Reconcialiações e ameaças



“Sim, durma bem, porque estou voltando para Hogwarts e você nem imagina o que isso significa.” Aquelas palavras ficaram em minha mente durante meu sono. Cheguei a sonhar com elas e com o que elas representavam. Perigo era o que, constantemente, vinha acompanhando a tal frase em quase todos os sonhos que tive aquela noite.


 


Acordei sobressaltada pela manhã, quando rolei na cama e meu corpo se chocou com outro. “Oh Mérlin, Malfoy dormiu aqui?” foi minha indagação. Mais que depressa abri os olhos e minha pergunta foi respondida com uma bela imagem do garoto ainda adormecido. Levei alguns minutos para recobrar meus sentidos e parar de observá-lo como se fosse uma pintura de Michelangelo ou Da Vinci (sim, conheço as obras deles. Avós trouxas, sabe como é...).


 


Procurando não acordá-lo, peguei minha roupa, agora seca, na cadeira e parti para o banheiro. Vesti-me rapidamente e voltei para o quarto, na esperança de poder ficar mais algum tempo admirando a bela figura de Malfoy. A decepção foi grande quando vi a cama vazia e a porta aberta. “Maldito, fugiu de mim!” pensei com meus botões.


 


“Você devia agradecer por isso. Ande, dê o fora daqui enquanto há tempo” disse uma voz irritante na minha cabeça. “Ótimo, vai começar” resmunguei em voz alta. “Sabe, concordo com ela, dê o fora enquanto pode. As pessoas devem estar procurando por você no castelo” disse a outra voz irritante.


 


“Preciso falar com Scorpius antes de ir” pensei. “Não, não precisa. A trégua acabou, se for falar com ele vai se meter em confusão. E, honestamente, estamos cansadas de confusão,certo?” falou a voz irritante da Rose boazinha. “Bem, talvez eu não esteja tão cansada de confusão assim...” essa era minha falta de consciência falando. “É claro que você não está, mas você sabe que no fim das contas ela não da a mínima atenção para o que você quer ou não.” “Porque é uma idiota”.


 


-Weasley? – chamou Malfoy, na porta do quarto.


 


“É ela aqui” Falou a coisa ruim, apontando pra mim como se ele a estivesse vendo.


 


-Eu – respondi atordoada.


 


-Eu tenho que entregar a chave do quarto. Desocupe-o em cinco minutos. – ordenou e partiu em seguida.


 


-Ta bem... – respondi para o quarto vazio.


 


“Aí, é desse mala que você gosta? Francamente...”


 


-Suma daqui antes que eu... que eu...mate você.


 


“Tecnicamente isso não é possível, visto que eu sou você. Quer dizer, não você, mas parte de você...”


 


-Então suma antes que eu me mate só pra me ver livre de você...ou de mim...ou dessa parte insuportável de mim que é você. – falei irritada.


 


“Chata” reclamou a diabinha antes de sumir.


 


-Insuportável – disse para o nada sem perceber que Malfoy estava parado novamente na porta do quarto.


 


-Escolheu uma ótima palavra para se auto descrever. -Malfoy falou, rindo.


 


-O quê? –Perguntei sobressaltada.


 


-Esquece... O quarto, já posso trancar?


 


-Hmm, só um instante. –disse pegando a camisa que ele havia me dado na noite passada e jogando-a por cima do ombro. –Agora pode.


 


Passei por ele e continuei andando pelo corredor, deixando-o para trás enquanto trancava a porta. Cheguei à porta que escondia a escada do resto do pub e esperei Scorpius ali. Quando ele me alcançou, nada foi dito por nenhuma das partes. Ele trazia minha vassoura e passou-a para mim em silêncio. Por um milésimo de segundo que mais pareceu uma eternidade, Malfoy olhou profundamente em meus olhos. Então a noite anterior passou de seu olhar para o meu como um filme.


