William Chase



Pouco a pouco, ele sabia que estava voltando a si, mas a sensação era horrível. Parecia haver um mar de cores revoltoso a sua frente, ou talvez fosse um caleidoscópio gigantesco girando sem parar. Mas os movimentos foram se acalmando, as cores foram mudando e tomando forma, e os sons foram tornando-se distinguíveis.

Heron finalmente pôde ver a imagem de um teto se formar diante dos seus olhos. De alguma forma, ele soube que não estava na enfermaria. Mas sabia que deveria estar. Talvez fosse pelas dores agudas por todo o corpo. Ele já conseguia se mexer novamente, mas seus músculos pareciam retraídos, esticando-se dolorosamente, à medida que ele se mexia, por cada centímetro do seu corpo.

Só então, recostado da cabeceira da cama, ele pôde realmente entender nitidamente o que dizia a voz que ecoava pelo aposento.

Era a voz de Astarte.

- Está sentindo-se melhor? – ela perguntou, carinhosamente, colocando a mão na sua testa. – A febre já passou.

As memórias do que acontecera voltaram, então, violentamente a sua consciência. E Heron afastou-se dela num movimento brusco, mas parou sentindo as dores novamente lhe atacarem o corpo.

- Ei, não se mexa tanto. Pelo menos não ainda – ela disse, abrindo um sorriso. – Acho que peguei um pouco pesado demais com você, não é?

Ele abriu a boca, mas a voz não saiu. Ao invés disso uma irritação forte desceu pela garganta e lhe causou uma forte crise de tosses.

- Heron, vai com calma, você se machucou bastante – ela apenas repetiu o que para ele já era obvio. – É melhor começar a falar apenas palavras, depois curtas frases, e até o fim do dia terá voltado a falar normalmente.

Mas ao ponto em que parou de tossir, ele já se sentia disposto a conversar mais normalmente. E mesmo que não estivesse, a agitação do rapaz exigia que ele sanasse logo as dúvidas que pairavam na sua mente.

- Onde... Onde estou? – ele perguntou com a voz rouca.

Astarte exibiu um belo sorriso e levantou-se parecendo mais tranqüila, indo até uma penteadeira que Heron só agora havia notado, no lado oposto do cômodo.

- No meu quarto – disse ela. – Eu achei que Madame Pomfrey não te deixaria sair da enfermaria pelas próximas duas semanas se te visse assim. E como sabia que você não gostaria de ter que ficar lá todo esse tempo, te trouxe pra cá.

Ele balançou a cabeça em compreensão, mas não estava olhando para a professora. Estava com a atenção voltada para uma enorme faixa branca que lhe cobria o peito. Havia também um curativo na sua perna direita e o braço esquerdo estava enfaixado, apoiado a uma tala de madeira.

Ela sorriu diante da expressão assustada do rapaz.

- Você se machucou feio, como eu disse. Quebrou três costelas e o braço esquerdo, fora um pedaço de madeira que furou sua perna – ela riu descontraída. – Um machucado bem fundo e feio, diga-se de passagem.

Heron fez um pouco mais de esforço e consegui se por sentado na cama.

- Você que... Fez isso? – perguntou constrangido.

A professora pegou um vidrinho vazio numa das gavetas e encheu de um líquido azulado que havia em uma jarra maior em cima da penteadeira.

- Todo mundo deveria saber um pouco sobre magia de cura – ela virou-se para ele, com o vidrinho na mão. – Eu sempre achei que estudar essa área seria útil um dia.

E com mais um sorriso satisfeito no rosto, ela caminhou até a cama e ofereceu o líquido a ele, explicando que tratava-se de uma poção que o ajudaria a superar a dor dos ferimentos e extinguiria os efeitos do feitiço.

- Que feitiço era aquele, afinal? – Heron perguntou, havia um pouco mais de fluência na sua fala, mas a voz continuava rouca e vacilante.

- Um que você não aprenderá aqui em Hogwarts e eu certamente não usarei novamente tão cedo.

Ele abriu a boca, mas tornou a fechá-la. Na verdade, estava bem hesitante quanto à outra questão que martelava sua cabeça.

E Astarte pareceu perceber isso, mas ao responder, seu sorriso havia desaparecido do rosto sem deixar vestígios. Sua expressão era a mais séria possível.

