Um Teste de Magia




Capítulo 3

Um Teste de Magia



Naquele sábado, a primeira noite de jantar em Hogwarts não foi diferente dos anos anteriores. Quando o relógio bateu e ecoou pelo castelo que já eram onze horas, todos os alunos de Hogwarts já estavam deitados em seus dormitórios, embora não necessariamente dormindo.

Harry e Hermione subiram para o sétimo andar e, embora tivessem planejado irem para Hogsmead com Levi, os dois preferiram ficar ali mesmo e dormirem com o filho na Sala Precisa. O lugar já era um amplo quarto com uma cama de casal luxuosa e uma pequena e enfeitada cama de solteiro para Levi. Desse modo os três já sabiam que o cansaço da viagem seria compensado ali mesmo.

O domingo nasceu um dia lindo como Hermione não via há muito tempo da janela de Hogwarts. Logo pela manha, olhando para os extensos campos que circulavam o castelo, Hermione viu Heron caminhando pelo jardim com as vestes desarrumadas e um ar de insônia.

Ela sorriu, observando o filho ao longe.

E alguns minutos depois Levi acordou, dizendo estar com fome, e Hermione acordou Harry para que os dois fossem até a cozinha pegar algo para Levi.

Harry já estava trocado quando a janela foi invadida por uma belíssima coruja branca, que deixou um pedaço de pergaminho cair em cima da cama e então saiu da mesma forma que havia entrado.

- É do professor Dumbledore. – disse Hermione, lendo as poucas palavras escritas no pedaço de papel.

- O que ele diz? – Harry ainda ajeitava a camisa de frente ao espelho.

Hermione sorriu, pegando Levi no colo, e ergueu os olhos para o marido.

- Fala para irmos até o escritório dele... E assegura que terá o mais delicioso suco de abóbora acompanhando panquecas que Levi jamais verá na vida. – ela completou, sorrindo.

Harry virou-se para Hermione com um olhar confuso.

- Como ele faz isso?

A morena somente deu os ombros.

Eles deixaram a sala precisa e foram com Levi até o escritório do professor Dumbledore. Dessa vez a gárgula que guardava a entrada do lugar não pediu senha. Ao invés disso ela apenas olhou para Harry e disse numa voz fria e arrastada: “O Diretor Alvo Dumbledore está a sua espera, Harry Potter, você e sua família podem passar.” E rodou como fazia sempre, revelando uma escada circular que subia até o escritório do diretor.

De fato, quando eles adentraram a sala de Dumbledore, o professor já os esperava sentado confortavelmente atrás da sua escrivaninha. Ver Harry e Hermione depois de tanto tempo fez seus olhos azuis lacrimejarem e ganharem um brilho feliz e discreto por detrás dos oclinhos de meia-lua. Hermione não pode deixar de sorrir diante do tão grande carinho que o homem tinha pelos dois, estampado nas suas feições cansadas.

- É bom vê-los tão bem, depois de tanto tempo. – foi a primeira coisa que o homem disse.

Hermione sentou Levi em seu colo e sorriu para Dumbledore.

- É muito bom ver o senhor também, professor Dumbledore. – ela disse.

- Como estão as coisas...? Em casa... No Ministério, Harry?

- Um último caso intrigante tem me tirado noites de sono, professor, mas fora isso tudo está muito bem. – ele e Hermione se entreolharam. – Nós estamos muito bem, todos muito felizes.

Dumbledore pigarreou e estendeu a Harry uma pasta velha de couro desbotado; um desarrumado bloco de pergaminhos ameaçava escapar pelas bordas rasgadas da pasta.

- Eu já estou ciente, o incidente se deu com a família da nossa nova professora de Feitiços, Astarte Burchell. Recolhi algumas informações que pretendia mandar para você durante essa semana, mas aproveitando a sua visita, você poderia já ficar com a pasta.

Harry passou os olhos rapidamente por cima dos vários papeis. Viu sobre documentos, como certidões de nascimento, identidade e até mesmo recortes de jornais, mas logo voltou a encarar Dumbledore, surpreso.

- Obrigado, professor, certamente qualquer informação adicional será de grande ajuda. – ele sorriu.

Hermione não pareceu tão satisfeita diante da menção do caso que, ela sabia, estava trazendo tantos problemas a Harry. E o pior era que ela sabia que, nesse ponto, eles tinham pontos de vista perigosamente diferentes, porque ela realmente achava boba a forma como aquele caso mexia com Harry e a importância desnecessária que o moreno dava a uma falha dentre tantos êxitos.

