Capítulo Bônus




Capítulo Bônus


Tremia. O vento frio castigava seu corpo nu, promovendo os tremores intermitentes. Somando-se a isso, era madrugada e estava sozinha. Sozinha e sem forças para levantar, lutar ou fugir se algum animal ou mesmo algum humano aparecesse. Já estava há quanto tempo naquela floresta? Não tinha mais noção de tempo. Então, tudo que desejou foi que a morte viesse logo para acabar com aquele sofrimento.

Algumas lágrimas escaparam de seus olhos, o fim certamente estava próximo. Harry. Rony. Pensou nos amigos. Como seus pais haviam morrido, eles eram a única família que lhe restava. E nem poderia despedir-se deles, embora Hermione imaginasse que deveriam achar que estava morta. E logo realmente estaria.

Seu corpo tremeu mais uma vez. Ela virou-se só um pouco para ver os outros dois que foram abandonados com ela. Tentou falar mais uma vez, porém, era inútil. Seus lábios, sua voz não mais obedeciam seus comandos. Hermione suspirou e apenas ficou a mirar os outros. Ambos já não se moviam mais.

Serei a próxima... Ela pensou e fechou os olhos. Uma única coisa a alegrou, não mais sofreria aquela tortura. Sentiu, então, vontade de rir. A tortura terminara apenas porque seu corpo não mais funcionava. Nem para cobaia ela servia mais. Vamos... Morra de uma vez. Permanecia de olhos fechados, apenas aguardando.

Os primeiros raios de sol começaram a aparecer, mas nem por isso a aqueciam. Odiou-se por ser incapaz até mesmo de perder a consciência e morrer sem dor. Não tinha realmente nenhuma sorte. Sua cabeça latejou e Hermione respirou mais profundamente. Então, finalmente, ela parecia estar indo embora. Os sons que a atormentaram por toda a longa madrugada começaram a desaparecer. O vento não parecia mais castigar sua pele. Seus olhos ainda estavam fechados e se alguém prestasse bastante atenção, talvez conseguisse notar um discreto sorriso nos lábios dela.

Ela não ouviu os passos que se aproximaram. Não sentiu as mãos nervosas tocarem seu corpo sem cuidado. Hermione não estava mais consciente quando finalmente foi encontrada. Entretanto, ela ainda estava viva.

**********

A chuva ricocheteava contra a janela com força. Amélia terminara de fazer a higienização de Hermione e após dar-lhe os remédios a colocaria na cama. Estivera agitada o dia todo, por isso a enfermeira achou que seria melhor dar duas doses de calmante a morena naquela noite.

- Aqui Eva! – ela disse para a moça. “Eva”. Era chamada assim desde o dia que acordara naquele lugar. Jamais conseguira pronunciar seu nome. Hermione apenas abriu a boca, permitindo que a enfermeira depositasse os medicamentos – Pronto. – ela então, deu-lhe água.

Hermione engoliu com dificuldade. Não tinha forças para recusar os remédios, embora soubesse que não precisava deles. Amélia lhe dera calmante em dobro, então, sabia que dormiria sem esforço aquela noite. Pela primeira vez, não se importou com os remédios. Realmente seria um alívio poder dormir rapidamente.

Passara o dia todo com uma sensação estranha. Não saberia explicar o que era, apenas sentia-se inquieta, de modo que precisava toda hora caminhar pelo aposento. Mesmo que não fizesse nenhum sentido, mesmo que parecesse ainda mais desequilibrada. Então, uma última vez naquele dia, ela precisava ficar de pé. Aproveitou que Amélia estava limpando umas coisas e caminhou lentamente até a janela. A chuva ainda permanecia forte mal dando para ver o que tinha além dos portões.

Apesar disso, ela conseguiu ver um automóvel parado. A luz do farol iluminava o local, e Hermione pôde ver uma pessoa se movendo. Parecia estar com problemas. Ela até sentiu vontade de rir, pois imaginou que se o problema era um pneu furado, provavelmente seria bem difícil naquela chuva. Porém, ao ver um clarão, ela piscou. Aquilo era um feitiço. Um bruxo. Havia um bruxo tão perto dela.

Seu coração disparou, porém, seria incapaz de fazer alguma coisa. Apenas teria que vê-lo ir embora. Esses eram os piores momentos de sua vida; sentir-se tão incapaz. Às vezes, desejava que realmente tivesse morrido naquele dia. Foi então que ele parou e pareceu olhar em sua direção. Era impossível reconhecê-lo, pois estava longe. Entretanto, por um momento, Hermione apenas quis acreditar que era Harry. Seu Harry. Então, imaginou seus olhos verdes, provavelmente surpresos por vê-la ali. Deveria estar sem fala, questionando-se se realmente era ela ou apenas sua imaginação. Era uma alegria ilusória, mas não importava.