- Não pense que usei magia negra em você. Em uma guerra, não existe magia negra ou branca, apenas formas de defender-se ou atacar.
Por um rápido segundo Heron sentiu uma tensão forte no ar, e achou que aquilo não era exatamente uma resposta negativa. Mas outro sorriso branco, e dessa vez súbito, de Astarte, o fez esquecer-se daquilo.

Ele então aceitou o vidrinho das mãos da professora e tomou toda a poção azulada em um só gole.

- Obrigado, professora.

- Não agradeça, eu é que teria que me desculpar com você.

Heron sorriu amarelo e se levantou lentamente, apenas negando com a cabeça.

- Pode ir, querido, apenas não faça muito esforço durante o dia nem fale demais. Tome um banho quente a noite, durma cedo, e amanhã estará sentindo-se melhor do que nunca.

Ele sorriu e foi em direção a porta.

- E Heron – ele tornou a olhá-la. – Você é um ótimo duelista, e tem tudo para ser um ótimo bruxo também.

O rapaz apenas sorriu. E de todo modo, Astarte não esperava que ele dissesse alguma coisa. Ela sabia que ele ainda devia estar confuso e um pouco desorientado, e suspeitava que ele fosse deixar seu quarto e seguir diretamente para seu dormitório.

E foi isso que ele fez.

Quando Heron chegou ao dormitório depois de um dia apenas descansando, já se passavam das dez horas da noite e só então ele concluiu que havia ficado desmaiado o dia todo e que havia perdido todas as aulas. E sabia que isso iria ter conseqüências, principalmente se chegasse aos ouvidos da mãe.

Enquanto tomava um banho, se pôs a pensar que Astarte deveria ser uma ótima bruxa no campo da medicina também. Ele daria a si mesmo um mínimo de uma semana desacordado a julgar pelo estrago que o feitiço causara. Quando seus pensamentos chegaram ao feitiço ele passou a se perguntar que feitiço seria aquele.

Certamente não um muito convencional. E com certeza era um feitiço não-verbal. Mas a forma como ele se sentira ao ser atingido por ele tinha sido tão horrível, fazendo-o por segundos pensar que morreria, que ele simplesmente não conseguia tirar da cabeça a absurda idéia de que tratava-se de magia negra. Mas Astarte, dócil e simpática como havia se mostrado, simplesmente não se encaixava no perfil de uma praticante das artes das trevas.

Quando Heron terminou o banho, estava, de fato, sentindo-se bem melhor. E como se já não tivesse dormido durante o dia inteiro, deitou-se já com sono, muito cansado, e não demorou a adormecer novamente.


Harry não viu quando cachos loiros apareceram balançando pela fresta da porta do seu escritório. Ele estava focado demais no monte de papéis a sua frente para perceber.

- Senhor Potter? – Jasmine Daves, sua secretária, chamou-o.

Ele nem sequer tirou os olhos dos documentos, olhando-os com frustração.

- Sim, Srta. Daves?

A mulher então sentiu-se livre para abrir a porta de uma vez e postar-se diante da entrada do escritório dele com seriedade.

- O Sr. Chase está aqui, disse que precisa falar com o senhor... – o homem não lhe respondeu nada, continuou com o foco nos próprios documentos, dando espaço para que ela continuasse. – Parece que é algo sobre o caso de assassinato em Paddington.

Então Harry pareceu reagir. A atenção rapidamente voltou-se para a mulher a sua frente. Um sorriso manifestou sutilmente em seus lábios.

- Peça que ele entre, imediatamente, Srta. Daves.

A secretária sorriu satisfeita, assentiu com a cabeça e saiu da entrada da sala deixando a porta aberta, até que um homem loiro, vestido com uma calça jeans simples e uma camisa preta, entrasse.

William Chase não tinha mais do que um metro e setenta e cinco de altura, mas era um dos mais jovens e bonitos aurores do Ministério da Magia da Inglaterra. O rapaz tinha cabelos loiros curtos que insistiam em cair na frente dos olhos. Foi enquanto ele tentava rapidamente ajeitá-los que Harry se levantou detrás da mesa com um meio sorriso no rosto.

- Will, eu estava mesmo esperando que você aparecesse com boas notícias – Harry disse de bom humor.

Se havia um auror dentro de todo o Ministério em quem Harry confiava, era Will. A troca de apelidos tinha se tornado comum entre os dois uma vez que Harry vira no rapaz a pessoa perfeita para, um dia, tomar seu lugar na coordenação do departamento.