Dumbledore interrompeu esses pensamentos sorrindo para Levi e Hermione.

- Da última vez que o vi, pequeno, você tinha apenas dois anos. – Dumbledore sorriu para Levi.

E o menino, como se estivesse de frente para seu próprio avô, sorriu de volta e pulou do colo de Hermione, correndo para abraçar Dumbledore atrás da mesa de madeira nobre.

Hermione sabia que, durante os dois primeiros anos da vida de Levi o pequeno vira Dumbledore tantas vezes que ficar afastado do homem por dois anos não apagaria o carinho que um tinha pelo outro.

- Oh, pequeno, eu senti falta de você, garoto. – Dumbledore disse sorridente.

- Eu também senti saudade, Alvo. – o garoto respondeu, chamando o diretor pelo primeiro nome da forma que só ele, dentre os outros Potter, se acostumara a chamar.

Dumbledore soltou Levi do abraço e o sentou em cima da escrivaninha de madeira.

- Então, Harry, Hermione, quanto tempo vocês pretendem passar aqui?

- Na verdade, professor, nós pretendíamos passar alguns dias em alguma casa de aluguel em Hogsmead, mas ontem, durante o jantar, a Tonks disse que poderíamos passar alguns dias com ela e Lupin na casa deles no povoado. – Hermione explicou.

- Ora, mas porque não passam essas férias improvisadas aqui em Hogwarts? – Dumbledore perguntou. – Tenho certeza que Minerva adoraria discutir com você, Hermione, sobre vários tópicos da transfiguração que ela tem trabalhado em sala. E você, Harry, poderia treinar Quadribol com o Heron e a Catherine.

Harry sorriu amarelo para o diretor.

- O Heron, na verdade, não gosta tanto de Quadribol assim, professor.

- Mas a Catherine é uma artilheira excepcional. – Dumbledore argumentou. – Ela é, provavelmente, a melhor capitã da Grifinória desde Olívio Wood.

Hermione e Harry riram.

- Então, o que acham sobre a minha proposta?

- É muito tentadora, professor, mas mesmo que eu possa continuar as minhas pesquisas aqui, o Harry não poderia aparatar até o Ministério. Acho que é melhor aceitarmos o convite de Tonks e Lupin e irmos para Hogsmead mesmo. – Hermione lamentou.

Harry concordou com ela, acrescentando que também seria bom ver Lupin e Tonks depois de tantos meses sem falar com eles. De fato, Harry sentira muita saudade dos dois. Durante o sétimo e último ano em Hogwarts, Lupin tinha sido para ele tudo o que ele esperava que Sirius seria e o garoto passou a não poder negar mais que o homem havia se tornado um verdadeiro pai para ele. E Tonks, ele diria, a mais perfeita das madrastas.

A conversa com Dumbledore se prolongou por mais cerca de uma hora, quando enfim Harry e Hermione partiram com Levi para o povoado de Hogsmead.

O dia, então, havia finalmente começado de fato e os alunos de Hogwarts dormiam até tarde ou iam para os jardins aproveitar o dia fresco.

Heron acordara cedo naquela manha e já estava fora da cama quando Hermione e Harry foram conversar com Dumbledore. O moreno passara boa parte da manha dentro do castelo, apenas tomando o café-da-manha e acompanhando as notícias do Profeta Diário, de modo que já não era tão cedo quando ele decidiu correr um pouco até o campo de quadribol.

Já estava atravessando a enorme porta que levava aos jardins de Hogwarts quando uma voz doce e feminina chamou pelo seu nome. Ao virar-se pode contemplar o melhor sorriso de Claire Walker.

- Hey, Heron! – ela chamou mais uma vez.

Heron sorriu para ela em resposta e levantou o braço.

- Tudo bem, Claire? – ele perguntou.

Ela balançou a cabeça distraidamente; os cabelos que lembravam macios fios de ouro estavam presos atrás da cabeça e balançavam suavemente, levados pela brisa fraca que entrava em Hogwarts.

- Tudo ótimo – ela sorriu. – Mas achei que fosse a única a acordar cedo aos domingos.

- Não é tão cedo assim...

- Eu sei – ela consentiu, e voltou a andar na mesma direção que Heron estava indo antes, com o rapaz ao seu lado. – Só que vi você há umas duas horas, quando desci para o café da manha. Me parecia muito concentrado no Profeta Diário quando eu cheguei no Grande Salão.

