Cap 3 - Em West Sussex

Cap 3 - Em West Sussex



Harry e Ginevra não se achavam sozinhos na lanchonete. Dezenas de profissionais de especialidades diversas, em início ou término de plantão, espalhavam-se pelas mesas. Alguns faziam uma refeição mais consistente; outros tomavam apenas um café. Todos conversavam em voz baixa.

Harry comprara um café, um chá, e um pão doce cheio de creme. O café era para ele. O resto, para Ginevra. Suas unhas pintadas resplandeceram quando ela partiu o pão quente.

Harry olhou-a por um minuto, distraído, depois examinou sua xícara de café. Ele precisava de cafeína. Sentia-se exausto. A idéia de Hermione morta era inconcebível, e a possibilidade de seu cérebro ter sido lesionado passou-lhe pela mente durante um segundo.

- Não consigo imaginá-la aqui. – desabafou – ela odeia hospitais. Quando as meninas nasceram, ficou o mínimo necessário. Se fosse camponesa, teria dado a luz num estábulo.

Ginevra riu e concordou com a cabeça.

-É verdade. Mione e um dos espíritos mais livres do grupo.

O grupo. Harry achava difícil imaginar Hermione tomando parte em qualquer grupo. Durante os anos do casamento, revelara um temperamento radicalmente anti-gregário. Rejeitara viver em sociedade, rejeitara-o, fizera as malas e mudara-se para West Sussex. Aos poucos, ele constatou que era sua intenção fazer as mesmas coisas que se recusara a fazer quando viviam sob o mesmo teto.

Ressentido com a idéia, murmurou sarcástico:

- Deve ser um senhor grupo.

- O que quer dizer com um senhor grupo?

- Para você ficar aqui... Quanto tempo... A noite toda?

Ela largou um pedaço do pão no prato e limpou meticulosamente as mãos no guardanapo.

- Mione é minha melhor amiga. Não me pareceu certo que estivesse numa sala de operações sem ninguém esperando para saber se ia sobreviver ou morrer.

- Bem, agora estou aqui. Você pode ir.

Ela encarou-o por um instante. Com um leve e rápido movimento da cabeça, pegou a xícara e o pires, levantou-se e afastou-se.

- Você é um idiota insensível, Potter. Não me admira que Hermione tenha largado você.

Quando Ginevra se sentou no outro lado da sala, Harry se deu conta de que ela acertara só em parte. Ele também era ingrato. Ainda por cima, tratara-a com grosseria. Começava a entender por que as duas mulheres eram amigas. Se usasse aquele tom de voz com Mione, ela também se afastaria.

Pegando o café, foi atrás de Ginevra.

- Posso me sentar? – a pergunta repentina dele soou como uma súplica. – É um caso urgente de “sofrimento-adora-companhia”, entende?

A expectativa de uma recusa transformou em eternidade aqueles poucos segundos em que Ginevra não esboçou qualquer reação. Respirou fundo quando ela finalmente indicou-lhe com um gesto a cadeira vazia na mesma mesa.

- Só uma observação: você não é o único aqui que se sente exausto, impotente e assustado.

Foi então que ele viu as marcar da fadiga por trás daquela fachada impecável. Alegou-se com o fato de Mione ter como amiga íntima, alguém como ela. Sem dúvida, mais do que lê, Ginevra sabia quem era Hermione no momento presente. Ficou curioso.

-Mione nunca me disse que fazia parte de um grupo de leitura.

- Ela ajudou a formar o grupo. Nós o organizamos há cinco anos.

- Com que freqüência vocês se reúnem?

- Uma vez por mês. Somos sete mulheres, todas moram aqui. Uma é agente de viagens, outra escultora, uma é dona de uma padaria, duas jogam golfe. Todas já estiveram aqui antes para saber de Mione. Desnecessário dizer, não falamos de livros.

Não, compreendeu Harry. Falaram de um acidente que não deveria ter acontecido. Retomando o assunto, perguntou:

- Quem foi que bateu no carro dela? Alguém bêbado? A polícia pegou o sujeito pelo menos?

