Eight



 



Capítulo 8


ou All Star Polka Dotted


  


- Suas amigas me contaram o que aconteceu. – meu irmão disse, mais tarde naquele dia, enquanto eu fazia lição de casa. Ele estava encostado no batente da porta, com os braços cruzados.


 


- Ah não. – eu disse, escondendo meu rosto nos braços apoiados na mesa. – O que exatamente elas te contaram?


 


- Tudo. – mais um ‘ah não’ da minha parte. - Mas do ponto de vista delas, claro. Eu queria ouvir a sua versão.


 


- Não há nada de mais na minha versão, Ryan.


 


Ele foi até minha cama e se sentou na ponta dela, me encarando. Suspirou e começou:


 


- Como seu irmão mais velho, eu deveria te dizer pra deixar esse cara pra lá, ou me deixar socar ele. – eu ri levemente pelo nariz, imaginando a cena de Ryan e Sirius brigando. Seria engraçado, até a parte em que eles começassem a realmente se machucar. – Mas se tudo que elas me contaram é verdade, acho que você realmente deveria falar com ele. Não é nada saudável para você essa história mal resolvida. Aliás, ele não é nada saudável para você.


 


- Porque é que todos vocês estão me forçando a fazer isso? Parece até um pacto ou algo do tipo.


 


- Ninguém está pactuando contra você, mana. Nem mesmo te forçando a algo. Só estamos dando as nossas opiniões. E eu realmente acho que vocês devem conversar.


 


Uau, para o meu irmão me dizer que ele acha que eu devo ir e conversar com um ser humano do sexo masculino, ele realmente acha que eu devo fazer isso. Por que, afinal de contas, ele é meu irmão. Seu dever é me proteger e tudo mais. Está pré-determinado no código de irmãos mais velhos.


 


- Eu sei. E eu vou fazer isso. – ele assentiu, e quando fez menção de se levantar, continuei: - Talvez você devesse seguir o próprio exemplo. Com a Emmy.


 


Ao ouvir o nome dela, ele parou e olhou para mim.


 


- Ela gosta de você, sabe? E eu sei que você gosta dela. – ele abriu a boca para começar a dizer algo, mas o interrompi: - E nem adianta dizer que aquele beijo da festa, foi algo do “calor do momento”. – eu terminei fazendo aspas com os dedos.


 


- E não foi. – ele respondeu.


 


- Então por que ainda não falou com ela?


 


- Por que... urgh, eu não acredito que vou falar isso pra minha irmã, mas... eu não sei o que falar. – isso me surpreendeu. Ryan era uma das pessoas mais confiantes que eu conhecia, principalmente quando se tratava de garotas. Por isso, arqueei minhas sobrancelhas. - Eu não sei como agir perto dela, entende?


 


- Nem eu, e todos vocês estão me forçando a falar com ele! – eu respondi, surpresa com a hipocrisia de meu irmão. – Se eu tenho que falar com Sirius, você tem que falar com a Emmy.


 


Ele revirou os olhos, e suspirou levantando os braços com se estivesse se rendendo.


 


- Tudo bem! Mas é melhor você falar com ele amanhã!


 


xxx


 


Eu não falei com Sirius no dia seguinte. Por que desta vez, foi ele quem não foi para a escola. Lily disse que não tinha problema: eu falaria com ele no dia seguinte. Só que eu não sabia o que ia dizer a ele! Tudo bem, ele é quem tem o que falar, mas como vou chegar nele? Tipo, eu não posso chegar até ele e falar ‘E aí, o que você tem pra me dizer, que não consegue desde a festa?’


 


Rá, no way.


 


Eu não acredito que ele não está aqui! Eu passei a noite inteira acordada pensando em como seria essa conversa e ele não me aparece na escola? Isso me dá vontade de ir bater lá na casa dele e falar umas verdades para ele. Mas eu não sou tão louca assim. E além do mais, impulsos não são bons, como já ficou comprovado.


