Capítulo III




Hermione acordou com um formigamento na pele e uma estranha sensação entre prazer e alarme. Levou um segundo para perceber que seu seio estava bem acomodado na mão quente de Harry, e o polegar dele fazia círculos lentos e indefinidos sobre o mamilo. Mordeu a língua para não gemer e mudou de posição.

Por sobre o ombro, fitou os olhos dele.

Harry sorriu, agora com a mão deslizando para o ventre dela.

– Desculpe-me, isso é apenas... deixe para lá, não sei explicar.

Mione afastou o braço dele.

– Acho que não precisa de explicação, além do fato de que você é depravado e se aproveitou de mim enquanto eu dormia – falou em tom de brincadeira, sorrindo.

– Negativo. Não sei como, mas seu seio deslizou para minha palma de uma maneira suave e maravilhosa.

Harry franziu o cenho. Aquilo era covardia, e jamais fora uma pessoa assim, mas o seio dela estava na concha de sua mão quando acordou e, com certeza, não era um sujeito capaz de perder uma oportunidade tão incrível como aquela.

– Acho que você deve ter gostado disso. Afinal, gemia e se contorcia.

– Não fiz nada disso, seu convencido!

– Então teve algum um sonho erótico. Mulheres recatadas são muito dadas a sonhos sensuais que envolvem carícias inimagináveis. Uma vez tive um relacionamento com uma garota que se dizia um poço de virtudes e se fazia de donzela da torre contra minhas investidas. Quando enfim consegui escalar a fortaleza e a donzela medieval sucumbiu a meus encantos e ficamos íntimos, ela se abriu como um pára-quedas, sem recatos e sem reservas...

– Muito interessante essa história. Bastante elucidativa e uma verdadeira lição de moral, que eu dispenso.

– Espere aí. Deixe-me terminar. Aí ela me confidenciou que todas as noites tinha sonhos sensuais terríveis que a faziam corar quando amanhecia e se recordava deles. Quer que eu lhe diga como eles eram?

– Não, não há necessidade. Já entendi o recado, mas pode estar certo de que durmo muito bem e sonho com os anjos.

– Você não sabe o que está perdendo. Os sonhos dela eram muito picantes... sensacionais.

Harry deu uma palmadinha no quadril de Hermione e depois se sentou. Saiu depressa da espécie de caverna e puxou para fora sua imensa mochila.

Mione ficou de costas e olhou para o teto de folhagens. Gotas de orvalho pingavam em seu rosto. O que era uma coisa fantástica, porque sentia-se muito quente.

Aquilo não podia estar acontecendo. Resolvera ir para a Amazônia com o objetivo de afastar-se da corporação e do mau comportamento dos homens para com as mulheres. E agora deixava um fuzileiro naval apalpá-la? E pior ainda, gostara disso. Muito mais do que seria recomendável.

Aborrecida consigo mesma, decidiu que era do tipo que se excitava com facilidade. E, convenhamos, pensou, tentando encontrar uma justificativa para o próprio comportamento, Harry era bonito, atraente... e estava ali, sozinho com ela.

“Dê um desconto a si mesma. Estão na selva, um dependendo do outro.” Bem, aquilo não era verdade. Só ela é que dependia daquele homem forte e valente, naquele momento. Achava que Harry não teria problema algum em adaptar-se a toda e qualquer situação. Afinal de contas, era um fuzileiro naval dos Estados dos da América.

Tirou roupas limpas da mochila e as vestiu. “Eu deveria ter deixado de lado os artigos de toalete e trazido coisas mais essenciais. Sobretudo mais calcinhas.”

Pronta, pegou sua mochila, a esteira e o poncho e saiu do ninho engatinhando.

Uma neblina espessa caía, embaçando a visão de Harry, que se achava agachado perto de uma tora, usando seu capacete como bacia para barbear-se.

Hermione enrolou a esteira, dobrou o poncho, observando os movimentos rápidos e eficientes dele. “Meu Deus, estou encantada. Esse homem é completo em tudo o que faz.”

Quando Harry terminou e olhou-a, Hermione achou que seu queixo devia estar em algum lugar no chão. Agora entendia melhor a expressão “de queixo caído” que sua mãe costumava usar, anos atrás.

Ele enxugou as faces com uma pequena toalha verde, perguntando:

– Algo errado?

– Não. Estou apenas notando o quanto você fica diferente sem a pintura de camuflagem.