Eles saíram para o jardim, expostos a um dia ensolarado e a uma brisa fresca, ambos maravilhosos. Claire jogou seu rabo-de-cavalo por cima do ombro e ficou brincando com os cabelos, enrolando o indicador distraída nas mechas douradas.

Heron desviou o olhar da garota para a paisagem.

- Eu não tenho o costume de acordar cedo aos finais de semana, na verdade – ele admitiu. – Mas hoje, da Torre da Grifinória, o dia parecia bonito demais para ser desperdiçado.

Ela suspirou.

- Bom, a Torre da Corvinal não me fornece uma visão tão maravilhosa quanto a da Grifinória, então isso não justifica nada pra mim... Mas tenho certeza que da Torre da Grifinória você tem uma visão bem ampla dos jardins...

Heron tornou a encará-la, agora espantado.

- Você sabe onde fica o salão comunal da Grifinória?

- Atrás do quadro da mulher gorda... – ela abanou as mãos no ar, com um ar displicente. Claramente achava aquilo muito mais natural do que Heron.

O garoto olhou para os próprios pés, ainda confuso, e depois para o Lago Negro, longe dos dois; há muitos metros a sua frente. Claire parou de andar e ele também. Ela fechou os olhos e suspirou demoradamente o ar fresco da manha.

- Eu achei que demoraria a acordar hoje, tendo em vista que você subiu tarde para o salão comunal ontem – ela deixou a frase no ar durante um longe minuto. – E ainda demorou a dormir depois de deitado.

Heron então a olhou com os olhos castanhos arregalados.

- Como você sabe de tudo isso? – ele gaguejou, exasperado. – Q-quer dizer, você... Você anda me espionando?

Claire abriu os olhos novamente e o dedo indicador parou de enrolar os cabelos. Ela olhou para Heron com uma expressão perdida e ao mesmo tempo, engraçada. Depois começou a rir. Não uma simples risada. Uma gargalhada alegre, como se acabasse de ouvir uma grande piada.

Heron não riu, apenas continuou encarando-a. Sentindo-se uma grande interrogação. Claire pareceu não perceber isso, mas ainda assim parou de rir.

- Ah, qual é! Você não acha realmente que eu estava espiando você, certo? – ela perguntou, rolando os olhos com uma última risada. – Eu apenas conheço alguns segredos interessantes de Hogwarts... E, bem, suas olheiras meio que te denunciam, sabe?

Heron voltou a olhar para frente, irritado. Por um segundo ele teve que lutar contra si mesmo para se convencer de que aquela resposta não havia o decepcionado, e sim aliviado. Contudo, isso pareceu não passar despercebido a Claire, já que a garota corou e baixou os olhos para os próprios pés.

Então, eles estavam em uma situação estranha e completamente constrangedora. Num segundo estavam quietos, num silêncio tão profundo que o canto de alguns pássaros parecia muito mais alto. Depois, viraram-se ao mesmo tempo, um para o outro, falando coisas depressa e tão enrolados que nenhum dos dois jamais entendera, sequer, aquilo que haviam dito.

Tanto Claire, quanto Heron, pararam de falar. Mas os rostos, de repente, estavam muito próximos um dos outro. A respiração da menina vacilava diante do hálito fresco de menta que ela podia sentir vindo dos lábios entreabertos de Heron. Ele suspirava pausadamente.

A boca da loira tremeu de leve e, por um segundo, ela teve a impressão de sentir os lábios do moreno cada vez mais perto, se aproximando. Então abusou do seu autocontrole e virou a cabeça dando um passo largo para trás.

Heron ofegou e fechou os olhos numa expressão que era confundida entre alívio e desapontamento, mas Claire ainda sentia-se tonta demais para perceber.

- Er... – ela gaguejou. – Então, é, isso! – e olhou para os lados, nervosa. – Eu te vejo por aí, Potter... Até mais.

E saiu andando. Andando rápido, de modo a fazer Heron jurar que ela estava se contendo para não correr. E isso, de alguma forma, fez o rapaz sentir-se idiota.

- Certo! – ele disse a si mesmo. – Uma caminhada, é tudo o que você precisa, Heron. Uma caminhada até o campo de Quadribol.

E naquela direção ele seguiu, sem pressa, tentando não pensar em nada. Apenas desejando, intimamente, que a caminhada surtisse um efeito semelhante a um banho frio.