 


O dia passou normalmente na escola, e eu fui para o Luke’s mais tarde. E tinha esperança de encontrar Sirius por lá (não me pergunte o porquê), mas ele não estava lá. É claro! Se ele está me evitando, esse seria provavelmente o último dos lugares que ele iria.


 


E passei mais uma noite em claro, pensando mais uma vez em como seria a conversa. E isso já estava causando danos quase permanentes no meu rosto: olheiras escuras contrastando com minha pele pálida se formaram embaixo de meus olhos.


 


Até Ryan e as meninas se assustaram com minha aparência. Por sorte Dorcas passou um corretivo nelas antes das aulas começarem. E isso melhorou um pouco, e fiquei mais apresentável. As aulas da manhã passaram rápido. Até a dobradinha de Física da Jenkins passou rápido. O que é isso?! Até o tempo está conspirando contra mim agora?


 


Tentei falar algumas vezes com Sirius, mas ele estava sempre rodeado de pessoas, e sempre que eu o via no corredor sozinho parecia que ele fugia de mim. Assim como eu fiz com ele depois da festa. Talvez tenha sido só minha impressão. Só sei que não consegui falar com ele. E isso estava irritando não só Lily, mas Emmy e Dorcas também.


 


- Você tem que falar com ele logo, senão eu mesma vou! – Dorcas disse num tom desesperado.


 


- Ela tem razão, Lene. – James, namorado de Lily falou. Até ele estava sabendo de toda a história, já que era claro que havia algo de errado com Sirius. E aparentemente comigo também.


 


- Olha, eu vou falar com ele! Sério! – todos me olharam descrentes. Suspirei. É difícil quando ninguém acredita em você. – Amanhã é sexta-feira, certo? Amanhã sem falta vou falar com ele, pessoal. Prometo. – e saí andando em direção ao carro de Ryan, que me esperava ao lado dele. – Vejo vocês amanhã!


 


Tudo bem, nessa noite eu consegui dormir. Mas eu sonhei com Sirius e a conversa. Acordei no meio da noite, e não sabia o que tinha acontecido no sonho, e por isso não consegui dormir mais. Ótimo, mais corretivo para Dorcas colocar em mim.


 


Dito e feito. Ela quase desmaiou quando viu meu estado. Me puxou correndo para o banheiro junto de Lily e Emmy para dar um jeito em mim.


 


- Meu Deus, ficou acordada a noite inteira? – Dorcas perguntou enquanto passava o corretivo embaixo dos meus olhos.


 


- Na verdade eu dormi. Mas depois acordei no meio da noite e foi impossível dormir de novo.


 


- Hoje é um dia muito importante, Lene. Você deveria ter pelo menos dormido um pouco.


 


- Não ‘tá ajudando, Lily! – eu disse começando a entrar em pânico. Ela murmurou ‘desculpe’, e o sinal tocou.


 


- Vamos lá, temos Química agora. – Emmy disse e a seguimos para fora do banheiro.


 


xxx


 


- Okay, você vai fazer o seguinte: - Lily começou, enquanto almoçávamos. Hoje teríamos aulas no período da tarde. – Hoje ele tem treino, então depois do treino você fala com ele.


 


- Que horas acaba o treino?


 


- Às quatro. Depois que o treino acaba ele provavelmente vai para o vestiário tomar um banho e volta pra casa.


 


- E como vou assistir o treino sem ele me ver? Porque não sei se você viu, mas ele não parece muito disposto a falar comigo, mesmo eu tentando.


 


- Ah, mas aí que está. Você não vai assistir o treino. – Lily respondeu, sorrindo de seu plano que parecia ser ótimo, na opinião dela.


 


- Não vou?


 


- Não. Você vai ficar esperando no estacionamento, onde a moto dele fica. – Esse plano fez uma lampadazinha acender na minha cabeça. Entendi o que Lily queria que eu fizesse. Impedir que ele fosse embora sem falar comigo.