– Uma vez que estou correndo o risco de ser ferido, espero que eu fique melhor sem ela.

Melhor? Que tal esplêndido, lindo, fabuloso? “Devo tirar a roupa agora? Isso seria bom para você, fuzileiro?”, Mione considerou sugerir.

– Bem, creio que verde Hulk não lhe cai muito bem.

– Esse é um bobalhão esperto – replicou ele, sério.

– Tanto que fatura milhões.

“Lembre-se Mione, ele é um fuzileiro naval: Só isso deve bastar para conservá-la em alerta.” Mas era quase impossível, pois as imagens quase sensoriais das enormes mãos sobre ela não desapareciam. Quase podia senti-las sobre sua pele ainda, firmes e ásperas, causando-lhe uma sensação de calor interno.


“Pare...Pare com isso agora mesmo! Ele é um fuzileiro.” Não podia esquecer-se disso nem por um segundo.

Tentando refrear os devaneios, colocou a esteira e o poncho perto mochila dele e apanhou sua escova de cabelos.

Harry jogou fora a água que usara para barbear-se, olhando fixo para ela. Hermione parecia uma rainha. Ou seria uma fada, sentada de pernas cruzadas numa tora de madeira? Os cabelos longos e castanhos iam para um só lado quando ela passava a escova por uma tonelada de cachos. O rosto ficara bronzeado pelo sol.

Ele não sabia o que havia nela que o atraía além de sua aparência. Porque era exótica o suficiente para fazê-lo sonhar com corpos lisos sobre lençóis frios, mas Hermione era diferente. Era tenaz, obstinada e vigorosa, e Harry queria entender por que isso a fazia tão marcante.

Mas era perigoso demais. Tinha uma missão a cumprir, e essa missão estava sentada a poucos metros, parecendo prontinha para se entregar.

– Partiremos em cinco minutos – anunciou ele, por fim.

– Só? Você está sempre com pressa...

- Desculpe-me. Acontece que não tomei meu café da manhã, e isso me deixa mal-humorado.

Sem mencionar que ele bastava fitá-la para que ficasse excitado.

Hermione apontou para o mato e levantou-se.

– Tenho de... atender ao telefone – murmurou, para disfarçar sua necessidade de dar vazão a suas necessidades fisiológicas.

Como Harry também ficou de pé, Hermione ergueu o braço, e com olhar fixo e penetrante, afirmou:

– Você não tem de vir comigo.

– Por mais maravilhosa que essa perspectiva possa parecer, já chequei a área. Você pode entrar no mato sossegada. Leve isto.

Ele lhe entregou uma pá.

Mione não teve de perguntar. A mensagem era clara:

“Enterre o que quer que faça”.

Harry ainda ria quando ela irrompeu pela floresta adentro.

Assim que retornou, todo o embaraço desapareceu no momento em que ele caminhou a seu encontro com uma caneca de lata na mão. Ela podia sentir o aroma do café. Na outra mão, segurava um arranjo de flores silvestres.

– Céus! Não acredito!

– Eu não queria vê-la zangada comigo logo cedo...

Eles se entreolharam. Harry piscou, com muito charme, e o estômago dela emitiu um ruído.

– Obrigada. – Hermione tomou um gole. – Ah, Harry, adoro você por isto!

Então, sentou-se para saborear o café e não notou o olhar espantado no rosto dele.

Porém, o que mais a sensibilizou foram as flores ainda orvalhadas que Harry colhera e lhe entregara junto com a caneca de café.

Hermione era louca por flores, de todas as espécies. Não tinha uma preferida. Amava a flora inteira, e durante todo o tempo em que sua mãe viveu, a casa deles se mantinha sempre enfeitada com flores, por todos os lados.

Pensando nelas, que enfeitam tanto o nascimento como a morte tanto a alegria como a dor, como dizia sua mãe, uma recordação pertinaz surgiu lá no fundo de seu cérebro: Draco, o jardineiro mexicano por quem ela se apaixonara na adolescência. Lindo, garboso, loiro, uma escultura de virilidade e, por que não, de doçura?

Fora com Draco que experimentara o primeiro beijo, e só não teve seu primeiro caso porque o pai descobriu seu namoro e logo pôs um fim em toda possibilidade de relacionamento.

