- Solidão arrebatadora -



Ficou por muito tempo com o rosto enterrado nas mãos. Lamentando-se do que fizera, mas no fundo ele não se sentia culpado por nada. Algo estava tomando conta dele. Algo muito ruim. Um ódio remanescente das atitudes da mãe estava deixando-o descontrolado. Ele esmurrou a parede para descontar um pouco da raiva. Não... Aquilo era um ódio terrível! Esmurrou novamente a parede, e mais outra vez e outra. Suas mãos já estavam doloridas e com algumas feridas, mas ele mal se importou. Ele queria acabar com sua própria mãe.
“Que pensamento... Que pessoa horrível eu sou...” – pensou, voltando a si.
Nunca desejara a morte da mãe, por isso estava preocupado com seus próprios pensamentos. Pensamentos ruins que, com certeza, não trariam conseqüências benéficas. Apesar de nunca ter gostado da mãe, ele nunca se vira em uma situação como esta, muito menos pensara em fazer algum mal à mãe, que, apesar de tudo, ele teria que agüentar, afinal, era sua mãe!
Parou um instante para olhar a bagunça. Suas melhores vestes vaziam montinho em um canto do quarto, outras estavam jogadas como pano de chão. O armário ainda estava aberto e as gavetas estavam com roupas reviradas. A gaiola de sua nova coruja havia espatifado ao lado de sua cama e a portinha estava entreaberta. Ouviam-se pios de desespero daquela coruja castanho-escura. Os pios estridentes estavam começando a atordoar Sirius.
- Juliet! Fica quieta! Não quero que ela apareça de novo aqui! – vociferou para a coruja de porte médio.
Voltou-se para o quarto em si. Arrumar tudo aquilo seria muito trabalhoso, contudo era para ser feito, e o mais rápido o possível. Ajeitou as roupas da gaveta, agarrou as roupas em monte e começou a colocá-las em cima de sua cama, dobrou cada uma. Muito do trabalho já havia sido feito. Faltava apenas arrumar seu material escolar em um canto.
O embrulho do caldeirão estava rasgado e a embalagem com sua varinha havia sumido. Sem contar que dois de seus livros novinhos estava com as capas e algumas folhas amassadas. Ele olhou desesperado para os livros. Não que se importasse com um amassado aqui ou lá, mas sim porque sua mãe não era de gastar dinheiro com ele, e só quando estava com raiva acabava estragando o que comprou com o próprio dinheiro. Por sorte, não faltava folhas em nenhum dos livros. Colocou-os cuidadosamente sobre uma escrivaninha e jogou-se na cama.
Queria que tudo acabasse logo. Queria que já estivesse em Hogwarts. Queria fugir do presente, poder conversar com outras pessoas sem ser atrapalhado ou depois levar punições. Olhar pela janela e ver um dia de sol, podendo sair e caminhar pelos campos. Sentir-se feliz por mais do que algumas horas. Poder pensar sem interferências. Enfim, queria uma liberdade de expressão. Fechou os olhos, como se quisesse esquecer tudo.
Viu-se deitado em um orvalho fresco de olhos fechados. Sentia uma brisa suave que esfriava o ambiente, deixando-o mais aconchegante. A claridade batia em seu rosto. Ele abriu os olhos devagarzinho para não ser ofuscado. Sentou-se e olhou para o lugar. Havia um campo largo. Atrás se levantava uma grande construção de pedra bem polida. Um castelo formidável resplandecia sua grandiosidade sobre o local. Ele viu ao longe um grupo de estudantes usando veste muito parecidas com as suas. Viu Pedro rolando o gramado.
Porém algo transcorreu diferente. Nuvens cobriram rapidamente o sol e tudo emergiu em um cinza sem vida. Sirius estava desesperado. Correu para dentro do castelo. Começou a chover do lado de fora. A chuva aumentou, ele procurou um lugar para descansar. Ao atravessar uma porta, deparou-se com sua mãe com uma expressão enlouquecida no rosto. Ela brandia a varinha em sua direção, um feixe de luz cruzou o ar e atingiu o garoto em cheio, este caiu no chão, inconsciente.
