os olhos, suas mãos ainda tremiam.

Não podia responder porque ele tinha razão e os dois sabiam disso.

Ele se levantou repentinamente e caminhou até a porta.

-Isso é maravilhoso! - exclamou andando de um lado a outro do quarto - Eu pensava que sentia algo por mim, que fazer amor seria algo novo para você e estava aprendendo comigo coisas que você gostava. E durante esse tempo todo, o que aconteceu era que eu estava substituindo um fantasma.

-Não! – Hermione gritou.

Não podia deixar que acreditasse nisso, porque não era verdade.

-Um morto, um cadáver - Harry parecia cada vez mais zangado - Por que deixou que eu a trouxesse aqui?

-Eu não sabia...

O olhar dele voltou-se involuntariamente para a fotografia.

-Ainda o amava na primeira vez que nos encontramos, não é? É por isso que me rejeitava quando eu tentava me aproximar de você?

-O que acontecia era que eu não estava preparada para ter outra relação.

-E eu, um idiota! O que quer dizer era que a "lady" não poderia deixar que o primeiro pé-rapado se aproximasse e a desejasse. Eu não sou do seu nível, não é? Não era suficientemente bom como ele para ocupar seu lugar!

-Não, Harry, não é isso!

-Sou um tipo grosseiro e sem educação - prosseguiu ele sem se incomodar com os protestos dela - Não venho de uma família socialmente importante e não fui para Harvard. Então, não sou digno de ser levado em consideração. Nunca fui. Você o transformaste em um santo e mantém sua imagem perto da sua cama para lembrar-se que deveria estar enterrada com ele. Ou não é assim?

Ela se levantou da cama arrastando a colcha com ela e ficou diante dele. Harry estava ferido, e era culpa sua. Todo por causa de um passado que não era capaz de separar-se.

-Harry – ela disse suavemente, tocando o braço dele. Seus músculos se contraíram.

-Não faça isso, moça – ele preveniu com uma voz perigosamente suave - Agora estou bastante zangado.

-E eu também! - explodiu ela - Não quero que se intrometa dessa maneira na minha vida, impondo sua forma de ver as coisas. Não fui eu quem começou a beijar você...

-Como se você tivesse se atrevido a fazer isso alguma vez! Isto foi como um sonho para mim. Você estava tão longe de mim como eu de você, de seu jeito de ser e de seus costumes. Por acaso, não estava tentando me civilizar para você?

-Lógico que não! - respondeu ela olhando para seus pés.

-É melhor esquecermos as aulas de dança – disse ele friamente - E antes que comece a ter idéias estranhas a respeito do que aconteceu aqui esta noite, eu já disse que fazia tempo que não estava com uma mulher. Isso é tudo.

Isso a magoou. Teve que esforçar-se para não chorar.

-O mesmo aconteceu comigo.

-Eu sei – Harry respondeu com um sorriso de deboche e fazendo um gesto em direção à fotografia - Por que não se enfia com ela na cama para ver se ela te faz arder da mesma maneira que eu fiz?

Hermione levantou a mão para esbofeteá-lo, mas ele a segurou pelo pulso antes que pudesse atingí-lo.

Isso a fez recuperar o controle da situação.

-Me solte, não vou bater em você.

Harry a soltou como se seu contato o queimasse.

-Não seria melhor vestir-se? Pode ficar resfriada assim... se é que o gelo pode esfriar-se.

Ela dirigiu-lhe um olhar assassino.

-Eu não estive fria com você - disse furiosa. Essas palavras pareceram despertar uma ameaça de amabilidade nele. Suas pálpebras se entreabriram e os olhos brilharam. Então se aproximou dela e, antes que ela pudesse fazer alguma coisa para evitá-lo, beijou-a ferozmente, tanto que chegou a machucá-la, depois, afastou-se dela e a olhou nos olhos.