 


De repente, o contato visual acabou, Malfoy abriu a porta e passou para o “mundo real”. Aquele gesto trazia consigo um recado e um aviso: Esqueça. A trégua acabou. Loucura de minha parte ou não, foi como interpretei tudo aquilo. Éramos inimigos mais uma vez e cedo ou tarde teria que voltar para Hogwarts e encarar a realidade.


 


Respirei fundo e decidi que aquele era o momento de retornar para minha vida bagunçada e botar ordem nela, porque algo me dizia que quanto mais cedo eu fizesse isso, melhor seria. Era melhor eu resolver logo os problemas que havia deixado para trás, porque minha intuição feminina estava me alertando que com a volta de Malfoy, vinha mais confusão pro meu lado.


 


Antes de deixar o Três Vassouras lancei um último olhar a Malfoy e segui em frente. O povoado ainda estava sem movimento, talvez fosse cedo. Montei em minha vassoura e parti em direção ao castelo. Passei todo o trajeto rezando para que não tivesse me metido em uma encrenca muito grande. Ta legal, eu havia me metido em uma baita encrenca...


 


Quando desci da vassoura, perto da cabana de Hagrid, percebi que o colégio ainda estava adormecido. Devia ser cedo. Muito cedo. “Beleza, ainda posso me salvar”. Atravessei o gramado e entrei no castelo. O mais estranho é que até o Pirraça parecia ter saído do meu caminho. Não havia uma única alma pelo castelo, estivesse ela viva ou morta.


 


 Desse modo, cheguei logo ao retrato da mulher gorda. Disse a senha e ela começou a me encher de perguntas.


 


-Onde estava, senhorita?


 


-Hmm...não interessa. – disse rudemente.


 


-Tudo bem, sem respostas, sem entrada liberada.


 


-Ai saco, eu falo então. Estava na biblioteca estudando e acabei pegando no sono.


 


-Ah sim, isso explica a ausência de livros e essa vassoura.


 


-Estava usando os livros da biblioteca e só fui para lá depois do treino de quadribol, por isso estou carregando minha vassoura. – estava mesmo boa com mentiras!


 


-Hmm...-respondeu ela, desconfiada. –Aquele menino bonitinho do cabelo grande estava louco atrás de você.


 


-Ah, que bom pra ele. –respondi mal-humorada.


 


-Vou deixá-la entrar para ir falar com ele.


 


-Ah...Obrigada. – agradeci passando pelo buraco que ela abrira. – Mas vai sonhando que eu vou falar com ele... – resmunguei quando já estava segura dentro da sala comunal da Grifinória.


 


Incrivelmente satisfeita por conseguir chegar ao castelo sem ser pega corri para o dormitório feminino das quintanistas. Todas dormiam ainda. Sem emitir som algum, catei um uniforme limpo no meu malão, joguei a camisa que ganhara de Malfoy no fundo dele e, com uma música animada “tocando” na minha cabeça, me aprontei para a aula. Parecia que nada ia me abalar hoje. Estava tudo absolutamente perfeito. Bem, quase tudo, afinal eu ainda teria que conversar com Lestat e ouvir poucas e boas de James por abandonar o treino.


 


Como não havia mais nada a ser feito no dormitório, desci para a sala comunal. No mesmo instante em que colocava meus pés no último degrau da escada, o buraco do retrato se abria para alguém. Cruzei os dedos e pensei “Não é o Lestat. Não é o Lestat.”. Era o Lestat, soube disso assim que ele atravessou o buraco.


 


Correu desesperadamente ao meu encontro. Fiquei completamente sem reação e deixei que ele me abraçasse com toda a força que possuía. Meu cérebro gritava para meus braços: não retribuam! Meu coração gritava: não custa nada, abrace-o também. Meus braços não se mexiam por não saberem o que fazer. Por fim, um braço ficou parado ao lado do meu corpo, como devia estar segundo meu cérebro e o outro envolveu o corpo de Lestat, conforme meu coração otário desejava. Uma cena patética.


 


-Ah Goleira, onde se meteu? – perguntou o desesperado Lestat ainda comigo colada a seu corpo.


 


-Se me soltar e me deixar respirar eu te falo. – pedi


 


-Desculpe. – falou, libertando-me do abraço.