O general de duas estrelas só não mandou amarrar o coitado no tronco de uma árvore, ou melhor, só não mandou fuzilá-lo porque Deus não permitiu. Contudo, dispensou os serviços do jardineiro e o mandou de volta para o México, sem preocupar-se por ter estraçalhado o coração da menina ingênua que se recolheu no refúgio de seu quarto durante alguns dias, só para se dar conta mais tarde que tal paixão fora pura tolice de criança. Afinal, acabou descobrindo que Draco era casado e deixara a mulher no México sozinha com quatro filhos para criar.

– Um doce por seus pensamentos – Harry sussurrou, tirando-a suas memórias.

Hermione apenas sorriu e não teve vontade de dizer nada. A lembrança a deixara um tanto triste. Não pelo jardineiro, mas sim pelo pai.

Percebendo que Mione não queria falar e respeitando-a, Harry guardou seu equipamento e encontrou a esteira e o poncho enrolados e amarrados com precisão para serem guardados na mochila. Ele não poderia ter feito um trabalho melhor.

Ao fitá-la, franziu as sobrancelhas.

– Você não pode usar essa blusa.

Hermione olhou para a peça de algodão cor-de-rosa.

– É muito berrante. Eles a verão chegando.

– Eles quem?

– Qualquer pessoa que não seja um de nós é “eles”. – Harry deu-lhe uma camisa com tecido de camuflagem. – Use esta.

Mione a segurou. O padrão era verde e preto, quase como as largas tiras do tigre, idêntica à que ele usava. Era um traje para operação especial.

Ela terminou o último gole de café e devolveu-lhe a caneca de lata.

– Obrigada, de novo.

Tirando sua própria camisa, colocou a de camuflagem sobre o top. As mangas cobriam suas mãos.

Harry fez uma careta.

– Ficou meio desajeitada em você.

– Eu sei. Como dizem, o defunto era maior. – Dobrou a manga três vezes. – É preciso dar um toque pessoal. Não ficou melhor assim?

Harry fez que sim. Interessante, mas Hermione seria a última pessoa que ele esperava ver sacrificando alguns anos de sua existência para ajudar tribos amazônicas.

– O que a fez vir até aqui para trabalhar? – ele quis saber, de repente.

– Necessidade de insetos, calor e doença. Ah, sim, e um bom café!

– Será que pode me dar uma resposta séria?

Ela demorou um pouco para responder, fitando dentro dos olhos dele.

– Quis fugir da vida que tinha.

Harry ficou ainda mais curioso.

– Por quê? Era assim tão ruim?

– Não. Era boa demais.

A maioria das pessoas a adorariam, mas era um pouco restrito. Havia uma espécie de confinamento.

Harry a encarou com uma expressão interrogativa.

– Tudo bem, isso merece uma explicação.

Hermione suspirou.

– Papai é um homem popular, e enquanto todo mundo o vigiava, fazia o mesmo comigo. Era como viver num aquário. Eu não podia fazer nada que não exigisse a atenção dele.
Aquilo não era tudo, mas o suficiente.

– E sua mãe?

Hermione ficou triste, ausente.

– Morreu há oito anos. Papai começou a me bajular desde então. Uma espécie de compensação, entende?

– Eu não sei de nada, mas a impressão que me dá é que seu pai a ama.

– Lógico que papai me ama, e eu também o amo.

Harry a estudou por um instante.

– Você não precisava vir para este fim do mundo a fim de fugir, Hermione.

Ela o encarou.

– Sim, precisava. Eu já não vivia na casa de meu pai fazia anos, e isso não importa. Compreenda, os homens que trabalham com ele, e posso garantir que são muitos... – Mione pensou no jovem congressista que queria levá-la para a cama a qualquer custo. Como se isso fosse alguma medalha de honra. –... não me enxergam como sou. Eles me viam como filha dele, um troféu e o caminho mais curto para chegar até meu pai.

Aquilo era um tipo de analogia. Era verdadeira, porém, Hermione não queria que Harry soubesse sobre seu pai e começasse a tratá-la como os outros. Como se fosse frágil, desmiolada e um meio eficiente de alcançar o chefão. Ou que apenas tivesse medo dela.

Hermione devia isso ao pai. Quando namorara um oficial, o general o questionara, um verdadeiro interrogatório. Se namorava um soldado do exército, ele lhe perguntava sobre progressos na função, e era um deus-nos-acuda se o pobre rapaz não passasse de um soldado raso.

