Pela primeira vez na história da Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts, nenhum aluno passara as férias de inverno no castelo. Seus corredores gélidos estavam vazios, o silêncio predominava nas salas e os professores disseminavam sua angústia por onde passavam, reunindo-se na sala dos professores toda noite para discutir sobre os recentes acontecimentos.
Os pais queriam proteger seus filhos de algo que nem mesmo eles sabiam o que era, mas sentiam-se mais seguros com a família reunida em suas casas. O que eles sequer desconfiavam era que os seus filhos estariam muito mais seguros sob o mesmo teto que Alvo Dumbledore.

O natal passou rapidamente trazendo um fio de esperança aos que tinham fé, assim como o ano novo. Milhares de pessoas fizeram passeatas pela paz nos vilarejos bruxos ao redor do mundo, mas isso só inflamou ainda mais a raiva de seus inimigos.

Como um piscar de olhos, os corredores de Hogwarts voltaram a ter vida no primeiro dia de aula do último semestre daquele ano letivo. Os alunos refletiam a preocupação passada a eles por seus pais mas, ao encontrar seus amigos e colegas, logo voltaram a sorrir e correr pelo castelo que já não era mais tão frio.

Enquanto a neve caia lá fora e cobria as plantas como se já soubesse o que as aguardava, Dumbledore levantou-se no Salão Principal e os estudantes imediatamente fizeram silêncio.

E é aí que a história começa.

- Bem-vindos de volta à Hogwarts! – gritou Dumbledore. – é um prazer recebê-los aqui novamente. Esse castelo não é a mesma coisa sem os gritos e correrias de seus alunos, o senhor Filch que o diga.

Alguns alunos riram, outros olharam para Argo Filch que parecia querer avançar em Dumbledore.

- Antes de retomarmos nossos estudos, tenho dois comunicados a fazer. O primeiro é que a circulação de alunos nos terrenos da escola após o anoitecer está terminantemente proibida.

Vários alunos protestaram, mas Dumbledore continuou a falar.

- O segundo comunicado é que teremos uma apresentação especial para fechar o nosso ano com chave de ouro. Tenho o prazer de anunciar que no último dia de aula acontecerá o Primeiro Festival de Talentos de Hogwarts!
Pela primeira vez naquela noite, ninguém se manifestou.

- Vocês receberão mais explicações sobre esse festival no decorrer do mês e deverão estar inscritos até o fim deste. Todos alunos terão que participar ou eu receio que precisarão ficar aqui um ano a mais que seus colegas.

Gritos de desaprovação surgiram ao longe, mas a maioria continuou calada.

- Os professores e funcionários da escola terão prazer em fornecer o que precisarem para desenvolver seus trabalhos, mas eles terão que ser desenvolvidos por vocês mesmos, em grupo ou individualmente. As modalidades serão variadas e vocês deverão se inscrever de acordo com seus talentos. Bom jantar.

As bandejas na frente dos alunos se encheram de comida, mas eles ainda estavam processando as informações dadas pelo diretor. Depois de alguns minutos de cochichos, todos concentraram-se em seus respectivos pratos.


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Donaghan Tremlett saiu do Salão Principal com a excitação pulsando em suas veias. Ele não podia acreditar que aquilo era real. Pela primeira vez poderia realizar seu grande sonho e tudo indicava que aquela era sua grande oportunidade.

O rapaz de quinze anos, cabelos negros e longos presos e olhos castanhos penetrantes entrou no salão comunal da Grifinória e correu para o dormitório masculino, onde passara a maior parte dos seus quatro anos e meio de Hogwarts. Ele se abaixou ao lado da cama e puxou uma mala com um formato peculiar, abriu os fechos de metal e tirou de dentro dela um contra-baixo.

Aquilo era seu tesouro, sua arma, seu refúgio. Sem seu instrumento, ele não era absolutamente nada, pois sempre vivera para a música e não sabia o que existia além dela. Antes de colocar o contra-baixo na posição certa para tocá-lo, Donaghan ficou observando-o por alguns segundos. Era realmente um belo instrumento que fora confeccionado pelos bruxos músicos de um vilarejo irlandês.

O formato e o som do instrumento eram iguais à sua versão trouxa, mas alguns detalhes o tornavam mágico. Sua cor era âmbar, mas quando suas cordas vibravam surgia fogo dentro dele e as chamas dançavam ao ritmo da música. Outro detalhe muito útil é que os instrumentos bruxos já vêm amplificados, ou seja, amplificadores eram supérfulos, assim como fios, cabos, pedais, etc.

Depois de analisar seu baixo com muito carinho, Don colocou-o sobre sua perna e seus dedos começaram a circular livremente pelas cordas, mostrando que o rapaz tinha experiência com o instrumento.

Don queria ser músico. Ele sabia que era uma carreira difícil e não muito lucrativa, mas ele estava decidido que não queria passar o resto da sua vida sendo escravo de alguém e confinado num escritório recebendo tarefas em bilhetes voadores. Apesar dessa certeza, ele tinha um pouco de receio de como sua decisão seria vista pelos outros. Ele sabia que sua mãe aceitaria, mas ela morrera dois anos atrás. Seu pai era dono de uma grande empresa de doces bruxos e estava sempre viajando, por isso não importava sua opinião. Mas o grande medo era o que os professores iam achar da idéia quando ouvissem o que Don tinha a dizer em seu teste vocacional no fim do ano.

O garoto só despertou de suas preocupações quando viu a porta se abrir com um estrondo.

Kirley MacCormack, um garoto da mesma idade de Don que tinha os cabelos louros caídos sobre o rosto e olhos verdes encantadores, estava parado na porta rindo para alguém que ainda não tinha entrado no dormitório.

Quando ele viu Don, imediatamente fechou a cara.