 


-Se bem que estou um tanto... irritada (a outra palavra foi censurada) com você. Não sei se merece qualquer explicação da minha parte.


 


-Eu sei. Eu fui um idiota, mas preciso que me ouça...


 


-Faz o seguinte, depois da aula nós conversamos... – falei, querendo fugir daquela conversa.


 


-Não, quero que me escute e quero que seja agora.


 


-Tudo bem então, vamos acabar com isso de uma vez por todas. – disse, puxando-o para sentar-se comigo no tapete próximo à lareira. –Sou toda ouvidos. Pode começar a falar. – encorajei-o.


 


-A história é longa. Talvez seja melhor falarmos depois da aula mesmo.- ele disse perdendo a coragem de repente.


 


-Não, agora eu quero ouvir o que você tem a dizer em sua defesa.


 


-Tudo bem então... Aí vai: A história de um completo imbecil.


 


-Gostei do título. – falei, erguendo as sobrancelhas.


 


-Obrigado. – ele agradeceu, com um sorriso vacilante - Tinha um carinha muito retardado que se apaixonou perdidamente por uma garota maravilhosa, prima do melhor amigo dele. Esse garoto sou eu. E a menina é você.


 


-Não enrola. Vá direto ao ponto. -falei impaciente, muito irritada para ser gentil.


 


-Certo. O que acontece é o seguinte: aquela explicação ridícula que eu dei ontem não era verdadeira.


 


-Deu pra notar. –eu não queria ser rude, mas estava sem opção no momento.


 


-É, eu quis fugir do motivo real porque achei que você nunca mais fosse querer falar comigo se soubesse a verdade. Rose, você sabe como eu e meus amigos somos conhecidos pela escola, não sabe?


 


-É algo como “Aliens” não é?


 


-Predadores – corrigiu-me, corando.


 


-Isso.


 


-Então, recebemos esse apelido carinhoso quando estávamos no terceiro ano e os outros caras não conseguiam ficar com nenhuma menina do nosso ano porque elas simplesmente só tinham olhos para nós. Sempre foi assim, nós nunca nos amarramos a garota alguma, nenhum de nós. As meninas eram nossa maior diversão...e nada além disso.


 


-Resumindo: vocês eram uns babacas sem coração.


 


-Não, nós tínhamos coração. Só não sabíamos ao certo onde ele estava e muito menos como usá-lo. Bem, nenhum de nós havia se amarrado a uma garota até você aparecer na história e eu...sabe, me apaixonar perdidamente.


 


“Quando meus amigos perceberam o que estava acontecendo, ficaram completamente loucos. Falavam o tempo todo que não tinha nada a ver eu ficar com você, que se eu continuasse com essa maluquice de me amarrar a uma garota eu ia destruir uma reputação que levei anos para construir. Mas nada do que eles diziam me fez mudar de ideia e insisti com você. Eu renunciei à minha reputação, por mais ridícula que ela fosse, e coloquei a dos meus amigos em risco por você. Pelo sentido que você deu à minha vida.


 


Então, de repente tudo desabou na nossa cabeça e quando dei por mim, tinha acabado de levar o maior fora da minha existência. E o que mais doeu foi não fazer ideia do motivo que te levou a me dar um chute. Eu fiquei desolado. Mais uma vez meus amigos ficaram enchendo minha cabeça com bobagens, dizendo que não valia o sofrimento. E mais uma vez eu insisti com você, daí aquela noite que passamos juntos me fez pensar em tantas coisas...


 


Acabei acordando cheio de dúvidas quanto aos nossos sentimentos. Vendo como eu estava os caras colocaram Sienna em meu caminho. Resolvi testar os meus e os seus sentimentos, sabe, ver se você sentia ciúmes e analisar como me sentia com outra garota que não fosse você. Eu sei, essa foi a coisa mais imbecil que eu poderia ter feito e, por Mérlin, como estou arrependido.”


 


Ficamos calados por um tempo e então falei:


 


-E como se sentiu, sabe, com outra garota?-perguntei, mesmo morrendo de medo da resposta.