O general tinha suas prioridades, seus regulamentos e suas regras, mas ainda a queria em casa, perto dele, e apesar de Mione suspeitar que o pai se sentia um pouco solitário naquela mansão enorme, isso era demais à vista de todos. Em sua idade, ela desejava algo mais para si mesma do que a vida de filha de militar.

– E você? Por que se alistou na Marinha? – indagou, bastante interessada.

– Queria fazer diferença no mundo.

Hermione esboçou um sorriso largo.

– Bem, sem dúvida, comigo você conseguiu. Salvou minha vida insignificante.

– Nenhuma vida é insignificante. – Harry a encarou com intensidade.

A expressão dele pareceu melancólica por um momento, e Hermione não teve de indagar se ele puxaria o gatilho para um ser humano. Não queria saber, de forma alguma.

– Adoro meu trabalho – Harry continuou. – Não pararei até que eu morra ou até que eles me aposentem em trinta anos de serviço.

Naquele momento, ele falava como o general e a maioria dos fuzileiros navais que Hermione conhecia.

– Você é muito bom nisso, Harry.

Ele virou-se para ela.

– Como sabe?

Ela tocou-lhe o queixo, com carinho.

– Assisto ao canal Discovery na televisão. Eu sei.

“E vivi isso”, acrescentou de si para consigo.

Hermione recordava-se de seu pai armazenando seu equipamento, a fim de partir para uma missão que duraria um longo ano sem ela e sem a mãe. Lembrava-se também dela mesma engraxando as botas de combate em frente à tevê quando tinha dez anos.

As memórias eram infindáveis... a maioria boa, tinha de admitir, até que sua mãe faleceu.

Alguma coisa a atingiu na cabeça, e Hermione recuou. Com uma incrível rapidez, Harry se ergueu e apontou o rifle para a árvores. Só viram o macaco quando ele guinchou.

Harry armou o rifle e mirou pelo visor de distância.

– Carne de macaco é boa comida...

– Não, Harry! Não atire nele. O pobre animal está apenas brincando...

Harry baixou o rifle e fez uma careta.

– Eles só sabem abraçar as árvores.

– Tenha piedade.

– Esses animais são desprezíveis.

Para evidenciar isso, o macaco atirou algo neles dois que a atingiu no ombro.

– Boa pontaria! – Hermione se dirigia ao macaco, e atirou a frutinha nele de volta. – Pelo menos descobrimos que há aqui perto uma árvore com frutas, e não sabíamos disso. Devemos isso ao bichinho.

– Não vai querer que eu apanhe algumas dessas, vai? Podem até ser venenosas.

– Não são.

– Como tem tanta certeza?

– Porque vi o macaco comendo uma. E os animais não se enganam. Conhecem a natureza melhor do que nós.

– Tem razão. Mas, garotos, chega por ora. – Harry apontou o indicador para os macacos. Então se voltou para ela: – Vamos caminhar.

Ambos colocaram as mochilas nas costas e começaram a andar. O macaco pulava de árvore em árvore, bem no alto, ficando sempre na frente deles, guinchando e fazendo gestos.

– Meu pai já dizia macacos que pulam de galho em galho querem chumbo. – Harry se irritava.

– Para mim isso significa que quem troca muito de amor acaba ficando sem nenhum.

– Você é uma romântica irrecuperável. – Ele sorriu.

Mais um casal de macacos juntou-se a eles, fazendo uma tremenda algazarra.

Harry assustou-se quando os animais guincharam alto.

– Ah,focaccia! Desisto. A culpa é minha.

– Focaccia? Não é um tipo de pão italiano, Harry?

Ele estava sorrindo, cheio de malícia.

- Sim, é um pão italiano, mas como interjeição, pode estar certa de que significa outra coisa, e muito obscena.

Hermione enrubesceu.

– É melhor do que praguejar. – Harry deu de ombros. – Minha mãe costumava me dizer quase todos os dias que moças de boa família não repetem linguagem vulgar, muito menos linguagem chula.

– E ela não mencionou que, vivendo em volta de fuzileiros a vida inteira, ouviria esse tipo de linguagem com muita freqüência?

– Algumas vezes um palavrão certo cai bem.

– Sei disso.

Fora um hábito difícil de se desvencilhar.

De repente, a selva ficou silenciosa. Nada de passarinhos arrulhando. Nada de macacos guinchando.

Harry olhou por sobre a cabeça dela e segurou-lhe a mão.

– Vá. Ande.

Hermione andou, bem atrás dele.

– O que há?