Mal sabia ele...



Embora Heron cumprisse bem sua função de goleiro no time da Grifinória, o seu preparo físico não era dos melhores e, ao chegar ao campo de Quadribol depois de uma corrida, suas pernas já pediam descanso.

Ele apoiou-se nos próprios joelhos por um momento e ofegou demoradamente.

Depois se levantou e correu mais um pouco até a entrada do vestiário masculino, onde lavou o rosto rapidamente e jogou água na cabeça para afastar o calor.

Se ele já não estivesse ali, tinha certeza que desistiria de voltar para o castelo correndo também, mas tentou colocar na sua cabeça que por não ser tão atlético quanto Cat ou o pai, seria bom praticar algum exercício que fosse mais freqüente que os jogos de Quadribol.

Ele atravessou os campos correndo e já estava na saída quando alguém falou em voz baixa, mas se vez ouvido por qualquer um que estivesse no campo naquele silêncio.

- Você, evidentemente, não é tão forte como o seu pai – disse uma voz sedutoramente feminina. – Se é que me entende.

E Heron virou-se, vendo a nova professora de Feitiços há poucos metros de distância.

- Astarte Burchell – ela sorriu.

Heron não compartilhou do sorriso. O comentário que ela fizera sobre Harry ainda ecoava incômodo na sua cabeça. Por um momento o garoto sentiu-se que Astarte não tivesse nenhum direito de dizer aquilo com aquele tom insinuante, uma vez que Hermione fosse sua mãe e muito bem casada com Harry.

Num segundo seguinte, entretanto, aquilo deixou de importar.

Agora Astarte andava em direção a Heron parecendo desfilar para o rapaz. E isso pareceu deixar o rapaz apreensivo.

- Eu sei o seu nome. – ele respondeu; a voz saindo tremida da garganta. – E quanto ao meu físico... Bem, eu fui educado para acreditar que a força de um bruxo não está nos músculos, está na magia.

Ela riu.

- E está certo! – Astarte concordou com um tom solene. – A capacidade magia de um bruxo é o que o torna forte e, nesse sentido, eu tenho certeza que você tem potencial.

Heron levantou as sobrancelhas, desconfiado.

- E por que você pensa assim?

- Porque você é filho de Harry Potter e Hermione Granger e, por mais que alguns bruxo achem isso frieza, é fato, a magia é, por parte, hereditária. – ela explicou com um tom professoral que Henry não tinha notado no primeiro momento. E depois ela continuou: - A outra parte da magia de um bruxo é forte ou fraca em relação ao próprio bruxo... Mais precisamente, ao coração dele.

Astarte sacou a varinha da calça jeans que usava e balançou-a com graça no ar. Uma corrente de ar rodopiou para cima e explodiu em faíscas negras que pairaram no ar, escurecendo os poucos metros que os separavam.

- Claro que não é fácil de analisar esse tipo de coisa – ela continuou. – Escolha por agir sem nenhuma ética ou moral, usando magia para fins obscuros, e você será dominado pela magia negra. Muda sua personalidade, muda sua forma de enfeitiçar – ela grudou os olhos na ponta da própria varinha. – Dizem que até o modo de balançar a varinha passa a ser outro. E então o bruxo ter acesso as artes mais negras, aos feitiços mais traiçoeiros e lamentavelmente mais poderosos que livros escondem do mundo. Você se torna única, imbatível...

Heron abriu a boca, mas não disse nada.

Astarte rodou novamente a ponta da varinha e os pontos de luz negros no ar passaram a brilhar em todas as cores vivas e alegres. O ar encheu-se de brilho, como se a aurora boreal pairasse sobre os dois.

- Até, é claro, que alguém conheça o que é bravura, Heron. – ela disse com a voz macia. Heron olhou para ela surpreso com a mudança repentina – As trevas são fortes por não terem escrúpulos, mas você tem que saber que a luz é sempre, em qualquer hipótese, mais forte, por mais nobre. Um bruxo que age pelas coisas boas, que tem coragem e amor no coração, não pode ser derrotado, Heron. A magia é uma força semi-consciente e ela ajuda àqueles que merecem, que têm o coração puro o bastante para recebê-la. É assim que nascem heróis.

Então as faíscas voadoras caíram como se pesassem toneladas e se apagaram no chão. O olhar de Astarte pareceu voltar um pouco a realidade e cravou-se no castanho dos olhos de Heron.