 


Lestat abriu o sorriso mais lindo que eu já tinha visto em seu rosto e respondeu:


 


-Completamente...vazio.


 


-E qual foi sua avaliação sobre os sentimentos?


 


-A melhor possível. Você ficou com ciúmes...-Ele respondeu, sorrindo torto.


 


É, infelizmente eu fiquei com ciúmes.


 


-Quem te garante isso? – brinquei.


 


-Seus olhos, minha querida, seus olhos.


 


-E quanto aos seus sentimentos?


 


-Eu descobri que...nenhuma outra pessoa exerce sobre mim o efeito que você exerce. Talvez isso soe meio doentio, mas é como me sinto.- falou dando de ombros.


 


-Está arrependido do que fez?


 


-Sim, estou.


 


-Que bom. – respondi fingindo uma seriedade que já não existia.


 


Mais uma vez ficamos em silêncio. Agora eu devia uma explicação a ele que precisava ser sincera e convincente. A dele tinha sido. Talvez fosse melhor eu excluir Malfoy da história. Se eu deixasse ele saber sobre meus confusos sentimentos por ambos -Lestat e Malfoy- causaria apenas dor e maaaais um pouquinho de sofrimento.


 


O problema é que excluir Malfoy de minha iminente explicação a tornaria falsa, em parte. Se bem que eu não estaria mentindo, apenas omitindo. Acabei optando por omitir Malfoy. Seria mais seguro.


 


-E então, acho que você também tem algo a dizer – disse um Lestat impaciente


 


-Eu tenho, só não sei se minhas palavras serão suficientemente... convincentes.


 


-Tenho certeza de que serão.


 


-Eu...quero que saiba que...adoro você.


 


-Já imaginava isso. -falou o brincalhão.


 


-Não, é importante que saiba disso antes que eu comece minha...explicação.


 


-Acho que vem algo difícil de engolir por aí...


 


-Eu...sempre gostei de você. Desde quando o conheci. Isso também é importante.


 


Lestat abriu a boca para falar, mas eu o interrompi antes que dissesse algo que atrapalhasse meu raciocínio.


 


-Por muito tempo fiquei sonhando em namorar você, mas acabei desistindo quando nos tornamos amigos. Imaginei que se você não sairia comigo antes de nos conhecermos tão bem, depois disso é que eu não teria mesmo chance. Então quando você me chamou para sair, eu tive certeza que meus sentimentos continuavam intactos. Tanta certeza quanto agora.


 


Lestat não falava nada, apenas me ouvia atentamente. Estaria ele me julgando mentirosa? Torci para que ele tivesse encontrado a sinceridade em minhas palavras.


 


-Bom, mas eu sempre fui uma garota meio...insegura. Depois do que aconteceu em Hogsmead, uma chuva de dúvidas caiu sobre minha cabeça. Achei que você não ia mais querer ficar comigo por achar que minha família era louca. Sabe, se fizesse isso estaria com a razão, porque eles realmente são loucos.


 


“Então você simplesmente ignorou o fato de que meu pai é um surtado e meu primo um desequilibrado mental-não que um seja muito diferente do outro- e resolveu que ficaria comigo. Fiquei imensamente feliz, mas outra coisa começou a me perturbar. Pensei que...bem, Malfoy estivesse morto e que a culpa era de vocês. Isso porque ouvi um pedaço da conversa entre você, meu pai e James.


 


Eu e minha imaginação insuportavelmente fértil! Lestat, fiquei com raiva porque achei que estivesse me envolvendo com um assassino!E falando em voz alta, essa teoria é realmente imbecil. Fazia muito mais sentido na minha cabeça. Sabe, duvidar do meu próprio pai, do meu primo, duvidar de você... Eu devo ser tão maluca quanto todos eles e vou entender se você nunca mais quiser falar comigo de novo...”


 


-Espere um pouco. Você terminou comigo por que achou que eu tinha assassinado o Malfoy? Em parceria com James e... seu pai? –ele estava completamente estarrecido.


 


-Foi - respondi olhando para meus pés.