Abriu os olhos desesperado. Nem ao menos conseguia pensar direito. Sua mãe estava atrapalhando até seus sonhos. Então surgiu outra dúvida, será que ela tentaria ataca-lo como fizera a pouco no sonho? Encolheu-se na cama, afundando no colchão. Agora o medo o havia tomado. Aquela sensação do fim. Lembrou-se então do livro que vira na Floreios e Borrões: As Maldições o Esperam. Fora suficiente para ele implorar para o invisível para que acabasse com aquilo logo. Tentou se acalmar. Encheu o pulmão de ar e pôs-se de pé. Não iria se acovardar tão cedo, pelo menos não daquele jeito.
Ele fitou a porta de madeira nobre da entrada de seu quarto. Seus olhos passaram pelas brechas e pela fechadura. Tinha que haver um modo de sair dali. E não seria pela janela, pois do lado de fora, para onde a janela abria-se, não era um bom lugar para aterrissagem. Analisou por muito tempo aquela porta bem talhada de madeira maciça. Talvez não houvesse como escapar. Não! Tinha que haver um jeito de escapar; e ele iria tentar planejar sua fuga.
Por muito tempo pensou. Passara uma hora, depois outra e mais outra. Há muito já perdera o almoço, e naquele ritmo perderia o jantar também. A fome estava aumentando a cada minuto. Olhou para o relógio que marcava seis horas, desesperado. Ele estava cansado e pensar em um modo de fugir e vendo as reais possibilidades, quando seus olhos bateram momentaneamente em seus livros.
“Por que não pensei nisso antes?” – pensou levantando-se e caminhando em direção aos livros.
Buscou o Padrão de Feitiços para o primeiro ano. Tinha certeza de que acharia o que precisava ali. Abriu cuidadosamente o livro, ajeitando as “orelhas” que haviam se formado a este ser jogado se mal-jeito no chão. Nem procurou o índice, agora estava curioso, queria saber a matéria que estudariam e tinha uma ótima memória.
Folheou cada página conforme o tempo passava. Estava absorto na leitura, só parou para olhar o pôr-do-sol. Seu brilho laranja-amarelado que encantava todos que viam. Por um instante pensou ter visto algo muito branco, como uma coruja, que cruzou seu campo de visão. Bocejou e continuou admirando a paisagem. O livro fora deixado com a página marcada em cima da cama.
Então começou a anoitecer, já era possível ver várias estrelas no céu. Conforme as estrelas ficavam visíveis no céu, era possível formar imagens. Os pontinhos iluminados em conjunto formavam um cão. Um cão enorme. Quando se deu conta já passava das dez. Achou então melhor dormir. Esperava, em vão, que sua mãe o deixaria sair no dia seguinte. Tirou o lençol que cobria a cama, pegou um travesseiro, trocou de roupa, deitou e logo estava no mundo dos sonhos.
Aquela constelação em forma de cão pairava sobre um fundo de escuridão. O animal estava se mexendo. Balançava a cauda alegremente. Seu corpo era formado por uma linha de pontos quase juntos e muito brancos que parecia ter luz própria, se destacando da escuridão. O cachorro pôs a língua para fora e balançou a cabeça, como se quisesse indicar algo. Então Sirius perceber que estava flutuando naquele lugar. Será que era para seguir aquele cão? Era um dos maiores cachorros que o garoto tinha visto. Para ele, aquilo era a representação de lealdade, coragem, força, inteligência e ternura. O estranho era que nunca tivera a vontade de ter um cão. Sempre gostou de aves, e das mais estranhas, as exceções. A exceção, para ele, na maioria das vezes, era algo de especial, algo que fazia com que as pessoas se destacassem, mesmo que às vezes elas sejam excluídas por serem “diferentes”. Mas nada era mais importante que a personalidade, ele tentava enxergar a personalidade da pessoa por seus olhos, o que era algo muito difícil.
Estava encantado com aquele cão, e começou a segui-lo inconscientemente. Porém não havia muito sentido no que fazia, pois tudo era escuridão. Para aonde, então, o cão o levaria? Bastante tempo se passou até o cão parar, tudo ainda era escuridão. O animal virou-se ainda abanando o rabo para o garoto e começou a tentar morde-lo de brincadeira. Sirius na entendeu muito o porquê de tê-lo levado para nada! Para brincar? Ele primeiro queria saber onde estava. Mas como era meio impossível um cachorro o entender estendeu a mão para tocá-lo. A sensação foi realmente muito estranha, ele sentiu um calor apoderar de seu corpo, contudo, sentiu um leve calafrio. Ao olhar o cão novamente, ele não estava mais lá. Na realidade ele não estava mais na escuridão. Ele se viu! Tocava sua imagem refletida em um espelho d’água. Fitou-se por alguns segundos, e a sua imagem se desfez em uma pessoa que ele não queria ver tão cedo, sua mãe o encarava. Ele virou-se de costas para o lago e olhou a paisagem: não havia nada, apenas o lago e parte de um gramado, onde se encontrava.