- Eva! – Amélia a repreendeu quando finalmente percebeu que ela não estava na cama – Venha para cama.

Hermione teve tempo apenas de ver que outra pessoa surgira no portão. Provavelmente esposa, namorada daquele homem. Nesse momento, ela não desejou mais que fosse Harry. Sentiu vontade de rir mais uma vez, enquanto Amélia lhe colocava na cama. Ainda era difícil imaginar Harry com uma mulher.

Tanto tempo e eu ainda o amo. Mas eu não posso ser egoísta. Eu tenho que desejar que Harry esteja bem, feliz. Mesmo que não seja comigo. Fechou os olhos e sentiu Amélia puxar as cobertas. Até parece que eu já tive alguma chance. Harry nunca me viu como mulher mesmo. E agora... Agora é tarde demais. Pensando naquilo, ela adormeceu.

********************

- Ela está aqui. – era a voz de Amélia. Hermione questionou-se com quem ela estaria conversando.

- E-eu ainda não posso acreditar que ela está viva, Rony. – outra voz foi ouvida, mas essa, sem dúvida, Hermione identificou na hora. Seu coração disparou, não podia acreditar que ele realmente estivesse lá fora. Talvez, estivesse ouvindo coisas... Há muito tempo desistira de tentar falar, afinal, sempre era um esforço inútil. Entretanto, naquele dia, ela não conseguiu evitar. Harry... Harry... Contudo, sua voz não saía. Nunca sua condição a deixou tão frustrada. A porta se abriu e Hermione esperou, cheia de expectativas.

- Eva? Bom dia, querida. – a enfermeira falou sorrindo, enquanto abria as cortinas da janela – Veja só... Tem visitas hoje! Venham... Entrem!

Deveria ser um sonho. Sim, como os diversos que já tivera naqueles anos. Um sonho no qual seus melhores amigos apareciam para salvá-la e ajudá-la. Um sonho que traria felicidade, sentimento esse que parecia até esquecido por ela. E como deveria ser um sonho, provavelmente acordaria logo e teria que enfrentar sua dura realidade.

Entretanto, o “sonho” continuou. Rony e Harry entraram no aposentando, sem dizer uma palavra, parecendo estar surpresos demais para dizer qualquer coisa. Então, ambos correram até ela e a abraçaram. Nos seus sonhos, ela sempre conseguia corresponder, mas naquele momento não pôde. Seus braços não responderam, ela simplesmente teve que suportar não poder demonstrar o quanto estava feliz em vê-los, porque eles realmente estavam ali. Não era um sonho.

- Mione? – foi Harry quem finalmente quebrou o silêncio. Ainda perto dela, ele se agachou e tocou levemente as mãos dela que repousavam sobre seu colo – Somos nós... Harry e Rony! Sentimos tanto sua falta. – ele a abraçou forte novamente, mas Hermione permaneceu estática, sem poder corresponder ao abraço.

Percebeu que Harry ainda agachado, voltou seu olhar para Rony, depois para Amélia. E foi naquele momento que ambos perceberam que não era a mesma Hermione que conheciam. Ela tinha o mesmo cabelo castanho e rebelde, mas este agora estava mais comprido e ressecado, quase na cintura. Seus olhos castanhos pareciam sem vida, perdidos no nada; sua pele estava pálida, encontrava-se mais magra. Era como uma casca mal cuidada da antiga Hermione.

E apesar de não poder reagir, aquele momento, ainda que feliz, foi doloroso. Foi doloroso receber aqueles olhares de seus amigos. Olhares de preocupação. Hermione odiava preocupá-los, odiava dar qualquer tipo de trabalho a eles. A morena percebeu que daquela maneira, seria apenas um fardo na vida deles. Então, ela entendeu que se fosse daquela maneira, talvez tivesse sido melhor que nunca fosse encontrada.

- O que há com ela? – Rony questionou – Ela perdeu a memória ou algo assim?

- Era isso que eu queria contar a vocês antes de virem aqui... Ela não é a amiga que vocês conheceram um dia. – Amélia olhou penalizada para Hermione – Uma moça tão bonita, mas parece não haver mais vida dentro dela... “Hermione” não interage mais com o mundo a sua volta. Foram poucas as palavras que ela disse em todo este tempo em que viveu aqui, todas elas apenas durante sonhos...

