- Hogwarts -



Abriu os olhos devagarinho. Levantou-se, ainda com sono, e caminhou até a janela para abri-la e deixar a claridade fortificante entrar em seu quarto. Demorou um pouco para ele acordar e se lembra que dia era. No dia anterior ele falou tanto em Hogwarts e sua excitação, e hoje parecia ter esquecido tudo. Era o dia. O dia do Expresso, ele iria pra Hogwarts! Olhou-se no espelho, e então percebeu que dia era; isso foi o suficiente para acordá-lo.
Logo descia arrumado para tomar o café da manhã. Estava sorridente, e deu bom dia para todos. Aquilo era o que havia esperado fazia anos. Nunca esperara poder se ver livre daquela casa. Livre de imposições. Comeu o café da manhã tão rápido que já estava levantando-se quando o irmão chegou. Subiu novamente as escadas para arrumar o malão. O bilhete para o Expresso estava logo ali diante dele em cima da escrivaninha. Pôs no fundo as vestes e roupas íntimas, logo acima acomodou os livros, e em um canto pôs um saquinho com galeões os quais poderia precisar para comprar algo, sendo que pôs algumas moedas no bolso. Dentro de seu armário se encontrava uma mala pequena a qual Sirius usou para por o resto do material escolar e mais roupas, porém não coube muita coisa. A gaiola de Juliet seria levada manualmente. A coruja parecia sentir a alegria de Sirius e piava de satisfação e felicidade.
- Acalme-se, Juliet... – Sirius tentou tranqüiliza-la, mas aquilo já estava parecendo impossível. – Nossa! Você também sabe que dia é hoje? – e a coruja tão estridente que seria possível causar um pouco de dor de cabeça se o garoto não tivesse posto os dedos para tampar a audição. - Que bom que está feliz! – disse por fim.
Conferiu o horário: eram nove e meia. Se saísse dali a meia hora mais uns vinte minutos de caminhada até King’s Cross, seria dez e vinte, faltando quarenta minutos para o embarque. Porém...
- Sirius! Rápido! Vamos logo! – dizia a mãe.
- Já vou! Já vou!
O garoto desceu arrastando o malão maior e segurando a gaiola de Juliet com a outra mão. Régulo vinha logo atrás trazendo a malinha. Prontos para sair, Orion abriu a porta e logo saíam andando pela rua.
- Orion! Como pode nos forçar a ir a pé? – berrou Walburga.
- O melhor modo... O malão de Sirius... – apontou por dentro das vestes a varinha para o malão e este começou a flutuar seguindo-os, logo a malinha e a gaiola estavam no ar também. – Feitiço de desilusão... Os trouxas não vão nos perceber... Imagine só: nós aparecendo em uma lareira de King’s Cross, ou outra qualquer! Ainda não construíram a via metô! Aliás, as lareiras trouxas são bloqueadas para o uso de flu, para nenhum trouxa levar um susto como bruxo materializando-se em sua lareira.
- Mas devíamos arranjar outro modo...
- Você agüenta por algumas horas, Wal...
- Não sei! Estou cansada!
Atravessaram a rua, entraram em um atalho, por dentro de um parque, na rua aonde saíram seguiram para a esquerda até o fim. Depois dobraram a direita e andaram por alguns minutos em um terreno de terra desgastada e cheia de poças de lama. Estavam cada vez mais próximos de King’s Cross.
Sirius se distraía olhando as várias árvores de formatos engraçados, ele estava com um pequeno rasgo na calça à altura do joelho, pois, absorto nos pensamentos, acabou tropeçando e caiu de joelho no asfalto. A ferida sangrava e doía pouco. Eles já haviam entrado no centro de Londres, e caminhavam pela calçada tomando conta para as malas não baterem nos vários postes e bancos. Já era possível ver a grande estação ferroviária King’s Cross.
- Sirius... Prepare o bilhete... Estamos chegando! – advertiu o pai. – Você vai gostar de lá... Vai sim!
- Ah claro, pai!
Enfiou as mãos nos bolsos, da frente e de trás, e logo viu que esquecera o bilhete, o mais importante, em casa. Ele parou e ficou sorrindo abobalhado. Estava sem graça em dizer que teriam que voltar para pegar a passagem.
- Bem... Pai... – disse sem graça.
- Fale... AH! Olhe só! – apontou para um homem e sussurrou no ouvido de Walburga. – É Johnny Falbourt, trabalha comigo no departamento de execução das leis mágicas...
- PAI!
Orion virou-se para o garoto que estava parado com um sorrisinho.
- Pegou a passagem? – perguntou.
- Bem... A passagem não está aqui... – fechou os olhos esperando algo terrível por vir. – Deixei em casa...
A cara de espanto do pai não se comparou ao ódio no rosto da mãe. Eles logo estavam caminhando juntos de volta para o Largo Grimmauld, andavam mais rápido. A mãe resmungava sem parar e Orion estava desapontado com a falta de organização do filho.
- Você tem que aprender a se organizar... Como espera durar um ano em Hogwarts sem organização? – em sua fala, a mãe gesticulava com os braços, irritada. – Vai ser uma vergonha para a Sonserina... Vai ser uma vergonha alguém tão desarrumado como você estar na família Black!
- Isso vai nos atrasar bastante tempo! ACELERANDO O PASSO! – o pai parecia estar evitando aparatar por um triz.
Aparatar era o modo bruxo de se desmaterializar de um lugar e reaparecer no outro, porém em um bairro trouxa isto não era aconselhado. Muito menos para alguém do Ministério que gerenciava a segurança de ambos os mundos. Sirius estava muito calado depois de sua mãe ter brigado com ele. Agora ele se sentia culpado, por atrasar tudo, ainda com a chance de chegar atrasado para o trem.
Estavam na estrada de terra, tudo estava muito quieto. Mais uns dez minutos e eles estariam chegando ao Largo. Porém, bem ao lado de Walburga algo apareceu com um estalo. A bruxa levou um susto e pulou para o lado, se desequilibrou, tentou agarrar Sirius para não cair, mas o resultado foi arrancar a manga da camisa do garoto.
- AH!
Todos se assustaram. Depois de um tempo, quando finalmente se recuperaram, viram uma criatura pequenina que estava um pouco encolhida no chão.
- O QUE VOCÊ FAZ AQUI, MONSTRO? NOS ASSUSTOU! - vociferou Walburga.
- Senhora Black... Monstro estava cuidando da cozinha... Eu limpei a cozinha e subi, limpei seu quarto. Quando entrei no do garoto Black, vi um papelzinho em cima da escrivaninha. Eu me lembrei... Vocês ontem estavam dizendo e balançando tanto este papelzinho que não deixei de notar importância no papelzinho... Quando o vi jogado sobre a escrivaninha eu achei que vocês haviam esquecido! – e estendendo o papelzinho retirado de um pequeno bolso nas vestes muito sujas e gastas do elfo. – Eu o trouxe aqui... Talvez ajudasse, mas nunca tive a intenção de assustar a senhora, senhora Black...
Walburga abriu um sorriso malicioso, agarrou o papelzinho e o entregou a Sirius. Agradeceu brevemente ao elfo e o mandou voltar. Isso poupou tempo suficiente, e logo eles caminhavam rapidamente de volta para King’s Cross.
- Sorte o Monstro ter topado conosco... Senão seria tempo precioso a perder! – disse a bruxa seca.
Cinco minutos depois tinham chegado à estação, pois correram um pouco. Orion estava concentrado nas malas e na gaiola, para que elas continuassem flutuando e invisíveis. Entraram pelas grandes portas de metal.
- Plataforma nove e meia... – disse Sirius lendo o bilhete.
- Sim... Uma plataforma bruxa... É só atravessar a barreira entre as plataformas nove e dez, fazendo isso sairá na nossa plataforma, e lá estará o expresso de Hogwarts. – explicou Orion. E checando o relógio disse: - Bem... Dez e meia, faltam apenas trinta minutos.
Orion desapareceu por um tempo, e só retornou com as malas, já visíveis, empilhadas em um carregador de bagagem. Em cima das malas estava a gaiola de Juliet. Então assim puderam continuar caminhando em direção as plataformas. Já estavam chegando perto da plataforma nove quando escutaram uma voz que reconheceram logo.
- Orion! Walburga! Sirius!
- Olá, Cygnus! – cumprimentou Orion.