Ele confiava em cada um dos seus funcionários, via capacidade em todos eles de cumprir com sua obrigação de defender a população bruxa de todo e qualquer praticante das Artes da Trevas, mas Will Chase tinha algo a mais. Uma coisa que Harry não conseguia identificar, mas que completava o rapaz enquanto auror. Talvez fosse a inteligência e sagacidade do rapaz. Ou talvez fosse a sua vontade de trabalhar, de fazer a justiça e cumprir o mais perfeitamente possível com seu trabalho. Ser auror, para Will, era definitivamente mais do que um emprego, era sua paixão.

Por muitas vezes ele vinha a lembrar Hermione. Ainda que a sua esposa fosse uma bruxa muito mais poderosa e competente que Will, Harry via nele o mesmo futuro promissor que vira nela anos atrás, e agora se mostrava verdade.

Os olhos azuis de Will brilharam quando o orgulho que seu chefe sentia do seu trabalho ficou estampado na sua voz.

- Eu esperava achar você aqui ainda hoje – o loiro disse, e depois de um aperto de mãos com seu superior, sentou-se diante da escrivaninha tirando alguns documentos de dentro de uma pasta preta de couro. – Quase não consegui dormir essa noite pensando sobre as mortes em Paddington, então acordei bem cedo e resolvi fazer uma investigação mais aprofundada sobre o caso.

Harry assentiu com a cabeça, sorrindo. Era isso que esperava de alguém que se considerasse um bom auror: comprometimento.

- E conseguiu achar alguma coisa alem do que já sabíamos? – o moreno indagou. – Não temos muito para abrir um inquérito. Se não apresentarmos indícios ao Ministério de que podemos solucionar o caso em alguns dias, eles certamente irão querer arquivar o caso.

Will olhou para ele enquanto separava alguns documentos e colocava-os ordenadamente na mesa do chefe. E sorriu vitorioso.

- Diferente dos últimos dias, consegui algumas informações úteis – Harry ajeitou-se na cadeira atrás da mesa e inclinou o corpo para frente, novamente com um sorriso no canto dos lábios de satisfação. – Não é muita coisa, mas é o suficiente para convencê-los a seguir com as investigações.

O moreno suspirou profundamente e voltou o olhar para Will.

- Bom, vamos lá! O que você tem aí?

William suspirou e apontou para o primeiro documento que havia posto na mesa de Harry.

- Bom, primeiro eu fui ao St. Mungus hoje de manhã, e arrumei um medi-bruxo competente o bastante para fazer exames minuciosos nos cadáveres das vítimas...

- E...?

- E – disse ele. – Acontece que as vítimas não sofreram nenhum tipo de tortura ou agressão física... Na verdade, elas simplesmente morreram.

- A Maldição da Morte... – Harry concluiu. E Will concordou silenciosamente – já era de se esperar que o assassino tivesse a usado, mas é muito estranho que não tenha havido nenhum tipo de tortura.

- Significa que o assassino não estava atrás de nada que estivesse sobre a posse das vítimas, nem queria tirar deles nenhuma informação.

- Exatamente – disse Harry. – Ele só queria matá-los.

- Mas isso não faz nenhum sentido, faz senhor? – Will perguntou, mas parecia bastante seguro da própria dedução. – Matar apenas por matar, em tempos de paz, dezesseis anos depois da última guerra. Não faz o menor sentido!

Harry suspirou e encarou os documentos. Realmente, não fazia sentido. Por que alguém iria querer bagunçar com a cabeça da comunidade bruxa para depois desaparecer sem deixar vestígios? Se houvesse algum bruxo praticante de Artes das Trevas querendo tornar-se um novo tipo de Voldemort, não sumiria tão rapidamente, não mataria de um modo tão rápido, torturaria mais, faria as pessoas sofrerem. E certamente um seguidor de Voldemort não teria parado por ali. Se fosse o caso mais mortes teriam sido reportadas naquela semana.
Então Harry levantou novamente a cabeça e concordou, em um tom de desânimo.

- Não... Não faz sentido... – e depois completou dizendo ao rapaz porque ele não achava que se tratava de um novo Voldemort. – Mas o que você descobriu já elimina muitas outras possibilidades, Will.

O rapaz olhou novamente para o chefe e pareceu se lembrar a razão pela qual estava ali: dar continuidade ao caso, e não se lamentar pelo que eles não sabiam. Então ele pegou o segundo papel que havia posto sobre a mesa de Harry.

