Criatura



Na rua dos Alfeneiros o céu de fim de tarde começava a se tingir de púrpura.Os primeiros grilos saudavam a chegada da noite enquanto as pessoas se apressavam rumo aos lares depois de mais um dia de trabalho. Alguns poucos alunos do turno vespertino também andavam a passos rápidos, sem conversarem, toda a atenção voltada para o caminho até suas casas onde mães zelosas preparavam o jantar.
No número quatro, o aroma da comida sendo feita escapava pela janela na forma de pequenos fios de fumaça.Petúnia Dursley mexia o conteúdo de uma panela reluzente ao mesmo tempo em que examinava cada canto da cozinha com olhos de lince, já pensando na limpeza que faria mais tarde. Seu filho, Duda, gargalhava de boca cheia, a mão rechonchuda já pegando outro mini-sanduíche recheado com patê de presunto, enquanto a tv mostrava um homem gritando ao ser perseguido por alguém fantasiado de gorila. Válter Dursley lia uma revista sobre automóveis(Kings Road Especial:Carros de Luxo) em uma cadeira próxima,os olhinhos de porco cintilando cobiçosamente para a imagem de uma BMW e só voltou ao mundo real quando pratos e talheres foram colocados à mesa. Notando que faltava alguém, virou-se para a esposa.
—O moleque não vai descer pra jantar?
—Não o vejo desde o almoço — respondeu Petúnia, áspera — Mas ele sabe muito bem a hora das refeições.— completou desinteressadamente, procurando a melhor posição para a travessa onde um frango raquítico estava aconchegado entre grandes pedaços de cenoura e abóbora cozidas.
—Por mim, podia ficar com fome.—Válter resmungou mal humorado.
O objeto da conversa dos Dursley estava num quarto escada acima. Meias velhas, camisas desbotadas e uma ou duas cuecas estavam espalhadas pelo chão. Ao lado da cama, um malão abarrotado acabava de acomodar mais um livro que praticamente voara do guarda-roupa escancarado. Na mesinha de cabeceira, uma magnífica coruja branca piou baixinho de seu poleiro no alto da gaiola. Edwiges fixava os grandes olhos cor de âmbar em cada objeto que era arremessado do armário, como se esperasse ver algum petisco (talvez um rato) sair andando do monte de camisetas e jeans cheirando a naftalina.
Pés descalços iam e vinham apressadamente, mãos catavam todas as roupas que conseguia pelo caminho atirando-as de qualquer jeito pelo vão do guarda-roupa. Em seguida uma das portas se fechou com um baque surdo e assim que o garoto se ergueu, a imagem de Harry Potter apareceu no espelho embutido. Os cabelos rebeldes espetados,uma camisa larga demais para o seu tamanho e o jeans surrado que vestia, davam-lhe um visual delinqüente que fazia as mães da vizinhança grunhirem de desgosto e os pais fecharem a cara sempre que passava na rua. Mas ele nem ligava, já estava vacinado contra os comentários ácidos dos vizinhos mexeriqueiros. Pegou um par de tênis embaixo da cama e calçou-os, indo em seguida até a escrivaninha.
—Entra aí. —Firmou Edwiges na mão e abriu a gaiola, colocando-a no poleiro. —E não me olhe assim, mais tarde eu volto pra te soltar.
Passou a mão na carteira velha que usava para guardar o pouco dinheiro trouxa que tinha (ganhara fazendo pequenos trabalhos para alguns vizinhos, como aparar grama ou limpar garagens), fechou a porta e desceu as escadas o mais silenciosamente que pôde. Escorou-se na parede para espiar a cozinha, vendo apenas os contornos maciços de Duda e a volumosa pança de Tio Válter, ambos debatendo uma notícia ridícula a respeito da validade de meias soquetes. Tia Petúnia aparentemente estava remexendo as louças, fazendo um verdadeiro estardalhaço em meio aos comentários estúpidos do marido e do filho.
—Parece que o moleque não vai mesmo descer. —Ouviu seu tio dizendo—Se ele e aquela gente com quem anda, acha que vamos pagar alguma indenização se morrer por desnutrição estão muito enganados. Bando de exploradores, isso é o que são!!!—vociferou, dando um murro na mesa.
—Mas ele não tem um padrinho?Porque não vai morar com el... —Começou Duda, mas foi interrompido pelos pais.
—Shhh!!!!—Alertaram Válter e Petúnia ao mesmo tempo.
Harry sorriu e se esticou um pouquinho para ver a cara deles. Tio Válter olhava pela janela como se esperasse ver alguém de ouvido colado na vidraça escutando tudo que diziam. Duda tinha uma expressão contrariada e Tia Petúnia estava mais pálida que cera.
Desde o ano passado, Harry usava o fato do padrinho ser um suposto criminoso de alta periculosidade para amedrontar os Dursley sempre que queria se ver livre das recriminações doentias que davam só para atormentá-lo.
—Esqueceu que ele é bandido Dudoca?—sussurrou Tio Válter em direção ao filho.
—E está foragido!!— tia Petúnia murmurou horrorizada. —Como se não bastasse a minha irmã ser uma aberração e ter se casado com aquele rapaz, ainda arranjou um padrinho criminoso para o próprio filho!