Cygnus era irmão de Walburga, e por sinal muito parecido com ela. Um homem alto, com um ar importante conhecido, era calvo e possuía cabelos castanho-escuros e um pouco grisalhos. Atrás dele estava uma garota que aparentava ter uns quinze anos, loira e com as feições finas, parecia estar sempre atenta.
- Como vai, Cygnus? – cumprimentou Walburga abraçando o irmão.
- Bem... Estou trabalhando demais para férias! – e com um sorrisinho disse. – Ciça vai para o quinto ano dela em Hogwarts... Bela já se formou... – e deu um suspiro. – Crescem rápido... E como vai o pequeno Sirius? – disse encarando o garoto.
- Vou bem... – respondeu normalmente.
- Pequeno Sirius... – Narcisa falou com inconfundível ironia.
- É... – e começou a caminhar ao lado da prima, ambos empurrando seus devidos carrinhos.
- E então? Preparado para Hogwarts?
- Bem... Veremos! – disse com um sorriso.
- Lá existem regras. Creio que você não poderá se meter em qualquer lugar quando bem quiser... E você vai se acostumar... Eu me acostumei, vou para o quinto ano... E já estava cansado de ficar em casa... Visitei uma amiga nas férias.
- Hum...
- Eu li no Profeta Diário que o Ministério montou um esquadrão para patrulhar a Inglaterra... – disse a voz de Cygnus que se aproximava.
- É. Vários ataques! Não sei como essas pessoas não conseguem entender o que é segurança! Acho que deveriam ter mais cuidado! – respondeu a voz de Orion.
- Eu acho que o Ministério se intromete demais em uso indevido da magia...
- Eu pretendo ainda aplicar mais alguns feitiços na minha casa... Quero deixá-la o mais seguro o possível! Assim ninguém poderá achá-la! – Orion parecia sério demais. – Eu acho que o Ministério deveria intervir, essas pessoas não sabem o que significa a segurança do mundo bruxo... Assim vamos ter que enviar esquadrões de Obliviação em todos os lugares da Inglaterra!
- Obliviação... Estes trouxas já parecem saber demais. Seria mais fácil elimina-los...
Conversavam baixos para não serem escutados. Apesar de que as pessoas que passavam ficavam encarando-os. E realmente havia um motivo! Suas roupas eram um pouco incomuns. Vestes longas e de tonalidades diferentes, como verde-esmeralda, azul-petróleo e de matérias-primas como veludo, couro de dragão, dentre outras.
O lugar era muito bonito e bem detalhado. Havia grandes pilastras indicando as plataformas e uma barreira logo atrás dela. Sirius logo avistou o número nove.
- E é aqui... – disse Narcisa apontando a barreira. – Bem... Vai ser a primeira vez pra você. É mais fácil sair correndo! Como queira. Mas não pode é ter medo da colisão... Ou esta pode ocorrer – disse com um sorriso. – Antes de qualquer coisa, deixe-me ver se a barra está limpa... Aí você pode ir... – aproximou-se da barreira, olhou para os lados e disse. – Tenho que ter certeza de que estou entrando no lugar certo! – disse sarcasticamente.
A garota adiantou-se e atravessou aquela parede, aparentemente sólida de tijolinhos. Sirius esperou e então a cabeça de Narcisa apareceu em uma parte no meio da barreira. Porém foi muito rápido.
- Me enganei! Tente a outra barreira! – e desapareceu novamente.
Sirius olhou para a prima com desgosto. Olhou para os lados, não vinha ninguém, tomou fôlego, segurou firme o carrinho e se impulsionou contra a barreira. Não sentiu a colisão, quando reabriu os olhos não estava na mesma plataforma. Mas soube na hora que estava no lugar certo por causa de uma placa que informava: “Plataforma 9 ½”. Mais adiante estava Narcisa rindo da cara de espanto de Sirius, pois o garoto simplesmente adorara o lugar.
- Que cara é essa? Parece que nunca viu algo deste tipo...
- E nunca vi! – respondeu seco.
- Veja... Cabine do motorista... Logo ali começam os vagões... Aquele último vagão é a cabine reservada para a gente... – começou a garota.
- Eu sei que aquilo é o bagageiro... Não começa a tentar pregar uma peça em mim não, te conheço muito bem. – riu ao ver a cara de desânimo de sua prima.
- Deixa de ser estraga prazer!
De repente subiu uma névoa de vapor vinda de baixo do trem quando eles passavam pela cabine do motorista, Sirius saltou para o lado, porém Narcisa não mexeu um músculo. Eles continuaram caminhando e empurrando seus carrinhos. Havia muita gente na plataforma, muitos pais e muitos alunos de todas as idades. A maioria se despedia carinhosamente com ternura. Um deles estava chorando enquanto abraçava a mãe. Outros já estavam dentro do trem, acenando para os parentes.
Um dos garotos estava correndo atrás de uma coruja que voava alto demais para ele alcançar, tentara pular para agarrar a pata da ave várias vezes em vão, até que se estabacou no chão, e, por incrível que pareça, a coruja pousou ao lado do garoto piando alto.
- Agora você vem, né? – disse o garoto fechando a cara para a coruja que voltava para dentro de uma gaiola que um bruxo segurava, foi trancada e devolvida ao garoto.
- Xenofílio... Cuidado... – disse uma bruxa para o rapaz que a pouco correra atrás da ave.
- Sim, mãe... – disse com desânimo.
Sirius se distraiu e... BAM! Alguém que vinha correndo como louco acabara de bater o carrinho do garoto e ambas as malas muito parecidas estavam no chão. Sirius berrou com o garoto para ter cuidado, mas este se desculpava demais, ele jogou a gaiola de Juliet para Sirius e sua mala menor. O garoto era da sua altura, magro como ele, porém seus cabelos eram mais claros e ele parecia tímido; seus olhos eram verde-claros.
- Qual desses é o meu e o seu malão? – disse indo ajudar o garoto a pegar as coisas dele.
- O meu tem um selo de um cão... Ah! Pois não... Sou Muliphen...
- Sou Sirius... – cumprimentou com um aperto de mão.
- Esse vai ser meu primeiro ano em Hogwarts... – e sorriu. – Meu irmão Murzim está no terceiro ano... Ele me contou tudo, mal espero... Eu estava correndo porque me perdi dele, mas me desculpe por ter derrubado sua bagagem...
- Também será meu primeiro ano... Seu irmão é de que casa?
- Ele é da Corvinal, eu espero ser de lá também... De qualquer forma foi um prazer conhece-lo, Serius...
- Sirius! – corrigiu o garoto.
- Ah! Bem... Vou atrás de Murzim... – colocou o malão com um selo de um cão em cima do carrinho dele e continuou sua busca deixando Sirius para pegar seu próprio malão, que, para piorar a situação, estava muito pesado.
Sirius olhou para o relógio, faltavam apenas oito minutos para o trem partir. Esperou um pouco, e quando viu a mãe, o pai e seu tio atravessarem a barreira, foi ao encontro deles para se despedir. Orion deu um abraço não muito demorado, Walburga lançou um olhar penetrante e Cygnus nem ao menos se moveu.
Sirius voltou em direção à entrada do Expresso. Foi possível notar um garoto que apareceu pela barreira. O garoto tinha um rosto macilento, cabelos oleosos. Era muito magro. Ele vinha de cara amarrada, com sua mãe logo ao lado. Era uma bruxa magra de rosto pálido e azedo, muito parecida com o filho. De repente o garoto se desembestou a correr, passou com o carrinho pela sua frente de Sirius e quase bateu. Porém não entrou no trem, foi ao encontro de uma garota ruiva muito delicada que discutia com outra garota, as duas deveriam ser irmãs.
-... desculpa, Túnia... – lamentava a garota ruiva.
O garoto de cabelo oleoso parou um pouco distante de onde as duas discutiam e esperou sua mãe. Sirius entrou no trem sem mais demoras, entregou a um homem sua bagagem e a gaiola com Juliet. Como fora sempre proibido de entrar em trens trouxas, ficou olhando cada detalhe daquele trem. Nada demais, tinha várias janelas. Havia um longo corredor e ao lado direito vinham as cabines enfileiradas.
Aquele parecia o dia perfeito. Caminhou pelo corredor à procura de uma cabine. Muitas das cabines já estavam ocupadas. Havia gente em muitas cabines com que Sirius não simpatizou, ele estava decidido que poderia manter uma boa distância dessas pessoas. Logo se deparou com uma quase vazia. Um garoto magro que usava óculos, com cabelos negros e despenteados que cresciam em todas as direções, estava sentado perto da porta. Sirius entrou devagar e perguntou:
- Posso ficar aqui? – e quando o garoto assentiu com a cabeça ele sentou na extremidade oposta, outro banco.