-Se você não fosse obcecada por esse maldito fantasma, eu a jogaria nessa cama e faria você suplicar pelo meu corpo. Mas, como estão as coisas, diria que nós dois tivemos sorte de não termos ido longe demais e pudemos escapar a tempo.

Ele saiu do quarto. Alguns segundos mais depois, Hermione ouviu a porta ser fechada com força e o carro dele se afastando. A casa ficou totalmente silenciosa e ela pôde ouvir perfeitamente o tic-tac do relógio da sala, soava como uma bomba. Tic... tac, tic... tac...

Quase não conseguiu dormir. Até Harry acusá-la de querer ser enterrada com Draco, não tinha percebido até que ponto vivia presa ao passado.
A manhã a surpreendeu sentada no beirada da cama com uma xícara de café na mão, olhando fixamente a fotografia de Draco. Cada vez lhe parecia mais jovem e, enquanto o olhava, recordou todas as coisas que aconteceram há tantos anos atrás. Não tinha sido o que se pode chamar de um grande amor. Ele era um moço muito bonito com uma forte personalidade. Naquela época ela era bastante jovem e tímida e se deixou deslumbrar pelo interesse dele. Mas com o passar dos anos tinha idealizado sua lembrança. Fora necessário que o desejo que Harry despertara para fazê-la compreender isso.

Ruborizou-se quando lembrou o que tinha acontecido entre eles. Ele tinha sido tão carinhoso, tão paciente. Se não tivesse visto a fotografia... ficou em pé com o cenho franzido e andou pelo quarto. Seu olhar caiu involuntariamente sobre a cama e recordou todos e cada um dos detalhes da noite anterior: Harry beijando-a, acariciando-a como nunca ninguém fizera antes, comendo-a com os olhos... Amando-a...

Hermione fechou os olhos. De algum modo, isso tinha que ser amor. Ele dissera que ela o desejava desesperadamente, e aquela noite não tinha sido a primeira vez. Fazia tempo que o desejava, possivelmente desde a primeira vez em que o vira. Mas não quisera reconhecer nem para si mesma. Não até que ele pedisse que lhe desse aquelas aulas. E, agora, Hermione se perguntava se não quisera que as coisas chegassem a esse ponto, se ele não teria decidido que era hora de saciar seu violento desejo.

Ele se importava realmente com ela? Era isso o que a estava torturando. Era só atração física, ou ele sentiria alguma coisa por ela?
Levou a xícara para a cozinha e se vestiu para ir trabalhar. Provavelmente, a julgar pela maneira como tinha falado com ela, não iria querer vê-la nunca mais.

Luna tinha várias mensagens para ela, Hermione as pegou e, enfiando-se em seu escritório ficou olhando para elas sem pensar em nada. Demorou aproximadamente uma hora para aceitar a idéia de que tinha que começar a trabalhar e, quando começou, moveu-se como um autômato. Passou o dia inteiro olhando para o telefone, esperando que Harry ligasse para ela. Mas, às cinco da tarde, ainda não tinha recebido nenhum telefonema dele, e se deu conta de que, provavelmente, ele não ligaria. Foi então para casa e passou o resto da tarde olhando para as paredes.

A sexta-feira finalmente chegou e Gina apareceu no escritório para lembrá-la da festa que daria essa noite.

-Festa?

Hermione sentiu-se mal ao lembrar-se que Harry ficara de passar em sua casa para pegá-la.

-Não... não sei, Gina.

-Tem que vir, Harry disse que vai passar em sua casa.

O coração de Hermione deu um salto.

-Ele disse isso recentemente?

-Hoje de manhã, quando fui a seu rancho dar uma olhada no touro dele. Estava aéreo, até que mencionei que os Gibsons tocariam. Faz anos ele costuma acompanhá-los. Você já sabe que ele é um magnífico violonista.

-Não, não eu sabia – Hermione disse lentamente. Ao que parece, havia um monte de coisas que não sabia sobre ele.