– Quieta! – Harry pôs o indicador sobre os lábios e a puxou para trás de uma elevação de pedras e imensas árvores, atento ao movimento que se aproximava cada vez mais.
Hermione agachou-se atrás dele, quase encoberta por imensas raízes.

Harry lhe disse que não fizesse ruído, e então ela ouviu os de passos. E de vozes. Em espanhol.

Àquela distância, não conseguia entender as palavras. Não tinha importância, no entanto. De qualquer forma, os colombianos não queriam ninguém em sua selva, muito menos americanos, e, considerando que os esconderijos de droga tinham ido pelos ares na véspera, eles dois seriam perfeitos alvos em retribuição.

O coração de Harry disparou no peito, e seu único pensamento era que, se fossem descobertos, seriam mortos no mesmo instante.

Mione seria estuprada, e sua foto, mandada para a mídia.

Ele encostou-se contra a árvore, fazendo uma mímica que ela pudesse entender. Teriam de ir pelo vale adentro, longe de quem quer que fosse. Harry só sabia que eram em maior número.

Gesticulou, apontando para o rio, para ficarem perto da margem e começaram a se mexer. Enfrentar os rebeldes que iam para o rio a fim de usar barcos nos quais embarcavam suas mercadorias era muito arriscado. Eles possuíam canoas escondidas nas margens.

Fora do alcance da voz, Harry apressou-se em movê-la para dentro da floresta. No chão com suas cabeças unidas, ele falou:

– Você foi ótima.

– Obrigada pelo elogio. Quem são?

– Rebeldes, creio.

Ela engoliu em seco.

– Como nas guerrilhas?

– Sim. E as pessoas que enterram as drogas. Um financia o outro, e estamos perto do território deles, embora troquem de local a toda hora. Isso toma mais difícil apanhá-los.

– O que faremos?

– Vou ver para que lado eles seguiram. Ficará bem sozinha?

– Sim.

Hermione não lhe diria que estava com mais medo por ele do que por ela própria.

Harry lhe deu um revólver e balas. Mione examinou a carga e guardou a pistola no bolso.

– Algo me diz que você tem familiaridade com uma arma.

– Sim, um pouco. Tínhamos uma na aldeia. Era velha mas funcionava.

Harry a analisou por um segundo; e então tirou o aparelho de escuta da mochila e o colocou nela.

– Vou deixar ligado. – Ele colocou no ouvido um segundo aparelho. – Isso é para você saber que estou vindo e não atirar em mim.

Quando Harry começou a afastar-se, Mione tocou-lhe o braço.

– Harry?

Ele virou-se e a encarou.

– Por favor, tome cuidado.

Harry sorriu.

– Sim, eu tenho o mapa.

Hermionelhe deu um tapinha no braço.

– Não seja descuidado. Detestaria ter de carregar seu corpanzil de uma tonelada de volta para a civilização. “Ainda mais porque não sei o caminho.”

Harry viu nos olhos dela que Hermione se afligia de fato por ele. Colocou a mão em concha atrás dos cabelos castanhos e seus olhares se encontraram.

– Isto é o que eu faço. – Deu-lhe um beijo na testa. – Nenhum movimento. Mantenha-se vigiando-me. O sinal de chamada é “Cavaleiro Branco”.

E se foi. Para um homem grande como era, estava muito silencioso quando rastejou pelo chão. Quase gracioso, empurrando para o lado os galhos, segurando-os até que conseguisse passar, e depois soltando-os devagar, de tal modo que não estalassem ou quebrassem.

Hermione olhou para a arma em seu bolso e a mochila que ele deixara para trás. Então, empurrou a mochila para mais perto das raízes da árvore que saíam da terra quase atingindo seus ombros.

Em seguida, puxou folhagem morta e seca a sua volta. Escrutinou a mata. Era tão barulhenta... Araras grasnavam, animais que ela podia ver brincavam alto nas árvores.

O suor escorria em gotas por sua pele, em especial pelas costas e entre seus seios. A neblina matinal ainda pairava na atmosfera e ela não mais podia ver Harry.

Seu coração batia tão forte que ameaçava saltar do peito. Respirou fundo, rezando para que isso passasse, e então admitiu que sua adrenalina estava correndo rápido nas veias.

Se não estivesse tão amedrontada, molharia a calça. Isso podia ser divertido. Mas tudo em que podia pensar era: “Deus misericordioso, não o deixe ser ferido”

Hermione ouviu um barulho por perto e estudou ao redor. Não vendo nada, ateve-se ao lugar onde Harry desaparecera.