As cabines não eram muito grandes, cabiam umas quatro pessoas, até cinco se organizassem os lugares aonde sentariam. O garoto de óculos ficou um tempo quieto, mas logo puxou assunto.
- Você viu o último jogo de Quadribol?
- Qual?
- Chudley Cannons contra Montrose Magpies!
- Vi.
- Incrível, não? – o garoto parecia ter arranjado uma empolgação do nada.
- Hum, sim... – Sirius sorriu. – Viu o lance dos batedores?
- Decorei! Chamado de Dopplebeater Defence (Dupla-defesa de batedores)... Incrível! E foi assim que o capitão do Chudley foi abatido... Ficou inconsciente por muito tempo...
- É... Foi uma pancada feia!
- Pois é... Ele ficou inconsciente por uns cinco dias no St. Mungus. – havia um tom de desaprovação na voz do garoto diante de Sirius.
- Pior mesmo – continuou sem esperar nenhum comentário de Sirius – foi aquele jogo dos Wimbourne Waps contra os Falmouth Falcons... Aquele time... – e mais uma vez desapontamento na voz.
- Com certeza! Lembro daquele batedor do time... O que entrou no Falcons há dois anos! Qual o nome mesmo?
- Kevin Broadmoor?
- Esse mesmo! Ele deve ter causado muitas faltas!
- Até agora são três suspensões pra ele e pro irmão Carlos. – pigarreou para limpar a garganta, estendeu o braço e disse com uma voz diferente: - Vamos vencer, mas se não pudermos, arrebentamos o adversário! – e Sirius caiu na gargalhada.
- Qual o seu movimento preferido?
- Acho que a Finta de Wronski tinha que ganhar prêmio por criatividade! É minha preferida! – hesitou um instante e depois continuou. – Sabe que foi criada por Josef Wronski, o apanhador do time polonês... Finge que vai, e RECUPERA quando quase está encostando o chão! Incrível! Já tentei fazer com a vassoura do meu pai, acabei a extremidade do cabo da vassoura... Não consegui colar no lugar de novo. No dia eu quebrei o braço tentando fazer isso... Mas... Fazer o que?
Sirius riu por um instante, depois se calou novamente, pois a porta da cabine abriu-se rapidamente e uma garota ruiva, a mesma que vira na plataforma discutindo com a irmã, entrou e sentou-se ao lado de Sirius, bem perto da janela. Seus olhos estavam lacrimejando, ela encostou a cabeça no vidro e ficou calada. O garoto diante dele parecia nem ter notado, continuava falando de lances de Quadribol, mas Sirius se levantou e fechou a porta.
- E a formação de ataque Hawkshead? Usaram uma dessas em outro jogo dos Montrose Magpies. Conseguiu fazer efeito intimidando o adversário que teve que recuar e foi marcado um ponto, pois o goleiro distraiu-se com um balaço vindo debaixo... Eles são muito bem organizados!
- Eu torço pelos Montrose Magpies. São os melhores!
- Também acho! Já voou na vassoura? – disse de repente.
- Ah não... Não tenho lugar para praticar, e mesmo assim não sou muito fã de vassouras... Vejo só os jogos mesmo.
- Entendo... – e completou. – Eu já montei algumas vezes. Principalmente quando meu pai não está em casa, e como eu disse consegui quebrar a extremidade do cabo da vassoura... Sabe algum feitiço que possa concertar isso?
- Creio que não.
- Conhece o Passe de Plumpton? – disse retornando ao assunto.
- Não.
- Bem. Eu não vi pessoalmente. Porém ocorreu em um jogo por volta de 1921, Rodrigo Plumpton usou este passe. Baseia-se em recolher o pomo para dentro da manga! Ninguém conseguiu fazer tal passe desde 1921, então batizaram essa jogada em sua homenagem. – e aproximou-se mais de Sirius. – Muitos dizem que foi sem querer...
- E o que acha de Hogwarts? – Sirius queria mudar de assunto.
- Não sei! Meu pai me contou várias histórias de lá... Ele era um dos melhores alunos. Porém sofreu algumas detenções... Disse que uma vez o penduraram de cabeça para baixo trancado dentro de um armário de vassouras!
- Nossa... O método é tão medieval assim?
- Não sei... Só testando para saber. – e acrescentou um sorriso malicioso.
Um solavanco assustou todos os presentes naquela cabine, indicando que o trem começara a andar. O garoto de óculos se levantou, abriu a janela e espiou para fora, chegou a acenar para alguém e dizer: “Nos encontramos no próximo semestre!” Logo estava de volta em seu lugar. Sirius olhou pela janela e viu que estavam mesmo em movimento. Pouco tempo depois estavam deixando a estação e entrando em um cenário campestre.
- O que você faz para matar o tempo? – perguntou o garoto entediado. – Principalmente quando você está entediado...
Sirius se levantou para falar no ouvido do outro: “Vejo revistas das mulheres trouxas”. O outro desatou a rir. Quando se recuperou disse.
- Também gosto! Acalma tudo que você possa imaginar! Até nossas almas! – falou em tom irônico.
- Eu normalmente vou a um jornaleiro perto de casa... Mas eu as escondo, minha mãe não gosta que eu ande com revistas dessas pela casa!
- É... Pais!
- Imagine só nós com elas, na realidade, bem ao nosso lado... – disse ainda sendo sarcástico. – Massageando nossas costas! AH! – e fez uma imitação de alívio.
Os dois começaram a rir alto. A garota se espremeu ainda mais no canto, olhando para a fora da janela. Escorreu uma lágrima pelo seu rosto e encostou a cabeça no vidro novamente. A bagunça que os outros dois faziam não a atrapalhava, ela nem estava escutando.
Mais uma vez a porta da cabine foi aberta. O garoto de rosto macilento e cabelo oleoso entrou já de vestes trocadas, talvez quisesse se livrar das roupas trouxas, e, sem demoras, sentou de fronte para a menina de cabelos ruivos. Esta lançou um olhar penetrante no garoto recém-chegado e voltou-se novamente para a janela.
- Eu não quero falar com você! – disse com uma voz apertada e com pausa entre as palavras.
- Por que não? – perguntou o garoto.
Sirius não mais estava prestando atenção no garoto de óculos, olhava atentamente para os dois que agora estavam falando. Vira os dois na plataforma.
- Túnia me od... odeia. Porque vimos aquela carta de Dumbledore.
- E daí? – perguntou insolente.
- Ela é minha irmã! – seu olhar era de imenso desgosto.
- Ela é só uma... – refreou-se depressa. A garota, ocupada em secar os olhos discretamente, não o ouviu. – Mas nós vamos! – exclamou incapaz de conter a exaltação na voz. – Isso é o que conta! Estamos viajando para Hogwarts!
Ela concordou, enxugando os olhos, e, apesar de não querer, deu um meio sorriso.
- É melhor você entrar para a Sonserina! – disse o garoto animado acabando com um silêncio momentâneo.
- Sonserina?
O rapaz de óculos que estava sentado na frente de Sirius, não mostrara o mínimo interesse aos outros dois, até ouvir aquilo. Ele olhou intensamente para o garoto que disse e depois para a garota ruiva.
- Quem quer ir para a Sonserina? Acho que eu desistiria da escola, você não? – perguntou a Sirius que no momento estava esparramado no banco de fronte a ele. Sirius não riu.
- Toda a minha família foi da Sonserina.
- Caramba! – replicou o garoto. -, e eu que pensei que você fosse legal!
Sirius riu.
- Talvez eu quebre a tradição. Para qual você iria se pudesse escolher?
O garoto ergueu uma espada invisível diante deles.
- “Grifinória, a morada dos destemidos!” Como meu pai.
O menino que conversava com a ruiva deu um muxoxo de descaso. Tiago se virou para ele.
- Algum problema?
- Não – retrucou, embora seu sorrisinho de deboche dissesse o contrário. – Se você prefere ter mais músculo do que cérebro...
- E para onde está esperando ir, uma vez que não tem nenhum dos dois? – interpôs Sirius.
O garoto diante dele deu gostosas gargalhadas ao ver a cara de desgosto do menino com cabelos oleosos. A garota ruiva empertigou-se, ruborizada, olhou para os outros dois que riam com ar de desagrado.
- Vamos, Severo, vamos procurar outro compartimento.
- Oooooooo...