- Senhor, eu fui também à Prefeitura trouxa de Londres e a vários cartórios – Will continuou. – Por fim, consegui juntar um histórico bem completo e detalhado da família Burchell e montei a árvore genealógica deles.

Harry ergueu os olhos para o rapaz, vendo ali mais um motivo para se orgulhar do seu melhor auror. Era mesmo impressionante que William tivesse apenas vinte anos. Apenas três anos de formado em Hogwarts e ele já era o melhor auror do departamento depois do próprio Harry. Ingressara no departamento como um auxiliar, tratava apenas dos casos pequenos de infração a lei, mas seis meses foram mais do que suficientes para que provasse seu valor dentro do Ministério e logo Will fora promovido para um auror de verdade. Foi quando ele despertou a atenção de Harry, que começou a apostar suas fichas no trabalho do garoto e nem sequer uma vez havia se arrependido.

- Perfeito – foi a única palavra que Harry disse.

Harry Potter não era conhecido exatamente por ser bonzinho e carinhoso dentro do Departamento de Aurores. Fora sempre amigável, educado e entendia-se bem como todos ali dentro, mas também era sério e responsável. E mesmo que tivesse um carinho especial por Will e achasse que ele se destacava entre todos os outros, Harry tentava não deixar isso transparecer dentro do Departamento. Isso fazia parte do que ele chamava de “ser profissional”.

- Bom, o senhor já deve saber que eles tinham uma filha bruxa, certo?

Harry confirmou.

- Eu falei com ela no dia que o assassinato foi reportado – disse ele. – Eu mesmo fui até lá. Astarte Burchell, certo? – E ao que Will confirmou, ele prosseguiu – Ela me disse que tinha os achado mortos logo de manhã. Ela chamou o Departamento de Aurores ao invés da polícia trouxa porque não havia sangue nenhum e os pais continuavam deitados na cama, como estavam quando tinham ido dormir. Ela simplesmente duvidou que os dois tivessem morrido dormindo.

Will corou. Ele não queria parecer estar insinuando que sabia mais do caso do que o chefe do Departamento, mas a verdade é que ele não havia completado seu relato.

Harry por outro lado, dificilmente viria a interpretar aquilo como uma má intenção qualquer.

- Eu sei, senhor, ela inclusive está lecionando em Hogwarts agora, como professora de feitiços – Harry assentiu e Will continuou. – Acontece que eu usei várias certidões de nascimentos dos Burchell e outros documentos para traçar, como já mencionei, a árvore genealógica deles e aconteceu que um fato muito incomum se mostrou instalado na história da família.

Harry levantou as sobrancelhas, curioso.

- E o que seria?

Will entregou o documento a ele.

- A ascendência das vítimas, senhor, pôde ser localizada e traçada até um período de quinhentos anos atrás. Antes disso não se acham mais nenhuma pessoa de quem os Burchell poderiam descender – o loiro fez uma pausa rápida e respirou fundo. – E... Não consta na história dos Burchell nenhum caso de magia nesse meio século inteiro, até a filha deles.

Harry franziu o cenho.

- Mas uma pessoa pode nascer bruxa numa família sem nenhum caso de magia antes, certo?

Ele mesmo não tinha certeza sobre a resposta para aquela pergunta. Aquilo devia ter a ver com estudos sobre trouxas e Harry nunca sequer se interessara pelo assunto. Ele crescera com seus tios e casara-se com Hermione, uma nascida trouxa, então julgava conhecer mais do que suficiente o mundo não-mágico.

Hermione mesmo poderia ser como Astarte era, uma bruxa nascida trouxa em uma família na qual a magia nunca antes se fizera presente. Ela, por outro lado, havia descoberto, há dezesseis anos, descender de uma bruxa muito poderosa que vivera há mais de um milênio.

O mais importante, de todo modo, era que Hermione, não importando o que fosse, saberia responder àquela pergunta.

Will parecia que não. E ele corou ao não poder responder a pergunta do chefe.

- Eu não... Não sei, senhor. Acho que... É provável que mesmo que seja possível, não seja um caso muito comum e eu pensei que, sendo um acontecimento raro nos meios tanto trouxa quanto bruxo, poderia ter algo a ver com o motivo do assassinato.

Harry ponderou.