- Eu não posso acreditar. – Harry afastou-se um pouco para melhor encarar a amiga. Ela não o olhava de volta, era como se ele não estivesse ali – Mione? Mione? – queria gritar de volta, respondê-lo. Mais era impossível. Foi percebendo que eles pareciam ainda mais preocupados, tristes. Aquilo era a pior coisa que poderia ter acontecido.

- Não adianta, senhor. Ela não vai responder.

- Não há nada que possamos fazer? – Rony olhou desesperado para Amélia – Faríamos qualquer coisa! Deve haver uma cura. – ela ouviu e sentiu vontade de chorar. Chorar era a única coisa que conseguia fazer, porém, ela não iria chorar naquele momento. Não queria deixá-los ainda mais tristes. Segurou as lágrimas, ainda sentindo a mão de Harry sobre a sua. Quente, sentira falta daquele contato.

- Se há, nós não conhecemos ainda, senhor. Como eu disse, há outros na mesma situação, sem que nenhum tenha melhorado. – Harry ainda mirava Hermione, sem conseguir acreditar. Ela sabia, pelo seu olhar, o quanto ele ficara triste. Sentiu uma das mãos do amigo acariciar sua face com carinho, como tantas vezes fizera, mas não pôde sorrir como sempre fazia. Não pôde dizer o quanto gostara.

- Eu não vou desistir. – ele murmurou, com um pequeno sorriso. Hermione sentiu vontade de sorrir também.

- O que disse, senhor Potter?

- Foram quatro anos... Quatro anos acreditando que ela estava morta, desejando haver uma forma de trazê-la de volta a vida. – ele ficou de pé e olhou para os outros dois – Agora, ela está aqui... Na minha frente e respirando! Eu não vou cruzar os braços e aceitar a condição em que ela se encontra... Não vou assistir minha amiga morrer aos poucos, inconsciente da minha presença. Eu vou encontrar uma maneira de trazê-la de volta.

Naquele momento, Hermione sentiu-se mal por desejar ter morrido antes ou por desejar nunca ter sido encontrada. As palavras dele eram mais que suficiente para ela entender que esses quatro anos não foram duros apenas para ela. Harry, seus amigos... Todos eles estiveram sofrendo. E ela certamente não poderia desistir agora. Não tinha dúvidas de que seria difícil, doloroso, mas percebeu que só o fato de estar junto deles era suficiente. Principalmente, junto dele...

- Mas senhor...

- Nós vamos levá-la daqui. – Harry avisou.

- Não podem levá-la assim, precisam falar com o Dr. Gray e só ele pode dar alta à Eva. – Amélia explicou.

- Ela se chama Hermione Granger, senhora, por favor, pare de chamá-la de Eva. Eu vou levá-la, querendo esse médico ou não! – ele olhou feio para Amélia. Hermione sentiu pena da enfermeira. Se pudesse, teria repreendido Harry por ser indelicado. Contudo, a felicidade que começara a invadir-lhe o coração a impediu de ficar zangada com ele por muito tempo.

- Vamos falar com ele primeiro, Harry. Tenha calma, por favor.

- Venham comigo. – Amélia disse.

- Nós vamos voltar, Mione. E vamos levá-la conosco. – Harry sussurrou perto do ouvido dela – Não se preocupe; estamos aqui com você! – então, beijou carinhosamente a testa dela, antes de sair. Um calor percorreu todo seu corpo. Ia voltar para Londres.

****************

Hermione só conseguia pensar no nome Katherine. Tentou pensar na possibilidade de ser a esposa ou namorada de Harry, porém isso parecia o mais óbvio. Nunca tivera chance mesmo. Quando o amigo retornou ao quarto, ela permanecia exatamente na mesma posição e imóvel; se não fossem por sua respiração e piscar de olhos, pareceria uma estátua. Harry pegou a sacola da amiga e começou a retirar as roupas, as quais, em sua opinião, estavam bem velhas.

- Podemos comprar roupas novas, o que acha Mione? – ele comentou, enquanto arrumava o guarda-roupa com o que havia ali – Não sou muito bom com roupas femininas, mas daremos um jeito... Posso pedir ajuda de Kathe.

O coração dela afundou em seu peito ao vê-lo sorrir. Não tinha mais dúvidas, Harry tinha alguém. Após guardar as roupas dela, aproximou-se da amiga e se ajoelhou em sua frente. Acariciou a face dela e lhe beijou a testa com carinho. Hermione sentiu-se ainda mais triste. Por que você faz isso comigo, Harry?