O garoto de óculos de adiantou pondo o pé na frente de Severo para este cair. O garoto tropeçou e saiu cambaleando da cabine, seguido pela garota ruiva. O outro falou em voz alta em bem clara:
- A gente se vê, ranhoso! – e voltou-se para o seu compartimento, agora só ele e Sirius ali. Fechou a porta da cabine novamente.
- Grifinória... – concluiu Sirius sorrindo. – Eu gostaria de poder escolher...
- Mas só saberá em que casa cairá quando passar pelo teste de seleção! Nem sempre é por causa de tradições familiares que você vai para a mesma casa que a família freqüenta há gerações...
- Pelo menos eu espero que não!
- Afinal... Quem era aquele garoto?
- Ranhoso! Não viu, não? – e Sirius riu. – Eu gritei e ele olhou para trás para ver quem o chamava!
- E você? Como se chama? – Sirius ainda não tinha se lembrado de perguntar o nome do garoto que estava sentado logo ali diante dele, com quem conversava havia quase quinze minutos.
- Tiago Potter. – respondeu com um sorriso.
- Eu sou Sirius Black... A família Black, da Mui antiga casa dos Black... – disse fazendo tom de falsa importância e com uma exagerada reverência.
- Não conheço não.
- E daí? Quem tem que conhecer é a minha família.
- Mas como você faz para esconder as revistas das mulheres trouxas?
- Debaixo da minha cama, em um buraco na parede que é coberto por parte da mesma.
- Eu enfio tudo no final das gavetas... – explicou Tiago.
- Assim quando sua mãe for arrumar as gavetas ela vai achá-las! – advertiu Sirius ficando sério.
- E daí? Eu não vou estar lá mesmo quando ela achar! Talvez ela tenha esquecido até o final do ano se achar agora em Setembro!
Sirius ouviu uma porta sendo aberta e uma voz perguntando: “Posso ficar aqui? Me expulsaram da outra cabine.” E a resposta veio de uma voz um pouco enfraquecida, de alguém que desviara a concentração de algo, o garoto sentou em um banco, pois houve um rangido. Sirius conhecia aquela voz, mas não se lembrou de onde. Seus pensamentos saíram daquela cabine para o dia em que fora ao Beco Diagonal, então se lembrou: Pedro Pettigrew. Era a mesma voz que ouvira no Beco.
Sim, era Pedro. Este, no entanto, se acomodava no assento, suas pernas quase não dobravam direito, pois eram curtas demais. Ele olhava aquele garoto com aparência um pouco doentia, que estava absorto em uma leitura. Pedro fitou a capa do livro, que parecia muito gasto, e leu: Luzes da Alma. Ele ficou muito quieto por um tempo. Então o garoto abaixou o livro e sorriu para ele.
- Por qual motivo iriam te expulsar de uma cabine?
- Eu estava falando demais, segundo eles... E simplesmente me jogaram no corredor...
- Nossa... Que anti-social essas pessoas. Bem... Qual o seu nome?
- Pedro Pett... Pettigrew. – disse em uma voz manhosa.
- Sou Lupin... Remo John Lupin.

Voltando aos pensamentos de Sirius na cabine ao lado, ele escutava atentamente a conversa. Ele apurou os ouvidos para tentar escutar cada ruído. E seus pensamentos não estavam mais ali, tanto que Tiago parecia estar falando sozinho.
- Aquela garota ruiva estava tão triste... O que será que houve com ela? Achei ela bonitinha. – e sorriu.
Contudo, não houve resposta. Sirius nem ao menos escutara.
- Hein? – perguntou Tiago.
A voz parecia entrar por um ouvido e sair pelo outro.
- Você é surdo?
- Hum-hum – foi a afirmação débil do garoto que nem percebera o que estava falando, ainda escutava a conversa da cabine ao lado.
- Ah... Foi o que eu pensei... Conhece algum jogo de Quadribol que realmente tenha sido interessante... Eu me lembro que vi um, que o apanhador fez o maior número de passes e manobras possíveis, mas não consigo me lembrar qual jogo foi... – disse Tiago imitando um verdadeiro apanhador e encenando os giros e outras manobras que fazia com a vassoura em vão.
- É... Deve ser. – respondeu Sirius, que ao menos prestava atenção ao colega.
“Espero ir pra Grifinória... Meus pais não se importam muito com qual a casa que eu caia, só não seguir o caminho errado...” – disse a voz de Pedro.
“Eu definitivamente também não me importo... Minha mãe está doente demais, e foi um esforço me mandar pra Hogwarts...” – disse a outra voz, que pertencia a Lupin.
“Entendo... Melhoras para ela, ok?”
- Você está bem?
- Devo estar... – as respostas sem pensar de Sirius estavam deixando Tiago irritado.
- Você é retardado? – perguntou o outro testando o colega, queria ver a resposta.
- Sim, deve ser...
- É claro...
Tiago se levantou, foi até a porta, abriu-a e a bateu com tanta força que o vidro de espatifou. Sirius deu um salto de susto, quase que subiu em cima do outro banco. Como se tivessem colocado uma agulha em seu assento, e o garoto sentara em cima.
- Ops...
- Por que isso? – perguntou Sirius já se recuperando.
- Sei lá... Esse vidro já estava meio quebrado mesmo...
A porta da cabine vizinha se abriu e o garoto que conversava com Pedro estava de varinha em mãos com uma expressão normal. Olhou a porta e os cacos de vidro, depois de Sirius para Tiago. Foi possível ver o garoto era pálido, e tinha um sorriso forçado, como que quisesse tornar o ambiente mais agradável.
- Reparo! – disse apontando a varinha para os cacos e estes se juntaram e voltaram à porta. – Bem... Isso pode ter assustado alguém, espero que não tenha que quebrar outra porta...
“Que diabos aconteceu, Remo?” – perguntou a voz trêmula de Pedro.
“Nada demais...” – respondeu com calma.
Sirius sentou-se no banco de sua cabine encarando Tiago.
- Qual o seu problema?
- O meu? Qual o seu problema? Parece um débil mental!
- Isso realmente não te interessa... – foi a resposta seca de Sirius.
E ficaram um encarando o outro sem dizer nada por muito tempo. Sirius voltou sua atenção para a cabine ao lado.

- Remo... Você me parece muito inteligente! Como sabe esses feitiços todos? – perguntou Pedro.
- Nada demais. São os feitiços mais simples. Eu estava lendo os livros nas férias... Não tinha mais nada para fazer...
- Hum... Mas assim você vai se tornar o melhor aluno fácil! – havia excitação na voz de Pedro.
- Eu prefiro ser apenas um bom aluno! – concluiu fechando o livro e deixando-o de lado.
Pedro notou que as roupas que Lupin usava eram gastas, e havia alguns rasgos em algumas partes. Ele olhou para o rosto do garoto, era possível ver algumas cicatrizes de cortes que cruzavam seu rosto diagonalmente. O garotinho se acomodou no banco e finalmente perguntou:
- O que são estas cicatrizes? – disse apontando para os finos cortes no rosto de Remo.
- Um cachorro me arranhou... Faz algum tempo, porém ainda não cicatrizou...
- Deve ter doído! – disse se contorcendo.
- É...
- Você sabe como vamos realmente chegar a Hogwarts? Segundo meu pai: nenhuma ferrovia passa por lá.
- Não sei não. Deve haver algum outro meio de transporte.
Remo virou-se para a janela e ficou olhando a paisagem campestre. Tudo passava muito rápido. Pedro já estava sentindo fome quando perguntou:
- Quando será que vamos chegar? Estou com fome!
Lupin riu.

Sirius escutou uma barulheira vinda do corredor e abriu a porta para ver. Uma mulher sorridente empurrava um carrinho com os mais deferentes doces já visto. Ela olhou a cabine e perguntou com uma voz firme e suave:
- Querem doces, queridos?
- Quero... Três bolos de caldeirão, três tortinhas de abóbora e cinco sapos de chocolate. – disse Sirius que já estava diante do carrinho, tirou algumas moedas que havia guardado no bolso e entregou para a bruxa.
Tiago pediu algumas caixinhas de feijõezinhos de todos os sabores, tortinhas de abóbora e varinhas de alcaçuz. Sentou-se novamente abrindo a caixinha dos feijõezinhos.
- Senhora! Senhora! – gritou uma voz no final do corredor.
Sirius e a mulher do carrinho viraram-se para trás. Muliphen vinha correndo com algo na mão. Quando chegou perto da moça, respirou fundo e entregou a pequena embalagem que segurava.