O rapaz sentiu frio lhe subir pela espinha. Seus olhos desceram, hipnotizados, para os lábios extremamente vermelhos da professora. Ele sentiu a garganta seca e os lábios crispados.

- Você... É, a senhora, quero dizer, entende bastante de magia – ele disse.

Astarte deu os ombros e andou até o rapaz, dando os ombros com displicência.

- Eu sempre quis dar aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas, mas aceitei de bom grado as aulas de Feitiços, que são muito interessantes também. E no que depender de mim serão mais dinâmicas também.

Henry não conseguiu evitar associá-la rapidamente com o professor de Poções, Severo Snape, mas tratou de tirar esse pensamento da cabeça.

- Suponho que a senhora entenda bastante de Duelos, nesse caso – ele comentou brandamente, sem saber mais o que dizer.

Ela aproximou-se mais. Os dois estavam apenas alguns centímetros de distância um do outro. Ela abriu mais um sorriso no rosto belo.

- Eu sei – ela respondeu, e depois propôs: - Quer testar sua capacidade mágica?

O rapaz saiu do transe e foi obrigado a desgrudar seu olhar dos lábios da professora.

- Como assim?

- Duelar comigo – ela disse. – Aqui e agora, o que acha?

- Ah, claro – ele respondeu rapidamente, sem realmente pensar na proposta da professora.

Cinco minutos depois ele se deu conta que já estava de frente para Astarte, há uns dez metros de distância, com a varinha em mãos, armada; entre eles o centro exato do campo de Quadribol.

E Heron ainda não estava completamente preparado quando o primeiro feitiço foi disparado e o duelo começou.

Era um feitiço estuporante e atingiu Heron direto no peito. O rapaz só teve um segundo para colocar cada pensamento no lugar, no momento seguinte, enquanto seu corpo voava para trás, e rodou no ar e enterrou os pés no chão. A grama foi arrancada do chão violentamente e Heron conseguiu ficar de pé.

Ele levantou os olhos, procurando por Astarte, mas ela não estava mais ali.

É rápida, concluiu.

Heron ouviu um zumbido alto atrás de si e pulou para frente o mais rápido que pôde. Virou-se para trás a tempo de ver a terra explodir há poucos metros de si e a grama verde voar em várias direções. Astarte estava há uns dez metros no momento que ele olhou, e então desaparatou.

Mas dessa vez Heron estava mais atento e ela não poderia contar com a distração dele. O rapaz ouviu um estalo alto atrás de si. Virou-se já gritando:

- Estupefaça!

O raio vermelho disparou em direção ao lugar onde Astarte acabara de aparecer. A professora de Feitiços tentou esquivar-se, mas o feitiço atingiu seu ombro, fazendo-a rodopiar no ar.

Por um rápido segundo Heron sorriu vitorioso, e depois soube que fora um terrível engano.

Astarte equilibrou-se no ar, e pousou em pé no chão, leve como uma pena. Um sorriso de superioridade seguindo de mais um feixe de luz de jorrou de sua varinha em direção a Heron.

Uma luz roxa que não atingiu o rapaz por poucos segundos, mas fez seu coração disparar dentro do peito. Ele não sabia que feitiço tinha sido aquele, mas poderia supor que não se podia deixar ser atingido.

Astarte lançou-o novamente. Heron improvisou um salto por cima das faíscas roxas, que atingiram as arquibancadas atrás de si, mas sem causar nenhum dano.

Foi aí que Astarte cometeu um erro que Heron julgou imperdoável: lançou pela terceira vez o mesmo feitiço.

Agora Heron arrancou um punhado de mato do chão e jogou em direção ao feitiço de Astarte. Cada folha verde secou e enrijeceu diante dos olhos castanhos do rapaz.

O rapaz decidiu que era hora de agir.

Firmou os pés no chão como não pudera fazer nos últimos instantes por estar esquivando apenas. Depois estendeu a varinha com leveza e bradou:

- Rictusempra!

Da ponta da varinha uma luz branca saiu rápida, dando piruetas no ar, e voou em direção à Astarte. A bruxa desviou, mas Heron brandiu a varinha na direção na bruxa e o feitiço chicoteou no ar e seguiu a professora na sua nova direção. Atingiu-a em cheio e o corpo dela ergueu-se no ar, rodando como um pião, para depois cair pesadamente no chão.