- Você vai adorar conhecê-la, Mi. Estamos noivos há algum tempo... – “Noivos”. Ela repetiu em pensamento, enquanto seu olhar fitava algum ponto qualquer do quarto. – Posso te contar um segredo? Eu realmente gosto da Kathe e claro que quero me casar com ela, mas... Eu tentei adiar ao máximo nosso casamento porque... Eu queria que você estivesse nele, que fosse minha madrinha, como havíamos combinado. Parece loucura, é verdade, afinal, você estava “morta”, porém, acho que no fundo, eu nunca acreditei de verdade nisso. E então, eu marquei a data do grande dia, mas só porque ela insistia muito e eu não queria perdê-la, porque eu não agüento mais perder as pessoas que amo. Acho que nunca havia desejado tanto te reencontrar como nesses últimos dias, talvez por isso, eu realmente tenha te visto naquele dia.

Numa mistura de alegria e tristeza, Hermione sentiu vontade de abraçá-lo. Sempre odiou vê-lo sofrendo e faria o possível para que a vida dele fosse mais feliz daqui para frente. Mesmo que tivesse que conviver com a noiva dele. Não importava, ela seria fiel a Harry até o fim. Cumpriria aquela promessa mesmo que lhe custasse lágrimas depois. Estava tão envolvida nos pensamentos que não percebera que Harry suspirara. Quase se assustou quando este lhe beijou a mão.

- Eu sinto muito, Mione. Você precisa me ajudar de alguma forma, pois eu sei que sozinho eu não vou conseguir. – ele sentou agora ao lado dela, mas ainda segurando-lhe as mãos – Eu sempre precisei de você, não é mesmo? E até nesse momento, quando sou eu quem deveria estar lhe confortando, parece acontecer exatamente o contrário.

Harry parou e sorriu novamente para a amiga, antes de ficar de pé. Deixou o quarto por um momento, voltando logo em seguida com uma toalha, sabonete e xampu. Assim que retornou, escolheu uma roupa para Hermione, colocando-a em seguida sobre a cama. Ela queria perguntar o que ele pretendia fazer, mas não poderia.

- Vamos tomar um banho, Mione? – Hermione pularia de susto se pudesse, antes que ele pudesse aproximar-se para ajudá-la a levantar. “Banho? Como assim? Harry!”. Queria fugir dali, mas só podia segui-lo até o banheiro. – Eu me lembro de quando você me deu banho uma vez... Não sei se aquela ducha fria foi bem um banho, e nossa... Você estava pirada comigo por eu ter bebido além da conta, então, quase arrancou minha blusa e me jogou debaixo do chuveiro frio. Como eu sou bonzinho, eu vou colocar no quente e preparar a banheira para você!

Ela se lembrou daquele podia, porém, eram situações completamente diferentes. Ele estava vestido. E em sua atual condição, não tinha coragem de se despir na frente dele. Estava magra, sem formas. Provavelmente, se Harry já a achava desinteressante, agora sem dúvida teria certeza de que era a mulher menos atraente que existia.

O moreno abriu a torneira e esperou que a água enchesse toda a banheira. Harry parecia constrangido também, entretanto, começou a despi-la. O contato das mãos dele em seu corpo fez sua pele ferver. Notou que ele manteve suas peças íntimas. Talvez, fosse realmente uma visão muito desagradável, pensou ela. Sentiu-se ainda mais envergonhada. Harry provavelmente deveria estar com pena dela.

Pensou ter ouvido um pedido de desculpas dele, mas deveria ter imaginado. Harry não tinha por que se desculpar. Ele a ajudou a entrar na água, imóvel, ela deixou que ele a banhasse. Aos poucos, foi se acostumando as mãos leves dele lavando seus cabelos, esfregando suas costas.

- Eu tenho certeza de que a senhorita está gostando, não é? Também... Com tanta mordomia! – ele brincou, enquanto enxaguava os cabelos da morena. Hermione corou profundamente, torcendo para que o amigo não percebesse – Não vá ficar mal acostumada, viu? Quando ficar boa, essa folga vai terminar!

Quando terminou, Harry a ajudou a ficar de pé novamente e, só após ter a enrolado na toalha, ele despiu, com alguma dificuldade, as peças íntimas de Hermione. Naquele momento, sentiu vontade de rir do constrangimento dele. Ele a levou de volta para o quarto e a secou. Vestiu-a e após sentá-la na cama, começou a pentear seus cabelos. Com um largo sorriso, ele a abraçou por trás, repousando o queixo sobre o ombro dela.