 


-De onde, pelas barbas de Mérlin, você tirou essa ideia? Não que ela seja completamente descartável, mas... Caramba, Rose, você devia estar bem confusa, hein?


 


-Eu estava. -respondi em uma voz quase inaudível.


 


De repente, Lestat explodiu em uma gargalhada intensa e desandou a rir. Ele estava rindo de minha teoria absurda? Hmm, bom sinal. Ele não estava tãaaao bravo por eu ter pensado algo tão ruim sobre ele.


 


-Posso saber qual é a graça?


 


-A graça? –disse ele tentando se recuperar do acesso de riso. – Bem, Rose, reavalie sua história e vai descobrir. -então desandou a rir novamente.


 


-Lestat...me perdoe! Eu fui tãaao idiota...


 


Após alguns segundos, Lestat conseguiu recobrar a seriedade e me encarou por tempo suficiente para me distrair totalmente. Então, surpreendentemente, ele me puxou pelo braço e minha boca se perdeu junto à dele.


 


Entendi naquele momento que a noite passada com Malfoy de nada valia comparada ao beijo de Lestat. Bem, de quase nada valia comparada ao beijo de Lestat. Estava claro que Malfoy jamais faria aquilo comigo, que jamais corresponderia meu afeto daquela maneira. Então era isso. Lestat ganhara. As dúvidas desapareceram subitamente. Tudo se iluminou e...


 


-Por que diabos você parou de me beijar?-perguntei. Meus lábios procurando os dele.


 


-Vamos fazer o seguinte?- ele sussurrou em meu ouvido. –Por que não esquecemos o que aconteceu até agora e recomeçamos tudo? O que me diz?


 


-O que foi mesmo que aconteceu antes de você me beijar?


 


-Esse é o espírito, Goleira!-sussurrou novamente, dessa vez, levantando-me do chão.


 


Sem pensar muito, passei meus braços pelo pescoço dele e deixei que ele me beijasse novamente. Não sei exatamente como, mas em pouco tempo já estávamos entrelaçados no sofá. Eu rezando para que não aparecesse ninguém. Bem, pelo menos ninguém da minha família. Inesperadamente, Lestat parou de me beijar e soltou meu corpo. Afastou-se um pouco de mim e se endireitou no sofá.


 


Em questão de segundos, alunos do primeiro ano desciam as escadas dos dormitórios. Lestat olhou para eles, para mim e em seguida para si mesmo, lembrando-se de que ainda não estava com o uniforme. Lançou-me um olhar exasperado, como se subir e se trocar fosse o mesmo que ir à forca.


 


-Vá logo. Espero você aqui. –encorajei-o.


 


Ele bufou, beijou meu rosto e levantou-se de um salto do sofá. Então, vendo-o se afastar, senti uma súbita pontada em meu peito. Tudo estava voltando para seu devido lugar, mas algo me incomodava. Fora fácil demais reorganizar as coisas dentro de mim. Lembrei-me da noite anterior e um nó se formou em minha garganta. Eu e Malfoy nunca seríamos aquele casal novamente. Não que tivéssemos sido um casal.


 


 Fechei os olhos para impedir que escapasse alguma lágrima. O nó em minha garganta só se desfez quando ouvi a voz de Lestat, que descia as escadas acompanhado por James. Meu primo parecia um pouco mais conformado com a ideia de me ver com o melhor amigo dele. Os dois pareciam ter se acertado. Fiquei feliz, não queria que  brigassem por minha causa.


 


James encarava-me enquanto caminhava em minha direção. Seu olhar dizia que eu levaria uma bronca. Torci para que ele acreditasse na mesma história que contei à Lestat. Então, quando eles realmente se aproximaram de mim, James abraçou-me subitamente.


 


-Sua tonta! Nunca mais pense uma coisa dessas de mim! Eu não mataria ninguém por tão pouco e o Lestat muito menos.- E separando-se de mim por alguns instantes, permitindo que o ar voltasse aos meus pulmões, apontou com a cabeça para o amigo e disse - Não se preocupe, ele já recebeu a punição que devia. Porque, vamos combinar, ficar amarrado a uma única menina é castigo suficiente.