—Não se podia esperar outra coisa daquela gente não é?—retorquiu tio Válter—Só eles mesmos para aprovar um absurdo desses.—deu outra olhada para a janela.—Precisamos ter cuidado redobrado para que não descubram isso. Seria um escândalo se soubessem mais a respeito da veia marginal do Potter.
Veia marginal era uma coisa que Duda tinha de sobra, pensou Harry irritado, só os Dursley se recusavam a ver quem era o filho de verdade.
Tia Petúnia de repente ficou ainda mais lívida e pousou seu olhar assustado no marido, que comia colheradas seguidas de verduras com um pedaço do frango já destroçado.
—Válter—a voz dela estava ligeiramente trêmula—O menino não disse que estava escrevendo freqüentemente para...para...o padrinho...?E que nessas cartas...ele deveria dizer se está sendo...bem tratado?
Tio Válter engasgou e arregalou seus olhinhos miúdos. Agarrou um copo de água que havia enchido até a borda momentos antes e bebeu tudo num gole só. Harry teve que se segurar para não rir alto, provavelmente ele havia se esquecido desse pequeno detalhe.
—Inferno...—murmurou visivelmente aborrecido, jogando o guardanapo bruscamente na mesa ao se levantar. Seu rosto já estava assumindo um tom perigosamente arroxeado quando Harry percebeu o que ele ia fazer e correu rapidamente o caminho de volta ao próprio quarto.
Voou porta adentro espantando Edwiges, que bateu as asas de susto e piou indignada, atirou-se na cama e achatou o rosto no travesseiro tentando controlar a respiração arquejante com o esforço de sumir das vistas do tio. Podia ouvir cada passo dele mais próximo, até que parou. Aparentemente, Válter ainda debatia consigo mesmo se devia ou não chamá-lo.Com certeza estava pensando se seria realmente necessário vir fazer o papel de “menino de recados”, coisa que devia estar detestando—o que deu uma pequena satisfação ao garoto.
—Sua tia está chamando para jantar, moleque.—Disse, áspero.—Francamente, além de acolhermos você aqui, termos de tolerar as suas...—Sua voz tornou-se um murmúrio raivoso—...suas...anormalidades...ainda quer abusar da nossa hospitalidade e ser chamado a cada refeição?!
Harry quase conseguia ver através da porta a caraça roxa de raiva do tio, prestes a explodir. Ele estava odiando ter que investigar se alguma carta endereçada a Sirius já fora despachada com supostas reclamações do tratamento que recebia. Ficou se perguntando quando fora chamado para comer naquela casa.A perspectiva de ter um assassino condenado batendo à porta a qualquer momento havia amaciado mais a má vontade dos Dursley, embora ainda continuassem a denegri-lo de todas as formas possíveis—com menos freqüência que antes—mas continuavam.
—Não estou com fome.—respondeu calmamente.
—Como assim não está com fome?!Espero que isso não seja mais uma de suas armações moleque. Se estiver pensando em nos pintar como monstros para aquele...para o seu padrin...!
—Não escrevo a ele pra contar besteiras—Cortou Harry—já disse que não estou com fome, é só isso!—Disse fingindo irritação. Então esmagou a cara no travesseiro, finalmente se rendendo às gargalhadas.
A cara de pau de seu tio era algo impressionante.Mentira com o papo de que tia Petúnia o estava chamando para o jantar e lhe dissera aquelas coisas só para disfarçar o medo de que ele tivesse escrito a Sírius contando que o estavam deixando faminto, mas o pior é que ele mesmo havia se denunciado.
Válter não estava nem um pouco disposto a iniciar uma discussão na hora do jantar, e como estava ansioso para voltar ao seu prato e terminar de devorar o frango mirrado que a mulher preparara, deu por encerrado o assunto.
—Você é quem sabe.Só não venha reclamar depois,se estiver caindo pelos cantos porque não come.Era só o que me faltava.—Disse aborrecido, enquanto se afastava de volta para a cozinha resmungando algo sobre contas de hospital e como exploravam gente trabalhadora como eles, mandando pivetes lhes sugar dinheiro até a alma.
Harry nem ligou para o azedume do tio, todos os seus pensamentos estavam voltados para o ar livre e a boa comida da lanchonete que descobrira numa praça a algumas ruas dali. Esperou mais alguns segundos dando tempo a Válter para descer as escadas.
Saiu do quarto e andou cautelosamente até os degraus. Seu tio acabava de entrar na cozinha. Pulou o resto dos degraus na ponta dos pés, ouvindo o barulho de cadeira sendo arrastada seguida da voz rascante de tio Válter ralhando com Duda. Esgueirou-se furtivamente entre os móveis da sala com o firme propósito de sair dali antes que fosse impedido por algum novo contratempo. Válter Dursley ainda brigava com seu filho por ter-lhe raspado o prato gulosamente mesmo após comer a própria janta quando Harry fechou a porta da frente sem fazer o menor ruído.


Principiou a andar na direção oposta à Rua das Magnólias, respirando aliviado apenas quando dobrou a esquina para a Rua das Laranjeiras. Incontáveis vezes fora obrigado a engolir a comida rançosa da casa dos Dursley, que ultimamente ficara ainda mais insossa que de costume — ano passado se livrara temporariamente disso ao receber bolos de aniversário enormes e uma série de petiscos — devido a uma dieta de Duda na qual ele também fora incluído sem chance de opinar a respeito. Foi realmente uma sorte achar a Bromélia Lanches e Refeições logo no começo das férias de verão.