- Eu senti tanto sua falta, Mione. – ele sussurrou – Senti falta de sua companhia, de sua risada, de sua voz... Senti falta de suas broncas. Aos poucos, eu sinto que vou recuperar tudo isso, minha amiga.

Ela fechou os olhos, aproveitando aquele momento de tranqüilidade. Pela primeira vez em anos, ela sentiu como se tivesse voltado para casa. Não o lugar em si, já que não era aquele seu antigo apartamento, mas sim a presença dele. Estar ao lado de Harry era o suficiente para traze-lhe a paz que só sentia quando estava no conforto de casa. Então, ela agradeceu por estar de volta.

**************

- Mione... Eu gostaria que conhecesse uma pessoa muito especial para mim. – Harry disse, com um enorme sorriso – Está é Katherine, minha noiva. – Hermione não se moveu. Podia ver a mulher a sua frente, mas era impossível reagir. A outra olhou para Harry, sem saber bem o que fazer – Fale com ela, Kathe.

- Ah sim. Olá, Hermione. É um prazer conhecê-la. Pode ser a primeira vez que nos vemos, mas de tanto que ouvi falar de você, é como se a conhecesse! – ela falou. Parecia uma boa pessoa. Hermione tentou ignorar a tristeza, pensando apenas que ela poderia ser mesmo uma boa esposa para o amigo.

- Verdade. Kathe deve ter ficado cansada de nossas histórias, principalmente dos tempos de Hogwarts! – Harry riu enquanto sentava ao lado de Hermione. Katherine sentou ao lado dele.

- Ela está com uma aparência ótima, Harry. E cheirosa... É o seu perfume? – naquele momento um arrepio percorreu as costas de Hermione. Reconhecia aquele tom de voz. Era o mesmo que outras namoradas de Harry usavam quando tentavam esconder o ciúme.

- Sim. Depois, comprarei o perfume que ela costumava usar, por enquanto, ela usa o meu. – ele comentou, ao mesmo tempo em que servia Hermione. Depois, ensinou a morena o que deveria fazer - Muito bem, Mione. Eu sabia que conseguiria! – ele disse, sorridente.

- É triste ver uma mulher tão jovem assim. – Katherine comentou.

- É temporário. E eu não me importo em ajudá-la. – ela ergueu a sobrancelha.

- Harry... Como ela tomou banho? – o homem corou de leve. Hermione percebeu na hora que Katherine estava ficando vermelha, porém, de raiva. Apesar disso, parecia tentar se controlar.

- Eu a ajudei.

- Como? Harry, isso é um absurdo!

- Eu não posso contratar alguém agora, não é seguro, por enquanto.

- Não é agradável saber que meu noivo está banhando uma mulher atraente. – Hermione concordaria com ela, se não tivesse certeza de que Harry jamais sentiria desejo por ela. Não sou uma ameaça, Katherine. Fique tranqüila.

- Katherine, pelo amor de Merlim! A Mione está doente, você acha por acaso que eu me aproveitaria dela?

- Eu não acho nada, eu apenas não gostei dessa situação. É um pouco demais, Harry.

- Querida, a Mione é apenas uma amiga. Eu sei que é inevitável, mas não precisa ter ciúmes. – Katherine parecia estar fazendo um esforço sobre-humano para se controlar.

- Está bem. Mas à medida que ela for ficando melhor, isso vai ter que acabar.

- Claro. – ele sorriu e se virou para Hermione quando aos poucos ia esvaziando o prato – Está gostando, Mione?

- Não acha bobagem ficar falando com ela, se ela não vai responder? – o olhar dela mudou. O carinho que Hermione pensou ter visto pareceu desaparecer. Era normal as namoradas de Harry não gostarem dela, embora, Hermione não achasse que dessa vez fosse ser tão rápido.

- Não. Amélia disse que é uma boa coisa a se fazer. E eu me sinto mais feliz conversando com ela.

- Quem é Amélia?

- A enfermeira trouxa que cuidava da Mione.

- Ah. Você quem sabe. Eu acho meio patético. – Hermione largou a colher abruptamente, que acabou caindo no chão. Poderia falar mal dela, mas chamar Harry de patético era algo inaceitável. Se suas expressões mudassem, certamente estaria fulminando-a com o olhar. Katherine franziu o cenho, observou a face da outra, mas continuava inexpressiva; provavelmente imaginou que fora um acidente.