- Eu concordo que existam assassinos loucos que enxergam padrões estranhos nas pessoas que traçam como vítimas, Will, mas não acho que seja o caso. Assassinos desse tipo matam por saber, e não pesquisam pessoa por pessoa até achar alguém que se encaixe. Ele enxerga as pessoas que correspondem ao seu padrão, e não procuram por elas.

Will mordeu o lábio, mais frustrado por saber que o caso não estava indo pra frente do que por não conseguir impressionar Harry... Ele não estava preocupado com isso, na maioria das vezes não estava, mas queria fazer o seu trabalho da melhor maneira possível e queria resultados... Só que não estava tendo.

- Entendo, senhor. Eu realmente achei que essas informações poderiam ajudar – e ele olhou para o terceiro e último documento que havia colocado sobre a mesa de Harry.

Ele acompanhou o olhar do rapaz a sua frente.

- Não se frustre antes da hora, Will, nós ainda vamos resolver esse caso – Harry sorriu lembrando-se do mesmo incentivo que Hermione lhe dava em casa. – Agora me diga, o que há nesse ultimo relatório?

Havia uma habilidade que Harry tinha ganhado ao conviver com Hermione: ler as pessoas. E naquele mesmo momento ele sabia que Will não botava fé na última coisa que havia descoberto.

Não podia ser assim. Um auror nunca podia desconsiderar uma pista só por não achá-la relevante.

- Bom, senhor – Will prosseguiu, quase sem vontade de lhe contar. – Astarte Burchell foi criada como trouxa até o exato momento em que recebeu a carta de Hogwarts, até porque seus pais nem tinham conhecimento do mundo bruxo antes disso. Ela tem uma certidão de nascimento perfeitamente feita e legalizada pela justiça trouxa, mas...

- Mas? – Harry o incentivou.

- Eu fui até o hospital municipal trouxa de Londres e perguntei sobre seu nascimento e eles me disseram que nenhuma criança com aquele nome nasceu naquele hospital, na data e na hora citadas na certidão.

Ele parou por um momento. Parecia ponderar sobre alguma coisa. Na verdade refletia novamente sobre cada uma das informações que colhera durante a manhã.

- Tem uma lei trouxa citada na certidão de nascimento dela... Uma lei de adoção.

Harry inclinou-se para frente e tomou o documento das mãos de Will. Era a própria certidão, com um papel anexado onde toda a lei em questão estava escrita.

- Então ela é adotada? – Harry perguntou.

William apenas concordou com um aceno fraco da cabeça. E Harry levantou os olhos surpresos para ele.

- Will, isso tem uma relevância muito grande no caso! – ele disse, abrindo um sorriso animado. – E explicaria o porquê de não haver indícios de magia na família dela.

O loiro olhou-o seriamente e sorriu hesitante. Harry abriu um sorriso um tanto quanto otimista.

- O senhor acha que o assassino pode estar relacionado com a verdadeira origem da filha deles? Acha que pode ter feito o que fez para atingi-la?

Harry levantou-se da mesa, exasperado.

- É uma possibilidade, a mais aceitável até agora!

- Então talvez compense ir atrás de mais informações sobre o passado da Srta. Burchell, talvez um novo interrogatório com ela.

Harry concordou veemente. Ele sabia que um interrogatório não seria viável, Astarte poderia nem ao menos saber sobre a história da adoção e, além disso, não ficaria bonito para Dumbledore, diante da sociedade bruxa, ter uma de suas professoras novas interrogadas pelo Departamento de Aurores. E Harry sabia que tentar manter aquilo em sigilo não funcionaria por muito tempo.

No Ministério da Magia as paredes tinham ouvidos e informações poderiam vazar muito facilmente, esse era um dos maiores problemas que Harry enfrentava desde o dia que assumira a responsabilidade pelo departamento.

Uma investigação por fora, por outro lado, poderia ser muito útil. Ele poderia descobrir novas informações sem ter que prestar contar ao ministério. Poderia procurar ajuda de Dumbledore para saber mais sobre o passado de Astarte sem que ninguém mais soubesse e mantendo, assim, o seguimento do caso em segurança. A única coisa que o ministério deveria saber era o mínimo suficiente para que eles não arquivassem o caso, caso contrário, mesmo que o assassino fosse descoberto, ele não poderia ser preso antes que o caso fosse reaberto e nesse processo a burocracia iria garantir que todo o trabalho de Harry fosse em vão.