De repente algo o agarrou pelas costas e o puxou para trás. Deu para ver por um instante que uma pessoa havia saído do lago bem ali aonde se vira, sua mãe. Ela conseguiu puxa-lo para dentro do lago. Foi afundando com o peso dos dois cada vez mais. Estava ficando sem ar, estava agonizando. Fechou os olhos esperando morrer, e em vez disso acordou suado em sua cama.
Sua colcha estava no chão. O sol batia forte em seu rosto. Com esforço conseguiu se lembrar do sonho. Nunca sonhara com algo que fosse tão sem nexo. Tudo bem a mãe ter voltado em seu sonho, aquilo aconteceu por causa da sua raiva remanescente das imposições de Walburga. E o cão? Um cão negro, destacado por pontos iluminados que formavam seu contorno... Seria por causa da constelação que vira? Ele achou que não, a constelação, para ele, era assunto muito vago para ser destacado em um sonho.
Sentou-se na cama, ainda com os pensamentos ricocheteando em sua mente. Parecia já ser tarde, conferiu o horário no relógio: eram dez horas da manhã. Mudou de roupa. Jogou a colcha em cima da cama. Pegou novamente o livro Padrão de Feitiços e voltou a ler. Ele não estava mais se importando em achar logo no início o feitiço que queria, estava gostando da leitura, talvez conseguisse se dar bem em Feitiços.
Wingardium leviosa...” – murmurou para si brandindo uma varinha invisível. “Girar e sacudir...”
Bateu meio-dia. Mesmo concentrado no livro, estava na esperança de alguém entrar por aquela porta e deixá-lo sair. Estava com muita fome. No dia anterior comera apenas o café da manhã. Lembrou-se do pai, se o pai soubesse que Walburga o havia prendido no quarto iria discutir com a mesma. Porém estava sentindo a ausência de Orion...
Já havia se passado uma hora e meia quando ouviu passos vindos da escada do corredor. Enfiou o livro dentro da gaveta de sua escrivaninha e sentou-se na cama novamente. Apurou os ouvidos para os passos que ecoavam no corredor. O som do trinco sendo aberto e a maçaneta sendo girada avisaram a chegada de sua mãe, a qual entrou no quarto.
- Boa... Tarde... – disse com uma voz arrastada e fria.
Ela trazia uma bandeja com um prato. No prato havia dois pedaços de pão com manteiga. Ela encarou garoto e o sorriso maroto que agora esboçava e disse com a mesma frieza de antes:
- Seu almoço...
Bem, aquilo era pouco, mas Sirius aceitaria com muita boa vontade, pois sua barriga roncava de fome. Contudo, ele encarou a mãe. Algo foi mais forte que sua fome: sua raiva. Levanto-se e disse com o mesmo tom que a mãe estava usando ultimamente com ele, porém possuía um pouco de sarcasmo.
- Quando papai chegar... Você vai se arrepender! Ele vai me soltar e vai fazer você pagar pelo que está fazendo!
- Está enganado... – respondeu ela com um sorriso ainda segurando a bandeja.
- Como?
- Seu “papai” enviou uma coruja ontem avisando que iria ficar alguns dias fora... Triste não? – o sorriso mostrou dentes bem cuidados, porém um pouco amarelados.
E para surpresa de Sirius era verdade. Ao ver a expressão de espasmo no garoto, a senhora bruxa apoiou a bandeja na cama, retirou um envelope no bolso e jogou-o em cima de Sirius. Seus olhos analisaram bem o quarto. Agora ela estava vendo que tudo parecia arrumado, pelo menos muito mais arrumado do que como o havia encontrado no dia anterior.
Sirius virou a carta nas mãos, dizia:
Londres
Largo Grimmauld, 12

Abriu cuidadosamente a carta. Parecia que a pessoa que escrevera esta carta estava com muita pressa, e havia algumas gotas de cerveja amanteigada que manchavam algumas letras. Começou a ler a carta com atenção. Nesta, por sua vez, estava escrito o seguinte:

Cara Walburga,
Fomos informados hoje, aqui no Ministério, de que estavam ocorrendo vários ataques a bruxos e trouxas em toda a parte dos extremos da Inglaterra. Preparamos, portanto, um esquadrão para ver se conseguíamos reverter estes feitiços. Iremos, cuidadosamente, patrulhar os estados do extremo norte e extremo sul. Há boatos de que estes ataques sejam causados por bruxos das trevas, mesmo que às vezes sejam causados por bruxos que gostam de pregar peças.
