Os Quatro Fundadores



Capítulo 4- Os Quatro Fundadores

Sem pensar, enfiou a varinha do amigo largada no chão no decote, o lugar mais seguro que conseguiu pensar. Não teve tempo de pensar em mais nada. Louise foi bruscamente virada para fitar seu... inimigo.
Era Andrew, mas também não era Andrew. Sua face estava suada, e apesar de ter estado normal a menos de vinte e quatro horas, aparentava estranhamente mais magro e muito mais pálido. Abaixo de seus olhos havia duas grandes olheiras negras, e seus cabelos desarrumados não deviam encontrar um pente desde o encontro com o cálice.
Foi perturbador quando ele abriu a boca para falar.
Era como se houvesse uma face sobreposta a sua, como uma aura que tinha feições. As feições que Louise viu eram de um homem ligeiramente enrugado, de face fria e olhar translúcido.
“Só ela?” a voz polida que ela ouvira quando estava escondida saíra da boca de Andrew, junto com a voz do dono do corpo, com a diferença que a segunda estava bem mais baixa. “Levante-se.” Ordenou Andrew/Homem-com-cara-de-juiz. Ela se levantou, trêmula, largando a taça de água que anteriormente fora Escorpio.
A face que estava sobre a face de Andrew mudou. A face era de uma mulher bochechuda e envelhecida, mas com os olhos de quem nunca perdia a juventude, era a nova aura do seu... amigo.
“Me de sua capa e a varinha. Agora.” A voz era a voz feminina forte, de alguém com grandes pulmões. Louise não teve opção se não obedecê-la, pois a varinha de cordas de coração de dragão de 27 cm de Andrew estava apontada para seu peito. E, sobre a varinha de Andrew, havia a aura de uma outra varinha.
Andrew/Mulher-de-grandes-pulmões guardou a varinha da prisioneira dentro das calças (Louise encolheu-se sabendo que não havia bolso ali) e apontou a própria varinha para a capa grifinória de Louise, fazendo um feitiço silencioso de revistamento mágico. Tudo o que saiu dos bolsos dela foram um sapo de chocolate, um frasco de poção da aula de poções esquecido ali e alguns pedaços de pergaminho amassados.
“Godric, faça o resto. Não quero me meter nisso, e sei como você vai se divertir.” Falou. Dito isso, a face mulher mudou para a face de um homem diferente do primeiro, um homem com cabelo ligeiramente ruivo, óculos, e um ar brincalhão estampado no rosto.
“Ora, Helga. Você tem uma impressão errada de mim.” Respondeu divertido. Ele era dono da voz amigável. Então seu nome era Godric? “Você. Abra os braços.” Ordenou, dirigindo-se a Louise.
Louise obedeceu. Desprovida de sua capa, estava com apenas sua sai, camisa e gravata, fora os sapatos. Não seria algo demorado, ali não havia muitos esconderijos.
As mãos de Andrew/Godric passaram primeiro por suas pernas, uma media um tanto inútil. Depois brincaram um pouco em volta de sua saia, esperando encontrar qualquer coisa enfiada em suas vestes. Passou por as barriga, e Louise não pode deixar de se encolher ao toque. Sabia que não era hora daquilo, mas era muito constrangimento.
E, por Merlin, não o deixem chegar em seu sutiã.
Ele passou as mãos pela linha do sutiã, sim, mas foi um exame tão superficial e tímido na parte de trás dele que Andrew/Godric nem suspeitara da segunda varinha guardada.
O rosto de outra assumiu a face de Andrew. Era uma mulher de beleza fria e olhar calculista, que parecia exprimir inteligência.
“Me siga.” Sua voz era involuntariamente melodiosa, mesmo com o tom de Andrew no fundo. Era uma voz que te convenceria de muitas coisas, mas obviamente não foi por isso que Louise começou a caminhar, mas por causa de uma varinha espetada em suas costas.
Incerta, lançou um olhar por cima do ombro, na esperança de conseguir ver o cálice o qual fizera a burrice de transfigurar o amigo.
Esse foi o seu erro.
“O que é?” perguntou Andrew/Mulher-com-voz-melodiosa. Virou-se, ainda com a varinha espetada em Louise, tentando seguir o olhar da garota. Quando ela avistou o cálice que repousava no chão, um instante de confusão passou por sua dupla-face. E a face do Homem-com-cara-de-juiz assumiu Andrew. “Rowena, pegue! Como pode hesitar?!” ordenou
Rowena. Helga. Godric. Era muito irreal para ser verdade. Só falatava...
“Cale-se, Salazar” respondeu ‘Rowena’, agachando-se e levantando Escorpio, o primeiro bruxo/cálice de todos.
Salazar. Não. Não, mesmo.