- Will, eu vou precisar da sua ajuda para prosseguir com esse caso da maneira mais adequada – disse Harry.

- Com certeza, senhor Potter, eu ajudarei no que for possível.

Harry abriu um sorriso largo e satisfeito, e se pôs a andar ansioso pela sala. Ele entreabriu a porta da sala e espiou pelo corredor. Então lançou um feitiço silenciador na porta depois de fechá-la novamente.

- Nós vamos agir sem a ajuda do ministério. Essa semana, eu direi que coloquei você para organizar para mim os documentos que você coletou essa manhã, mas a única coisa que eu vou apresentar, de fato, ao ministro, será as evidências médicas do ataque. Essas outras duas informações você manterá seguras na sua casa durante essa semana – Will sorriu e concordou; ele já sabia onde Harry queria chegar. – O ministro só ficará sabendo o que quisermos que ele saiba.

O loiro olhou para Harry.

- Pode deixar, senhor, nenhuma informação a mais chegará aos ouvidos do ministro.

- Ótimo – disse Harry. – Essa semana eu estarei em Hogsmead com a minha família, mas, tão logo segunda-feira chegue, nós dois iremos atrás de mais informações sobre o caso.

Will consentiu e, na meia hora seguinte, ele e Harry passaram planejando os detalhes do plano que seguiria. Depois que os dois deram aquela reunião por encerrada, com tudo já planejado para a semana seguinte, Will recolheu os documentos que teria que manter em segredo, em sua casa, e deixou a sala de Harry.

O moreno sorriu sozinho por um instante. Aquela poderia ser a pista que ele estava procurando todo o tempo. A ponta de uma corda que agora ele poderia puxar trazendo a solução daquele caso para mais perto de si. Mas também poderia não ser nada. Apenas uma coincidência infeliz que ele tivera a ridícula idéia de seguir. Ele estava apostando suas fichas naquela informação e esperava desesperadamente que ela lhe levasse a algum lugar.

Hermione estava ajoelhada de frente para Levi, ajudando o filho a vestir uma pequena camiseta azul escura, quando ouviu um estalo seco atrás de si. Ela estava sorrindo. Segundos antes já havia sentido a presença dele se aproximar. As mãos lhe tocaram os ombros e Levi sorriu de frente para ela.

- Chegou mais cedo do que eu esperava – ela disse.

Logo ela sentiu as mãos se afastarem de seus ombros e viu Harry sentar-se na cama de casal ao seu lado. A morena terminou de arrumar a roupa do filho mais novo e virou-se para o marido.

- Eu prometi que não iria demorar, não prometi? – ele falou sorrindo.
Hermione deu os ombros.

- Eu não ficaria irritada se você demorasse um pouco mais, Harry. Com toda essa história do assassinato dos Burchell, é de se estranhar que o Departamento de Aurores não esteja fervendo de gente correndo pra lá e pra cá atrás de investigações, depoimentos a imprensa e outras coisas do tipo.

Levi olhou para o pai com expectativa.

- Nós vamos para Hogsmead, pai?

Harry sorriu para o pequeno.

- Outra coisa que eu prometi e vou cumprir – ele disse, levantando-se da cama e seguindo para o banheiro. – Filho, mande uma coruja para o Heron e para a Cat e pergunte se eles querem ir com a gente.

Hermione lhe lançou um olhar reprovador.

- Você sabe que eles não podem, Harry – ela viu o marido sorrir travesso e abrir a boca, mas foi mais rápida. – E não quero que peça esse tipo de coisa para Dumbledore, ele não pode e nem deve abrir esse tipo de “exceção” pra você!

Harry olhou maroto para Levi.

- Bom, parece que seremos só nós três... Eu é que não quero desafiar sua mãe, você quer?

O menino riu e agitou a cabeça negativamente.

- Posso esperar vocês lá fora? – o pequeno perguntou.

Hermione assentiu, relutante. Ela sabia que Hogsmead era um lugar seguro há muito tempo, mas ainda se lembrava da época em que aquele lugar era atacado por Voldemort e, mesmo agora, a idéia de Levi sozinho lá fora não lhe agradava. A morena suspirou quando a porta do quarto bateu atrás do seu menino, e Harry riu ao seu lado.

- Você está feliz demais, Harry Potter, o que aconteceu? – ela perguntou, seguindo-o para dentro do banheiro.