-O mais provável é que fiquem tocando a noite toda. Nós vamos passar muito bem. Eu a verei por volta das seis!

-Ok.

-Eu adoraria ir - Luna disse quando Gina saiu - Mas tenho que cuidar dos meus sobrinhos. Gina ia me apresentar um amigo dela. E tudo por causa da partida de boliche da minha irmã.

Hermione esboçou um sorriso ao ver o ar de tristeza que a jovem tinha.

-Trocaria de lugar com você se pudesse.

O que não deixava de ser verdade, não estava disposta a passar a noite toda com Harry, que, certamente, a odiava.

-Estou a ponto de ligar para minha irmã e dizer que não posso ficar com os meninos - Luna replicou - Mas não tem problema, sobreviverei, fui escoteira.

-Sim, acho que isso ajudará.

Nesse momento, o telefone tocou. Luna o atendeu e em seguida o passou para Hermione.

-É para você, o Sr. Potter.

Hermione sentiu que seu coração estava na garganta.

Fiocu tentada em pedir que Luna arrumasse uma desculpa e dissesse que não estava, ou que estava em uma reunião ou alguma coisa parecida. Era curioso ver como Harry era capaz de despertar nela essas reações tão covardes.

-Ok - disse finalmente dirigindo-se lentamente para seu escritório.

Agarrou o fone com as mãos trêmulas.

-Alô?

-Você pode ficar pronta às cinco e meia? – Harry perguntou friamente e sem preâmbulos.

O som de sua voz fazia com que ela se sentisse mal. Fechou os olhos e ficou brincando com o fio do telefone.

-Sim.

-Foi idéia de Gina – ele lembrou - Por mim, iria sozinho.

-Bem, se preferir...! - começou ela, sentindo-se ferida.

-Sim, diabos, preferia! Mas não quero que sejamos motivo de fofoca se por acaso vamos juntos ou não à festa. Esteja pronta a essa hora - e desligou o telefone de repente.

Hermione também desligou o telefone com fúria e, soltando um grunhido, atirou um lista telefônica contra a porta.

Luna entrou assustada.

-Está tudo bem? -perguntou.

Era a primeira vez que via sua chefa tão zangada para começar a atirar coisas na parede.

-Não – Hermione respondeu com a fúria brilhando em seus olhos - Não estou. Algum dia desses vou matá-lo. Vou dar um tiro nele! Vou fazê-lo comer um cacto! Melhor, vou colocar o cacto ...

-No Sr. Potter? - Luna perguntou estranhando o súbito ataque de fúria de Hermione - Mas são amigos.

-Eu? Amiga daquele animal?

Luna ficou quieta, procurando as palavras adequadas.

-Vou pra casa – Hermione disse agarrando sua bolsa e caminhando para a porta - Você poderia fechar o escritório?

-É claro. Mas...

-Vou colocar fósforos sob as unhas dele - Hermione ia murmurando -. Vou queimar o...

Luna limitou-se a sacudir a cabeça.

-Deve ser amor - murmurou divertida.

Harry e Hermione seriam o casal do século.

Uma mulher tão bem educada e fria como ela e um selvagem como Harry. Não podia imaginá-los apaixonados. Nem por brincadeira! Voltou para sua mesa e começou a limpá-la.



Hermione voltou para sua casa dirigindo tão depressa que chamou a atenção do ajudante do xerife, Simas Finigan.

Diminuiu a velocidade e parou no acostamento quando ouviu a sirene. Desligou o carro e ficou ali, esperando que o policial se aproximasse.

-Me deixe ver sua carteira, Srta. Granger, e os documentos do carro - disse Simas adotando um ar muito profissional - Vamos fazer as coisas como se deve. Onde é o fogo?

-O fogo será em Harry Potter quando eu encontrar um pouco de lenha e uns fósforos.

-Mas você é amiga dele – Simas recordou.

-Daquela serpente?