 


- Você realmente se empenhou nisso, não é? No plano e tudo mais.


 


- Não muito, pra falar a verdade. É tudo muito simples, e vai dar certo!


 


Ela riu junto de Emmy e Dorcas. Eu não ri. Não estava tão certa se isso daria certo e se eu conseguiria falar com ele. Eu provavelmente acabaria desmaiando ou abandonaria o plano antes do treino acabar. Eu sei que vou acabar fazendo alguma dessas coisas. Sei que vou.


 


xxx


  


Okay. É só inspirar e expirar. Muita calma, tudo vai dar certo. É apenas uma tarde como outra qualquer. Nada vai dar errado. Nem mesmo a chuva forte que está caindo agora vai arruinar tudo.


 


Errado? Nada vai dar errado? O que eu estou falando? É claro que vai dar errado! Aliás, vai dar TUDO errado! Eu mal consigo falar algo monossilábico, imagine palavras maiores e ainda formular frases!


 


Ah não, estou sentindo tudo rodar a minha volta. Tudo bem, Lily me avisou sobre isso. Apoiar na parede, respirar bem fundo e calmamente e soltar o ar calmamente também. Pensamentos positivos.


 


Talvez eu devesse pensar em coisas alegres, como o Peter Pan faz quando quer voar. Okay, vamos tentar. Sorvete, Luke’s, Elvis Presley, música, All Star, Sirius Bl... O QUÊ?!


 


Isso está me irritando. Porque tudo isso me lembra ele? Ah sim. Sorvete: Ben & Jerry’s de quando ele foi na minha casa. Luke’s: foi lá que nos conhecemos. Elvis Presley e música: a jukebox no dia em que nos conhecemos e a dança na festa. All Star: ah sim, ele usa All Star e fica maravilhoso neles. Acho que Ryan tem razão, Sirius não é saudável para mim.


 


Olho para o relógio impaciente pela terceira vez. Quatro e meia. Ah, não. Maldita hora que eu olhei. Agora eu realmente não vou conseguir fugir disso.


 


E definitivamente não vou poder fugir agora, porque avistei Sirius logo em frente, andando na chuva, em direção a sua moto. Respirei fundo mais uma vez, antes de começar a ir em sua direção. Senti a chuva bater por todo meu corpo, e um frio percorreu pela minha espinha. A chuva estava gelada, mas eu não vou desistir. Quem ‘tá na chuva é pra se molhar, certo? Okay, trocadilho péssimo.


 


- Sirius! – berrei, mas ele não pareceu me escutar. Berrei mais uma vez, ele olhou para mim e continuou andando. – Ah, fala sério. – falei para mim mesma. Eu não estava me molhando na chuva à toa. – O quê? Agora não vai mais falar comigo? – eu berrei novamente. A chuva começou a apertar.


 


Ele apenas continuou andando:


 


- Acho que você já disse tudo que queria não, é? Então não temos mais nada para falar. – sua voz era fria, e tinha um tom que captei como mágoa. Mas, como sempre, não tenho certeza.


 


- Temos sim! – eu o alcancei e o puxei pela manga de sua camisa, fazendo-o me encarar. Okay, bad choice. Ela estava colada em seu corpo, assim como no outro dia. Mas apesar daquela maldita visão maravilhosa, me concentrei em olhar apenas para seu rosto. E este tinha uma expressão surpresa, afinal nunca estive tão irritada perto dele antes. – Você disse que tinha que falar comigo, e me disse para procurá-lo. Eu procurei, mas você me evitou! Todos esses dias!


 


Ele não me respondeu, apenas me encarou, acho que esperando que eu continuasse. Tomei alguns passos de distância dele.


 


- Eu estou cansada de tudo isso! De não saber o que está acontecendo! Você chega no Luke’s e vem falar comigo, e me trata super bem. E depois na escola, a mesma coisa. E então tem aquela dança na festa, que você pediu pra colocar aquela música do Elvis! – eu berrava cada vez mais alto, já ficando sem ar. – Estou cansada de tudo isso. Por que simplesmente não pode me dizer o que quer?


