dia 09/04/918 - A varinha



Ontem poderia dizer que não era quem sou hoje, não porque é obviamente temporal e física a mudança dos dias, mas também porque... até ontem eu não era propriamente uma bruxa. Minha mãe me acordou pela manhã e fez minha trança, me colocou um vestido branco e colocou em minha testa uma corrente grande que prendia meu cabelo longo com a trança em um penteado exótico. Não falamos nada. Ela me deu as mãos e andamos por todo o vale. Conforme íamos passando por entre as montanhas, ela me disse sobre muitas coisas. Sobre os bruxos, sobre como temos que nos esconder dos cristãos e das pessoas que não podem saber de tudo que fazemos. Ela me disse sobre meu pai saber que eu leio tudo e só fingir que eu não podia ler ou escrever para os outros e me mostrou sua varinha, coisa que antes nunca tinha feito. Ela disse então que eu ganharia a minha e que tudo então iria ser diferente em minha vida, pois com os ensinamentos dela e com o conhecimento que eu mesma tinha adquirido em toda a papelada que leio, poderia ser uma grande bruxa. Perguntei onde estávamos indo e ela não respondeu e nós entramos em algo como se fosse um portal depois de meia hora. Continuamos caminhando e chegamos então em um grande lago. Havia um homem nos esperando em um bote pequeno e nós entramos nele sem falar nada. O lago era completamente enevoado, e em determinado momento não se podia enxergar mais nada. Quando chegamos do outro lado, muitas mulheres de cabelos longos e ondulados, presos em tranças ou em correntes como a minha me receberam colocando muitas flores envolta do meu pescoço e me levando de encontro para uma mulher que eu nunca tinha visto mas soube na hora de quem se tratava. Ela trajava verde, tinha uma grande volta de tecido ao redor do pescoço e um cabelo cor de palha cortado pelos ombros que combinava com sua radiante coroa. Eu me ajoelhei.
"Não seja tola" - Ela me disse - "Você é tão nobre quando eu"
Me levantei e minha mãe acenou à ela com a cabeça.
" Eu sou Maeve" - ela disse - "A Rainha dessas brumas. Ensino os jovens daqui a arte da magia"
A vontade de me curvar foi maior, mas não a fiz devido à primeira repressão. Olhei-a simplesmente nos olhos e saboreei cada minuto que tinha ouvido falar da Rainha Maeve sem poder ao menos imaginar o quanto ela era estonteante vista de perto.
" Sua mãe é uma ótima seguidora, Rowena" - Ela me disse se curvando um pouco e colocando a mão em meu queixo - "Ela com certeza tomará sua educação com a garra de uma águia"
Me lembrei de Linx e sorri e a Rainha piscou para mim. Por um minuto passou-se pela minha cabeça que a mulher sabia em que eu tinha pensado.
"Aqui está" - Ela me disse me dando uma comprida varinha de ponta quadrada e em sua haste, um botão de ouro e pedras de ametista como as de minha tiara. - "Essa é sua varinha e ela contém dentro de seu cerne, um fio da barba do maior prisioneiro desse lago"
Estremeci.
" Isso mesmo" - Ela sorriu - " Você é digna de ser movida por Merlin"
Peguei a varinha nas mãos ainda trêmula.
" Não finja ser fraca pois você não é" - A Rainha me disse séria- " Tente seu primeiro feitiço"
Olhei para a varinha e senti minhas pupilas contraindo, forcei minhas mandíbulas e gritei:
- Ravalianillian
Uma luz azul explodiu no lago levando muita água para cima formando um imenso corvo azul que fez todos me olharem com os olhos grandes e surpresos, o corvo de água deu um ensurdecedor grito e explodiu numa chuva forte sobre todos. A Rainha me olhou chorando e se ajoelhou, assim como ela todos fizeram e eu sem saber o que fazer só pedi que se levantassem. Ela o fazendo me disse:
- Para sempre você será essa bruxa forte e poderosa mas com esse olhar doce de menina.
Vim embora pra casa, esperando que ainda tivesse sopa de lentilhas.

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