A escada maldita.



CAPÍTULO X

Gina ouviu com atenção as novidades que Hermione lhe contou. Incluindo a decisão que Draco tomara de mudar de emprego.
— Ele deve sentir algo por você — sorriu para Hermione. — Não importa o que você diga. Nenhum homem faria uma mudança dessas por mera atração física.
Hermione tivera receio de pensar nisso, e muito mais de falar. Ficou olhando a amiga durante um bom tempo, pensativa.
— Em alguns aspectos, você ainda é muito ingênua, minha amiga —Gina comentou. — Draco está apaixonado por você. Apenas ainda não se deu conta disso.
Se ao menos fosse verdade, pensou Hermione, rezando por um milagre. Estava torcendo para que ele se adaptasse ao novo em¬prego. Mesmo que tivessem que mudar para Chicago, não seria problema. Gina poderia continuar cuidando da loja e ir visi¬tá-los com Harry, sempre que possível. Ela própria também poderia voltar a Greenville de vez em quando. Gina seria uma ótima madrinha para seu filho, sorriu consigo.
Mantendo os pensamentos em Draco e longe do que estava fa¬zendo, começou a subir os degraus da escada da livraria para pegar um livro em uma prateleira mais alta.
Estava no meio do caminho quando escorregou. Caída no chão, gritou, aterrorizada, procurando Gina , que apareceu correndo.
— Oh, Deus, o bebê! — soluçou, levando a mão ao ventre.
— Está tudo bem —Gina assegurou-a, tentando acalmá-la. — Não se preocupe, vou chamar uma ambulância. Fique quieta aí! Está machucada em algum lugar?
— Não sei!
Gina correu para o telefone. Hermione permaneceu no mesmo lugar, mantendo as mãos sobre a barriga e uma expressão de pânico no rosto.
"Deus, por favor, me ajude a não perder meu bebê!", pedia em pensamento. Fechou os olhos quando as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. Sentiu uma primeira onda de dor na perna e nas costas.
Os minutos seguintes foram um verdadeiro pesadelo, permeado de espera e preocupação. Quando a ambulância chegou, os en¬fermeiros a colocaram na maca e a levaram para o hospital, direto para a sala de emergência. Gina acompanhou-a durante todo o tempo. Hermione estava com tanto receio de perder o filho que mal notou a presença da amiga.
Foi examinada por um médico de plantão, que não lhe disse nada. Começaram uma série de exames que pareceu durar uma eternidade. Por fim, levaram-na para um quarto, onde a deixaram trêmula de preocupação. Foi informada de que o próprio dr. Carter falaria com ela depois que obtivesse os resultados dos exames.
Enquanto esperava, só o que Hermione conseguiu fazer foi chorar. Gina tentou consolá-la, mas foi inútil. Ela estava sentindo uma dor incômoda no baixo ventre e sabia que iria perder o bebê. Seu filho!
Gina pediu um número ou o nome de alguém para quem ela pudesse ligar em Chicago e avisar Draco. Em meio ao desespero, Hermione disse o nome R.J. Lupin e fechou os olhos.
Não adiantaria telefonar, ela quis dizer. Draco só viria pelo senso de responsabilidade... Foi então que lembrou da outra mulher que abortara um filho dele e ficou alarmada com a reação que ele poderia ter.
O dr. Carter apareceu algumas horas depois. Após olhá-la, saiu para providenciar um sedativo. Ao voltar, tomou a mão dela e fez um sinal para que Gina os deixasse a sós.
— O bebê ficará bem — anunciou quando a porta foi fechada. — E você também. Agora acalme-se.
Hermione parou de chorar.
— O quê?
— O bebê está bem — ele sorriu. — Bebês são mais resistentes do que parecem. Todo aquele fluido em torno deles os protege, é uma maravilha. Claro que você se machucou um pouco, mas não foi nada sério. Logo ficará boa.
Hermione suspirou profundamente.
— Obrigada, meu Deus... Mas e essa dor incômoda? -— in¬quiriu, levando a mão à barriga.
— Alarme falso. É normal sentir alguns espasmos. Agora pare de se preocupar, está bem?
A enfermeira apareceu com a seringa, mas antes que ela pu¬desse aplicar o sedativo, a porta se abriu de repente, fazendo todos se virarem para olhar quem era.
— Draco! — Hermione exclamou, surpresa.
Ele aproximou-se rápido. Havia pingos de chuva em seu terno escuro. Parecia aflito, resfolegando como se tivesse chegado cor¬rendo.