Hoje de tarde, um pouco antes de escrever esta carta, encontramos um trouxa o qual, no lugar onde deveria estar uma cabeça humana, estava uma cabeça de esquilo. Não demorou muito para reverter o feitiço e obliviar a mente destes trouxas, mas temos certeza de que estas pessoas estão tentando nos desmoralizar.
Eu, como chefe do departamento do uso indevido da magia, dividi o nosso esquadrão em quatro grupos de patrulha. Mas, conforme for, teremos que acampar por aqui, sinto muito em não poder voltar para casa estes dias, pois isso é um caso sério de uso indevido da magia. Deveremos patrulhar, portanto, mais uns três dias, para ter certeza de que tudo está em ordem, antes de sermos substituídos por outro esquadrão.
Espero que todos estejam bem,
Orion Black.


Para Sirius aquilo seria o fim de sua liberdade. Agora sim teria que arranjar algum feitiço para sair dali, não agüentaria mais três dias trancado. Olhou com os olhos lacrimejando para a mãe. Como ela poderia fazer aquilo com ele? Era sua mãe! Seus olhos passaram do cinza-azulado para uma coloração de raiva.
- Por que está fazendo isso comigo? – vociferou na cara da mãe.
- Você me desobedeceu! Parece que você quer se misturar àquela gente! – ela pareceu surpresa com a mudança de temperamento do filho.
- Te desobedeci! NUNCA VI UMA MÃE COMO VOCÊ! – e, como sempre, pôs um pouco de sarcasmo. – Nem parece uma mãe de verdade... – tentou imitar uma voz de desapontamento.
- EU NÃO FAÇO AS IMPOSIÇÕES PARA SEU MAL! EU PROCURO SEU BEM! QUERO QUE A FAMÍLIA CONTINUE SENDO O QUE SEMPRE FOI! – a bandeja que segurava começou a tremer nas mãos da mãe.
- Para o meu bem? Ou para honrar o meu sangue-puro?!
- Ah... Então agora você quer virar um TRAIDOR!
- Traidor de que? Traidor aonde? Eu quero é seguir minha vida em paz!
- Já te mostrei o suficiente para você ver qual é o mal e qual o bom caminho...
- Ah sim... Hum... Lembrei! – interrompeu.
- FAÇA O QUE QUISER ENTÃO! SAIBA QUE NÃO TERÁ MAIS MEU APOIO! – saiu levando a bandeja com a comida de Sirius.
O garoto ficou olhando-a ir embora, e logo retornar para trancar a porta. Ele se arrependeu dessa discussão. Não que se importasse se a mãe estivesse ofendida, mas ele perdera a comida que a ele fora oferecida. Ele tinha certeza de que isso fora a gota d’água para a mãe. Ela não iria mais trazer comida para ele, dito e feito.
Voltou sua atenção para o livro tentando esquecer a fome e a raiva. Ainda tinha esperança de escapar de lá. Ele sabia que podia muito bem fazê-lo. E assim as horas passaram. Depois de três horas, sua atenção agora era desviada por qualquer barulho que escutasse. Levantou-se, largando o livro ali na cama, e foi até a janela. Abriu-a e olhou para baixo. Havia um grande arbusto espinhento. Seria difícil tentar descer, sendo que ele cairia ali, e se isso o ocorresse não poderia terminar a fuga são e salvo como planejava.
Ele estava cada vez mais cansado. E quando cochilava tinha pesadelos. Aquela estava sendo uma das piores férias na opinião dele, apesar de, quando elas acabassem, ele não mais estaria naquela casa antiga.
O que o sustentava era a esperança de que dali a algumas semanas não estaria mais ali. Queria logo ir pra Hogwarts. Queria conhecer novas pessoas, se descontrair. Estava deitado na cama olhando o teto. De repente ele lembrou-se de algo. Estivera tão irritado que havia se esquecido disso.
Empurrou sua cama cuidadosamente para o lado, abaixou-se. Havia uma rachadura na parede, aonde meteu o dedo e puxou algo que lembrava uma porta sem dobradiças. Pegou algo que deixou em cima da escrivaninha.