 


-Como você é machista!- eu disse, dando um soquinho em seu braço. – Ei, isso quer dizer que está tudo bem para você, sabe, ele e eu juntos depois de tudo?


 


-É... quase isso, vai.- respondeu fazendo uma careta e sorrindo em seguida.


 


-E isso quer dizer que você vai nos ajudar com...meu pai?- perguntei sem esperança alguma de que a resposta dele fosse positiva.


 


-Eu não disse isso. - Respondeu e tom de brincadeira e prosseguiu, falando mais para mim do que para Lestat. -Ah Rose, se é tão importante assim pra vocês, eu prometo não atrapalhar as negociações com Ronald Weasley.


 


Eu olhei para ele um tanto indignada com o que acabara de ouvir e em seguida James mandou:


 


-Certo, eu ajudo vocês. -Falou, finalmente, revirando os olhos.


 


-Muito bem Lestat, qual foi a quantia que você deu a ele? –perguntei, desconfiada.


 


-Bem, não foi exatamente uma quantia...


 


-Lestat, o que você deu a ele?- perguntei com medo da resposta, meus olhos arregalados de pavor.


 


-Bem, eu devia alguns galeões ao seu primo. -Lestat respondeu, com integridade. Pude respirar novamente em seguida.


 


-James, devolva o dinheiro dele imediatamente. – bronqueei parecendo minha mãe.


 


-Eu não, ele já disse que me devia.


 


-Eu tenho certeza de que ele pagou muito mais do que devia a você, seu...mercenário.- disse a James com o indicador esticado quase tocando seu nariz.


 


-Não devolvo!-respondeu James, parecendo uma criança.


 


-Rose, chega. Eu devia a ele e, bem, alguém precisa estar do nosso lado! –Lestat falou, tentando apaziguar.


 


-Como você é tolo, Lestat! Agora ele vai extorquir dinheiro de você por toda a eternidade! – disse furiosa, apesar de ter certeza de que ele já se aproveitava das finanças do amigo.


 


Então, como que para finalizar a nova discussão, os alunos da Grifinória inteira começaram a descer as escadas para o salão comunal fazendo a balbúrdia de sempre. Logo Lily, Al e Hugh se juntaram a nós. Nenhum deles se atreveu a perguntar onde eu havia me metido na noite anterior, mas também não entenderam o que eu estava fazendo de mãos dadas com Lestat.


 


Lily lançou-me um olhar inquisidor e fazendo um gesto com as mãos respondi que mais tarde falaríamos sobre aquilo. Fomos todos juntos para o café da manhã. Sentei-me ao lado de Lestat e por mais que tentasse manter minha atenção no que ele dizia ou em minhas próprias torradas, algo me fazia olhar a todo o momento para a entrada do salão esperando que Malfoy aparecesse.


 


Então, quando meu namorado notou que havia algo de errado comigo, Scorpius irrompeu pelo salão com seu ar imponente e mesquinho. Quando passou pela mesa da grifinória, olhando de soslaio, percebi por instantes seus olhos percorrendo de mim para Lestat e minhas bochechas ficaram notoriamente coradas, causando-me um grande desconforto.


 


-Goleira, prova de que não matamos ninguém: olha quem está ali. - apontou para a mesa da Sonserina, onde Malfoy se encontrava sentado conversando desanimado com uma garota.


 


Corei novamente. Ele não precisava ficar jogando minha teoria maluca na minha cara assim. Não precisava rir afetadamente como ele estava fazendo também.


 


-É, eu vi. -falei, mal humorada. -Se você soubesse como eu me sinto ridícula, não ficaria rindo assim.


 


Percebendo minha vergonha, Lestat passou seus braços pelos meus ombros e tratou de mudar de assunto. A manhã seguiu tranquila e eu só me lembrei do comportamento ridículo que tive durante toda a semana à hora do almoço, quando Scorpius Malfoy lançou olhares enigmáticos na minha direção. Algo dentro de mim dizia que aquilo não devia ser um bom sinal. Descobri mais tarde, naquele mesmo dia, que minha intuição estava certa.