Entraram na antecâmara, com uma luz esverdeada que iluminava tudo vindo não se sabia de onde. Andrew/Rowena empurrou a amiga, que caiu no chão. Com um movimento de varinha, conjurou cordas grossas e prateadas que enrolaram-se nela, prendendo seus braços ao corpo e a impossibilitando de se mexer e até de respirar direito.
Louise sabia que iria ser interrogada por causa do cálice, mas antes queria suas respostas.
“A taça é mesmo o coração de Hogwarts? Vocês... vocês são os quatro fundadores!” começou Louise
A face de Godric apareceu.
“Sente a magia?” começou ele “Quando nós quatro criamos essa escola, descobrimos que poderíamos gerar um organismo vivo como academia. E geramos.”
Quem falava agora era Salazar.
“O ambiente mágico realmente é necessário. Precisávamos criar um gerador de energia mágica, enfim, o coração disso tudo. Escolhemos a taça. Sobrou, por fim, a alimentação de Hogwarts.”
Helga, agora.
“Nós nos sacrificamos. A criamos, alimentamos, e, depois de nossa morte, demos nossa alma e espírito, e energia mágica. Recusamos nossa vida após a morte.”
Louise teve vontade de gritar, porém, mal conseguia falar com as cordas apertadas.
“Isso... esse tipo de magia... não é assim. Chama-se horcrux... Aquele-que-não-deve-ser-nomeado... usava isso. Não... não é um feitiço para geração de energia mágica.” Sentiu que, com um pouco mais de aperto, poderia desmaiar.
Rowena Ravenclaw assumiu o controle.
“Nós criamos este colégio, por que não poderíamos criar nosso encantamento?” respondeu ela “No momento que terminamos nossa criação, cedemos cada um de nós uma gota de sangue para o cálice, e selamos nosso espírito ali. Cada um de nós revelou seu segredo mais obscuro, que se tornou uma espécie de senha. Durante toda as nossas vidas, doávamos energia mágica para este colégio. E, depois de mortos, nosso espírito faz parte de seu coração, do coração de Hogwarts.”
Louise franziu a testa, com dificuldade em respirar. Esforçou-se para perguntar:
“ E onde eu, Escorpio e Andrew... entraríamos nisso?”
A face Huflepuff.
“Acontece que nossa magia é grande, mas não eterna. Precisamos... recarregar. Escolhemos três alunos aleatórios, para que morressem em nome do organismo vivo que é esta escola.”
Era uma loucura.
Slytherin, desta vez.
“Eu escolhi que deveriam ser alunos da casa Grifinória, que não fariam falta.” Havia raiva ali?
Foi Griffindor o próximo.
“Eu escolhi que deveriam ser dois meninos e uma menina unidos.”
Ela sentiu o olhar do fundador sobre ela, mas não em seus olhos. Ele olhava tão ostensivamente para seu decote que, por um instante, ela achou que ele vira a varinha. Mas sua cabeça parecia estar em outro lugar.
“Deveriam se destacar por algum motivo.” Falou a fundadora da Lufa-Lufa
“E eu os trouxe aqui, mas a falta de alguém não estava nos planos.”
Louise mais uma vez quis berrar, mas não conseguiu.
“O fato... de ser um organismo vivo... não influi em nada. Ninguém sentiria diferença se... se a magia do coração acabasse.”
Slytherin a olhou com tanto ódio que Louise se assutou.
“É mesmo?” disse “Taça.” Surgiu. O chão bamboleou-se como a parede fizera ao engolir Louise, Escorpio e Andrew, e dele saiu o motivo de tudo: a taça. “Sinta como as coisas seriam sem a magia, sem a vida de Hogwarts.”
Ele apontou a varinha para a taça.
Louise não sabia direito o que estava acontecendo.
As veias de Andrew saltaram, por causa de um esforço silencioso, seus olhos se arregalaram, mas ele se mantinha imóvel e continuava com a varinha apontada para a taça. Começou algo.
Como se estivesse próxima de um dementador, Louise sentiu seu ímpeto mágico, sua persistência, sua vontade de vencer e aprender magia se esgotando aos poucos. Sentia-se como se nunca mais seria hábil a segurar uma varinha, e que, se fosse solta naquele mesmo instante, e tivesse uma varinha em mãos, não seria capaz de pensar em ma única azaração para manter Andrew/fundadores afastado.
Era se como o entusiasmo que sentira ao atravessar os portões da escola pela primeira vez, o entusiasmo de poder usar a varinha, conjurar, enfeitiçar e transfigurar, tivesse sumido junto com a sua segurança.
De repente Andrew/Salazar cedeu. A taça, que flutuava levemente, caiu com um baque no chão. Louise sentiu como se tudo que, há um instante, julgara que perdera de forma irremediável, voltara pra ela.
