Um mês se passou desde que a banda, ou melhor, a dupla Don e Bob se formou e decidiu ser o arraso do festival de talentos.

O único problema é que ambos tinham dificuldades extremas para se socializar, então era meio difícil arranjar novos membros para a banda. Isso só se tornou um problema quando a última semana das inscrições se aproximou.

Quando a última aula de transfiguração daquela semana terminou, a professora Minerva chamou Don e Bob para uma conversa.

- Eu gostaria de saber por que os senhores são uns dos únicos alunos que ainda não se inscreveram no festival de talentos.

Don olhou para Bob e depois fitou o chão por alguns segundos.

- Nós não temos nenhum talento, professora – respondeu Don debilmente.

- Oh, não me venha com essa, senhor Tremlett! – Minerva parecia dominada por uma excitação incomum. – Eu sei muito bem que o senhor toca contra-baixo desde que tinha 6 anos e o senhor Lafuerza é um excelente cantor.

Os dois se entreolharam e abriram um sorriso sem graça.

- Na verdade, professora – começou Bob -, nós não temos uma banda.

Minerva ficou olhando para eles paralisada, provavelmente achando que fosse brincadeira. Quando percebeu que eles falavam sério, ela voltou a se exaltar.

- Mas isso é um absurdo! Diversos alunos aqui nessa escola tocam algum instrumento e muitos deles estão no mesmo ano que vocês!

- Nós sabemos, mas não conseguimos reuni-los...

- É para isso que você tem boca, senhor Lafuerza.

Ela abriu a porta e fez um gesto para que os dois saíssem. Eles correram para o fim do corredor e só diminuíram o ritmo quando estavam longe da sala de transfiguração.

- Mulher louca – disse Don -, e obviamente não entende nada sobre formação de bandas.

- Concordo.

Os dois continuaram a andar pelo corredor deserto até que Don parou bruscamente numa bifurcação.

- Você ouviu isso?

- O quê? – perguntou Bob.

- Esse som.

- Que som?

- Vem comigo.

Don foi seguindo o distante som até chegar a uma sala com a porta entreaberta, de onde vinha uma música de excelente qualidade e bem animada.

- Mas o que...?

Bob percebeu que Don olhava fixamente para dentro da sala e resolveu fazer o mesmo. Nenhum dos dois jamais esqueceu aquele momento.

A banda que tocava ali era constituída pelos alunos do sétimo ano da Grifinória, os mesmos que haviam expulsado Don do dormitório um mês atrás.Eles eram realmente bons e tocavam um rock que fazia toda a platéia – que era constituída basicamente de garotas – dançar e cantar com empolgação.

O componente que não pertencia ao sétimo ano era Kirley MacCormack, que fazia um solo gigantesco enquanto as meninas suspiravam.

- Típico – sussurrou Bob.

Don fechou a porta, encostou na parede fria do corredor e foi escorregando até chegas ao chão. Bob sentou-se ao lado dele com a mesma expressão deprimida.

- Cara... – disse Bob.

- Eu sei.

- E agora?

- Eu não sei.



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No fim daquele dia, a biblioteca de Hogwarts estava praticamente vazia, exceto por alguns alunos do primeiro ano, Don e Bob.

- Nós não podemos perder as esperanças – disse Bob, carregando alguns livros e jogando-os em cima da mesa.

- Nós já perdemos – respondeu Don, sacudindo a nuvem de poeira levantada pelos livros. – Por Merlim, Bob, seja realista! Eles têm uma banda, uma música legal, um fã-clube inteiro e são veteranos, enquanto nós já paramos na parte da banda.

- A banda a gente vê depois, o fã-clube vem com o tempo, esse negócio de ser veterano é ser bom é clichê e a música a gente arruma num segundo. Olha, aquela prateleira inteira está recheada das músicas mais legais do mundo, então é melhor você ajudar se quiser sair dessa fossa.

- Certo...

Don se arrastou até a prateleira de música e começou a olhar os diversos títulos que lá estavam. “Música japonesa”, “Música folclórica irlandesa”, “Músicas de acampamento”, “Música de dor-de-cotovelo”...

BAM!