 


Ao final do dia, quando voltei ao mesmo salão na hora do jantar, um grupo de calouros da Lufa-Lufa me abordou à porta do local impedindo minha entrada. Um garotinho gorducho de bochechas grandes, que parecia amedrontado, estendeu um pedaço mal dobrado de pergaminho na minha direção. Sem entender muito bem do que se tratava, perguntei a ele se aquilo era realmente para mim, o que ele confirmou com um aceno tímido de cabeça. Retirei o pergaminho de suas mãozinhas trêmulas e abri ali mesmo:


 


“Sei onde e com quem esteve a noite passada.


Se não quiser que seu namoradinho descubra,


aguarde instruções e me obedeça.”


 


 


O choque que senti ao ler as palavras escritas no bilhete foi algo que dificilmente teria como traduzir. Um arrepio gélido perpassou por minha espinha enquanto amassava o pergaminho e enfiava no bolso das minhas vestes. As mãos trêmulas agora eram as minhas, e quando consegui erguer a cabeça para perguntar ao menino quem havia me enviado aquilo, era tarde demais e o grupo todo já havia se dispersado na mesa da Lufa-Lufa.


 


Enfim, a curta temporada de normalidade na minha vida estava chegando ao grand finale. Seria uma eterna refém de um anônimo que sabia demais. Durante todo o jantar amaldiçoei mentalmente minha imaginação fértil. Se não fosse por ela, nada daquilo estaria acontecendo e minha vidinha normal e confortável não seria seriamente ameaçada por uma caligrafia malfeita em um pedaço amassado de pergaminho.


 


Eu tinha duas opções: esperar pelos comandos que, com toda certeza não tardariam a chegar, e continuar a mentir e omitir fatos importantes de Lestat ou simplesmente contar a ele toda a verdade sobre a noite que passei como amiga de Malfoy. Fiquei com a primeira opção, afinal, já havia mesmo escondido tudo aquilo dele.


 


Como havia previsto, o novo bilhete anônimo foi entregue no dia seguinte à hora do almoço. Outro grupo de calouros, agora da Corvinal, me abordou na mesma entrada do salão principal. Uma garotinha sardenta com longas tranças loiras entregou-me outro pedaço de pergaminho. A mesma caligrafia feiosa de antes, trazia agora as seguintes palavras:


 


“Seu segredo está seguro comigo.


Ainda.


Quero uma redação sobre doenças


causadas por vampiros até amanhã de manhã.


Deixe no segundo corredor da biblioteca, quinta prateleira


De cima para baixo, dentro de um envelope lacrado e endereçado


a S.H.”


 


“Eu não acredito! Quer dizer que estou sendo chantageada por um anônimo preguiçoso?” Ok, não mais tão anônimo assim. O que seriam aquelas iniciais, S.H.? Sem pensar muito, corri para a biblioteca e comecei a escrever a maldita redação. Quem quer que fosse aquele chantagista, precisava de seu dever de casa pronto até a manhã seguinte.


 


Quando finalmente terminei, envelopei devidamente as três páginas escritas e corri até a biblioteca outra vez. Sorrateiramente, escondi o envelope no devido local, mas algo me chamou a atenção. Havia outro envelope com as mesmas iniciais escritas. Então eu não era a única vítima. A ideia de que outra pessoa estava nas mãos daquele psicopata enxerido me confortou um pouco. E a ideia de que talvez estivesse sendo chantageada por Malfoy se extinguiu. E mais uma vez o pavor tomou conta de mim. Então era verdade, havia uma terceira pessoa maldosa que sabia sobre minha noite com Malfoy.


 


***


N/A: Ahaaaaa! Eu voltei, depois de, sei lá, um ano? Bem, o capítulo ainda não acabou, mas era o que eu tinha pronto há eras e resolvi postar ... Espero que gostem e que comentem muuuuito! Volto em breve com o resto, prometo, de verdade dessa vez! xD

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