Estava no meio do caminho quando ouviu risadas não muito distantes vindas de uma travessa mais à frente, que dava para a Rua dos Hibiscos. Mesmo estando do lado oposto, discerniu seis pessoas pinchando as paredes de uma casa.Havia um que parecia segurar a sacola com os frascos de spray ao mesmo tempo em que se ocupava das partes mais baixas,outros dois equilibravam-se nos ombros de outros colegas para assim conseguirem cobrir a maior área possível. Harry não via a menor graça naqueles garranchos que ninguém conseguia ler (e que tinha quase certeza que às vezes eles mesmos não compreendiam), pra ele não passavam de borrões toscos de gente que não aprendeu a escrever direito.
Ignorando a cena, dobrou mais uma esquina, reconhecendo quase que imediatamente a estranha Rua das Peônias. Muita gente a evitava naquele horário por acharem-na muito suspeita, diziam que toda sorte de marginais andava por ali. Como era de se esperar, estava deserta, o silêncio sendo cortado apenas pelo assobio de uma brisa fresca. As casas estavam, em sua maioria, fechadas e às escuras.As que ainda conservavam as lâmpadas da frente acesas ou eram iluminadas pelos postes da rua, tinham o aspecto abandonando, como se ninguém entrasse ali há muito tempo.Por toda parte o gramado crescia à vontade, num matagal alto o suficiente para cobrir mais da metade de muros de tábua (que davam acesso a quintais provavelmente ainda mais negligenciados) e becos sombrios onde gatos reviravam as lixeiras a procura de restos de comida.
Aquele lugar era um dos que menos lhe agradavam em Little Whinging. Sempre que passava por lá tinha a impressão de estar sendo observado.Algumas vezes achara ter visto vultos se esgueirando entre as casas, mas quando ia olhar de perto não havia nada.
Refletiu inúmeras vezes aborrecido, que aquelas reações ainda eram reflexo do que acontecera no Tribruxo.Toda noite sonhava com a morte de Cedrico Diggory e para seu desconforto, tinha quase certeza de que gritara algumas vezes correndo o risco de acordar os Dursley e ter que amargar perguntas a respeito da sua sanidade mental. Fazia duas semanas que voltara para o mundo trouxa. E a exatas duas semanas não conseguia dormir direito por causa dos pesadelos,desde a noite em que fora para sua cama em Hogwarts,assustado e furioso consigo mesmo. Depois daquilo os sonhos não o deixavam em paz,o rosto de Cedrico aparecia todas as noites na sua frente,caído ao seu lado na grama do cemitério e ele sempre acordava banhado de suor, tendo calafrios,além do incômodo latejar na cicatriz. Os olhos em brasa de Voldemort, a sua aparência ofídica e a voz gelada estavam gravados na memória de Harry.
Ao chegar no final da rua das Peônias, virou para a esquerda e continuou andando sem prestar atenção no caminho, agora bem iluminado.Pessoas conversavam animadamente sem lhe dispensar um único olhar e crianças corriam por todos os lados,gritando risonhas.
Claro que ainda não havia recorrido a Rony e Hermione para saber das últimas a respeito da situação em que mergulhara o mundo bruxo, era cedo demais para incomodar os amigos a respeito.Pareceria um pouco cara de pau se começasse a exigir informações no início das férias,mas não poderia ignorar a falta de comunicação por muito tempo. Não cogitava entrar em contato com Sirius, afinal nem sabia por onde seu padrinho andava, — e ele já tinha seus próprios problemas (como se manter longe das vistas do Ministério) para ainda ter que lidar com os de Harry—Dumbledore também nem sonhando, não tinha tanta intimidade com ele para essas coisas e mesmo que tivesse, achava que jamais seria capaz de conversar com o diretor sem que existisse aquela distância respeitosa de professor e aluno. Resolveu mandar uma carta a Rony e Hermione na semana seguinte se notasse que a situação não se alteraria, tranqüilidade era um luxo a que não podia se dar.
