Ciúmes, <i>eu</i>?



Capítulo VIII - Ciúmes, eu?


Harry chutou tudo o que estava no seu caminho até a torre da grifinória. Se aquilo fosse um de seus costumeiros pesadelos já estava na hora de acordar e ir tomar café da manhã. Mas não era, e ele tinha que enfrentar isso. Mais uma vez se deparava com uma situação inevitável, não dava para fugir ou simplesmente fechar os olhos. Estava acontecendo. Atravessou o retrato após uma pequena discussão com a mulher gorda. Subiu as escadas com sua capa de lado desejando atolar-se em sua cama e quem sabe esquecer toda aquela porcaria, mas, encontrou na sala comunal a última pessoa que queria ver naquele momento.

- Pensei ter dito que não ia a nenhum lugar escondido Harry James - disse Hermione sorrindo, Harry sentiu seu estômago se revirar desconfortável.

- E não ia - retrucou friamente.

- Ah tome, está muito bom - falou a menina levantando-se e entregando o pergaminho ao moreno.

- Obrigado.

- Tudo bem Harry?

"Tudo péssimo... Você pirou, Rony parece não dar a mínima para isso e ao que tudo indica eu farei o papel de palhaço que se preocupa à toa na história... Não é demais?"

- Melhor impossível - respondeu cruzando os braços - Então o que a Gina queria? Posso saber?

- Oh... não era nada demais... - disse Hermione naturalmente.

"É como eu pensei, só eu acho que você gostar do Malfoy é uma aberração, mas para você não é nada demais, isso é lindo! o amor é lindo não?" pensou o garoto possesso, enquanto Hermione continuou:

- Ela está gostando de um garoto e não sabe como dizer isso a ele.

"NÃO FOI ISSO QUE EU PENSEI TER OUVIDO", pensou.

Harry não pode acreditar que estava ouvindo aquilo de Hermione. Ele sabia muito bem o que as duas haviam conversado, mas Hermione mentia descaradamente e não parecia sentir nenhum remorso ou receio em fazer aquilo, muito pelo contrário estava convincente até demais. Quantas vezes teria ela feito algo assim e ele sequer desconfiara? Sem dúvida ela o fazia muito bem e a desculpa, por sinal era ótima. Sua vontade era gritar para Hermione tudo o que ouvira, mas simplesmente virou-se para sair.

- Ei Harry, aonde vai??

"Me matar, saberia me dizer se um avada kedavra funcionaria se eu invocasse em mim mesmo Srta. sabe-tudo?"

- Dormir - disse simplesmente

Harry sentia como se fosse explodir, uma angústia incomensurável surgia no seu estômago e subia tomando conta de seu peito logo chegando à sua garganta o entalando, finalmente culminando em uma discreta lágrima que escorreu pelo seu olho esquerdo. Ele respirou fundo, se pudesse liberar milhares daquela talvez se sentisse menos mal. Seus pés o carregavam mas seu corpo seguramente parecia ter o dobro do peso. Será que todos haviam pirado?

Sua melhor amiga estava apaixonada pelo último dos homens que imaginara para ela. Esse era o agravante número um, o homem ser justamente Draco Malfoy. Apesar de tudo que ele pudesse ter feito para demonstrar algum tipo de mudança continuava sendo Draco Malfoy, isso era inadmissível e o deixava completamente fora de si. Rony, seu melhor amigo parecia achar aquilo a coisa mais natural do mundo o deixando com cara de paspalho ao tentar buscar a sua ajuda, esse era o agravante número dois. Mas é claro, tinha que ter o agravante número três para fechar o dia com chave de ouro: Hermione tinha que mentir para ele. O pior é que a combinação desses fatores fazia parecer que o mundo havia desabado sobre Harry. A voz de Hermione dizendo que gostava de Draco Malfoy passeava pela sua cabeça como um eco daquele momento o que dava mais desespero ainda. Será que ele é que havia pirado? Estava sentado na sua cama apertando com força o colchão, procurando a resposta para a sua pergunta. Teria ficado a noite inteira naquela posição mas foi despertado de seu transe pela chegada de Rony.