- Não foi um sujeito, foi uma mulher. E ela estava embriagada, sim. A polícia a pegou, com certeza. Ela agora está no necrotério.

Harry ficou sem ar. Necrotério. A presença concreta de morte mudava tudo, fazia a situação de Mione parecer ainda mais sombria. Deixou escapar um gemido discreto e prolongado. Com isso, toda a raiva desapareceu.



Os dois concordaram que Harry devia ser o primeiro a ver Mione, o que o deixou agradecido. Entrar sozinho num quarto todo esterilizado, onde, na cama gradeada, via-se a silhueta da mulher sempre tão cheia de vida e dona de uma personalidade brilhante – só isso já era ruim o bastante. Desnudar suas próprias inseguranças em público só agravaria a situação.

Harry aproximou-se do leito em silêncio. Registrara com a mente, além da perna suspensa dela, uma máquina encostada na parede e múltiplos suportes de soro intravenoso ao lado da cama. Mas seus olhos não demoraram a encontrar o rosto da mulher e fixar-se nele. O médico havia descrito seu estado com precisão absoluta. Mesmo sob a luz fraca que a iluminava, ele notou que, em volta de uma esfoladura em carne viva, o lado esquerdo do rosto inchara e começara a ficar roxo. Hermione tinha os olhos cerrados, os lábios pálidos, a pele lívida, as sardas deslocadas.

Tomou-lhe a mão direita. Os dedos estavam moles e a pele fria. Com todo o cuidado, envolveu-a com a sua.

- Mione? – chamou baixinho. – Sou eu, Harry.

Ela continuou dormindo.

- Mione? Está me ouvindo? – engoliu em seco – Hermione?

Ela não se mexeu. Nem deu qualquer sinal de tê-lo ouvido.

Ergueu a mão dela, a beijou e a levou ao peito. Com um leve movimento, encostou-a a altura do coração.

- Está sentindo? – os batimentos eram fortes e rápidos. – Está assim desde que recebi o telefonema. Samantha e Hope também estão assustadas.

Ela permanecia imóvel e em silêncio.

- Acorde Mione. – ele implorou, apavorado. Vivera sem ela por seis anos, mas durante esse tempo sempre soube onde ela estava. Agora, não. Não sabia mesmo. - Preciso saber como está se sentindo. – ele disse nervoso. – Preciso saber o que vou dizer as meninas. Preciso que fale comigo.

Como ela continuava em silêncio, ele se sentiu frustrado por não conseguir despertá-la, porque as mágoas e as rugas do passado desfizeram-se no ar diante daquela situação crítica, mas não podia lhe dizer isso, caso houvesse a possibilidade dela ouvir. Era uma mulher obstinada, mas que se preocupava muito com os outros. Ficaria arrasada se soubesse que alguém morrera. Se precisava ouvir coisas animadoras, não era essa a notícia a dar.

E qual seria? Ficaria feliz se soubesse que meu escritório está desmoronando? Mas ela não era vingativa, portanto essa também não era uma boa notícia. Nem minha capacidade profissional não é mais a mesma. Meus projetos perderam a qualidade. Mione não gostava de auto-piedade. Nem de ciúmes, o que significava que ele não podia lhe falar de Cho. Além disso, o que lhe diria? Cho era quase tão compassiva quanto Mione. Quase tão bonita e inteligente. Mas nem longe tão cheia de vida, talentosa e única. Sempre perdia por comparação.

Que adiantaria conta isso para Hermione? Ela o abandonara. Eles eram divorciados!

Sentiu-se inútil e de repente mais exausto do que imaginara ser possível alguém se sentir.

- Ginevra está aqui. Também quer vê-la. Vou conversar com o médico e depois pegar as meninas. Voltamos em duas horas, está bem?

Com toda atenção examinou as pálpebras dela, á procura do mínimo movimento. Nada. Abatido, reconduziu sua mão inerte á posição anterior, pousando-a sobre o lençol engomado do hospital, curvou-se e deu-lhe um beijo na testa.

- Volto daqui a pouco.