Quando deu por si, já estava saindo na Praça Broule.Os postes iluminavam a área bem arborizada no meio da qual o letreiro em néon da Bromélia Lanches e Refeições cintilava com sua luz azul-elétrico acima do que parecia ser um enorme trailer sem rodas. Foi direto ao balcão e se sentou em uma das cadeiras.Preferia uma mesa, mas como estava praticamente lotado não tinha escolha.Gostara da lanchonete, não só por causa da comida ( que já comprovou ser realmente boa ( mas também por ninguém se importar com sua aparência largada.Todo mundo ali parecia muito mais interessado em fofocar uns com os outros enquanto esperavam a refeição.Risadas altas eram ouvidas com tanta freqüência que isso se tornou uma espécie de música ambiente no meio do burburinho sempre fervilhante dos fregueses. Harry analisou as opções do cardápio afixado na parede e fez o pedido ao atendente, um sujeito magrelo e desengonçado de nome esquisito chamado Onestaldo Thompson—ou Ones, como gostava de ser chamado—bastante amigável com ele desde a primeira vez que jantara na lanchonete. Lembrou-se de quando lhe contara que morava na casa dos Dursley e este torcera o nariz.Então lhe relatara a grande inimizade entre seu pai e Tio Válter que começou logo após uma briga dos dois, por conta de um calote que o patriarca dos Dursley queria dar na loja do sr.Thompson.Enquanto o atendente lhe contara os detalhes, Harry rira interiormente pensando em como Tio Válter decaíra nos últimos tempos. —Parece que você não come há dias meu camarada.—A voz de Ones o trouxe de volta das lembranças. —Olha quem tá falando.Você é mais magro que eu!—Retorquiu Harry com um leve sorriso. —Será?—Levantou o braço, fechou o punho e bateu no bíceps minguado como se isso pudesse inchá-lo para parecer maior. —Ai, ai Ones Thompson, você não vai virar um marinheiro parrudo só mostrando seu muque para cada freguês que aparece.—Falou uma garçonete baixinha equilibrando uma bandeja em direção a eles. Harry caiu na risada enquanto Brandy, a garçonete, ignorava os protestos de Ones.Passou pela portinhola e foi-se, balançando os longos cabelos loiros, depositando alguns pratos e copos numa mesa adiante. Ones ainda reclamava, mas afastou-se para atender outro cliente quando o pedido de Harry chegou. Atacou seu rosbife com fritas de maneira voraz.Aquilo era um manjar dos deuses depois de ter almoçado a imitação de sopa que tia Petúnia fizera mais cedo.Parece que haviam descoberto novamente os contrabandos de Duda no quarto, uma série de doces e salgados empacotados e escondidos nos cantos mais improváveis, o que rendera lágrimas e berros até seu primo se conformar com a realidade de seu plano fracassado.Por isso todos foram forçados a voltar à maldita dieta de Duda, para desespero de Harry e dos demais moradores do número quatro.Mas se os Dursley acharam que ele ia se contentar com saladas cruas e pratos com o alimento tão picado que mais parecia ração pra porcos estavam muito enganados.Pensou satisfeito na comida escassa e sem sabor que os Dursley comiam naquele momento enquanto ele se acabava em um pratão daqueles. Minutos mais tarde, depois de pagar o jantar e a sobremesa (um pedaço de torta de morango), saiu andando tranqüilamente pela praça Broule notando sem muito interesse, vários casais sentados em bancos próximos à Lanchonete.Seu relógio de pulso marcava sete e meia, ainda era muito cedo. Esquadrinhou a rua em forma de círculo e viu outras duas vias na direção inversa à que tinha vindo.Achou que seria bom andar um pouco para espairecer as idéias ou somente para cansa-lo de forma a dormir como uma pedra quando deitasse na cama. Decidiu-se pela que dava pros fundos do Bromélia, se encaminhando lentamente com as mãos nos bolsos. Quando chegou à esquina deparou-se com uma via semelhante à Rua dos Alfeneiros, exceto pelo fato de haver gente nas portas das casas conversando ou passeando em grupos nas calçadas limpas. As casas eram amplas, de cores suaves e possuíam números gravados em latão.A maioria das caixas de correio eram azuis e algumas tinham balanços de madeira nas varandas. Harry andou por bastante tempo, num ritmo despreocupado, anotando mentalmente detalhes que não lhe interessavam com o simples intuito de se distrair.Até uma ruazinha sem graça daquelas servia. Ia passando em frente a uma casa amarela onde um bando de mulheres fofocava e resolveu parar para descansar.Sentou-se num banco, que, para seu desgosto, ficava a poucos metros do grupinho e abriu os braços apoiando-os nas costas do assento.Tentou pensar em como as coisas iriam ser dali pra frente,mas era inútil.Não tinha a menor idéia de que direção tomar, achou melhor esquecer,pelo menos por hora.Fechou os olhos e passou os dedos pelos cabelos, inclinando a cabeça para trás. Fragmentos de conversas chegavam-lhe aos ouvidos a todo momento, mas percebia muito vagamente o teor delas até que ouviu algo que o interessou. Abriu os olhos nem um pouco surpreso ao localizar a dona da voz a uma pequena distância do banco em que se sentara. —Você soube o que aconteceu com o Cornélio Hobbes da Alameda das Prímulas?