- Parabéns – ela sorriu ao se levantar. – Esse é um truque bem interessante.

Heron não sorriu, apenas tentou estuporá-la sem sucesso. A bruxa saltou para o alto desviando do feitiço, mas diferente do que poderia imaginar, Heron previra esse movimento.

- Gravira! – ele ordenou.

Aparentemente, nada aconteceu. Mas no ponto mais alto do seu salto, Astarte sentiu os movimentos perderem a leveza. Seu corpo parou no ar e depois despencou do alto como se pesasse muitas toneladas. Caiu no chão como se não tivesse vida.

Nos cantos dos lábios de Heron surgiu um sorriso cheio de orgulho.

- Esse também é – ele disse.

Ele achou que Astarte teria raiva, teria seu orgulho ferido, mas não foi isso que aconteceu.

Quando a professora levantou a cabeça, o sorriso tipicamente travesso tornara-se malicioso. Beirando a insanidade. E nos seus olhos Heron teve a impressão de ter visto um brilho vermelho tremular, mas quando ela piscou não havia mais nada.

Por algum motivo Heron soube que a luta não havia terminado.

Mas mesmo assim ele não estava pronto para defender-se quando, sem nem se levantar do chão, Astarte ergueu a varinha e disse algo que Heron não pôde ouvir. Da ponta da mesma, uma luz pálida, quase transparente, saiu. Deslizou pelo ar com desenvoltura; tinha um aspecto estranho, parecia quase um líquido pastoso.

O feitiço atingiu Heron no peito e no mesmo instante um dor insuportável cresceu no seu peito. Ele sentiu as costelas serem fortemente pressionadas para dentro, enquanto seu corpo voava vulneravelmente pelos ares. Pensou ter ouvido um estalo alto, mas não teve como provar que não estava imaginando coisas.

Quando seu corpo finalmente chocou-se contra a arquibancada, a madeira cedeu e quebrou-se abrindo espaço para que o corpo de Heron se adiantasse por mais alguns metros, e pousasse com violência, quebrando o chão de madeira abaixo de si. Uma dor aguda forte debaixo do braço e Heron teve certeza: tinha quebrado algumas costelas.

Tentou se levantar, mas seu corpo não respondia aos seus comandos. O olho esquerdo estaca quase completamente fechado e Heron nem tentava abri-lo.

Ainda assim, sentia que alguma coisa quente e viscosa escorria pela mão e pingava das pontas dos dedos. Estava sangrando.

Heron viu o semblante de Astarte interromper a visão que tinha do céu. Ela estava ajoelhada em cima dos braços de Heron, impedindo qualquer movimento, muito embora ele duvidasse que fosse conseguir mover um dedo sequer de qualquer forma.

Astarte abaixou-se e estendeu o corpo sobre o de Heron; seu rosto aproximou-se do dele.

- Sabe, Heron, com magia não se deve brincar – e se aproximou ainda mais. – Mas eu confesso que você sabe brincar com ela muito bem.

Heron já sentia o hálito fresco dela invadir suas narinas. O cheiro dela era doce, intoxicante. Os lábios dela estavam cada vez mais próximos dos seus. Perigosamente próximos.

- Diga-me, Heron, com o que mais você sabe brincar? – ela perguntou em um sussurro.

Heron sentiu a consciência deixá-lo aos poucos. Nunca descobriu se os lábios de Astarte havia chegado a tocar os seus, como ele suspeitava que aconteceria se ela continuasse a se aproximar. Antes disso, já havia mergulhado numa escuridão profunda e interminável. Sua consciência o deixara.

E não voltaria tão cedo.







Nota do Autor: Bom, depois de muito tempo sem postar devido a problemas técnicos como escola e vestibulares, eu finalmente vou poder voltar a me dedicar a fics. Queria primeiramente pedir desculpas por esse período incômodo de hiato, mas o próximo capítulo não vai demorar tanto.

Bom, vocês sabem que podem se sentir a vontade para perguntar, refletir, criticar e elogiar também, obvio! ;D Bom, espero que vocês tenham gostado desse capítulo e vão ali comentar bastante.

O próximo capítulo apresentará um personagem novo muito interessante e que promete adicionar bastante a fic. Outra coisa que pretendo mostrar um pouco mais nos próximos capítulos é a vida do Harry e da Hermione no dia-a-dia e um pouco da vida dos irmãos Potter na escola. Mas fiquem espertos... =D

Até a próxima att!!! ... Lucas xD

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