 


- Não importa mais. Acho que aquela porta na minha cara já disse tudo que eu precisava saber. – ele continuou com uma expressão estranha e voltou a andar em direção a moto.


 


Ah não. A sensação de perda do ar a minha volta, misturada com as borboletas no estômago voltou. E junto com ela, as lágrimas. Mas eram, principalmente, lágrimas de raiva. Raiva, porque ele não estava me ouvindo. Não do jeito que eu queria. E então, berrei a primeira coisa que me veio na cabeça.


 


- Eu não tenho mais medo! – ele parou, mas continuou de costas para mim. – Não mais. – disse a última parte mais para mim do que para ele. 


E andando em frente, agi por impulso mais uma vez. Ele se virou para mim quando eu estava a dois passos dele e me encarou com aqueles olhos incrivelmente azuis. Eu o encarei, mas não parei. Não me permiti parar desta vez. Porque eu não tinha mais medo.











E foi então que eu o beijei. Na boca.


Eu apenas coloquei minhas mãos uma em cada lado de seu rosto e o puxei para mim. Na verdade, eu só encostei meus lábios no dele, mas foi o suficiente para eu sentir um calor percorrer por todo meu corpo e minhas pernas fraquejarem. Por sorte, ele sentiu isso, e me envolveu com seus braços. Se não, eu teria caído ali mesmo, naquela hora.


Enquanto uma de suas mãos me apertava contra seu corpo em minha cintura, a outra subiu para meu rosto. E minhas mãos, desceram para apoiar em seu peito. Um turbilhão de sensações passou pelo meu corpo. Senti minha respiração ficar descompassada e meu coração acelerar ainda mais.


Senti cada centímetro do meu corpo aquecer cada vez mais a cada vez que meu coração bombeava sangue para o resto do corpo. Um gosto maravilhoso de menta invadiu minha boca, e isso me entorpeceu. Parecia que tudo a minha volta havia desaparecido e o tempo parado.


Eu o empurrei de repente, quando meus pulmões imploravam por ar. Estava ofegante e percebi que ele também. Minhas mãos, que ainda estavam apoiadas em seu peito, sentiam-o subir e descer enquanto respirava. O calor emanava de seu corpo, e meu rosto parecia estar em estado febril. A chuva que caia em nós, não parecia surtir efeito algum devido ao calor que sentíamos.


- Bom saber. – ele respondeu, meio segundo antes de puxar.


Me puxou nem um pouco delicado e com tamanha força que achei que havia quebrado alguma costela. Bati de frente com seu corpo, ficando na ponta dos pés, ainda sentido seu peito subir e descer rapidamente. Minhas mãos subiram para seus ombros, e logo depois para seus cabelos. Ele aproximou seus lábios dos meus, mas não encostou. Fechei os olhos e senti seu hálito quente de menta invadir minhas narinas, me lembrando do gosto que senti momentos antes.


E então, sem aviso nenhum, beijou-me mais uma vez.


 
N/A: Vocês não tem noção de como é triste postar esse capítulo. É o último, se não contarmos o epílogo. Anyway, muito obrigada a quem está comentando e acompanhando a fic, espero que gostem da cena deles dois. Faz muuuuito tempo que eu queria fazer o beijo dos dois na chuva. Mas eu tinha que me segurar para o último capítulo, não é mesmo? ;)
ps: estou com uma raiva imensa a formatação da feb. toda vez minhas imagens ficam pro lado. ._.

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Comentários (1)

  • Lana Silva

    Ahhhhhhhhhhhh *--------------------------* lindo lindo lindo. Nossa Sirius nossa ele é demais ,  sem palavras Os dois juntos \O/beijo na chuva ahhhhhhhhh totalmente perfeito *-*beijoos! 

    2012-09-11
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