- Ei, nerd – disse ele, aproximando-se de Don -, sai fora.

- O quê?

- Além de nerd você é burro!? Eu disse pra sair!

- O que ta pegando, Kirley? – outro rapaz entrou no quarto, mas este era do sétimo ano. Ele foi seguido por mais três colegas da mesma idade que ele.

- Nada, é só um nerd que não quer liberar o quarto pra gente.

O rapaz de dezessete anos passou por Kirley e chegou bem perto de Don.

- Ou você sai, - ele se aproximou ainda mais – ou você morre.

Don não queria sair e era isso que ele pretendia fazer, mas o tamanho do rapaz que o ameaçava era intimidante. Ele recolocou o baixo na mala, guardou-a embaixo da cama e saiu do quarto com a cara amarrada.

O salão comunal estava lotado àquela hora da noite. Don correu os olhos pelo lugar e viu o de sempre: vários alunos sentados ao redor de cinco ou seis rapazes do sétimo ano, constituindo o grupo dos populares; quase todas as meninas do sexto e sétimo ano babando e dando cima dos populares, constituindo o grupo das... Ahn, melhor não falar o nome; meia dúzia de aluno estudando no canto que sobrara da mesa, os chamados “nerds”; e, finalmente, os alunos que sobraram estavam espalhados pela sala lendo um livro, conversando ou observando o movimento.

Don caminhou calmamente até um sofá no canto do salão, onde estava sentado seu melhor e único amigo, Robert Lafuerza. O rapaz era grandalhão e tinha traços tipicamente latinos, com cabelos castanho-claros e belos olhos da mesma cor.

- Don – disse Bom, surpreso em ver o amigo -, o que você está fazendo aqui?

- Esse é o salão comunal da minha casa, não é – Don sentou-se ao lado do amigo -, é aqui que eu deveria estar.

- Você entendeu o que eu quis dizer. O que houve com seu “ensaio”?

- Foi interrompido por certos alunos que se acham superiores só porque têm um fã-clube que os segue onde quer que eles vão.

- MacCormack, eu suponho.

- Na mosca. Se tem alguém que podia morrer nessa escola, esse alguém é ele.

- Eu não entendo como que esses idiotas do sétimo ano andam com um cara da nossa idade!

- Só porque ele sabe fazer meia dúzia de solos de guitarra.

- É a vida... Ei, falando em solos, você vai tocar no festival?

- Era o que eu mais queria... Mas acho que não vai dar.

- Por que?

- Bob – Don olhou para o amigo e começou a explicar calmamente -, para se tocar num festival, é preciso uma banda.

- Então arranje uma!

- Não é bem assim! Eu não conheço nenhum músico nessa escola que não seja exibido ou maconheiro.

- Convenhamos que você não conhece muita gente da escola, não é!?

- Pode até ser, mas eu já vi o bastante por aqui. Se der, deu, se não ser, daí a gente vê o que faz.

- Ótima filosofia.


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O ânimo dos alunos na noite anterior se dissipou como uma nuvem de fumaça na manhã seguinte, quando todos se arrastaram para suas respectivas salas. A primeira aula dos grifinórios naquela manhã era transfiguração e Don quase ficou para fora, chegando quando a professora estava fechando a porta.

- Bom dia – disse ela, observando os alunos se acomodarem. – Espero que tenham tido excelentes férias e estejam prontos para estudar bastante. Caso algum de vocês tenha se esquecido, os NOMs estão quase aí.

Don era um deles. Ele havia esquecido completamente dos NOMs e sabia que não iria se dar bem mesmo que lembrasse deles três anos antes.

- Antes de falar mais sobre os exames, vou entregar um folheto informativo sobre o Festival de Talentos.

Ela acenou com a varinha e um papel surgiu na mesa de cada aluno.



I Festival de Talentos de Hogwarts

O Festival de Talentos consiste numa apresentação dos alunos (em grupos ou individual) onde eles mostrarão seus talentos em diversas modalidades.
Modalidades:

- Dança;

- Mágica de entretenimento;

- Instrumental (individual ou em grupo);

- Maquete / protótipo;

- Escultura / pintura / desenho.

Obs.: Os alunos só poderão se inscrever em UMA modalidade.

A apresentação dos trabalhos e os shows de dança e música acontecerão no último dia do mês de maio, também último dia de aula.

Todos alunos terão salas individuais para ensaios ou montagem dos trabalhos, mas terão que marcar horário com os professores responsáveis.
As inscrições estarão abertas até dia primeiro de fevereiro.

Atenciosamente,

Comissão Julgadora do I Festival de Talentos de Hogwarts.




Don sentiu a frustração apertar seu coração de tal forma que ele quase ficou sem fôlego. Aquela era sua grande chance, a oportunidade de mostrar seu talento para o mundo e tentar passar sua mensagem de igualdade. Mas ela seria em vão se ele não tivesse uma banda e era exatamente isso que o preocupava.

- Don – sussurrou Bob -, você precisa tocar, cara.

- Eu sei, mas vai ser difícil.

- Ninguém nesse colégio toca melhor do que você. E você vai ficar na história, mudar rumos e pensamentos, da idéias. Essa escola precisa de você.

- E eu preciso de uma banda.

- Tem de haver alguém nessa escola que toque alguma coisa e não seja imbecil!

- Duvido muito.

- Eu não. Vamos lá, Don, temos que começar pelo começo. Nós somos uma banda.

- Você vai participar? Vai cantar?

- Vou.

- E aquele papo da timidez e blá blá blá?

- Eu vou deixar isso de lado dessa vez porque eu sei que você precisa de mim. E eu não vou poder viver sabendo que você deixou de subir num palco no Salão Principal de Hogwarts e passar sua mensagem para esses idiotas e eu não fiz nada quanto a isso.

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