Quando saía para caminhar na rua, ele sempre passava pela banca de jornal. Ele gostava das revistas sobre trouxas, em que havia lindas mulheres e garotas. A partir de então, ele começou a colecioná-las, porém ele escondia de todos da casa, não queria que ninguém descobrisse como passava o tempo muito calado em seu quarto. Começou a folhear a revista...

O tempo passou. Já era de noite, umas sete horas, e ele estava encolhido em um canto do quarto tentando esquecer a fome e a sede. Já até havia guardado as revistas de trouxas. Ele não estava com disposição para fazer mais nada. Todos os barulhos pareciam altos demais, ele estava com dor de cabeça. Em casa parecia tudo tão quieto. Fora uns grunhidos de Monstro vindos do corredor, quando este caminhava para limpar algum cômodo. Walburga deveria ter proibido Monstro de limpar o quarto de Sirius, que já estava com tanto pó que em alguns cantos fazia uma fina camada sobre as tábuas do piso.
Ele esperava ansiosamente escutar a porta da frente abrindo e logo após a voz de seu pai. Mas ele não chegava antecipadamente. Decidiu descansar. Estava tão cansado que desta não teve nenhum sonho ou pesadelo, dormiu direto.

Acordou quase meio-dia e continuava cansado. Ele estava sem comer ou beber fazia dois dias, neste ritmo ele poderia até morrer. Mais uma vez ele pegou o livro Padrão de Feitiços, só que desta vez ele o folheou até encontrar o que queria.
“Feitiços útil para destrancar portas, malões, baús...” – leu. “Alohomorra... Só praticar com a varinha com um simples toque na fechadura... Dar ênfase ao ho, que na pronuncia é interpretado pelo rô...”
Levantou-se, ainda com o livro na mão, em direção à pilha de livros. Sua varinha não estava lá. Ficou desesperado, nem notara ao arrumar suas coisas que sua varinha não estava lá. Tentou se lembrar da última vez que a vira: quando ela entrava flutuando pelo quarto e no instante seguinte o material foi espalhado pelo seu quarto. Começou a busca.
Justo quando ele precisava da varinha ela não estava disponível. Olhou todos os cantos do quarto, embaixo da cama, debaixo da escrivaninha. Abaixou-se para ver se tinha algo debaixo do armário que tinha umas entradas para separar os pés largos, e lá estava ela. Como não conseguiu alcançá-la, teve que empurrar, com muito esforço, o armário.
Já de posse da embalagem comprida e lacrada, logo já estava aberta e de varinha em mãos. Só que estava tão cansado que praticou poucas vezes. Ninguém aparecia trazendo comida, todos pareciam ter sumido.
- Alo... Alo... homorra... Alohomorra... – falava em um desânimo apontando para a fechadura do seu malão, e, como conseqüência, nada aconteceu.
Largou a varinha em cima da escrivaninha e deitou-se novamente para mais um cochilo, só voltando a acordar três horas depois. Recuperara um pouco mais de força. Mas já estava entardecendo e preferia sair de manhã. Mudara de planos, ele iria primeiro para a cozinha pegar algo para comer, ele estava muito debilitado. Praticou o feitiço até cansar, foi quando percebeu que estava pronunciando errado.
- Ênfase no rô! – repetia para si.
Uma hora depois, em uma das tentativas, o trinco se moveu e ele finalmente conseguira destrancar o malão com magia, mas, seguindo o plano iria tentar fugir só pela manhã. Deixou tudo arrumado, como se não tivesse feito nada.

No dia seguinte acordou cedo, eram quase oito horas da manhã. Abriu cuidadosamente seu armário e se encarou no espelho. Aquela imagem refletida... Aquele ser diante dele não era ele. Ou melhor, não podia ser ele! Fitou-se por alguns minutos, ele estava irreconhecível. Seu rosto estava ossudo e ele parecia ter envelhecido um ano, suas mãos estavam magras e ele estava com olheiras grandes, apesar de ter dormido o suficiente. Trocou de roupa e pegou sua varinha. Encostou a varinha na fechadura e murmurou:
- Alohomorra... – e o trinco girou, a porta se abriu.