- Não se preocupe, Mione, eu vou pegar uma nova colher para você! – Harry se apressou em recolher a colher caída e o pouco de comida que ficou no chão. Depois, deu uma nova colher à amiga – Vamos mudar de assunto, Katherine? – ele disse, ligeiramente mal-humorado.

Ó, Harry... Será que ela é realmente a mulher certa para você?

*************************

- Não se esqueça de contar que você ficou louca e começou a namorar o estúpido do Malfoy! – Harry alfinetou. Hermione ainda parecia chocada demais com essa informação para ouvir qualquer coisa.

- Pode deixar que eu também não esqueço de falar tudo da sua querida Kathe.

- Não vá envenenar a Mione contra minha noiva! – num gesto infantil, Gina deu língua para o moreno – Até logo, Mione. Não acredite em tudo que ela disser. – ele sussurrou perto do ouvido dela.

- Tchau, pessoal. – Rony também se despediu, antes de deixarem a casa.

- Agora poderemos conversar! – Gina disse animada, sentando ao lado de Hermione.

- Por onde vamos começar? – Luna perguntou.

- Talvez seria bom contar um pouco do que aconteceu desde a época que ela sumiu. – Molly sugeriu e finalmente Hermione esqueceu o fato de Draco Malfoy estar namorando Gina.

- Certo. Então, eu começo. – a ruiva segurou a mão de Hermione. – Foi realmente um choque para nós quando soubemos a notícia da sua morte. Ninguém nunca esperava algo assim, e foi muito duro para todos.

- Contudo, com certeza, quem mais sofreu foi o Harry. – Luna continuou – Ele nunca aceitou o que aconteceu e sempre investigou quem estava por trás de tudo, mesmo quando o caso foi encerrado.

- Verdade. Lembro que Arthur falava que ele estava sempre com duas missões: uma do Ministério e a sua. Harry ficou muito tempo só pensando em trabalho. Estávamos preocupados, temendo que ele acabasse doente.

Ouvir aquelas coisas deixaram Hermione triste. Causara tantos problemas, tantas tristezas. Sentiu-se mal, imaginando tudo que Harry deveria ter passado. Eu sinto muito. Algumas lágrimas escaparam de seus olhos, assustando as outras.

- Mione? Ah não, por favor, não chora. – Gina pediu, enquanto apertava de leve a mão da amiga – Já passou. Foram anos difíceis, mas superamos. E hoje temos você de volta.

- É Mione, não fica assim. – Luna trocou um olhar preocupado com Molly – Você não quer saber como o Harry conheceu a Kathe?

- Luna! Não vejo como isso pode ser um assunto agradável. Aquela aproveitadora...

- Filha! Kathe é uma bruxa maravilhosa. Eles se conheceram no Ministério. Parece que Kathe foi resolver umas coisas e acabou se batendo com Harry. – Molly riu – Ela estava cheia de papéis nas mãos, derrubou todos... – Hermione ouviu prestando atenção. Realmente não era um assunto muito bom, mas queria saber os detalhes.

- Levaram um tempão para juntar todos e nisso, eles conversaram um pouco. – a loira completou.

- E como esperta que é, ela aproveitou e chamou o Harry para sair. Eu soube que ele recusou, mas no dia seguinte ela apareceu por lá de novo e o convidou novamente.

- Você usa um tom tão maldoso, Gina. Parece que a moça forçou o Harry a sair com ela.

- E não foi? Harry não queria, mas juntando a insistência de Kathe, com a força que os outros deram, eles acabaram namorando. E hoje estão noivos! Francamente!

- Foi bom para o Harry. Ela conseguiu tirá-lo daquela tristeza. Por isso todos nós apoiamos. Tenho certeza de que a Mione também concorda, não é, Mione? – Luna perguntou, apesar de não obter resposta.

- Eu concordo que Harry precisava se animar, mas não com ela. Katherine se faz de boazinha, mas se vocês perceberem ela gosta mesmo é do fato de estar noiva de Harry Potter!

Hermione perguntou-se se Gina estaria lendo os pensamentos dela. É verdade que tinha gostado de Kathe a principio, mas aos poucos percebeu que a mulher não era uma boa pessoa.

- Sinceramente sempre quis que a Mione ficasse com o Harry, mas aconteceram aquelas coisas... – a ruiva disse, sinceramente, fazendo Hermione corar – Para mim, não há mulher mais ideal para o Harry que você, Mione. E agora que está de volta, tenho uma chance de ver meus dois grandes amigos felizes e juntos. - Hermione queria acreditar nisso, mas... Não, Gina... Harry e eu não fomos feitos um para o outro.