A única coisa que Don conseguiu ver antes de se estatelar no chão foi uma pilha de livros vindo em sua direção. Quando conseguiu se levantar, viu que havia um garoto por trás da pilha.

O menino era magro e pequeno, tinha os cabelos louros quase brancos e olhos azuis muito claros. Ele tateou o chão a procura dos óculos quadrados de aro azul marinho e os recolocou no lugar certo.

- Desculpe, – disse Don - eu não te vi.

- Tudo bem – respondeu o garoto, quase voando quando Don o puxou para cima.

- Você não deveria carregar tantos livros sozinho – ele foi empilhando os livros e olhando os títulos. – Magia avançada? Por que você estava lendo isso?

O garoto fechou a cara e pegou a pilha das mãos de Don.

- Para fazer minha lição de casa, que tal!?

- Lição de casa? Quando eu estava no primeiro ano, minha lição de casa era bem mais simples...

- Quando eu estava no primeiro ano também era.

Ele ajeitou a pilha e virou as costas para Don, que abaixou-se para pegar um livro que ficara no chão.

A capa dizia “Partituras para piano”.

- Ei – disse Don, sentindo a esperança voltar a dominar seu ser -, você esqueceu um livro.

O garoto relutou um pouco a voltar, mas pouco depois virou-se de novo e pegou o livro.

- Você toca piano?

- Não, – respondeu o garoto em tom raivoso - eu perco meu tempo lendo partituras porque acho bonito e não tenho mais o que fazer!

- Calma, foi só uma pergunta!

- E essa foi só uma resposta.

Antes que o menino pudesse virar de novo, Don sentiu que não poderia perder aquela oportunidade.

- Qual é o seu nome?

- Você se importa? – perguntou o garoto.

- Olha – disse Don, pegando metade da pilha de livros do garoto -, acontece que eu tenho uma banda, quer dizer, parte dela, e preciso de mais integrantes que de preferência toquem bem para fazer um show no Festival de Talentos.Há quanto tempo você toca?

- Dez anos.

- Uau! E já se apresentou alguma vez?

- Algumas, com uma orquestra de Roma no natal.

- Perfeito! Eu preciso da sua ajuda.

- Minha ajuda? Você é grande, forte e inteligente, não precisa da minha ajuda.

- Preciso sim, porque eu tenho dois dias pra formar uma banda e você é minha última esperança. Preciso de alguém experiente, alguém para guiar um bando de gente que nunca se apresentou na vida e nunca tocou em banda.

O garoto parou para pensar por alguns segundos que mais pareceram a Don uma eternidade.

- Muito prazer, eu sou Max Schwartz.



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Para a surpresa de Don, o pequeno Max se revelou um garoto extremamente alegre, otimista e esperançoso, sem todo aquele mal humor da biblioteca. E a segunda surpresa foi quando Don e Bob descobriram que Max estava no sexto ano da Corvinal.

- Sexto ano!? – perguntou Don incrédulo. – Não pode ser!

- Mas é – respondeu Bob – foram as meninas do sexto ano que me contaram.

- Eu jurava que ele era do segundo ano no máximo.

- Eu também, mas ele deve ter algum problema de crescimento. E tem mais, o cara é praticamente um gênio!

- Por que?

- Parece que ele vai sair da escola no ano que vem para fazer um curso especial durante as férias.

- Não vai fazer o sétimo ano? Por que?

- Sei lá, mas não importa, o que importa é se o cara toca bem ou não.

- Aparentemente sim, ele já tocou lá em Roma.

- Por Melim!

- Eu sei!

- Não é isso! Olha aqui!

Bob pegou Don pelo pescoço e quase bateu a cabeça do amigo na parede. Don se afastou um pouco do quadro de avisos para ler o que o amigo tinha visto.


ATENÇÃO!

UMA BANDA PRECISA DE VOCÊ!


Quer tocar no Festival de Talentos mas está sem banda!? Seus problemas acabaram! Há uma banda em formação esperando por você!
Se você for guitarrista, baterista ou backing vocal, procure Max Schwartz, Donaghan Tremlett ou Robert Lafuerza para mais informações.
MAS SEJA RÁPIDO!
Porque as inscrições para o Festival serão encerradas em breve.