- Eu havia pedido bolo de caldeirão... Não tortinha de abóbora.
- Desculpe-me, querido. – e entregou um bolo de caldeirão a ele.
- Ah! Olá, Sirius! – cumprimentou quando percebeu que o colega estava ali.
- Oi.
- Quer vir para a minha cabine?
- Tudo bem.
E para piorar o ânimo de Tiago, Sirius saiu sem mais demoras. Porém, antes de virar as costas para o outro colega, este havia batido a porta bem na cara de Sirius, e mais uma vez o vidro havia quebrado. O garoto cobriu o rosto caso algum caco de vidro voasse na direção dele, e foi embora, seguindo Muliphen pelo corredor. Ele o levou para uma cabine que era bem longe da que ele estava, era perto da entrada do trem.
- Conseguiu trocar o bolo, Lifen? – perguntou um garoto alto, forte com cabelos um castanho-claro, algumas sardas e olhos castanho-claros.
- Sim, Murzim... – e virando-se para Sirius disse: - Esse é Murzim, meu irmão.
- Sou Sirius. Prazer! – Sirius estendeu a mão para o garoto e este a apertou fortemente com um sorriso.
- Murzim sabe jogar Quadribol muito bem, sabe? – começou Muliphen. – Ele vai se inscrever para apanhador este ano. Quem sabe você vira o apanhador da Corvinal, Mur?
- Que bom. – disse Sirius em um sorriso suave.
- Espero ficar na Corvinal!E você Sirius? – Muliphen fez pose.
- Não sei... Toda a geração da minha família até agora tem sido da Sonserina.
- SONSERINA? – Murzim pareceu estremecer.
- É... Algum problema?
- Mur não gosta de sonserinos. – murmurou Muliphen no ouvido de Sirius quando o irmão se virou para olhar pela janela.
- Mas não sei se seguirei a tradição da família... Discuto com a minha mãe à beça! – retirou um sapo de chocolate do bolso. - Querem?
- Não... Obrigado. – agradeceu Murzim voltando-se para a paisagem.
Por um bom tempo eles ficaram conversando. Passarem-se horas, o assunto principal era Hogwarts. Murzim estava mais descontraído. Estava começando a entardecer. O rapaz contou várias histórias sobre os professores, alunos, detenções, proibições e Quadribol! Ele parecia ser muito inteligente, por isso fora para a Corvinal.
- Que horas são? – perguntou Sirius, quando notou que havia começado a escurecer.
- Não sei. – disseram os dois irmãos ao mesmo tempo.
- Há, mais ou menos, quanto tempo estamos viajando? – Sirius estava começando a achar estranho que ainda não tivessem chegado.
- Umas seis horas... Por quê?
- Pensei que a viagem fosse mais rápida...
- Ela demora. Hogwarts não é perto não! Falando nisso, vou trocar minhas vestes. – disse Murzim se levantando e saindo da cabine.
- Eu vou também.
Sirius se levantou também, e Muliphen acabou sozinho na cabine. Porém Sirius não iria mudar de roupa, ele queria voltar para a cabine de Tiago. Não achara muito certo virar as costas para o colega, e foi ele que não estava prestando atenção no que o outro falara, então parte era sua culpa. O assunto na cabine de Muliphen também havia acabado.
Quando chegou a cabine, não havia mais ninguém. Também ele não esperava que o colega iria ficar sozinho ali, sem ter o que fazer, entediado. Viu apenas algumas caixinhas de sapos de chocolate abertas e jogadas em cima do banco. Sirius sentou ali mesmo despreocupado. Deitou-se naquele banco, olhou a porta com o vidro ainda quebrado, fechou os olhos e dormiu.
Estava caminhando na escuridão novamente. O mesmo cão negro e imenso, destacado por uma aura branca, estava parado diante dele, abanando o rabo. Latiu brevemente e voltou-se para a escuridão, como se estivesse querendo que Sirius o seguisse, e seguiu. Até chegarem a um nada, onde o cachorro estava parecendo querer brincar. Abanava o rabo alegremente e pulava para cá e para lá, porém era grande demais. Quando Sirius estendeu a mãe para acariciar seu focinho sentiu o mesmo calor em seu corpo, e, em um piscar de olhos, estava diante dele mesmo, encarando sua imagem no espelho d’água. Desta vez ele sentiu uma pressão nas costas que o empurrou para dentro do lago e... acordou.
Realmente estava molhado, seu rosto estava molhado. Olhou para cima e viu Tiago segurando uma garrafinha com água diante de seu rosto. Sirius se ajeitou no banco e se sentou.
- Por que fez isso? – perguntou estressado.
- Para avisar que ainda falta uma hora e meia para chegar! – disse ironicamente.
Apesar de ter acabado de ser acordado, Sirius não pode deixar de rir.
- Eu estava distraído naquela hora...
- Eu sei. Depois invadi duas cabines... Comprei água com a mulher do carrinho. Quer?- perguntou oferecendo a garrafa.
- Não, obrigado.
- Na realidade eu não bem “comprei”... Eu peguei do carrinho dela, mas deixei os sicles no lugar.
- Isso é a água suja que ela usa para limpar as cabines... - disse Sirius com um sorrisinho.
- Então toma! – Tiago jogou a garrafa aberta em cima de Sirius, molhando mais suas roupas, então ele se levantou e concluiu.
- Vou... trocar minhas vestes pela da escola.
- Vou molhar a outra! – e deu uma risada.

Quando Sirius voltara, já de vestes trocadas, Tiago estava conversando com outro garoto que já saía da cabine. Ele viu o garoto de óculos ainda com a garrafa com água na mão
- Nem pense em jogar isso em mim!
- Não... Aquele garoto é o atual artilheiro da Grifinória, ele é do quinto ano... Álvaro Durfill.
- Hum...
- Eu perguntei se alunos do primeiro ano podem se inscrever para Quadribol. E ele disse que não... DROGA!
- Calma... Talvez eles possam te aceitar ano que vem, sei lá! – disse Sirius, tentando reconfortar o colega. – Olha. Está começando a anoitecer. – mudou de assunto rápido apontando para a janela.
“Estamos quase lá!” – disse a voz de Pedro vindo da cabine ao lado.
“É...”
Sirius continuou conversando com Tiago, a excitação era grande. Até escutarem uma voz do maquinista: “Chegada na estação de Hogsmead daqui a quinze minutos!”
- Hogsmead? – perguntou Tiago.
Sirius levantou os ombros, não fazia idéia do que era Hogsmead ou onde ficava, mas estavam chegando. Tiago se levantou para trocar de roupa, e voltou quase dez minutos depois, dizendo que não sabia qual daqueles era seu malão. A voz avisou:
- Chegada na estação de Hogsmead daqui a cinco minutos!
Sirius olhou pela janela. Viu ao longe luzes de casas acesas passando muito rápido. Entraram em um lugar cheio de árvores densas, e alguns minutos depois estavam parando em uma estação ferroviária.
As portas das cabines foram abertas e os alunos de todas as idades saíram, Sirius saiu logo depois de Tiago, e quando Pedro o avistou chamou-o.
- Sirius, Sirius! Tudo bem? Não te vi na estação! – sua excitação era tanta, que parecia terem o ligado em uma tomada.
- Estou bem... Eu cheguei um pouco depois...
- Eu conheci o Lupin. Ele é legal! Oi, Lupin! – disse acenando para o garoto que concertara o vidro da cabine de Sirius.
- Ele parece ser legal... Mas você pode guardar sua excitação para quando chegarmos lá?
- AH! Tudo bem...
- Alunos do primeiro ano! Alunos do primeiro ano sigam-me! – disse uma voz.
Sirius se virou e deparou com um homem muito alto que segurava uma lanterna gigantesca. O homem era tão grande, era quase o triplo da altura e largura de Sirius. Ele possuía uma barba não muito comprida e cabelos muito despenteados. Ele não diria isso, mas achou que o homem possuía um aspecto um pouco selvagem. Usava roupas gastas e muito largas. Seu sapato deveria ter sido feito especialmente para ele, pois nunca vira um pé tão grande. O homem chamou novamente pelos alunos do primeiro ano que faziam fila na sua frente.
- O que aconteceu com Ogg? Morreu por acaso? – berrou uma voz de um adolescente alto com um cabelo negro com um aspecto maligno.
- Não te interessa, Mulciber! – respondeu o homem com uma voz grave.
- Pessoal do primeiro ano... Sigam-me. – disse bondosamente aos garotos que estavam diante dele.