“Talvez você faça mágica naturalmente em qualquer lugar, mas Hogwarts é sua segunda casa, seu lar bruxo. Desde o momento que sabemos que um novo bruxo ou bruxa nasce, sabemos se ele irá para Hogwarts ou não. Se ele for, sua ligação mágica com este lugar começa desde cedo. A necessidade de pelo menos um ambiente mágico como este existe em todo o bruxo inexperiente. Se essa escola deixasse de ter seu pulso de vida, apenas os frios, poderosos e preparados desde o berço conseguiriam aprender lidando com esta... tensão mágica.” Slytherin respirava aliviado com o corpo de Andrew. Conter a magia da taça deveria ser algo complexo e trabalhoso.
A face bem desenhada de Ravenclaw substituiu-o. Ela falou:
“Se não quiser mais lutar, a localização de seu amigo e sua magia serão bem vindas.”
Louise tinha a vista turva, não discernia muita bem a forma de Andrew com a luz esverdeada, mal conseguia respirar e os pensamentos amontoavam-se em sua mente.
“Eu... entregaria minha vida eterna para este cálice?”
Ravenclaw sorriu maliciosamente.
“Infelizmente, não poderíamos esperar por sua morte. Teria que ser feito aqui e agora.”
Louise bufou, desnorteada. Morte. Sacrifício. Era demais para ela, e ela nem se quer podia respirar. Ela encolheu-se, mas ao fazê-lo, a varinha de Escorpio pinicou, e ela soltou um gemido baixo.
Andrew/Ravenclaw percebeu.
“O que é isso?” Ravenclaw não se aproximou, seu olhar desceu para a camisa e Louise. Ela negou com a cabeça “Nós a revisamos. Não pode...” mas uma lâmpada acendeu-se em sua cabeça, e ela a olhou diretamente no decote. “Você não teve coragem de mexer nessa menininha, Godric! Vá revistá-la direito. Há algo a incomodando no decote, dá pra ver sua expressão.”
A face tímida de Griffindor assumiu o rosto impassível de Andrew. Ele agachou e aproximou seus dedos de Louise, hesitante.
Quando viu o rosto de Andrew próximo do seu, enxergou através da face translúcida de Godric pela primeira vez e viu o que mais queria: hesitação. Andrew, assim como Griffindor, não queria fazê-lo. E o mais importante: Andrew mostrara uma emoção.
Tentar não mataria ninguém.
Com um movimento sofrido com a perna, empurrou-o um pouco.
“NÃO ME TOQUE!” berrou “Olhe aqui, seu ‘valente Griffindor’, sei lá se das charnecas. Pouco me importa, ouviu? Pouco me importa! Me tiraram a minha capa e meu amigo, e você já aproveitou para passar a mão em mim! Isso é humilhação!” Louise estava vermelha, e não precisava simular a raiva. Mesmo que não houvesse varinha, não seria tocada.
Não pelo fundador da escola.
Ele recuou, e ela pode ver a face de Griffindor ser trocada pela de Slytherin, que parecia ter a mesma expressão que o outro.
Uma vergonha misturada com medo?
A face da gordinha Huflepuff assumiu.
“Ela tem algo a esconder!” e estendeu os braços, pronta para ir em frente
Mas não foi.
As faces fantasmagóricas alternavam-se sem padrão algum: as faces confusas e acuadas dos homens e as raivosas faces femininas.
Moviam os lábios, sem som algum. Pareciam estar discutindo.
Louise apertou os olhos, ainda meio zonza com a falta de oxigênio. Era verdade que aquelas duas mulheres foram duas bruxas extremamente notáveis, e pareciam ter um grande poder de persuasão. E os fundadores eram divididos igualmente, duas mulheres e dois homens, portanto a probabilidade de elas tomarem o controle era grande.
Mas era óbvio que a opinião de mais alguém não estava nos planos.
Andrew tinha um expressão ligeiramente apreensiva, e Louise sabia que mexer em seus seios não estava na lista de quereres do amigo. Era uma contradição silenciosa que parecia ter efeito na votação febril dos fundadores.
Os fantasmas por fim se acalmaram, E a face de Helga a olhou, examinando-a de cima a baixo. Louise sentia-se fraca, vencida, humilhada. Mal conseguia respirar, e lutava para conseguir permanecer com os olhos, no mínimo, entreabertos.
Deu uma olhada solitária para o cálice o qual fizera a burrice de transfigurar o amigo. Queria que Escorpio estivesse ali para segurar a sua mão.

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Devo comentar? Uma verdadeira viagem que me faz um bem danado por no papel.

Bi@~~Ballu

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