—Uma mulher gorda indagou a outra mais velha. As outras balançaram a cabeça negando.Harry viu a que falara há pouco—uma dona de cabelos curtos, na altura do queixo, pele rosada e rosto jovem, rechonchudo pelo excesso de peso—inspirar exultante, como se houvesse recebido algum grande elogio.Conhecia aquela expressão tão bem, afinal sua tia era a maior fuxiqueira do bairro e sempre se achava a tal por ser—nas palavras dela—bem informada. A mulher olhou para os lados teatralmente verificando se havia alguém escutando, então se virou novamente para as amigas. —Sumiu!Dizem que foi seqüestrado por mafiosos a quem devia dinheiro e que agora estão exigindo um pagamento absurdo de resgate para a família!Quando vieram buscá-lo, estavam todos usando máscaras para não serem reconhecidos.—respondeu em tom de confidência. —Que?—falou uma das moças um tanto alto provocando reclamações nas demais que a advertiram para falar mais baixo.—Mas não foi isso que eu ouvi—disse, agora quase num murmúrio após a reprimenda.Harry teve que se sentar num banco ainda mais próximo e fingir que estava amarrando os cadarços para ouvir o resto do que dizia;podia não ter nada a ver porém,nos tempos em que estavam não podia ignorar comentários sobre gente sendo seqüestrada por homens mascarados.Ela franziu a testa e passou as longas unhas pelo cabelo preso num rabo de cavalo.—Parece que umas pessoas estranhas lá de Clover Leave o pegaram durante a noite.Tem gente que viu ele sendo levado. —De Clover Leave?Mas… então foram marginais?—A que parecia ser a mais nova indagou.O lenço vermelho berrante que usava como tiara para prender os cabelos louro-pastéis contrastavam horrivelmente com a calça azul e a blusa marrom desbotada que ela vestia. —Só pode ter sido.—concluiu a mulher jogando os cabelos às costas novamente—Ninguém decente fica perambulando pelas ruas às quatro da madrugada e fantasiado. As outras soltaram uma exclamação conjunta de surpresa e Harry ficou ainda mais atento ao que seria dito em seguida. —Como sabe? —Ora, já não disse que viram o sr. Hobbes sendo levado?Correm boatos de que os tais raptores estavam vestidos de preto com capuzes e máscaras como um bando de fanáticos de alguma seita religiosa... “Que?!?” Harry sentou-se ereto, o coração batendo loucamente no peito prestes a sair por sua garganta.Então haviam comensais perambulado por Little Whiging... —Não,não!Spencer disse que estavam vestidos de preto,mas usavam máscaras de palhaço e não tinham capuz.—Contrapôs outra,batendo o saltinho de seu tamanco de madeira na calçada.Seus cabelos eram curtos e com as pontas para cima como os de uma boneca,mas seu rosto estava longe de se parecer com algo dessa natureza.O nariz era ridiculamente grande e os olhos fundos,as mãos tinham dedos um tanto longos e finos, e unhas enormes pintadas de vermelho que davam a impressão de garras. —Máscaras de palhaço?—estranhou a gordinha—Eu vi um deles e a máscara que ele usava era de touro. —Não—Retorquiu uma senhora alta,apoiando os dedos no queixo.Tinha um certo ar de severidade ao seu redor,que era ressaltado pelos óculos quadrados e o coque brega à la governanta de casa nobre.Harry inevitavelmente se lembrou da professora Minerva e não pôde deixar de comparar aquela mulher com a mestra de Transfiguração.—O pessoal que estava chegando da festa dos Jones falou que todos tinham mais ou menos um metro e meio de altura e a maioria estava com uma abóbora enorme na cabeça... Então todas começaram a falar ao mesmo tempo para ver quem tinha razão. Harry se levantou com um suspiro de cansaço e alívio.Com certeza aquela discussão daria voltas e mais voltas e não chegaria a lugar nenhum.Ficou imaginando o que teria acontecido de fato com o tal Hobbes,enquanto um bando de comensais anões desfilavam em sua mente,dando pulinhos e risadinhas com suas máscaras de touros,palhaços e abóboras—carregando um homem desacordado rumo ao covil de Voldemort. Era mortificante ter de bisbilhotar conversas de alcoviteiras na esperança de haver alguma notícia aproveitável—coisa quase impossível.Sempre ouvia algo que parecia fazer correlação ao mundo bruxo, mas geralmente resultavam em frustração quando continuava ouvindo as baboseiras dos trouxas. Mas ainda havia algo importante a acontecer na noite em que perambulava pelo bairro logo após se levantar daquele banco próximo ao grupinho de mexeriqueiras. Enquanto andava sem rumo, absorto em pensamentos, Harry foi se afastando por uma rua aparentemente inabitada, rumo à periferia. Sua mente estava longe, em Hogwarts, onde talvez ele encontrasse mais uma surpresa desagradável a sua espera. Todos os anos haviam acontecido alguma coisa e se a morte de Cedrico fosse apenas o aperitivo para algo pior, ele não duvidava nada de que da próxima vez poderia encontrar Voldemort em uma esquina de Hogsmeade, aguardando pacientemente para fazer Patê de Harry enquanto saboreava uma varinha de Alcaçuz. Uma enorme ratazana correu pelo meio fio se enfiando no bueiro malcheiroso da rua, mas Harry não deu a mínima atenção.Estava mais interessado no estranho relato das fofoqueiras. Por mais que fossem boatos, achou muito suspeito que às quatro da manhã houvessem tantas pessoas acordadas e ainda por cima durante um desfile