Empurrou a porta lentamente, espiou pela fresta aberta para ver se vinha alguém. Desceu as escadas cautelosamente. Virou-se para a cozinha e entrou lá. Abriu a geladeira e quando estava pegando uma garrafa de leite ouviu resmungos de alguém que vinha em direção a cozinha. Sirius se jogou debaixo da mesa e viu os pés de Monstro caminhar em direção ao seu próprio quartinho, porém ele notara a presença de alguém. Não foi muito esforço para achar Sirius, apenas se ajoelhou e viu o garoto debaixo da longa mesa.
- Minha senhora Black! Venha ver o que o Monstro achou... – disse ele com um sorrisinho e estalou os dedos.
O corpo de Sirius foi puxado por algo invisível para fora do seu esconderijo, ele foi obrigado a ficar de pé e encara a mãe que entrava na cozinha neste momento.
- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? – já estava começando a ficar estressada.
- Bem eu... – ficou sem fala.
A garrafa de leite foi devolvida à geladeira pela mãe. Sirius sabia muito bem o porquê de Monstro o ter entregado, nunca gostara do elfo, e Monstro sabia disso. Sirius sempre o tratou mal, pois ele adorava Walburga.
A porta da frente foi aberta, e os passos de alguém vieram na direção da bruxa. Orion cumprimentou a mulher e ficou boquiaberto ao ver o estado de Sirius. Talvez não tivesse reconhecido o filho. Mas chegou bem de perto para vê-lo.
- O que aconteceu, Sirius? – perguntou ainda espantado.
- Eu vou dizer o que aconteceu, Orion... – disse Walburga tomando a frente do garoto. – Ele foi ajudar uma bruxa que quebrou o meu nariz! Aí ele ficou lá enquanto eu vim pra casa, ele deve ter se divertido muito com os amiguinhos trouxas... – havia muito desprezo na voz. – Ele me respondeu mais uma vez!
- Aí ela me deixou trancado no quarto por três dias sem comida ou bebida... Agora que eu arranjei um jeito de escapar e poder comer alguma coisa ele vem me apreender de novo! Ela quer minha caveira! – interrompeu. Sirius estava com mais raiva que nunca, chegou a ficar vermelho.
- FICA QUIETO AÍ, GAROTO!
- Querem para de discutir! Estou cansado de ouvir vocês discutirem! – Orion cortou logo a discussão, olhou de Sirius para Walburga. – Seus modos de castigo são tão... Você deveria pelo menos ter me avisado para saber minha opinião! E você... – disse para Sirius. – Sirius... Pare de discutir com sua mãe... Mas você está horrível...
- Orion! Vai ficar do lado deste traidor?
- Traidor? Só por que ele discutiu com você, você faz isso? Acho que não te conheço, Walburga! – ele estava muito desapontado. – Afinal... Substituíram-nos mais cedo e pus voltar hoje... Espero que vocês tenham recebido a carta...
- Recebemos... – disse Sirius em resposta sendo encarado por Walburga.
- Monstro! – exclamou o pai pro elfo que já ia se afastando. – Prepare algo pro Sirius comer!
- Ah não! Você não vai preparar nada pra ele não! Volte a arrumar a casa... – Walburga cortou o pai.
- Sim, senhora Black... – e Monstro não obedeceu Orion.
- Muito bem... – disse Orion com um sorriso. – Sirius, sente-se aí... Eu vou preparar algo para você comer.
Walburga explodiu de raiva quieta em seu lugar e subiu as escadas pisando forte em direção ao seu quarto.
- Desculpe-me, filho... Mas não sei cozinhar tão bem... Vou preparar uns três ovos fritos com queijo...
Depois da refeição, Sirius voltou para seu quarto, guardou a varinha e deitou-se na cama sorridente, agradecendo pelo que o pai fizera para ele.

E os dias passaram normalmente. Sirius quase não saía, e quando saía era uma volta pelo Largo Grimmauld. Agora fora feita uma contagem regressiva para o dia primeiro de setembro. A cada dia ele estava mais nervoso. Mas procurou não discutir mais com a mãe, pois depois daquele dia, Orion ficou muito tempo conversando com ela e ela parecera se acalmar, porém Sirius não conseguiu escutar a conversa. Gostaria de saber os argumentos que usara para acalmar Walburga. Mas preferiu esquecer.
Na véspera ele estava tão agitado e falava tanto que o pai teve que dar um basta para poderem jantar.
- Calma, Régulo... Ano que vem será sua vez... – dizia a mãe para o filho caçula que estava com um pouco de inveja.



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Notas do autor:
Não há mudança alguma neste capítulo.

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