Os alunos o seguiram o homem grande. Entraram em um caminho de aparência íngreme e estreita. Tudo estava escuro, o caminho se abria no meio de árvores muito altas e densas, e cada vez parecia que estavam se aprofundando mais naquela floresta. Sirius ouviu barulho de cascos.
- Por que só nós estamos vindo por aqui? – perguntou um garoto atrás de Sirius.
- Os alunos do primeiro ano são guiados por aqui, pois...
Ouviu-se um uivo bem alto que fez Pedro se encolher completamente. O homem estendeu a mão em sinal para pararem. Ele avançou um pouco na floresta, entrou por umas árvores e desapareceu. Voltou um minuto depois como se nada tivesse acontecido.
- Foram apenas lobisomens... Podemos continuar.
Ele parecia ter esquecido de responder a pergunta, e o resto da turma ficara tão apavorada que nem ousou perguntar novamente. Continuaram o caminho pela mata. De repente, o caminho se abre em um imenso lado escuro. Encarrapitado em cima de um penhasco na margem oposta, estava o castelo. O castelo possuía várias torres e torrinhas, todas estavam com as janelas acesas e cintilantes. Logo à frente, na margem do lago, havia uma flotilha de barcos.
- Muito bem. Em cada barquinho cabe quatro de vocês. – e indicou os barquinhos. – Escolham os seus!
E assim eles ocuparam os vários barquinhos. Sendo que Sirius ficou no mesmo que Tiago, Muliphen e uma garota. O homem tinha seu próprio barquinho, sendo que ninguém mais caberia ali. De repente, quando todos já estavam acomodados, a flotilha começou a navegar sozinha em direção ao castelo.
Começou a chover.
- Olha que fantástico! – Muliphen estava admirado pela beleza do castelo.
- Incrível mesmo! – Sirius concordou.
- Está... Chovendo! – exclamou Tiago ao sentir a chuva.
A imagem do castelo refletida sobre a água era linda. Cada detalhe parecia um verdadeiro espelho. Sirius por um instante pensou que vira sua imagem, no sonho, refletida em um lago muito parecido com aquele. Não! Era aquele lago!
Cada barquinho possuía uma lanterna que iluminava um pouco do caminho à frente. Todos estavam admirados com a grandiosidade do local, e pensar que só faria aquele percurso uma vez na vida. Tiago brincava com sua imagem refletida na água. As imagens começaram a ficar distorcidas, até a do castelo. A chuva estava ficando cada vez mais forte.
Quando a flotilha chegou à outra margem ele saíram correndo, aos tropeços. Um garoto caiu em uma poça de lama e estava tentando se limpar. Sirius correu para a entrada do castelo, pois não queria se molhar todo. Tiago o seguiu. Muliphen já estava ensopado, e Pedro fora o primeiro a subir a escadaria de mármore para se abrigar debaixo do teto que cobria a entrada do castelo.
O homem encaminhou-se em direção a porta, porém esta fora aberta antes, e aparecera uma senhora de vestes azul-esverdeado. Ela tinha um rosto severo, e só sua presença já espantava a indisciplina.
- Alunos do primeiro ano, Profª McGonagall – informou o homem grande.
- Obrigado, Hagrid. Deixe que eu cuido deles a partir daqui...
Ela escancarou a porta e os alunos firam a imensidade do saguão. As paredes eram e pedra e iluminada por archotes flamejantes. O teto era alto demais. O lugar era muito detalhado, havia vidraças no alto das paredes. E logo adiante havia uma grande escadaria de mármore.
Acompanharam a professora. Era possível ouvir vozes vindas de uma porta logo à direita. Porém a professora os levou para uma sala vazia ao lado do saguão. Do lado da outra porta deveriam estar reunidos todos os outros alunos, porém eles se agruparam na sala indicada pela professora.
- Sejam bem-vindos a Hogwarts. – disse quebrando o silêncio. – O banquete do ano letivo começará logo, mas antes de sentarem às mesas, vocês serão selecionados para suas casas. A Seleção é uma cerimônia muito importante, pois, enquanto estiverem aqui, as casas para as quais vocês foram designados servirão como sua moradia. Vocês estudarão com os alunos de sua casa, e poderá passar o tempo livre em seus devidos salões comunais.
- Ao todo são quatro casas: Grifinória, Sonserina, Lufa-Lufa e Corvinal. Cada casa tem sua história, e cada uma gerou vários bruxos muito conhecidos e extraordinários. Cada casa tem seu nome em homenagem aos bruxos fundadores de Hogwarts, procurem ler Hogwarts: Uma história. Enquanto estiverem aqui, seus acertos e trabalho duro renderão pontos para suas casas, assim como seus erros a farão perder. No fim do ano há uma cerimônia, e a casa que obter maior pontuação o ano todo ganhará um troféu, motivo de muito orgulho e honra.
Pigarreou e logo voltou a falar:
- A cerimônia começará daqui a alguns minutos... Sugiro que se arrumem o melhor que puderem, pois será na presença e toda a escola. – e completou. – Voltarei dentro de alguns minutos.
- AH! Como vou me arrumar? Estou cheio de lama! – disse um dos garotos logo após a professora sair.
Sirius ajeitou as vestes, toda amarrotada no corre-corre para não se molhar com a chuva. Arrumou o penteado, vários outros também estavam se arrumando. Tiago continuava com os cabelos desgrenhados e óculos embaçados, e não moveu um músculo, ficou apenas esperando, parecendo entediado, mas, no fundo, ele estava nervoso.
Todos comentavam nervosos sobre a cerimônia.
- Eu vou para a Grifinória! – dizia um.
- Eu vou para a Lufa-Lufa! – disse outro.
- Lufa-Lufa só tem imbecil! – disse outra voz.
- O que acha da Sonserina? – perguntou um.
- Muitos bruxos malignos, pelo menos a maioria deles, estudaram lá... – sussurrou uma voz, e todos se calaram.
A excitação aumentava a cada segundo, Pedro chegava a tremer.
A professora entrou novamente na sala. Olhou para o garoto cheio de lama, ergue a varinha e sussurrou algo. A parte mais grossa da lama sumiu, e então ela disse:
- Prontos? Então, sigam-me! – e saiu da sala. – A cerimônia de seleção começará!
Seguida pelos alunos, dirigiu-se para as portas que levavam as vozes e abriu-as. Havia várias caras sorridentes que os olhavam. Todos os alunos da escola estavam sentados em compridas mesas que cruzavam o salão. Eram quatro mesas de madeira, e, ao final, havia uma mesa que fora colocada horizontalmente e ali estavam os bruxos mais velhos e experientes, com certeza eram os professores.
Eram muitos aluno olhando os recém-chegados. Em cima das mesas havia vários pratos dispostos diante dos alunos, porém estes estavam vazios. Na realidade não havia comida alguma em cima da mesa.
Nas paredes estavam localizadas janelas que iam até o teto. Era possível ver as gotas da chuva escorrendo pelas vidraças, os relâmpagos e seus clarões estavam muito visíveis, tanto lá os lá de fora, como os de dentro do salão. O teto parecia um céu enevoado e noturno, onde estava preste a chover. Parecia real, como se aquele salão não tivesse um teto visível. Vários raios cruzavam as nuvens quase ao mesmo tempo em que ocorria lá fora, e vinha o estrondo.
Várias velas acesas estavam dispostas sobre os alunos, flutuando. E ainda havia alguns archotes presos às paredes. Estas pareciam envelhecidas, como de reais castelos medievais, dando um aspecto de nobreza.
Os alunos se encantaram com tudo. Avançaram devagarinho por entre duas mesas longas, as várias cabeças virando em suas direções. Eles queriam ter certeza de que tudo era real. Eles queriam provar um pouco da magia do lugar. Estavam radiantes, pareciam ter esquecido os problemas, estavam descontraídos. Parecia um sonho sendo realizado. Pararam enfileirados ali.
A profª McGonagall pegou um banquinho e pôs no centro de uma pequena elevação do solo, diante da mesa dos professores. Um senhor velho, de barba e cabelos muito compridos e um pouco prateados. Estava sentado em uma cadeira alta, e ele observava os alunos com os seus olhos azul-elétrico e penetrantes através de um óculos pequenino que estava ligeiramente na ponta de seu comprido e um pouco torto nariz.