fora de hora de um bando de anões arruaceiros fantasiados como se estivessem numa festa de halloween.Parecia um tanto forçado a idéia de que tudo não passava de uma simples briga de gangues,mas talvez ele simplesmente quisesse ouvir alguma coisa que acusasse o provável envolvimento da comunidade bruxa em doidices de trouxas. Um gato bufou,miando ameaçadoramente alto,assustando Harry.O bicho saltou derrubando a lixeira em que estivera revolvendo restos,desaparecendo no vão estreito entre duas casas. Foi com uma sensação de desagradável surpresa que se deu conta de que estava em outro lugar, uma rua deserta parcamente iluminada por postes a intervalos de dois em dois e casas bastante velhas.Por toda parte Harry só conseguia ver janelas quebradas, rachaduras profundas, portas semi-devoradas por cupins e paredes descascando ou em ruínas. Olhou para trás, mas só viu o breu entrecortado por feixes de luz que piscavam a todo instante, ameaçando apagar a qualquer momento.O aspecto geral não era nada amistoso e o vento ligeiramente mais frio o encorajou a dar meia volta. Deu apenas dois passos quando sentiu o inegável aviso de que algo estava à espreita.Um súbito arrepio subiu-lhe pela espinha até os cabelos da nuca deixando-o imediatamente alerta.Sem poder se controlar,sacou a varinha e virou-se reflexivamente como se esperasse se deparar com seu carrasco ali de pé,tentando pegá-lo desprevenido. Sentiu o deslocamento no ar pouco antes de dar a volta sobre si mesmo,mas não viu nada.Sua respiração ofegante fazia mais barulho do que um escape de carro aos seus ouvidos e ele desejou poder ser mais discreto quando ouviu um som.Uma risada sussurrada vinda de algum ponto no meio das sombras da rua. Harry procurou febrilmente até vislumbrar dois pontos luminosos ali perto. Apavorado,identificou uma criatura agachada na escuridão, ao lado da saída de um beco, fitando-o avidamente. Podia ver os contornos da coisa, mas o que lhe chamou a atenção foram os olhos.Amarelos e brilhantes, como se fossem iluminados de dentro pra fora, e impressionantemente malévolos.Harry tinha certeza de que aquilo encolhido no canto da rua fosse o que fosse, iria estraçalhá-lo assim que pusesse suas mãos—ou garras—nele. Viu a coisa estreitar os olhos e dar um passo em sua direção, emitindo um estranho som de gorgolejo que o enregelava.Todos os pensamentos anteriores fugiram de sua mente, cada nervo do corpo atento aos movimentos da criatura.Tinha vontade de correr, mas não conseguia, seus pés pareciam colados no chão, a voz havia sumido. Naqueles preciosos segundos,que lhe pareceram uma eternidade,uma imagem curiosa foi registrada por sua retina.Mesmo sem ousar deixar de fitar os enormes olhos amarelados,vislumbrou um borrão vermelho alguns metros acima,contrastando com a leve neblina e o céu escuro.Algo que lhe pareceu um balão,flutuava ao sabor do vento quando um clarão o atingiu. Várias telhas caíram do velho prédio em frente onde estavam e a coisa emitiu um rosnado gutural virando-se na direção do barulho.Foi o que bastou para Harry recuperar a mobilidade e começar a se afastar sem alarde para não despertar a atenção do bicho. Sentia as pernas tremerem por dentro das calças,mas estranhamente firmes apesar disso.Havia a entrada de um beco bem próximo,onde uma grande lata de lixo formava sombras nas paredes decréptas. Então Harry notou.Não era só a sombra de uma lata de lixo que ele podia ver na parede. Os contornos de uma pessoa estava se avolumando,indicando sua aproximação.Parou a poucos metros da coisa e estendeu a mão segurando o que ele reconheceu de imediato como sendo uma varinha. Mulengro! O clarão provocado pelo feitiço foi rápido como um flash de máquina fotográfica.Ouviu o guincho da coisa quando foi atingida e deslizou pelo asfalto levando latas de lixo e provavelmente uma parede no percurso.A colisão provocou um pequeno desmoronamento,espalhando uma espessa fumaça de pó de tijolo velho obrigando Harry a puxar a gola da camisa sobre o nariz para não espirrar.Tudo que menos precisava agora era ser descoberto no meio daquela confusão. Continuou recuando pelo beco até que um novo guincho o paralisou.Harry arregalou os olhos percebendo uma tensão no ar,como se tivesse se tornado mais denso e abafado.Então um urro medonho—como o de um bode raivoso—ecoou pela rua.Harry sentiu-se pior do que no terceiro ano quando um bando de dementadores famintos o atacara quando ele fora atrás de Sírius. Harry nunca correu tanto e tão rápido em toda a sua vida como naquele momento. Ainda podia ouvir a gargalhada doentia do homem responsável pelo feitiço quando saiu do beco. Vinte minutos depois um Harry banhado de suor e muito ofegante achava-se apoiado no que restava das paredes de uma casa em ruínas. Algumas horas atrás,ele até quisera encontrar um vestígio de magia em Little Whiging,mas depois do encontro com uma criatura desconhecida e um homem louco(alguém que usava Artes das Trevas só podia ser psicótico na opinião dele),se arrependia de ter desejado isso. Não sabia se o bruxo que viu—ou melhor ouviu—ainda pouco,era um Comensal,mas não podia ignorar o fato de que um sujeito de atitudes suspeitas estava rondando