Amanhecia quando ele saiu do hospital. Ao chegar à rodovia, começou a ventar. No intuito de encontrar os vestígios do acidente, Harry mantinha os faróis acesos e os olhos atentos, mas tratava-se de uma providência desnecessária. Não teria passado direto sem ver o local. O tráfego em mão dupla fora desviada para uma única pista, enquanto os reboques retiravam da outra os veículos destroçados. Um já fora erguido, mas não era a resistente caminhonete de Hermione com tração nas quatro rodas. Um pedaço arrancado da grade de proteção estendia-se sobre o acostamento.

Nauseado, parou atrás dos reboques e saltou. Viu o carro de Hermione caído sobre os rochedos mais embaixo. Tinha o teto e as laterais amassados. Embora o mar se projetasse a menos de três metros, o carro continuava seco.

- Melhor ir andando senhor. Se um pára, os outros também e, quando a gente menos espera, vira um enorme engarrafamento.

Harry enfiou as mãos trêmulas no bolso.

- Minha mulher estava naquele carro. Parece que despencou capotando. É um milagre que ainda esteja viva.

- Quer dizer que ela passa bem? – perguntou o guarda rodoviário, solidário. – A gente nunca fica sabendo o que aconteceu depois que deixam o local.

- Está viva.

Os mecânicos empreendiam todos os esforços para prender os cabos no carro de Hermione.

- Quanto tempo ainda vão levar para terminar? – perguntou Harry. – Vou pegar nossas filhas para levá-las ao hospital e terei de passar por aqui. Preferia que elas não vissem.

- Acho que mais duas horas. Pode esperar?

Harry não planejara perder tanto tempo, mas ia esperar. Aproveitaria aquele tempo para encontrar a maneira mais sensata de dar-lhes a notícia do coma da mãe.
Trinta minutos depois, ao sul do local do acidente, o desfiladeiro de Hermione erguia-se acima do mar. Um pequeno bosque de carvalhos e uma fila de nove caixas de correspondência assinalavam a estradinha. Só uma das nove fora pintada, a quarta a partir da esquerda. Naquele ano, no mesmo tom berrante de vermelho com que se pintam os carros de bombeiro – escolha de Hope. No ano retrasado coube a Mione escolher a cor: amarelo - manteiga. Em seguida, havia sido a vez de Samantha, que preferiu o roxo.

Harry saiu da rodovia, reduziu a marcha e iniciou a subida. Cravada na encosta, a estradinha serpeava elevando-se sempre, interrompida apenas pelos desvios abruptos das estradas de carro que contornavam as casas particulares. Ao chegar á casa de Hermione, as sequóias haviam substituído todas as árvores.

Ele estacionou o carro, saltou e se espreguiçou. Precisava fazer a barba, tomar um banho e dormir um pouco. A porta da frente abriu-se entes que ele a alcançasse. O homem que viu surgir na soleira era muito mais velho do que ele imaginara.

- As meninas estão dormindo. – disse Rubeo Hagrid, com a mesma voz áspera que usara no telefone. – Como é que ela está?

- Em coma. Seu estado não é crítico. O organismo reage bem. O problema é a pancada na cabeça.

- Algum prognóstico?

Harry encolheu os ombros e espichou o pescoço para o interior da casa.

- Pelo que vejo, elas se acalmaram.

- Não. – Hagrid enfiou os braços musculosos pelas laterais da túnica de flanela. – Apenas desabaram de cansaço. – Saiu, passando por Harry. – Tenho muito trabalho a fazer.

Harry ergueu a mão em duplo sinal de agradecimento e despedida, mas Hagrid já contornara a casa e subia a encosta.

- Também foi um prazer conhecê-lo cara. – resmungou Harry.

Ao entrar, fechou a porta sem fazer barulho, e nela se recostou, para absorver o ambiente. Contava nos dedos o número de vezes que chegara á cabana, mas só até a entrada.