A professora voltou com um chapéu velho e remendado, com uma grande aba, e o colocou em cima do banquinho. O chapéu estremeceu, uma boca surgiu na ligação da aba com a parte superior e começou a cantar:

Sejam bem-vindos, eu diria,
Mas antes escutem o que vou dizer:
Das melhores aparências eu posso não ter,
Mas tenho um dever a cumprir,
Vou lhes mostrar em qual casa podem cair.
Um pouco de minha história contarei,
Então ao tempo voltarei.
Tudo começa com os quatro fundadores,
Eles fizeram façanhas derrotando os horrores,
Unidos uma vez fizeram um acordo:
Uma escola, criariam
E aos alunos passariam
Suas experiências e sabedoria.
Assim foi feito,
Tudo precisava ser perfeito.
Godric abrigaria os corajosos,
Para Huflepuff ficavam os amorosos,
Rawenclaw gostava de inteligência,
Porém Slytherin era diferente,
Ele só aceitaria os de sangue-puros.
Mas havia um porém!
Como dividir os muitos alunos?
E assim eu fui criado.
Saberei exatamente seu destino.
Uma vez em suas cabeças
É suficiente para saber
Se você é sério e cumpre o dever,
Direi então em qual casa de Hogwarts você ficará.
Seja a Grifinória,
Cujos que estão lá esperam a glória.
Destemidos, enfrentarão o perigo que bem aparecer.
A Corvinal é uma boa opção.
Estudantes inteligentes ali estarão
Usando, em vez de músculos, lógica e razão.
Pode ser na Lufa-Lufa onde você irá morar,
Onde justiça e lealdade há.
É preciso ser sincero e ter paciência.
A Sonserina pode ser sua morada,
Onde a astúcia é bem usada
Para os mais distintos fins alcançar.
E as quatro casas os esperam.
Nem sempre é sua escolha que conta,
Então venham e me experimentem.
Não se arrependam
Pois aqui quando uma decisão é tomada,
Correr atrás pode não adiantar nada.
Não se acanhem,
E eu tomarei a melhor das decisões!


Após o chapéu voltar a ficar calado, a professora puxou um pergaminho do bolso e o estendeu diante de si. Desceu os olhos por uma lista que ali estava e disse:
- Vamos começar então a cerimônia de seleção. Vou chamá-los pelo nome, então, ao chamar seus nomes vão sentando neste banquinho e vou colocar o chapéu em suas cabeças. – pigarreou. – Abbott, Jorge!
O garoto, que antes estivera sujo de lama, empurrou alguns outros para passar, dirigiu-se para a professora e ela indicou o banquinho, retirando antes o chapéu dali. O garoto já estava sentando quando ela pôs o chapéu sobre a cabeça do garoto.
- Lufa-Lufa! – anunciou alto, e o garoto seguiu para a mesa de onde aplaudiram.
- Amadeus, Lisa! – chamou a professora.
- Sonserina! – berrou o chapéu ao ser posto na cabeça da garota.
A garota não deu um sorriso, foi caminhando com passos pesados, um semblante sério, em direção a mesa da Sonserina.
- Black, Sirius! – chamou a professora.
Sirius adiantou-se, caminhando por entre os alunos que estavam na sua frente. Sentou-se no banquinho e a professora pôs o chapéu em sue cabeça. Ele ficou um pouco largo. Então ele ficou nervoso, não sabia em qual casa cairia. Porém o chapéu não demorou, e nem hesitou quando anunciou:
- GRIFINÓRIA!
Sirius não havia seguido a tradição da família. Abriu um enorme sorriso ao ouvir a voz do chapéu. A professora retirou-o de sua cabeça e o garoto foi correndo para a mesa da Grifinória, aonde aplaudiam felizes. Ele não podia acreditar que fora o único, até agora, da família a ir para a Grifinória. Porém, algo o assombrou, ele imaginou a cara de sua mãe ao saber que ele se juntara aos “traidores”. Ele olhou para a mesa da Sonserina e viu Narcisa o encarando, fuzilando-o com os lhos, ela parecia bufar de raiva. Sirius nem percebeu o chapéu selecionando mais três alunos.
- Evans, Lílian!
Então viu a mesma garota ruiva que antes entrara em sua cabine. Ela andou até o banquinho com as pernas trêmulas. O chapéu foi colocado em sua cabeça, o chapéu mal tocou em sua cabeça e anunciou:
- Grifinória!
O pessoal da Grifinória aplaudiu calorosamente. A garota correu para sua mesa, antes lançando um olhar para trás, para Severo. Sirius escorregou no banco para deixar a garota sentar. Quando a garota reconheceu Sirius, virou-lhe as costas.
- Oi... – disse Sirius em vão, enquanto Davi Gudgeon ia para a Lufa-Lufa.
- Grifinória! – disse para si, no fundo ela não sabia se estava feliz ou não.
Sirius sorriu, porém se virou ao ouvir um nome ser anunciado:
- Howard, Muliphen!
- CORVINAL! – anunciou o chapéu.
Sirius viu Murzim se levantar para aplaudir e bateu no lugar ao seu lado, para seu irmão sentar. O garoto se virou para Sirius e levantou os polegares positivamente.
- Lupin, Remo! – e o garoto que estivera na cabine conversando com Pedro se adiantou.
- Grifinória! – berrou o chapéu.
Lupin se adiantou para a mesa da Grifinória e sentou ao lado do monitor. Depois que Maria McDonald fora selecionada para a Grifinória, sentando ao lado de Lílian, e a professora anunciou mais dois para a Corvinal, o garoto ao lado de Sirius o cutucou.
- Prazer! Vi a cara de seus parentes! Sou Lance Holfknight, quinto ano... Percebi o olhar frio de Narcisa em sua direção... São parentes, não?
- É minha prima. – respondeu Sirius quando Augusto McGregory entrava para a Lufa-Lufa.
- Ela é muito bonita... – e soltou um suspiro. – Mas ela dá ataque quando chego perto dela!
- Você é nascido trouxa?
- Sou sim, por quê?
- Ela é preservadora do sangue. Eu não ligo para isso. – concluiu.
Sirius ficou olhando as pessoas sendo selecionadas. Marlene McKinnon para a Grifinória também, Josh Pattricks para a Sonserina, outro para a Lufa-Lufa.
- Pettigrew, Pedro! – exclamou McGonagall.
Pedro estremeceu ao escutar seu nome, ele foi até o banquinho encolhido. O chapéu cobriu quase todo o seu rosto, era largo demais, e ele miudinho demais. Depois de um tempo o chapéu disse: “Grifinória”. Pedro veio correndo para sentar ao lado de Sirius.
- SIRIUS! Sirius! GRIFINÓRIA! Meu pai vai ficar orgulhoso, Sirius! – dizia nervosíssimo que chegava a enrolar na fala. – Meu pai sempre esperou que eu fosse da Grifinória como ele! E vim! Estou feliz! Vou enviar uma carta para ele!
- Que ótimo, Pedro! – Sirius prestava mais atenção na seleção.
- Potter, Tiago! – Tiago correu para o banco.
- Grifinória! – e foi para a mesa, sentando do outro lado de Pedro.
- Olha só! Se não é o que deveria ser sonserino! – disse sorrindo para Sirius.
- Melhor que nada!
Os dois ficaram conversando por um bom tempo sobre a cabeça de Pedro. Faltavam apenas dez alunos quando Tiago apontou um garoto curvado no meio dos que ainda estavam de pé. Ele tinha cabelos oleosos, rosto macilento, era pálido e magro.
- Snape, Severo!
Lílian levantou os olhos para Snape. Ela estava muito ansiosa, seus olhos lacrimejavam. O garoto foi até o chapéu excitado, e quando ele anunciou Sonserina, o garoto deu um viva de alegria. E correu para a mesa da Sonserina, aonde um garoto magro e alto, de cabelos loiros até o ombro, com um crachá de monitor reluzindo no peito, o cumprimentou. Lílian ficou muito calada, e voltou a se encolher no banco.
- Então o ranhoso foi para a Sonserina... – disse Tiago com os olhos brilhando de malícia. – Interessante...
- Algum plano em mente?
- Não...
Com todos os alunos selecionados, a professora recolheu o baquinho e o chapéu. Logo depois voltava para sentar a mesa dos professores, à direita do senhor de cabelos prateados. Foi possível ver Hagrid sentado em uma ponta da mesa, ele, de longe, era o maior de todos. E os outros eram professorem que o garoto desconhecia.