o bairro. Pra começar tinha aquela história de gente mascarada andando por aí às quatro da manhã e pior,agora que começava a se acalmar,lembrou-se de ter ouvido sua tia comentar semana passada qualquer coisa estranha sobre uma garota ter sumido do próprio quarto na casa da avó que morava na Rua das Magnólias. Harry sentou-se no beiral baixo do que um dia foi uma janela e ficou olhando, sem realmente ver, a dobradiça torta e um pedaço pontudo de madeira carcomida balançando ao vento,enquanto tentava puxar na memória o que Tia Petúnia havia dito para a Sra.Polkiss. “Semana passada a polícia foi à casa da Sra. Talbot,mas ela negou que a mocinha tenha viajado ou fugido com aquele namoradinho delinqüente dela.Disse que a menina simplesmente sumiu do quarto e só percebeu quando foi acorda-la porque a porta estava trancada por dentro e como ninguém respondia, foi preciso arrombar já que não tinha outra chave.Quando entraram a única coisa diferente que acharam,foi a cama amarrotada,fora isso tudo estava na mais perfeita ordem,pode acreditar numa história dessas?!?” Na hora nem deu tanta importância ao caso,mas agora que começava a juntar os pontos... Tirou os óculos e passou a barra da camisa pelo rosto suado,fazendo uma careta ao sentir a poeira grudenta raspando-lhe a pele.Ao fazer isso teve a impressão de ter visto uma luz,como de uma lanterna,acender e apagar rapidamente a alguns metros de onde estava.Olhou naquela direção,mas a única luz presente era a que vinha de um poste próximo. Sacudiu a cabeça e concentrou-se no que iria fazer com aquelas informações.Queria mandar uma coruja avisando sobre o que estava acontecendo,mas não sabia para quem.Se mandasse para Sírius, sabia que o padrinho iria tentar averiguar a história dos desaparecimentos,mas com certeza se ele mencionasse o suposto ataque viria pessoalmente para ter certeza de que não havia nenhum Comensal tentando detonar Harry,e isso não seria nada bom considerando os riscos.Só lhe restava Ron e Mione,mesmo que não acreditassem na sua teoria de que Voldemort estava seqüestrando Trouxas não podiam ignorar a presença de um bruxo suspeito. Limpou a poeira dos óculos notando,mesmo com a vista desfocada que o chão estava forrado de entulhos e não havia mais teto.A única parede inteira era a da frente,onde estava sentado,as laterais estavam destruídas pela metade em diagonal.O resto devia ser o que agora servia de tapete no chão. Quando baixou os olhos para ver se as lentes já estavam limpas,algo brilhou novamente no meio dos escombros atraindo sua atenção.Mas quando olhou pra lá só havia as sombras das paredes puídas. Franziu o cenho contrariado.Apesar da luz do poste estar distante do ponto exato,de algum modo tinha certeza do que vira. Colocou os óculos no instante em que a claridade tornou-se mais intensa, voltando a apagar em seguida. Saltou da janela rumando decidido,em meio a pedaços de tijolo e cimento de todos os tamanhos e formas,tendo que se apoiar nas mãos também para não deslizar junto com as pedras. O local onde vira a luz era uma faixa mais plana com pedras achatadas,como se tivessem sido batidas para possibilitar uma pessoa de andar em pé sem escorregar ladeira abaixo. Removeu algumas pedras,vasculhou os espaços entre elas,mas não achou nada.Já estava quase desistindo quando o brilho se repetiu poucos centímetros de sua mão.Harry espiou surpreso por um espacinho apertado entre dois pedaços de bloco de cimento. A luz estava vindo de uma pequena caixa que por algum milagre ainda estava inteira debaixo de todo aquele escombro.Apesar dos clarões ocasionais(que não se repetiram) a luminosidade tênue,era constante. Teve que remover várias pedras a fim de alcançá-la e quando finalmente a tocou,ela parou de luzir como se tivesse apertado um botão. Puxou a caixa com certo esforço,pois estava praticamente enraizada nos entulhos.Havia uma data gravada a ferro numa das bordas—dois meses atrás.Fora pregada com grossos grampos de pistola industrial,mas que já apresentavam certo grau de ferrugem o que era, de certo modo,estranho. Começou a procurar algo que pudesse usar para abrir,mas só haviam pedregulhos e alguns cacos de vidro lá embaixo,perto da janela.Teria que surrupiar alguma chave de fendas de Tio Válter quando chegasse em casa. Já tinha se levantado quando algumas pedras se deslocaram ali perto.Virou-se rapidamente e deu de cara com alguém parado contra a luz ofegando como ele mesmo estava minutos antes. Harry pensou que talvez aquele objeto fosse daquela pessoa e isso lhe deu o alarme para tomar cuidado.Ainda pouco havia encontrado um Comensal(a cada minuto que passava, ele tinha mais CERTEZA de que era um seguidor de Voldemort) e agora um sujeito aparecia do nada ali?Decididamente algo estava errado. A pessoa principiou a andar em sua direção e ele pôs-se rapidamente de pé empunhando a varinha.Não queria ser expulso de Hogwarts por fazer magia fora da escola,mas não ia ser azarado de graça por algum desconhecido que podia muito bem ser um Comensal. Mas quando viu o rosto do desconhecido,ficou surpreso.Não era um homem e sim um garoto robusto e pouco mais alto que ele.Tinha cabelos curtos e cheios que