Don ficou um pouco assustado com a grande figura de um homem apontando para o leitor, estampada bem no meio do cartaz, mas não demonstrou toda a surpresa de Bob.

- Eu não acredito – disse Bob, andando de um lado pro outro – não posso acreditar que aquele anão de jardim nos expôs dessa maneira!

- O anão de jardim está tentando salvar a banda – disse Max, chegando sorrateiramente por trás de Don e Bob – coisa que o grande trasgo na minha frente não conseguiu fazer.

- Olha aqui, seu... – Bob sentiu seu sangue latino ferver e avançou pra cima de Max.

- Vamos acalmar, vamos acalmar, pessoal... – disse Don, segurando Bob pelos ombros.

- Apesar da repreensão de alguns, até agora o anúncio tem dado certo – disse Max, ignorando o ataque do colega.

- Você encontrou algum novo membro?

- Sim, encontrei alguém para tocar guitarra, mas parece que ela não é muito experiente, então serviria apenas para fazer a base.

- Já ta muito bom!

- Eu sei. Ela é da casa de vocês, então mandei que procurasse vocês às oito no Salão Comunal. Boa sorte na entrevista e por favor não dêem ataques desnecessários – ele lançou um olhar repreensivo para Bob e saiu corredor a fora.



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Às oito horas da noite daquele dia, Don e Bob estavam sentados no sofá do jeito habitual, mas a tensão pairava entre suas cabeças. Os dois sabiam que não eram mestres em relações sociais, por isso sua preocupação tinha algum fundamento.

- Olá – disse uma garota que parara na frente da dupla.

Don paralisou completamente, desde os fios de cabelo até o dedão do pé. Nunca vira nenhuma garota igual àquela, ela era simplesmente a pessoa mais bonita que ele já vira em toda sua vida. Ela sorria e olhava de um para outro, enquanto seus cabelos castanho-claros longos e sedosos acompanhavam os traços delicados de seu rosto. Foi só quando ela encarou-o com seus belos olhos azuis e repetiu a pergunta que ele despertou.

- Olá?

- Ah, oi – disse Don, ainda muito embasbacado.

- Vocês são Donaghan e Robert?

- Nós mesmos, muito prazer – Bob estendeu sua mão e a garota apertou-a. Por alguma razão que Don não conseguia explicar, Bob não parecia encantado com aquele ser maravilhoso em sua frente. – Eu sou Robert, mas pode me chamar de Bob. Esse aqui é meu amigo Don.

Quando ela voltou a olhar para Don e estendeu sua delicada mão para Don, ele sentiu seu corpo inteiro gelar, mas dessa vez teve reação e apertou a mão da garota.

- Eu sou Heathcole Barbary, mas vocês podem me chamar de Heath.

- Que estranho, eu nunca tinha te visto aqui no Salão Comunal – disse Bob.

- Eu não fico muito por aqui, sabe... Não gosto dos ares que aqui circulam.

Ela apontou com a cabeça para os garotos do sétimo ano e seu fã-clube.

- Entendemos o que você quer dizer – disse Bob, sorrindo.

- Então, você toca o que? – perguntou Don.

- Guitarra. O Max não contou pra vocês?

- Claro que contou – disse Bob, batendo de leve na cabeça do amigo. – Acorda, Don!

- É verdade... Desculpa, eu tinha esquecido – Don se segurou para não avançar no amigo naquele momento.

- Tudo bem – ela sorriu e Don sentiu suas entranhas congelarem.

- Você está preparada para uma intensa seqüência de ensaios e talvez compor uma música própria?

- Acho que sim.

- Ótimo, bem-vinda à nossa banda – disse Bob.

- Podemos marcar o primeiro ensaio para segunda-feira?

- Claro. Até mais então, pessoal.

- Tchau.

Quando ela desapareceu pelo buraco da parede, Bob cutucou Don com força.

- O que deu em você? Essa é nossa grande oportunidade de formar uma banda e você ta aí agindo todo estranho!

- Desculpa, é que... Ah, vai cutucar sua mãe!

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