- Aquele, Sirius, é o professor de poções, Slughorn. – disse Lance, por cima da cabeça de Lílian, e apontou um professor gordo e envelhecido que sorria para todos, ele batia levemente os dedos na mesa. Possuía um bigode grande e usava um chapeuzinho de empregado de hotel antigo. – E aquele ali no centro da mesa é o nosso diretor: Alvo Dumbledore.
Lance, com certeza, deveria estar querendo que Sirius o ajudasse com Narcisa, porém o garoto não respondeu, apesar de tê-lo escutado atentamente. Ele ficou olhando Lílian, que ainda estava de costas para ele e ficou muito calado. Não porque não tivesse o que falar, era porque o diretor se adiantara e começou a falar:
- Sejam bem-vindos! – disse em tom alto e sonoro. – Sejam bem-vindos para um novo ano em Hogwarts! Antes de começarmos o nosso banquete, eu gostaria de dar as boas-vindas ao nosso novo guarda-caças, já que Ogg precisava de descanso, Hagrid! – houve uma pequena salva de palmas. Quando tudo voltou a ficar quieto, Dumbledore continuou:
“Agora que a apresentação foi feita... Bom apetite!” – e Dumbledore voltou a se sentar.
Sirius se lembrou dos pratos dourados e vazios que estavam diante deles. O que iriam comer? Porém sua resposta foi respondida ao voltar sua atenção para a mesa. Os pratos estavam cheios de comida, como se ela estivesse aparecido do nada, e foi isso que bem acontecera. Havia coxinhas de galinha, bacon, carne assada, abóbora, cenouras, legumes e verduras, dentre outros tipos de comida deliciosos. Ele ficou encantado com tanta comida, sendo que estava com muita fome.
A maioria dos alunos mais velhos discutia sobre suas férias, outros se contentavam em comer. De repente, um vento gélido tomou conta do ambiente, vários seres transparente atravessaram as paredes, eles vinham de todas as direções e lugares. Um flutuava bem acima da mesa de Sirius. O garoto quase se engasgou em vê-lo. Parecia uma pessoa pálida e transparente. Ele ajeitou uma gola grande que parecia segurar o pescoço.
- Olá, senhor Nicholas. - cumprimentou um garoto perto de Sirius que ostentava um crachá de monitor.
- Olá, John – disse com um sorriso brilhante.
- Nick é o fantasma da Grifinória, Sirius. – comentou Lance. – Cada casa tem seu fantasma residente... O Frei Gorducho é o da Lufa-Lufa, a Dama Cinzenta da Corvinal, e o Barão Sangrento da Sonserina.
- Fala Nick-quase-sem-cabeça! – cumprimentou um garoto que sentava de fronte a Sirius.
- Prefiro que me chame por Nick apenas, ou Sir Nicholas de Mimsy-Porpigntom!
Sirius se perguntou o porquê de “quase-sem-cabeça”, mas a resposta foi respondida quando o fantasma foi se distanciando para outra parte da mesa e pareceu se atrapalhar coma gola. Quando esta foi abaixada, sua cabeça caiu, porém não por completo, ela parecia estar ligada ao corpo por alguns ligamentos do pescoço. Ele puxou a cabeça para o lugar e ajeitou a gola novamente.
- ARGH! – gritou Pedro ao vê-lo naquele estado, Tiago sorriu.
- Com medo? – perguntou ainda com um sorrisinho.
- NÃO! – corrigiu Pedro logo se endireitando no assento, Tiago parecia tramar algo.
Quando todos tinham comido o que estava na mesa, deixando os pratos limpos, surgiram as sobremesas. Pilhas de sorvetes coloridos, tortinhas de limão com abóbora, bolos de todos os sabores e formas, e muito mais.
- Eu nunca experimentei um desses... – disse Pedro puxando um prato com um rato comestível que estava para lá e para cá. – E nem sei se vou comer... Parece vivo demais... – quando viu o que era realmente empurrou para o lado e procurou outra coisa.
Lílian comeu pouco, parecia abalada demais.
- Vamos! Anime-se! – disse Sirius para a garota, que continuou dando as costas para ele e sem dar uma palavra. – Coma um pouco disso! – disse apontando para uma tigela que acabara de pegar, pôs um pouco do pavê que ela continha no prato. – Isso é gostoso! Experimente só! – porém, quando ele próprio foi experimentar, vez cara de desgosto e empurrou o prato para o lado com o estômago embrulhado.
- Sabe a Minerva? – perguntou Lance.
- Quem? – Sirius não reconhecera o nome.
- Minerva McGonagall! – disse apontando para a bruxa que conduzira os alunos do primeiro ano. – Ela é professora de Transfiguração. Ela ao tolera muito indisciplina não... -hesitou. – O professor do ano passado se aposentou... Ele era um bom professor. Espero que este Gorgeus seja bom também! Defesa contra as artes das trevas é uma matéria incrível! A maioria dos alunos gosta dela.
Sirius ficou observando o professor Gorgeus, não escutando o resto da apresentação dos professores feita por Lance. Quando as sobremesas desapareceram, Dumbledore se levantou e todos se calaram.
- Agora, depois desta bela refeição, deixe-me dar algumas palavrinhas. Primeiramente u gostaria de avisar aos alunos do primeiro ano e relembrar aos demais que é proibido, para qualquer aluno, andar pela floresta da propriedade.
- Segundamente, todos não devem fazer mágica nos corredores nos intervalos de aulas. – continuou.
“Os testes de quadribol serão realizados na segunda semana de aulas. Quem estiver interessado em entrar para o time de sua casa deverá procurar madame Valéria. Só isso que tenho a dizer.”
Alguns alunos comentaram entre si algo.
- E agora, antes de se deitarem, vamos cantar o hino da escola! Lembrando que cada um escolha o ritmo de sua música preferida – convidou Dumbledore. -, e lá vamos nós!

Hogwarts, Hogwarts, Hoggy Warty Hogwarts,
Nos ensine algo por favor,
Quer sejamos velos e calvos
Quer moços de pernas raladas,
Temos as cabeças precisadas
De idéias interessantes
Pois estão ocas e cheias de ar,
Moscas mortas e fios de cotão.
Nos ensine o que vale a pena
Faça lembrar o que já esquecemos
Faça o melhor, faremos o resto,
Estudaremos até o cérebro se desmanchar.


Cada um terminou com um ritmo diferente. Dumbledore regeu os últimos versos com a varinha e, quando todos haviam terminado, foi um dos que aplaudiu mais alto.
- Ah... Sempre me emociono com isso! A música é a melhor magia de todos os tempos! – concluiu secando os olhos. – Agora... Todos para suas camas!
Depois de um tempo todos estavam de pé caminhando por entre os grupos que conversavam alegremente. Todos da Grifinória seguiram John, o monitor. Eles subiram escadas e mais escadas. As pessoas dos retratos conversavam entre si, muitos comentavam dos novos alunos. Sirius achou que nunca iriam chegar ao salão comunal quando John parou. Estavam diante do retrato de uma mulher muito gorda com vestido rosa.
- Senha?- ela perguntou.
- Ofíuco! – respondeu John claramente, e virando-se para trás comentou para os alunos do primeiro ano. – Se quiserem mesmo entrar em seus salões comunais é melhor irem decorando as senhas!
O retrato da mulher se inclinou para frente, revelando um buraco na parede, por onde entraram. Depararam-se com um salão circular, havia uma grande lareira acesa e várias poltronas e puffes pelo local, havia algumas mesas e sofás, tornando o local o mais aconchegante o possível. John apontou as escadas para os dormitórios. Os garotos do primeiro ano foram os primeiros a subir pela escada caracol. E logo entraram em um cômodo com cinco camas com dossel.
- Uau! – exclamou Pedro.
- Nunca viu cama com dossel? – perguntou o garoto chamado Remo.
- Nunca dormi em uma! – e se jogou na cama que julgou ser sua.
Seus malões estavam ao pé da cama, trancados.
- As corujas ficam em um corujal? – perguntou Sirius ao perceber a ausência de Juliet.
- Deve haver... – respondeu Remo sentando-se em sua cama.
- Eu gostei do banquete! – comentou um garoto que estava quieto em seu canto.
- Eu achei bom, Robert – disse Lupin já de roupa trocada.
- Eu vou é rurmiu... dormir – disse Sirius bocejando.
Deito-se antes que todos. O dia fora muito excitante. Fechou os olhos e logo estava dormindo. Porém não sonhou, estava tão cansado que dormiu direto.



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Notas do autor:
Não há modificação alguma neste capítulo.

P.S: o verdadeiro título deste capítulo é: A Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts; porém não coube.

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