mesmo na luminosidade fraca da rua deixava entrever o tom avermelhado-escuro,e usava uma jaquetona azul marinho muito parecida com as que os filhinhos de papai das escolas particulares tinham.Certa vez Duda pedira uma dessas aos pais,mas eles lhe prometeram que lhe dariam apenas se seguisse a dieta que a enfermeira do Smeltings mandara.Como não cumpriu o trato a jaqueta já era. O garoto o encarava de sobrancelhas arqueadas,não demonstrando qualquer outro sinal de surpresa.Na mão direita que descansava ao lado do corpo,estava uma varinha que Harry logo notou. Por um instante pareceu que ele ia falar alguma coisa,mas foi interrompido por uma explosão que lançou duas latas de lixo para dentro das ruínas quase atingindo-os. Harry escorregou pela descida íngreme enquanto uma chuva de pedras e lixo voavam pelos escombros como meteoritos incandescentes,indo parar próximo à janela com uma dor absurda nas costas e antebraços.Sentiu algo escorrendo pelo cotovelo,mas não precisou olhar para saber que era sangue,e uma pedra pontuda cutucava-o nas costelas.Enfiou a mão por baixo do corpo tencionando jogar a pedra longe,mas quando fechou as mãos ao redor da mesma sentiu algo macio a envolvendo.Puxou o pedregulho,estava dentro de um saco de pano amarrado com barbante grosso da mesma cor.Apalpou o conteúdo,uma bola de algum material duro e liso,talvez vidro,com algo semelhante a um pedante numa das extremidades.Procurou de onde poderia ter saído e viu a caixa que tirara do meio das pedras aberta há alguns metros dele.Estava quebrada. Não viu o garoto ali perto,mas quando se levantou para sair dali viu de relance um tênis desaparecendo por um beco escuro mais à frente. Andou agachado,bem próximo ao que restava da parede lateral onde vira o garoto e espiou a rua,pelo que se arrependeu pela segunda vez naquela noite. Com um sobressalto reconheceu a criatura a sua frente como sendo a mesma que o bruxo atacou na rua escura há algumas quadras dali.Agora que estava bem perto do poste,Harry conseguiu ver como era a coisa.Tinha o corpo semelhante a um grande felino,quase do tamanho de um hipogrifo,mas com patas que mais pareciam mãos e pele amarelo-acinzentada.Na cabeça um emaranhado de chifres grossos formavam quase uma coroa e a boca exibia um rasgo de orelha a orelha num sorriso bizarro e cheio de dentes finos e pontudos.Havia mais desses “rasgos” embora fossem menores e mais escuros,por todo o corpo ou pelo menos até onde ele podia ver. A criatura farejou o ar e virou a cabeça em sua direção um segundo depois. Harry já estava maldizendo sua sorte quando ironicamente recebeu mais uma oportunidade de se salvar.No momento em que a coisa parecia querer vir até onde ele estava,houve um estrondo vindo de uma das ruas,tão forte que ecoou pelas paredes descascadas causando um estremeção nos prédios velhos,convertendo tudo num estouro de lâmpadas por mais da metade do bairro. O bicho soltou um guincho agudo de dor quando o transformador do poste onde estava próximo,explodiu em faíscas e Harry não pensou duas vezes.Saiu correndo o mais rápido que seus pulmões puderam agüentar.Teve a nítida impressão de ter visto não um,mas três pares de olhos amarelados desaparecerem por cima de um dos prédios quando olhou por sobre os ombros. Reconheceu a ruazinha pacata pela qual passou mais cedo,registrando vários rostos virando-se à sua passagem enquanto corria e agradeceu mentalmente pelo blecaute. Quando chegou à Rua dos Alfeneiros(também às escuras) encontrou os Dursley na calçada,falando com um casal de vizinhos.Aparentemente todos os moradores saíram para ver que novidade incômoda era aquela.Se o pegassem ali estaria em sérios apuros,com certeza seus tios iriam culpa-lo pela falta de luz repentina,como sempre faziam quando coisas que consideravam pouco normais aconteciam. Esgueirou-se entre as moitas muito bem aparadas do jardim da casa ao lado e passou de fininho por trás do carro de Tio Válter rezando para que não resolvessem se virar para entrar agora.Como se escutasse seus pensamentos seu primo Duda—que parecia um tanto entediado com a conversa da mãe com a Sra. Midleton—deu meia volta naquele exato momento e gritou alertando os pais. Harry paralisou ante o olhar furioso de Tio Válter.Estava ferrado,pensou sentindo antecipadamente o gosto amargo do castigo que lhe dariam dessa vez.



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N/A: Depois de quase não postar o capítulo por causa do Word(maldito! XO) que não queria abrir,finalmente consegui colocar o dito cujo no ar.Sei que esse capítulo não tá aquelas coisas,nem dá pra saber muito "qual é" a da história,mas acompanhem o desenrolar dela.Muita coisa que aparentemente não tem importância ou passa batida vai surgir futuramente como um pedaço do quebra-cabeças. Ah,eu também não acharia nada mau uns coments viu(claru ué XD),mas sem neura gente,não vou pressionar vocês EXIGINDO isso pra postar capítulos tá.^^

PS: Como é chato ter que arrumar os capítulos de novo. Por causa das mudanças no FeB a formatação bagunçou e o texto virou uma sopa de letrinhas. Vou ver se arrumo tudo até domingo. :x

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