- Eu também adoraria que a Mione e o Harry casassem, mas eles são apenas amigos, Gina. – Molly falou – Eles só se vêem como irmãos.

- Irmãos? – Gina ergueu a sobrancelha – Eu não acho. Para mim, o Harry que é o maior bobão!

- Que tal falarmos agora de outra pessoa... Tipo, o Malfoy? – Luna sugeriu, fazendo Molly rir e Gina corar. Hermione surpreendeu-se mais uma vez, era realmente difícil acreditar nisso.

- Certo, vamos falar do Draco... Ele realmente mudou, Mione, eu garanto...

********************

- Eu sinto muito, Mione... Não conseguimos encontrar a fórmula. Eu pensei que poderia te ajudar, mas eu simplesmente não sei o que fazer. – ele não a olhava nos olhos, apenas ia contando o que acontecera durante o dia – E mesmo sabendo o endereço de Charles, eu realmente duvido que encontremos alguma coisa por lá.

Hermione continuava em silêncio, apenas acariciando de leve a cabeça dele. Harry não parou de chorar, nem de falar. Ela sabia o quanto ele estava triste, o quanto ele queria ajudá-la. Entretanto, ela não o culpava. Queria que ele não ficasse daquela forma.

- Me perdoa...

- T-tudo... – ela começou, ele finalmente parou de chorar e falar e apenas a olhou – Bem. – e deu um pequeno sorriso.

- Não! Não está tudo bem! – Harry ficou de pé subitamente – Eu não vou permitir que você fique dessa forma! Eu vou fazer até o impossível para te ajudar. Eu estava apenas triste, mas eu não pretendo desistir! Nem eu, nem Rony ou Rose... Todos nós vamos continuar procurando!

Ela não falou mais nada, tampouco sua expressão se modificou. Harry começou a andar de um lado para o outro, tentando pensar em alguma coisa. Ela o olhava com carinho, agradecida por todo o esforço que ele fazia. Queria mais que ninguém sair daquela situação, mas sentia-se feliz só por estar perto dele e de seus amigos.

- Eu vou pensar em alguma! Eu sei que era sempre você quem pensava nas coisas, mas dessa vez, eu vou ter uma idéia! – ele disse, olhando para Hermione. Ficou observando por algum tempo, até que algo lhe veio à mente – Você... É isso, Mione! Você! A solução sempre esteve diante de mim...

Ele começou a rir sozinho, ao mesmo tempo em que dizia “Como não pensei nisso antes”. Hermione não entendeu o que acontecera, tampouco imaginava o que Harry estaria pensando. Percebeu quando ele se aproximou, ajoelhando-se novamente, encarando-a. Pelo sorriso dele, era algo muito bom e isso acabou deixando-a feliz também.

- Eu podia ter tido acesso à fórmula há muito tempo! – ele riu mais uma vez – Ainda não consigo acreditar que sofri tanto essas últimas horas, sem saber o que fazer para te ajudar, Mione.

Hermione deu um sorriso bem discreto, mas ele percebeu. Ele segurava sua mão e notou quando a morena fez um singelo movimento como se quisesse apertá-la. Harry a olhou bem nos olhos, e ela podia ver o sorriso estampando na face dele. Percebeu que ele fechou os olhos e se aproximou. Já esperava o beijo dele, na testa ou na bochecha, como sempre, porém, o que aconteceu a surpreendeu completamente. Os lábios de Harry encostaram nos seus levemente.

Por um instante, ela arregalou os olhos, ainda surpresa demais para acreditar. Foi um breve contato, um beijo inocente. Porém, fizera o coração da morena disparar na mesma hora. Ele me beijou! Aquele foi, sem dúvida, o dia mais feliz dos últimos tempos. O calor ainda permanecia em seus lábios e ela desejou que ele a beijasse mais uma vez.

- E-eu sinto muito, Mione. Não sei por que fiz isso, eu... – ouvir aquilo foi como um banho de água fria. Viu que ele passou as mãos pelos cabelos, nervosamente – Eu não pretendia me aproveitar da situação ou algo assim. Aconteceu sem que eu percebesse e... – deveria ter imaginado. Harry jamais a beijaria porque realmente a queria – Foi porque fiquei feliz com a idéia que tive para ajudá-la. Eu prometo que não acontecerá novamente. Você me perdoa?

Ela poderia ter tido “sim” naquele momento, mas ela manteve o silêncio. Toda a felicidade que sentira durara poucos segundos. Realmente, jamais deixaria a posição de melhor amiga. Não conseguiu fingir um sorriso, mesmo notando o olhar preocupado dele. Provavelmente deveria estar pensando que estava zangada. Harry, você é um idiota!