— Você está bem? — perguntou, preocupado. — E o bebê?
— Sim, nós dois estamos bem — Hermione respondeu. — Draco, está tudo bem! Verdade! — repetiu com mais firmeza, tentando eliminar aquele ar de preocupação do rosto dele. — Caí da escada da livraria, mas...
-— Oh, Deus. Eu sabia!
Sentou ao lado dela. As mãos que tocaram as de Hermione estavam trêmulas e o olhar de angústia deixou-a tocada. Draco encostou o rosto ao dela.
Hermione enlaçou os braços em torno dele, hesitante. Draco estava trêmulo por inteiro. Ela acariciou-lhe os cabelos, acalmando-o. Sentiu algo molhado em seu pescoço e seus próprios olhos en¬cheram-se de lágrimas.
— Oh, querido — sussurrou, abraçando-o com mais força.
Fechou os olhos ao perceber que a grandeza do que Draco sentia por ela fora revelado sem uma palavra. Sorriu, apesar das lágrimas. Agora enfrentaria o mundo inteiro se fosse preciso. Era capaz de qualquer coisa! Draco a amava!
— Reação ao choque — o médico diagnosticou, pegando a seringa da enfermeira. — Gravidez também é difícil para os pais. Tire o casaco, meu jovem. — Draco obedeceu e o médico apli¬cou-lhe o sedativo. — Pedirei que tragam uma cama para você também ficar aqui. Não pode dirigir nesse estado. Hermione, acho que não precisa mais de sedativo, não é? — acrescentou com um sorriso.
— Tem razão — ela anuiu, voltando a abraçar o marido.
O médico se retirou com a enfermeira, fechando a porta atrás de si.
— Eu te amo — Hermione sussurrou. — Eu te amo, te amo...
Draco interrompeu-a com um beijo. Quando levantou a cabeça, não se importou que Hermione visse seu rosto molhado de lágrimas.
— R.J. foi me avisar pessoalmente depois que Gina tele¬fonou. — Tocou o rosto dela com a ponta dos dedos. — Fiquei maluco — confessou. -— R.J. conseguiu uma reserva no vôo seguinte. Saí correndo do aeroporto e peguei um táxi... Nem lem¬bro direito como cheguei aqui. — Encostou os lábios nos dela, visivelmente aliviado. — Eu ia telefonar para você hoje à noite. Estava ansioso para contar o quanto estou gostando do novo em¬prego. Também encontrei uma casa para nós — acrescentou de-vagar. — Fica na praia e tem um lindo jardim e quintal. Será bom para o bebê.
— Sim, querido — Hermione concordou, feliz.
Fitou-a nos olhos.
— Fiquei com medo do que encontraria quando chegasse aqui. — Após uma pausa, acrescentou: — Eu te amo, Hermione.
— Sim, eu sei — ela sorriu.
Draco também sorriu.
— Eu nunca disse isso antes. Não é tão difícil, afinal. Eu te amo.
— Eu também te amo — Hermione sorriu de pura felicidade. — Ooh — gemeu, levando a mão às costas. — Estou toda dolorida por causa daquela maldita escada! — protestou.
— Não quero mais saber de escadas perto de você — Draco disse com firmeza. — Mudaremos para Chicago, onde poderei ficar de olho em você. Gina nos visitará sempre que quiser.
— Draco, é isso mesmo que você quer?
— Claro. Convenci-me de que já passei do tempo de ficar me arriscando. Além disso, estou gostando muito de ensinar as táticas que aprendi e desenvolvi ao longo dos anos. — Beijou-a na ponta do nariz. — R.J. previu que eu acabaria fazendo isso. Quando ele e Gabby se casaram, ele me disse que o casamento era muito mais excitante do que se livrar de balas. Acho que ele tem razão, de certa forma... Meu Deus, o que havia naquela seringa?
— Um sedativo — Hermione explicou. — Trouxeram para mim, mas acho que quando o médico viu seu estado concluiu que você precisava mais do que eu.
Draco riu.
— Gostaria de poder conversar um pouco mais, mas acho melhor me deitar.
O dr. Carter e a enfermeira reapareceram com uma cama de armar. O médico olhou o relógio e sorriu.
— Imaginei que já estivesse precisando disso — disse a Draco. — Deite-se, futuro papai. Vocês dois podem dormir um pouco. Sentindo-se melhor, Hermione?
— Divinamente bem.
Suspirou, trocando um olhar de cumplicidade com Draco. Ador¬meceram pouco depois, felizes com a perspectiva de se depararem com um futuro de união quando acordassem.

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