- Hey... Harry... Hermione está preocupada disse que você á estranho, você tá bem?

- Sim. Não, não estou, você sabe. - disse exausto

Rony ficou em silêncio por um segundo, provavelmente ponderando o que dizer ao amigo.

- Você... falou com ela? Sobre o Malfoy...

- Não... não exatamente, eu tentei Ron. Eu perguntei o que ela tinha falado com a Gina mas... ela mentiu e isso... foi o cúmulo! Como ela foi capaz? - disse Harry com a voz mais aguda do que o normal ainda sem soltar o colchão.

- Isso era previsível Harry... Com certeza ela não iria dizer a verdade, principalmente sendo o que é... - falou o ruivo com convicção.

Rony estava certo. Se Hermione não contara antes sobre aquilo não seria quando Harry perguntasse sobre a conversa com Gina que ela iria simplesmente soltar. "Menos mal", pensou já justificando a mentira da amiga.

- Isso é uma tragédia. Ron... eu não vou aceitar NUNCA. O Malfoy NÃO!

- Harry... é normal que você sinta ciúmes...

- Ciúmes, eu?? Não seja ridículo Rony, assim você me faz rir! - retrucou Harry com um riso forçado, mas para sua surpresa foi Rony que começou a rir rolando pela cama. - Qual-a-graça?? - perguntou furioso.

- Você! Você está roxo, possesso de ciúmes da Mione cara, isso é muito engraçado... - respondeu o garoto tomando fôlego.

Harry ruboresceu, era só o que lhe faltava naquele dia. "Ciúmes da Mione? Claro que... não?"

- Pro seu governo eu não estou com ciúmes, eu estou apenas... preocupado - titubeou Harry metodicamente.

- Ah claro, digamos que seja, não acha que está preocupado demais?

Por que estaria preocupado demais? Não estava. A situação era realmente preocupante, trágica, por que Rony não achava o mesmo?

- Claro que não!!A Mione é uma garota inteligente...linda...compreensiva...sensível...carinhosa... - disse Harry num sussurro - e é nossa amiga. Ela merec um cara que seja digno de todas essas qualidades Ron. Um cara que a faça sorrir ou mesmo rir, que esteja sempre ao seu lado, que NUNCA a magoe, e esse cara seguramente não é o Malfoy - falou por fim.

- Uau, você precisava ver a sua cara dizendo isso, foi muito convincente mesmo!

Harry sorriu ignorando a probabilidade de Rony o estar provocando, a frase que dissera sobre a amiga lhe deu um momento de êxtase ímpar.

- Ele não a merece Ron - desabafou.

- Eu sei, mas você sabe tão bem quanto eu que não vamos conseguir fazê-la mudar de idéia. Se ela realmente quiser isso não há quem a impeça.

- Pior que sim - disse Harry deitando-se na cama. - Sabe o que mais... é... Talvez

- Talvez o que?

- Talvez eu esteja sim com um pouco de ciúmes.

Rony sorriu satisfeito.

Harry agora surpreendentemente conseguira esvair da sua mente as lembranças tenebrosas daquele sábado. Apesar de tudo mais, as coisas supostamente boas o enchiam de paz. Os fatos iam se clareando e aos poucos ele ia se sentindo bem menos angustiado e mais forte. Não sentia mais lágrimas tendendo a cair. Algo novo, inusitado e tranquilizante brotava em seu peito sugerindo que nem tudo estava perdido, afinal. Harry respirou fundo como se estivesse limpando a sua alma com o ar que penetrava em seus pulmões. Dentro de pouco teria adormecido e outro dia viria. Até lá só uma palavra vinha em sua mente.

"Talvez."



TO BE CONTINUED...

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