– Cavaleiro Branco para...

Ela hesitou um pouco e olhou em torno. Alguma coisa movia-se bem ali a seu lado.

– Fale, Princesa das Fadas.

Hermione sorriu e ligou a escuta.

– Eu prefiro Deusa.

– Calculei certo – Harry a informou. – Eles dirigiram-se para o local do helicóptero.

– Cuidado. Eles verão sua trilha!

– Sossegue. Eu a estou desmanchando.

– Ah... entendi.

Mione ficou contente por ele ser mais esperto do que ela, mas isso significava que Harry estava fazendo uma porção de ziguezagues.

– Isso nos dará algum tempo, mas não muito.

– Quer dizer que terei de correr de novo? – perguntou ela, abominando a idéia.

– Com pernas como as suas, não seria um problema muito grande.

– Só você mesmo para brincar numa hora dessas. – Hermione sorriu para si mesma, mais calma agora que ouvira a voz dele. Mas o barulho veio outra vez. – Harry, há algo aqui.

– Agüente firme. Estou indo.

Hermione virou a cabeça bem devagar, o olhar escrutinando a área. Estava escuro no local onde se encontrava, apesar de o sol brilhar muito. A água inundava as margens do rio, ensopando as margens do pântano.

“Tudo bem, é apenas a vegetação”, tentou convencera si mesma, e então esperou por ele.

Pela escuta, podia ouvir Harry respirando, ao correr a seu encontro.

– O que você vê? – perguntou ele, já bem próximo.

– Nada.

– Olhe acima de você.

Hermione obedeceu. Seus olhos se arregalaram.

– Uma cobra. Meu Deus... Harry!

– Não atire, nem se mova. Estou chegando.

A serpente, entre roxa e alaranjada, movimentou-se para mais perto, suspensa no ar, presa num galho.

– Harry, ela está vindo em minha direção!

A garganta de Hermione secou de nervoso. Ela imaginava a enorme cobra enrolando-se a sua volta e esmagando-a. Estaria azul e morta quando Harry chegasse. O corpo do réptil, tão grosso quanto seu braço, serpenteava, chegando cada vez mais perto. Achava-se a menos de três metros. E se aproximando. Então abriu a boca, silvando.

Hermione apontou o revólver com dedos trêmulos sobre o gatilho.

– Não atire, Mione.

O ar assobiou. Alguma coisa prateada caiu diante dela. A cabeça da serpente foi ao chão. Hermione deu um grito e andou para trás como um caranguejo. O sangue jorrava da flácida carcaça da cobra, e ela tornou a olhar para cima.

Avistou Harry de pé com uma foice ensangüentada.

– Cascavel – declarou ele, examinando a cabeça da serpente atirando a carcaça para longe.

Os olhos arregalados de Mione o seguiram quando ele ajoelhou-se a seu lado. Com excepcional cuidado, Hermione colocou a pistola no solo.

– Era venenosa, não era?

– Letal.

Hermione umedeceu os lábios, ofegante.

– Está tudo bem agora. Ela está morta, Mione.

– Mas se você não tivesse... se a cobra tivesse...

Hermione tremia. Harry estendeu-lhe a mão, e ela se jogou em seus braços, apertando-o com força.

Harry sussurrou a seu ouvido, em tom calmo e controlado:

– Respire devagar, inspire e expire. Vamos, querida, faça isso.

Ela obedeceu e pouco a pouco relaxou, seu corpo aninhado ao dele. Harry continuou afagando-lhe as costas, ciente do quanto se sentia assustada e indefesa.

– Não consigo entender, Hermione. Você esteve nesta selva por algum tempo. Como não teve contato com serpentes antes?

O nariz dela estava enterrado no peito largo, por isso a resposta, soou abafada:

– A verdade é que sou uma tola. Vi muitas cobras aqui e sempre corria na outra direção. Os aldeões examinavam minha cabana todas as noites. Queimávamos a circunferência da aldeia para mantê-las afastadas.

Ela parecia desapontada consigo mesma.

– Você não é uma tola. Manteve-se calma e agiu da maneira correta.

Hermione ergueu a cabeça para encará-lo.

– Não seja paternalista.

– Você não atirou porque pedi que não o fizesse. Portanto, até onde posso ver, fez o serviço sem mim.

Os lábios carnudos e sensuais esboçaram um leve sorriso.