Lá de fora, tivera um vislumbre de cores. Agora a visão se revelava um conjunto de madeira natural, móveis pintados de azul e lilás, vasos de plantas roxos, cores vistosas emolduradas na parede. A sala de estar dava para a cozinha, mas a parede dos fundos dos outros dois ambientes era toda de vidraças que descortinavam a floresta. Pálidos raios de sol filtravam-se por ente as sequóias e iluminavam o interior da casa.

Harry subiu vários degraus á esquerda da sala de estar, atravessou o corredor e espichou o pescoço na fresta da porta do primeiro quarto. Entre os cartazes de artistas na parede e uma impressão geral de caos, via-se o nome de Samantha escrito em toda a parte. Embora desfeita, a cama estava vazia.

Vários degraus acima, no fim do corredor, outra porta entreaberta. Com aquarelas na parede, o quarto transmitia uma sensação muito mais suave que o primeiro. As duas meninas dormiam na cama de Hope, que estava enroscada em posição fetal. Samantha estendia-se com braços e pernas abertos. No espaço entre as duas, um tufo de pêlo laranja que só podia ser a gata.

Como nenhuma das três desse sinal de despertar, Harry voltou a sala e telefonou para o hospital. Falando com a enfermeira da UTI, soube que o estado de Hermione não se alterara.

Em seguida, ligou para a casa do sócio. Em resposta a uma ofegante saudação, perguntou:

- Fazendo ginástica?

- Correndo na esteira. – arquejou Ronald Weasley.

- Desculpe a interrupção – disse Harry – Mas estou com um problema. Hermione sofreu um acidente de carro ontem à noite. Tive de vir para cá ficar com as meninas.

- Para cá onde? West Sussex? – o ritmo da esteira diminuiu. – Temos uma reunião importante daqui a duas horas. Que tipo de acidente?

- Sério. – disse, em voz baixa. – Ela está em coma.

- Coma? – repetiu Rony. – Com a ajuda de aparelhos?

- Não. Mas não vou poder ir à reunião.

- Não dá para cancelar Harry. Já a adiamos duas vezes. – houve uma pausa. – Você não está preparado para a apresentação, está?

- Oh estou sim, só que eles não vão gostar mais do que tenho agora do que gostaram da última vez.

Fora contratado para projetar uma luxuosa pousada turística em Bristol. O cliente queria alguma coisa com superfícies translúcidas que desaparecessem sob o imenso céu aberto da Inglaterra. Mas Harry conhecia Bristol. Vidro e aço era um erro. Ele queria madeira.

Quando seu primeiro projeto foi rejeitado, ele incorporou granito á madeira. Quando recusaram também o segundo, fez esboços experimentais empregando pedra bruta, vidro, aço, mas rasgou todos. A melhor versão continuava sendo mesmo a primeira. Só que aquilo agora fugia ao mérito da questão.

- Escute Rony, preciso do seu apoio. Não posso comparecer á reunião. Trata-se de uma emergência de família.

- Mas com um pequeno senão: você é divorciado.

- Não das minhas filhas.

- Tudo bem, eu entendo Harry, mas esses caras só fazem esperar, e há milhões em jogo. Se eu disser que você não pode participar por que precisa ficar com suas filhas, eles não vão engolir.

- Então toque você o projeto.

- Mas eles querem você. Querem você, e você quer desperdiçar esta chance!

Harry de repente se sentiu tão exausto que os ossos lhe doeram.

- Não tenho como resolver isso agora. Diga-lhes o que quiser, mas não posso ir a essa reunião. Ligo para você quando tiver mais alguma informação.

Mas Hermione e as meninas dormiam. Estirando-se no sofá, cobriu os olhos com um braço e fez o mesmo.


Olha eu aki d novo gente.. hehehehehe
desculpe pela demora, mas eu estava com problemas com essa fic... tempo msmo.. heheheehe
mas eu prometo que a partir d agora os cap vao ser grandoes.. quero posta uma fic nova, mas so vou posta qndo eu acabar alguma fic antes, so pra não enlouquecer + do q jah sou.... hehehehe
Amei os comentarios.. Podem cont comentando.. a autora agradece... rsrsrss
Bjoks p/tds e ate +...

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