O policial limpou a garganta e pegou os documentos que ela oferecia com mãos trêmulas.

-Ele deve ter feito algo muito ruim para que você fique assim, pobre homem.

-Pobre homem! Ele o trancou em um quartinho, esqueceu?

-Bem, ele vive me trancando. Já estou acostumado. Além disso, quando está sóbrio, sempre me convida para comer no bar da Rosmerta. Não é um homem mau - Simas devolveu a carteira e os documentos e terminou de aplicar a multa.

-Por que tinha tanta pressa?

-Tenho que ir à festa de Gina esta noite.

-Ah, sim! Eu também vou. Parece que vai estar muito bom, além disso os Gibson estarão lá e Harrry vai tocar com eles outra vez. Maldito seja, esse sim pode tirar proveito de um violão!

Por que todo mundo sabia disso, menos ela? Isso a fez sentir-se pior. Pegou a notificação da multa com um suspiro.

-Agora, vá mais devagar – Simas aconselhou - Se bater o carro não poderá dançar esta noite. Não é, Srta. Granger?

Ela voltou a suspirar.

-Acho que não. Sinto muito, Simas. Irei mais devagar.

-Boa garota. Nos veremos mais tarde.

-Sim, até mais tarde.

Quando chegou em sua casa e terminou de vestir-se, o aborrecimento ainda não tinha passado. Sentia-se como um gato selvagem, Furiosa com Harry e com as circunstâncias que a faziam estar perto dele. Tudo que queria era afastá-lo de sua vida e esquecê-lo.

Quando ouviu ele chegar, seu coração começou a pulsar furiosamente. Não queria vê-lo, não queria ficar perto dele! Seu corpo começou a tremer quando abriu a porta e olhou para ele. Usava jeans e uma camisa vermelha. Suas botas marrons eram as que tinham comprado juntos em Phoenix. Estavam tremendamente brilhantes e combinavam com o chapéu também marrom. Estava tão bonito que Hermione ficom a vista nublada.

Os olhos dele estavam muito ocupados estudando-a. Estava vestida de uma maneira muito mais informal do que costumava vestir, e tinha os cabelos soltos sobre os ombros. Parecia menor e mais feminina. Diante dessa visão, Harry cerrou os dentes e seu rosto adquiriu uma expressão mais dura.

-Está pronta?

-Só falta pegar minha bolsa – ela respondeu friamente. A pegou de cima do sofá e ambos sairam da casa.

Harry abriu a porta de seu carro para ela, mas Hermione quase não percebeu esse detalhe. Ainda estava zangada por sua frieza.

Ele entrou no carro, arrancou e entrou a toda velocidade na auto-estrada.

-Cuidado ou você também vai levar uma – advertiu ela sem desviar os olhos da estrada.

-Uma o quê?

-Uma multa por excesso de velocidade.

-Deram uma multa por excesso de velocidade para alguém que dirige tão devagar como você? O xerife Wilson contratou um novo ajudante ou alguma coisa parecida?

-Simas me multou – ela respondeu enquanto olhava pela janela.

-Não me venha com histórias. Simas nunca pára ninguém.

-Ele me parou. Eu estava a cento e cinqüenta por hora.

O carro deu um inclinação brusca antes que Harry pudesse controlá-lo de novo.

-A cento e cinqüenta por esta estrada?

-Continue, faça um de seus estúpidos comentários – ela disse soltando faíscas pelos olhos-. Continue, não pare!

Harry a observou durante um instante e depois voltou a fixar-se na estrada.

-Está de mau humor? - Perguntou ela.

-Você deveria saber. Além disso, o seu também não é dos melhores, acho que eu tenho direito de estar zangado, tendo em conta o que provocou minha irritação.

Hermione ruborizou e foi impossível olhar para ele. Também não pôde dizer nada. Ele não pareceu se importar. Dirigiu todo o caminho até a casa de Gina sem lhe dirigir uma só palavra.

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