– Agora está tentando ser galante, sargento.

Ela nunca daria o tiro, mesmo tão perto do perigo.

O olhar de Harry era travesso, quase tímido.

– E eu aqui pensando que a estava resgatando e tudo o mais...

Hermione caiu na gargalhada.

Ele estudou-lhe as feições. A corrida de volta para lá fora um exercício de mero terror. Afinal, poderia não alcançá-la a tempo de não ser devorada viva.

Harry afastou madeixas de cabelos caídos sobre a testa delicada de Mione. O gesto o fez sentir uma intimidade que jamais imaginou possível. E também permitiu a Harry notar as sardas na pele sem manchas e as nuances de tons marrons de sua cabeleira.

– Estou muito grata a você, Harry.

A fisionomia dele contraiu-se um pouco.

– Já me agradeceu, e não eu quero sua gratidão.

O olhar de Harry fixou-se naquela boca carnuda e na língua que umedecia os lábios sensuais.

O ar entre os dois ficou tenso de repente. Dedos fortes e quentes moveram-se sobre as costas dela. Hermione desejou que estivessem sobre sua pele nua.

Harry inclinou a cabeça, a boca se aproximando. Por um segundo tudo ficou quieto. Ouvia-se apenas o som da respiração ofegante de ambos. Os sentidos dela aguçaram-se de forma extraordinária, seu corpo, tenso por antecipação.

“Nós não deveríamos abrir essa porta mais do que já se abriu”, ocorreu a Hermione, tonta pela mistura de imagens de ambos abraçados, ávidos e nus e tão quentes quanto a selva. “Meus Deus!”
O hálito de Harry quase lhe tocava os lábios, a boca úmida a uma fração da sua.

E ele a beijou, e tudo entre eles foi selvagem e quente.

Harry jamais esperou uma sensação como aquela, a corrente elétrica em seu sangue indo direto para seu baixo-ventre.

Ele a queria nua, queria mergulhar dentro daquela mulher naquele instante, sem mais rodeios, sem mais reservas. O desejo era tanto que mal podia respirar.

Harry continuou a beijá-la com ardor, com paixão, ansiando por mais, enquanto seus braços fecharam-se em volta do corpo feminino, as mãos deslizando sob a camisa larga que lhe emprestara e apalpando-lhe os seios.

Hermione estremeceu diante dos toques maravilhosos e, como uma gata no cio, sentou-se sobre a barriga reta e firme de Harry, esfregando-se, excitando-o mais e mais.

Harry sentia-se atordoado, descontrolado, pulsando de luxúria. Seu desvario era evidente. De repente, porém, ele a deteve.

Hermione cerrou as pálpebras.

– Não. Não podemos fazer isso. – Harry a liberou como se pusesse de lado um pacote.

Levantando-se, pôs a mochila nos ombros e a ajudou a se erguer do chão.

Hermione tentou prender a respiração, quase tremendo pela sensação que emanava de seu íntimo.

– Você não pode parar assim, sem mais nem menos – protestou ela, indignada.

Harry cobriu-lhe a boca com a mão.

– Fique quietinha – sussurrou. – Tive de fazer isso. Estamos em território inimigo, e não podemos nos esquecer disso de modo algum.

– Está louco?!

– Você é meu dever, minha obrigação, Hermione. É minha missão levá-la para casa sã e salva, e não fazer amor.

Mione baixou os cílios, para que ele não visse sua decepção.

– Dever? Entendo...

Sem um fio de emoção, Harry fez um gesto para que ela caminhasse a sua frente, e analisou o terreno, para não encará-la. Não podia deixar que os sentimentos tivessem prioridade sobre seu cérebro. Porque Hermione Granger tivera o melhor dele. Aliás, mais do que isso.

Aquele beijo mexeu com Harry de um jeito como nunca lhe acontecera antes. A paixão que sentira fora tão ardente que, se tivessem prosseguido, estariam deixando sinais de fumaça elevarem-se na atmosfera. E, se tal acontecesse, aquilo poderia provocar-lhes a morte.

Enquanto isso, Hermione pensava que até ali, embrenhados naquela floresta, haviam enfrentado animais selvagens, macacos equilibristas, araras estridentes e cobras venenosas e, entretanto, não conseguiram enfrentar a situação bizarra que se criara entre os dois.

No firmamento, através dos ramos das árvores, o sol estava a pino. Por isso, ao consultar seu relógio, Harry apressou o passo.

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