- Olha... Vamos esquecer isso, certo. Ou então, quando você estiver boa, você pode me bater por eu ter te beijado sem sua permissão. – ele tentou um sorriso, mas Hermione não reagiu. Quando percebeu que ele iria se martirizar por várias horas, ela resolveu esquecer o que acontecera. Afinal, há muito tempo já havia tomado aquela decisão não era mesmo? O importante era estar ao lado dele, não importava se como amiga ou amante.

Então, ela acabou alisando de leve a mão dele, como se dissesse sim. Harry riu dela, alegando que ela nunca conseguiria ficar muito tempo zangada com ele, e Hermione quis rir de si mesma naquele momento.

*****************

- Conseguiu descobrir um antídoto? – ele perguntou, entusiasmado. O coração de Hermione disparou. Estava igualmente ansiosa.

- Descobrir um antídoto? – ela pareceu ofendida – Você acha que eu viria até aqui se tivesse apenas descoberto o antídoto?

- Não? – o moreno olhou para Lupin sem entender. Rose revirou os olhos.

- Eu fiz um antídoto, Harry! É diferente! – ela pegou a bolsa e tirou algo de dentro. Hermione pensou que ouvira errado, mas ao ver o vidrinho nas mãos de Rose, teve certeza de que ela estava dizendo a verdade.

- V-você es-está querendo dizer que...

- Eu estou dizendo que posso ter a cura para Hermione. Não posso garantir que irá funcionar, porque não fiz teste com humanos. – ela disse – Mas é a nossa única chance.

Algumas lágrimas escaparam dos olhos dela. A morena se surpreendeu quando Harry a abraçou, e a carregou, rodando-a na sala. Sentia vontade de rir, mas não pôde. Tudo que fez foi fechar os olhos, enquanto rezava mentalmente para que tudo desse certo. Rose não dera certeza, mas queria acreditar que aquele pesadelo teria fim. Percebeu que o amigo tremia quando a soltou. Ouviu, então, a voz dele, pedindo.

- Por favor... O que está esperando? – era a mesma pergunta que ela desejava fazer. Rose apenas sorriu, antes de se aproximar deles.

- Você precisa segurá-la forte, Harry. – ele acenou com a cabeça. Rose abriu a boca de Hermione e depositou todo o conteúdo transparente do vidrinho que tinha nas mãos.

Ela engoliu e em seguida suas pernas fraquejaram. Se Harry não tivesse segurado-a, certamente teria caído. Hermione fechou os olhos, sua respirando ficando irregular. Uma dor intensa tomou todo seu crânio, como se algo estivesse rasgando seu cérebro. A dor ficou ainda pior, insuportável e, sem nem perceber, debatia-se nos braços de Harry. Gemidos agonizantes escaparam de sua garganta. Hermione só desejou que aquela dor parasse.

- Calma. Apenas, segure-a firme. – Rose orientou.

Foi por apenas um minuto, mas pareceu toda uma eternidade para eles. Hermione continuou se contorcendo e emitindo gemidos cada vez mais altos. Seus olhos ainda estavam fechados quando ela finalmente começou a se acalmar. Aos poucos, a dor começou a diminuir, tornando-se aos poucos mais suportável. Sua respiração foi se regularizando e não gemia mais. Sentia os braços de Harry ainda segurando-a, seu coração ainda disparado. Temia abrir os olhos ou tentar falar qualquer coisa. Teve medo de frustrar as expectativas dela e dos outros.

Contudo, as batidas aceleradas do coração de Harry deram-lhe coragem. Pôde sentir a mesma expectativa dele, através do contato com o corpo do moreno. Hermione decidiu que deveria tentar. Abriu os olhos, mas pela primeira vez em quatro anos, ela não apenas o olhou. Ela o encarou, franzindo levemente as sobrancelhas. Aquilo a estimulou a fazer algo mais. Hermione hesitou, mas por apenas uma fração de segundo, então, finalmente um sorriso se formou em seus lábios.

N/A: Eu sei que vocês queriam a continuação, mas eu já havia prometido o cap bônus, então aqui está! =D O tamanho compensa a demora dessa vez, né?e eehuieheuiheuiheiu!!... Não costumo fazer cps grande, mas esse acabou saindo assim porque tinha várias cenas que eu queria retratar. Espero que curtam! Vou tentar trazer a continuação o mais breve possível! Agradecimento a todos que leram, comentaram e votaram!! Beijão!! Pink_Potter : )

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