O homem afrouxou a gravata, tirou-a e depois tirou a camisa branca, jogando-a em um cesto de palha ao lado da pia.

- Will descobriu algumas pistas promissoras sobre o caso de Paddington – ele disse, em seguida terminou de se despir para entrar no banho, enquanto a esposa abria a torneira da banheira; a água escorria já morna. – A partir da semana que vem que, como você disse, o departamento irá ferver. Agora temos provas o bastante para convencer o ministro a abrir um inquérito e poderemos seguir com uma investigação informal.

Hermione se virou para ele; a sobrancelha esquerda estava tipicamente levantada e os braços estavam cruzados com um tom indagador.

- Com “informal”, você quer dizer “em segredo”? Por que isso, Harry, se no final das contas, para condenar um assassino, você terá que esclarecer tudo para o ministro?

Harry abriu a boca, mas tornou a fechá-la. Em uma fração de segundos lhe ocorreu que contar a Hermione a história que envolvia uma investigação mais profunda sobre Astarte iria levantar suspeitas por parte da morena contra a nova professora da escola. Ele conhecia a morena, sabia que Hermione teimava em algo quando estava convencida disso e naquele momento não queria criar nenhum tipo de desconfiança da morena para com Astarte, não agora que ela passaria a dar aulas para Heron e Cat.

- Tem certas coisas que não podem ser esclarecidas a imprensa, Mione, você sabe como é – ele sorriu e se aproximou da mulher com um sorriso mal-intencionado. – Mas porque a gente não aproveita para esquecer isso por enquanto?

Ela sorriu, mas quando os braços de Harry já estavam a envolvendo a cintura, o dedo indicador da morena tocou-lhe os lábios e parou-o.

- De jeito nenhum, Potter, seu filho está contando muito com sua rapidez no banho e eu – ela apontou para si mesma. – não fiquei mais de meia hora me arrumando pra você chegar e acabar com a minha produção.

- Pense dessa maneira: você se arruma muito mais rápido do que a maioria das mulheres e consegue resultados muito melhores – ele sustentou o sorriso no rosto. – E eu acho que o Levi não vai se importar de esperar um pouco mais.

Hermione aproximou os lábios dos dele e, provocante, sussurrou apenas:
- Não...

E depois deixou o banheiro e lá dentro Harry, sustentando um sorriso bobo no rosto, e a banheira coberta de espuma e bolhas flutuantes atrás dele.





Notas do Autor:
Primeiramente, eu queria deixar bem claro que, infelizmente, a demora na atualização foi devido ao número de comentários que a fic teve depois da última atualização: 2. Peço profundas desculpas a quem comentou e espera mais da fic com mais freqüência, mas eu quero pedir que vocês entendam que eu tenho mais duas fics em andamento com as quais devo me preocupar tanto quanto me preocupo com esta, além de uma história original que está indo pra frente.
Minha intenção não é de modo algum fazer chantagem e dizer que só posto se a fic estiver tendo mais comentários. O problema real é que eu preciso dar prioridade as fics que eu vejo que dão resultado e dispertam interesse.
As minhas outras fics tem quase 30 comentários a cada atualização. Eu não estou cobrando que aqui tenha o mesmo número, só quero ilustrar a situação: Lílium 2 deixou de ser a prioridade a partir do momento que eu percebi que talvez ela não esteja agradando. Ainda assim, ainda estou a escrevendo.
Espero que o retorno dos leitores de LL2 seja maior dessa vez e que isso me permita saber que a fic dá resultado e que eu posso me dedicar a ela da mesma forma que me dedico às minhas outras duas. Espero estar aqui o mais rápido possível postando o próximo capítulo.
Agora, passando da parte nostálgica, vamos as notinhas pessoais.

Marcio_Black: seus comentários são sempre interessantes e bem-vindos. O próximo capítulo vai dar a vocês uma idéia melhor de como será a vida amorosa do Heron na fic. E você que tinha achado a Cat uma personagem legal, veremos um pouco mais dela também. Aguarde...

Vanessa: sobre o um mês sem post, a razão já foi explicada. Sinto muito por você e pelos outros que comentaram, mas espero que você entenda que não há razão em me dedicar à fics com tão poucos comentários, quando eu tenho outras que “fazem sucesso”.

É isso, eu acho.
Obrigado pela paciência e comentem bastante.
Lucas

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